SUMÁRIO EXECUTIVO O presente relatório descreve a atividade de análise financeira (research) incidente sobre ações admitidas à negociação em Portugal e a atividade de supervisão desenvolvida pela CMVM nesse âmbito. A análise tem por referência o período de um ano findo em 30-09-2014 e incide sobre 781 recomendações identificadas no período coberto por este relatório (655 no período homólogo). Verifica-se, tal como em anos anteriores, o enviesamento das recomendações no sentido da compra, ainda que menos pronunciado do que no período homólogo. Este tipo de recomendações correspondeu a 43,3% do total enquanto as de venda representaram apenas 22,9%. Por outro lado, alterações de comprar para vender ou de vender para comprar foram em número reduzido. Nos downgrades, apenas em três títulos se verificaram situações em que houve uma completa inversão da recomendação (de comprar para vender); nos upgrades foram dois os casos em que uma recomendação de vender foi seguida por uma outra de comprar. Num mercado eficiente (na aceção semiforte de Fama, segundo a qual os preços refletem toda a informação pública disponível), as recomendações de investimento não deveriam ter qualquer efeito sobre os preços dos instrumentos financeiros a que respeitam, uma vez que são (meras) opiniões (ainda que tecnicamente fundamentadas) baseadas em informação pública. Na realidade, constata-se que por vezes essas opiniões são seguidas por alguns investidores, o que pode ter consequências nos preços das ações objeto de análise. No presente relatório conclui-se que, em termos agregados, as recomendações de comprar são seguidas de retornos anormais acumulados positivos. Já os retornos anormais (e efetivos) acumulados registados após a emissão de recomendações de vender apresentam um comportamento mais errático, que resulta do número limitado de recomendações de vender presentes na amostra, por comparação com as recomendações de comprar. O retorno anormal acumulado médio associado a recomendações de vender é negativo em qualquer dos dez dias posteriores à emissão da recomendação. Não se verifica a persistência de retornos anormais acumulados expressivos, tanto nas recomendações de compra como nas de venda, face a similar exercício efetuado em edições anteriores do presente relatório. Isto significa que o eventual efeito das recomendações emitidas por cada intermediário financeiro na cotação dos títulos não é constante ao longo do tempo, isto é, a relação entre rentabilidades anormais acumuladas advenientes das recomendações e o intermediário financeiro que as emite varia de período para período. 7 O desempenho a médio prazo de carteiras cuja composição assenta nas recomendações de investimento dos analistas financeiros é simulado a partir de uma carteira que replica a composição do PSI20 em 01-10-2013 e que tinha um valor inicial de 100.000 €. Os pesos dos títulos dessa carteira são aumentados ou diminuídos consoante o sentido das recomendações emitidas. Os resultados indicam que, em 30-09-2014, oito intermediários financeiros obtiveram uma performance superior em 0,51 p.p. à da carteira do índice (o índice PSI20 caiu 1,53% no período em apreço) e quatro carteiras apresentaram um desempenho inferior ao da carteira de mercado. O potencial de valorização inerente aos preços-alvo divulgados é em geral elevado e superior ao registado no período homólogo antecedente. No que respeita aos desvios entre os preços-alvo e os preços de mercado verificados no término do horizonte temporal a que aqueles respeitavam, conclui-se que apenas uma em cada três projeções de preço-alvo foi atingida ou superada. As previsões de resultados por ação emitidas pelos intermediários financeiros nos seus relatórios de análise financeira foram analisadas, tendo-se concluído que os intermediários financeiros apresentaram um nível de otimismo semelhante relativamente aos resultados dos emitentes cotados na Euronext Lisbon. Nos títulos do setor financeiro os resultados por ação estiveram sujeitos a maior volatilidade face ao consenso. A análise da proporção das previsões de EPS para o ano fiscal de 2014 que foram efetivamente atingidas permite concluir que na maior parte dos casos os resultados por ação efetivamente verificados foram inferiores aos estimados. O relatório também examinou outros parametros utilizados nos modelos de avaliação de empresas dos analistas. A análise visa averiguar até que ponto os analistas de uma dada empresa convergem em parametros cujo valor teoricamente varia de empresa para empresa, e fazer idêntico exercício no que respeita aos que deveriam ser semelhantes. O custo do capital (próprio e alheio) é um dos parâmetros onde os analistas financeiros apresentaram uma maior divergência. No caso do custo do capital próprio, os analistas financeiros usaram um valor compreendido entre o mínimo de 7,1% e o máximo de 19,0%. A elevada amplitude da taxa de juro isenta de risco (entre 1,1% e 12,0%) também merece saliência, bem como o reduzido valor do limite inferior. O alto valor do limite superior sugere que não se trata de uma verdadeira taxa de juro isenta de risco, mas que possa incorporar um prémio de risco-país. Por último, os analistas nem sempre manifestaram concordância relativamente ao risco sistemático (beta). Essas diferenças podem ter diversas explicações, nomeadamente a elevada, mas instável, 8 volatilidade dos diferentes títulos ao longo do ano, a alteração do padrão de correlação entre a rentabilidade dos diferentes títulos e a do mercado e as possíveis alterações no rácio dívida/capitais próprios considerado pelos analistas na obtenção do beta alavancado. A supervisão da CMVM sobre a atividade de research A segunda parte do relatório recai sobre a supervisão da atividade de elaboração e divulgação de recomendações de investimento. A supervisão foi caracterizada pela intensificação das análises realizadas a essas recomendações. A metodologia de análise foi reforçada durante o período em causa, tendo passado a realizar-se análises preliminares a todas as alterações de recomendação de investimento e/ou de preço-alvo sobre títulos acionistas portugueses. O objetivo das análises preliminares é o de identificar situações potencialmente anómalas, as quais são posteriormente sujeitas a análises mais aprofundadas onde se afere a qualidade da informação apresentada e a coerência dos pressupostos e dos argumentos utilizados, ao mesmo tempo que se procura encontrar indícios de manipulação de mercado. Entre 1 de outubro de 2013 e 30 de setembro de 2014 a CMVM identificou 639 recomendações de investimento com alterações de recomendação e/ou de preço-alvo, e efetuou 323 análises preliminares. Foram realizadas sete análises aprofundadas, cinco das quais iniciadas após a identificação, em fase de análise preliminar, de situações potencialmente anómalas e duas após a receção de queixas que foram apresentadas junto da CMVM por pessoas ou entidades externas. Por outro lado, no período em causa a CMVM detetou situações de emissão de recomendações por parte de pessoas não registadas para esse efeito, em violação do estipulado pelo Regulamento da CMVM n.º 2/2007. A 30 de setembro de 2014 encontravam-se registados na CMVM para a atividade de análise financeira 18 intermediários financeiros, 15 nacionais e três estrangeiros (sucursais). Quanto ao registo de analistas, durante o período em análise a CMVM deferiu cinco pedidos de registo e cinco pedidos de cancelamento, estando registados 64 analistas financeiros no final daquele período. Análise da adoção das recomendações da CMVM relativas à atividade de research As recomendações da CMVM que recaem sobre a atividade de análise financeira têm como principais destinatários os intermediários financeiros e os outros analistas financeiros que 9 produzem relatórios de research, os emitentes sobre quem recai a recomendação de investimento ou o preço-alvo, os jornalistas e os investidores. Neste relatório divulgam-se os principais resultados do exercício de quantificação e análise do respetivo grau de adesão às recomendações a intermediários financeiros, emitentes e jornalistas. Foram analisadas 214 notícias relacionadas com relatórios de análise financeira sobre ações admitidas à negociação na Euronext Lisbon. Três intermediários financeiros adotaram na íntegra quatro das cinco recomendações da CMVM que lhes são dirigidas, e um intermediário financeiro adotou três, o que traduz uma melhoria relativamente à situação vigente no período homólogo antecedente. A adoção de algumas recomendações pelos jornalistas foi baixa, nomeadamente na relacionada com as referências no corpo da notícia ao horizonte temporal da recomendação de investimento (Recomendação 5) e na relativa à apresentação do histórico de preços-alvo e recomendações de investimento nos 12 meses anteriores (Recomendação 6). O aspeto mais positivo a salientar diz respeito ao elevado grau de adoção (88%) da Recomendação relacionada com a forma como os jornalistas resumem os conteúdos dos relatórios de análise financeira. Quanto às recomendações direcionadas às entidades emitentes, sete sociedades adotaram as cinco recomendações analisadas e quatro sociedades apenas cumpriam uma recomendação. A recomendação em que o cumprimento se afigura menos satisfatório - com um nível de adoção de 43% - é aquela em que se recomenda aos emitentes que, no âmbito da relação com os analistas financeiros para a elaboração de relatórios de análise financeira e quanto à informação que lhes é prestada, indiquem, com clareza e objetividade, os pressupostos e os critérios utilizados na formulação dos objetivos, previsões ou perspetivas que realizam. 10