Projecto GenARE SÍNTESE DOS RESULTADOS e proposta de parceria no “CONCURSO GERAÇÃO VERDE” Tendo realizado o Estudo Comparativo GenARE (Generations of Azoreans and Renewable Energy) junto de três gerações (designadas segundo as seguintes faixas etáreas: filhos 10 a 29 anos, pais 30 a 54 anos, e avós mais de 55 anos de idade), a equipa de investigadores vem apresentar a seguinte Síntese dos Resultados e assinalar os motivos que fundamentam a proposta de realização do “Concurso Geração Verde” entre a população dos Açores. 1) PROBLEMAS ACTUAIS ۞ As questões actuais que mais preocupam as três gerações prendem-se com aspectos económicas, especialmente a má gestão dos dinheiros públicos, a falta de trabalho e a crise económica. ۞ As questões ambientais e energéticas têm uma expressão mínima, e mesmo residual, no quadro dos problemas actuais apontados pelas três gerações. ۞۞۞ Qualquer iniciativa ou campanha para promover o uso das energias renováveis deve conjugar questões energéticas com questões de poupança, na factura mensal e no uso diário. 2) PRÁTICAS E CONSUMO ۞ O uso de aparelhos eléctricos tende a ser mais elevado em sentido inverso à idade geracional; isto é, as pessoas com menos idade utilizam mais os aparelhos de maior consumo, tais como a máquina de secar roupa e o secador de cabelo. ۞ A utilização de sensores de luz é uma prática quase inexistente (87% das famílias nunca usou) e as tarifas bi- ou tri-horárias são usadas por uma minoria (14%), enquanto a grande maioria (86%) ou “não usa” ou “não conhece”, evidenciando que esta medida está longe de atingir o público alvo. ۞ A maioria (82%) diz que tem adoptado estratégias de poupança energética na família, mas estas contemplam muito reduzido uso de micro-geração (apenas 1% tem painéis solares), tendendo a limitar- se às práticas de apagar luzes, usar lâmpadas económicas, lavar roupa com a máquina cheia e tomar duche em vez de banho. ۞۞۞ Sendo as práticas ligadas à micro produção de energia quase inexistentes entre a população, este é claramente um sector a desenvolver e a promover pelas empresas do ramo. 3) PERSPECTIVAS E CONHECIMENTO ۞ Das fontes de energia renováveis, apenas 10% conhece a geotermia e 8% a eólica, enquanto que uma clara maioria (65%) não responde ou admite que não conhece nem as fontes de energia, nem a origem da electricidade que consome. ۞ A grande maioria das pessoas (82%) não sabe que percentagem da energia que consome tem fonte renovável, nem sabe que a factura mensal da EDA contem, por vezes, esta informação. ۞ Nas respostas ao pedido para indicar quais os equipamentos de “mais” e “menos” consumo, surgem indícios da falta de conhecimento do público. Enquanto a maioria atribui “mais” consumo ao frigorífico (73%), máquina de lavar roupa (72%), arca congeladora (64%) e máquina de secar roupa (64%), 52% atribui “menos” consumo ao ferro de engomar (62% nos filhos) e 57% ao secador do cabelo (63% nos filhos). Nas três gerações, 45% atribui “mais” consumo à televisão (52% nos filhos) e 50% ao computador (64% nos filhos), indicando falta de conhecimento sobre o real consumo dos aparelhos. ۞ No que diz respeito à classificação do consumo energético dos electrodomésticos, 48% sabe que AA indica maior poupança, mas 41% admite que não sabe ou não responde, sendo a geração dos filhos a mais conhecedora do significado desta classificação. ۞ A geração dos avós é claramente a que se acha menos informada sobre as questões ambientais (54%) e energéticas (48%), enquanto que a geração dos filhos é considerada a mais conhecedora e bem informada pelas três gerações, apesar dos resultados sugerirem que este conhecimento pode ser, por vezes, limitado. ۞۞۞ Qualquer iniciativa ou campanha para informar a população sobre as energias renováveis deve contar com a dinâmica geracional dos mais jovens partilharem os seus conhecimentos com as gerações mais velhas. ۞ A maioria (63%)não responde ou admite não saber se a fonte da energia que consome pode diminuir/acabar, e muitos (43%) ignoram se o seu consumo pessoal afecta o ambiente; no entanto, metade (49%) pensa que o consumo de energia vai aumentar no futuro. ۞ A maioria (61%) mantém a ideia de que a Região está protegida, ou porque “a energia dos Açores já é renovável” ou porque “as ilhas estão afastadas dos grandes centros”, ou então porque acham que a eventualidade de problemas “só se irá notar daqui a uns anos”. ۞۞۞ Qualquer iniciativa ou campanha deve sublinhar e reforçar a perspectiva ecocêntrica, ajudando as pessoas dos Açores a perceber a lógica da ecologia e a dinâmica dos ecosistemas e do planeta terra no seu todo. 4) RESPONSABILIZAÇÃO E CIDADANIA ۞ Entre as entidades em que as pessoas mais confiam para resolver as questões energéticas, o Poder Local inspira a maior confiança (40%), seguido pelo Governo Regional (18%), enquanto uma clara minoria (4%) indica ter confiança nas Empresas e Indústrias. ۞ Quando inquiridas sobre a acção das várias entidades, 57% das pessoas acha que as Empresas e Indústrias “não fazem nada” ou “não fazem o suficiente”, comparado com apenas 17% que considera que as Empresas e Indústrias “fazem muito” ou “na medida certa”. ۞ Apesar dos níveis de confiança no Poder Local e no Governo Regional serem diferenciados, quando as pessoas avaliam resultados, as respostas “não fazem nada” ou “não fazem o suficiente” têm percentagens muito próximas – Juntas de Freguesia (57%); Câmaras Municipais (54%) e Governo Regional (55%). ۞ A total desconfiança em qualquer entidade aumenta com a idade da geração (8% nos filhos, 10% nos pais e 16% nos avós), em contraste com a confiança na União Europeia, que diminui com o aumento da idade (16% nos filhos, 12% nos pais e 6% nos avós). ۞ Apesar de 32% das pessoas inquiridas achar que “já poupa tudo o que pode e que não pode poupar mais”, a maioria (56%) manifesta disponibilidade pessoal para a poupança e o menor consumo, sendo a geração filhos a que se mostra mais disponível (quase 60%). ۞ Para proteger o ambiente, a maioria (57%) responde que não aceitaria pagar mais (os pais situando-se nos 60% e os avós nos 65%); no entanto, uma proporção assinalável (34%) das três gerações diz que aceitaria custos acrescidos, com especial destaque para a geração mais jovem (38%). ۞۞۞ Estes níveis de receptividade a uma maior cidadania ambiental merecem destaque, e sugerem que, ao investir nas energias verdes, uma empresa poderá nem só aumentar a sua credibilidade perante o público, como também expandir o seu negócio, especialmente junto das camadas mais jovem. 5) GERAÇÃO EM GERAÇÃO ۞ A geração dos filhos é vista, pelas três gerações (55%) e por si própria (61%), como a que mais tem contribuído para aumentar os problemas ambientais, enquanto uma maioria dos inquiridos (59%) é da opinião que a resolução dos problemas cabe a “Todos”. ۞ As razões que mais levam as três gerações a responsabilizar os jovens são “deixar luzes acesas” (33%) e “usar demasiado o computador” (14%), seguido por “não sabe/não responde” (13%), indicando uma falta generalizada de conhecimento efectivo sobre o consumo real dos aparelhos usados no dia-a-dia. ۞ As três gerações consideram que, nos últimos 3 anos, o agregado familiar tem “mantido” o mesmo nível de consumo de electricidade (48%), gás (50%) e água (51%), níveis que aumentam com a idade – 58%, 61% e 62%, respectivamente, na geração avós. ۞ A indicação de que os consumos têm “diminuído” aparece em apenas 10% dos casos, enquanto a resposta têm “aumentado” ronda os 35%. No entanto, quanto às razões apontadas pelas pessoas (pelo aumento, manutenção, ou diminuição nos consumos), a resposta “não sabe ou não responde” também ronda os 35%. ۞ No que concerne a probabilidade da geração filhos vir a resolver os problemas no futuro, 49% dos inquiridos está optimista, afirmando que esta geração irá “inverter a situação” (44%) ou que vai “resolver definitivamente” (5%); dos restantes, 17% não expressa opinião, 17% diz que a geração filhos “não saberá lidar com os problemas” e 14% acha que “não fará nada”. É de salientar que apenas 5% pensa que a geração jovem vai “fazer os problemas piorar”. ۞۞۞ Esta expressão de optimismo em relação ao futuro, presente em quase metade dos inquiridos, apesar de aparecer contrabalançada com níveis de pessimismo/ distanciamento, e de poder ser sintomática de alguma procrastinação presente na sociedade, poderá também indicar uma maior aceitação da mudança, e ser vista como uma manifestação de esperança e confiança nas novas tecnologias e modos de vida. 6) CONCEITOS DE NATUREZA ۞ Quando levados a comparar os açorianos e os visitantes, em termos do respeito que têm pela natureza, a maioria (67%) diz que “os estrangeiros/turistas são mais respeitadores” (tendência mais acentuada em relação inversa à idade: filhos-69%, pais-67% e avós63%); 22% acha que o nível de respeito é igual, e apenas 7% pensa que o povo açoriano é mais respeitador. ۞ No contexto da Escala NEP (New Ecological Paradigm Scale), a perspectiva antropocêntrica ainda se mantém entre a população açoriana, embora ideias e atitudes mais próximas do ecocentrismo tendem a aumentar. Sugerindo esta tendência, perceptível nas três gerações, a grande maioria está de acordo com as afirmações da Escala NEP que põem em causa a acção humana na natureza e exprimem sensibilidade ecológica. (Ver os próximos dois itens.) ۞ Comentando a acção humana na natureza, a clara maioria (87%) concorda que “A acção humana na natureza muitas vezes produz consequências desastrosas”, (85%) pensa que “O ser humano está a abusar severamente do ambiente”, (78%) diz que “Apesar das suas capacidades, o ser humano ainda está sujeito às leis da natureza” e (72%) acha que “Se as coisas continuarem como até aqui, uma catástrofe ecológica será inevitável”. ۞ Expressando sensibilidade ecológica, a grande maioria (83%) concorda que “O equilíbrio da natureza é frágil e facilmente alterável e deve ser respeitado” e (89%) acha que “Tal como a espécie humana, as espécies animais e vegetais têm o direito de existir”. ۞ Entre as três gerações, a dos filhos afigura-se como a que está mais em sintonia com o novo paradigma que coloca a natureza e o bem-estar ambiental no centro das preocupações. ۞ Existem tensões e contradições que se evidenciam nesta geração, no entanto, como acontece quando 47% da geração dos filhos concorda que “O progresso e o desenvolvimento têm de prosseguir de qualquer maneira”. Todavia, o exemplo que mais evidencia a tensão existente, entre o antropocentrismo e ecocentrismo, na visão da geração filhos, aparece em relação à afirmação “O ser humano acabará por conhecer o funcionamento da natureza suficientemente bem para a controlar”, quando 34% concorda e 36% discorda. ۞۞۞ A tendência generalizada entre as gerações de assumir posições mais amigas do ambiente e da natureza aponta para o abrandamento gradual da posição antropocêntrica que tem dominado a cosmovisão do povo açoriano ao longo do tempo. Rosa Neves Simas (Coordenadora GenARE) Ponta Delgada, 31 Dezembro 2011