[xÅxÜ™wÜÉÅÉá wtá XáàÜxÄtá A visão dos antigos… Desde sempre os cometas inspiraram temor, medo e admiração em muitas e diferentes culturas e sociedades por todo o Mundo. Foram rotulados com títulos como “o Mensageiro da Desgraça” e “a Ameaça do Universo”. Foram vistos tanto como presságios fatais e como mensagens divinas. Quais os motivos que levaram à elevação dos cometas como os objectos celestes mais venerados e temidos? Porque é que tantas culturas tremiam ao avistar um cometa? Quando os anciãos miravam o céu, os cometas eram os objectos celestes mais marcantes da noite, sendo diferentes de qualquer outro. Enquanto que a maioria dos corpos viajavam pelo céu lentamente e a intervalos regulares e previsíveis, tão regulares que as constelações podiam ser mapeadas e os movimentos planetários previstos, dando a ideia de um céu passivo, os movimentos dos cometas eram estranhamente erráticos e imprevisíveis. Isto levou a que muitas culturas julgassem que os seus movimentos eram ditados pelos deuses, e que estes os enviavam como mensagens. O que estariam os deuses a dizer? Algumas culturas liam as mensagens nas imagens que viam enquanto observavam o cometa, levando a diferentes interpretações que tanto podiam significar desgraça como virtude. Tais ideias implantaram o medo naqueles que viam os cometas rasgar o céu da noite. De que são feitos os cometas? Os cometas são constituídos por diversas partes: possui um núcleo, que é essencialmente uma “bola de neve” gigantesca, feita de gelo e poeira. Quando um cometa se aproxima do Sol, o núcleo aquece devido às radiações solares e torna-se activo, de tal forma que os materiais voláteis sublimam (ou seja, passam imediatamente do estado sólido ao estado gasoso). Os gases formados e as poeiras libertadas formam uma nuvem, ou coma, e uma cauda. Veremos agora em maior detalhe cada uma das partes constituintes de um cometa: Núcleo: A sua composição, acredita-se, é estruturada em duas partes principais: uma estrutura interna e um manto. Acerca da estrutura interna, pouco se sabe: o volátil dominante é a água, seguida de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2). Outras espécies químicas são passíveis de se encontrar em percentagens mínimas (menos de 1%). As camadas superiores do núcleo (manto) contêm poeiras não-voláteis, à base de silicatos e grãos ricos em carbono. A razão entre a massa volátil e a massa refractária é, provavelmente, próxima de 1. Os gases embebidos no núcleo são normalmente libertos por sublimação (analogamente aos géiseres) num violento jacto de gás que poderá transportar algumas poeiras. A velocidade destes jactos, que se encontram normalmente activos na zona do cometa iluminada pelo Sol (logo, mais quente), pode aproximar-se a 1 quilómetro por segundo (relativamente ao núcleo). Estes jactos são de especial importância, visto que podem ser responsáveis pelo movimento não gravitacional do cometa, ou seja, pelos os pequenos desvios da sua órbita. De facto, quando se encontram activos, os gases libertos podem propulsionar o cometa em direcção inversa à do movimento. Outra característica interessante é que, através da sua observação, podemos determinar a rotação do núcleo. Coma: Ou “cabeça”, é uma “atmosfera” que rodeia o verdadeiro núcleo do cometa que, juntamente com a cauda, forma a sua parte visível a partir da Terra. A sua forma varia de cometa para cometa, e no mesmo cometa, durante a sua aparição, dependendo da sua distância ao Sol, das quantidades relativas de poeira e da produção gasosa. Para cometas brilhantes, que produzem pequenas quantidades de poeira, o coma assume uma forma geralmente esférica, enquanto que para os grandes produtores de poeira, a sua forma é mais parabólica. Isto deve-se ao diferente tamanho dos grãos de poeira libertos: os maiores são largados ao longo da órbita descrita pelo cometa, enquanto que os menores são impulsionados, afastando-se do Sol, devido ao vento solar e à pressão electromagnética. O coma é constituído, essencialmente, por duas partes: o coma gasoso e o coma de poeira. De facto, os cientistas julgam que as massas de gás e poeira ejectadas pelos cometas são quase idênticas. O coma gasoso consiste de moléculas libertadas pelo núcleo por aquecimento solar e sublimação parcial. Após abandonarem o núcleo, essas moléculas ficam expostas a radiação solar directa e podem ser danificadas de diversas maneiras. Por acção conjunta destas reacções, estas moléculas são dissociadas cerca de 1 dia após abandonarem o núcleo. A mais usual destas reacções é a foto-dissociação: a molécula inicial (chamada “molécula mãe”) absorve um fotão proveniente da radiação solar e divide-se em duas partes (“moléculas filhas”). Estas moléculas filhas são facilmente observáveis porque possuem linhas espectrais bem definidas, a comprimentos de onda ópticos. Para além de serem foto-dissociadas, as espécies gasosas nos cometas podem também ser ionizadas (perdem um ou mais electrões). Os iões formados são sujeitos a uma força magnética (proveniente do campo magnético solar) transmitida pelo vento solar. Consequentemente, os iões são varridos quase radialmente para longe do Sol, numa longa e distinta cauda, chamada cauda de iões. A velocidade a que estes fenómenos se verificam, combinados com o tempo de vida das moléculas, determina a dimensão do coma. Num dia, a 1 quilómetro por segundo, as moléculas podem viajar cerca de 50 000 quilómetros (sendo este o raio aproximado do coma). Os grãos de poeira que forma o coma de poeira são arrastados do núcleo pela força dos gases em sublimação. A velocidade para a qual estes grãos vão ser acelerados depende, maioritariamente, do seu tamanho, visto que grãos mais pequenos são mais leves e, consequentemente, pelas leis da dinâmica, são mais facilmente acelerados pelos gases. Esses grãos podem apenas tornar-se parte do coma se atingirem uma velocidade superior à velocidade de escape do núcleo. Grãos que são demasiado massivos para serem ejectados, retornam à superfície e podem integrar-se no manto do núcleo. Os mais leves, por outro lado, deixam o núcleo e encontram-se em voo livre à volta do Sol (visto que, em comparação com este, a gravidade do cometa é muito fraca). Grãos de poeira dos cometas são encontrados em diversos tamanhos. Aqueles mais visíveis à vista possuem diâmetros de cerca de 0.001 milímetros, mas mesmo grãos com várias dezenas de centímetros podem ser ejectados pela corrente gasosa por um cometa particularmente activo e próximo do Sol. Muitos destes grãos passam da cauda para o meio interplanetário, originando espectáculos de luz no nosso céu nocturno quando entram em contacto com a nossa atmosfera. Cauda de poeira: Consiste de partículas de poeira que foram ejectadas do coma pela radiação solar. Comparada à cauda de iões, é muito mais difusa, e surge-nos branca ou ligeiramente rosada (visto que os grãos reflectem, preferencialmente, comprimentos de onda longos do espectro solar visível). Em adição, a cauda de poeira, geralmente, possui uma orientação que difere da de iões. De facto, uma vez expulsas do coma, as partículas de poeira na cauda entram em órbita individual em torno do Sol, consequentemente encurvando a cauda enquanto o cometa segue a sua trajectória. Cauda de iões: É formada pela ionização do gás neutro pela radiação solar, inicialmente presente no coma, formando iões. Estes iões são sujeitos a forças magnéticas solares e são então varridas para fora do coma, formando uma longa e característica cauda de iões. Dado que o ião mais comum, CO+, espalha a luz azul preferencialmente à vermelha, a cauda de iões aparece ao olho humano em tons de azul. Mais, a força magnética é muito forte e produz cordas, nós e correntes que distinguem esta cauda da de poeira. Outra importante característica desta cauda é a sua orientação: o vento solar atravessa o cometa a altas velocidades (cerca de 500 quilómetros por segundo) e orienta a cauda de iões exactamente na direcção oposta à solar. Porquê esta febre, agora, dos cometas? Há várias razões. Do ponto de vista dos cientistas, o estudo destes curiosos astros, muitos dos quais "nos visitam" regularmente nos céus, é uma espécie de arqueologia. Na verdade, os cometas são o que resta dos primitivos constituintes básicos do sistema solar. "Se se quer estudar a história do início da formação do sistema solar, não vale a pena olhar para planetas como a Terra ou a Lua", disse à BBC News Online o astrónomo John Davies, do Royal Observatory, em Edimburgo, explicando que "os cometas são cápsulas do tempo em relação ao que o sistema solar era há 4,5 mil milhões de anos". Esta não é, no entanto, a única razão. A verdade é que até agora não existia a tecnologia necessária para arriscar manobras tão temerárias como as que a sonda Rosetta está a tentar. De resto, a missão Rosetta é a consequência lógica de uma outra pioneira, que a ESA lançou em 1986, e que constituiu um verdadeiro marco no estudo dos cometas. Foi o lançamento da sonda Giotto, que em 1986 fez um voo rasante bem sucedido ao cometa Halley. A Rosetta será um passo à frente e estará para os próximos anos como a Giotto esteve para a década de 80. As missões agora em perspectiva têm um valor acrescentado, só pelo facto de haver várias tecnologias envolvidas, com vários ângulos de abordagem aos cometas. São utilizadas tecnologias novas e diferentes entre si e haverá vários cometas em análise, o que permitirá recolher dados suficientes para um estudo comparativo. Embora a maioria dos humanos não trema mais ao avistar um cometa, eles ainda inspiram medo por toda a Terra, desde Hollywood até aos cultos do fim do Mundo. Os Estados Unidos até instalaram o NEAT (Near Earth Asteroid Tracking) especificamente para nos guardarem dessas ameaças “divinas”. Contudo, embora tenham sido em tempos mensageiros da desgraça, a abordagem científica moderna permitiu aliviar tais preocupações. São a ciência e a razão que nos conduziram na luta contra este medo desde o tempo dos anciãos. São a ciência e a razão que encorajaram o espírito Humano suficientemente para se aventurar numa viajem até um cometa. São a ciência e a razão que irão desvendar os segredos que eles encerram… Bruno Silva João Pedro Almeida Escola Secundária de Alves Martins – Viseu Clube da Ciência