ANATOMIA DO PROCESSO INFECCIOSO DA FERRUGEM ASIÁTICA EM FOLHAS DE SOJA Tatiana Romano Fraga (PIBIC/CNPq-UENP), Moacyr Medri (Participante), Ricardo Vilela Abdelnoor (Participante), Cristiano Medri (Participante), Michelle Pires Rincão (Participante), Fabiano Gonçalves Costa (Participante), Maria Cristina Neves de Oliveira (Participante), Danielle Cristina Gregorio da Silva (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Luiz Meneghel/ Departamento de Biologia e Tecnologia Palavras-chave: Glycine max, resistência, microscopia fotônica. Phakopsora pachyrhizi, tolerância, Resumo A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma das doenças mais devastadoras que acometem a produção mundial de soja. O objetivo deste trabalho é analisar a anatomia do processo infeccioso da ferrugem asiática em folhas de genótipos suscetível, resistente e tolerante através de microscopia fotônica. Plantas dos genótipos Embrapa 48 (suscetível), BRS 231 (tolerante) e PI 230970 (resistente) foram inoculadas com esporos de ferrugem, avaliadas fenotipicamente quanto a caracteres quantitativos ligados a resistência, e submetidas a análise anatômica. A cultivar BRS 231 apresentou o maior desenvolvimento de micélios e estruturas reprodutivas do fungo, apesar das baixas perdas de produção a ela associadas. Os resultados sugerem que a análise anatômica pode ser um método eficaz para o estudo das características da resistência e tolerância a ferrugem asiática da soja. Introdução A principal doença que afeta atualmente a sojicultura brasileira é a ferrugem asiática (FA), causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Sydow & Sydow. Este fungo, parasita obrigatório de plantas, coloniza principalmente o tecido foliar e, menos freqüentemente, caules, vagens e cotilédones (Miles et al. 2006). Sob condições favoráveis, a infecção pode resultar em perdas de produção variando de 10%, quando a pressão da doença for fraca, a 80%, em situações de epidemia severa (BROMFIELD 1984; OGLE et al. 1979; PATIL et al. 1997). Cinco genes, denominados Rpp1 a 5, dominantes e independentes que conferem resistência à FAS foram descritos na literatura (CHENG; CHAN, 1968; HIDAYAT, SOMAATMADIA, 1977; BROMFIELD, HARTWIG, 1980; HARTWIG, 1986). Além destes genes, uma avaliação de mais de 1.000 acessos do banco de germoplasma da Embrapa Soja revelou 64 linhagens avançadas e cultivares brasileiras com níveis variáveis de resistência ou tolerância a esta doença (YORINORI; NUNES JUNIOR, 2007). A cultivar brasileira BRS 231 é uma das que apresenta menores reduções de Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 produção quando infectada com ferrugem: 10,7%, contra quedas maiores que 50% em outras cultivares. Portanto, a BRS 231 pode ser considerada tolerante à FAS (YAMANAKA et al., 2008). As reações associadas a esta doença são a presença de lesões de coloração marrom-avermelhadas em folhas de genótipos resistentes e a presença de lesões de coloração castanho em folhas de genótipos suscetíveis. Em genótipos tolerantes, as lesões são tipicamente suscetíveis, entretanto as perdas de produção são reduzidas. O objetivo deste projeto é caracterizar, através de microscopia fotônica, o desenvolvimento do fungo e as alterações anatômicas no tecido vegetal durante o ciclo infeccioso completo P. pachyrhizi em folhas de soja de genótipos suscetível, resistente e tolerante. Materiais e Métodos Material Vegetal e Análise Fenotípica e Anatômica Plantas dos genótipos Embrapa 48 (suscetível), PI 230970 (resistente, portadora do gene de resistência Rpp2) e BRS 231 (tolerante) foram submetidas a inoculação com esporos de ferrugem suspensos em água. Amostras de folhas, coletadas após 1, 2, 4, 8 e 12 dias a contar do momento da inoculação, foram seccionadas nas regiões da nervura central e limbo. As secções foram fixadas em FAA 50% (formol, ácido acético, e álcool 50%) e submetidas à confecção de lâminas permanentes. As plantas também foram avaliadas fenotipicamente quanto a resistência à ferrugem. As amostras foram submetidas à preparação de lâminas pelo método de parafina de Johansen (1940). As lâminas permanentes foram observadas ao microscópio fotônico. Os registros anatômicos foram efetuados com o auxílio de ocular micrometrada e Sistema MOTIC de captura de imagens. Análise Estatística O experimento foi conduzido em delineamento em blocos casualizados num esquema fatorial (3 genótipos x 2 tratamentos x 5 horários de coleta). Os dados coletados serão submetidos à análise de variância utilizando o programa SAS (SAS, 1990). As médias dos tratamentos de cada experimento serão comparadas pelo teste de Duncan ao nível de significância de 5%. Resultados e Discussão O método testado para a análise anatômica se mostrou eficiente. Os três genótipos apresentaram severidades similares, em torno de 2%. Os genótipos Embrapa 48 e BRS 231 apresentaram lesões com colorações similares, em tons de castanho, enquanto a PI230970 apresentou lesões de cor marrom avermelhada (Tabela 1, Figura 1). Com relação à habilidade do fungo se reproduzir na planta hospedeira, a PI 230970 apresentou maior restrição, uma vez que nesta foram detectados os menores valores de quantidade de esporos e número de urédias por lesão. Os maiores valores para estes caracteres foram obtidos na BRS 231, tolerante, o que significa Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 que apesar de não sofrer grandes perdas de produção, esta cultivar é permissiva ao desenvolvimento fúngico. As causas para tal resultado são ainda desconhecidas, sendo objetivo da continuação deste estudo. A análise anatômica realizada até o momento revelou abundante crescimento fúngico na BRS 231, crescimento mediano na Embrapa 48 e crescimento ameno na PI 230970 (Figura 1). Entretanto, estes resultados se referem à avaliação das amostras coletadas ao 12º dia após a inoculação, somente. O restante das amostras será processado e os dados completos serão submetidos à análise estatística para confirmar os resultados apresentados. Tabela 1 – Médias obtidas para caracteres morfológicos avaliados em folhas dos genótipos Embrapa 48, BRS 231 e PI 230970, após 14 dias da inoculação. Caracteres fenotípicos Genótipos Severidade (%) Cor da lesão* Quantidade de esporos** Número de urédias por lesão Embrapa 48 (suscetível) 0,026 4,333 1,666 1,646 BRS 231 (tolerante) 0,022 4,533 2,133 2,053 PI 230970 (resistente) 0,020 1,733 0,333 0,543 * Ao caráter cor da lesão foi atribuída escala de notas de 1 a 6, sendo 1 a coloração mais escura, em tom marrom avermelhado, e 6 a coloração mais clara, em tom castanho claro. ** Ao caráter quantidade de esporos foi atribuída escala de notas de 0 a 3, sendo zero ausência de esporos e 3 a maior quantidade de esporos detectada em uma urédia. A B C 50 µm 1,5 mm Figura 1: Cortes anatômicos de folha de soja dos genótipos Embrapa 48 (A), BRS 231 (B) e PI 230790 (C), após 12 dias da inoculação com ferrugem asiática e as respectivas lesões observadas ao microscópio estereoscópico. Conclusões Até o presente momento, os resultados sugerem que a análise anatômica, apesar de pouco explorada, pode ser um método eficaz para o estudo das Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 características da resistência e tolerância, podendo gerar informações interessantes que auxiliem na elaboração de planos de controle da doença. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pela concessão da bolsa de iniciação científica para o desenvolvimento deste trabalho. Referências BROMFIELD, K. R. Soybean rust. Saint Paul: American Phytopathological Society. 1984, 65 p. BROMFIELD, K. R.; HARTWIG, E. E. Resistance to soybean rust and mode of inheritance. Crop Science, Madison. 1980, v. 20, p. 254-255, Mar.-Apr. CHENG, Y. W.; CHAN, K. L. The breeding of ‘Tainung 3’ soybean. Journal of Taiwan Agricultural Research, Taiwan. 1968, v. 17, p. 30-35. HARTWIG, E. E. Identification of a fourth major gene conferring resistance to soybean rust. Crop Science, Madison. 1986, v. 26, n. 6, p. 1135-1136. HIDAYAT, O. O.; SOMAATMADIA, S. Screening of soybean breeding lines for resistance to soybean rust (Phakopsora pachyrhizi Sydow). Soybean Rust Newsletter. 1977, n. 1, p. 9-22. JOHANSEN, D. A. Plant microtechinique. N. York. Paul B. Hoeber, Inc. 1940, 3. ed. p.790. PATIL, V. S.; WUIKE, R. V.; THAKARE, C. S.; CHIRAME, B. B. Viability of uredospores of Phakopsora phachyrhizi Syd. at different storage conditions. J. Maharashtra Agric. Univ. 1997, v. 22, p. 260-261. OGLE, H. J.; BYTH, D. E.; MCLEAN, R. Effect of rust (Phakopsora pachyrhizi) on soybean yield and quality in South-eastern Queensland. Aust. J. Agric. Res. 1979, v. 30, p. 883-893. YORINORI, J. T.; NENES JUNIOR, J. Soybean germplasms with resistance and tolerante to “Asian” rust and screening methods In: South American Workshop on Soybean Rust, 1., 2007, Londrina. Embrapa Soybean: Londrina, 2007. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009