ENSINAR HISTÓRIA OU CONSTRUIR HISTÓRIA: uma consciência teórico metodológica da práxis docente 1 Andréa Kochhann 2 Leidijane Afonso 3 “Não sou apenas objeto da História mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura, da política, constato nã o para me adaptar mas para mudar.” Paulo Freire RESUMO: O presente artigo objetiva -se em apresentar um viés holístico para o ensino de história independente do nível educacional, visto que o paradigma cartesiano já contribuiu o suficiente para a arquitetura mental e agora, sussurra pelos muros da acad emia um ensino e uma produção histórica holística. Isso, significa romper paradigmas no ensino de história. PALAVRAS-CHAVE: Ensino. História. Docente. Paradigmas. I SUMMARIZE: The present article is aimed at in presenting an inclination holístico for the teaching of independent history of the educational level, because the Cartesian paradigm already contributed enough to the mental architecture and now, he/she whispers for the walls of the academy a teachin g and a production historical holística. That, means to break paradigms in the history teaching. WORD-KEY: Teaching. History. Educational. Paradigms. INTRODUÇÃO A palavra de ordem do momento está alicerça em paradigmas, que além de apresentar conceitos, visa também questionar o paradigma dominante elegendo um paradigma emergente na educação. Os paradigmas por este prisma permeia m o processo educativo, principalmente 1 Artigo produzido a partir de um texto elaborado com o intuito de discussão com a turma de 4º ano do cur so de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de São Luís de Montes Belos, na disciplina de Conteúdos e Processos do Ensino de História, em junho de 2009. 2 Andréa Kochhann Machado de Moraes – Pedagoga pela UEG, especialista em Língua Portuguesa e Métodos e Técnicas Educacionais pela Universo, especialista em Docência Universitária pela UEG, mestre em Educação e Psicanálise por Cambrigde University International. Docente de graduação e pós -graduação, pesquisadora nas áreas de formação de professores, prática interdisciplinar, psicanálise, mídias e psicopedagogia Coordenadora do GEFOPI e da PAIDOS. [email protected] , [email protected], www.slmb.ueg.br/paidos 3 Leidijane Afonso da Costa – Acadêmica do curso de Pedagogia pela UEG – UnU de São Luís de Montes Belos, Pesquisadora PBIC – UEG, secretária acadêmica da Revista Eletrônica do curso de Pedagogia/ Paidos, integrante do grupo de estudo/Gefopi. [email protected] [email protected] 2 no tocante a prática pedagógica do docente, tanto na educação básica quanto no ensino superior. Aqui, nestas suaves linhas, buscar -se-á uma discussão inerente ao processo formativo e produtivo do docente de história, tendo como vislumbre o romper do paradigma cartesiano para a possibilidade da práxis holística. A formação do docente de história perpassa por cursos de graduação em Pedagogia e ou História e também de pós-graduação, do tipo latu senso e stricto senso, ou seja, por especializações, mestrado e doutorado, o que focaliza o espaço universitário. Devendo ser portanto, preocupação das Universidades, oferecer e acompanhar cursos de qualidade, visando a elaboração própria do conhecimento por parte de seus docentes e de seus discentes . Por isso, falar em ensino de história sem mencionar o perfil do docente de história acaba sendo incoerente. Se o foco das discussões é o ensino de história, é imprescindível um olhar sob aquele que forma, ou seja, o docente , mesmo reconhecendo sua condição humana do inacabamento, deve alicerçar sua prática pedagógica na criticidade, criatividade, interdisciplinaridade, visar a práxis reflexiva e a intervenção midiática, ser pesquisador e portanto, construtor do seu conhecimento e textos teóricos a partir da elaboração própria. Pois, aquilo que espera dos estudantes é necessário que os docentes o façam como exemplo. Se o que se espera é um processo de ensino -aprendizagem de história crítico e dialético por parte dos estudantes, assim o docente deve conduzir suas aulas, análises e produções. A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA: um olhar sob re conceitos, metodologias e identidade docente Difícil falar do ensino de Hist ória sem mencionar a pedagogia tradicional que muito marcou a formação das pessoas do século passado e quiçá, ainda marca a formação das pessoas deste século. A História por muitos é vista como uma ciência decorativa, que nada traz além de fatos históricos, muitas datas e vários heróis. 3 Mas, ainda assim é tida como ciência, já que apresenta -se enquanto metódica e sistematizada. Cabe chamar atenção para o verdadeiro sentido de uma ciência. Se for produzir saberes, convém a indagação sobre quais saberes esse tipo de História está produzindo? Saberes alienados, acríticos, desvinculados da realidade, sem reflexão, apenas com mera reprodução dos fatos. Estes saberes já não conseguem sobreviver no mundo que exige o pensar rápido, o raciocínio preciso e instantâneo. Dessa forma o ensino de História se torna obsoleto. E o papel do professor de História inóspito, sem razão por si próprio de existência. Para que decorar os heróis da guerra, sem sequer compreender os m otivos da mesma e as causas imediatas e a longo prazo que esta proporcionou? Afinal, o que significa ser um herói de guerra? Saber História é saber decorar ou compreender para agir? Responder a essas indagações pode não ser tão simples quanto pareça, pois é dito aos ventos de todos os cantos que um dos desafios da sociedade contemporânea tem sido o de formar cidadãos capazes de conviver em harmonia com seus pares. Discurso prolíxico presente em muitas oratórias proferidas por várias pessoas e que, na verda de, camufla o sentido de conviver e de cidadania. Pois, ao passo que se luta pela sobrevivência num mundo extremamente capitalista e competitivo, não é possível conviver e sim sobreviver. Além do mais, ser cidadão e poder desfrutar de sua cidadania tem uma distância quase que longínqua a ponto de ser impossível unificação. Isso leva ao pensamento de que a teoria está distante da prática. Mas, é necessário analisar o porquê dessa caminhada e quais os motivos que fazem com que permaneça neste horizonte mesmo sabendo que não é o melhor caminho para se escrever a história da humanidade. Já que quem escreve a história são os próprios homens através de suas escolhas. Assim, fica claro que quem poderá mudar os rumos da história são os homens, estes mesmos que aceitam os caminhos que estão percorrendo. Novamente o discurso parece prolíxico. Visto que os mesmos homens que punem, podem libertar. Escolhas podem ocorrer, mas algo implícito, impedem que as escolhas sejam para a mudança. Talvez isso possa ser chamado de al ienação. Quando Elza Nadai apud PINSKY ( 2009) apresenta discurso sobre o ensino de História e a pedagogia do cidadão, tenta elucidar sobre a historiografia elaborado tanto no mundo quanto no Brasil, a respeito da participação do cidadão no processo histór ico. 4 Onde a questão da alienação ou da não possibilidade de participação do processo era algo natural e defendido como primordial, já que o conhecimento e a sabedoria eram para aqueles que detinham o poder, no caso representado pelo dinheiro e o controle político. Muitos homens de bem ficaram de fora do processo histórico mundial e brasileiro, pois não tinham poder político e nem financeiro. Mas, convém lembrar ainda sim eram cidadãos. Cabe lembrar que a história brasileira foi escrita por mãos brancas, e uropéias, cristãs e civilizadas. Assim, os caminhos percorridos pela historiografia brasileira, foram de traços jesuíticos e mais tarde pombalinos e até que, no findar do século XIX, chega a salvação por nome de República. Esta que se apresenta a todos com o democrática, onde todos os cidadãos terão vez e voz. Mas, esqueceram de dizer que essa vez seria sempre de outro e que esta voz seria sempre calada. Contudo, como frisa Elza Nadai apud PINSKY (2009, p. 30 ) “A História se apresenta, assim, como uma das disciplinas fundamentais no processo de formação de uma identidade comum – o cidadão nacional – destinado a continuar a obra de organização na nação brasileira.”. Interessante falar em cidadania, quando se tem um processo histórico de exclusão. Assim como Nadai, Selva Fonseca apresenta discurso no tocante a História ensinada como fundamento da teoria positivista, linear e europeizada, tendo como primordial característica a exclusão. Segundo Fonseca (2008, p. 90) A principal característica dessa histór ia é a exclusão: sujeitos, ações e lutas sociais são excluídos. A exclusão e a simplificação do conhecimento histórico escolar introjetam nos alunos a seguinte idéia: vocês não fazem história, nós não fazemos história. A história é feita por e para algun s, que não somos nós, são outros e são poucos. Infelizmente este discurso ainda paira no ar das muitas salas de aulas com ensino de História. Aqui bem citado, o ensino de História, visto que esse processo já não é o bastante para a cidadania. Não basta e nsinar História, é necessário construir a História. Isso implica em mudanças de postura educacional e consciência da práxis pedagógica no tocante ao rompimento de metodologias ultrapassadas que só fazem o aluno de História se sentir desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, um auto -excludente desse processo, como afirma Fonseca (2008). 5 Convém neste momento lembrar o saudoso Freire (2009) com seu discurso hilário sobre a Pedagogia da Autonomia . Livro este em que o autor apresenta vinte e sete saberes necessários a prática educativa do professor que vislumbra a saída do ensino bancário, fragmentado, linear, almejando o despertar da curiosidade epistemológica de seus estudantes mediando a aprendizagem dos mesmos com base em metodologias que viabilizem o p ensar e a elaboração dos conhecimentos. Claro que para Paulo Freire chegar a essa consciência teórica e produzir um discurso tão veemente com o que hoje se concebe como paradigma cartesiano e holístico, sofreu a opressão e percebendo a educação como esper ança de libertação, apresenta as características do professor que conseguindo sua autonomia teórico -didática, poderá auxiliar seus estudantes a alcançarem suas autonomias. Neste momento do discurso deixa -se a construção da cidadania pela História, para analisar o processo dessa construção perante o personagem do processo ensino -aprendizagem: o professor. Paulo Miceli apud PINSKY (2008) apresenta uma indagação no tocante a haver uma pedagogia da História e que na verdade a resposta corrobora com a pedagogia da autonomia de Freire, visto que caso o professor de História apresente em sua prática pedagógica a criticidade, o bom senso, a reflexão, o gosto pelo que faz, a ética e a estética, a corporeificação, a dialogicidade entre outros saberes, estará configur ando uma pedagogia da História, ou seja, um perfil didático para o processo ensino -aprendizagem de História. Miceli ressalta a importância do professor de História valorizar a experiência vivenciada pelos estudantes e demonstrar que não há como ensinar His tória de maneira neutra, visto que os envolvidos com a História são homens, seres humanos carregados de razão e emoção, e que inseridos em uma cultura, são seres de opiniões divergentes e fortalecem dentro de si uma ideologia. Paulo Miceli mais uma vez com unga das idéias de Paulo Freire no tocante aos saberes necessários à práxis educativa. Perante este discurso a missão docente chama atenção de todos. Miceli apud PINSKY (2009, p.40) alega que cabe ao professor de História auxiliar seus estudantes no processo de conscientização e construção do saber histórico, pois “Considerando que o aluno deve ser incentivado a desenvolver uma espécie de sentido histórico, para atuar no mundo em que vive, cabe ao professor de História disponibilizar elementos que possam au xiliar esse processo de conscientização.”. 6 Para que o professor possa disponibilizar elementos que favoreçam o crescimento intelectual do estudante, é preciso que o professor conheça e saiba trabalhar com esses vários elementos e, para isso, é preciso gos tar de trabalhar com História. Pois, dessa forma aquilo que na pedagogia cartesiana seria somente convenções, passa a ser visto pela pedagogia holística, permeada por metodologias que favoreça a compreensão, como uma forma de construção do conhecimento e a ssim, da cidadania. Essa é a missão docente. Talvez antes de prosseguir o discurso da práxis docente, seja viável elucidar s obre os paradigmas já citados. O paradigma cartesiano-newtoniano que alicerçou a pedagogia tradicional, vem sendo discutido e coloca do em xeque, por muitos educadores, por não mais atender as necessidades do homem. Por isso, alguns cursos de formação de professores, estão se alicerçando no paradigma holístico -contingencial para a construção do perfil docente com a práxis pedagógica mediada pelas mídias Costa Neto (2003) apresenta uma síntese sobre o antigo paradigma cartesiano newtoniano e do novo paradigma sistêmico -contingencial, que facilita a compreensão teórica dos mesmos. Para o autor, o cartesiano -newtoniano se baseia no raciocín io linear, no determinismo, na incoerência entre teoria e prática, na disciplina, na objetividade, na fragmentação e na visão totalitária com verdades absolutas. Por outro lado, o autor apresenta como vicissitudes na educação o novo paradigma que deve permear os cursos de formação, como sendo holístico -contingencial, que tem como características a concepção cíclica, evolutiva, com harmonia entre teoria e prática, com reflexão dialética, com dinamicidade e subjetividade, cuida do todo sistêmico, intercomplet a e harmônica com visão de equilíbrio. Isso significa que é necessário um oferecimento de uma educação e de um educador que tenha a consciência que seu papel está voltado para a formação integral do indivíduo, para o desenvolvimento não apenas da inteligên cia, mas também do seu pensamento, da sua consciência e do seu espírito, conforme aponta Moraes (1997). Assim, é preciso a construção do perfil docente de história que atenda as necessidades da elaboração própria e de um processo de aprendizagem de maneira holística. Quando se fala em novo paradigma, embasemo -nos em Costa Neto (2003, p. 25) dizendo que 7 A terra não resistirá a mais um século do fazer cartesiano -newtoniano: fragmentária, mecânico, explorador. [...]. A efusiva competição destruirá tudo. Daí emergência da mudança de paradigma, para o que propomos como ponto de início, uma nova forma de se educar as pessoas. A educação não é tudo, mas apenas dela poderá surgir o horizonte norteador desta nova consciência. O atual paradigma está concepção do ensino de história e na construção do perfil deste docente, que não é um dado imutável, nem externo que possa ser adquirido. Mas é um processo de construção do sujeito historicamente situado Costa Neto (2003) apresenta a inda a visão de Marilyn Ferguson e de Pierre Weill, no tocante a ruptura de paradigmas na educação, reforçando que a Terra não sobreviverá mais um século nas algemas do cartesianismo. Isso significa que o ensino tradicional, fragmentado, decorado, acrítico, reprodutivo, linear e mecânico deve ser substituído pela análise, pelo debate de idéias, pelo confronto de opiniões, pela reflexão, pela construção teórica e buscar apoio nas várias ciências e disciplinas. Essas características fundamentam o paradigma holístico, que também é conhecido por s istêmico ou emergente. É no bojo dessa discussão de rompimento paradigmático que o professor de História se encontra. Na maioria dos casos, este professor foi formado pelo paradigma cartesiano e agora, o foco do processo ensino -aprendizagem deve estar no paradigma holístico. Ou seja, sua formação foi cartesiana e sua atuação deve ser holística. Este pode ser o maior desafio dos professores na contemporaneidade. Fonseca (2008, p. 101) alega que a construção de novas formas de intervenção no ato de fazer história precisa perceber a escola como uma instituição social plural, que se educa para a vida e para a cidadania, e que, portanto Nesse contexto sociocultural e educacional processa -se de forma intensa o debate acerca dos paradigmas, das relações entre os padrões e níveis de conhecimento, das concepções de educação e da escola, o que evidencia a necessidade de repensar as práticas pedagógicas dos professores no interior dos diferentes espaços educativos. Isso não é novidade. Entretanto, há sim algo novo ne ssa discussão: a abordagem das formas e relações entre conhecimentos e metodologias. A meu ver, é aí que ganha força a idéia da inter e da transdisciplinaridade. 8 É claro que a postura do professor interdisciplinar perpassa pelo aprofundamento teórico, pela humildade e pela ousadia, para que possa alcançar o almejado saber globalizado ou holístico. Kochhann (2007, p.70) apresenta que a interdisciplinaridade se faz na sala de aula ou através de projetos de trabalhos, mas que independente da metodologia e scolhida para o pensar interdisciplinar, esta deve sempre estar carregado de intencionalidades e nunca desviar-se do primordial dessa prática, que “[...] é a possibilidade de elaboração de idéias harmonicamente equilibradas com as diversas áreas do conheci mento num processo de pensamento dialético alicerçada na alteridade.”. Essa alteridade aqui mencionada, deve ser lida como a relação professor -aluno através de um processo dialético, em contínuo fazer e construir saberes, pois um completa o outro no sentido que a interdisciplinaridade é um processo vivo e baseado nas trocas. Fazenda apud FONSECA (2008, p. 106) apresenta que “No projeto interdisciplinar, não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se.”. Quando se alega que a interdisciplinaridade não tem uma receita a ser seguida e sim vivida e sentida a cada momento da construção do saber, redobra-se a atenção quanto ao perfil do professor interdisciplinar, que visivelmente, precisa ser construído nos dias atuais . Para Fazenda (1999, p. 31) [...] o professor interdisciplinar traz em si um gosto especial por conhecer e pesquisar, possuiu um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos, ousa novas técnicas e procedimentos de ensino, porém, antes, analisa -os e dosa-os convenientemente. Esse pr ofessor é alguém que está sempre envolvido com seu trabalho, em cada um de seus atos. Competência, envolvimento, compromisso marcam o itinerário desse profissional que luta por uma educação melhor. Entretanto, defronta-se com sérios obstáculos de ordem ins titucional no seu cotidiano. Apesar do seu empenho pessoal e do sucesso junto aos alunos, trabalha muito, e seu trabalho acaba por incomodar os que têm a acomodação por propósito. Dessa forma o professor de História assume o compromisso da superação do tradicionalismo, visando a construção de uma educação pautada no paradigma holístico, com olhar crítico e sensível para processo de construção da História, mesmo que isso possa incomodar aqueles que têm o comodismo por excelência em sua prática educativa. 9 Momento em que Maria Auxiliadora Shmidt apud BITTENCOURT (2008a, p.57) é convidada a participar do presente discurso, pois alega que o professor de História e a sala de aula passam a fazer parte de um espetáculo cheio de vida e de sobressaltos, onde a rela ção pedagógica vai muito além dos horizontes disciplinares, pois “A sala de aula não é um espaço onde se transmite informações, mas onde uma relação de interlocutores constroem sentidos.”. É interessante ressaltar que quando se aborda a questão de metodolo gias, não se está fazendo analogias apenas a técnicas, mas a procedimentos que levem o estudante a reflexão e a construção do seu saber. Isso pode ser proporciona pela simples metodologia da problematização de um objeto de estudo que pode ser construída te ndo como eixo norteador os questionamentos elencados pelo professor e colocados no quadro -negro ou quadro-branco ou em slides. Salienta-se que na atualidade, os professores encontram uma gama de possibilidades de materiais que favorecem o proceder de suas aulas e que, podem favorecer a aprendizagem dos estudantes. Um exemplo, são as multimídias, hoje bem representado pelo computador e a internet. A mídia tem estado presente em quase todos os lares e em muitos casos, sem uma análise reflexiva sobre a sua exi stência e necessidade. Isso é, pode ser objeto de estudo histórico. Para Bittencourt (2008b, p. 108) “As mudanças culturais provocadas pelos meios audiovisuais e pelos computadores são inevitáveis, pois geram sujeitos com novas habilidades e diferentes capacidades de entender o mundo.”. Não apenas o quadro da sala de aula e o uso do computador com a internet podem ser as ferramentas de uma boa aula de História, pois isso nada adianta se o professor não souber conduzir a teoria para os desafios da análise hi stórica e consequentemente a produção do conhecimento histórico. Também como forma de contribuir com o processo da construção do saber histórico, o professor pode lançar mão de uso de programas televisivos, de novelas, filmes, de visitas a museus e memoriais, de paisagens, de documentos gerais; com o intuito de conhecer, debater e refletir sobre a forma como está posta a situação em análise ou o objeto de estudo. Bittencourt (2008b, p. 109) alega a importância da utilização das mídias para a produção do saber histórico e a desmistificação do conceito de alienação, pois “O uso de 10 computadores, programas televisivos, filmes, jogos de videogame corresponde a uma realidade da vida moderna com a qual crianças e jovens têm total identificação, e tais suportes merecem atenção redobrada e métodos rigorosos que formulem práticas de uso não alienado.”. Assim, a prática do saber histórico vai se configurando conforme as relações entre professor-aluno e os conteúdos de História mediados por várias metodologias, que pode m favorecer a perpetuação do paradigma cartesiano ou alicerçar a vivência do paradigma holístico. Shmidt apud BITTENCOURT (2008 a, p. 65) alega que Para que a prática da sala de aula adquira ‘o cheiro bom do frescor’, é preciso que se assumam definitivamente os desafios que a educação histórica enfrenta hoje em dia. Seria uma das maneiras de se contribuir para que os educandos se tornassem conhecedores da pluralidade de realidades presentes e passadas, das questões do seu mundo individual e coletivo, dos diferentes percursos e trajetórias históricas. Os educandos poderiam adquirir a capacidade de realizar análises, inferências e interpretações acerca da sociedade atual, além de olhar para si e ao redor com olhos históricos, resgatando, sobretudo, o conjunt o de lutas, anseios, frustrações, sonhos e a vida cotidiana de cada um, no presente e no passado. Para que os educandos ou estudantes encontrem essa capacidade, permanece bojo da discussão da prática educativa o quesito sobre o dialogicismo histórico, que é reforçado por Antônia Terra apud BITTENCOURT (2008a, p.101), pois se torna inerente ao processo ensino-aprendizagem que o professor utilize para o ensino de História, gravuras, pinturas, textos, jornal, músicas, teatro, poesias, entre outras obras human as. Torna-se interessante o processo ensino-aprendizagem de História, mediado por estes documentos, porque são atividades humanas, não sendo concebidas como objetos e por isso, “[...] existem sujeitos que falam e que constroem sentidos específicos para a r ealidade retratada, através de estilos comuns às suas épocas, de formas, de contornos e de materialidades que são, simultaneamente, originais.”. Outro objeto de estudo histórico e que propicia o estudo histórico, são os livros didáticos, que como apresenta Bittencourt (2008a, p. 71) “[...] continua sendo o material didático referencial de professores, pais e alunos que, apesar do preço, consideram -no referencial básico para o estudo[...].”. A autora ainda ressalta que “O livro didático é, antes de tudo, um a mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece à evolução das técnicas de fabricação e 11 comercialização pertencentes à lógica do mercado.”(id, ibid), que fazendo parte da indústria cultural, segue padrões pré -estabelecidos que propiciam a venda e c onsequentemente o lucro das editoras. Isso não é prática pedagógica e nem garante a criticidade dos estudantes e a formação de cidadãos. É mera negociação capitalista na área da educação. É claro que o livro didático é uma fonte teórica importante, mas a questão está em como utilizar o livro didático para que ele seja uma ponte entre o saber e o saber -fazer, onde o exercer da crítica deve ser o principal objetivo do livro didático e quiçá paradidático. Perante esse discurso, o professor, se torna o esteio do processo ensino-aprendizagem de História, que para Fonseca (2008, p. 56) O ensino de história é um espaço complexo, no qual atuam diferentes propostas de saber e poder, cabendo aos professores de história o papel fundamental de desenvolver um ensino que contribua para a formação do pensamento cr ítico e reflexivo, para a construção da cidadania e para a consolidação da democracia entre nós. Como visto o papel do professor de História vai muito além de um simples transmitir conhecimentos prontos e acab ados, o que revigora a discussão sobre a questão de ensinar história ou construir história, como sendo uma necessidade de releitura da consciência dos professores no tocante as suas teorias e metodologias. É claro que a análise que se deve fazer não é apen as no tocante as teorias e metodologias, mas também as questões legais dessa disciplina, visto que os PCNs prevêem alguns quesitos sobre o ensino de História, mesmo não estando adequado a nova concepção do ensino de nove anos e não fazer menção a Educação Infantil. É bom fazer um retrospecto histórico sobre esta disciplina. A História enquanto disciplina curricular do Ensino Fundamental, perdeu status pela Lei 5692/71, quando foi substituída pelas chamadas Ciências Sociais, implementada a OSPB e Ed. Moral e Cívica, no período militar. A História era entendida a partir da sucessão linear dos centros econômic os hegemônicos, segundo os PCNs e seguindo os modelos cartesianos que Costa Neto (2003) apresenta e alicerçando a Educação Bancária que muito critica Frei re (2009). Foi com a crise do período militar e com as lutas de profissionais onde houve um crescimento de Associações, que ocorre o retorno das disciplinas de História e Geografia, 12 retornando como parte integrante do currículo no Ensino Fundamental – anos iniciais e na Educação Infantil. Momento em que estudar História significa compreender o eu e o outro, a comunidade local, regional, nacional e quiçá mundial. Isso em cada período ou ciclo. E por isso é preciso lembrar que pelos PCNs de História, o saber histórico perpassa pelo fato histórico, pelo sujeito histórico e pelo tempo histórico. Ressalta-se que os fatos históricos são as ações humanas significativas, os sujeitos da História podem ser os personagens, ou seja, os agentes de ação social e, o te mpo histórico é considerado como o estudo do tempo cronológico, organizado em uma longa e infinita linha numérica, ou o tempo biológico e o tempo psicológico. Assim, o conhecimento histórico escolar deve ser permeado por situações didático pedagógicas coerentes. Pelos PCNs de História, a escolha das metodologias precisa orientar trabalhos baseados na realidade presente, fazendo relações com o passado e contextualizando os conteúdos ou as temáticas escolhidas para a análise. Neste momento, se questiona quai s são os objetivos de História para o Ensino Fundamental perante os PCNs. Será que foram pensados para atender as necessidades das crianças que freqüentam esse nível de ensino? Convém lembrar que estes devem levar em consideração os conteúdos relacionados aos temas transversais, como relações de trabalho, diferenças culturais, as lutas e as conquistas políticas, as relações entre os homens e a natureza, reflexões sobre a constituição da cidadania, as imagens e os valores em relação ao corpo, entre outros. O ensino e a aprendizagem de História no Ensino Fundamental, se alicerça no trabalho do professor. Este que deve ter o intuito de introduzir o aluno na leitura das diversas formas de informação, com a visão histórica dos fatos e dos agentes. Assim, o ensino de História na Educação Infantil deve basear-se no conhecer do eu e do outro e nosso convívio na sociedade. Já no Ensino Fundamental – anos iniciais trabalha a história local e do cotidiano, onde se pretende a compreensão de relações sociais e econômicas existentes no seu próprio tempo e reconheçam a presença de outros tempos no seu dia -a-dia. Já nos anos iniciais do Ensino Fundamental, busca compreender que seu espaço circundante estabelece diferentes relações locais, regionais, nacionais e mundiais. 13 Ao discutir os PCNs de História é possível perceber que o papel do professor é ressaltado. Visto que os objetivos, as avaliações, os conteúdos, enfim... o trabalho de História está vinculado a postura do professor que ministra esta disciplina, ao seu fazer hi stórico na sala de aula e no seu cotidiano de modo geral. Aqui a intenção foi de apresentar um breve discurso panorâmico sobre um viés holístico para o ensino de história independente do nível educacional, visto que o paradigma cartesiano já contribuiu o s uficiente para a arquitetura mental, o que significa romper paradigmas no ensino de hist ória, perante seus conceitos e principalmente, sobre a identidade do docente História. Pensar História perante os PCNs, levar em consideração os erros e acertos dos liv ros didáticos, saber escolher a metodologia adequada para discutir cada temática histórica, levar em conta a leitura de imagens e o papel dos heróis na tessitura histórica, valer-se do pensamento e de projetos interdisciplinares, ampliar o horizonte da sal a de aula pelo uso das multimídias e outras artimanhas educativas, podem sinalizar o começo de um processo ensinoaprendizagem holístico, onde o docente buscará romper com o cartesianismo. Esse rompimento poderá ocorrer a partir de conscientização do doce nte de História de seu tempo e espaço, os quais mudaram em relação ao seu momento de aprendizagem. Atualmente ensinar e aprender História, deve ser vista, como uma viagem pelo tempo e pelo espaço através de uma nave onde o piloto e o co -piloto sejam docente e estudante. Porém, tendo o estudante como piloto e o docente como co -piloto, sempre por perto para auxiliar nos momentos de necessidade. CONSIDERAÇÕES O ensino de História na atualidade clama por novas metodologias, visto que sua demarcação científica se faz pela prática pedagógica desenvolvida pelo professor ao longo de sua caminhada educacional. E, esta, tem se mostrado de maneira cartesiana, mas, lutando para romper com este paradigma e se fortalecer pelo holístico -sistêmico, que visa o processo 14 ensino-aprendizagem enquanto construção do conhecimento e não somente o ensino de maneira fragmentada e acrítica. Saber História talvez possa significar reconhecer sua existência no mundo e para o mundo. Contudo, para que isso ocorra é necessária uma mudança no sentido de existência da História mediada pela prática pedagógica do professor que a representa em cada instituição de ensino. Provavelmente este seja o grande paradigma a ser vencido frente a história de vicissitudes da identidade docente do professor de História. De forma ingênua apresenta -se a analogia de que o professor de História precisa se encontrar em seu tempo histórico para a partir de então traçar novos caminhos a serem percorridos, embasados na consciência de que o homem é um ser histórico e polissêmico e assim sendo, escolhe os caminhos e as passadas que quer dar em direção aquilo que deseja. As algemas que imperam a construção do conhecimento histórico podem estar bem mais próximos dos olhos dos homens do que eles imaginam. Basta olhar no e spelho para ver refletido nele os impasses da produção saber, impregnado por metodologias arcaicas que faziam da obra de arte histórica, uma simples tessitura decorativa. Cabe aos estudantes de História ou Pedagogia a tarefa de romper com as amarras da ignorância do saber cartesiano e almejar a construção de um campo epistêmico que valorize o saber holístico, visto a necessidade de uma nova roupagem para o ensino de História, apresentado aqui, independente de ser na Educação Infantil, nos anos iniciais ou f inais do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio. E quiçá, no Ensino Superior, em curso de História ou de Pedagogia. O nível não importa, mas sim a veemência da discussão histórica para a construção do saber histórico. Assim, se homem constrói o mundo, home m constrói o saber, homem constrói a história, então, homem constrói homem. E por isso, vocês homens históricos, polissêmicos por natureza, agraciados pela sabedoria, construam, a partir de hoje, homens mais homens. REFERÊNCIAS BITTENCOUIT, Circe Maria F ernandes. O SABER HISTÓRICO NA SALA DE AULA. São Paulo: Contexto, 2008a. 15 BITTENCOUIT, Circe Maria Fernandes. ENSINO DE HISTÓRIA: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2008b. COSTA NETO, Antonio da. PARADIGMAS EM EDUCAÇÃO NO NOVO MILÊNIO. 2.ed.amp.at. Goiânia: Kelps, 2003. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. INTERDISCIPLINARIDADE: hist ória, teoria e pesquisa. 4 ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999. FONSECA, Selva Guimarães. DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO DE HISTÓRIA: experiências, reflexões e aprendizados . 7 ed. São Paulo: Papirus, 2008. FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009. KOCHHANN, Andréa. Por uma pedagogia psicanalítica: as vicissitudes na formação de professores. 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