Mecânica dos Materiais Torção Tradução e adaptação: Victor Franco Ref.: Mechanics of Materials, Beer, Johnston & DeWolf – McGraw-Hill. Mechanics of Materials, R. Hibbeler, Pearsons Education. Esforços de Torção em veios circulares 3-2 Tensões de corte • Um momento torçor aplicado ao veio origina tensões de corte nas faces perpendiculares ao eixo axial. • As condições de equilibrio requerem a existência de tensões iguais nas faces dos dois planos que contêm o eixo do veio. 3-3 Deformações por torção em veios • O ângulo de torção no veio é proporcional ao momento troçor aplicado T e ao comprimento do veio L. φ ∝T φ∝L • Num veio circular sujeito a torção, as secções transversais mantém-se planas e circulares, porque o veio circular é axisimétrico. • As secções transversais de veios não-circulares (não axisimétricos) sofrem distorção quando sujeitos a torção. 3-4 convenções 3-5 Tensão de corte • Considere-se o elemento representado num veio de secção circular. Quando um momento torçor é aplicado, o elemento considerado sofre uma deformação como se representa na figura. • Dado que as extremidades do elemento se mantêm planas, a deformação de corte γ é igual ao ângulo de torção φ: Lγ = ρφ ou γ = ρφ L • A deformação de corte é proporcional ao ângulo de torção e ao raio do veio: γ max = cφ ρ e γ = γ max L c 3-6 Tensões no domínio elástico • Multiplicando a equação anterior pelo módulo de distorção de corte G: ρ Gγ = Gγ max c Da Lei de Hooke, ρ τ = τ max τ = Gγ , e então c A tensão de corte varia linearmente com a cota radial da secção transversal. J = 12 π c 4 • Notando que o somatório dos momentos da distribuíção de tensões de corte tem de equilibrar o momento torçor aplicado ao veio na secção em causa, τ τ T = ∫ ρτ dA = max ∫ ρ 2 dA = max J c c • Obtendo-se: J= ( 1 π c4 2 2 − c14 ) τ max = Tc J e τ= Tρ J 3-7 Tensões normais • Os elementos com faces paralelas e perpendiculares ao eixo do veio estão sujeitos apenas a tensões de corte. Para outras orientações, podem surgir tensões normais, ou combinações de tensões de corte com tensões normais. • Se considerarmos um elemento orientado a 45o com o eixo do veio, temos F = 2(τ max A0 )cos 45 = τ max A0 2 σ 45o = F τ max A0 2 = = τ max A A0 2 • O elemento a está sujeito a corte puro • O elemento c está sujeito a tensões normais de tracção em duas faces e de compressão nas outras duas. 3-8 Modos de falha por torção • Os materiais dúcteis normalmente sofrem falha por tensões de corte. Os materiais frágeis são menos resistentes em tracção que em corte. • Quando sujeito a torção, um provete de um material dúctil, rompe ao longo de um plano de tensões de corte máximas, ie. num plano perpendicular ao eixo do veio. • Quando sujeito a torção, um provete de um material frágil, rompe ao longo de planos perpendiculares à direcção na qual a tensão normal de tracção é máxima, ie. ao longo das superfícies que fazem 45o com o eixo longitudinal do veio. 3-9 Exemplo – diagrama de momentos torçores 3 - 10 Diagrama de momentos torçores 3 - 11 Exemplo 3 - 12 Cont. 3 - 13 Exemplo 3.1 O veio BC tem uma secção circular ôca com diametro interior 90 mm e diametro exterior de 120 mm. Os veios AB e CD são de secção circular maciça com diamtero d. Para os carregamentos ilustrados na figura, determinar: (a) As tensões de corte no veio BC, (b) O diametro minimo d para os veios AB e CD se a tensão de corte admissivel para o material destes veios for 65 MPa. 3 - 14 Exemplo SOLUTION: 3.1 cont. • Considerar secções nos veios AB e BC e efectuar o equilibrio estático para calcular os momentos torçores aplicados em cada troço do veio: ∑ M x = 0 = (6 kN ⋅ m ) − TAB ∑ M x = 0 = (6 kN ⋅ m ) + (14 kN ⋅ m ) − TBC TAB = 6 kN ⋅ m = TCD TBC = 20 kN ⋅ m 3 - 15 Exemplo 3.1 cont. • Tensões de corte no veio BC (veio circular ôco) J= π ( c24 − c14 ) = [(0.060 )4 − (0.045)4 ] 2 2 π = 13.92 × 10− 6 m 4 τ max = τ 2 = TBC c2 (20 kN ⋅ m )(0.060 m ) = J 13.92 × 10− 6 m 4 = 86.2 MPa τ min c1 = τ max c2 τ min 86.2 MPa τ min = 64.7 MPa = 45 mm 60 mm τ max = 86.2 MPa τ min = 64.7 MPa 3 - 16 Exemplo 3.1 cont. • Para o veio AB (ou CD), sabendo a tensão de corte admissivel, calcular diametro d minimo: τ max Tc Tc = = π 4 J 2 c τ max ≤ τadm = 65MPa 6 kN ⋅ m −3 ≤ 65 MPa ⇒ c ≥ 38 . 9 × 10 m π 3 2 c d = 2c = 77.8 mm 3 - 17 Angulo de torção no domínio elástico • Relação entre o ângulo de torção e a distorção de corte máxima: γ max = cφ L • No domínio elástico, a deformação de corte e a tensão de corte são relacionadas pela Lei de Hooke: τ max Tc γ max = G = JG • Igualando e resolvendo em ordem ao ângulo de torção: TL φ= JG • Se os momentos torçores e/ou a secção do veio variarem ao longo do seu comprimento, o ângulo de torção será dado por: Ti Li i J i Gi φ =∑ 3 - 18 Exemplo Os dois veios em aço representados na figura estão acoplados através da engrenagem. Determinar o angulo de torção da extremidade A do veio AB quando é aplicado um binário T=45 Nm. O veio AB é livre de rodar nas chumaceiras E e F, enquanto o veio DC está fixo em D. Todos os veios têm um diametro d=20 mm e são maciços. G=80GPa Resp.: +0.0850 rad 3 - 19 Cont. 3 - 20 Cont. 3 - 21 Veios estaticamente indeterminados L1 L2 • Sendo dados as dimensões do veio e os momentos torçores aplicados, pretende-se calcular os momentos de reação nos apoios A e B. • Efectuando a análise de corpo livre do veio: TC TA + TB = TC temos apenas uma equação, que não é suficiente para calcular os momentos em A e B: problema estaticamente indeterminado TC • Vamos dividir o veio em duas partes e impor a compatibilidade de deformações em C: φ1 + φ2 = 0 ⇒ TA L1 TB L2 LJ − = 0 ⇒ TB = 1 2 TA J 1G J 2G L2 J 1 • Substituindo na equação de equilibrio anterior: TA + L1 J 2 TA = TC L2 J 1 3 - 22 3 - 23 3 - 24 Projecto de veios de transmissão • As principais especificações para um veio de transmissão são: - potência - velocidade • O projectista tem de selecionar o material para construção do veio e determinar a secção transversal do mesmo por forma a garantir as especificações pretendidas, sem que sejam excedidas as tensões de corte admissiveis para o material seleccionado. Nota: neste capitulo considera-se apenas o caso de veios de trasnmissão sujeitos exclusivamente a esforços de torção. • Determinar o binário aplicado ao veio para uma especificada potência e velocidade de rotação: P = Tω = 2πf T T = P P = ω 2πf • Calcular a secção transversal do veio: τ max = Tc J J π 3 T = c = c 2 τ max (veios circulares maciços) J π 4 4 T ( = c2 − c1 ) = c2 2c2 τ max (veios circulares ôcos) 3 - 25 Concentração de tensões • A obtenção da equação τ max = Tc J foi baseada na torção de um veio de secção circular com secção uniforme e em que as secções tranversais se mantêm planas. • A necessidade da utilização de acoplamentos, flanges, engrenagens, roldanas, tambores, etc. ligados aos veios através de chavetas ou outros processos que implicam descontinuídades e reduções de secção podem causar concentrações de tensão. • Os factores de concentração de tensões são aplicados através da equação: Tc τ max = K J 3 - 26 Concentração de tensões 3 - 27 Concentração de tensões (cont.) 3 - 28 Exemplo P.5-44 pag. 207, Hibbeler, 5th ed. (adaptado) O navio hidrofoil representado na figura possui um veio fabricado em aço S355 EN10025, com um comprimento de 100ft. Está ligado em linha a um motor diesel com uma potencia máxima de 2500 hp para uma velocidade de rotação no veio de 1700 rpm. Sendo o veio de secção circular ôca com um diametro exterior de 203 mm e uma espessura de parede de 9.5 mm, determine a tensão de corte máxima no veio. Determine também o angulo de torção no veio para a potencia máxima. 3 - 29 Torção de secções não axisimétricas 3 - 30 3 - 31 Torção de secções não-circulares • As equações anteriores são válidas apenas para a torção de veios com secções axisimétricas • As secções transversais planas de veios não circulares não se mantêm planas e as tensões e deformações não variam linearmente. • Para secções transversais rectangulares: τ max = T c1ab 2 φ= TL c2 ab3G • Para relações elevadas de a/b, a tensão de corte máxima e o ângulo de torção para outras “secções abertas” são as mesmas que para a secção rectangular. 3 - 32 Torção de secções não-circulares (cont.) 3 - 33 Torção de secções fechadas com paredes finas • Somando as forças na direcção x em AB, ∑F x = 0 = τ A (t A ∆ x ) − τ B (t B ∆ x ) τ A t A = τ B t B = τ t = q = fluxo de corte a tensão de corte varia inversamente com a espessura da parede da secção. • Cálculo do binário de torção a partir do integral dos momentos elementares resultantes da tensão de corte na parede: dM 0 = p dF = pτ (t ds ) = q( pds ) = 2q dA T = ∫ dM 0 = ∫ 2q dA = 2qA τ= T 2tA • Ângulo de torção (Cap. 11) φ= TL ds ∫ 4 A2G t 3 - 34 Problema Os 3 eixos circulares maciços, encontram-se ligados por engrenagens conforme representado na figura. Sabendo que todos os eixos têm o mesmo diâmetro de 19 mm e que o módulo de elasticidade transversal é G = 75.8 GPa, determine: a) O ângulo de torção da extremidade A b) O ângulo de torção da extremidade E 3 - 35 Problema O trem de engrenagens da figura transmite uma potência de 7.5 kW, do motor em A à máquina em F. Considerando a frequência do motor de 30 Hz, e uma tensão de corte admissível de 60 MPa para o material utilizado nos veios, determinar os diâmetros dos diferentes veios. (dAB=15 mm, dCD=20.4 mm, dEF=27.6 mm) 3 - 36 Problema φB = 0.648º φC = 0.486º 3 - 37 Problema 3 - 38 Problema 3 - 39