E.B. 2-3 Pedro Jacques de Magalhães- Alverca 7º F À procura das origens O Universo desde sempre fascinou a humanidade. Entre os vários corpos misteriosos que encheram o imaginário do Homem, contam-se os cometas. Astros errantes ou vagabundos do Espaço como muitos lhe chamam, os cometas são provavelmente os corpos celestes que mais deram origem a temores e superstições. Encarados ao longo da História como presságios, quase sempre de má sorte, a eles foi muitas vezes atribuída a responsabilidade da queda de impérios, de pestes e de tragédias várias . Reflexo do pavor que o aparecimento dos cometas produziu e ainda produz em algumas pessoas, é o facto do rei português Afonso VI , ao avistar um cometa, ter ido até ao terraço de sua casa ameaçá-lo com uma pistola ou ainda de como foi rendoso no Brasil, o negócio do fabrico e venda de amuletos e outros artefactos anti Cometa Halley, por ocasião da sua mais recente visita, em1986. A palavra "cometa" provém da palavra grega Kometes que significa cabeleira comprida. As ideias que os povos foram tendo sobre os cometas foram variando ao longo dos tempos . Para os Chineses e para os Caldeus, os cometas eram corpos de origem celeste e mística, embora para os primeiros fossem "estrelas com caudas" e para os segundos "aparecimentos de planetas". Posteriormente houve quem os considerasse astros que descreviam caminhos curvados no céu, ilusões de óptica produzidas pela luz solar na atmosfera ou simplesmente fenómenos atmosféricos .Com o Renascimento e a melhoria das observações dos movimentos dos planetas, os dogmas foram caindo e os conceitos foram-se aproximando muito mais da verdade. Hoje em dia sabe-se que os cometas são corpos de gelo que orbitam o sistema solar e que se vaporizam parcialmente ao aproximarem-se do Sol, desenvolvendo um invólucro de gás e de pó, e, normalmente, uma ou mais caudas. Assim sendo, quando os cometas se localizam no periélio, isto é quando a sua distância ao Sol é mínima, podemos dizer que a sua estrutura física é constituída por três partes principais: núcleo, cabeleira e cauda. Observações terrestres do comportamento de muitos cometas, juntamente com resultados da passagem de sondas espaciais perto do cometa Halley, indicam que os núcleos dos cometas podem ser essencialmente designados como "bolas de neve sujas" com alguns quilómetros de tamanho. Os cometas parecem ser compostos de água gelada, dióxido de carbono, metano e amónia, em que estão incrustados pó e material rochoso. Quando um cometa se aproxima do Sol, este provoca um aquecimento na superfície do núcleo, resultando a evaporação de gelos e a libertação de gás que origina uma luminosa esfera difusa, chamada coma ou cabeleira . Esta, pode chegar a medir um milhão de quilómetros, sendo o núcleo em si, demasiado pequeno para ser observado directamente. Observações no espectro ultravioleta, nas sondas espaciais, mostraram que os cometas estão rodeados por nuvens de hidrogénio, com muitos milhões de quilómetros resultando este hidrogénio do colapso das moléculas de água pela radiação solar. A cauda dos cometas é uma característica distintiva e efémera dos mesmos, sendo igualmente resultado da acção exercida pelo Sol. Embora já se tenham observado cometas que desenvolveram até seis ou mais caudas, usualmente distingue-se entre dois tipos de caudas cometárias, a cauda iónica de tonalidade azulada e a cauda de poeiras de coloração amarelada. A primeira destas caudas é composta por partículas de gás ionizadas em interacção com o campo magnético do vento solar, enquanto que a segunda é composta por partículas neutras de poeira sob o efeito da pressão de radiação. As caudas dos cometas podem chegar a medir 100 milhões de quilómetros, aumentam à medida que estes se aproximam do Sol e posicionam-se na direcção oposta ao mesmo. Apesar dos valores grandiosos referidos para a cabeleira e cauda de um cometa, a verdade é que estes astros contêm muito pouco material, talvez um bilionésimo de massa da Terra, sendo as suas caudas tão ténues que apenas 1/500 da massa do núcleo pode-se perder numa passagem pelo Sol. Todos os anos são descobertos novos cometas. Alguns são chamados de cometas de pequeno período e apresentam órbitas elípticas que demoram entre 6 e 200 anos a efectuar. Outros, a maioria, possuem órbitas tão alongadas que demoram milhares de anos a completar, sendo por isso designados como cometas de longo período. O trajecto dos cometas sofre alterações à medida que estes se aproximam dos grandes planetas. Assim sendo, por vezes, a órbita dos cometas fica de tal forma modificada que estes permanecem para sempre no interior do Sistema Solar, enquanto outros vão mesmo cair no Sol ou chocar com um planeta , sendo o caso recente mais conhecido o choque do cometa Schoemaker-Levy contra Júpiter em 1995. Presentemente, aceita-se que muitos dos cometas tiveram origem numa nuvem esférica que rodeia o Sistema Solar a cerca de 50 000 UA ( 1unidade astronómica- UAé igual à distância Terra-Sol), chamada Nuvem de Oort; enquanto que outros parecem ser provenientes da Cintura de Kuiper, localizada a seguir à órbita de Neptuno. Os cometas são os astros que mais fieis se mantêm ao material que lhes deu origem há cerca de 4500 milhões de anos, época em que se formou o sistema solar. Devido às dimensões relativamente pequenas que apresentam, o interior do seu núcleo, não sofreu grande compressão, aquecimento e fraccionamento como ocorreu com os planetas, satélites maiores e o Sol, razão pela qual se pensa preservarem quase inalterada a matéria da Nebulosa Solar Primitiva. Este facto, aliado a todas as questões que continuam a invadir a mente dos investigadores, tem sido o motor para o desenvolvimento de missões espaciais arrojadas como as que permitiram a recolha de imagens aproximadas dos cometas Halley e Borrelly pelas sondas Giotto e Deep Space 1 respectivamente, ou mais recentemente pelas missões Rosetta a cargo da ESA e Deep Impact da responsabilidade da NASA. A primeira destas missões teve início no passado dia 2 de Março de 2004, com o lançamento a bordo do foguetão Ariane 5, da sonda espacial Rosetta que se destina a intersectar o cometa Churyumov-Gerasimenko, no ano 2014, após um percurso de 5 bilhões de quilómetros através do sistema solar. Equipada com painéis solares que lhe fornecerão energia para tão longa viagem, a sonda leva a bordo 11 instrumentos científicos que captarão imagens e realizarão medições do cometa, sendo talvez a parte mais espectacular desta missão, a largada do módulo Philae na superfície do mesmo. Com o robô Philae de cerca de 100Kg ,preparado para aguentar as condições meteorológicas à superfície do astro durante seis meses, pretende-se analisar os materiais e estrutura do cometa bem como a composição de moléculas orgânicas, minerais e ferros. A missão Deep Impact está a ser preparada e tem como objectivo a perfuração do núcleo de um cometa. Sementes de destruição ou sementes de vida é bem provável que os cometas encerrem as respostas a muitas das nossas interrogações. Que relação existe entre o material que constitui os cometas e o material interestelar? Como terão surgido as primeiras moléculas orgânicas? Que implicações tiveram todos estes fenómenos na origem do Sistema Solar? O que somos afinal?