EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES CRÉDITOS Reitor José Carlos Pettorossi Imparato Pró-Reitora de Graduação e Extensão Elaine Marcílio Santos Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Renato Amaro Zangaro Pró-Reitor Administrativo Darcy Gamero Marques Filho Pró-Reitora Adjunta de Graduação e Extensão Mara Regina Rösler (In Memoriam) Diretor Acadêmico Gustavo Duarte Mendes Coordenadores do EAD Abigail Malavasi (Pedagogia) Adamaris Izaura Cavalcanti (Administração) Gerson Tenório dos Santos (Letras) Marcelo Rabelo Henrique (Cursos Superiores de Tecnologia) Coordenadores de Polo Mariangela Camba (Santos) Paulo Cristiano de Oliveira (São Paulo) Paulo Roberto Marcatto (Descalvado) Professor(a) Autor(a) Ismail Moreira de Andrade Reis Revisora Maria Ivone de Ávila Oliveira Equipe do Núcleo de Educação a Distância - NEaD Coordenação Geral Magali Polozzi Supervisor de Design Rafael Vilares Web Designer Vinícius Bianchini Suporte técnico Daniel Lopes Copyright © 2013, Universidade Camilo Castelo Branco – UNICASTELO. Nenhuma parte desse material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito. Algumas imagens utilizadas neste trabalho estão livres de direitos autorais, de acordo com a licença Creative Commons. SUMÁRIO EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES TEMA 1: ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 1.1 - As dimensões da formação do educador____________________________________ 15 1.2 - Espaços não-escolares para a atuação do educador___________________________ 16 1.3 - O perfil e a atuação do licenciado_________________________________________ 19 1.4 - Dimensões da informação do licenciado____________________________________ 23 TEMA 2: ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 2.1 - As Atividades do Educador em Espaços Não-Escolares: Agente de Transformação_33 2.2 - Os Espaços de Trabalho do Educador_____________________________________ 34 2.2.1 - Organização Contemporânea_____________________________________ 35 2.2.2 - Reestruturação Sócio-Econômica__________________________________ 37 2.2.3 - Capital: Produção do Conhecimento_______________________________ 38 TEMA 3: MÉTODO SOCRÁTICO E PLANEJAMENTO 3.1 - A maiêutica Socrática___________________________________________________ 47 3.2 - O método Paulo Freire__________________________________________________ 48 3.2.1 - A investigação para Paulo Freire___________________________________ 49 3.2.2 - MST e Paulo Freire______________________________________________ 50 3.3 - Educação Formal x Educação não formal: Tendências e perspectivas______________ 50 3.4 - Planejar para ganrantir um bom desempenho em espeços não-escolares___________ 51 TEMA 4: PODER: O TRABALHO E AS TÁTICAS DE PODER 4.1 - O educador no espaço não escolar________________________________________ 61 4.2 - Biblioteca como espaço destinado à produção do pensar_______________________ 63 SUMÁRIO DESTAQUES Durante o texto, você encontrará algumas informações em destaque. Preste atenção: SAIBA MAIS: Serve para apresentar conteúdos, explicações e observações a fim de que você compreenda melhor o tema estudado. IMPORTANTE: Indica conceitos ou explicações que merecem destaque. Fique atento! ANOTAÇÕES: Espaço destinado para suas anotações a respeito do tema estudado. REFLITA: São questionamentos acerca de aspectos centrais do texto. OBJETIVOS: Indicam os conhecimentos a serem desenvolvidos por você durante o estudo de cada tema. A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 10 TEMA 1 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Prezado aluno: Bem-vindo à disciplina “Educação em Espaços não-Escolares”. Estaremos juntos via EaD durante este semestre. Esperamos ter uma convivência fraterna e repleta de ensino-aprendizagem. A todo o momento, estaremos trabalhando com vocês no ambiente virtual e haverá vários canais de comunicação para podermos refletir e nos aprofundar na temática. Você deve estar se perguntado o que vem a ser esta disciplina de “Educação em Espaços não Escolares”, pergunta que será respondida no decorrer do curso. Mas, para iniciarmos, podemos entender que a Educação não se dá única e exclusivamente nos bancos escolares; ela acontece a todo instante. Precisamos ampliar a Educação na sociedade brasileira, resgatando valores importantíssimos do ser humano, como a auto-estima, a capacidade de pensar racionalmente, a sensibilidade e os valores que fazem parte deste ser para um desenvolvimento humano e uma sociedade sustentável. Por esse motivo, devemos nos inserir no contexto da Educação em Espaços não-Escolares, refletindo sobre seu papel como agente transformador social e responsável pelo desenvolvimento do pensar independente da estrutura educacional formal. Vamos trabalhar para o desenvolvimento das habilidades e competências em atuar nesses meios e primar por uma reflexão de cunho educacional com rigor, disciplina, visão de conjunto e saber aprofundado. Em nossas aulas, vamos refletir sobre os parâmetros necessários para a atuação do licenciado e pedagogo fora da academia, reconhecendo sua importância em uma sociedade em transformação constante na era da globalização, bem como a importância de uma reflexão humana, ética e cidadã, capaz de atingir um número maior de pessoas que não necessariamente freqüentam os meios acadêmicos para compartilhar essas reflexões. Para isso, iremos trabalhar esta disciplina em quatro módulos pelo EaD. TEMA 1 – a atuação do educador em espaços não escolares; TEMA 2 – educação em espaços não-escolares TEMA 3 - método socrático e planejamento; TEMA 4 – aplicação da educação em espaços não escolares: uma proposta de trabalho. Ao concluir esta disciplina, esperamos que você seja capaz de compreender os aspectos que rodeiam a Formação do Educador, dominando os traçados do perfil do educador e da atuação do licenciado, podendo imperar a atuação em espaços escolares e não escolares, sabendo ainda elaborar um planejamento, mapeamento planos de aula eficazes, com objetivos, avaliação e atividades que analisem o aprendizado dos educandos, levando em conta seu perfil, gerando sua produção de conhecimento. Agora, vamos, juntos, iniciar esta jornada! 11 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 12 TEMA 1 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES Iniciando nosso diálogo Prezado aluno: Gostaríamos de saudá-lo e dar-lhe as boas-vindas ao primeiro módulo da disciplina de “Educação em Espaços Não Escolares”. É um enorme prazer poder partilhar conhecimentos com você e uma grande satisfação poder trocar idéias nessa modalidade de ensino, compartilhando o resultado de experiências e aprendizado. Neste primeiro tema, estudaremos o perfil do educador, as competências e habilidades de que necessita, e as dimensões de sua formação teórico-filosófico-pedagógica, bem como técnico-prática. Essa temática é importante para nos fornecer uma visão abrangente e uma base sólida para os demais tópicos abordados na disciplina. Também nos aprofundaremos nas questões que cercam campos educativos formal, não-formal e informal, as áreas de atuação do educador, e as dimensões da formação do licenciado – docência, pesquisa e formação do saber. Estudaremos esse tema em quatro partes: 1.1 As dimensões da Formação do Educador 1.2 Espaços não-escolares para a atuação do educador 1.3 O perfil e a atuação do licenciado 1.4 Dimensões da Formação do Licenciado OBJETIVOS Antes de iniciarmos o nosso aprendizado, é muito importante que você saiba quais são os nossos objetivos. Esperamos que, por meio das leituras a atividades propostas, você possa: • Do perfil do educador, competências e habilidades essenciais, das dimensões de sua formação e dos campos educativos; • Da atuação do educador nos espaços não-escolares; • Do perfil e formação do licenciado. Vamos, juntos, iniciar esta jornada? 13 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 14 TEMA 1 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 1.1 – AS DIMENSÕES DA FORMAÇÃO DO EDUCADOR O educador é um profissional cuja formação abrange duas dimensões: 1. A formação teórico-filosófico-pedagógica, incluindo a formação acadêmica específica nas disciplinas em que o docente vai especializar-se e a formação pedagógica, com conhecimentos de maior aprofundamento da educação e suas áreas de pesquisa que contribuem para o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-social e suas práticas que envolvem pesquisa, investigação e reflexão constante. 2. A formação técnica-prática que visa à preparação profissional específica para a docência, incluindo a didática, as metodologias específicas das matérias. (VEIGA, 87, p. 27). Apesar disso, o curso de Pedagogia e vários cursos de Licenciaturas ainda são vistos restritamente como uma formação universitária que capacita pessoas unicamente para o magistério. Lógico que não renegaremos o nosso papel de educador, ou seja, de mediador de aprendizagem. Não podemos fugir à responsabilidade da educação, mas, ao mesmo tempo, o pedagogo ou licenciado é formado para atuar em outros espaços. REFLITA Sabemos que “Todo educador é, por excelência, professor, mas nem todo professor é educador”. Essa afirmação amplia ainda mais as responsabilidades daqueles que escolheram uma formação acadêmica em educação como carreira, pois refletir sobre as principais temáticas pedagógicas exige um compromisso com a verdade e um rigor na busca pelo saber aprofundado. REFLITA Pensando nisso, quais são os atributos que devem estar integrados ao perfil do educador? 15 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES É fundamental que o educador transpareça ética no exercício de suas atividades, particularmente, e no exercício de sua cidadania. Como professor, pesquisador e cidadão é seu dever zelar pela ética em todos os campos do conhecimento e contextos sócio-históricos. Além disso, é importantíssimo lembrar que os educadores devem entender quão imprescindíveis são a produção acadêmica e a participação em atividades ligadas a ela. Afinal, nossa formação revela as metas que desejamos alcançar. Para isso, os educadores devem saber formular questões pertinentes a essa ação e propor as soluções mais adequadas, conforme o que aprenderam e vierem a aprender em suas intervenções nos diversos campos do conhecimento. A capacidade de interpretação de textos teóricos e os comentários a serem elaborados a partir disso, enquanto necessidades básicas indispensáveis que devem ser atendidas pelo educador, devem obedecer aos mais criteriosos procedimentos metodológicos da técnica hermenêutica. Além disso, é necessário unir a esta o procedimento do perspectivismo, enquanto um olhar interpretativo múltiplo sobre uma mesma realidade, a fim de evitar uma “miopia” social, acadêmica, política e tantas outras que disso decorrerem, ou seja, pela falta da postura perspectivista. REFLITA Nesse sentido, quais são os espaços que o educador pode ocupar no mercado de trabalho? 1.2 – ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES PARA A ATUAÇÃO DO EDUCADOR A área de trabalho para pedagogos e licenciados está em expansão. Fora do contexto escolar, percebemos a necessidade de desenvolver uma nova tarefa: compreender e ensinar o mundo. Essa tarefa exige novas posturas do educador quanto a sua atuação no mercado de trabalho e muitos agentes sociais já perceberam a importância desse profissional para o crescimento social e organizacional de uma sociedade. Sendo assim, o educador deixa de atuar só em questões escolares, 16 TEMA 1 SAIBA MAIS Hermenêutica: do sentido das palavras. • Perspectivismo: Doutrina de Nietzsche, segundo a qual todo conhecimento é relativo às necessidades e especialmente às necessidades vitais do ser que conhece. • TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES conquistando um espaço bem mais amplo. Dessa forma, o educador é um profissional qualificado para atuar em diversos campos educativos, e essa atuação pode ser: Campos Educativos Formal Não-Formal Informal Figura 1.1 – Campos Educativos. 1. Formal: No processo educacional, em sala de aula através dos temas apresentados no ensino de educação. 2. Não-formal: Nas ações fora da sala de aula, ou seja, em debates, exposições, seminários, palestras, cafés filosóficos e outros. 3. Informal: Nas rodas de amigos, ou mesmo em encontro de intelectuais que se posicionam frente a determinadas temáticas. O campo de atividade educacional extra-escolar é extenso, compreendendo a atuação de profissionais nos âmbitos da vida privada, pública e social. Como vimos, o educador é um profissional capaz de compreender e aprofundar as reflexões que ocorrem no âmbito da sociedade, dos sistemas de ensino, da cultura, das relações sociais e de outras instâncias, sendo que todas elas consideram seu contexto e envolvem simultaneamente dimensões individuais e sociais. Desse modo, podemos afirmar que a atuação do profissional da Educação compreende atividades de caráter social, educacional e cultural, realizadas em uma sociedade, as quais envolvam as relações da humanidade, ou que necessitem de reflexão aprofundada, conforme relacionado a seguir. São consideradas possíveis áreas de atuação do educador e/ou licenciado: 17 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES TEMA 1 Áreas de Atuação do Educador Educacional Científicas/Tecnológicas Religiosa Promoção Social Empresarial Comunicação Secretarias Públicas Editoras e Organizações Figura 1.2 – Áreas de Atuação do Educador. 1. Educacional: docência, projetos de pesquisas, formação de professores nas redes públicas e privadas e em outros espaços que decorrem dessa atuação, etc. 2. Científicas/Tecnológicas: projetos, pesquisas em órgãos públicos e privados. 3. Religiosa: formação de seminaristas, grupos de formação de estudos da Ciência da Religião, pesquisas. 4. Promoção Social: em ONGs, órgãos públicos e privados. 5. Empresarial: setores administrativo, pessoal e de relações públicas. 6. Comunicação: nos processos de comunicação e na questão do conhecimento, podendo atuar como assessor para a produção de comunicações e/ou textos em diversas mídias. 7. Secretarias Públicas: prestação de assessorias e pesquisas associadas a órgãos de fomento. 18 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES SAIBA MAIS Terezinha Azeredo Rios: Terezinha Azeredo Rios: Graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (2000). Atualmente é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho - Uninove (SP), tendo feito parte, por mais de 30 anos, do quadro de professores do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP. • 8. Editoras e Organizações: atuação como orientador na formulação de projetos de pesquisas. Observe, também, que o profissional capaz, ético e contextualizado pode atuar como conferencista ou em trabalhos de parcerias interdisciplinares, envolvendo profissionais de diversas áreas do conhecimento. Para concluir, ressaltamos que o mundo, tão veloz em informações, precisará, cada vez mais, de educadores, que possam fazer seus habitantes pensarem melhor em suas necessidades, as quais lhes assegurem uma base solidificada de formação humana e ética ante o desafio das provocações do tão afamado mercado globalizado de trabalho, que busca uma mecanização do humano e menor disposição para o pensar e o agir. 1.3 - O PERFIL E A ATUAÇÃO DO LICENCIADO Com a universalização do acesso à educação, a sociedade brasileira tem enfrentado o desafio de incorporar à escola grupos sociais que historicamente foram excluídos dos processos de escolarização. No enfrentamento desse desafio, cabe ao licenciado contribuir na tarefa de democratizar o acesso aos conhecimentos e posteriormente ao saber refletido visando, entre outros objetivos, à promoção da melhoria nas condições de vida das pessoas. De modo mais específico, isso implica ser um agente social capaz de investigar, refletir, gerar conhecimento, gerir e ensinar tanto no âmbito escolar como em espaços não-escolares com determinadas competências. Tais competências são coerentes com o “Perfil do Educador a ser formado pelo ensino de Terceiro Grau” apresentado por Terezinha Azeredo Rios (2006): 1. “aprender de forma autônoma e contínua”, realizando o duplo movimento de derivar o conhecimento com significação dos conceitos: o recurso da lógica; 2. “atuação inter/multi/transdisciplinarmente”, trabalhando em “equipes multidisciplinares”; 3. “pautar-se na ética e na solidariedade enquanto ser humano, cidadão e pensador”. 19 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES TEMA 1 Em face dessa realidade, os cursos de licenciaturas, comprometidos com a qualidade social da educação, tem como objetivo formar o Licenciado para atuar na docência do ensino fundamental e médio, na formação, reflexão e educação do trabalho formativo. De modo específico, o objeto de trabalho do licenciado, formado pelas universidades, centra-se nos processos de ensino e de aprendizagem relacionados à educação escolar. Entretanto, como os componentes curriculares permeiam todo o processo de formação, esse profissional torna-se apto a atuar também em outros contextos educativos além da sala de aula. IMPORTANTE A atuação dos licenciados baseia-se em um tripé: “para quê?”, “para quem?”, além de envolver um “Contexto”. Para quê e Para quem os processos de ensino e de aprendizagem estão voltados compõem as estruturas da atuação do licenciado e do Educador, levando-se em conta os vários contextos sócio-econômicos e políticos. Já a contextualização refere-se ao conjunto de acontecimentos que ocorrem para propiciar um determinado fenômeno. Verifiquemos um exemplo: O contexto do sistema capitalista como modo de produção atual apresenta as suas ideologias, os seus valores, a sua educação e a sua política a fim de formar um conjunto único para a realização do sistema econômico, social e político capitalista. Dessa forma, ele se perpetua entre o passado e presente e a estrutura para a reprodução de um saber voltado para seus interesses. Significa, por um lado, a possibilidade de evidenciar a centralidade do estatuto da Educação REFLITA Mas, o que significa colocar a prática da aprendizagem nos cursos de pedagogia e nas licenciaturas como componente curricular privilegiado? 20 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES como eixo norteador do processo formativo de todos os profissionais através da educação e, por outro lado, a possibilidade de estabelecer uma articulação orgânica. Enfim, a articulação dessa rede provoca nos envolvidos reais situações de aprendizagem. Em uma proposta sócio-construtivista e libertadora, baseada na colaboração, na interação, na flexibilidade e, principalmente, na afetividade, numa perspectiva de aprender fazendo, podemos contribuir para que se quebrem as dicotomias razão x emoção, teoria x prática, saber x fazer, que estão presentes há tanto tempo em nossos discursos educacionais e na forma de se fazer educação. O saber como fonte permanente e privilegiada de reflexão permite a formação dos futuros profissionais, propicia a análise do movimento complexo existente entre as construções teóricas e as suas reflexões na prática, assegurando uma compreensão da natureza e da especificidade do conhecimento teórico-prático, de modo a propiciar o desenvolvimento de um compromisso ético e político com uma sociedade democrática. Historicamente, a escola e os sistemas educacionais aos quais estão vinculados têm sido o campo de trabalho dos profissionais provenientes dos diversos cursos de licenciaturas voltados para a contextualização de um sistema reprodutor de saberes que não oportuniza a reflexão crítica e libertadora compromissada com as questões reais e necessárias de uma sociedade. A identificação entre o licenciado, o pedagogo e as instituições escolares tem uma razão histórica de perpetuação da lógica do sistema educacional de reprodução de valores. O verdadeiro educador é responsável pela socialização do saber formal durante o processo educacional que ocorre em sala de aula através dos temas apresentados pelas grades curriculares, que sempre necessitam ser refletidas (repensadas) para uma nova prática educacional, direcionada pelas novas competências e qualidades que buscam uma prática docente competente, de uma qualidade que se quer cada vez melhor, com critérios culturais e históricos bem sedimentados para uma prática construtiva e libertadora. Assim, cuidar de questões ligadas ao ensino parece ser o elemento que define a atuação do licenciado nos sistemas educacionais de forma prática e teórica sem o dualismo proposto para a reprodução de valores. A escola - especialmente a escola pública – é uma importante agência para a criação e democratização do saber, para a transmissão do patrimônio cultural da humanidade e para o desenvolvimento da reflexão crítica. Entretanto, os múltiplos processos de reflexão ocorrem de forma difusa, de maneira formal, envolvendo a sociedade como um todo somente no contexto educacional. Ademais, há outros espaços para o desenvolvimento das atividades de reflexão e de construção do saber possíveis para o desenvolvimento de uma nova sociedade. O licenciado possui algumas competências e habilidades entendidas como essenciais, a se 21 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES TEMA 1 IMPORTANTE Nesse sentido, percebemos que as necessidades atuais da sociedade e do mundo do trabalho exigem dos profissionais da educação uma diversificação maior do pensar. rem desenvolvidas no decorrer de uma formação em licenciatura, para atender ao perfil do educador, conforme relação a seguir: 1. Compreensão ampla e consistente do saber e da prática educativos que se dá em diferentes âmbitos e especialidades. 2. Compreensão do processo de construção do saber no indivíduo inserido em seu contexto social e cultural. 3. Capacidade de identificar problemas socioculturais e educacionais, propondo reflexões críticas às questões da qualidade do ensino e medidas que visem à superação da exclusão social. 4. Compreensão e valorização de diferentes linguagens manifestadas nas sociedades contemporâneas e de sua função na produção do saber. 5. Capacidade de identificar as dinâmicas culturais relacionadas ao fenômeno educativo e de planejar intervenções que as considerem. 6. Capacidade para identificar a problemática envolvida na educação das pessoas com necessidades educativas especiais. 7. Capacidade de articular ensino e pesquisa na produção do saber e da reflexão filosófico-científica. 8. Utilização de conhecimentos sobre a realidade econômica, cultural, política e social brasileira, para compreender o contexto e as relações em que está inserida a prática de reflexão. 9. Compromisso com uma ética de atuação e com a organização democrática da vida em sociedade. 10. Capacidade de promover uma reflexão que leve em conta as características dos alunos e da comunidade, bem como os temas e necessidades do mundo social, conhecendo e dominando os conteúdos básicos relacionados às áreas de conhecimento e às questões sociais que serão objeto da atividade docente, adequando-os às atividades dos alunos. 11. Compreensão dos processos de ensino e aprendizagem na escola e nas suas relações com o contexto no qual se inserem as instituições de ensino. 12. Capacidade para elaborar projetos pedagógicos sintetizando as atividades do ensino. 13. Capacidade de realizar atividades de planejamento, organização, coordenação e avaliação pautadas em valores, como: solidariedade, cooperação, responsabilidade e compromisso. 14. Estabelecimento de relações de parceria e colaboração com a comunidade externa à escola e, de modo especial, com os pais dos alunos, a fim de promover sua participação na comunidade escolar e uma comunicação fluente entre eles e a escola. 22 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 1.4 - DIMENSÕES DA FORMAÇÃO DO LICENCIADO O princípio básico da formação do licenciado contempla três dimensões organicamente relacionadas: a docência, a pesquisa e a produção do saber. A Docência A Pesquisa A Produção do saber Figura 1.3 – Dimensões da Formação do Licenciado. A docência confere a identidade do Licenciado no campo específico de intervenção e reflexão social. Para tanto, consideram-se: os diferentes âmbitos e especialidades da prática educacional; o processo de construção do conhecimento e do saber no sujeito inserido no seu contexto; a identificação de problemas e os processos de reflexão viáveis às questões da educação, assim como respostas que visem superar a exclusão e a alienação social. A pesquisa, como princípio filosófico e educacional, trata de questões que emergem da vivência e da reflexão, configurando-se como um exercício de organização e produção de saberes apreendidos e permanentemente reelaborados. A pesquisa impõe análise e compreensão da realidade na qual ocorrem processos reflexivos e, consequentemente, a produção de saberes. As bases do saber para o desenvolvimento de uma atividade prático-reflexiva constituem os pilares básicos sobre os quais se assenta a formação do educador comprometido com a educação. A preparação do educador em termos de domínio do conhecimento específico na sua área de atuação, embora não seja regra, pode propiciar um desempenho adequado em sala de aula, tendo em vista as atividades de ensino. Apesar dessa relação positiva, a formação adequada do educador nem sempre garante níveis elevados de aprendizagem de seus educandos. 23 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES REFLITA Mas por que isso acontece? Isso pode acontecer porque há educador que, apesar de ter conhecimento, não consegue expressar-se de forma clara. Por outro lado, há aquele que fala bem, mas não sabe o que dizer, uma vez que não possui uma formação adequada. Nesse sentido, “conhecer” representa um aspecto base da atividade do educador para que ele possa ensinar com qualidade e competência, apesar de sabermos que o mero domínio do conteúdo específico não seja suficiente para formar um educador, ou seja, “conhecer mais sobre uma dada área” não implica capacidade para articular o “reflectere”, ou seja, a reflexão-ação. Em contrapartida, o educador que se apresenta sem o domínio do conteúdo específico pode ensinar, mas o fará de forma precária, quando não de maneira incorreta. A ausência de uma profunda compreensão sobre certos aspectos de conteúdo específico de uma área do saber pode impedir um bom processo de reflexão, sobretudo, quando se levam em consideração as (elevadas) exigências apontadas pelas novas necessidades na teia social, política, econômica e ideológica da sociedade pós-moderna. As disciplinas relacionadas às metodologias educacionais também têm sido indicadas na literatura como fundamentais no processo formativo inicial, embora não haja ainda consenso em relação à “quantidade” ou ao “rol de tópicos” referentes ao conteúdo específico que se faz necessário para se formar um verdadeiro educador. Há, porém, indicações da relevância de que o futuro educador necessita compreender o conteúdo específico a partir de uma perspectiva pedagógica. Tem-se compreendido a “preparação do licenciado e do pedagogo” como sendo constituída por inúmeras disciplinas que os futuros professores cursam em diversas áreas, como: Instrumentação, Teoria do Conhecimento, Fundamentos e Prática do Estudo em Educação, História da Educação, Ética e Educação, Didática, Currículo e Ensino, Política Educacional, entre outras, em sala de aula. Esse tipo de preparo aparentemente tem impacto tanto nas práticas de ensino quanto no desempenho dos alunos, embora, não haja elementos capazes de definir com clareza quais desses aspectos são críticos. 24 TEMA 1 SAIBA MAIS • Reflectere: Volta da consciência, do espírito, sobre si mesmo, para examinar o seu próprio conteúdo por meio do entendimento, da razão e do voltar-se para a ação. TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES Um dos motivos apontados para tal indefinição corresponde à dificuldade em se precisar o que é o “preparo do licenciado”, uma vez que, sob esse rótulo, podem ser incluídos tanto os conteúdos específicos de formação, quanto aqueles mais gerais, que também possam ser oferecidos em diversos momentos da formação inicial sem realmente qualificar o educador para a sua atividade principal. Embora de modo não conclusivo, pode-se afirmar que os futuros professores necessitam ser capazes de reorganizar o conhecimento do conteúdo específico, em conhecimento sobre o como ensinar um dado conteúdo específico a alunos diversos. Para finalizarmos este tema, podemos destacar as seguintes idéias: 1- Com a universalização do acesso à escola, a sociedade brasileira - e em especial a escola – tem enfrentado o desafio de incorporar grupos sociais que historicamente foram excluídos dos processos de escolarização. 2- O perfil do licenciado a ser formado pelo ensino de terceiro grau acentua o aprender de forma autônoma e contínua, realizando o duplo movimento de derivar o conhecimento, trabalhando em “equipes multidisciplinares”. 3- O “para quê” e “para quem” (os processos de ensino e de aprendizagem) estão voltados ao propósito de levar o licenciado a propor uma nova atuação na comunidade. 4- O saber é fonte permanente e privilegiada de reflexão que possibilita e auxilia a formação do ser humano para uma atuação em seu espaço. 5- O campo de atividade extra-escolar é extenso, incluindo todas as atividades realizadas no âmbito da vida privada, pública e social. 6- Os licenciados devem saber formular questões pertinentes às atividades realizadas fora do ambiente escolar e propor soluções adequadas a essas perguntas, conforme o que aprenderam e vierem a aprender em suas intervenções dentro dos diversos campos do conhecimento. 7- O licenciado deve compreender a suma importância da ética e da cidadania em sua formação como professor, pesquisador e cidadão, e zelar por elas em todos os campos do conhecimento e contextos sócio-históricos. 8- O mundo tão veloz em informações precisará, cada vez mais, de pessoas capazes de auxiliar seus habitantes a pensarem melhor e mais profundamente em suas necessidades. Além disso, exigirá profissionais capazes de assegurar uma base solidificada de formação humana e ética ante o desafio das provocações do mercado de trabalho. 9- O educador deve ter uma consciência livre, racional e sensível para compreender a realidade sócio-econômica e propor aos cidadãos uma atitude consciente e atuante. 25 A IMPORTÂNCIA DA COMA ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES 26 TEMA 1 TEMA 1 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES RECAPITULANDO Para finalizarmos este tema, podemos destacar as seguintes idéias: 1- Com a universalização do acesso à escola, a sociedade brasileira - e em especial a escola – tem enfrentado o desafio de incorporar grupos sociais que historicamente foram excluídos dos processos de escolarização. 2- O perfil do licenciado a ser formado pelo ensino de terceiro grau acentua o aprender de forma autônoma e contínua, realizando o duplo movimento de derivar o conhecimento, trabalhando em “equipes multidisciplinares”. 3- O “para quê” e “para quem” (os processos de ensino e de aprendizagem) estão voltados ao propósito de levar o licenciado a propor uma nova atuação na comunidade. 4- O saber é fonte permanente e privilegiada de reflexão que possibilita e auxilia a formação do se humano para uma atuação em seu espaço. 5- O campo de atividade extra-escolar é extenso, incluindo todas as atividades realizadas no âmbito da vida privada, pública e social. 6- Os licenciados devem saber formular questões pertinentes às atividades realizadas fora do ambiente escolar e propor soluções adequadas a essas perguntas, conforme o que aprenderam e vierem a aprender em suas intervenções dentro dos diversos campos do conhecimento. 7- O licenciado deve compreender a suma importância da ética e da cidadania em sua formação como professor, pesquisador e cidadão, e zelar por elas em todos os campos do conhecimento e contextos sócio-históricos. 8- O mundo tão veloz em informações precisará, cada vez mais, de pessoas capazes de auxiliar seus habitantes a pensarem melhor e mais profundamente em suas necessidades. Além disso, exigirá profissionais capazes de assegurar uma base solidificada de formação humana e ética ante o desafio das provocações do mercado de trabalho. 9- O educador deve ter uma consciência livre, racional e sensível para compreender a realidade sócio-econômica e propor aos cidadãos uma atitude consciente e atuante. Até o próximo tema! 27