Introdução ao Estudo da História Aula 1 Rodrigo Perez O ofício do historiador - A história somente se tornou uma disciplina autônoma no século XIX. Até então, os estudos históricos eram subordinados às ciências jurídicas e retóricas. - Nesse sentido, o primeiro historiador no sentido moderno do termo foi o alemão Leopold Ranke. Porém, o conhecimento histórico possui uma longa história que nos remete à antiguidade clássica e à figura de Heródoto, que foi o primeiro historiador da tradição ocidental. 2 - Desde então, o contato com o passado se tornou fundamental para os homens. São vários os motivos que nos levam a buscar o conhecimento das experiências pretéritas: expectativa de aprendizado em relação aos desafios do presente, projetos identitários, diletantismo e etc. - Podemos, então, propor que o século XIX representa um importante marco para a história do conhecimento histórico. Foi nesse momento que o estudo do passado ganhou contornos científicos que, por sua vez, passaram a estar baseados na crítica dos documentos. 3 - Para que serve a história? Por que é importante conhecer o passado? O que é a história? - A história precisa ser vista como uma prática intelectual e, como tal, marcada pelas características do seu tempo de produção. Sendo assim, as respostas das questões acima variam de acordo com a sociedade e com a época. 4 Vídeo 5 A seletividade, parcialidade e subjetividade características do conhecimento historiográfico - Os historiadores profissionais apresentam os resultados do seu trabalho através de um texto escrito. Por isso, podemos falar que atualmente não é possível falar em história sem mencionar o seu texto, ou seja, a historiografia. 6 - A historiografia é o resultado de um procedimento intelectual seletivo que é marcado pelas escolhas feitas pelo historiador. Nesse sentido, não é possível falar em uma “verdade” histórica universalmente aceita. O conhecimento histórico propõe versões historiográficas que sempre trazem a marca da subjetividade do historiador. 7 - O trabalho do historiador é caracterizado pelo contato com a documentação, que pode ser definida como todo e qualquer tipo de vestígio da experiência pretérita. - A tipologia da documentação é extremamente vasta, indo desde jornais, cultura material (arqueologia), chegando até aos testemunhos orais e arquivos digitais que caracterizam a historiografia contemporânea. 8 - Nesse sentido, o conhecimento histórico não é um dado bruto que pode ser encontrado pronto e acabado no mundo, mas sim produto da reflexão analítica do historiador. - Existem vários paradigmas historiográficos que apresentam diversas formas de pensar a produção do conhecimento histórico. Podemos citar como exemplos o historicismo, o materialismo histórico e história social francesa proposta pela “Escola” dos Annales. 9 - Importante! Há uma importante diferença entre o historiador e o literato. Enquanto o segundo não encontra limites para a sua imaginação, o primeiro tem seu impulso criativo limitado pela documentação. Paul Ricoeur (1913-2005) 10 - O filósofo francês Paul Ricoeur foi um filósofo que se dedicou a pensar o problema da representação historiográfica. Em textos como “Tempo e Narrativa” e “História, Memória e Esquecimento, o autor se debruçou sobre a questão. - Para Paul Ricoeur, o objetivo do historiador é traduzir a subjetividade de uma época passada para o leitor contemporâneo. Nesse sentido, a subjetividade do historiador funciona como uma espécie de mediador. 11 - De acordo com as considerações de Paul Ricoeur, os homens do passado, os mortos, são protagonistas no processo de construção da representação historiográfica. - Isso significa que o historiador não pode manipular os documentos ao livre sabor da sua vontade. Os materiais têm sua lógica interna. - Paul Ricoeur não nega a pretensão de verdade do texto historiográfico, ele combina esse verismo com a imaginação. 12 Introdução ao Estudo da História Atividade 1 Rodrigo Perez 13 O ofício do historiador - Como já vimos, o século XIX foi um momento fundamental para a história do conhecimento histórico. - Nesse momento, a crítica dos documentos se tornou o fundamento da identidade científica da história. Porém, isso não quer dizer que todos os historiadores desse período definiram de forma igual o procedimento de análise das fontes. 14 Wilhelm Humboldt (1767-1835) Leopold Ranke (1795-1880) 15 Os historiadores alemães Wilhelm Humboldt e Leopold Ranke definiram a análise dos documentos como o procedimento fundamental da análise histórica. Porém, os autores pensaram nessas análises de formas diferentes. 16 “Cabe ao historiador contar os fatos tal como aconteceram, narrando a verdade nua e crua, sem adornos.” (RANKE apud BARROS; 2011, p. 92) “Do mesmo modo que o pensamento, semelhante a um raio ou a um choque, reúne todo o poder de representação em um ponto e exclui todas as outras possibilidades, também o som ressoa em distinta agudeza e unidade.” (HUMBOLD; 2010, pp. 266-267) 17 - A partir da análise dos dois trechos e das suas pesquisas, escreva um parágrafo comparando o lugar atribuído pela linguagem no exercício analítico proposto por Humboldt e Ranke. 18