O ESTÁGIO DE REGÊNCIA NA UESB: REFLEXÕES DO ENSINAR EM QUÍMICA SANTOS, Rândilla Regis Cordeiro dos1 - UESB ALEXANDRINO, Daniela Marques2 - UESB ADORNI, Dulcinéia da Silva3 - UESB Eixo Temático: Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: Prodocência - CAPES Resumo O estágio de observação constitui como importante método de avaliação da realidade escolar, contribuindo para a formação docente e elaboração da didática pessoal. O processo de observação serve de investigação, visualizando e vivenciando de forma próxima a teoria e a prática pedagógica pertinente a sua formação. O estágio supervisionado tem como propósito complementar, favorecer ao estudante de licenciatura a oportunidade da convivência com o cotidiano escolar através da prática docente. Tendo a finalidade de aproximar o discente à realidade na qual esta sendo inserido, apropriando-se da teoria e colocando-a em prática, contribuindo dessa forma na interação, criação, estudo e reflexão da prática pedagógica na formação profissional. A reflexão sobre suas práticas é fundamental, pois muitas vezes os licenciandos atuam como meros repetidores de práticas adotadas pelos docentes em sala de aula. Sendo assim, o presente trabalho busca relatar a experiência vivida e os aspectos relacionados ao estágio de regência desenvolvido no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, que teve início no mês de outubro de 2012 e foi desenvolvido numa escola da rede pública estadual no município de Itapetinga-BA. Para melhor entendimento do referido contexto, o segundo semestre do ano estava terminando e as atividades estavam intensas na escola devido a alterações no calendário escolar e as aulas que 1 Graduanda 7º semestre do curso de Licenciatura em Química pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – campus Itapetinga. Membro do Grupo de Pesquisa do Processo de Ensino-Aprendizagem de Ciências – PEAC. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Química: Química Analítica pela UESB. Professora Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – campus Itapetinga. Orientadora das disciplinas Estágio Curricular III e IV do Curso de Licenciatura em Química. Coordenadora do PIBID – Subprojeto de Educação do Campo e do Projeto Institucional do Prodocência-UESB. Membro do Grupo de Pesquisa em Didática das Ciências Experimentais e da Matemática - GDICEM e Grupo de Pesquisa do Processo de Ensino-Aprendizagem de Ciências – PEAC. Email: [email protected] 3 Mestre em Educação. Professora Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – campus Itapetinga. Orientadora das disciplinas Estágio Curricular I e II do Curso de Licenciatura em Química. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão Gestão em Educação e Estudos Transdisciplinares – NUGEET, linha de pesquisa: Formação de professor, práticas didático-pedagógicas e transdisciplinares. E-mail: [email protected] 23442 anteriormente seriam ministradas até o mês de janeiro de 2013, deveriam ser concluídas até meados de dezembro de 2012, utilizando todos os sábados como letivos. A turma regida foi um 3° ano regular, composta por 37 alunos, durante um período de 20 horas/aula. As aulas iniciavam as 07:00 horas e terminavam as 08:40 horas da manhã, sendo 2 h/aulas/dia. No terceiro ano são abordados conceitos da Química Orgânica e durante o desenvolvimento do estágio foram trabalhados os conteúdos de Isomeria Plana, Geométrica e Óptica. O resultado esperado com a prática do estágio foi imergir o licenciando no ambiente escolar, permitindo além de sua formação inicial, a possibilidade de desenvolver ações para que possa ofertar um ensino qualificado nas escolas. Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Licenciatura em Química. Práticas Reflexivas. Introdução ... a ESCOLA é o melhor lugar para aprender e ensinar... António Nóvoa Nos últimos anos, vários estudos vêm sendo realizados com o intuito de buscar formas de melhorar as práticas docentes em todas as áreas do conhecimento, objetivando o desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem que favoreça a aprendizagem real e significativa do aluno. No caso da química, isso se faz ainda mais necessário, visto que os conteúdos desta ciência são considerados bastante complexos. O professor de química deverá buscar na sua prática docente, aspectos que funcionem como elementos facilitadores para a compreensão dessa ciência pelos alunos do Ensino Médio, e isso não é tarefa fácil. A complexidade da química exige do profissional, além do conhecimento teórico e prático, a apropriação de estratégias e instrumentos didáticopedagógicos atualizados e diferenciados. É muito comum a critica de que o ensino de química ainda prioriza habilidades como memorização e reprodução, apesar da constatação de que a memorização de nomes e fórmulas não favorece a compreensão, problematização e muito menos a contextualização dos conteúdos. A prática docente ainda parece bastante fundamentada numa concepção tradicional de educação, apesar dos direcionamentos propostos pelos PCNEM fundamentados numa concepção construtivista. Esta percepção nos leva à reflexão sobre a necessidade de conscientização do professor quanto à sua prática docente, seus embasamentos teóricos e práticos, além de clareza quanto aos objetivos de sua ação docente e avaliação da própria prática quanto ao atendimento ou não desses objetivos. 23443 Neste sentido, a atividade de Estágio Supervisionado configura-se como instrumento privilegiado de observação, vivência e reflexão sobre a prática docente, além de contribuir para formação docente em sala de aula, possibilitando um retorno sobre sua prática desenvolvida. Além do cumprimento das atividades ditas “burocráticas” do estágio, foi pedido pela professora orientadora, que fizéssemos um diário de bordo sobre as atividades realizadas. Muitos trabalhos têm sido apresentados sobre “Narrativas Autobiográficas” como método de pesquisa e formação docente. Para Gaspar (2012) [...] escrever sobre o que se faz e o que se sente tornou-se um recurso de pesquisa para analisar o cotidiano e a prática profissional. No âmbito da educação, as narrativas autobiográficas compõem um método de construção do conhecimento que fundamentam a reflexão do fazer pedagógico e a (re)significação da própria ação.[...] Os relatos a seguir fazem parte do Relatório de Estágio da disciplina Estágio em Química III do curso de Licenciatura em Química da UESB, supervisionado pela professora mestre Daniela Marques Alexandrino. O estágio supervisionado teve início no mês de outubro de 2012 e foi desenvolvido no Colégio Luis Eduardo Magalhães, que faz parte da rede pública estadual no município de Itapetinga-BA, cuja localização é mostrada na Figura 1. Figura 1 – Mapa de localização do CMLEM em Itapetinga-BA. Fonte: http://eguias.net/empresas/BA/itapetinga/1095415-colegio-modelo-luis-eduardo-magalhaes Para melhor entendimento do contexto escolar, o segundo semestre do ano estava terminando e as atividades estavam intensas na escola, pois houve alterações no calendário e as aulas que anteriormente seriam ministradas até o mês de janeiro de 2013, deveriam ser concluídas até meados de dezembro de 2012, utilizando todos os sábados como letivos. A turma regida foi o 3° ano regular, composta por 37 alunos, durante o período de 20 h/aulas. As aulas iniciavam as 07:00 horas e terminava as 08:40 horas, sendo 2 h/aula/dia. No 23444 terceiro ano são abordados conceitos da Química Orgânica e durante o desenvolvimento do estágio foram dados os conteúdos de isomeria plana, geométrica e óptica. Quais caminhos seguir para ensinar Química no Ensino Médio? A sociedade desde muito tempo se apropria dos conhecimentos originados pela ciência, de tal modo que a inovação tecnológica não se constitui mais como notícia em si. Entretanto, a acelerada velocidade, a profunda intensidade e a larga extensão dos impactos dessa incorporação sobre os setores da sociedade simbolizam, sem dúvida, marcas da atualidade (KUWABARA, 2002, p. 153). Dificilmente nos dias de hoje alguém consegue viver sem os avanços tecnológicos proporcionados, mesmo que não tenha consciência de sua origem ou a compreensão exata de seu significado ou funcionamento. Assim é também com o conhecimento químico, o avanço tecnológico da sociedade está retratado também no avanço desta ciência, seja na utilização diária dos produtos químicos (para os mais diversos usos), seja através das inúmeras influências e impactos ao meio ambiente num contexto nacional ou mesmo pessoal quanto à tomada de decisões solicitadas aos indivíduos no que diz respeito ao emprego de tais tecnologias. (SANTOS et al., 2003, p. 47) De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - PCNEM (BRASIL, 2011) existe uma grande preocupação da comunidade científica com o ensino de química, sendo realizados trabalhos de pesquisa, no qual o ponto de discussão é a relação e aplicação da química nas escolas de nível médio no intuito de envolver no currículo escolar assuntos relacionados ao cotidiano do aluno. Tendo em vista, a preocupação em formar cidadãos aptos a opinar e criticar os avanços e impactos dessa ciência na sociedade atual. O documento também destaca a necessidade de aprofundamento da visão de uma formação humana e integradora, que não apresente uma intuição segmentada do conhecimento, mas que favoreça a articulação entre os conceitos e até mesmo uma (re)significação no contexto escolar, associando os valores, atitudes e posturas da sociedade. No entanto, o que se observa é que o ensino de química nas escolas ainda não se desenvolve de acordo com a proposta do PCNEM. O processo de ensino-aprendizagem não favorece a sua compreensão, sendo destacada pelos pesquisadores a necessidade de uma nova abordagem dessa ciência. A extrema complexidade do mundo atual não mais permite que o Ensino Médio seja apenas um exame 23445 preparatório de seleção, onde o estudante é treinado para resolver questões que exigem sempre a mesma resposta padrão. O mundo de hoje exige que o estudante tenha sua própria opinião que ele possa julgar e tomar decisões e que seja responsabilizado por isso. Ambas as capacidades mentais, construídas nas interações vivenciadas na escola, em situações complexas que exigem novas formas de participação. Em que um projeto pedagógico escolar “correto” não é válido pelo número de atividades propostas e resolvidas, mas pela qualidade dessas atividades e das situações propostas, em que os estudantes e os professores, em interação, terão de produzir conhecimentos contextualizados (BRASIL, 2011, p.106). Considerando que um dos equívocos no ensino de química é a preocupação somente em preparar o aluno para o vestibular, observa-se que se exige dele a aprendizagem (memorização) de muitos conteúdos em curto tempo, deixando de lado as questões fundamentais que permeiam a área de química. Ao introduzir os conteúdos sobre Isomeria, foi perguntado aos alunos: “Vocês já ouviram falar em Isomeria?”. Alguns disseram que não e a maioria preferiu ficar calado. Logo após abordei os conceitos sobre a isomeria e suas subdivisões “isomeria plana e isomeria espacial”. Comecei detalhando a classificação da isomeria plana em: isomeria de cadeia, isomeria de posição, isomeria de compensação ou metameria, isomeria de função e tautomeria. Os alunos começaram a falar que “esses assuntos são difíceis e vão dar dor de cabeça”. De Luca (2007, p.3), afirma que desta forma torna-se o ensino limitado, repetitivo e descontextualizado, provocando acomodação nos professores, pois não procuram atualizar, buscar novos conhecimentos e estratégias para que possam motivar os alunos em suas aulas distanciando a escola e o ensino da vida cotidiana do aluno. No propósito de melhorar essas situações relatadas acima, o estágio supervisionado dos alunos em formação acadêmica em química tem importante papel de mudança, aprendendo na prática como ensinar química de forma dinâmica, participativa, construtiva, possibilitando a aprendizagem dos alunos. Em vista a essa abordagem mais participativa, foi elaborado um Mapa Conceitual, que é definido [...] Em um sentido amplo, são apenas diagramas indicando relações entre conceitos. [...]Mais especificamente, podem ser vistos como diagramas hierárquicos que procuram refletir a organização conceitual de uma disciplina ou parte dela, ou seja, derivam sua existência da estrutura conceitual de uma área de conhecimento.[...] (MOREIRA, 1986) 23446 Os conceitos foram expostos no Mapa Conceitual, conforme ilustrado na Figura 2 e a aula expositiva e dialogada a seguir. Figura 2: Mapa Conceitual de Isomeria. Fonte: Organizado pelas autoras, com base nos conteúdos abordados. A aula foi expositiva e dialogada, após a construção do mapa conceitual, retomei a explicação do conteúdo, relembrei-os o que era isomeria, em seguida coloquei o nome Isomeria de Função no quadro e dois exemplos da mesma, logo após perguntei-os: “O que vocês observam nas duas moléculas colocadas no quadro?”. Os alunos começaram a falar todos ao mesmo tempo, pedi que falassem um de cada vez, depois os alunos começaram apontar o que eles observaram: “têm H e C nas duas moléculas; apresentam grupos funcionais diferentes ente as duas moléculas; tem a mesma formula molecular; possuem a fórmula estrutural diferente”. A partir das respostas dos alunos foi trabalhando o conceito de isomeria de função. Depois que eles entenderam o que era isomeria de função coloquei a definição no quadro para que pudessem copiar. Seguindo o mesmo raciocínio da primeira explicação coloquei o nome Isomeria de Cadeia no quadro e duas moléculas no quadro e perguntei-os: “O que vocês estão percebendo nessas duas moléculas?”. Obtive as seguintes respostas: “possuem a mesma fórmula molecular, porém se diferenciaram no tipo de cadeia; a diferença é que uma cadeia era linear e a outra era ramificada”. Os alunos conseguiram identificar a definição da isomeria em cadeia. Em seguida os elogiei, pois eles estavam prestando atenção na aula e conseguindo entender o conteúdo. Durante o processo fui tirando as dúvidas dos alunos individualmente. Partindo do mesmo raciocínio anterior, escrevi o nome Isomeria de Posição no quadro e dois pares de moléculas. Em seguida perguntei: O que vocês estão observando nesses dois pares de moléculas? As respostas foram: “possuem a 23447 mesma formula molécula, mesmo grupo funcional, fórmula estrutural diferente; a diferença está na posição da insaturação nas moléculas. Assim depois da definição expliquei aos alunos e chegamos à definição de isomeria de posição. A seguir coloquei o nome Isomeria de Compensação ou Metameria4 e duas moléculas, perguntei aos alunos: “O que vocês podem dizer sobre essas duas moléculas”? Eles responderam: “mesmo grupo funcional (éter”). E a partir da colocação expliquei a presença do heteroátomo neste tipo de isomeria plana. E assim que eles entenderam, continuei com a explicação da última classificação da isomeria plana. Colocando no quadro o nome Tautomeria e duas moléculas diferentes. Depois perguntei aos alunos: “Qual a observação que vocês fazem entre as duas moléculas?”. Os alunos diferentemente das explicações anteriores falaram que “não sabiam responder”. Achei relevante, pois esta classificação é a mais complexa dentre as classificações da isomeria plana. Em seguida expliquei o que ocorre na Tautomeria5 e a partir da explicação eles conseguiram identificar o equilíbrio existente entre as duas moléculas no quadro. Os estágios supervisionados são momentos únicos de vivência escolar, no sentindo de aprender a ensinar. Tornando-se como lema de orientação nos estágios, reforçando a experiência prática como um dos momentos mais importantes do processo de construção docente. Em alguns trechos, tinha que utilizar repetições para que o conteúdo fosse bem compreendido pelos alunos. Tive que repetir algumas vezes seguidas, pois sempre que perguntava aos alunos se tinham entendido se conseguiram visualizar o isomerismo tautomérico entre as moléculas sempre tinha um aluno que falava não. Após as repetições das explicações os alunos entenderam e fiz uma revisão oral com os mesmos. Silva e Schnetzler (2008), afirmam que o estágio na formação de professores foi e tem sido um dos elementos mais valorizados comparado aos outros elementos do currículo formativo, principalmente pelos futuros docentes. Apesar de entender que, embora ele seja um componente importante nos currículos formativos, não podemos considerá-lo como uma função separada, nem como um apêndice do curso, como se houvesse lugares distintos para a teoria e a prática. As interações do futuro profissional com instituições escolares, com outros profissionais e com a própria prática docente e, sobretudo, com as oportunidades de estudo e reflexão sobre esse mesmo quadro de referências que lhe foi possível vivenciarem desde o início de sua trajetória em direção à profissão. 4 Metameria: é um caso particular da isomeria de posição. Nela, os metâmeros pertencem à mesma função, possuem cadeias iguais e a única diferença é a posição de um heteroátomo. (USBERCO e SALVADOR, 2002) 5 Tautomeria: é um caso especial da isomeria de função, onde os isômeros coexistem em um equilíbrio químico. Os tautômeros mais comuns são os enóis e as cetonas ou os enóis e os aldeídos. (IDEM) 23448 O estagiário e a reflexão sobre suas práticas A reflexão sobre a didática atual requer a consideração da sociedade na qual a instituição escolar está inserida. No Brasil, a área de didática compõe um campo de conhecimento sobre o ensino. As sistematizações e as práticas nessa área vêm sendo estreitamente organizadas e desenvolvidas na relação entre três universos: o corpo teórico da didática, no qual é construído pela prática da pesquisa e do ensino de didática (ANDRÉ e OLIVEIRA, 1997, p.7). Segundo as autoras supracitadas, a partir da segunda metade da década de 1980 e até os dias atuais, o saber didático vem caracterizando-se, pouco a pouco, por discutir questões tanto de caráter técnico-metodológico quanto epistemológico e ideológico, sendo-lhe atribuído papel mediador entre o saber científico e o saber escolar, e/ou entre práticas produtivas no contexto social mais amplo e práticas pedagógicas na escola. Essas opções referem-se a diferentes posições na área, podendo a Didática assumir um caráter mais prescritivo ou mais descritivo-explicativo, respectivamente. Nesse sentido, foi proposta uma aula prática sobre Isomeria Óptica com a participação do grupo do PIBID6-Química da UESB, descrita a seguir Foi pedido aos bolsistas do projeto começassem a distribuição do material da aula. Após o termino da distribuição do material o bolsista L.P7 juntamente com o T. R. e N. A. deram início a aula prática. Primeiramente L.P. pediu para que os alunos montassem duas moléculas, sendo as duas com quatro ligantes diferentes, ou seja, uma sendo o espelho da outra. Depois pediu para que os alunos tirassem de uma das moléculas um átomo e trocassem por outro de outra cor, em seguida pediu que os alunos colocassem uma molécula sobre a outra. Assim que todos os alunos fizeram a etapa o bolsista fez a seguinte pergunta: “Qual a diferença notada entre as duas moléculas?”. Como os alunos viram na aula anterior este assunto, eles começaram a dizer que as duas moléculas possuíam carbono quiral e que elas eram assimétricas e que haviam deixado de ser uma o espelho da outra. Notei o sorriso no rosto da professora titular da turma, pois os alunos acertaram e ela deu um “joia” para os mesmos. Através da atividade desenvolvida, observou-se uma notável participação dos alunos e com um grande acerto das respostas. O que podemos comprovar que a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento de relações. Como afirma Veiga (1989), é nesse espaço físico, local constituído para a realização do ensino formal e sistematizado, que o professor se encontra com o grupo de alunos. O espaço físico é então dinamizado pela relação 6 7 PIBID: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - Capes. Neste trecho foram utilizadas abreviações dos nomes dos alunos bolsitas. 23449 pedagógica porque registra, em situação concreta, a maneira de se viver esta relação. É na sala de aula que acontecem muitas coisas ao mesmo tempo, rapidamente e de forma imprevista, e durante muito tempo, o que faz com que se considere difícil, quando não impossível, a tentativa de encontrar referências ou modelos para racionalizar a prática pedagógica (ZABALA, 1998, p.14). Sendo assim, o estágio supervisionado colabora na formação dos docentes em química e na construção de novas concepções sobre ensino, aprendizagem e todas suas variáveis, bem como para a construção de novas práticas educativas. Desta forma, um novo enfoque deve ser dado aos cursos de licenciatura, oportunizando aos graduandos tornarem-se profissionais competentes, críticos, reflexivos e dinâmicos. Para Arroio et al. (2008), é importante que os professores reflitam sobre os fins e valores que envolvem a docência para que possam se situar diante desta profissão e atuar plenamente em sua área. Ideias como somente dominar conteúdo, aprender algumas técnicas ou metodologias já foram superadas, agora é preciso considerar o ensino como sendo um fenômeno social, complexo e metodológico, pois não basta oferecer aos alunos somente instrumentos metodológicos na ilusão de que somente isso basta para garantir uma boa prática educacional. O autor afirma, ainda, que a criação de novas formas de trabalho e a adaptação de prática docente está relacionada diretamente ao espírito crítico e reflexivo dos professores, pois através da reflexão sobre suas experiências podem romper com o continuísmo tão enraizado na prática pedagógica em química. Outro fator importante a ser considerado ao tratar do ensino é o material didático. É possível observar que várias são as discussões em torno desse assunto. Pesquisadores questionam o material didático utilizado nas escolas de Ensino Médio. No que diz respeito aos conteúdos abordados nos livros didáticos de Química, afirmam que limitam a aprendizagem do aluno, incentivando a memorização dos conteúdos, como podemos observar no trecho: Para fixação dos conteúdos, pedi aos alunos para que abrissem o livro didático (PERUZZO e CANTO, 2006) e fizessem as atividades relacionadas. Nessa aula foi percebida uma compreensão muito boa por parte dos alunos para com a aula, pude explicar o assunto de maneira participativa podendo extrair as observações e entendimento deles. Assim pude perceber que o conteúdo foi bem compreendido. 23450 Para Santos e Schnetzler (2010, p.67), as novas propostas para o ensino de química na atualidade enfatizam que seja proporcionada ao aluno a possibilidade de aprender e relacionar os conteúdos aprendidos com o cotidiano e não a simples memorização. Maia, Sá, Massena e Wartha (2011, p.115), questionam as aulas ministradas pelos professores, afirmando que estas devem ir além do ato de ensinar. O educador deve preocupar-se em saber se o aluno está aprendendo, se está desenvolvendo-se individual e coletivamente em sala de aula. Para isso, refere que é preciso que os docentes tenham o poder de analisar, criticar e escolher o livro didático a ser usado em sala de aula, bem como devem estar aptos para avaliarem as possibilidades e limitações dos livros recomendados pelo Ministério da Educação – MEC. A aprendizagem, segundo Benedetti et al. (2009), é o resultado da estimulação da relação em sala de aula com o indivíduo, que se expressa, diante de uma situação problema. Assim, a relação aluno/professor é um fator importante para o aprendizado, devemos também considerar a motivação como estímulo do ambiente, introduzindo novos meios de o aluno aprender. Outro aspecto que não pode ser esquecido ao discutirmos questões referentes ao ensino, é a necessidade de apoio e incentivo governamental, seja para o desenvolvimento de pesquisas, seja para a implementação de novas propostas educacionais. Marques et al. (2007) destaca algumas dificuldades citadas pelos professores como justificativas para as limitações da prática docente, principalmente as relacionadas aos temas ambientais: a falta de tempo do professor, a carga horária semanal insuficiente da disciplina, a falta de laboratório, a falta de recursos audiovisuais, de informática e humanos e de material didático, as condições de trabalho docente, salário e os alunos “desinteressados”. Segundo Maldaner (2003, p.22), a comunidade dos químicos trabalha para reverter esses fatores, porém ainda é necessário incentivo por parte das políticas educacionais na área de ensino de química. Formar cidadãos com um olhar complexo sobre o que ocorre no mundo a sua volta, requer muito mais do que professores bem intencionados, requer, entre outras coisas, investimento governamental na educação. Apesar de todos os aspectos citadas no texto, hoje em dia nas salas de aula, a tarefa mais difícil para o professor consiste em saber como “desbancar” o obstáculo do ensino tradicional, utilizando os recursos pedagógicos alternativos propostos pelas novas abordagens ao ensino de química. As novas propostas permitem despertar a curiosidade do aluno e, ainda, 23451 favorecer outras habilidades cognitivas como senso crítico, ética e responsabilidade, entre outras. No entanto, é preciso investir na formação continuada dos professores para que se sintam preparados para atuar de acordo com esta nova abordagem. Considerando que uma prática educativa que proporcione o conhecimento químico tem que envolver a (re)construção do conhecimento científico, sem perder de vista a (re)construção do conhecimento cotidiano. Considerações Finais Com base no desenvolvimento do estágio supervisionado pode-se notar que o trabalho do professor é um caminho longo, marcado pela construção e reconstrução do conhecimento em sala de aula. Esse espaço permite ao estagiário a reflexão de como esta sendo desenvolvida sua didática se esta possibilitando aos alunos a aprendizagem da química. A química é uma disciplina complexa de ser entendida exigindo do estagiário mecanismo didático que facilite a compreensão da mesma. A maneira como os conteúdos são expressos é uma etapa muito importante, pois devemos procurar ensina-los de maneira clara, tornando assim um grande desafio para quem os expõe. O estágio de regência é o momento de aprimorar a característica da didática do estagiário, sendo a oportunidade de proporcionar aos alunos uma motivação para estudar a química, desenvolvendo um ensino motivador tanto para ele quanto para os alunos. Com isso deve o estagiário preocupar-se com o conteúdo trabalhado, elaborando suas aulas e tendo compromisso com ensino aprendizagem dos mesmos. Um ensino de química ideal é aquele onde propicia ao aluno a oportunidade de unir teoria e prática. Tornando assim, as aulas dinâmicas e incentivadoras para aprender química. E para isso, são necessárias estratégias para chamar atenção do aluno dando a ele a oportunidade de pensar e elaborar seus próprios conceitos sobre os fenômenos decorrentes através desta ciência. Assim, procurou-se mudar a concepção negativa que as pessoas carregam sobre essa ciência para transformadora na sociedade atual. Consciente do grande desafio que é ser um educador foi concluído esse estágio, porém, com vontade de aprimorar ainda mais a didática dentro da sala de aula. Pois, a experiência do estágio, deu-me uma amplitude do que o futuro espera. 23452 REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli E. D. A.; OLIVEIRA, Maria Rita N. S. Prática pedagógica: alternativas no ensino de didática. Papirus: Campinas,1997. ARROIO, Agnaldo et al. A prática docente na formação do pós-graduando em química. Química Nova, Vol. 31, n. 7, 2008, p. 1888-1891. BENEDETTI, Edemar et al. Palavras cruzadas como recurso didático no ensino de teoria atômica. Química Nova, Vol. 31, n. 2, 2009, p. 88-95. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. 2011. Disponível em: <http://www.agracadaquimica.com.br/quimica/arealegal/outros/80.pdf>. Acesso em: 10/01/2013. DE LUCA, Grunfeld. O ensino de química e algumas considerações. Trabalho apresentado à disciplina de Mestrado em Educação e Cultura na Universidade de Santa Catarina. 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