Bioquímica 97/98 (MJM) GUIA DO ESTUDANTE PARA A ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS PRÁTICOS I (Simples) ou COMO GANHAR VALORES EXTRA E INFLUENCIAR OS ASSISTENTES Traduzido e adaptado* por M. J. Matos de “Masento, M. S. e Green, J. (1987). Underrated fundamentals: a student’s guide to practical write-ups. Biochemical Education 15(1): 24 – 25.” As normas seguintes destinam-se a ajudá-lo a decidir sobre o conteúdo e apresentação dos relatórios práticos. Elas são fáceis de seguir e, quando seguidas, conduzirão sempre à apresentação de um relatório aceitável. Título Deve ser claro, descritivo e sem pretensões, mas deve ser também curto e conciso. Objectivos/Introdução Deve conter uma descrição simples e clara dos objectivos, dos dados que vão ser colhidos e dos princípios que vão ser demonstrados. A Introdução pode incluir os Objectivos. A Introdução deve ser uma descrição concisa da história e da teoria relevantes para o trabalho prático. Tome em consideração a metodologia específica da(s) experiência(s) realizada(s). Podem ser adicionados esquemas quando forem relevantes. A secção de Introdução não deve ser maior que quatro páginas A4, mas pode ser tão curta quanto uma única frase. [Meia página A4 (10 – 15 linhas) por trabalho prático deve ser mais que suficiente.] Métodos Não copie o protocolo prático. Uma maneira elegante de resolver o problema é adicionar uma cópia do protocolo prático ao relatório para consulta, pessoal ou do assistente. Quaisquer modificações, desvios ou adições ao protocolo devem ser registados. Pode ser incluída uma secção acerca das precauções tomadas quando for relevante. Deve escrever uma ou duas frases que resumam as tabelas e gráficos de resultados que vão seguir-se. Resultados Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas. [Cada tabela deve ser numerada (em numeração romana) para eventual referência no texto e incluir uma breve descrição do seu conteúdo (título), colocada acima da tabela (ex: Tabela III — Efeito do ácido clorídrico nas roupas dos estudantes que não usam bata).] A primeira linha de cada coluna da tabela deve conter o nome da quantidade e respectiva unidade, incluindo, quando necessário, o factor multiplicativo utilizado. Se a tabela contiver colunas calculadas a partir de outras colunas, a fórmula de cálculo deve ser indicada na parte inferior da tabela. Uma tabela deve ser suficiente para mostrar o que foi feito em termos de tratamento de dados: não deve ser necessário copiar colunas de uma tabela para outra. De uma maneira geral, os cálculos devem ser apresentados de uma forma completa. Os ‘valores finais’ devem ser destacados no texto, por exemplo, através de sublinhado; a -1- Bioquímica 97/98 (MJM) melhor maneira de destacar é, no entanto, dar-lhes bastante espaço extra na página. As unidades são muito importantes, tanto para si como para o assistente. Não inclua mais de três algarismos significativos nos números a menos que esteja convencido que o seu erro experimental é extremamente baixo (< 1%). (Como exemplo, considere que a gota típica deixada numa pipeta de 5 ml é aproximadamente igual a 0,05 ml, ou seja, 1%.) Gráficos Estes devem ser incluídos nos resultados quando forem a maneira mais apropriada de apresentar a informação. [Cada gráfico deve ser numerado (em numeração árabe) para eventual referência no texto e incluir uma legenda contendo uma breve descrição do seu conteúdo, colocada abaixo do gráfico (ex: Figura 2 — Efeito da concentração do corante nas precauções que os estudantes tomam para o seu manuseamento).] Geralmente, é aconselhável fazer com que os gráficos tenham boa aparência. Utilize escalas amplas para que os dados utilizem o máximo de espaço disponível na página. (…) Legende os eixos com o nome e unidades da quantidade representada (…) [colocando no eixo horizontal a quantidade conhecida (variável independente) e no eixo vertical a quantidade determinada (variável dependente). A escala deve ser representada nos eixos por valores espaçados regularmente (excepto para gráficos com escalas logarítmicas).] Os factores de multiplicação devem também ser incluídos nas legendas dos eixos, respeitando a convenção utilizada nas revistas científicas (por exemplo, inclua x 103 ou x 10-3 como parte da legenda). Os eixos e as legendas dos eixos devem ser desenhados a traço forte e, em conjunto com a legenda da figura, devem ser dispostos na página com espaço à volta (…) [de modo a destacarem-se do corpo do texto; a maneira mais fácil de obter esse resultado é utilizar margens diferentes (mais estreitas) para os gráficos, o que é também aplicável às tabelas]. Marque os pontos de forma visível, por exemplo com ●, ■, ◆, etc. Se o gráfico incluir mais que um conjunto de dados, utilize símbolos diferentes para cada um deles e legende cada linha. Desenhe as linhas claramente a traço forte, utilizando um lápis afiado e uma régua ou firmemente, a mão livre (ou utilize uma curva flexível se tiver dificuldade com desenho a mão livre). Não una simplesmente os pontos mas, se possível, desenhe uma linha que represente o melhor possível a tendência observada na disposição dos pontos [que devem ser sempre bem visíveis], passando o mais perto possível dos mesmos. (…) Discussão Esta é, possivelmente, a parte mais importante do relatório, mas isso não significa que tenha que ser longa. Deve ser completa, mas concisa. Deve seguir a sequência de apresentação dos resultados, mas não deve ser uma repetição dos mesmos. A sua análise dos resultados deve ser feita do ponto de vista da sua avaliação, do seu significado, da sua exactidão, da sua importância para a teoria, etc. Tente pensar sobre as possíveis implicações dos resultados. Por exemplo, suponha que está a determinar as constantes de Michaelis [km] para cada um de dois substratos de uma enzima e que o valor da constante para um deles é alto e para o outro é baixo. Deve sempre tentar dar alguma consideração ao significado desses resultados em função do que lhe podem dizer sobre o papel -2- Bioquímica 97/98 (MJM) desempenhado por cada um dos substratos na célula. Deve sempre ser capaz de dizer algo acerca das implicações biológicas dos seus resultados ou observações [quando aplicável]. Utilize maneiras cautelosas de fazer afirmações apenas quando estiver seriamente inseguro acerca das suas conclusões; por exemplo “Estes dados sugerem que…”, “Isto indicaria x se y…”, “Isto está de acordo com a ideia de que…”. ‘Aparente’ é uma palavra muito útil. (…) Os comentários sobre os erros cometidos podem ser incluídos na Discussão (…). Conclusões Há quem inclua esta secção numa secção de Discussão e Conclusões, mas é geralmente útil ter algum tipo de Conclusão ou Resumo no final do relatório [os artigos científicos, geralmente, incluem esta secção antes da Introdução]. Esta secção deve ser uma descrição breve do que foi encontrado ou demonstrado na aula prática, ou deve elaborar acerca da utilidade de uma determinada técnica. É por vezes também apropriado incluir um resumo dos resultados quantitativos. Faça a sua Conclusão em função dos Objectivos indicados. Bibliografia Se em qualquer parte do seu relatório utilizou qualquer fonte bibliográfica (por exemplo, para o valor padrão de um determinado parâmetro), deve fazer referência no texto a esse facto [de uma forma abreviada, por exemplo: (nome do autor, ano de publicação) ou por um número (1)] (…). A última parte do relatório deve ser uma lista de todas as referências [completas] utilizadas [ordenadas de uma forma lógica, alfabética ou numérica]. Em geral, deve escrever frases claras, legíveis e gramaticalmente correctas; não utilize notas. Seja consistente com o tempo verbal, preferindo a voz passiva: “Fez-se x…” e não “Fiz x…”. É bastante difícil evitar escrever de uma maneira pesada, mas deve-se sempre tentar. A maior parte dos artigos científicos encontrados nas revistas são escritos em estilo corrente. Se utilizar um livro ou um artigo de uma revista, não perca tempo copiando parágrafos inteiros deles; limite-se a extrair apenas a informação relevante para o fim em vista. Não tenha medo de deixar espaços em branco ao longo do trabalho com o fim de destacar as diferentes partes. Indique cada secção com títulos bem visíveis. Leia o seu relatório no final para verificar se cometeu erros. Pense que, se acha a sua leitura difícil ou cansativa, há uma grande probabilidade de que o assistente tenha a mesma reacção, o que irá influenciar a classificação atribuída. Se seguir estas normas, está pelo menos a garantir um relatório apresentável, independentemente de quão bons ou maus são os seus resultados. * (…) representa passagens não traduzidas por serem consideradas não aplicáveis aos relatórios de aulas práticas. As passagens entre [ e ] são adições da responsabilidade do tradutor, clarificando ou expandindo o texto original de forma a adaptá-lo ao resultado final pretendido. Ver também o texto nº 43 da Secção de textos da Zoologia. -3-