REVISÃO Infecção do trato urinário na gravidez: aspectos atuais Urinary tract infection in pregnancy: atual concepts Ernesto Antonio Figueiró-Filho1 Adecir Mário Bezerra Bispo2 Mônica Miranda de Vasconcelos2 Mirna Zandonadi Maia3 Francis Giovanni Celestino3 Palavras-chave Infecções urinárias Gravidez Diagnóstico Conduta Keywords Urinary tract infections Pregnancy Diagnosis Behavior Resumo A infecção do trato urinário (ITU) caracteriza-se pela invasão e multiplicação de micro-organismos nos rins e nas vias urinárias. Na maioria das vezes, é resultado da colonização da urina por bactérias fecais, que cresceram em meio anaeróbio, sendo a E. coli o patógeno mais comumente envolvido nessas infecções. A ITU é uma das mais comuns infecções bacterianas na mulher, sendo que pelo menos 40% das mulheres adultas têm pelo menos um episódio de ITU em suas vidas. Manifesta-se clinicamente por disúria, polaciúria, urgência miccional e dor no baixo ventre na cistite, arrepios de frio e lombalgia na pielonefrite, ou completa ausência de sintomas na bacteriúria assintomática. O diagnóstico, na maioria das vezes, com exceção da bacteriúria assintomática, é clínico. A gravidez é situação que predispõe ao aparecimento de ITU, devido às mudanças fisiológicas (mecânicas e hormonais) que ocorrem nesse período da vida da mulher. A ITU durante a gravidez pode causar sérias complicações, como o trabalho de parto pré-termo, recém-nascidos de baixo peso, rotura prematura de membranas, restrição de crescimento intraútero, paralisia cerebral, entre outras. O objetivo da presente revisão foi abordar os principais fatores etiológicos, o diagnóstico e a conduta nos casos de ITU durante a gravidez. Abstract Urinary Tract Infection (UTI) is characterized by the invasion and multiplication of microorganisms in the kidneys and in the urinary tract. Most of the time, it is the result of the urine being colonized by fecal bacteria, developing in anaerobic environment, and E. coli is the most commonly pathogen involved in those infections. UTI is one of the most common bacterial infections in women, and at least 40% of adult women have at least one episode of UTI in their lives. Its clinical presentation involves disuria, polaciuria, urinary urgency and pain in the lower womb in cystitis, chills and lombalgia in the kidney infection, or complete absence of symptoms in the asymptomatic bacteriuria. The diagnosis, most of the time, except for asymptomatic bacteriuria, is clinical. Pregnancy is a situation that predisposes to the emergence of UTI, due to the physiologic changes (mechanical and hormonal), that happen in this period of woman’s life. UTI during pregnancy can cause serious complications, as preterm labor, low weight newborns, premature rupture of membranes, intra-uterine growth restriction, cerebral palsy, among others. The purpose of this review is to present the main etiological factors, the diagnosis and the conduct while dealing with UTI cases during pregnancy. Professor Doutor, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil Médicos graduados pela Famed, UFMS – Campo Grande (MS), Brasil 3 Acadêmicos da Famed, UFMS – Campo Grande (MS), Brasil 1 2 Figueiró-Filho EA, Bispo AMB, Vasconcelos MM, Maia MZ, Celestino FG 166 Introdução Metodologia A infecção do trato urinário é importante fator de morbimortalidade durante o ciclo gravídico-puerperal, pois a gravidez é fator que predispõe ao aparecimento dessa patologia, podendo causar sérias complicações ao futuro concepto, assim como à própria gestante.1 Durante o período gestacional, a gestante passa a ter mais chances de desenvolver um quadro de infecção urinária sintomática. Essa alteração se deve às grandes mudanças fisiológicas e anatômicas que ocorrem no trato urinário. Dentre essas mudanças, pode-se citar a dilatação das pelves renais e ureteres, detectável a partir da sétima semana de gravidez.1 Essa dilatação progride até o momento do parto e retorna às condições normais até o segundo mês do puerpério.1 Conhecida como “hidroureter fisiológico da gravidez”, essa dilatação pieloureteral apresenta aumento no diâmetro da luz ureteral, hipotonicidade e hipomotilidade da musculatura ureteral.2 Essa alteração resulta da compressão pelo útero, que progressivamente aumenta de volume, pelo complexo vascular ovariano dilatado ao nível do infundíbulo pélvico, pela hipertrofia da musculatura longitudinal no terço inferior do ureter e diminuição da atividade peristáltica decorrente da atividade da progesterona. Associadas ao aumento do débito urinário, secundário ao incremento do fluxo plasmático renal, essas mudanças levam à estase urinária.1 A dextrorotação uterina, bem como a dilatação da veia ovariana na gravidez, podem ser fatores causais para hidronefrose e desenvolvimento mais frequente de pielonefrite à direita.2 Há ainda outros fatores que aumentam as chances de, nas gestantes, as infecções passarem de assintomáticas para sintomáticas. O urina reduz sua capacidade antibacteriana pelo fato de o rim perder a capacidade máxima de concentrá-la.1,3 O rim passa a excretar quantidades menores de potássio e maiores de glicose e aminoácidos, fornecendo meio apropriado para a proliferação bacteriana.1,3 Há ainda o fato de o pH urinário ser mais alcalino nas gestantes, situação favorável para o crescimento das bactérias nas vias urinárias.1,3 Aumento nas taxas urinárias de progesterona e estrogênio podem levar à diminuição da capacidade do trato urinário baixo de resistir à invasão bacteriana, uma vez que o hiperestrogenismo gestacional favorece a adesão de certas cepas de E. coli, portadoras de adesinas tipo I, às células uroepiteliais.1,3 Portanto, durante a gravidez, fatores mecânicos e hormonais contribuem para provocar mudanças no trato urinário materno, tornando-o mais suscetível às formas sintomáticas de infecções.1 Realizou-se um levantamento bibliográfico em base de dados (New England Journal of Medicine, Medline, Lilacs) e no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) de artigos científicos nacionais e internacionais publicados, além de busca em pesuisadores comuns como Google, Radaruol, entre outros. Para obtenção dos artigos envolvidos na confecção do presente trabalho, realizou-se a pesquisa supracitada, por meio da utilização de palavras-chave como método. Dentre elas, as principais foram: “infecção do trato urinário” (urinary tract infection), “gestação” (pregnancy), “fetos” (fetuses), “obstétrico” (obstetrics), “diagnóstico” (diagnosis), “tratamento’ (treatment), entre outras. A seleção dos artigos foi realizada com base em seus títulos e resumos e, quando selecionados, buscou-se o texto completo. Os artigos utilizados nesta pesquisa restringem-se aos idiomas inglês, espanhol e português, sendo a maioria deles escritos em língua inglesa. Foram pesquisados 105 artigos e, desses, selecionados 21 do período de 1985 a 2008. Não houve critério de exclusão relacionados à época da publicação, tendo-se em vista a necessidade de análise histórica abrangente com relação à infecção urinária durante a gestação. Entretanto, deu-se maior atenção aos artigos mais recentes, pois expõem aplicabilidade mais coerente com a prática médica atual. Não foram consultados guidelines baseados em evidências, ensaios clínicos e metaanálises sobre o assunto. FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 Manifestações clínicas da ITU A cistite se manifesta com disúria, polaciúria, urgência miccional, dor no baixo ventre, arrepios de frio ou calafrios com presença ou não de dor lombar. Pode haver ainda malestar geral, indisposição e superposição entre os sintomas clínicos de ITU “baixa” (cistite) versus “alta” (pielonefrite).4 No entanto, a febre e a dor lombar são muito mais comuns na pielonefrite, que se acompanha também de toxemia e queda do estado geral mais importante.4 Porém, é importante ressaltar que existe uma proporção considerável de gestantes com pielonefrite que não apresentam sintomas baixos de ITU.3 Na cistite, quando há febre, costuma ser baixa (menor que 38ºC), enquanto na pielonefrite a febre costuma ser alta (maior que 38ºC).5 Esta última caracteriza-se, ainda, por dor em flanco, sensibilidade em região lombar (sinal de Giordano), náuseas e vômitos.6 Infecção do trato urinário na gravidez: aspectos atuais Diagnóstico O método mais importante para diagnóstico de ITU na gravidez é a cultura de urina quantitativa que, avaliada em amostra de urina colhida assepticamente, jato médio, poderá fornecer, na maioria dos casos, o agente etiológico causador da infecção e trazer subsídios para a conduta terapêutica.7 Entretanto, alguns patógenos como Chlamydia e Mycoplasma somente podem ser detectados em meios de cultura especiais.8 Deve-se suspeitar de infecção por esses micro-organismos quando a paciente tem sintomas de ITU e piúria com urocultura negativa.8 A acurácia dos achados de uma urocultura padronizada depende de qual valor quantitativo de colônias define uma cultura positiva.9 Quando o critério tradicional de 100 mil unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL) é aplicado, a especificidade é alta, mas a sensibilidade é de apenas 50%.9 Reduzindo-se o limiar para 1.000 UFC/mL, nos casos de mulheres jovens com sintomas de cistite, aumenta-se consideravelmente a sensibilidade com mínima redução na especificidade.9 Complicações maternas associadas à infecção do trato urinário Dentre as gestantes com bacteriúria assintomática acompanhadas, 30% desenvolvem cistite e mais de 50% desenvolvem pielonefrite.3 As complicações maternas da ITU, que ocorrem mais frequentemente nos quadros de pielonefrite, são devidas à lesão tecidual causado pelas endotoxinas bacterianas.1 Embora haja bacteremia em 15 a 20% das mulheres com pielonefrite grave, poucas chegam a desenvolver choque séptico.1 Dos casos de pielonefrite durante a gravidez, 60 a 75% ocorrem durante o terceiro trimestre, sugerindo a estase urinária e hidronefrose nesse período como cofator importante nesse evento.10 Insuficiência respiratória ocorre em 2 a 8% das gestantes com pielonefrite, devido ao aumento da permeabilidade capilar da membrana alvéolo-capilar, o que resulta em edema pulmonar.1,11 As manifestações clínicas podem ser exacerbadas pelo uso de hiper-hidratação e tocolíticos comumente utilizados para inibir o trabalho de parto.1,11 Pode ocorrer disfunção renal transitória em 25% dos casos, havendo volta à normalidade em alguns dias.1,11 Outras complicações associadas à infecção do trato urinário na gravidez incluem pré-eclâmpsia, anemia, corioamnionite e endometrite.1,11 A anemia hemolítica pode aparecer em 25 a 30% das gestantes com ITU como consequência da destruição eritrocitária decorrente da atividade das endotoxinas bacterianas.1,11 Outras alterações, como obstrução urinária, abscesso e celulite perinefrética são mais difíceis de ser encontradas e, quando presentes, estão associadas a cálculo ou quadros resistentes ao tratamento.1,11 A incidência de infecção urinária pós-parto é maior em mulheres que apresentavam bacteriúria assintomática préparto.10 Pacientes com bacteriúria persistente pós-parto podem evoluir com deterioração do clearance de creatinina, alterações na concentração urinária e aumento na incidência de alterações radiológicas compatíveis com pielonefrite crônica.10 Embora alguns estudos demonstrem que há relação entre ITU e hipertensão na gravidez, essa associação é controversa.10 No entanto, existem relatos de que essa associação exista somente em mulheres com bacteriúria de origem renal.10 O mesmo ocorre na anemia materna.10 Complicações perinatais associadas à infecção do trato urinário As principais complicações perinatais são o trabalho de parto pré-termo, recém-nascidos de baixo peso, rotura prematura das membranas, restrição de crescimento intraútero, paralisia cerebral ou retardo mental na infância, além do óbito perinatal.1,11,12,13 A infecção do trato urinário aumenta a concentração sanguínea de fosfolipase A, podendo ocorrer transformação de PGE2 em PGE2d, substância capaz de estimular as fibras musculares do útero induzindo o início das contrações.10 Atividades contráteis uterinas, mesmo em baixos níveis, podem reduzir as trocas placentárias levando à diminuição na taxa de crescimento ou trabalho de parto pré-termo.10 É observado aumento da incidência de trabalho de parto pré-termo em gestantes com anticorpos urinários elevados tanto para antígenos contra E. coli como para antígenos do Streptococcus do grupo B.1 Nesse caso, o início do trabalho de parto pode ser explicado por uma resposta inflamatória local, secundária às infecções gênito-urinárias.1 Outra forma por meio da qual o trabalho de parto pode ser desencadeado é a colonização do fluido amniótico por bactérias originárias do foco infeccioso urinário.1 Essas bactérias produziriam fosfolipases A e C, que atuam sobre os precursores das prostaglandinas E2 e F2α, consequentemente, deflagrando o trabalho de parto.1 Em algumas ocasiões, o trabalho de parto tem início logo após a introdução terapêutica para tratamento da infecção urinária.1 A explicação para esse fato está na liberação de lipopolissacárides da parede celular bacteriana, estimulando a produção de citocinas pelos macrófagos que, por outras vias, estimulam a produção de prostaglandinas pelas células deciduais.1 FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 167 Figueiró-Filho EA, Bispo AMB, Vasconcelos MM, Maia MZ, Celestino FG A infecção do trato urinário é, ainda, fator de risco para ocorrência de amniorrexe prematura.14 A estimulação bacteriana da biossíntese de prostaglandinas diretamente através da via de Fosfolipase A2 e C ou, indiretamente, através de substâncias como a interleucina 1, fator de necrose tumoral ou fator ativador plaquetário (todas detectáveis no líquido amniótico infectado) podem explicar a associação entre amniorrexe prematura e infecção genital e urinária.15 Além disso, as diversas bactérias encontradas na vagina e no colo uterino produzem série de proteases, incluindo colagenases que reduzem drasticamente a elasticidade e a resistência das membranas amnióticas, assim como o trabalho exigido para ruptura dessas membranas.15 Em estudo realizado em 1997 com crianças com paralisia cerebral, mostrou-se prevalência de 17,9% de ITU durante a gravidez dessas crianças em comparação à prevalência de 5,2% nas crianças normais.10 Concluiu-se que o risco de paralisia cerebral é de quatro a cinco vezes maior nas gestantes acometidas por ITU.10 Outro trabalho demonstrou significância estatística da relação entre infecção do trato urinário durante a gravidez sem evidências de antibioticoterapia e o retardo mental ou o atraso no desenvolvimento.16 Conduta frente a gestantes com ITU O uso de antibióticos durante a gravidez é muito singular. Medicamentos usados diariamente com segurança na prática clínica diária não devem ser usados nas gestantes, a exemplo do cloranfenicol e sulfonamidas, além de tetraciclinas, quinolonas e sulfas no primeiro trimestre.10 A escolha do antibiótico deve levar em conta, além da sensibilidade das bactérias mais prevalentes, outros fatores como a facilidade de obtenção pela paciente, a sua tolerabilidade, a comodidade de sua posologia, custo e toxicidade.1 Além disso, os antibióticos só devem ser prescritos quando seus efeitos benéficos sobrepujarem significativamente os seus possíveis riscos.17 A Tabela 1 mostra o potencial de toxicidade dos agentes antimicrobianos durante a gravidez. Após o diagnóstico da infecção urinária sintomática, a instituição do tratamento demanda urgência pela gravidade da doença, sem tempo para confirmação do cultivo e antibiograma.1 Essas limitações tornam imprescindível a avaliação periódica do padrão de sensibilidade dos agentes etiológicos das ITU aos antimicrobianos cujo uso é permitido durante a gravidez, para cada instituição de saúde.1 Essa medida torna-se de extrema relevância frente ao crescente número de germes resistentes aos restritos antimicrobianos de uso seguro durante o período gestacional.1 Em estudo de Duarte et al., realizado com 136 pacientes com diagnóstico clínico de pielonefrite, foi verificado por meio das 168 FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 uroculturas que a maioria das bactérias apresentava alto índice de sensibilidade a antibióticos como a cefuroxima, ceftazidima, cefoxitina, nitrofurantoína e quinolonas.18 Por outro lado, os percentuais de sensibilidade dos micro-organismos isolados, principalmente da E. coli, a ampicilina, sulfa e cefalotina estão longe dos ideais. Esse resultado é preocupante uma vez que a cefalotina e a ampicilina ainda são bastante utilizadas no tratamento das infecções urinárias, em decorrência do baixo custo relativo.1 Conduta na bacteriúria assintomática O tratamento da bacteriúria assintomática é ambulatorial e simples, considerando-se a orientação através do antibiograma Tabela 1 - Toxicidade dos agentes antibióticos mais utilizados no tratamento de infecção do trato urinário durante a gravidez Toxicidade Drogas Cefalexina/ Cefalotina Cefuroxima/ Cefazolina Ceftriaxone Penicilina Eritromicina Sulfas Classe FDA* B Fetal Materna Riscos mínimos** Alergia B Riscos não detectados Alergia B B B C Riscos mínimos** Teratogenicidade improvável Toxicidade não conhecida Kernicterus Hemólise Hemólise Alergia Alergia Alergia Alergia Nitrofurantoína B Metronidazol B Clindamicina B Isoniazida C Tetraciclina D Cloranfenicol C Cotrimoxazol Ciprofloxacina/ Norfloxacina B C Baixo risco de toxicidade fetal*** Dados disponíveis não sugerem teratogenicidade Neuropatia Convulsão Displasia dentária Retardo do crescimento ósseo Síndrome cinzenta Antagonismo ao folato Anormalidades no crescimento ósseo Pneumonia intersticial Neuropatias Discrasia sanguínea Colite pseudomembranosa Alergia Hepatotoxicidade Hepatotoxicidade Insuficiência renal Toxicidade para a medula óssea Vasculite Alergia Modificado de Marinelli et al.10 *A classificação do Food and drug administration (FDA) é baseada no grau de informações disponíveis quanto ao risco para o feto e balanceada quanto ao potencial beneficio da droga para o paciente. Categoria A: estudos controlados não demonstram riscos; Categoria B: sem evidências de risco em humanos. Estudos em animais não demonstram riscos ou estudos em animais demonstram riscos, porém estudos em humanos não demonstram; Categoria C: risco não pode ser definido pela falta de estudos, porém, potencial benefício pode justificar seu uso, apesar do risco; Categoria D: evidência positiva de risco para o feto. Em algumas circunstâncias o benefício do uso pode justificar o risco. Categoria X: contraindicação na gravidez. O risco fetal claramente contraindica o uso; ** estudo conduzido entre 1985 e 1992, envolvendo 229.101 gestações completas com 3.613 nascidos expostos a Cefalexina durante o primeiro trimestre demonstrou associação positiva entre uso da Cefalexina e defeitos cardiovasculares e orais. Porém, em diversos outros trabalhos, não houve tal associação. O mesmo trabalho demonstrou associação entre uso de Ceftriaxone e defeitos cardiovasculares, apesar de o risco ter sido mínimo. Diversos estudos demonstram que as cefalosporinas são drogas seguras para o uso na gravidez21; *** o fabricante considera o Metronidazol contraindicado no primeiro trimestre em pacientes com Tricomoníase ou vaginose bacteriana. O uso de Metronidazol para tricomoníase ou vaginose durante o segundo e terceiro trimestres é aceitável. Para outras indicações, Metronidazol pode ser usado durante a gravidez se não houver alternativas com segurança estabelecida.21 Infecção do trato urinário na gravidez: aspectos atuais e da urocultura que fornece o diagnóstico.1 Os antibióticos mais utilizados são: Cefalexina (500 mg via oral de seis em seis horas, por sete dias), Ampicilina (500 mg via oral de seis em seis horas, por sete dias), Ácido Pipemídico (400 mg via oral de 12 em 12 horas, por sete dias) e Nitrofurantoína (100 mg via oral de 12 em 12 horas, por sete dias). Em casos especiais, pode-se utilizar Norfloxacin (400 mg via oral de 12 em 12 horas por sete dias).1,6 É importante ressaltar a necessidade de se dar orientação para aumentar a ingesta hídrica por promover o aumento da diurese, além de avaliar, controlar e tratar, se necessário, fatores predisponentes como a anemia e as infecções genitais.1 O controle do tratamento é feito com urocultura colhida uma semana após o término da antibioticoterapia.1 Depois, orienta-se que sejam realizadas uroculturas mensais nos três primeiros meses e bimensais após este período.1 O Fluxograma 1 demonstra a conduta na bacteriúria assintomática a ser tomada, orientada pelo resultado do antibiograma. Conduta na infecção urinária sintomática Para o tratamento ambulatorial das uretrites e cistites nas gestantes, deve ser levada em conta a adesão da paciente ao tratamento, tendo em vista que grande parte da população assistida nos serviços públicos não tem condições de arcar com os custos da terapêutica. Há, ainda, a necessidade de saber se a infecção é comunitária, ou seja, que ocorre com pelo menos um mês de intervalo entre uma internação anterior, isenta de abordagem física em vias urinárias e/ou farmacológica sistêmica. Nesse caso, o tratamento para cistite aguda é o mesmo utilizado para bacteriúria assintomática.6 Caso a infecção não seja comunitária, pode ser mais prudente a internação da paciente para que o controle possa ser mais rigoroso. O antibiograma deve ser colhido antes de se iniciar o tratamento. Deve-se orientar a gestante a aumentar a ingesta hídrica. Os antibióticos mais comumente prescritos são a Cefalexina (500 mg via oral de seis em seis horas por sete dias), Clindamicina (600 mg via oral de oito em oito horas por sete dias), Cefuroxima (250 mg via oral de oito em oito horas por sete dias), ou o Ácido Pipemídico (400 mg via oral de 12 em 12 horas).6 Deve-se controlar ou tratar fatores predisponentes, como a anemia e as infecções genitais. O antibiograma deve ser avaliado no retorno, uma semana após a consulta, para verificar a sensibilidade do micro-organismo ao antibiótico utilizado.1,19 O controle do tratamento é feito com a realização de urocultura uma semana após o término do tratamento.1,19 Além disso, uroculturas mensais devem ser realizadas nos três primeiros meses e de dois em dois meses após este período.1,19 O tratamento da pielonefrite deve levar em consideração medidas de suporte, dependendo do grau de acometimento sistêmico da paciente. As gestantes com pielonefrite devem ser internadas para monitorização de sinais vitais, incluindo o débito urinário.19 O controle da dor é feito com analgésicos e antiespasmódicos, como paracetamol e escopolamina.19 Antieméticos são indicados nos casos com exuberância de náuseas e vômitos.19 O pH urinário deve ser corrigido, principalmente nos casos em que há nefrolitíase, usando-se, para isso, bicarbonato ou vitamina C, conforme a necessidade.19 Outros exames para avaliação sistêmica, como hemograma, ureia e creatinina são importantes para identificar a agressividade da infecção e a resposta orgânica do organismo contra o processo infeccioso nos quadros clínicos mais graves, que podem evoluir com insuficiência renal e/ou septicemia.20 A via de administração dos antibióticos deve ser parenteral, só passando para via oral quando existe remissão do quadro clínico agudo por mais de 24 horas.3,6,19 A primeira opção é a Cefuroxima (750 mg de oito em oito horas) .6,19 A Cefalotina (1 g de seis em seis horas) ou a Ceftriaxone (1 g em dose única diária) são opções secundárias.6,19 Outra opção é a Norfloxacina (400 mg de 12 em 12 horas) por via oral.6,19 O tratamento deve ser feito por dez dias para todas as drogas.19 Após 48 horas afebril, com melhora substancial dos sintomas, a paciente pode terminar o tratamento em casa.19 A Cefuroxima e a Cefalotina apresentam opções de sequência antibiótica por via oral.19 A Cefuroxima existe para uso oral (250 mg de oito em oito horas) e a Cefalotina pode ser substituída por Cefalexina (500 mg de seis em seis horas).19 UROCULTURA DE ROTINA >100.000 col/mL <100.000 e >10.000 col/mL <10.000 col/mL ou negativa Repetir urocultura em uma semana Seguimento ambulatorial pré-natal normal >100.000 col/mL <100.000 e >10.000 col/mL <10.000 col/mL ou negativa Tratar como bacteriúria assintomática Repetir uroculturas mensalmente até definição do caso Uroculturas de controle com uma semana após o término do tratamento, mensais até o terceiro mês e bimensais até o término da gravidez Fonte: Adaptado de Duarte et al.22 Fluxograma 1 - Conduta na bacteriúria assintomática. FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 169 Figueiró-Filho EA, Bispo AMB, Vasconcelos MM, Maia MZ, Celestino FG Os esquemas antibióticos que representam risco potencial para o feto devem ser reservados apenas nos casos orientados pelo antibiograma e após esgotadas todas as possibilidades de baixo risco fetal.19 As medidas gerais incluem aumento da ingesta hídrica, avaliação, controle e tratamento das condições predisponentes, que incluem a anemia, as infecções genitais e a litíase urinária.19 O Fluxograma 2 orienta a conduta na ITU sintomática. conduta baseia-se nos riscos de desenvolvimento de complicações da ITU.19 As drogas mais utilizadas são a Nitrofurantoína (100 mg/dia via oral), associação de Clotrimazol com Trimetroprim (400mg/dia via oral) e Norfloxacina (400 mg/dia via oral).19 No período próximo ao termo da gravidez, deve-se suspender essas medicações devido ao risco de hiperbilirrubinemia neonatal.19 Outra situação para emprego de profilaxia são as patologias comuns do trato urinário, a exemplo da nefrolitíase estabelecida e diagnosticada durante a gravidez atual.1 Profilaxia Considerações finais De maneira geral, quando há um segundo episódio de ITU na mesma gravidez, deve-se fazer a quimioprofilaxia, independentemente da existência de fator predisponente identificado.19 Essa A infecção do trato urinário é causa de importantes complicações no ciclo gravídico-puerperal. Muitas dessas complicações SINTOMAS URINÁRIOS Cistite/Uretrite Se manifestação exuberante: após colher urocultura, tratamento ambulatorial e corrigir fator predisponente. O antimicrobiano é utilizado por via oral Urina tipo I, urocultura, afastar fatores predisponentes. Verificar se é comunitária ou não, aferir pH urinário Avaliar sensibilidade do germe pelo antibiograma Intermediária Adequar a dose do antimicrobiano Tratamento hospitalizado: antimicrobiano endovenoso após colher urocultura e correção do fator predisponente. Melhora (48 horas) Não Melhora (48 horas) Sim, manter terapia Pielonefrite Sensível Adequar antimicrobiano Urocultura de controle após uma semana do tratamento Sim Resistência Adequar antimicrobiano Melhora Não Sim >100.000 col/mL Negativa ou <10.000 col/mL >10.000 e <100.000 col/mL Repetir dentro de uma semana >10.000 e <100.000 col/mL Controle mensal nos três primeiros meses e bimensais até o termo Fonte: Adaptado de Duarte et al.19 Fluxograma 2 - Conduta na infecção urinária sintomática. 170 FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 Tratamento padronizado de acordo com o novo antibiograma Infecção do trato urinário na gravidez: aspectos atuais podem ser evitadas com acompanhamento pré-natal realizado corretamente. De acordo com o Manual técnico pré-natal e saúde: atenção qualificada e humanizada, do Ministério da Saúde de 2006, além dos exames de rotina mínima durante o pré-natal, podem ser acrescentados outros, como a urocultura para o rastreamento de bacteriúria assintomática, uma vez que o exame de urina tipo I geralmente não fornece suspeita diagnóstica nesses casos. Com base nessas informações, recomenda-se a solicitação de urocultura na primeira consulta de pré-natal com o intuito de se diagnosticar eventual bacteriúria assintomática, considerando-se a não presença de sintomatologia, pode passar despercebida e gerar transtornos no decorrer da gestação. Ademais, deve-se sempre valorizar as queixas de dor em baixo ventre, disúria e polaciúria durante a gravidez, mesmo sabendo que se trata de queixas corriqueiras no período gestacional. Frente às queixas citadas, deve-se considerar a solicitação de nova urocultura com antibiograma. Indica-se, ainda, a prescrição de antibióticos, preferencialmente orientada através da urocultura e antibiograma respectivos. No entanto, esse fato não deve ser motivo para adiar o início do tratamento nos casos sintomáticos. Desse modo, reduz-se o índice de desenvolvimento de resistência bacteriana, o qual é elevado com prescrições empíricas. Finalizando, não se deve negligenciar a profilaxia nos casos indicados (mais de um episódio de ITU na mesma gravidez ou fator de risco de infecção do trato urinário), mas é preciso sempre considerar o risco materno-fetal de trabalho de parto pré-termo, amniorrexe prematura, restrição do crescimento intraútero e óbito fetal na escolha da antibioticoterapia, mesmo que o único antibiótico indicado seja de classe FDA diferente de A ou B. Leituras suplementares 1. Duarte G, Marcolin AC, Figueiró-Filho EA, Cunha SP. Infecções urinárias. In: Corrêa MD, Melo VH, Aguiar RAP, Correa Jr. MD, organizadores. Noções práticas de obstetrícia. 13a ed. 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FEMINA | Março 2009 | vol 37 | nº 3 171 A Natureza no Alívio da TPM Reduz os sintomas físicos e psíquicos da TPM 4,5,6 SERM Modulador Seletivo de Receptores Estrogênicos8,10 Promove equilíbrio estrogênio-progesterona Modula os níveis de prolactina 1,2,3,9 2,3 4.500 mulheres com TPM e Irregularidades Menstruais, tratadas com Vitex por 3 ciclos: 1 Fonte: Adaptado da Referência 1 90 % relataram melhora ou alívio completo dos sintomas físicos e psíquicos 1 Melhora Alívio completo Melhora + Alívio Completo : nal 0 mo ão1,1 r o es o-h Nã a a ad t ili fac Apresentação: 30 cápsulas Posologia: 1 cápsula ao dia Trata os sintomas físicos e psíquicos da TPM, com alta aceitabilidade NALLE® - Referências Bibliográficas: 1 - Hardy M. L. – Women’s health series: Herbs of Special Interest to Women. J Am Pharm Assoc. 40: 234-242, 2000. 2 - Christie S., Walker A. F. – Vitex agnus-castus L.: (1) A Review of its Traditional and Modern Therapeutic use: (2) Current Use from a Survey of Practitioners. 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What is the current evidence? e CAM:1-4, doi: 10.1093?ecam/nem074, 2007. 10 - Informações internas e extraídas da bula do produto Nalle®. NALLE® (Extrato seco de Vitex agnus castus L.). APRESENTAÇÃO: Cápsulas gelatinosas duras de 40 mg - caixa com 30 cápsulas. USO ADULTO. COMPOSIÇÃO: cada cápsula contém 40 mg de extrato seco de Vitex agnus castus L. a 0,5% de agnosídeos (equivalente a 0,2 mg de agnosídeos). INDICAÇÕES: NALLE® ( Extrato seco de Vitex agnus castus L.) está indicado em casos de distúrbios do ciclo menstrual. CONTRA-INDICAÇÕES: NALLE® (Extrato seco de Vitex agnus castus L.) é contra-indicado para pacientes com hipersensibilidade a qualquer constituinte da formulação. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: Este medicamento é contra indicado para lactante. REAÇÕES ADVERSAS: NALLE® (Extrato seco de Vitex agnus castus L.) é bem tolerado. Pode-se observar aumento do fluxo menstrual, reções urticariformes que, eventualmente, podem ocorrer em pacientes alérgicos à planta. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: Devido à sua ação nas glândulas pitiutária e no hipotálamo, pessoas em tratamento de terapias de reposição hormonal, assim como em tratamento hormonal, devem ser acompanhadas por um médico, devido às alterações de sensibilidade destes hormônios. POSOLOGIA: 1 cápsula ao dia ou à critério médico. M.S. nº 1.1861.0119.002-5. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Fabricado e Embalado por: Ativus Farmacêutica Ltda. Rua Fonte Mécia, 2050 - Valinhos - SP - Cep.: 13270- 000. SAC: 0800 55 1767. Indústria Brasileira. Para maiores informações, vide bula do produto. CLASSIFICAÇÃO: MEDICAMENTO. A PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO 1,10