O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS Jean Carlos Cerqueira Pereira [email protected] Graduando em Pedagogia – UEFS Orientadora: Professora do Departamento de Educação da UEFS – Drª Lilian Miranda Bastos Pacheco [email protected] RESUMO Este trabalho pretende discutir sobre o ensino de História nas Séries Iniciais, considerando sua relevância para a formação do indivíduo, bem como o papel do professor de História na contribuição para a consciência crítica e descoberta de si como agente de transformação social, com o poder de intervir na sociedade. Ideias são discutidas, amparando-se em diversos autores, para corroborar a importância do estudo e ensino de História nas séries iniciais. Palavras-chave: História, Ensino de História, Séries Iniciais, 1 - INTRODUÇÃO O ensino de História nas séries iniciais do Ensino Fundamental tem passado por uma grande transformação, isso aconteceu a partir do momento em que ela foi desvinculada da Geografia, tornando-se uma disciplina especifica, com características próprias. Nas últimas décadas, o ensino de História foi consolidado em suas especificidades. Nas séries iniciais, a princípio, a criança não entende o sentido de história em seu contexto de temporalidade, este tema está inserido no currículo escolar e deve ser trabalhado para que então a criança comece a construir esta noção de temporalidade. Segundo Oliveira (1995, p. 263-264), “... poucos historiadores interessam-se pelo processo de construção do conhecimento histórico em 2 crianças. Muitos sequer acreditam na possibilidade da criança aprender história nas séries iniciais”. Nesta perspectiva o ensino de História nas Séries Iniciais, deve buscar envolver as crianças num sentido de valorização de sua própria história, alicerçando-se assim, para a aquisição de história local e do mundo. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997), um dos objetivos mais relevantes quanto ao ensino de História relaciona-se à questão da identidade. É de grande importância que os estudos de História estejam constantemente pautados na construção da noção de identidade, através do estabelecimento de relações entre identidades individuais, sociais. O ensino de História deve permitir que os alunos se compreendam a partir de suas próprias representações, da época em que vivem, inseridos num grupo, e, ao mesmo tempo resgatem a diversidade e pratiquem uma análise crítica de uma memória que é transmitida. O estudo de História deve ter o professor como meio de ligação entre o conhecimento e o aluno, derrubando desse modo o paradigma de que História é uma ciência decorativa. Logo, faz-se necessário que novas maneiras de ser, sentir e saber o mundo sejam estimuladas no ensino de História, visando favorecer a formação do cidadão para que este assuma formas de participação social, política e de atitudes críticas diante da realidade que o cerca, aprendendo a discernir limites e possibilidades em sua atuação e transformação da realidade histórica na qual esta inserido. Deste modo, recorrendo novamente aos PCNs (BRASIL, 1997), os conteúdos para os primeiros ciclos do Ensino Fundamental deverão partir da história do cotidiano da criança, em seu tempo e espaço específicos. Porém incluindo contextos históricos mais amplos, partindo do tempo presente e denunciando a existência de tempos passados, e modos de vida e costumes diferentes dos que conhecemos, sempre os relacionando ao tempo presente e ao que a criança conhece, para que não fique apenas no abstrato. 2 – O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS 3 O Ensino de História nas Séries Iniciais deve considerar a história de vida do aluno, uma vez que somos seres históricos. Contudo o Ensino de História nas Séries Iniciais, nas palavras de Cruz (2003, p. 2) é de suma importância já que para este autor: Estudar História e Geografia na Educação Infantil e no Ensino Fundamental resulta em uma grande contribuição social. O ensino da História e da Geografia pode dar ao aluno subsídios para que ele compreenda, de forma mais ampla, a realidade na qual está inserido e nela interfira de maneira consciente e propositiva. Sendo assim, o ensino de História nas Séries Iniciais e Educação Infantil devem promover a reflexão e cabe ao professor fazer com que esta reflexão seja efetivada, ainda que de modo tímido. O estudo de História nas Series Iniciais deve partir da própria história de vida do aluno, avançando para o estudo da história local que deve ser apresentada como algo, vivo, vibrante, capaz de despertar paixão e colaborar para a compreensão do mundo. Ressalta-se a importância dos PCNs de História e Geografia para o Ensino Fundamental, estes elucidam que o papel do ensino de História está vinculado à produção da identidade e que: A opção de se introduzir o ensino de História desde os primeiros ciclos do ensino fundamental explicita uma necessidade presente na sociedade brasileira e acompanha o movimento existente em algumas propostas curriculares elaboradas pelos estados. (...) A demanda pela História deve ser entendida como uma questão da sociedade brasileira, ao conquistar a cidadania, assume seu direito de lugar e voz, e busca no conhecimento de sua História o espaço de construção de sua identidade. (BRASIL, 1997, p.4-5) Neste sentido, o papel do professor é preparar-se para que esta construção da identidade seja estimulada, para que a História enquanto veículo de identidade e de memória jamais seja tido como decorativos e desestimulantes. Para que isto não aconteça faz-se necessário que na história ensinada, haja um consenso entre os historiadores, pedagogos, professores e políticas educacionais, no sentido de cuidar dos limites do uso do saber histórico factual 4 e sua postura meramente reprodutora. Desse modo, Fonseca (1997, p. 18) destaca que: A proposta de metodologia de Ensino de História que valoriza a problematização, a análise crítica da realidade, concebe alunos e professores como sujeitos que produzem história e conhecimento em sala de aula. Logo, são pessoas, sujeitos históricos, que cotidianamente atuam, transformam, lutam e resistem nos diversos espaços de vivências: em casa, no trabalho, na escola, ... Essa concepção de ensino e aprendizagem facilita a revisão do conceito de cidadania abstrata, pois ela nem é apenas herdada via nacionalidade, nem liga-se a um único caminho de transformação política. Ao contrário de restringir a condição de cidadão a de mero trabalhador e consumidor, a cidadania possui um caráter humano e construtivo, em condições concretas de existência. Assim, corroborando com as palavras da autora, o ensino de História nas Séries Iniciais deve ter esse caráter transformador, despertando o aluno para a condição de sujeitos que fazem História ao longo do tempo e dos espaços. A construção de novas formas de intervenção no ato de fazer história precisa perceber a escola como uma instituição social plural, que se educa para a vida e para a cidadania, e que, portanto, segundo Fonseca (2008, p. 101): Nesse contexto sociocultural e educacional processa-se de forma intensa o debate acerca dos paradigmas, das relações entre os padrões e níveis de conhecimento, das concepções de educação e da escola, o que evidencia a necessidade de repensar as práticas pedagógicas dos professores no interior dos diferentes espaços educativos. Isso não é novidade. Entretanto, há sim algo novo nessa discussão: a abordagem das formas e relações entre conhecimentos e metodologias. A meu ver, é aí que ganha força a idéia da inter e da transdisciplinaridade. Corroborando com o fragmento acima, Kochhann (2007, p.70) destaca que a interdisciplinaridade na sala de aula, “[...] é a possibilidade de elaboração de idéias harmonicamente equilibradas com as diversas áreas do conhecimento num processo de pensamento dialético alicerçada na alteridade.”. Neste sentido, o ensino de História passa por uma mudança necessária e que nas palavras de Wanderley (2002) o processo de ensino e aprendizagem produz um conhecimento histórico escolar. O saber histórico escolar deve ser apontado como alicerce para o desenvolvimento de habilidades e 5 competências relevantes para o conhecimento. Cabe ao professor identificar os elementos que a fundamentam. Segundo os PCNs (BRASIL, 1997, p. 35-36) O saber histórico escolar, na sua relação com o saber histórico, compreende de modo amplo, a delimitação de três conceitos fundamentais: o fato histórico, de sujeito histórico e de tempo histórico. Os contornos e as definições que são dadas a estes três conceitos orientam a concepção histórica, envolvida no ensino da disciplina. Assim, é importante que o professor distinga algumas dessas possíveis conceituações. Nesta perspectiva, o ensino de História nas Séries Iniciais deve promover a reflexão do aluno além de motivá-los a conhecer a história do mundo e do povo do qual fazem parte. Cabe ao professor promover situações para que o aluno critique e compreenda o estudo da disciplina como fator necessário para sua formação enquanto individuo. Segundo Cruz (2005), é necessário dinamizar conceitos como, o fato histórico: uma reflexão sobre a atividade cotidiana; o tempo histórico: suporte para uma avaliação sobre o tempo e finalmente, uma observação e avaliação sobre as ações cotidianas que identificam o sujeito histórico, partindo da premissa do cotidiano da criança. Desse modo, para que o professor possa disponibilizar elementos que favoreçam o crescimento intelectual do aluno, é preciso que conheça e saiba trabalhar com elementos diversos e, para isso, é preciso gostar de trabalhar com História. Nesta perspectiva, Freire (1996, p. 136) pondera que: O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento da História É preciso fomentar a interdisciplinaridade a fim de dimensionar o ensino e aprendizagem de História bem como a construção do saber. Este saber específico se faz necessário para que se entenda a relação entre diferentes tempos, significando então reconhecer o valor do passado para o presente e o 6 futuro. Desse modo, Terra e Freitas (2004, p 7) assinalam que os professores de História: Provocam reflexões sobre como o presente mantém relações com outros tempos, inserindo-se em uma extensão temporal, que inclui o passado, o presente e o futuro; ajuda analisar os limites e as possibilidades das ações de pessoas, grupos e classes no sentindo de transformar realidades ou consolidá-las; colabora para expor relações entre acontecimentos que ocorrem em diferentes tempos e localidades; auxilia a entender o que há de comum ou de diferente no ponto de vista, nas culturas, nas formas de ver o mundo e nos interesses de grupos, classes ou envolvimento político; enfim, são questões mais comprometidas em formar pessoas para analisar, enfrentar e agir no mundo. Nesta ótica, o ensino de História nas Séries Iniciais torna-se relevante, já que as relações entre tempo e espaço também dependem da ação do homem em seu meio. Fazendo com que a História seja percebida na construção das identidades sociais. 3 – O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO DE HISTÓRIA A educação é um processo de aprendizagem contínuo e permanente, necessário ao indivíduo, favorece as relações sociais e também, é o meio pelo qual a sociedade se renova, constituindo-se ainda num processo de transmissão cultural. Com um papel importante na construção e formação do caráter do indivíduo, a educação tem uma função bem maior. Assim, o papel fundamental do professor e da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos, conforme os PCNs (BRASIL, 1997). O ensino e a aprendizagem de História no Ensino Fundamental, se alicerçam no trabalho do professor, que deve ter o intuito de introduzir o aluno na leitura das diversas formas de informação, com a visão histórica dos fatos e dos agentes. 7 Nesta perspectiva, o professor tem um papel fundamental na construção do saber histórico já que “a história tem como papel central a formação da consciencia histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e praxes individual e coletiva.” (FONSECA, 2005, p, 89). A finalidade principal da escola é a educação integral do indivíduo, reconhecendo a importância de contemplar o ser humano como um todo, estabelecendo uma conexão do indivíduo com o meio, entendido como ambiente próximo ou distante que influi na aprendizagem do estudante A escola e o professor tem como princípio básico a formação dos cidadãos nas suas concepções mais amplas e democráticas. Nesse contexto, se faz necessário a construção de uma prática pedagógica que privilegie as diferenças existentes no próprio ambiente de sala de aula. Assim, segundo Caniato, (1997. p, 65): A escola deve e pode ser o lugar onde, de maneira mais sistemática e orientada, aprendemos a Ler o Mundo e a interagir com ele. Ler o mundo significa aqui poder entender e interpretar o funcionamento da Natureza e as interações dos homens com ela e dos homens entre si. Na escola podemos exercitar, aferir e refletir sobre a Ação que praticamos e que é feita sobre nós. Isso não significa que só na escola se faça isso. Ela deve ser o lugar em que praticamos a Leitura do Mundo e a Interação com ele de maneira orientada, crítica e sistemática. Neste sentido, o professor de História ocupa posição central na análise dessa conjuntura e na possibilidade de construir situações concretas de superação através da prática pedagógica por ele desenvolvida no interior do espaço escolar. Nesta perspectiva, Fonseca, (2003, p. 89) alerta que é preciso pensar a disciplina de história como “fundamentalmente educativa, formativa, emancipadora e libertadora.” (...) o professor de história, com sua maneira própria de ser, pensar, agir e ensinar, transforma seu conjunto de complexos saberes em conhecimentos efetivamente ensináveis, faz com que o aluno não apenas compreenda, mas assimile, incorpore e reflita sobre esses ensinamentos de variadas formas. É uma reinvenção permanente (FONSECA, 2003, p. 71). Assim, a aula de história possibilita a construção do saber histórico através da relação interativa entre educador e educando, transformando essa prática em ato político, no sentido de transformação consciente do fazer 8 histórico. Nesse contexto, salienta-se a importância do professor ser também um pesquisador e produtor do conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já produzidos. Corroborando com o parágrafo acima, considero as palavras de Freire (1996, p. 29) que destaca que: não há pesquisa sem ensino (...) Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para contratar, contratando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. Assim, salienta-se a importância do professor ser também um pesquisador e produtor do conhecimento e não apenas um mero executor de saberes já produzidos. Assim, o papel do professor, torna-se relevante no sentido de possibilitar a transformação de um saber histórico em um saber compreensível e atuante para a compreensão do aluno. Neste sentido, Knass (2001, p. 29-30) aponta sobre a pesquisa: (...) o processo de aprendizagem confunde-se com a iniciação à investigação, deslocando a problemática da integração ensinopesquisa para todos os níveis de conhecimento, mesmo o mais elementar. A pesquisa é assim entendida como o caminho privilegiado para a construção de autênticos sujeitos do conhecimento que se propõem a construir sua leitura de mundo Reporto-me neste momento às palavras de Luckesi (1984, p. 46) que aponta o professor como, Um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. A avaliação, neste contexto, terá de ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida social. É papel social do professor de História do Ensino Fundamental munir os alunos de instrumentos para libertação. "O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros." (Freire, 1996, p. 59). Nesta linha de pensamento freiriana o 9 ensino de História torna-se fundamental para a compreensão dos acontecimentos históricos do passado. Uma questão que deve ser considerada pelo professor de História é a questão interdisciplinar. Para Fazenda (1999, p. 31): [...] o professor interdisciplinar traz em si um gosto especial por conhecer e pesquisar possuiu um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos, ousa novas técnicas e procedimentos de ensino, porém, antes, analisa-os e dosa-os convenientemente. Esse professor é alguém que está sempre envolvido com seu trabalho, em cada um de seus atos. Competência, envolvimento, compromisso marcam o itinerário desse profissional que luta por uma educação melhor. Entretanto, defrontase com sérios obstáculos de ordem institucional no seu cotidiano. Apesar do seu empenho pessoal e do sucesso junto aos alunos, trabalha muito, e seu trabalho acaba por incomodar os que têm a acomodação por propósito. Nesta perspectiva, o professor de História tem o compromisso de construir uma educação pautada no paradigma holístico, com olhar crítico e sensível para processo de construção da História. Desse modo, o papel do professor de História nas séries iniciais deve acontecer na direção do diálogo em conjunto com os alunos e a comunidade escolar, constituindo-se desta forma em um processo educativo fundamentalmente democrático, construído em conjunto, balizado pelo desenvolvimento de capacidades de percepção, crítica e autoconhecimento com sujeitos de um tempo e lugar. 4 – O ESTUDO E ENSINO DE HISTÓRIA ENQUANTO ELEMENTO DE FORMAÇÃO DO CIDADÃO. É importante considerar a contribuição da história no processo de construção do ser humano. Compreender esse processo é fazer com que o homem escreva sua história, produza cultura e se perceba enquanto sujeito histórico. O ensino de História possui papel relevante, na construção da cidadania e na emancipação social e política dos sujeitos. Dessa maneira, o conhecimento histórico considera diferentes povos e culturas em diferentes espaços e temporalidades na singularidade de suas manifestações. 10 Desse modo, problematizar os fatos é fazer com que o aluno seja estimulado na construção do saber bem como exercite sua visão critica. Neste sentindo, Zamboni (1993, p. 7) considera que, O processo de construção da história de vida do aluno, de suas relações sociais, situado em contextos mais amplos, contribui para situálo historicamente, em sua formação intelectual e social, a fim de que seu crescimento social e afetivo desenvolva-lhe o sentido de pertença. Nesse sentido, o ensino de História tem um papel relevante na construção da cidadania e na emancipação social e política dos sujeitos históricos. Segundo Florescano (1997, p. 67) “... a função da história é dotar de identidade a diversidade de seres humanos que formavam a tribo, o povo, a pátria ou nação” A História tem uma função de resgate, enquanto elemento de formação da cidadania e a escola têm papel fundamental no exercício e formação do cidadão. Deste modo, Oriá (2006, p. 134) considera que a história para formação do cidadão deve levar o aluno a: compreender quem somos, para onde vamos, o que fazemos, mesmo que muitas vezes pessoalmente não nos identifiquemos com o que esse mesmo bem evoca, ou até não apreciemos sua forma arquitetônica ou seu valor histórico. (...), pois é revelador e referencial para a construção de nossa identidade histórico-cultural. Em suma, ensinar história é agir em função de metas e objetivos, conscientemente perseguidos, no interior de um contexto de atuação educacional, permeada pelos desafios cotidianos e pela burocratização do ensino. Segundo, Terra e Freitas (2004, p. 8) o ensino de História enquanto elemento da formação do cidadão, Inclui a percepção pelo aluno de sua sociedade, considerando que tem sido construída a partir de relações entre indivíduos, grupos, classes sociais, interesses econômicos, costumes e mentalidades, os estudos históricos podem contribuir, por exemplo, para que ele compreenda sua sociedade como uma construção coletiva (...) 11 As mesmas autoras também consideram que o ensino dos conteúdos de História para formação do cidadão: podem contribuir para o aluno conhecer como têm acontecido as lutas por direitos, as relações sociais e econômicas que repercutem nas relações favoráveis ou desfavoráveis em relação à natureza, os modelos de Estado e como se constituem nos confrontos políticos e sociais, e as reivindicações das diferentes classes sociais confiscadas de seus direitos. (TERRA, FREITAS, 2004, p. 8) Neste sentido o ensino de História estabelece um diálogo com a construção da cidadania implicando no reconhecimento do indivÍduo enquanto ser histórico e com elementos que permitem compreender melhor a realidade em que estamos inseridos e a sociedade em que vivemos. Outrossim, é necessário que os alunos identifiquem no processo de ensino e aprendizagem de História oportunidades para o desenvolvimento de uma atitude crítica com relação à sociedade, intervindo de forma consciente enquanto seres que fazem história e pertencem a uma época e espaços próprios. O sujeito constrói seu conhecimento do mundo e o conhecimento de si mesmo como sujeito Histórico. O conhecimento é um conhecimento dentre outras formas de conhecimento da realidade, que está sempre se constituindo, nunca está pronto ou acabado. Assim, Borges (19870 p. 47-48) elucida que: (...) a história procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. A transformação é a essência da história. Quem olha para trás, na história de sua própria vida, poderá compreender isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebem a mudança. Desse modo, o mais importante é lembrar que a tarefa urgente é refletir, juntamente com nossos alunos, que todos somos sujeitos e podemos ser agentes do processo histórico de mudanças e, ou permanências e podemos contribuir na construção da realidade. A escola deve educar para a vida desde bem cedo. O professor tem o direito e o dever de exigir que isso aconteça e deve aprender a se enxergar como elemento crucial para a formação do indivíduo que enxerga a sociedade como um espaço de realizações. 12 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas palavras de Freire (2007) a educação proporciona a emancipação e promove a autonomia e a consciência crítica dos educandos. Neste sentido, a educação deve estender-se a todos os homens sem distinção de cor, credo ou qualquer outro tipo de discriminação. Nesse sentido, o Ensino de História perpassa por estas leituras, envolvendo principalmente a questão de tempo e da ação do homem no meio. Enquanto ser histórico, o individuo tem a função de intervir e questionar a história que lhe é ensinada. Faz-se necessário que a escola e o professor de História nas Séries Iniciais, considerem que é preciso instigar no aluno a formação de uma consciência crítica e cidadã, uma vez que está deve ser encarada como mola propulsora para passos na formação histórica, de cada agente. O conhecimento da história da civilização é importante porque nos fornece as bases para compreender o nosso futuro, permite-nos o conhecimento de como aqueles que viveram antes de nós equacionaram as grandes questões humanas. Não se pode pensar no ensino de História, sem fazer referência aos PCNs (BRASIL, 1997) que apontam que o estudo e ensino de História nas Séries Iniciais devem partir da história do cotidiano da criança em seu tempo e espaço, incluindo contextos históricos, partindo do tempo presente e denunciando a existência de tempos passados, e modos de vida e costumes diferentes dos que conhecemos. Desse modo, o professor deve trabalhar atividades que envolvam questionamentos, reflexões, análises, pesquisas, interpretações, confrontamentos e organização de conteúdos históricos. Desse modo, faz-se necessário que o ensino de História promova uma reflexão critica, a fim de que os indivíduos se reconheçam como agentes históricos. É importante que a História seja entendida como o resultado da ação de diferentes grupos, setores ou classes de toda a sociedade. É importante que o aluno conheça a história da humanidade como a história da produção de 13 todos os homens e não como resultado da ação ou das idéias de alguns poucos. Neste sentido, o ensino dessa disciplina deve investir na autonomia do aluno, criando então pressupostos para que este interfira na sociedade de modo crítico enquanto sujeito histórico. Estudar história é muito mais do que decorar nomes e datas. É descobrir, analisar fatos registrados no passado, entender as atividades dos homens do mundo. É através dela que as relações estabelecidas em uma determinada época podem ser estudadas, podendo perceber as mudanças, resistências e permanências com o passar do tempo. Conhecer a sua história permite ao sujeito compreender o que acontece nesse lugar, perceber que o município mundo. 6 - REFERENCIAS ABUD, Kátia. Currículos de História e políticas públicas: os programas de História do Brasil na escola Secundaria. In: BITTENCOURT, Circe (Org). O Saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2001. BORGES, Vavi P. O que é história. S. Paulo, Brasiliense, 1987. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: história e geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. CANIATO, Rodolpho. Com Ciência na Educação. 3ª reimpressão. Campinas: São Paulo. Papirus, 1997. CARR, Edward Hallet. What is history? Que é História? Tradução de Lúcia Maurício de Alverga. Rio de Janeiro, 3ª Ed. 1982. Paz e Terra CRUZ, G. T. D. Fundamentos teóricos das ciências humanas: história. Curitiba: IESDE, 2003. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. INTERDISCIPLINARIDADE: história, teoria e pesquisa. 4 ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999. FLORESCANO. Enrique. A função social do historiador. Tempo (Revista do Departamento de História da UFF) Rio de Janeiro, 1997, vol. 4 . p. 66-68 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. 1996. Paz e Terra 14 _________. Pedagogia do Oprimido. 45. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da história ensinada. Campinas: Papirus, 1993. __________Didática e Prática de Ensino de História: experiências, reflexões e aprendizados . 7 ed. São Paulo: Papirus, 2003. KNASS, Paulo. Sobre a norma e o óbvio: a sala de aula como lugar de pesuisa. In. NIKITIUK, Sônio M. Leite (org). Repensando o ensino de História. – ed. – São Paulo, Cortez, 2001. KOCHHANN, Andréa. Por uma pedagogia psicanalítica: as vicissitudes na formação de professores. Dissertação de mestrado em Educação com área de concentração em Psicanálise. Goiânia: 2007. 228 p. LUCKESI, C. Avaliação educacional escolar: para além do autoritarismo. Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro, ABT, 13(61): 6-15, nov./dez., 1984. MONTEIRO, Ana Maria Ferreira da Costa. A História continua. Do mundo à sala de aula: o saber histórico escolar. Revista do Laboratório de Ensino de História, UFF. Niterói, v.3, n.3, 1999. ______, A História ensinada: algumas configurações do saber escolar. História & Ensino. Londrina, v.9, 2003. MOREIRA, A.F.B. Desafios Contemporâneos no Campo da Educação: A Questão das Identidades. In: ____ e PACHECO, J.A. (org.). Globalização e Educação: Desafios para Políticas e Práticas. Porto: Porto, 2006. NADAI, Elza. A Escola Pública Contemporânea: os currículos oficiais de história e o ensino temático. Revista Brasileira de História, São Paulo: ANPUH/Marco Zero, v.6, no 11, p.99-116, set.1985/fev.1986. _______. O Ensino de História no Brasil: trajetória e perspectiva. Revista Brasileira de História, São Paulo: ANPUH/Marco Zero, v.13, n o 25/26, p.143162, set.1992/ago.1993. OLIVEIRA, S. R. F. de. O ensino de história nas séries iniciais: cruzando as fronteiras entre a História e a Pedagogia. História & Ensino: Revista do Laboratório de Ensino de História / UEL. vol. 9. Londrina: UEL, out. 2003. p. 259 – 272. ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. In: BETTENCOURT, Circe (Org.). O Saber Histórico na sala de aula. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 128 – 148. SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO. Proposta Pedagógica da Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro, 2000. 15 TERRA, Antonia e FREITAS, Denise. Referencial Curricular de História da Fundação Bradesco. Págs. 2-12. São Paulo. Dez/2004. ZAMBONI, E. O ensino de história e a construção da identidade. São Paulo: SEE/Cenp, 1993.