X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 UMA ANÁLISE ESTATÍSTICA DO NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS DISCENTES DO CURSO DE PEDAGOGIA EM GEOMETRIA ESPACIAL Carlos Eduardo Petronilho Boiago Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Suane Cristyne Luz de Sousa Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Nádia Giaretta Biase Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Quintiliano Siqueira Shroden Nomelini Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Odaléa Aparecida Viana Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Resumo: Este presente trabalho propõe-se analisar estatisticamente os níveis de conhecimento dos discentes da graduação em pedagogia quanto a figuras tridimensionais. De acordo com o modelo Van Hiele (1986) de formação conceitual em geometria, houve a elaboração de uma prova no qual solicitava a nomeação de figuras espaciais, bem como descrições de suas propriedades. Adicionalmente, foram realizados testes estatísticos para comparar o nível de conhecimento dos discentes em turnos distintos, bem como verificar se a proporção de erros era igual à de acertos nas questões de planificação. Concluiu-se que a maioria dos discentes não nomeou as principais figuras tridimensionais, nem descreveu suas propriedades. Com a aplicação do teste de independência observou-se que o reconhecimento das figuras depende do turno matriculado, e com o teste das proporções verificou-se que a proporção de acertos é exatamente igual à proporção de erros nas questões de planificação. Palavras-chave: Ensino de Geometria; Geometria Espacial; Estatística. 1. Introdução No final dos anos oitenta o ensino de matemática encontrava-se inextricável, então a equipe técnica de matemática da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, propôs que os conteúdos de matemática fossem distribuídos em três grandes áreas, tais Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 1 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 como, geométricas, numéricas e métricas. A geometria passou a ser conteúdo de discussão em sala de aula desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, com a introdução de atividades ligadas ao vocabulário e utilização de termos geométricos. Os professores como incentivadores de idéias, mediadores, organizadores e facilitadores, devem permitir aos alunos que desenhem, descrevam, comparem e classifiquem as figuras entre planas e espaciais, fazendo com que eles vejam as geometrias existentes nas mais diversas situações do cotidiano. Essa mudança do currículo no final dos anos oitenta faz-se necessário que o professor do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, tenha um nível mínimo de conhecimento e reconhecimento em geometria, já que este terá o dever de explorar formas tridimensionais na sala de aula, com isto surgiu-se o desejo de pesquisar e conhecer o que os discentes de um determinado curso de pedagogia sabem sobre geometria espacial. O modelo de Van Hiele (1986) sugere que os alunos cresçam com as experiências formais e informais na geometria durante o processo de formação de conceitos. Este modelo se resume em cinco níveis: “visualização”, “análise”, “dedução informal”, “dedução formal” e “rigor”. No nível 1 (nível básico ou reconhecimento), o sujeito é capaz de reconhecer a figura e associar ela diretamente com a sua nomenclatura. Por exemplo, o aluno pode visualizar uma lata de óleo, chamá-la de cilindro, mas não percebe que suas bases são circunferências e que ele surge de um retângulo fixado em um eixo rotacional. No nível 2 (análise), o aluno reconhece as partes de uma figura e é capaz de reconhecer as suas propriedades e utiliza estas para resolver determinados problemas. Neste nível o aluno identifica que o cubo possui seis faces quadradas, mas não relaciona o paralelismo existente entre as faces. No nível 3 (ordenação), o aluno ordena as figuras e entende suas inter-relações. Ele é capaz de formar classes de figuras, e a inclusão das classes são entendidas. No nível 4 (dedução), o aluno estabelece uma relação entre a teoria geométrica no contexto de um sistema axiomático e a dedução. Finalmente, no nível 5 (rigor), o aluno compreende deduções formais e é capaz de fazer relações com outras geometrias. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 2 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar a formação conceitual em geometria espacial dos discentes do curso de graduação em pedagogia, quanto ao reconhecimento e nomeação de figuras tridimensionais e a planificação. Adicionalmente, testes estatísticos foram realizados para verificar se o reconhecimento da figura geométrica e tridimensional depende do turno matriculado e se a probabilidade de acertos nas planificações é igual à de erros. 2. Metodologia Foram sujeitos da pesquisa 81 discentes do curso de pedagogia, estes tinham uma diferença de idade que variava de 18 a 52 anos, em que apenas dois discentes eram do sexo masculino. Foi elaborado um questionário contendo questões em que se apresentavam figuras geométricas e eram solicitados os nomes, propriedades e planificação de alguns sólidos geométricos mais comuns. Após a correção e atribuição de pontos para os questionários efetuou-se o cálculo de proporções de acertos e erros para todas as questões. A questão 1 referia-se ao ensino de geometria nas séries anteriores de cada discente. A questão 2 se relaciona ao nível 1 de Van Hiele e os discentes deveriam dar o nome da figura. Finalmente a questão 3 tratava-se da planificação da figuras espaciais, tais como, cilindro, cone e prisma de base pentagonal, dentre outras. Após a coleta dos dados, foi realizado um teste de 2 para verificar se existia independência de desempenho dos discentes matriculados nos dois turnos, diurno e noturno. Para efetuar este teste foi obtida a seguinte estatística de Qui – Quadrado k ( f oi f ei )2 i 1 f ei 2 fe , em que fe é a frequência esperada, dada por: (totaldelinhas ) x(totaldecolunas ) e f 0 é a frequência observada. Esta estatística foi (total g eral ) comparada com o quantil da distribuição de Qui-Quadrado com n-1 graus de liberdade e nas situações em que o valor c2 2,n1 a hipótese nula deve ser rejeitada, considerando um nível de significância 5% (Bussab & Morretin, 2004). Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 3 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Para verificar se a proporção de acertos ( pa ) era igual à proporção de erros ( pe ), por questão de planificação, realizou-se um teste para diferença de proporções. As hipóteses testadas foram: H 0 : pa pe 0 . H1 : pa pe 0 A estatística deste teste, dada por: Z ( pˆ a pˆ e ) ( pa pe ) , pˆ a (1 pˆ a ) pˆ e (1 pe ) na ne segue uma distribuição aproximadamente normal com média zero e variância 1, ou seja Z ~ N (0,1) , Assim, nos casos em que Z Z a hipótese nula deve ser rejeitada ao nível nominal (α) de significância de 5%, e conclui-se que a proporção de acertos é maior do que a de erros. 3. Resultados e discussões Na Tabela 1 são apresentados os resultados referentes a opinião do discentes em relação ao ensino de geometria espacial nas séries anteriores. Tabela 1. Ensino de Geometria nas séries anteriores. Respostas Frequência absoluta (fa) Frequência relativa (fr) % Excelente 1 0,0247 2,47 Bom 25 0,2962 29,62 Regular 23 0,2839 28,39 Ruim 26 0,3209 32,09 N.a 6 0,0743 7,43 Total 81 1 100 Pode-se observar na Tabela 1 que 32% dos discentes responderam que o ensino de geometria foi ruim e apenas aproximadamente 2% afirmaram que o ensino de geometria foi excelente. A grande diferença de porcentagens entre os conceitos que os discentes responderam, está relacionado diretamente com o espaço da sala de aula, um espaço Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 4 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 composto por múltiplas visões, e Freire (2002), nos diz que neste ambiente propício ao ensino, existem fatores internos e externos que interferem na aprendizagem e no ensino dos alunos. Por isso não leva-se muito em consideração esses conceitos, por se tratar de uma visão particular de cada discente. Verificou-se que o desempenho dos discentes foi razoável quanto à nomeação e planificação. A soma total dos acertos nessa avaliação correspondia a 57 pontos, e a pontuação máxima alcançada pelos discentes foi de 26 pontos.Verifica-se que houve um fraco desempenho, já que a média ficou em torno dos 7 pontos e poucos discentes apresentaram boa pontuação. Na Figura 1 são apresentados os números de acertos de cada questão entre os 81 sujeitos, considerando várias respostas (cubo, prisma, paralelepípedo) como corretas em função do número total de sujeitos pesquisados que responderam corretamente as questões e da porcentagem de discentes que nomearam corretamente as figuras geométricas em cada turno. Pode-se observar que a questão (a) foi uma questão com grande índice de acertos, já a questão (m) moeda que se refere à mesma figura apenas com uma altura menor poucos discentes acertaram. A maioria dos discentes enxergou a moeda como uma figura plana e não tridimensional. E na questão (p) que também era um cilindro houve acertos, porém menor que na primeira questão. Segundo Viana (2000), se os discentes não conseguem ter visão de que as três questões do questionário eram cilindro, significa que no processo de ensino e aprendizagem nas series anteriores, não houve formação de conceitos. Nomearam Nº de sujeitos Figura a) b) c) Nomearam % DIURNO NOTURNO DIURNO NOTURNO 39 17 73,58 60,71 (48,14%) (20,98%) 25 22 (30,96%) (27,16%) 1 4 (1.23%) (4,93%) 47,16 1,88 Nº de sujeitos Figura 78,57 14,28 i) j) k) % DIURNO NOTURNO DIURNO NOTURNO 2 9 3,77 32,14 (2,46%) (11,11%) 0 0 0 0 (0%) (0%) 0 2 0 7,14 (0%) (2,46%) Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 5 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 d) 15 13 (18,51%) (16,04%) 41 18 e) (50,61%) (22,22%) 7 0 (8.64%) (0%) 0 4 f) g) (0%) 28,30 46,42 77,35 l) 64,28 m) Moeda 13,20 0 0 n) Bola 14,28 o)Caixa de (4,93%) 4 6 (4.93%) (7,40%) 0 2 (0%) (0%) 4 3 (4.93%) (3.70%) 0 2 (0%) (2,46%) 33 18 (40,74%) (22,22%) 7,54 21,42 0 7,14 7,54 10,71 0 7,14 62,26 64,28 sapato p) Lata de óleo Figura 1. Acertos na nomeação das figuras turno diurno e noturno. O mesmo acontece com o cubo (d), quando se muda a posição da mesma figura em (i), ocorre uma diferença de mais de 20% na quantidade de acertos. Apenas dois discentes do período noturno souberam nomear a figura (k), um octaedro. Nenhum acertou a questão (j), prisma triangular, e mais de 70% dos discentes souberam nomear o cone (e). Na Figura 2 tem-se a quantidade de acertos referente a cada questão de planificação. Observa-se também na Figura 1 que mais de 70% dos alunos nomearão a figura cone corretamente e apenas três discentes souberam planificar esta figura geométrica tridimensional, conforme apresentado na Figura 2. Ressalta-se que cinco alunos do noturno souberam planificar o prisma de base pentagonal. Figura Planificaram % Figura corretamente 1 2 3 Planificaram % corretamente DIURNO NOTURNO DIURNO NOTURNO 12 17 22,64 60,71 (14,81%) (20,98%) 1 2 (1,23%) (2,46%) 0 5 (0%) (6,17%) 1,88 0 7,14 21,7 4 5 6 DIURNO NOTURNO DIURNO NOTURNO 3 13 5.66 46,42 (3,70%) (16,04%) 6 9 11,32 32,14 (7,40%) (11,11%) 8 14 15,09 50 (9,87%) (17,28%) Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 6 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Figura 2. Acerto na planificação de figuras espaciais. Tabela 2. Questões e valores calculados para a estatística Z. QUESTÃO ESTATÍSTICA Z 1 -3,77 2 -31,20 3 -23,18 4 -9,67 5 -10,32 6 -6,54 Para verificar se o número de acertos dependia do turno matriculado, a estatística do teste ( c2 = 38,394) foi comparada com o quantil da distribuição de Qui-Quadrado ( 2 ,n1 =5,99). Como c2 2,n1 a hipótese nula trata-se que o reconhecimento da figura independe do turno matriculado, foi rejeitada. Assim, com uma confiança de 95% conclui-se que o reconhecimento da figura depende do turno matriculado. Para realizar-se o teste das proporções, foi obtido o valor tabelado de Z 5% 1, 64 . Esse valor foi comparado à estatística Z obtida para cada questão, conforme a Tabela 2. Observa-se que todos os valores da estatística Z são menores que Z 1,64 . Neste caso aceita-se a hipótese nula de que a proporção de erros é igual à de acertos. 4. Conclusão Verificou-se que muitos discentes não conseguiram reconhecer as figuras tridimensionais mais comuns e apresentaram dificuldades em elaborar os desenhos de planificação. Além disso, a maioria não conseguiu descrever propriedades geométricas das figuras, sendo que muitas vezes, os termos utilizados pelos discentes não caracterizavam o Nível 2 de formação conceitual. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 7 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Com o teste de independência observou-se que o reconhecimento das figuras depende do turno matriculado e com o teste das proporções constatou-se que a proporção de acertos era igual a de erros nas questões de planificação. 5. Referências BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA/ SECRETARIA DA EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Ensino Fundamental. Brasília, 1997. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA/ SECRETARIA DA EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília, 1998. BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística Básica. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 526p. CROWLEY. M. L. O modelo Van Hiele de desenvolvimento do pensamento geométrico. In LINDQUIST. M. M; SHULTE A. A. (org.) Aprendendo e ensinando geometria .Tradução de Hygino H. Domingos. São Paulo: Atual, 1994. PIROLA, N. A; BRITO, M.R.F. A formação de conceitos de triângulo e de paralelogramo em alunos da escola elementar. In BRITO, M.R.F. Psicologia da Educação Matemática: Teoria e Pesquisa. Florianópolis: Insular, 2001. PROENÇA, M. C. Um estudo exploratório sobre a formação conceitual em geometria de alunos do ensino médio. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. Bauru, 2008. SANTOS, L.P. Compreendendo dificuldades de aprendizagem na articulação de conceitos geométricos. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2002. VAN HIELE, P.M Structure and Insight - A Theory of Mathematics Education, Orlando: Academic Press, 1986. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 8 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 VIANA, O. A. O conhecimento geométrico de alunos do Cefam sobre figuras espaciais: um estudo das habilidades e dos níveis de conceito. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2000. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Pôster 9