Os cristais, a quiralidade e Pasteur A quiralidade é um conceito importante em diferentes domínios da ciência. É uma propriedade que existe em certos cristais e é fundamental para a química dos organismos vivos. Também é uma condição indispensável para a existência de certas propriedades físicas de materiais. Tabela de Albert Edelfelt 1885, © Musée de Orsay Quiral vem do grego chiro que significa mão. Quando as palmas das mãos são viradas na direção do solo, a mão direita não pode ser sobreposta com a esquerda. Nosso corpo está construído com compostos elementares quirais: aminoácidos, açúcares.... A quiralidade das moléculas Uma molécula quiral de uma ou outra forma não terá o mesmo efeito ao ser incorporada a nosso corpo. Isto vale para muitos medicamentos e para a percepção do gosto ou odor de certos alimentos. Em 1848, Pasteur ressaltou o fato de que os cristais de ácido tartárico provenientes dos produtos da vinificação das uvas, poderiam ter duas formas idênticas que não admitiam sobreposição; imagens especulares uma da outra. Ele interpretou isto como resultado da existência de duas moléculas quirais. A quiralidade dos cristais e simplesmente devida à forma de ordenamento dos átomos ou das moléculas que os compõem. Essas moléculas são comuns na química orgânica e biológica, nas quais elas estão relacionadas com a presença de um átomo de “carbono assimétrico”. As moléculas assimétricas tem dois formas quirais. Na natureza, em geral, uma delas é dominante. Examinando cristais de ácido tartárico, Louis Pasteur observou a coexistência de duas formas cristalinas, uma a imagem especular da outra, na mesma amostra de pequenos cristais. Ele os separou manualmente, e os dissolveu em água obtendo duas soluções separadas, as quais, ele constatou, tinham propriedades ópticas diferentes. Uma dessas formas produzia uma rotação do plano de polarização da luz num sentido e oposto ao da outra. Uma mistura das duas soluções não desviava a luz. Concluiu então que as moléculas presentes em cada uma destas formas tinham uma estrutura diferentes, formando pares que chamamos de enantiômeros (nome que vem do grego enantios « oposto » Todas as crianças já se confrontaram com o problema de quiralidade ao tratar de enfiar o pé direito no sapato esquerdo. Da mesma maneira que não é possível superpor a mão esquerda com a direita, um sapato é um objeto quiral, porque os dois sapatos não são objetos que se possam superpor. Dois enantiômeros possuem propriedades físico-químicas idênticas quando rodeados por uma vizinhança simétrica. No entanto, eles são percebidos como diferentes pelos organismos vivos. Dito de outra forma, se a molécula se encontra de uma ou outra forma ele pode não causar o mesmo efeito. - Isto explica porquê uma molécula de R-carvona pode ter cheiro de menta verde entanto aquela de S-carvona tem cheiro de cominho; nossos receptores olfativos são sensíveis à quiralidade. - O mesmo acontece com o gosto : uma molécula de S-asparagina tem o gosto amargo dos aspargos entanto que a R-asparagina tem um gosto açucarado. - Estas diferenças de propriedades podem ser dramáticas no caso dos princípios ativos dos medicamentos: esse é o caso da talidomida, no qual uma forma é analgésica e a outra provoca malformações fetais. Fonte: Institut Néel-CNRS