UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE EVASÃO DO ENSINO SUPERIOR: FATORES SOCIOECONÔMICOS E CULTURAIS por CAROLINE REGINA DE ALVARENGA OSSOLA Orietador: Profo Celso Sanches Rio de Janeiro, Janeiro de 2007. UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE EVASÃO DO ENSINO SUPERIOR: FATORES SOCIOECONÔMICOS E CULTURAIS Monografia realizada em exigência à conclusão do Curso de Docência do Ensino Superior, como requisito para a obtenção do grau de especialista. Por: Caroline Regina de Alvarenga Ossola Rio de Janeiro, Janeiro de 2007. DEDICATÓRIA Aos meus pais e aos meus amigos pelo apoio em toda minha vida. AGRADECIMENTOS A Deus EPÍGRAFE "É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar; é melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver ..." Martin Luther King SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 1. PERSPECTIVAS INICIAIS DA EDUCAÇÃO 10 1.1 - Sonho Concretizado 13 1.2 - Estresse por Profissão Precoce 15 1.3 - Problemas Financeiros Levam ao Abandono em Particulares 16 1.4 - Menor Evasão nas Universidades Públicas 17 2. EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR 19 3. CAUSAS DA EVASÃO TRATADAS NA LITERATURA 26 3.1 - Evasão e Repetência 26 3.2 - Evasão e Orientação Vocacional e Profissional 28 3.3 - Evasão e Mudança de Curso 30 3.4 - Evasão e Desprestígio da Profissão 32 3.5 - Evasão e Horário de Trabalho 35 3.6 - Evasão e Desmotivação 36 CONCLUSÃO 38 BIBLIOGRAFIA 40 RESUMO A presente monografia tem por objetivo fundamental descrever o fenômeno da evasão escolar no ensino superior a partir dos fatores socioeconômicos e culturais. O presente tema foi escolhido com a finalidade de discutir o panorama desta modalidade de ensino e como os elementos socioeconômicos podem influenciar a evasão no terceiro grau. INTRODUÇÃO O ensino superior articula seja pela sociedade ou pelo sonho de realização imposto pela família ao estudante uma grande concretização de seus sonhos e objetivos. Segundo pesquisas, a grande problemática é causada por pressões dos pais, por falta de informação sobre a faculdade ou sobre o mercado, 44,5% dos alunos acabam abandonando o que era seu sonho de realização profissional e se tornou a opção errada. O presente trabalho tem como investigação a análise dos fatores socioeconômicos e culturais que incidem na evasão do ensino superior. O tema justifica-se por vivermos numa sociedade caracterizada por polaridades econômicas e sociais, culturais, religiosas, etc., que regem a forma de vida da maioria das pessoas. Portanto, a pesquisa tem por finalidade maior enumerar e analisar alguns fatores de cunho socioeconômico e cultural que levam muitos a abandonar o ensino superior, tão importante na formação de profissionais para o mercado de trabalho. O capítulo I tratará das expectativas do ingresso em uma Universidade e dos obstáculos que são comuns e que podem resultar num processo de não conclusão. O capítulo II tratará dos fatores socioeconômicos e como eles se articulam na vida do universitário. O capítulo III tratará dos fatores culturais e sua importância no contexto em questão. Finalizando as linhas iniciais deste trabalho acadêmico, convidamos a todos que desejam saber um pouco mais sobre as expectativas, fatores e as conseqüências da evasão no ensino superior a embarcar nesta construção monográfica, que aborda os valores deste ensino em nosso país. 1. PERSPECTIVAS INICIAIS DA EDUCAÇÃO Dois desafios são fortes a quem pretende continuar seus estudos em nível acadêmico: superar a barreira do exame de entrada, o vestibular, e superar uma série de outros obstáculos, de natureza variada, que surgem ao longo do processo e que podem impedir que o objetivo proposto seja alcançado. Todas as formas de entrada na educação superior, como as condições que permitem que os estudos sejam concluídos com êxito são questões que têm preocupado educadores, gestores educacionais e pesquisadores nas diversas partes do mundo. A década de setenta foi marcada, segundo Durhan (1992), pelo interesse em avaliar a evasão e suas conseqüências nos países europeus, em destaque a França, o Reino Unido e a Suécia e tais estudos apresentariam significativa expansão nos dias atuais. Nos Estados Unidos são desenvolvidos programas e pesquisas para promover a permanência e a satisfação dos estudantes nos cursos de graduação. No Brasil, a evasão escolar entendida como interrupção no ciclo de estudo, causa prejuízos significativos sob o aspecto econômico, social e humano em qualquer que seja o nível de educação. Fusinato (1996) ressalta que o ambiente entre as instituições de educação superior é competitivo e a viabilidade econômica tem forte ligação com os programas de permanência do aluno. Há perdas de natureza econômica para o aluno, uma vez que as recompensas sociais relacionam-se à obtenção do título, sobretudo em nível de educação média e superior. As instituições, notadamente as particulares, sofrem com a perda de prestígio interno e externo e com o risco de manutenção das condições de sobrevivência financeira. A sociedade perde com os investimentos mal aproveitados, uma vez que os alunos ocupam as vagas e não concluem seus cursos. Não é incomum que o estudante decida mudar de área, fazer novo vestibular e deixar a vaga ociosa, que raramente é preenchida nas IES públicas. Nas instituições privadas, só há preenchimento nas carreiras mais concorridas e nos estabelecimentos que conquistaram maior credibilidade no mercado. O país tem perdas similares, pois para “assumir o ‘mundo das novas idéias’ só é possível por meio da educação” (FREGONEIS, 2002: 14), uma vez que esta constitui o alicerce para que os indivíduos propiciem as verdadeiras mudanças sociais necessárias ao desenvolvimento econômico e técnicocientífico e, conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida e progresso da nação. O mero ingresso na educação superior não garante o êxito educacional do estudante, pois as características deste nível de ensino diferem da educação fundamental e média. A descontinuidade em relação ao que o aluno vivenciara até então causa certa insegurança quanto à carreira e exige mudanças significativas de hábitos, utilização de novas estratégias de aprendizagem, capacidade de conviver com colegas que têm condições, habilidades e aspirações que não combinam com as suas. Pode haver decepções, também, quanto às expectativas levantadas em relação à vida universitária, à estrutura e metodologia do trabalho acadêmico e ao excesso de aulas teóricas nos primeiros semestres, quando o aluno, mesmo com o pouco conhecimento específico, almeja o exercício da profissão. Candidatos à educação superior, em decorrência de suas condições sociais e financeiras, desistem desde o início, da tentativa de ingressar em um curso mais concorrido, portanto, de mais difícil acesso, e optam por outro menos procurado, mesmo com pouco interesse em exercer a profissão correspondente. Esperam que a opção por áreas menos concorridas possibilite o ingresso a um nível educacional, cujo título poderá facilitar a ascensão social. Neste aspecto, Schiefelbein (1974) observa que a universidade construiu em seu interior um sistema semelhante ao resto do sistema escolar. Algumas carreiras fazem parte do sonho da maioria dos candidatos, e chegam a selecionar os mais preparados, seja qual for o critério de seleção. Trabalho de Klein e Ribeiro (1995), citado por Godoy e Volpe, 1999 e Sganzerla, 2001, indica que os mais privilegiados, sob o ponto de vista sócioeconômico, geográfico e pela escola de origem, ‘conquistam’ as vagas das universidades mais concorridas. Entretanto, isto não garante a conclusão do curso, haja vista o número significativo de matriculados que não se titulam no prazo mínimo proposto pela Instituição, quaisquer que seja as razões, como veremos mais adiante. A desistência na educação superior, segundo Castro (1994), é relacionada à grande diversidade do sistema e à especificidade de cada instituição. Na busca de respostas para as causas desse fenômeno há que se analisar o que está sendo efetivamente implementado para favorecer as condições acadêmicas do aluno e, conseqüentemente, melhorar o sistema de ensino nacional. Conforme enfatiza a Unesco (2004), a evasão é sempre processo individual, se bem que pode constituir-se em fenômeno coletivo e ser estudado como associado à eficiência do sistema. 1.1 Sonho Concretizado Sabe-se que a má escolha é a maior causa de evasão no ensino superior. Um estudo realizado na USP mapeou as causas da evasão nesta modalidade de ensino. A pesquisa constatou que quase metade dos estudantes que desistem da graduação tiveram problemas no momento da escolha. As pressões sofridas pelos pais, a falta de informação sobre a faculdade ou sobre o mercado, dentre outras, resultam em 44,5% dos alunos abandonando o que era sonho de realização profissional e se tornou a opção errada. Porém, um percentual de 30,7% desiste por não gostarem da estrutura do curso em que ingressaram. Depois seguem os insatisfeitos com o mercado de trabalho e com a profissão, que somam 13,4%. Os que desanimam por razões pessoais (problemas familiares, financeiros e afetivos) representam 10,5%. Menos de 1% é motivado a largar a faculdade por não se adaptar à cidade em que se localiza. A visão de Yvette Piha Lehman, autora da pesquisa que defendeu como tese de livre docência na USP, aborda que uma alternativa para as universidades evitarem o abandono é oferecer atendimento e orientação profissional. Ela coordena o Serviço de Orientação Profissional do Instituto de Psicologia da USP. Do total dos alunos que passaram pela orientação, 73% conseguiram clarear os motivos da crise e não desistiram do curso. Conforme menciona Yvette Piha Lehman ¹: “A consciência da dinâmica facilita o jovem a não ficar paralisado. Ele tem de sustentar uma escolha e paixão. Precisa sentir que está crescendo e não achar que saiu perdendo ao fazer a escolha”. Na pesquisa, 180 jovens que estavam em crise ou desistiram do ensino superior foram entrevistados. Desse número, 85 eram de universidades públicas e de 95 universidades particulares. As entrevistas ocorreram de 1996 a 2002. É notório que essa evasão a partir das análises realizadas é fruto da falta de informação básica condizente com a realidade. Percebe-se o quanto é importante ao estudante a informação a respeito das profissões com dados de curso e mercado. A grande constatação é que a desistência acontece no início do curso, e está relacionada diretamente à escolha. Outros motivos são as dificuldades de se adaptar às exigências e aos professores e à mudança do ensino médio para superior. _________________________________ 1 Apud Folha de São Paulo por Simone Harnik em Outubro de 2005. Yvette Piha Lehman afirma que quando os jovens se decepcionam no decorrer da graduação por volta do quarto e do sexto período, é porque começaram a se questionar sobre o sentido da profissão. A angústia é maior, pois eles já se envolveram com boa parte do curso. Nessa hora, eles buscam maior certeza com o que vão se comprometer. 1.2 Estresse Por Profissão Precoce Uma síndrome com o nome “burn out”, expressão em inglês que significa queimar-se, gastar-se, passou a ser usada para caracterizar o estado de esgotamento emocional para lidar com as dificuldades do trabalho, motivado por uma grande carga de estresse na hora de escolher uma profissão. Na visão de Yvette Piha Lehman os jovens vêm se queimando, se decepcionando cada vez mais cedo. Muitos chegam a ter esses sintomas na faculdade. Os estudantes muitas vezes entram queimados, em curto-circuito, mas não por não gostarem da profissão, mas sim por estarem sobrecarregados de pressões. A influência da família também atrai muitos conflitos, pois eles comparam o mercado de uma profissão A com o mercado de uma profissão B. Durante muito tempo passar no vestibular e ingressar em uma faculdade foi considerado um rito de iniciação para o mundo adulto. O ingresso na carreira superior representava a garantia de sucesso e de ascensão social. Porém, o mercado cada vez mais restrito, com muita gente qualificada sem emprego, fez esse “mito de sucesso” ruir. Yvette Piha Lehman afirma que o ensino superior não capacita apenas para exercer uma profissão. Há pesquisas que indicam que uma pessoa, aos 45 anos, já ganhou quatro ou cinco habilitações diferentes e trabalho. Isso só por ter curso superior e ter ingressado no mercado. Percebe-se que houve uma mudança drástica com relação ao profissional de hoje. O jovem atual tem de saber lidar com a instabilidade. Hoje, o profissional precisa ter características que as pessoas não tinham antes. Tem de ter a capacidade de correr risco, de suportar frustrações. 1.3 Problemas Financeiros Levam ao Abandono em Particulares Nas universidades particulares, o principal motivo de abandono do curso são problemas financeiros dos alunos e as dificuldades de pagar mensalidade. Conforme menciona Hermes Ferreira Figueiredo, que é presidente do Sindicato das entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo – Semesp ²: A evasão é um problema significativo, porque atinge diretamente a fonte de receita das particulares. Isso compromete a performance financeira e acaba afetando a renovação de laboratórios, a pesquisa, a contratação de professores, o custeio. Depois dos problemas financeiros, há também uma pequena parcela de alunos que se desencanta por um erro na escolha. ______________________________ ² Apud Folha de São Paulo por Simone Harnik em Outubro de 2005. De acordo com os dados do MEC, o índice de abandono dos cursos superiores particulares no Estado de São Paulo gira em torno de torno de 14,5%. Em 2003, alcançou o recorde dos últimos cinco anos, com 15,3%. Naquele ano, 135.849 estudantes largaram a faculdade. Os alunos de instituições particulares, segundo o estudo da USP, abandonam o curso logo no início, com maior freqüência, já que têm de arcar com mensalidades. Hermes Ferreira Figueiredo afirma que para driblar os problemas econômicos, as universidades, aliadas aos bancos, fazem previsões e cálculos dos riscos da clientela, lançando mão das estatísticas de evasão, observando se o desemprego aumenta ou diminui e se há ou não aumento dos salários no país. As saídas para manter os alunos estudando vão do crédito educativo a departamentos de estágios e convênios com empresas. A maioria das faculdades não aceita a desistência sem o aluno conversar com o coordenador do curso para explicar os motivos. 1.4 Menor Evasão nas Universidades Públicas Muito menor do que as universidades particulares, a taxa de evasão das universidades públicas é, de longe, alarmante. Os índices de abandono de cursos no Estado de São Paulo variaram, de 2000 a 2003, de 9,1% a 13,3% do total dos alunos matriculados, de acordo com dados do MEC. Na USP, em 2004, 7,2% dos estudantes abandonaram seus cursos. Foi o maior índice desde 1999, quando 7,6% dos alunos haviam deixado a faculdade. Para as universidades públicas, contabilizar o número de alunos que deixam a graduação é sempre um problema. Muitos dos que se desinteressam não chegam a trancar a matrícula. Outros trancam, mas depois voltam e completam a graduação em mais tempo do que o mínimo previsto. Segundo o Núcleo de Apoio aos Estudos de Graduação da USP, o Naeg, realizou um estudo com 27.789 alunos ingressantes na graduação de 1995 a 1998. A pesquisa divulgada no ano passado mostrou que, em média, 25% dos estudantes abandonaram o curso, a maioria no primeiro semestre. O maior índice de desligamento foi na área de humanas (33%) e de exatas (25%), mas há cursos em que a evasão chega a 79%. Na Unicamp, as estimativas referentes à evasão escolar, segundo o anuário estatístico, diminuíram, nos últimos anos, de uma faixa de 7% dos alunos para cerca de 5%. Mesmo assim, o número absoluto é grande. Em 2004, dos 15.164 matriculados, 814 desistiram. Algumas universidades em São Paulo procuram uma metodologia para calcular as desistências e não divulgaram um número oficial. A partir do próximo ano, a pró-reitoria de graduação das universidades vai fazer um levantamento para ter os números de evasão atualizados. 2. EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR A evasão escolar no ensino superior brasileiro é um fenômeno grave, que acontece tanto nas instituições públicas quanto nas privadas, e requer medidas eficazes de combate. Braga (1996) e Andriola (2003) afirmam que a partir de 1972, o Ministério da Educação/MEC e as universidades públicas manifestaram preocupações com o assunto, o que ocasionou o surgimento de alguns estudos. Informações estatísticas vieram a público indicando o número relevante de desistentes nessa modalidade de ensino. Ao observarmos a evolução do número de ingressantes nos últimos anos, fica evidente que a matrícula tem aumentado significativamente; no entanto, não tem garantido a freqüência do aluno até o final do curso. Os dados do censo escolar indicam que o número de titulados não acompanha o quantitativo de matriculados (INEP, 2004). A evasão é um problema complexo, resultante de uma conjunção de vários fatores que pesam na decisão do aluno de permanecer ou não no curso. Há modelos complexos que tentam explicar esse problema, como a teoria de Tinto (1975), cuja idéia central é a de que a evasão ocorre pela falta de identificação com o grupo. Explica como as situações de adaptação, contradição e isolamento influenciam as diferentes formas de evasão nessa modalidade de ensino. A teoria tem caráter social, explicativo longitudinal e interacional, centrada nos acontecimentos no interior da instituição e/ou que antecedem à entrada na universidade, assim como no afastamento voluntário, “a ênfase, portanto, está no indivíduo e na instituição” (Kipnis, 2000). O modelo pretende ser pertinente em nível da política, de tal forma que os gestores possam utilizálo, a fim de fazer funcionar estruturas institucionais com o objetivo de garantir a permanência do aluno até o final do curso. Ao se referir ao conteúdo, Tinto (1975), citado por Sganzerla (2001), descreve que este deve ser centrado no aluno, que há necessidade de informações sobre os atributos e as atividades do estudante, a fim de se adquirir um perfil válido dos calouros (capacidades, aptidões de estudos, origem social, finalidade e engajamentos educacionais e profissionais, aspirações, inquietações e expectativas institucionais), das experiências institucionais e o caráter das experiências na comunidade externa, além do julgamento dos estudantes em relação às próprias vivências. Se essas informações forem adquiridas de forma válida, poderão contribuir para o sucesso educacional e institucional. Afirma ainda que, as IES devem reunir informações consistentes anteriores ao ingresso do aluno na universidade, no decorrer e no momento do abandono do curso. Tais subsídios poderão ser utilizados na análise de dados para responder as questões que dizem respeito ao impacto da política de manutenção do estudante. Trata-se de um modelo que busca encontrar meios para que a IES aumentem o número de alunos que se titulam. Outros estudos, principalmente dissertações de mestrado e teses de doutorado tentam ilustrar vários desses aspectos que, embora não estejam integrados, acabam se complementando, em função dos objetivos comuns relacionados ao estudo do fenômeno. No caso brasileiro, apesar de vários estudos focalizarem a questão da não integração, com base na teoria citada, não há um referencial teórico definido, como poderia ser o de Tinto (1975), já que várias pesquisas o apontam como variável principal. A revisão da literatura levantou vários fatores que poderiam justificar o alto índice de desistências. Autores chamam a atenção para evidências em que a referida teoria não é apropriada, em função da situação sócio-econômica da população brasileira. Com o significativo crescimento da iniciativa privada na educação superior brasileira, fatores econômicos ligados ao trabalho e ao estudo podem ser mais decisivos que a qualidade da integração, sendo esta mais voltada aos países que apresentam situação econômica mais estabilizada, com iguais oportunidades de acesso e que contam com programas que garantem a permanência do aluno na educação superior, como, por exemplo, o de bolsas de estudos. As causas econômicas e sociais não estão vinculadas à idéia da integração na IES e refletem a existência de problemas à margem das instituições, portanto, que independem das decisões dos gestores educacionais. Conforme Sganzerla (2001), as raízes das diferentes formas de abandono são distintas e as ações preventivas para tratarem desses comportamentos também devem ser diferentes. Antes de iniciar programas de manutenção dos estudantes na universidade, é indispensável conhecer as formas de evasão. Não basta saber quem e quantos abandonam, mas o porquê da decisão e avaliar o grau de integração universitário, a fim de buscar o desenvolvimento dos sistemas. Deve-se reconhecer, no entanto, que a dimensão e as características do fenômeno são pouco conhecidas, bem como as causas da evasão em diferentes contextos educacionais e sociais. Em seus trabalhos, Prado (1990); e Sganzerla (2001) afirmam que 74% dos estudantes declararam o desejo de fazer cursos concomitantes ou posteriores ao que faziam, quando entrevistados. Isto parece sugerir que a desistência, na maioria das vezes, indica insatisfação do aluno quanto à estrutura do curso, ao enfoque pedagógico ou com o futuro profissional na carreira escolhida. Referindo-se à situação de vários tipos de perdas pessoais e sociais, em função das desistências, Paredes (1994) sugere que os responsáveis pelas políticas educacionais e gestores das instituições de ensino têm a obrigação de conhecer o problema em profundidade, para que as IES possam propor alternativas concretas de redução de tais prejuízos. Diaz (1996) e Gonçalves (1997), fundamentados no modelo teórico de Tinto (1975), afirmam ser possível identificar cinco categorias de causas da evasão: as psicológicas, as sociológicas, as organizacionais, as interacionais e as econômicas. As psicológicas, resultantes das condições individuais como imaturidade, rebeldia, dentre outras, desconsideram o impacto que fatores externos possam ter sobre a ‘personalidade’, ocasionando uma predisposição à evasão. As sociológicas entendem que o referido fenômeno não pode ser encarado como um fato isolado; contudo, apesar de considerar os fatores externos, não levam em conta os que estão mais próximos do estudante, tais como a necessidade de ingresso no mercado de trabalho e a repetência, dentre outras. As categorias organizacionais procuram identificar os efeitos dos aspectos das instituições sobre a taxa de evasão. As categorias interacionais avaliam a conduta do aluno em relação aos fatores interacionais e pessoais, que representam um aspecto dinâmico e interativo da experiência do estudante, com origem na antropologia social e nos estudos etnometodológicos do comportamento do indivíduo. Por isso, é possível concluir que a permanência ou não no curso é influenciada também pela categoria econômica, considerando-se os custos e benefícios ligados à decisão, que dependem de fatores individuais e institucionais. Outro empecilho é a dificuldade de adaptação à vida universitária que, às vezes, requer mudanças de cidade e adaptação a novos ritmos de trabalho acadêmico e metodologias de ensino. Mais adiante, Gonçalves (1997) assegura que a decisão de persistir ou não no curso depende dos custos e benefícios associados à decisão. Esse tipo de análise deve considerar os fatores individuais e institucionais, de tal forma que sejam consideradas as experiências e características dos alunos, dentro da realidade de cada um. No mesmo estudo, o autor cita Tinto (1975) ao afirmar que apesar dos alunos freqüentemente citarem problemas financeiros como razões do abandono, estas usualmente refletem outros fatores, como insatisfação com a instituição. Quando os estudantes estão satisfeitos com a experiência institucional, freqüentemente aceitam grandes ônus econômicos e prosseguem nos estudos. Sabe-se que o desejo de titulação superior está fortemente associado à busca de melhoria da qualidade de vida e estabilidade financeira, embora nem sempre isso aconteça. Gomes (1998) enfatiza que o desejo de cursar a educação superior está intensamente vinculado a projetos de ascensão social e a bons salários. Quando esses projetos não se viabilizam na área escolhida, como é o caso do magistério, o aluno tende a abandonar o curso de licenciatura em busca de outro mais valorizado socialmente. A evasão é parte de uma questão mais ampla da opção profissional e envolve questões que vão definir as atitudes e motivações do estudante universitário. Isso não significa que as dificuldades de adaptação e as falhas na escolha profissional representem deficiências nas atividades de formação dos estudantes. Mas trata-se de problemas que necessitam ser adequadamente diagnosticados e enfrentados pelos diversos cursos universitários (BEISIEGEL, 1992). Considerando-se as possibilidades de aproveitamento dos conhecimentos adquiridos na educação superior, a evasão nem sempre significa uma perda total, pois os estudos realizados, mesmo incompletos, facilitam a inserção no mercado de trabalho e representam um aprimoramento cultural e social. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação/LDB (1996) oportuniza mudanças no ensino de graduação, flexibilização dos currículos e a possibilidade de redimensionamento dos estudos. Segundo a LDB, em princípio o aluno desistente do curso superior poderá aproveitar os conhecimentos por meio de diplomas intermediários, depois de determinado ciclo de estudos não profissionalizante. O aluno evadido é beneficiado com um vasto campo de atuação profissional de nível superior, que não exige o bacharelado. O portador do diploma intermediário pode voltar à universidade, quantas vezes almejar, para completar os estudos nos ciclos profissionalizantes. Esses diplomas podem ser considerados mecanismos que reduzem as possíveis perdas derivadas da evasão. A maioria dos estudos consultados sobre o referido tema se refere às causas da evasão. Tais estudos podem ser agrupados, conforme as principais razões apontadas pelos autores, como as responsáveis pela evasão, tais como: a repetência; a desistência do curso em uma IES por haver conquistado nova vaga na mesma ou em outra instituição, via vestibular; a falta de orientação educacional no ensino médio; o desprestígio da profissão; a (des)motivação e o horário de trabalho incompatível com o do estudo. 3. CAUSAS DA EVASÃO TRATADAS NA LITERATURA 3.1 Evasão e Repetência Há evidências que após a reprovação em uma ou mais disciplinas os alunos são mais propensos a desistirem de seus cursos. Segundo a Unesco (2004), repetência e evasão são fenômenos que, em muitos casos, estão interligados e ocasionam o abandono dos cursos. Diaz (1996), que analisou o problema da evasão no curso de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da USP, centra o estudo nos aspectos econômicos do problema, ocasionados pela permanência prolongada na universidade. Verificou que 12% dos gastos na universidade correspondem aos recursos aplicados no ensino de graduação que não foram aproveitados, por causa da reprovação, por manter os estudantes mais tempo que o necessário na IES, ou por causa da desistência dos cursos ou, ainda, pela demora exagerada para se formar. Ressalta que os de menor renda familiar apresentam maior probabilidade de se evadir quando mantidos por longo período no curso, não se beneficiando com os investimentos a eles destinados. Manrique (1997) realizou estudo no período compreendido entre 1990 e 1995 para conhecer o curso de Química da Universidade Federal de Goiás e as dificuldades enfrentadas pelos alunos. Verificou que a evasão se relaciona com a reprovação, uma vez que os evadidos apresentaram desempenho escolar inferior ao dos ativos. Outro dado relevante é o fato de grande parte dos que deixaram o curso o fizeram depois da primeira reprovação. Os resultados indicam que a evasão tem causas endógenas e exógenas, evidenciando a necessidade de políticas eficazes à solução do problema. Sganzerla (2001), em pesquisa sobre a evasão de estudantes no curso de graduação em Estatística da Universidade Federal do Paraná, constata que a evasão é bastante acentuada, variando entre 57% e 87%, no período compreendido entre 1974 a 2000. Verifica também que 50% dos alunos tiveram uma permanência igual ou superior a dez semestres na universidade, até a graduação, embora o curso esteja previsto para nove períodos letivos. A principal causa da evasão apontada é a reprovação em duas disciplinas básicas, consideradas muito difíceis pelos estudantes, por requererem “certo grau de abstração e formalismo matemático”. Ressalta a influência dos currículos longos, com disciplinas muito específicas, e o ensino que não acompanha as rápidas transformações sofridas pelo mercado de trabalho. Fregoneis (2002) busca, por meio de pesquisa quantitativa envolvendo os ingressantes em 1995, conhecer os problemas inerentes à repetência, ao represamento nas disciplinas e à evasão nos cursos de graduação do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Estadual de Maringá. Conclui que a reprovação nas disciplinas consideradas difíceis influencia a decisão de continuar ou não os estudos, e que os critérios de avaliação então adotados pela instituição contribuíam para que o aluno desistisse do curso. 3.2 Evasão e Orientação Vocacional e Profissional A falta de informações sobre a profissão e o curso em que os alunos ingressam leva muitos à evasão. Ao perceber a respeito da instituição ou da profissão escolhida, se decepcionam com o curso superior e a universidade e passam a considerar a possibilidade de desistência. Na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), foram realizados estudos sobre o fenômeno da evasão por Armbrust (1995), no curso de Enfermagem, com o uso de questionários e de entrevistas, e por Polydoro (1995), no de Psicologia, por meio de análise documental e questionários. As causas indicadas como determinantes do abandono, em ordem decrescente, foram: as questões econômicas; a falta de conhecimento sobre curso e a profissão; os cursos considerados difíceis; número significativo de disciplinas no ciclo básico não relacionadas com a profissão. Verificou-se, também, que a maioria das desistências ocorreu nos primeiros semestres do curso. Martins (1979) realiza estudo, por meio de questionário, na Universidade Federal de São Carlos e verifica índices de evasão na ordem de 43,4% em 1978 e de 38,4%, em 1979, superando os 50% nos cursos de Ciências e Educação; no entanto, os da área de saúde apresentam as menores taxas. Conclui que a maioria dos desistentes sai por ter se decepcionado com o curso e pela a falta de orientação profissional no Ensino Médio. Beisiegel (1992) estudou a evasão nos cursos de graduação da Universidade de São Paulo (USP). Afirma que o fenômeno pode ser entendido a partir da escolha do curso associada ao projeto de vida. Conforme o autor, existe os que continuam estudando, porém insatisfeitos; se diplomados serão desajustados no exercício da profissão. Isso se deve às escolhas feitas pelo candidato muito jovem, e pelo fato de poucos serem assistidos em serviços de orientação vocacional nas escolas de Ensino Médio. Há, também, os que agiram movidos por expectativas infundadas. Aguiar (2001), com o objetivo de compreender o fenômeno da evasão universitária, na concepção institucional, realiza estudo na Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Cuiabá, do qual participaram coordenadores dos cursos de Administração Escolar, Processamento de Dados e a Pró-Reitoria de Ensino de Graduação. Foram feitas análises das Resoluções Internas que regulamentam o processo de evasão e questionários do e Sistema Computadorizado entrevista semi-estruturada. de Informação Realizou-se Acadêmica; uma análise quantitativa e qualitativa das informações, onde se verificou que a maioria dos desistentes é do sexo masculino, na faixa etária de 25 anos e que os cursos de demanda maior apresentam menor evasão. Na visão dos entrevistados, a evasão se caracteriza como um problema do aluno, ligado à situação sócioeconômica, aos conhecimentos adquiridos no ensino médio e ao desconhecimento do curso que escolheu. Andriola (2003) diz que a mudança de curso nas universidades brasileiras é alarmante e, não só sinaliza os equívocos na orientação profissional dos estudantes, como também, representa um ônus para a sociedade, pela ocupação indevida das vagas tão escassas, sobretudo nas universidades públicas, e pelo desperdício financeiro que acarretam. O autor alerta que o adolescente precisa conhecer as próprias habilidades, considerar e avaliar as sugestões familiares e reconhecer as implicações decorrentes da profissão escolhida, além do mercado de trabalho e, para isso, ele precisa de orientação vocacional. A evasão ocorre em duas situações bem distintas: como ato administrativo, decorrente de critérios internos da própria IES; e como opção do aluno, ao cancelar a matrícula. Pode ser ocasionada pela desinformação em relação à carreira escolhida, pelo desconhecimento das próprias capacidades e interesses, pelas influências de demanda do mercado de trabalho; além de pressões sociais e familiares (ibid). 3.3 Evasão e Mudança de Curso Há estudos que chamam a atenção sobre o significativo número de alunos que mudam de curso na mesma IES ou cancelam a matrícula por terem sido aprovados em outra instituição (pública ou privada), assim como, sobre os prejuízos decorrentes desta decisão. Santos (1992), utilizando-se de um questionário, procurou levantar a história dos alunos evadidos na Universidade de São Paulo. Procurou conhecer os hábitos de estudos, referências à família, as condições e locais de moradia, hábitos e costumes. Concluiu que o número de alunos que desistiram por terem ingressado em outros cursos vem crescendo a cada ano; 18,8% dos desistentes no ano 1991 se enquadravam nesta justificativa. Segundo o autor, a esse número podia-se acrescentar 16,2% do total de evadidos que freqüentavam simultaneamente outro curso universitário e depois de alguns semestres optam por apenas um. Paredes (1994) estudou a evasão, no período de 1980 a 1989, em duas instituições de Curitiba, uma pública (UFPR) e outra particular (PUCPR). Constatou que a evasão atinge 34% dos alunos da PUC e 35% dos UFPR; afirma, contudo, que ela não pode ser vista como fenômeno isolado, sem se considerar as deficiências no processo de ensino-aprendizagem, como a baixa qualidade dos cursos, as falhas na assiduidade e capacidade didática dos professores, a inadequação dos currículos e dos horários. O autor enfatiza que o número de desistências nos cursos é muito maior do que a percepção que se tem dela. O fenômeno é subestimado, no que se refere ao rendimento dos cursos de cada instituição, e superestimado, quando a evasão é vista como abandono definitivo da formação. Afirma que cerca de 64% dos que abandonaram os cursos obtiveram a titulação em outra instituição, uma vez que o sistema permite a mobilidade dos alunos entre as IES e aceita matrículas de baixo comprometimento, e que as próprias deficiências do sistema induzem a esses comportamentos. A diversidade de causas apresentadas no estudo de Paredes (1994) destaca a ocorrência de fatores institucionais, raramente encontrados na maioria dos estudos. Também é digna de nota a rejeição da hipótese que vincula a evasão da educação superior a motivos de natureza financeira: Entre as representações estudadas, a que mais foi desmentida pela análise mais profunda do discurso dos depoentes foi a relativa às dificuldades econômicas dos alunos que, no caso da UFPR, apareciam como ‘necessidades de trabalhar e estudar simultaneamente’ e para os alunos da PUCPR, como o ‘custo exorbitante dos cursos’. Na maioria dos casos, tais justificativas encobriam dificuldades de acompanhamento dos cursos (PAREDES, 1994:20). Gonçalves (1997), em estudo similar realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, verifica que somente 57,7% dos alunos são titulados na instituição na qual fazem a primeira matrícula. Os motivos do desligamento informados pela secretaria são ocasionados por afastamentos do curso maiores que o prazo permitido; por desistência a pedido do próprio estudante ou por transferência para outra IES. Mantém comparações que revelam índices menores e decrescentes nos cursos de Saúde e evasão diferenciada nos de Medicina da USP e hipóteses relativas a aspectos psicológicos na formação médica. 3.4 Evasão e o (Des)Prestígio da Profissão Outra razão, comumente evidenciada nas pesquisas sobre o abandono dos cursos, relaciona-se ao mercado de trabalho e ao prestígio da profissão escolhida, no momento da inscrição no vestibular. Pimenta e Anastasiou (2002) argumentam que a universidade deve estar integrada ao universo do trabalho e ministrar um conhecimento técnico eficiente, contextualizado e científico, e buscar a qualificação técnica do aprendiz, que se concretiza na qualificação profissional universitária. Rosa (1977) realizou estudo na Universidade Federal de Goiás, objetivando avaliar as conseqüências da evasão sobre os custos do aluno da graduação. Considerou a evasão como a diferença entre o número de matriculados e o número dos que concluíram o curso, independentemente de trancamento de matrícula, de abandono ou da mudança de curso. Tratou como evadido àquele que não foi graduado nos seis meses subseqüentes ao período normal de conclusão do curso. Os resultados mostraram que há grande diferença entre o número de matriculados no primeiro e no último semestres e que a evasão não deriva de uma única causa na universidade: cada curso perde alunos por razões peculiares. As causas mais relevantes referem-se ao prestígio da profissão, ao mercado de trabalho, à qualificação dos professores, além das características pessoais, como aptidão e motivação. Sobressaem-se também as dificuldades financeiras. O autor afirma que há um aumento em torno de 58% nas vagas no vestibular para os cursos que requerem menos despesas, como os de Direito, Ciências Sociais, Pedagogia e os de licenciatura como História, Letras, dentre outros. Rozenstraten (1992) enfatiza que algumas profissões incluem traços altamente valorizados, como Direito, Engenharia e Medicina, e geram expectativas de altos salários, emprego garantido, inteligência elevada, dificuldade nos estudos e riqueza. Outros, como as licenciaturas e bacharelado, são marcados pela falta de prestígio social, levando à redução da demanda nos vestibulares, pois as atividades profissionais são socialmente pouco reconhecidas, vinculadas a salários menores e a falta de garantia de emprego. Ressalta que os estudantes que se preparam para tais carreiras têm maiores probabilidades de optarem pela evasão. Para Beisiegel (1992), a possibilidade do exercício de profissão liberal gera expectativas de estabelecer o próprio negócio que, quando reconhecido, proporciona estabilidade financeira, prestígio social e sucesso profissional. Essas expectativas podem manter o aluno na IES até a conclusão do curso. No entanto, os baixos índices de evasão não representam, por si só, satisfação e ajustamento do estudante, podendo ser conseqüência das pressões sociais e familiares. Neste caso, problemas poderão se manifestar depois da formatura, frente às dificuldades reais da profissão ou de desempenho. Bueno (1993) focalizou a escolha profissional dos alunos na USP de Ribeirão Preto, nos cursos de Ciências Biológicas e Humanas. Concluiu que a evasão está relacionada ao prestígio da profissão escolhida, à imaturidade dos alunos no momento da escolha do curso, às expectativas de realização e sucesso profissional, à falta de prestígio social de algumas profissões, às dificuldades de adaptação à universidade e ao curso, além da falta de aptidões para a carreira. 3.5 Evasão e Horário de Trabalho A dificuldade de conciliar a jornada de trabalho e o horário escolar é fator de suma importância na decisão de abandonar a faculdade. Quando as obrigações profissionais entram em conflito com os compromissos dos estudos, são estes, na maioria das vezes, que são adiados. Slomp (1984), em estudo no Curso de Estatística da Universidade Federal do Paraná (UFPR), levantou informações, por meio de questionário, sobre a história do aluno evadido, em relação aos estudos, à família, às condições e local de moradia, aos hábitos e aos costumes. Verificou que 79,1% dos alunos haviam prestado vestibular para outro curso; 55,8% trabalhavam em tempo integral; 18,6% em tempo parcial e 25,6% não exerciam nenhuma atividade profissional. Dentre as causas apontadas para a evasão foram destacadas as obrigações familiares, a coincidência do horário de trabalho e de estudo e a falta de tempo para dedicar-se ao curso. O Departamento de Pesquisa Institucional da Pró-Reitoria de Planejamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1991) realizou pesquisa, englobando o período compreendido entre 1985 a 1987, a fim de analisar o funcionamento da universidade e oferecer subsídios ao planejamento institucional. A população de alunos evadidos foi ouvida por meio de questionário. Identificou como causa mais freqüente da evasão o fato dos horários de trabalho e estudo serem os mesmos. Os autores recomendam que se efetivem estudos de forma continuada e que sejam tomadas medidas administrativas viáveis para diminuir a evasão. Em 1998, Kira investigou as causas da desistência no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no período de 1992 a 1996. Após análise documental da evasão geral na instituição, com ênfase no curso escolhido, entrevistou oito ex-alunos do referido curso. As causas mais significativas apontadas para a desistência foram a falta de identificação com o curso, a ineficiência da ação docente e a dificuldade de conciliar o trabalho com o de estudo. Jacob (2000) tratou da evasão escolar na educação superior por meio de estudo de caso, com o objetivo de identificar os fatores que mais contribuíram para a evasão de alunos no Curso de Ciências Econômicas, da Fundação Educacional Dom André Arcoverde (FAA), no município de Valença RJ, no período entre 1992-1996. Concluiu que as principais causas da evasão são as relacionadas às condições financeiras dos estudantes; à dificuldade de conciliar o horário de trabalho com o de estudo; à ausência de vantagem imediata com a titulação; aos problemas familiares; e ao curso desinteressante. 3.6 Evasão e Desmotivação Ao ingressar na Educação Superior, o aluno é motivado, dentre outras razões, pela expectativa de melhores condições de vida e de realização profissional. Porém, a aprovação e a matrícula em uma IES não garantem que a motivação permaneça e que o aluno continue no curso. Maia (1984), com o objetivo de caracterizar o aluno evadido do curso de graduação/licenciatura, investigou quatorze cursos da Universidade Federal da Paraíba, nas áreas de tecnologia, biologia e humanidades. Considerou como evadido o aluno que não efetivou matrícula em dois semestres consecutivos. Com o uso de questionários enviados pelo correio, verificou que os principais motivadores do ingresso na educação superior são o desejo de ascensão profissional, a expectativa de boa remuneração e de melhoria das condições de vida. Observou que o desejo de ter um título de nível superior leva o candidato a procurar cursos menos concorridos e que as principais justificativas encontradas para a desistência foram a falta de motivação, problemas pessoais e casamento. Constatou, ainda, que a evasão ocorre ao longo do curso, mas que é mais acentuada no primeiro ano. Mendes (2002) estudou como a integração acadêmica do aluno se relaciona ao fenômeno da evasão no ensino superior em cursos noturnos da Universidade de Brasília e da Universidade Católica de Brasília. Utilizando o modelo referencial teórico de Tinto (1975), conclui que, quanto mais alta a percepção que o estudante tem de sua integração acadêmica menores são as probabilidades de abandonar o curso. Verifica também que reformulações de políticas institucionais específicas podem influir diretamente na evasão. CONCLUSÃO Percebemos que através do ensino superior o indivíduo tem a possibilidade de uma ascensão econômico-social. Sabe-se que muitas são as dificuldades que os estudantes enfrentam até o término de sua graduação. Dentre elas estão o desemprego, o status da profissão no mercado de trabalho, falta de motivação diante da repetência de disciplinas, mudança de curso, a falta de orientação vocacional e uma grande dificuldade de articulação diante da jornada de trabalho e graduação ao mesmo tempo. O maior impacto que isso reflete pode ser verificado diante de muitos casos em que as universidades públicas agregam a um número baixo de evasão escolar, pois o fator financeiro não contribui para saída da instituição pelo estudante por não ser responsável por nenhum tipo de gasto nessa ordem com mensalidades. É notório que devemos ter um grande objetivo e, também, traçarmos com clareza e grande conscientização as nossas prioridades, já que atualmente, muito mais que um diploma, é fundamental saber que a graduação agrega muito mais que conhecimento, fazendo um grande paralelo com nossos anseios, desejos e expectativas com muitas contribuições na realização pessoal e profissional. Observa-se que o desejo de ter um título de nível superior leva o candidato a procurar cursos menos concorridos e que as principais justificativas encontradas para a desistência são a falta de motivação, problemas pessoais e casamento. Constata-se, ainda, que a evasão ocorre ao longo do curso, embora seja mais acentuada no primeiro ano. Portanto, ao analisar a questão da evasão do ensino superior como fenômeno real e inerente às instituições públicas e, também, particulares, devese buscar uma solução apropriada que atenda às necessidades de cada um, sem prejuízo para as universidades, para que todos se beneficiem com as oportunidades provenientes da conclusão de um ensino superior. BIBLIOGRAFIA AGUIAR, Maria Tereza Chritina. A evasão nos cursos de Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Cuiabá 1985/2 1995/2, Um Processo de Exclusão. 193p. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT, 01/01/2001. ANDRIOLA, Wagner Bandeira. Evasão Discente na Universidade Federal do Ceará (UFC): proposta para identificar causas e implantar um Serviço de Orientação e Informação (SOI). Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de Janeiro, v. 11, n. 40: 332-347, jul./dez. 2003. ARMBRUST, Rita Cássia Chiarelli. A evasão no 3º grau: a faculdade de Enfermagem da PUCCAMP. (Dissertação de Mestrado). Campinas: PUCCAMP (1995). BASTOS, Cleverson Leite. e KELLER, Vicente. Aprendendo a Aprender: introdução à metodologia científica. Petrópolis: Vozes Ltda. 1997. BEISIEGEL, Celso de Rui. A evasão nos cursos de graduação da USP. Paidéia, FFCLRP – USP, Ribeirão Preto, 5, agosto, 1992. BRAGA, Mauro Mendes. Perfil sócio econômico dos alunos, repetência e evasão no curso de química da UFMG. São Paulo: NUPES, 1996. BRASIL. Lei Darcy Ribeiro (1996). LDB: Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394 de 20 de dez. de 1996 (publicação no Diário Oficial da União de 23, dez., 1996). BUARQUE, Cristovam. Educação Superior: reforma, mudanças internacionalização. Anais. Brasília: UNESCO Brasil, SESU, 2003. e BUENO, José Lino Oliveira. A evasão de alunos. Paidéia, FFCLRP – USP, Ribeirão Preto, 5, agosto /1993. CASTRO, Cláudio de Moura. Educação brasileira: consertos e remendos. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. CUNHA, Luiz Antônio. Ensino Superior e Universidade no Brasil. In 500 anos de educação no Brasil / organizado por Eliane Marta Teixeira Lopes, Luciano Mendes de Faria Filho, Cynthia Greive Veiga, - 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. DIAZ. Maria Dolores Montoya. Permanência prolongada na graduação da USP: custos e fatores associados. Tese (Doutorado em economia). Faculdade de Economia e Administração – Universidade de São Paulo, 1996. FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque. A universidade brasileira em busca de sua identidade. Petrópolis: Vozes, 1997. FREGONEIS, Jucelia Geni Pereira. Estudos do Desempenho Acadêmico nos Cursos de Graduação dos Centros de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Estadual de Maringá: Período 1995-2000. 145p. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. GOMES, Alberto Albuquerque. Evasão e evadidos: o discurso dos alunos sobre Artigo extraído da tese de doutoramento evasão escolar nos cursos de licenciatura defendida em 02/10/1998. Departamento de Educação – Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP –19060-900 – Presidente Prudente - São Paulo, 1998. GOMES, Cândido Alberto. A educação em perspectiva sociológica 3ª ed. São Paulo: EPU, 1994. GONÇALVES, Ernesto Lima. Evasão no Ensino Universitário: a escola médica em questão. São Paulo. NUPES/USP, documento de trabalho 3, 1997. NUPES. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2000: Educação – Resultados da Amostra. Brasil, 2000. Censo Demográfico INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educação Superior: sinopse estatística – 2002. – Brasília: O instituto, 2003. 476 p. : tab. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. Disponível em: http://www.inep.gov.br/ Dados da Educação Superior p. 42. Acesso em 05 nov. 2004. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educação Superior: sinopse estatística – 2002 / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Brasília: O Instituto, 2003. 476p. : il, tab. JACOB, Celso Alencar Ramos. A evasão escolar e a construção do sujeito / profissional em curso de Ciências Econômicas. 76p. Dissertação (Mestrado em Educação).Universidade Católica de Petrópolis. Petrópolis. Três Rios – RJ01/12/2000. KIRA, Luci Frare. A evasão no ensino superior: o caso do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (1992- 1996). 147p. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Metodista de Piracicaba Maringá – Paraná, 1998. MAIA, Marilda França. A evasão no 3º grau: a quem interessam as razões. 128f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, 1984. MANATA, Dora Vianna. O Desempenho Acadêmico na Educação Superior: um estudo das perdas no Curso de Ciências da Computação da UCB. 136p. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Católica de Brasília. Brasília – DF, 1998. MANRIQUE, Waleria Borges de Sousa. Desempenho do Curso de Química da Universidade Federal de Goiás. 75p. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade de Brasília. Brasília – DF, 1997. MARTINS, Antonio Carlos Pereira. Ensino Superior no Brasil: da descoberta aos dias atuais. Acta Cir. São Paulo, Brasil, 2002, vol.17 suppl. 3, p. 04-06. ISSN 0102- 8650. MARTINS, José do Prado. Estudo da evasão escolar de alunos da graduação da Universidade Federal de São Carlos. (Dissertação de Mestrado). São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 1997. MENDES, Aroldo Ferreira. Evasão e integração em Universidades: um estudo sobre os cursos de Pedagogia da Universidade de Brasília e Universidade Católica de Brasília. 130 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2002. PAREDES, Alberto Sanches. A evasão do terceiro grau em Curitiba. 23p. NUPES/USP, São Paulo, documento de trabalho n. 6/1994. PIMENTA, Selma Garrido, ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2002. POLYDORO, em Soely Aparecida. Evasão em uma instituição de ensino superior – desafio para a Psicologia Escolar. 180p. Dissertação (Mestrado Psicologia). Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, São Paulo, 1995. PRADO, Fernando Dagnoni. Acesso e evasão de estudantes na graduação: a situação do Curso de Física da USP. 247 p. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990. ROSA, Edwarde. A evasão no Ensino Superior: um estudo sobre a Universidade Federal de Goiás. 164p. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – Escola Brasileira de Administração Pública, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1977. ROSENTRATEN, Ângela S. Comportamento Vocacional. Texto de Curso ministrado no VI Encontro Paranaense de Psicologia, agosto de 1992, CuritibaPR. SANTOS, Jair Lício Ferreira dos (Coord). “O desligamento de alunos da USP: dimensão e composição”. Programa de estudos sobre Evasão na USP, 1º componente do Programa. Núcleo de Apoio aos Estudos de Graduação – Universidade de São Paulo, 1992. SGANZERLA, Nelva Maria Zibetti. Aspectos Relevantes da Estatística e a Evasão de Estudantes no Curso de Graduação em Estatística da UFPR. 285p.Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual Paulista, Marília, São Paulo, 2001. SERPA, Luiz Felipe Perret e PINTO, Nice Maria Americano Costa. A evasão no Ensino Superior no Brasil. Estudos da Avaliação Educacional, nº 21. Fundação Carlos Chagas. São Paulo, jan-jun de 2000. ISSN: 0103-6831. SLOMP, Maria Glauce Fabrício dos Santos. Estudo da evasão de alunos do curso de estatística da Universidade Federal do Paraná. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1984. TINTO, Vicent. (1975). Dropout from higher education: a theoretical síntesis of research. Review of Educational Research 45:89-125. UNESCO. Términos de Referencia para Estudios Nacionales sobre Deserción y Repitencia en la Educación Superior en América Latina y el Caribe: 2004. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Evasão dos cursos de graduação da UFRS em 1985, 1986 e 1987. Série de Estudos e Projetos nº 15. Porto Alegre, UFRS, 1991.