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Cuti
Um dos mais destacados intelectuais
negros contemporâneos – poeta,
ficcionista, dramaturgo e ensaísta –
Cuti, pseudônimo de Luiz Silva,
nasceu na cidade de Ourinhos, São
Paulo, em 31 de outubro de 1951.
Formou-se em Letras pela USP em
1980. É Mestre e Doutor em Letras
pela UNICAMP, tendo defendido
dissertação sobre a obra de Cruz e
Sousa, em 1999, e tese sobre Cruz e
Sousa e Lima Barreto, em 2005.
Militante da causa negra, é um dos
fundadores e mantenedores da série
Cadernos Negros, a qual dirigiu entre
1978 e 1993. É, também, um dos
fundadores da ONG Quilombhoje
Literatura, além de membro atuante
entre os anos de 1983 e 1994. Desde então, faz questão de estar sempre nas
edições anuais dos Cadernos, tanto em prosa como em poesia, apenas com uma
exceção no número 17, publicado em 1994, do qual não participa. Cuti teve
também atuação relevante no Jornegro, órgão da extinta Federação das
Entidades Afro-brasileiras do Estado de São Paulo. A partir de 1978, esteve entre
os organizadores de várias edições do FECONEZU – Festival Comunitário Negro
Zumbi – realizados no interior do Estado. O autor enquadra-se no perfil do
intelectual moderno, atuando na criação, na crítica e no trabalho de agitação
político-cultural junto à comunidade afrodescendente. Nesse sentido, ganham
importância os questionamentos que faz aos conceitos de “Literatura afrobrasileira” e “Literatura afrodescendente”, formulados em palestras e artigos e
reunidos no livro Literatura negro-brasileira, publicado em 2010. A militância marca
sensivelmente as reflexões e a própria escrita do autor, como no trecho abaixo,
apresentado no III Congresso de Cultura Negra das Américas, realizado na PUC
São Paulo em 1982, e publicado no volume coletivo do Quilombhoje Reflexões
sobre a literatura afro-brasileira:
Blitz no sentimento do negro é uma constante. Acusado de rancor,
resta a alternativa de viver acuado em si mesmo, enquanto aprende
as regras da vista grossa e do escamoteamento da expressão. Na
pauta do permitido todos devem se esforçar para o sustento de todas
as notas de hipocrisia nas relações raciais.
A bibliografia do “problema do branco” sobre o negro é imensa. Nela,
como não podia deixar de ser, o negro é o problema. As exceções –
sinal dos tempos! – estão aumentando, infelizmente, a regra, idem.
Hoje há um dado considerável na transformação, a presença dos
descendentes, mais visíveis, dos escravos. O texto escrito começa a
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trazer a marca de uma experiência de vida distinta do estabelecido. A
emoção – inimiga dos pretensos intelectuais neutros – entra em
campo, arrastando dores antigas e desatando silêncios enferrujados.
É a poesia do negro brasileiro consciente. (CUTI, 1985, p. 16)
Em outra linha de atuação, o escritor empenha-se igualmente em atuar no resgate
da memória do movimento negro. Em 1992, trouxe a público o volume E disse o
velho militante José Correia Leite, fruto de um paciente trabalho de pesquisa em
parceria com o biografado, o emblemático batalhador da Frente Negra Brasileira
dos anos 1930 e de tantas outras iniciativas em favor dos afrodescendentes.
Maria Nazareth Soares Fonseca destaca a convivência, na obra do autor, de uma
forte tendência à experimentação formal em paralelo à construção de uma
literatura “fazedora de cabeça”, como o próprio Cuti define em texto de 1986. E
acrescenta:
A escrita literária explora com maior vigor a força do significante e se
preocupa com os variados efeitos de sentido que as palavras podem
suscitar. Mas o questionamento das estratégias que a sociedade
brasileira elabora para fortalecer – ainda que através de subterfúgios
– as facetas do racismo e do preconceito percorrem seus textos,
muitas vezes, procurando não abafar o excelente trabalho com a
linguagem que o escritor privilegia. (FONSECA: 2011, p. 12)
Apesar das questões inerentes à problemática das relações raciais no Brasil
serem constantes em sua atuação como intelectual, sobretudo no que toca ao
combate às formas de preconceito e discriminação, Cuti vai além e exerce
importante papel ao refletir sobre a própria escrita, bem como de seus
companheiros de projeto estético e literário. Além de poeta, contista e dramaturgo,
revela-se um arguto estudioso da produção literária passada e presente. Autores
como Luiz Gama, Machado de Assis, Cruz e Souza, Lima Barreto, Lino Guedes e
vários dentre os contemporâneos são objeto permanente de seu olhar atento às
transformações das formas literárias no Brasil e no exterior.
Referências
CUTI. Literatura negra brasileira: notas a respeito de condicionamentos. In
QUILOMBHOJE (Org.) Reflexões sobre a literatura afro-brasileira. São Paulo:
Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra Brasileira do
Estado de São Paulo, 1995.
CUTI (Org.). E disse o velho militante José Correia Leite. São Paulo: Secretaria
Municipal de Cultura, 1992.
CUTI. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro Edições, 2010.
FONSECA, Maria Nazareth Soares. Cuti. In DUARTE, E. A. (Org.) Literatura e
afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011,
Vol. 3, Contemporaneidade.
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