ANÁLISE CRÍTICA DA NOVA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DO EXAME NACIONAL DE CURSOS Rubén Romero1, Anna Diva P. Lotufo2 FEIS/UNESP1 Av. Brasil 56, Ilha Solteira, SP [email protected] FEIS/UNESP2 Av. Brasil 56, Ilha Solteira, SP [email protected] Resumo. É realizada uma análise crítica da nova metodologia proposta pelo INEP para a avaliação do Exame Nacional de Cursos. Com o critério anterior, vigente até 2000, existia um critério rígido para a classificação e atribuição de conceitos dos cursos. Entretanto, em 2001, deve-se implementar um novo critério para a classificação e atribuição de conceitos dos cursos. Esta nova proposta permite atribuir conceitos aos cursos de uma forma variável, isto é, o número de cursos, por exemplo, com conceito A deve ser variável. Assim, é realizada uma análise desses novos critérios para o caso do curso de Engenharia Elétrica. A análise realizada permite verificar que o número de cursos com conceito A deve permanecer praticamente o mesmo ou ter um pequeno incremento e o número de cursos com conceito B deve diminuir. Também é realizada uma análise genérica sobre a repercussão do novo critério adotado na atribuição de conceitos nos outros cursos que participam do provão, assim como das características teóricas da distribuição normal de probabilidade e sua utilização em dados experimentais.. Palavras-chave: Exame Nacional de Cursos, critérios de avaliação, ensino em engenharia elétrica. ENC - 1 1. INTRODUÇÃO Iniciado em 1996, o Exame Nacional de Cursos, durante cinco anos usou um critério de avaliação que atribui conceitos aos cursos participantes desse processo de avaliação. A partir de 2001 deve ser usado um novo critério no processo de avaliação. Além disso, segundo comunicados divulgados nos meios de comunicação (Folha de São Paulo – 19/03/2001), junto com os conceitos atribuídos aos cursos em 2001 usando um novo critério, o Ministério da Educação vai divulgar uma nova classificação dos cursos para os cinco anos anteriores usando o novo critério, isto é, os conceitos atribuídos em anos anteriores usando o critério antigo devem ser revisados e corrigidos usando o novo critério de avaliação. Assim, por exemplo, um curso que em 2000 teve um conceito igual a B, pode ter esse conceito revisado para C ou A de acordo com o novo critério. A motivação para a mudança de critérios de avaliação, segundo a imprensa é para atender uma reivindicação das universidades, especialmente de universidades de elite e de escolas particulares. Assim, se a idéia é atender reivindicações das instituições antes mencionadas, espera-se que com o novo critério o número de cursos com conceito A deve aumentar e o número de cursos com conceito D e E deve diminuir. Portanto, pretende-se fazer uma análise crítica do novo critério de avaliação adotado e uma análise de caso para o curso de Engenharia Elétrica. Maia, em [3] afirma que nas distribuições das notas dos cursos nos 5 anos em que foi usado o critério antigo de avaliação, a maioria dos cursos apresenta uma distribuição em forma de sino, isto é, as distribuições dos cursos são próximas da distribuição normal. Também em [3] se afirma que em alguns cursos existem distribuições um pouco diferentes da distribuição normal com o aparecimento de assimetria, isto é, as distribuições são assimétricas. Nesse contexto, um curso com distribuição assimétrica à esquerda deve ter um número maior de cursos com conceito A e B que um curso que apresente uma distribuição normal. De forma equivalente, um curso com distribuição assimétrica à direita deve ter um número menor de cursos com conceito A e B que um curso que apresente a distribuição normal. Portanto, pode-se verificar que as propriedades da distribuição normal de probabilidades foram usadas como base fundamental para desenvolver e justificar o novo critério de avaliação do Exame Nacional de Cursos. Assim, também analisamos algumas das propriedades da distribuição normal. Na Tabela 1 é mostrada a percentagem de escolas com cada tipo de conceito quando é usado o critério antigo e quando é usado o novo critério e com a suposição de que a distribuição das médias das escolas do curso avaliado apresenta uma distribuição exatamente igual a distribuição normal. Tabela 1. Distribuição de conceitos. Conceito A B C D E Critério antigo 12% 18% 40% 18% 12% Critério novo 15,87% 14,98% 38,30% 14,98% 15,87% Portanto, da “Tabela 1”, pode-se concluir que no caso em que as médias de um curso apresentem uma distribuição exatamente igual à distribuição normal, então o número de escolas com conceito A e E devem aumentar em relação ao critério antigo. Entretanto, deve-se analisar também o que acontece nos casos em que a distribuição que representa um determinado curso apresenta a forma de sino (parecida à distribuição normal) mas com assimetria. Um caso mais crítico acontece nos cursos em que a distribuição não apresenta forma de sino e, portanto, apresenta características 2. NOVO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO O novo critério de avaliação está sistematizado em [3] e reproduzimos a parcela mais importante desse documento: o ponto de partida, no processo de avaliação, será a média geral dos cursos avaliados A partir dela, será calculado o desvio padrão da distribuição dos desempenhos dos cursos e, com base nesses valores, atribuir os conceitos da seguinte forma: Conceito C aos cursos que tiverem seu desempenho no intervalo de meio desvio padrão em torno da média geral; Conceito B aos cursos com desempenho entre meio desvio padrão (inclusive) e um desvio padrão acima da média geral; Conceito A aos cursos com desempenho acima de um desvio padrão (inclusive) da média geral; Conceito D aos cursos cujo desempenho estiver no intervalo entre um e meio desvio padrão (inclusive) abaixo da média geral; Conceito E aos cursos com desempenho abaixo de um desvio padrão (inclusive) da média geral. Em [3] ainda é mencionado que a nova metodologia para distribuição dos conceitos do Provão toma por base a média geral para cada área que está sendo avaliada e a distância da média do curso para essa média geral. Finalmente, ENC - 2 para a determinação dos conceitos leva-se em conta o chamado desvio padrão, que permite a construção de uma escala de valores para a classificação dos cursos. Na proposta anterior aparece os termos média geral dos cursos e o desvio padrão. A partir desses términos aparece a primeira interpretação para calcular esses parâmetros, média e desvio padrão. Essa interpretação, também passada pelos meios de comunicação especialmente escrita entende que a média geral de um curso é a média geral de todos os alunos que fazem o provão e o desvio padrão também deve ser calculado considerando todos os alunos de um curso que participam do provão. Por exemplo, em 2000 fizeram o provão 4253 alunos no curso de engenharia elétrica e a média geral foi de 3,13 e o desvio padrão 1,86 na escala de 0 a 10. Nessa interpretação, a população está representada por 4253 elementos, isto é, os alunos que participaram do provão. Esses valores, médio e desvio padrão, para o curso de engenharia elétrica para todo o Brasil aparece no boletim de desempenho dos alunos que participaram do provão e também é um tipo de informação não sigilosa que é repassada para os meios de comunicação. Entretanto em [3], ainda apresentando o novo critério de avaliação, se menciona que o objetivo é discriminar as instituições segundo a posição relativa da média da Instituição (curso) em função da média geral. Assim, os indicadores usados devem ser a média da Instituição e a Média e o desvio padrão da distribuição das médias das escolas. Nessa parte da apresentação aparece evidente que deve ser calculada a média de cada escola e, usando esses valores médios, deve ser calculada a média geral e o desvio padrão. Nesse caso aparece a segunda interpretação sobre a forma em que devem ser calculados os indicadores (média geral e desvio padrão). Essa segunda interpretação, que consideramos como proposta oficial do INEP é confirmada quando em [3] se apresenta um exemplo ilustrativo onde aparece um curso hipotético com 30 escolas e os valores médios de cada escola. Com esses valores são calculados a média geral e o desvio padrão que são os indicadores usados para encontrar os conceitos das escolas usando o novo critério. Na figura 1 é mostrada a distribuição das médias dos cursos da engenharia elétrica no provão de 2000. Na figura, pode-se observar uma assimetria à direita e, portanto, o número de escolas com conceito A deve ser menor que no caso de uma distribuição simétrica, como a distribuição normal, mas não necessariamente o número de cursos com conceito A deve ser menor em relação ao critério de avaliação antigo. Na “Figura 1” também, pode-se observar um ponto de inflexão tornando a figura diferente de um sino. Figura 1. Distribuição das médias em engenharia elétrica – 2000 É importante observar que na segunda interpretação, a interpretação oficial, a população no caso do curso de engenharia elétrica está constituído por 87 elementos ou escolas. Portanto, os valores médios obtidos considerando uma população de 4253 alunos e considerando uma população de 87 escolas, cada um deles com um valor médio, não são iguais embora possam ser muito próximos. Entretanto, o desvio padrão obtido usando os dois tipos de população mencionados anteriormente podem ser significativamente diferentes. Assim, os dois tipos de interpretação para o novo ENC - 3 critério de avaliação levam a resultados significativamente diferentes. Deve-se observar também que uma curva de distribuição que representa uma população de 4253 elementos deve ser, em geral, mais próxima de uma distribuição normal que a curva de distribuição que representa uma população de 87 elementos. Embora, no momento não existam mais dúvidas de que a segunda interpretação representa a interpretação oficial, mostrada através de um exemplo ilustrativo em [3], neste trabalho continuamos fazendo testes com as duas interpretações. Um dos motivos é ser muito simples fazer testes com a primeira interpretação porque os valores médio e de desvio padrão estão disponíveis. Outro motivo é que muitos acadêmicos consideraram a primeira interpretação como sendo a correta. Para fazer testes com a segunda interpretação, deve-se obter ou calcular de forma aproximada o valor médio de cada escola para encontrar os indicadores adequados (média e desvio padrão das médias das escolas). 3. O CASO DA ENGENHARIA ELÉTRICA O curso de engenharia elétrica participou de três processos de avaliação (1998,1999,2000) mas neste trabalho são analisados somente o provão de 1999 e 2000 porque não existe suficiente informação do provão de 1998. Como já foi mencionado anteriormente, embora a segunda interpretação seja a oficial, foram realizados testes com os dois tipos de interpretação já que muitos acadêmicos realizaram os testes usando a primeira interpretação influenciados pela forma em que foi apresentado o novo critério de avaliação pelos meios de comunicação. 3.1 Primeira interpretação No provão de 1999 participaram 84 cursos de engenharia elétrica sendo que com o critério antigo de avaliação 10 escolas obtiveram conceito A, 15 conceito B, 34 conceito C, 15 conceito D, 9 conceito E e uma escola foi considerada SC (sem conceito por ter um número insuficiente de alunos). Nesse ano o valor médio e o desvio padrão dos 4236 graduandos de engenharia elétrica do Brasil foi de 3,56 e 2,13 respectivamente (obtido do boletim de desempenho de um graduando). Com esses dados, usando a primeira interpretação e a informação das médias de algumas escolas a distribuição de conceitos teria uma variação muito significativa. Assim, somente 7 escolas ficariam com conceito A, 10 com conceito B, 40 com conceito C, 22 com conceito D e 4 escolas com conceito E. Nessa interpretação, pode-se observar uma diminuição do número de ecolas com conceito A, B e E e um aumento do número de escolas com conceito C e D. No provão de 2000 participaram 87 cursos de engenharia elétrica sendo que com o critério antigo de avaliação 11 escolas obtiveram conceito A, 16 conceito B, 35 conceito C, 16 conceito D, 9 conceito E. Nesse ano o valor médio e o desvio padrão dos 4253 graduandos de engenharia elétrica do Brasil foi de 3,13 e 1,86 respectivamente (obtido do boletim de desempenho de um graduando). Novamente, com esses dados, usando a primeira interpretação e a informação das médias de algumas escolas a distribuição de conceitos também teria uma variação muito significativa. Assim, somente 8 escolas ficariam com conceito A, 9 com conceito B, 42 com conceito C, 22 com conceito D e 6 escolas com conceito E. Nessa interpretação, pode-se observar uma diminuição do número de ecolas com conceito A, B e E e um aumento do número de escolas com conceito C e D de maneira muito parecida ao comportamento apresentado para 1999. 3.2 Segunda interpretação Na Segunda interpretação, a interpretação oficial do INEP, deve-se conhecer a média de cada escola e, com esses valores, calcular o valor médio das médias das escolas, assim como o desvio padrão da população constituída por escolas para encontrar os conceitos atribuídos usando o novo critério. Assim, um primeiro problema foi dispor das médias das escolas que é uma informação que nem as próprias escolas conhecem. Essa informação na verdade se encontra disponível somente no boletim de desempenho do aluno que fez o provão. O Coordenador de cada escola conhece apenas a média normalizada de sua escola. Entretanto foram obtidas as médias verdadeiras de algumas escolas mas em número insuficiente para determinar, de forma exata, o valor médio e desvio padrão mencionado anteriormente. Portanto, esses valores médios e de desvio padrão foram encontrados de maneira aproximada e depois confrontados com outras informações isoladas de nosso banco de dados. Em [1] e [2] se encontram disponíveis algumas informações que permitem encontrar, de forma aproximada as médias das escolas de engenharia elétrica. Assim, por exemplo, em [2] existe a informação, relativa ao ano 2000, de que 9 escolas tiveram médias no intervalo entre 0,46 e 1,73; 16 escolas tiveram médias no intervalo entre 1,73 e 2,12; 35 escolas tiveram médias no intervalo entre 2,12 e 3,33; 16 escolas tiveram médias no intervalo entre 3,33 e 4,54 e 11 escolas tiveram médias entre 4,54 e 6,32. Também usando a informação disponível em [1], páginas 451 a 455, onde aparecem a distribuição por percentagem P25, P50 e P75 de cada escola é possível elaborar um ranking informal das escolas com pequeno erro na classificação das escolas. Finalmente, a informação disponível, no nosso banco de dados, das médias reais e/ou normalizadas de algumas escolas permitem confrontar e verificar as estimativas aproximadas. Assim, na primeira tentativa de encontrar os valores médios das escolas foi usada a informação do número de escolas em cada intervalo e essas escolas foram uniformemente distribuídas. Por exemplo, no provão 2000, 11 escolas estavam com valores médios localizados no intervalo entre 4,54 e 6,32. As médias dessas escolas foram distribuídas ENC - 4 uniformemente nesse intervalo e ordenadas de acordo com o ranking informal e corrigindo sempre que possível com os valores reais das médias das escolas cujo valor médio exato era conhecido. Com os valores médios de cada escola estimada de forma aproximada e com a informação do número de alunos que participaram do provão por cada escola, que também está disponível em [1], é possível calcular um estimado do valor médio da população constituído pelos 4253 graduandos. Esse valor deve ficar muito próximo do valor de 3,13 que representa o valor médio exato da população de 4253 alunos e que se encontra disponível. Usando a estratégia anterior foi calculado o valor médio aproximado das notas para os 4253 alunos que fizeram o provão, mas usando a distribuição das médias estimadas para cada escola e o número de alunos de cada escola que participaram do provão. O valor encontrado para essa média foi de 3,18 para o ano 2000, um valor muito próximo de 3,13 que representa o valor exato. Assim, foram consideradas consistentes as médias estimadas para todas as escolas de engenharia elétrica do provão de 2000. Com esses valores médios estimados para cada escola é muito simples encontrar o valor médio estimado das médias das escolas, assim como o desvio padrão que são indicadores necessários para encontrar os conceitos para cada escola usando o novo critério de avaliação. Para o provão de 1999, usando a proposta mencionada anteriormente e usando as médias estimadas para cada escola, foi encontrado um valor médio de 3,41 e um desvio padrão de 1,41 para as médias das 83 escolas de engenharia elétrica. Usando essa informação, pode-se concluir que usando o novo critério de avaliação para corrigir os resultados do provão de 1999 para o curso de engenharia elétrica, deve-se obter os seguintes resultados: 13 escolas devem obter conceito A, 11 escolas devem obter conceito B, 29 escolas devem obter conceito C, 16 escolas devem obter conceito D e 14 escolas devem obter conceito E. Portanto, pode-se verificar que o número de escolas com conceito A pode aumentar mas o número de escolas com conceito B deve diminuir. Em conjunto, com o novo critério de avaliação, o número de cursos com conceito A e B deve diminuir para o provão de 1999 se de fato o novo critério de avaliação for usado para reavaliar o provão de 1999. É importante mencionar que se a distribuição das médias das escolas de engenharia elétrica fosse equivalente à distribuição normal então o número de cursos com conceito A e B seria igual a 26. Entretanto, como a distribuição na engenharia elétrica apresenta assimetria à direita então, espera-se um número de escolas com conceito A e B menor e esse número foi estimado em 24 escolas usando nossa estratégia, confirmando a consistência dos resultados obtidos. Para o provão de 2000, usando a proposta mencionada anteriormente e usando as médias estimadas para cada escola, foi encontrado um valor médio de 2,95 e um desvio padrão de 1,30 para as médias das 87 escolas de engenharia elétrica. De igual maneira,usando essa informação, pode-se concluir que usando o novo critério de avaliação para corrigir os resultados do provão de 2000 para o curso de engenharia elétrica, deve-se obter os seguintes resultados: 13 escolas devem obter conceito A, 10 escolas devem obter conceito B, 33 escolas devem obter conceito C, 22 escolas devem obter conceito D e 9 escolas devem obter conceito E. Também nesse caso, pode-se verificar que o número de escolas com conceito A pode aumentar mas o número de escolas com conceito B deve diminuir. Em conjunto, com o novo critério de avaliação, o número de escolas com conceito A e B deve diminuir para o provão de 2000 se o novo critério for usado para revisar os resultados do provão de 2000. Tabela 2. Distribuição de conceitos com o novo critério. Conceito A B C D E Total 1999 CA 10 15 34 15 09 83 2000 NC 13 11 29 16 14 83 CA 11 16 35 16 09 87 NC 13 10 33 22 09 87 Na “Tabela 2”, CA significa critério de avaliação antigo e NC novo critério de avaliação. Dos resultados mostrados na “Tabela 2”, pode-se verificar que embora a distribuição das médias das escolas de engenharia elétrica seja assimétrica à direita, o número de cursos com conceito A deve aumentar para o provão de 1999 e 2000. Também, podese verificar que o número de escolas com conceito B deve diminuir. Em conjunto, o número de escolas com conceito A e B deve diminuir. Também é importante observar que o número de escolas com conceito A é menor do valor que seria obtido se a distribuição das médias das escolas de engenharia elétrica fosse exatamente a distribuição normal. Para praticamente todos os casos o número de escolas com conceito B deve diminuir usando o novo critério de avaliação inclusive no caso em que a distribuição das médias das escolas seja equivalente à distribuição normal. Essa conclusão aparece evidente na “Tabela 1” em que o número de escolas com conceito B deve diminuir de 18% para 14,98% para o caso mencionado anteriormente. ENC - 5 4. OS OUTROS CURSOS AVALIADOS Para praticamente todos os casos, o número de escolas com conceito A deve aumentar. Esse incremento depende do tipo de assimetria que apresente a distribuição das médias das escolas do curso avaliado em relação à distribuição normal e da forma da curva de distribuição. Em determinados cursos, especialmente em cursos em que o número de escolas é pequeno, a curva de distribuição pode ser muito diferente de um sino e, nesse caso, não podem ser usadas as propriedades da distribuição normal para analisar esse tipo de casos. Um exemplo desse tipo de distribuição atípica acontece, por exemplo, com o curso de física no provão de 2000, ver a página 223 de [1]. Um dos principais motivos para que a curva de distribuição seja próxima da distribuição normal é o número de elementos (escolas) avaliadas, isto é, o tamanho da população. Assim, quanto maior for o número de escolas de um curso avaliado então maior é a probabilidade de que a curva de distribuição seja mais próxima da distribuição normal. Este fato pode ser verificado nos cursos de administração e direito. Na Figura 2 é mostrada a curva de distribuição do curso de administração do provão 2000 com 451 escolas avaliadas e um total de 41050 alunos, ver a página 103 de [1]. Pode-se verificar que a curva de distribuição é praticamente a normal. Portanto, não é difícil predizer que o número de escolas com conceito A no curso de administração no provão de 2001 deve passar de 54 para um valor próximo de 72 escolas. Figura 2. Distribuição das médias em engenharia elétrica - 2000 Outro aspecto importante é que, nos dois critérios de avaliação, o valor médio das médias das escolas não é um parâmetro importante. Assim, por exemplo, no novo critério de avaliação pode acontecer de que um determinado curso, com média igual a 3,0 e com uma distribuição normal, pode ter um número de escolas com conceito A maior que um curso em que a média é igual a 5,0 (muito maior que a média do outro curso) e que apresenta uma distribuição com assimetria à direita. Este problema pode acontecer também no mesmo curso. Por exemplo, um curso que em 2000 teve uma média geral de 3,0 e em 2001 passa a ter uma média geral de 5,0 mas com o mesmo tipo de dispersão das médias dos cursos em ambos os anos e, portanto, com a mesma distribuição pode ter o mesmo número de escolas com conceito A nos dois anos. Em outras palavras, o novo critério de avaliação, não acompanha a evolução do desempenho das escolas. Também pode acontecer o contrário com uma diminuição do desempenho de um curso mas produzir um aumento de número de escolas com conceito A. Assim, por exemplo, em 2000 o curso de engenharia elétrica apresenta uma distribuição com assimetria à direita mas se em 2001 desaparece essa assimetria e apresenta uma distribuição normal então o número de escolas com conceito A deve aumentar independentemente do valor da média geral que pode até diminuir. O critério de avaliação antigo também não leva em conta a média e a evolução do desempenho de um curso. Portanto, os dois critérios de avaliação não levam em conta a evolução do desempenho de um curso. ENC - 6 5. CONCLUSÕES No presente trabalho foi analisado de forma crítica o novo critério de avaliação no Exame Nacional de Cursos, mais conhecido como o provão. Pode-se mencionar que, na maioria dos casos, na avaliação de um curso, o número de escolas com conceito A deve aumentar em relação ao critério de avaliação usado anteriormente. Outra conclusão evidente é que, na maioria dos casos, o número de escolas com conceito B deve diminuir e, em muitos casos, o número de escolas com conceito A e B deve diminuir. Outra observação importante é que aqueles cursos em que o número de escolas é muito elevado, como acontece em administração e direito, a curva de distribuição é muito próxima da distribuição normal. Portanto, nesses cursos, o número de escolas com conceito A no provão de 2001 deve ficar muito próximo de 16% das escolas. No caso da engenharia elétrica o número de escolas com conceito A deve aumentar ligeiramente e o número de escolas com conceito B deve diminuir significativamente. Também, o número de escolas com conceito A e B deve diminuir. Foi verificado que a curva de distribuição das médias das escolas de engenharia elétrica é assimétrica à direita com uma forma significativamente diferente da curva de distribuição normal. Agradecimentos O presente trabalho contou com o apoio da FUNDUNESP e da FAPESP. 6. [1] [2] [3] [4] [5] [6] REFERÊNCIAS INEP. “PROVÃO, Exame Nacional de Cursos, Relatório Síntese 2000, Editado por Maria Helena Guimarães de Castro, Dezembro de 2000. INEP “PROVÃO, Exame Nacional de Cursos, Relatório Síntese 1999, Editado por Maria Helena Guimarães de Castro, Dezembro de 1999. Maia T., “Os novos critérios de avaliação do Exame Nacional de Cursos – O Provão ,” publicado em http://www.inep.gov.br/noticias/news_427.htm, Março de 2001. Frank E. Electrical Measurement Analysis, Robert E. Krieger Publishing Company, New York, 1977. Mirshawka V. Probabilidade e Estatística para Engenharia, Livraria Nobel S.A.,São Paulo, 1981. Paradine C.G., Métodos Estatísticos para Tecnologistas, Editora da USP, 1974. ENC - 7