UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Ana Rita Raimundo Gomes Dissertação Mestrado em Química Química 2012 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Ana Rita Raimundo Gomes Dissertação orientada por Prof. Doutor Benedito José Costa Cabral Prof. Doutora Maria Tereza Neves Fernandez Mestrado em Química Química 2012 Agradecimentos Agradecimentos Este trabalho resultou graças ao apoio que um conjunto de pessoas que estiveram comigo não só ao longo da execução do mesmo, mas também ao longo da minha vida. Por isso, em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Professora Doutora Maria Tereza Fernandez e ao Professor Doutor Benedito Cabral, por terem confiado em mim para a realização deste trabalho e por toda ajuda e motivação que me deram durante estes longos meses. No grupo de Espectrometria de Massa, agradeço especialmente ao Paulo por ter sido um terceiro orientador. Tenho também que agradecer ao Pedro, Tiago e à Kristina por todas as músicas, todos os intervalos, por todos os cafés e pelas piadas que me animaram nas alturas de desespero. No grupo de Química Computacional, agradeço em especial ao Nuno Galamba, mas também à Margarida, à Sílvia e ao Hugo por me ajudarem a ultrapassar todos os pânicos. Um agradecimento especial aos meus pais e à minha família que sempre tentou compreender tudo o que eu estava a fazer. Por fim, tenho que agradecer a todas as pessoas que me acompanharam durante estes anos. Assim, agradeço em especial, às minhas amigas e aos meus amigos que estiveram sempre comigo ao longo destes meses que me fizeram rir. i Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Resumo Resumo Um grande número de antioxidantes são compostos fenólicos que têm a capacidade de neutralizar e inibir a acção oxidativa dos radicais livres. Existem vários mecanismos de acção antioxidante que têm o mesmo resultado final, a transferência do átomo de hidrogénio do grupo O-H para o radical livre, inactivando-o. Assim, a função antioxidante está relacionada com a energia de dissociação da ligação O-H. Relacionando a energética, a estrutura e a reactividade de compostos fenólicos podemos obter informação útil na síntese de novos antioxidantes. Este estudo, experimental e teórico, incidiu sobre três antioxidantes fenólicos, o ácido cafeico, o trolox e o α-tocoferol. A entalpia de dissociação da ligação O-H (BDE) pode ser determinada através da afinidade protónica (ΔacH) do anião fenóxido, da afinidade electrónica (EA) do radical fenoxílo e da energia de ionização (IE) do átomo de hidrogénio, que é conhecida. Experimentalmente, determinou-se o valor de ΔacH, utilizando o método cinético de Cooks, na sua forma restrita e a estendida. Para tal foi necessário implementar o método cinético estendido em dois espectrómetros de massa diferentes. Teoricamente, foi possível determinar afinidade protónica (ΔacH) do anião fenóxido, a afinidade electrónica do radical fenoxílo (EA) e a entalpia de dissociação da ligação O-H. Neste estudo teórico, recorreu-se a um método DFT/B3LYP associado a uma base cc-pVTZ. Concluíu-se que o composto com menor acidez é o α-tocoferol e com maior é o ácido cafeico, sendo que neste último, o protão fenólico que se encontra em posição para é o mais acídico. No trolox, a desprotonação deverá ocorrer no grupo carboxílico. O α-tocoferol deve ser o antioxidante mais activo, pois dos três compostos fenólicos estudados é o que apresenta os valores mais baixos de BDE’s. Palavras-chave: Compostos Fenólicos, Entalpia de dissociação da ligação O-H, Espectrometria de massa, Método Cinético de Cooks, Cálculos DFT’s. iii Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Abstract Abstract A great number of antioxidants are phenolic compounds which are able to inhibit oxidative action of free radicals. The final result, of various antioxidant mechanisms, is the inactivation of free radicals by hydrogen atom transfer from the O-H group. Thus, the antioxidant action is related with the O-H bond dissociation enthalpy. The information obtained from the energetics, structure and reactivity correlation, in phenolic compounds, can give insights for new antioxidant synthesis. In the present study three phenolic antioxidant, caffeic acid, trolox and α-tocopherol, were investigated. The O-H bond dissociation enthalpy (BDE) can be determined with three thermodynamic functions, the phenoxide anion proton affinity (ΔacH), the phenoxyl radical electron affinity (EA) and the ionization energy (IE) of the hydrogen atom which is known. ΔacH values were determined experimentally with the Cooks kinetic method, using both the restricted and extended versions. Furthermore, the extended kinetic method was implemented in two distinct mass spectrometers (ion trap and FTICR). In order to complement the experimental data, the phenoxide anion proton affinity (ΔacH), the phenoxyl radical electron affinity (EA) and the O-H bond dissociation enthalpy (BDE) were determined using the DFT/B3LYP method in association with the cc-pVTZ basis set. α-tocopherol was found to have the lowest gas-phase acidity while caffeic acid had the highest. For caffeic acid it was found that the phenolic proton in para position is more acidic, and that deprotonation in trolox should occur at the carboxylic group. Of the three compounds under study, α-tocopherol is expected to be the most active antioxidant since it has the lowest BDE value. Keywords: Phenolic Compounds, Bond Dissociation Enthalpy, Mass Spectrometry, Cooks Kinetic Method, DFT calculations. v Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Lista de Abreviaturas Lista de Abreviaturas ArOH Compostos fenólicos RH Composto de Referência ∆H° Variação de entalpia padrão ∆G° Variação de energia de Gibbs padrão ∆S° Variação de entropia padrão GB Basicidade em fase gasosa PA Afinidade Protónica ∆acG Acidez em fase gasosa ΔacH Afinidade protónica de anião PTR Reacções de Transferência Protónica IE Energia de Ionização EA Afinidade electrónica ETE Entalpia de transferência electrónica Do (ArOH) Entalpia de dissociação da ligação OH BDE Entalpia de dissociação da ligação HAT Transferência do átomo de hidrogénio SPLET Perda sequêncial de um protão e de transferência de electão SEP-PT Transferência de um electrão seguido pela transferência do protão k Constante de velocidade R Constante dos gases perfeitos = 8,314 J/K.mol T Temperatura (K) Keq Constante de Equilíbrio Teff Temperatura Efectiva m/z Razão massa/carga vii Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Lista de Abreviaturas MS Espectrometria de massa ou 1ª análise de massa (full scan) MS2 2ª Análise de massa (MS/MS) MSn Espectrometria de massa tandem CID Dissociação Induzida por Colisão ESI Ionização por electrospray ES Electrospray CI Ionização Química EI Electroionização API Ionização à pressão atmosférica APCI Ionização Química à pressão atmosférica APPI Fotoionização à pressão atmosférica TOF Tempo de Vôo FAB Bombardeamento com átomos/iões rápidos MALDI Ionização/Desadsorção Laser Assistida por Matriz FTICR Ressonância Ciclotrónica de Iões com Transformada de Fourier AC Corrente Alterna Rf Radiofrequências NCE Energia de Colisão Normalizada Vp-p Voltagem pico a pico DFT Teoria do funcional da densidade HF Hartree-Fock viii Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Índice Geral Índice Geral Agradecimentos i Resumo iii Abstract v Lista de Abreviaturas vii Índice Geral ix Índice de Tabelas xi Índice de Figuras xiii 1. Introdução 1 1.1. Antioxidantes 1 1.1.1. Compostos Fenólicos 2 1.1.2. Entalpia de dissociação da ligação O-H em fase gasosa 5 1.2. Método Cinético de Cooks 7 1.3. Espectrometria de Massa 12 2. Parte Experimental 21 2.1. Reagentes 21 2.2. Procedimento Experimental 24 2.2.1. Preparação das soluções 24 2.2.2. Condições Experimentais para aplicação do Método Cinético 25 3. Apresentação e Discussão de Resultados Experimentais 3.1. Ácido Cafeico 29 29 3.1.1. Aplicação do Método Cinético Restrito 29 3.1.2. Aplicação do Método Cinético Estendido 37 3.1.2.1. Aplicação do Método Cinético Estendido na Ion Trap 39 3.1.2.2. Aplicação do Método Cinético Estendido na célula do ICR 41 ix Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Índice Geral 3.1.3. Comparação dos Resultados obtidos entre o Método Cinético Restrito e o Estendido 3.2. Trolox 43 45 3.2.1. Aplicação do Método Cinético Restrito 45 3.2.2. Aplicação do Método Cinético Estendido 48 3.2.2.1. Aplicação do Método Cinético Estendido na Ion Trap 48 3.2.2.2. Aplicação do Método Cinético Estendido na célula do ICR 50 3.2.3. Comparação dos Resultados obtidos entre o Método Cinético Restrito e o Estendido 3.3. α-Tocoferol 4. Química Teórica e Computacional 52 53 57 4.1. Introdução 57 4.2. Detalhes computacionais 61 5. Apresentação e Discussão de Resultados Teóricos 63 5.1. Cálculo da acidez em fase gasosa, ΔacHᵒ 66 5.2. Cálculo da afinidade electrónica, EA 67 5.3. Cálculo da entalpia de dissociação da liagação O-H, BDE 69 6. Comparação dos Resultados Experimentais com os Resultados Teórico 71 6.1. Ácido Cafeico 71 6.2. Trolox 72 6.3. α-Tocoferol 73 7. Conclusão e Perspectivas Futuras 75 8. Bibliografia 77 Anexos x Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Índice de Tabelas Índice de Tabelas Tabela 2.1 – Características dos compostos em estudo. 21 Tabela 2.2 – Características dos compostos de referência utilizados neste estudo. 22 Tabela 3.1 – Compostos de Referência utilizados com o respectivo valor de ∆acH e ∆acG. 31 Tabela 3.2 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência. 36 Tabela 3.3 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência, a uma determinada voltagem pico a pico (Vp-p). 39 Tabela 3.4 – Valores obtidos através das 1ª representações gráficas. 40 Tabela 3.5 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência, a uma determinada frequency Offset. 41 Tabela 3.6 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. 42 Tabela 3.7 – Valores de ΔacH obtidos através da aplicação das diferentes formas do método cinético. 43 Tabela 3.8 – Referências utilizadas com o respectivo valor de ∆acH e ∆acG. 45 Tabela 3.9 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o trolox, para cada referência, utilizando o método cinético restrito. 46 Tabela 3.10 – Valores obtidos através da razão das intensidades entre a referência e o trolox. 48 Tabela 3.11 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. 49 Tabela 3.12 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência, a uma determinada frequency Offset. 50 Tabela 3.13 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. 51 xi Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Índice de Tabelas Tabela 3.14 – Valores de ∆acH obtidos através da aplicação das diferentes formas do método cinético. 52 Tabela 3.15 – Referências utilizadas com o respectivo valor de acidez relativa em função do fenol. 54 Tabela 5.1 – Valores de teóricos de ΔacHᵒ, EA e a BDE para o fenol. 63 Tabela 5.2 – Comparação entre os resultados experimentais e teóricos para o fenol. 64 Tabela 5.3 – Valores de afinidade protónica (ΔacHᵒ). 66 Tabela 5.4 - Valores de afinidade electrónica (EA). 67 Tabela 5.5 - Valores da entalpia de dissociação da ligação (BDE). 69 Tabela 6.1 – Comparação entre os resultados experimentais e teóricos para o ácido cafeico 71 Tabela 6.2 - Comparação entre os resultados experimentais e teóricos para o trolox 72 xii Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Índice de Figuras Índice de Figuras Figura 1.1 – Estrutura molecular da quercitina. 3 Figura 1.2 – Estrutura molecular do α-tocoferol. 3 Figura 1.3 – Estrutura do ácido 4-hidroxibenzóico (a), estrutura do ácido 4hidroxicinâmico (b). 4 Figura 1.4 – Estrutura molecular do Ácido Cafeico. 4 Figura 1.5 – Estrutura molecular do Trolox. 4 Figura 1.6 – Gráfico ln [BH+/BiH+] vs ΔH(Bi), que permite a determinação da afinidade protónica do composto desconhecido através do método cinético restrito. 9 Figura 1.7 – 2ª Representação gráfica do método cinético estendido, ΔGapp/RTeff vs 1/RTeff, que permite a determinação da afinidade protónica do composto desconhecido. 10 Figura 1.8 – Diagrama Esquemático de um espectrómetro de massa comum. 12 Figura 1.9 – Diagrama Esquemático de uma fonte de ionização de um electrospray (ESI). 14 Figura 1.10 – Modelo de carga residual. 15 Figura 1.11 – Modelo de evaporação iónica. 15 Figura 1.12 – Representação Esquemática de uma ion trap. 16 Figura 1.13 – Representação Esquemática de um FTICR. 17 Figura 1.14 – Movimentos naturais do ião, onde νm é a frequência do magnetrão, νc é a frequência ciclotrónico e νT é a frequência por aprisionamento. 18 Figura 1.15 – Três forma de aplicar a excitação. Esquerda: aceleração dos iões até uma trajectória espacialmente coerente e detectável. Centro: Aumento da energia cinética acima do limite para a dissociação activada por colisão ou reacção. Direita: ejecção dos iões de uma dada razão massa/carga. 18 xiii Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Índice de Figuras Figura 3.1 – Espectro MS da solução 10-4 de ácido cafeico, obtido em modo negativo. 29 Figura 3.2 – a) Espectro ESI-MS2 do ião do ácido cafeico (m/z 179) à energia de colisão normalizada de 20% b) Espectro ESI-MS3 do fragmento m/z 135 do ácido cafeico à energia de colisão normalizada de 30%. 30 Figura 3.3 – Esquema de fragmentação do ácido cafeico. 30 Figura 3.4 - a) Espectro ESI-MS do heterodímero do ácido cafeico com ácido 2,5dihidróxibenzóico (m/z 333) b) Espectro ESI-MS2 do heterodímero m/z 333 à energia de colisão normalizada de 7,50%. 33 Figura.3.5 - Espectros MS2 dos diferentes heterodímeros formados pelo ácido cafeico e as respectivas referências. 35 Figura 5.1 - Estruturas do ácido cafeico optimizadas. a) Ião/Radical A – desprotonação do grupo fenólico em posição meta. b) Ião/Radical B – desprotonação do grupo fenólico em posição para. c) Ião/Radical C – desprotonação do grupo carboxílico. 64 Figura 5.2 - Estruturas do trolox optimizadas. a) Ião/Radical A – desprotonação do grupo fenólico. b) Ião/Radical B – desprotonação do grupo carboxílico. 65 Figura 5.3 - Estrutura do α-tocoferol optimizada. 65 xiv Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.1. Antioxidantes 1. Introdução 1.1. Antioxidantes Os antioxidantes estão presentes numa grande variedade de alimentos, como as hortaliças, frutas, cereais, ovos, carnes, legumes e frutos secos. O termo antioxidante significa “que inibe os efeitos da oxidação”, foi primeiramente observado por Claude Berthollet em 1797, sendo depois esclarecido por Humphry Davy em 1817.[1] Os antioxidantes impedem o efeito prejudicial dos radicais livres que surgem nas reacções metabólicas do nosso organismo ou que se formam através de factores exógenos, como as radiações ionizantes.[2] O termo radical livre refere-se a um átomo ou molécula altamente reactivo, que contém número impar de electrões na última camada electrónica. É este nãoemparelhamento de electrões na última camada que confere alta reactividade a esses átomos ou moléculas.[3] Os radicais livres (OH, ROO,R) formados numa cadeia de reacções (1-3) são responsáveis por várias doenças crónicas e degenerativas como o Alzheimer, o Parkinson, a diabetes e doenças cardiovasculares.[4, 5] RH → R• R• + O2 → ROO• ROO• + RH → ROOH + R• (1) (2) (3) O stress oxidativo é causado pelo desequilíbrio entre os mecanismos de defesa antioxidante e o aumento da produção de radicais livres.[6] A produção contínua de radicais livres (1-3), durante os processos metabólicos, levou ao desenvolvimento de mecanismos de defesa antioxidante para limitar os níveis intracelulares e impedir a indução de danos. [7] De seguida, vamos apresentar alguns destes mecanismos. Os metais, como o cobre e o ferro, têm um papel importante na formação dos radicais livres, formações essas que são descritas nas reacções de Fenton (4-6) e de HaberWeiss. [8, 9] Fe2+ + O2 → Fe3+ + O2- (4) 2 O2- + 2H+ → O2 + H2O2 (5) Fe2+ + H2O2 → Fe3+ + OH- +OH (6) 1 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.1. Antioxidantes Embora o cobre possa também catalisar as reacções de Haber-Weiss, o ferro é o metal pesado mais abundante no organismo e está biologicamente mais capacitado para catalisar as reacções de oxidação de biomoléculas. Assim, um mecanismo de defesa contra os radicais livres baseia-se na complexação do ferro e do cobre que participam nas reacções em cadeia (4-6).[3] Esta complexação pode ser efectuada por determinados antioxidantes como por exemplo os flavonoides. [10] Grande número de compostos fenólicos (ArOH) desempenham um papel muito importante na intercepção e reacção com os radicais livres (ROO e R), gerados pelo metabolismo celular ou fontes exógenas, a uma taxa mais rápida do que o substrato, neste caso o lípido RH. Desta forma, levam à inactivação dos radicais livres formados na reacção (1) ou nas reacções (2 e 3) do stress oxidativo, iniciação e propagação, respectivamente. Através da transferência do átomo de hidrogénio do grupo fenólico (mecanismo HAT) a estas moléculas, a reacção em cadeia é interrompida. ROO + ArOH → ROOH + ArO (7) R + ArOH → RH + ArO (8) O átomo de hidrogénio activo do antioxidante é capturado pelos radicais livres (ROO e R) com maior facilidade do que dos hidrogénios alílicos das moléculas insaturadas. Assim, formam-se espécies inactivas para a reacção em cadeia e um radical (ArO) procedente do antioxidante. Este radical, estabilizado por ressonância, não tem a capacidade de iniciar ou propagar as reacções oxidativas por ser muito menos reactivo.[2, 5, 11] Será sobre este mecanismo que vai incidir o presente estudo. Finalmente, existem ainda outros antioxidantes cuja acção se manifesta por reparação das lesões causadas pelos radicais.[12] É de realçar a ocorrência de efeitos sinergísticos resultantes da acção de diferentes agentes antioxidantes. 1.1.1. Compostos Fenólicos As propriedades antinflamatórias, antialérgicas, antiosteoporóticas, anticancerígenas e antienvelhecimento dos compostos fenólicos resultam das suas propriedades antioxidantes. A actividade antioxidante dos compostos fenólicos manifesta-se através de vários mecanismos, sendo o mais importante a inactivação de radicais livres e de outras espécies oxidantes. 2 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.1. Antioxidantes Os antioxidantes fenólicos (ArOH) dividem-se em: flavonóides, tocoferóis e ácidos fenólicos. Os flavonóides são constituídos por dois anéis aromáticos (um grupo benzoil e um grupo cinanoil) e uma pirona. A figura 1.1. representa um exemplo de um flavonóide, a quercetina. Figura 1.1 – Estrutura molecular da quercetina. A vitamina E encontra-se em grande quantidade nos lípidos, sabe-se que esta vitamina impede ou minimiza os danos provocados pelos radicais livres, tendo a capacidade de impedir a propagação das reações em cadeia induzidas por esses radicais nas membranas biológicas e na peroxidação lipídica em sistemas biológicos. [12, 13] A vitamina E é constituída por um grupo de oito compostos lipossolúveis que incluem os tocoferóis e tocotrienóis.[14] Podem-se apresentar em quatro formas diferentes α, β, γ e δ-tocoferol (tal como os tocotrienóis), sendo o α-tocoferol (α-TOH – figura 1.2) a forma antioxidante amplamente distribuída nos tecidos e no plasma. In vivo, o radical α-tocopheroxyl (α-TO•) é regenerado por reacção com a vitamina C, de modo a que a reacção em cadeia causada pela peroxidação lipídica seja quebrada e que exista continuamente uma fonte regenerada de α-TOH disponível. O α-TOH reage com os radicais peroxilo mais depressa que os radicais peroxilo reagem com os lipídios (RH).[15] Figura 1.2 – Estrutura molecular do α-tocoferol . Os ácidos fenólicos apresentam um grupo funcional carboxilo e são divididos em duas classes: os ácidos hidroxibenzóicos e os ácidos hidroxicinâmicos.[16] Na figura 1.3, estão representadas duas estruturas químicas pertencentes a cada classe o ácido 4hidroxibenzóico (figura 1.3.a) e o ácido 4-hidroxicinâmico (figura 1.3.b).[17] 3 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.1. Antioxidantes a) b) Figura 1.3 – Estrutura do ácido 4- hidroxibenzóico (a), do ácido 4-hidroxicinâmico (b). Os ácidos hidroxicinâmicos e os seus derivados são ingredientes alimentares bioactivos das plantas, exibindo actividade antioxidante in vitro. O ácido cafeico, ácido 3,4dihidroxicinâmico (figura 1.4), é um antioxidante natural existente no café. Além de actuar como um inibidor cancerígeno, também actua em sinergismo na protecção das células e tecidos, pois foi demonstrado ser um protector do α-tocoferol em lipoproteínas de baixa densidade (LDL).[18, 19] Figura 1.4 – Estrutura molecular do Ácido Cafeico. Os ácidos hidroxibenzóicos são componentes das complexas estruturas dos taninos hidrolisáveis e são menos abundantes nos vegetais consumidos pelos humanos. Assim, têm sido realizados estudos para pesquisar, desenvolver e substituir esses antioxidantes de origem natural por antioxidantes sintéticos, como é o caso do trolox (figura 1.5). O trolox é um antioxidante sintético, que deriva da vitamina E (figura 1.3). Sendo que trolox é o nome comercial para o ácido 6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametiloxano-2-carboxílico.[20] Figura 1.5 – Estrutura molecular do Trolox. Para utilizar os antioxidantes na indústria alimentar e farmacêutica é necessário avaliar a sua actividade antioxidante. O mecanismo antioxidante mais relevante é aquele em que radicais livres são inactivados por doação de um átomo de hidrogénio. A actividade antioxidante está relacionada, portanto, com a energia da ligação O-H que pode determinarse, em fase gasosa, por medição da acidez de fenóis e das afinidades electrónicas dos respectivos radicais fenoxilo. Recorrendo às equações 7 e 8, verifica-se facilmente que 4 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.1. Antioxidantes quanto menor for a energia da ligação O-H, maior será o potencial para neutralizar os radicais livres.[15, 21] Assim, neste trabalho propõe-se a determinação experimental e teórica da acidez, em fase gasosa, de alguns fenóis substituídos, como o trolox, ácido cafeico e a vitamina E, bem como da afinidade electrónica teórica de radicais fenoxilo correspondentes. O objectivo final é a determinação da entalpia de dissociação da ligação O-H, DHᵒ (ArO-H), naqueles compostos. 1.1.2. Entalpia de dissociação da ligação OH em fase gasosa A transferência do átomo de hidrogénio para o radical livre é o mecanismo principal de inactivação dos radicais livres e tem sido associado ao mecanismo (HAT). [22] No entanto este resultado também pode ser conseguido através do mecanismo da perda sequêncial de um protão e de transferência de electrão (mecanismo SPLET) ou pelo o mecanismo da transferência de um electrão seguido pela transferência do protão (mecanismo SET-PT). No mecanismo SPLET, os termos energéticos relevantes são a afinidade protónica do anião fenóxido, ΔHᵒ (ArO-), variação de entalpia da reacção 9, e a afinidade electrónica do radical fenoxílo, EA (ArO). No segundo, o SET-PT, os termos energéticos relevantes são a energia de ionização do composto fenólico, IE (ArOH) e a afinidade protónica do radical fenoxílo, PA (ArO). [23] Neste trabalho, considerou-se o mecanismo SPLET para a determinação de DHᵒ (ArOH). Para essa determinação necessitamos da afinidade protónica do anião fenóxido e da afinidade electrónica da radical fenoxilo como se vê abaixo (9-12). A variação da energia de Gibbs (ΔG°) da reacção (9) é definida como a acidez em fase gasosa de ArOH. Na verdade tanto ΔacHᵒ(ArOH) como ΔacG°(ArOH), que são variações da entalpia e da energia Gibbs da reacção (9), estão relacionadas com a acidez de ArOH e são frequentemente usadas indistintamente na literatura como acidez de ArOH. ArOH → ArO – + H + ΔacHᵒ (ArOH) (9) ArO –→ ArO + e – EA (ArO) (10) IE (H) (11) H + + e – → H ArOH → H + ArO DHᵒ (ArOH) (12) 5 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.1. Antioxidantes Neste ciclo termoquímico de iões negativos, podemos relacionar a entalpia de dissociação da ligação OH (12), DHᵒ(ArOH), em fase gasosa, com os seguintes parâmetros termodinâmicos, a energia de ionização (IE) do átomo de hidrogénio, a afinidade electrónica (EA) do ArO e a afinidade protónica (ΔacHᵒ) de ArO-.[24-27] DHᵒ (ArO-H) = ΔacHᵒ (ArOH) + EA (ArO) – IE (H) (13) A energia de ionização (IE) do átomo de hidrogénio (11) é conhecida, tendo o valor de 1312 kJ/mol. Para determinar a afinidade electrónica (EA) do radical fenoxílo (10) recorrese usualmente à espectroscopia de fotoelectrões de iões negativos [28, 29], mas também pode ser determinada por espectrometria de massa. A entalpia da reacção de desprotonação (ΔacH) do neutro (9) pode ser determinada através da espectrometria de massa.[24] A determinação da entalpia de dissociação da ligação O-H (BDE) em compostos fenólicos estruturalmente diferentes, pode ajudar-nos a compreender como é que a força de ligação O-H e a sua actividade antioxidante são afectadas pela natureza, a posição, e o número de substituintes.[30, 31] Este aspecto é importante na orientação da síntese de novos antioxidantes. Apesar da maioria dos estudos sobre a actividade antioxidante serem realizados em solução, os estudos em fase gasosa são importantes pois permitem-nos explorar a reactividade das moléculas e dos iões sem os efeitos do solvente. Além disso, a diferença que existe entre as entalpias de dissociação da ligação O-H, em fase gasosa e em solução é menor que 5 kJ/mol para um grande número de fenóis substituídos.[32] Anteriormente, neste grupo de investigação, já foram realizados estudos de compostos fenólicos: flavonóides, fenóis dissubstituídos e cromanol, em que se determinou a sua acidez em fase gasosa.[23, 3234] Assim, existem vários métodos para determinar estas grandezas termodinâmicas em fase gasosa, podendo ser utilizados os métodos de equilíbrio, de bracketing ou cinético.[35] O método escolhido para esta determinação foi o último. 6 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.2. Método Cinético de Cooks 1.2. Método Cinético de Cooks O interesse nas propriedades fundamentais e na reactividade dos iões tem aumentado, principalmente nas biomoléculas. De entre os dados termoquímicos que descrevem essas propriedades dos iões salientam-se a basicidade em fase gasosa (GB) e a afinidade protónica (PA). São propriedades intrínsecas por serem determinadas na ausência do solvente.[36-38] GB e PA são definidas como o negativo da variação de energia de Gibbs (ΔGro) e da variação de entalpia (-ΔHro), respectivamente, na seguinte reacção + → GB = - ΔGro PA = - ΔHr0 (14) Estas propriedades começaram por determinadas através do método de bracketing. Considerava-se que as reacções de transferência protónica (PTR) eram exotérmica (ΔGro˂0). Assim, se quisessemos determinar a basicidade do composto B e usassemos duas bases de referência A e C, se a reacção 15 ocorresse + → + (15) + → (16) e a 16 não, obtinhamos um intervalo para o valor de GB(B), isto é, GB(C) ˃ GB(B) ˃ GB(A).[39] Este método ainda é útil quando, por exemplo, as medições de equílibrio da transferência protónica não pode ser aplicada. O método de equilíbrio baseia-se na medição de constantes de equilibrio (Keq) para equações reversíveis de transferência protónica (17).[35, 38] + + (17) Este método é de limitada aplicação, pois não se pode utilizar amostras impuras ou não voláteis, necessitando de instrumentos especializados, enquanto que no método cinético podemos utilizar os espectrómetros de massa comerciais desde que estes sejam capazes de fazer MS2.[40] O método cinético, introduzido por Cooks, começou por ser deduzido para a determinação de basicidade e afinidades protónicas de compostos e portanto apresentaremos essa versão. Este método baseia-se nas velocidades de dissociação competitiva de um heterodímero. Como o formalismo do método foi feito para determinar a basicidade e afinidade protónica de compostos, o heterodímero tem de ser formado por um composto (B), que tem uma basicidade desconhecida (GB), e outro (Bi), que tem uma basicidade conhecida, ligados por um protão (18).[37, 38, 41] 7 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.2. Método Cinético de Cooks + ← … … → + (18) A fragmentação do heterodímero vai originar bases protonadas individuais pela clivagem da ligação de hidrogénio, sendo que o monómero que tiver maior basicidade em fase gasosa vai ficar com o protão. Na equação 18, k e ki são as constantes de velocidade para a dissociação competitiva de um ião comum, o heterodímero, que leva à formação de BH+ e BiH+, respectivamente.[35] Considerando a teoria das velocidades absolutas[42], pode relacionar-se as constantes de velocidade com as grandezas termodinâmicas de interesse. Assim estabelece-se o formalismo do método, onde o logaritmo da razão das constantes de velocidade pode ser expresso em [35, 43] = ln ≈ + ∆ (19) !"## onde Q≠ e Qi≠ são as funções de partição do estado de transição dos dois canais de dissociação, termo ∆$% é a diferença entre as energias de activação para os dois canais de dissociação e o termo Teff é a temperatura efectiva. Existe uma discussão contínua em volta do termo Teff, pois apesar de ser chamada uma temperatura, não é uma verdadeira temperatura termodinâmica, pois depende não só da energia interna do sistema como também depende das condições experimentais no espectrómetro de massa.[44, 45] Apesar disso, este termo contínua a ser utilizado, pois representa a temperatura da fracção de iões heterodímeros activados, que sofrem fragmentações competitivas na janela de tempo dos instrumentos.[40, 46] Na sua forma mais simples, o método cinético é baseado num conjunto de condições experimentais: Não existam energias de activação das reacções inversas (ou a diferença entre ela é desprezável); Não existam reacções competitivas; Ambos os compostos, B e Bi, sejam estruturalmente semelhantes (Δ(ΔS) = 0); Não ocorram formas isoméricas do heterodímero.[35, 38, 47] Não existindo energias de activação das reacções inversas, o termo ln(Q≠/Qi≠) é o equivalente à variação de entropia, Δ(ΔS), entre os dois canais de dissociação e o termo ∆$% pode ser substituido por Δ(ΔH). Desta forma, convertemos a equação 19 em 8 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.2. Método Cinético de Cooks = = − ∆'∆() + ∆'∆) !"## = − ∆'∆() + ∆') !"## − ∆' ) !"## (20) Onde é ∆H(Bi) são as afinidades protónicas conhecidas, ∆H(B) é a afinidade protónica (PA) do desconhecido e Teff é a temperatura efectiva. Se ambas as espécies (a referência e a desconhecida) forem estruturalmente semelhantes, o termo entrópico, Δ(ΔS), pode ser cancelado. Logo, se o termo Δ(ΔS) for igual a zero, então Δ(ΔH) vai ser igual a Δ(ΔG). E assim, chegamos à forma restrita do método cinético (21), que relaciona a razão das abundâncias iónicas com a variação das afinidades protónicas (ΔPA = Δ(ΔH)). = = ∆'∆) !"## = ∆'∆*) (21) !"## Traçando um gráfico de ln [BH+/BiH+] vs PA(Bi), Bi conjunto de referências, vamos obter uma relação linear + ,' ) ,' ) - = ./'0) + 1 (22) onde o declive (m) vai ser de - 1/RTeff e a intercepção (b) vai ser PA(B)/RTeff (figura 1.6).[35, 47] Assim, podemos determinar o valor da afinidade protónica, PA(B)= ΔH(B), do composto desconhecido (B). ln[BH+/BiH+] 1 0 1373 -1 PA(Bi) 1378 1383 1388 1393 -2 -3 -4 + + Figura 1.6 – Gráfico ln [BH /BiH ] vs ΔH(Bi), que permite a determinação da afinidade protónica do composto desconhecido através do método cinético restrito. Quando os compostos de referência (Bi) escolhidos são estruturalmente diferentes do composto desconhecido (B), o termo entrópico (Δ(ΔS)) não desprezável e a aproximação usada na versão restrita do método não é válida. Nesta situação, para determinarmos estas grandezas termodinâmicas, temos de aplicar o método cinético estendido (20). Para tal, 9 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.2. Método Cinético de Cooks define-se uma basicidade aparente, ∆Gapp, para o composto desconhecido (23). Reconhecese que o termo entálpico ΔH(B)/RTeff = PA(B)/RTeff resultante do gráfico da Figura 1.6 não é realmente uma entalpia mas uma energia de energia de Gibbs visto que o termo entrópico não é desprezável. Considerando ∆*233 ') !"## = ∆') !"## − ∆'∆() (23) Para se obter um verdadeiro valor de ΔH(B), a partir da equação 23, fez-se uma representação gráfica de ∆Gapp(B)/RTeff vs 1/RTeff. Primeiramente, através de um conjunto de gráficos, do tipo do gráfico 1.6, conseguímos obter os vários valores de basicidade aparente (∆Gapp(B)) com várias temperaturas efectivas (Teff) associadas. Para tal, foi necessário realizar uma série de experiências em diferentes condições, como por exemplo, a diferentes energias de colisão para termos diferentes Teff. Um segundo gráfico, ∆Gapp(B)/RTeff vs 1/RTeff, é construído a partir do negativo os declives (m) vs as intercepções (b), que resultaram do primeiro gráfico (figura 1.6). O valor de afinidade protónica do desconhecido, ∆H(B), correspondem ao declive, m’ (figura 1.7). A variação de entropia, Δ(ΔS), vai ser obtida através do valor da ordenada na origem (b’) da mesma figura. [47] 450 ∆Gapp/RTeff 425 400 375 350 325 300 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 1/RTeff Figura 1.7 – 2ª Representação gráfica do método cinético estendido, ΔGapp/RTeff vs 1/RTeff, que permite a determinação da afinidade protónica do composto desconhecido. O método cinético tem-se mostrado uma alternativa ao método de equilíbrio e de bracketing na determinação de um grande número de grandezas termoquímicas em fase gasosa como a acidez, basicidade, energia de ionização, afinidades protónica e electrónica, 10 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.2. Método Cinético de Cooks bem como a afinidade para iões metálicos. Para cada caso o formalismo tem sofrido as adaptações necessárias. Este método tem sido bastante utilizado, pois: é sensível a pequenas variações nos valores termodinâmicos. pode ser aplicado em qualquer espectrómetro de massa com capacidade de realizar experiências de espectrometria de massa tandem.[35] pode ser aplicado a compostos não-voláteis e termicamente instáveis. Neste trabalho, como se utiliza um ciclo termoquímico de iões negativos (13) necessitamos do valor da acidez em fase gasosa (∆acH), para determinar a energia de dissociação de ligação OH (12), que é decisivo para conhecer o valor da acidez dos compostos fenólicos e relacionar-lo com a sua função antioxidante.[15, 24] Assim, o heterodímero é constituído a partir de um composto fenólico que tem uma acidez desconhecida (ArOH) e outro que tem uma acidez conhecida (RH).[23, 33, 34] 45 + 0 6 ←45 … … 06 → 456 + 0 (24) A acidez em fase gasosa de ArOH, ΔacG(ArOH) e afinidade protónica de ArO-, ΔacH(ArO-), podem ser obtidas experimentalmente através da aplicação do método cinético recorrendo à espectrometria de massa tandem (MS/MS). 11 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa 1.3. Espectrometria de Massa A espectrometria de massa é uma técnica que envolve a produção de iões em fase gasosa a partir dos compostos a analisar, sendo depois separados de acordo com a sua razão massa/carga (m/z). Esta análise pode fornecer-nos informação qualitativa, estrutural e quantitativa sobre as moléculas de analito.[48] Os espectrómetros de massa, em geral, são constituídos pelo sistema de introdução de amostra, fonte de ionização, analisador de massa e detector (Figura 1.8).[49] Fonte de Ionização Analisador Sistema de Introdução da Amostra Detector Sistema de dados (Tratamento de dados) Figura 1.8 – Diagrama esquemático de um espectrómetro de massa comum. O aparelho é mantido sob vácuo de modo a aumentar o número de iões que conseguem atravessar o instrumento sem qualquer interferência.[50] No esquema da figura 1.8, a fonte está incluída no sistema de vácuo mas isso não acontece nas técnicas de ionização que operam à pressão atmosférica, como por exemplo ESI, APCI e APPI. Os iões produzidos na fonte de ionização são transferidos posteriormente para o analisador do espectrómetro de massa onde são separados de acordo com m/z.[51] Existem vários tipos de analisadores de massa: • quadrupolo (englobando os quadrupolos simples e triplos)[52]; • ion trap[53]; • orbitrap[54]; • sectores (magnético e electrostático)[50]; • tempo de vôo (TOF); • ressonância ciclotrónica de iões com transformada de Fourier (FTICR)[49]. 12 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa O detector é o último elemento do espectrómetro de massa e consiste geralmente num multiplicador de electrões. 1.3.1. Ionização Existem vários métodos de ionização, sendo que os mais utilizados são a ionização electrónica (EI), a ionização química (CI), a ionização por electrospray (ESI), a ionização química à pressão atmosférica (APCI), o bombardeamento com átomos/iões rápidos (FAB) e a ionização/desadsorção laser assistida por matriz (MALDI).[51, 55] Para cada amostra e tipo de estudo existe um método de ionização adequado, onde o sistema de introdução da amostra pode variar. [56] 1.3.1.1. Ionização por Electrospray A ionização por electrospray (ESI) é uma técnica de ionização suave que permite a preservação, em fase gasosa, das interacções não-colaventes entre moléculas que existem em solução.[57] Existem quatro tipos normalmente referidos de interações não-covalentes que são as ligações de hidrogénio, as ligações iónicas, as forças de van der Waals e as interações hidrofóbicas. Neste trabalho a técnica de ionização utilizada foi o electrospray (ES), pois esta técnica permite estudar um heterodímero, que se trata de um ião constituido por dois aniões resultantes de compostos diferentes, neste caso, do composto em estudo e da referência ligados por um protão.[33] A ESI distingue-se por: • Ter a capacidade de produzir iões multiplamente carregados com um número de carga elevado, reduzindo a razão m/z, tornando possível analisar compostos de elevada massa molecular, mesmo em espectrómetros de massa com um mass range limitado. • As amostras a analisar devem ser introduzidas em solução, o que faz com que seja possível o acoplamento com muitas técnicas de separação. • Como a técnica de ionização é suave permite que as interacções não-colaventes entre moléculas que existem em solução sejam preservadas em fase gasosa.[58] 13 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa A ionização por electrospray (ESI) é compatível com todos os tipos de cromatografia, mas neste estudo não foi necessário aplicar uma técnica hifenada, fazendo-se a injecção directa da solução em estudo. No caso da ionização por electrospray (ESI), a fonte encontra-se à pressão atmosférica e a evaporação do solvente é potenciada por um fluxo contra corrente de um gás (azoto). Os iões gerados à pressão atmosférica são depois transferidos para o analisador de massa que se encontra em vácuo.[59] A produção de iões em electrospray divide-se essencialmente em dois passos, na dispersão de gotas altamente carregadas e na evaporação da gota. Inicialmente, a amostra é introduzida em solução através de um capilar de aço inoxidável. A ponta do capilar, onde o analíto em solução é introduzido e pulverizado, é mantido a um potencial relativamente elevado em relação a um contra-eléctrodo, levando à formação de gotas pequenas e altamente carregadas (figura 1.9). Posteriormente, as moléculas do analíto são separadas do solvente, na forma de iões.[57, 59, 60] Figura 1.9 – Diagrama esquemático de uma fonte de ionização de um electrospray (ESI). A formação de iões é provavelmente a parte menos compreendida do processo de electrospray.[59] Existem alguns modelos propostos para a formação de iões, sendo os principais o modelo de carga residual e modelo de evaporação iónica.[59, 61] No modelo de carga residual, os iões são formados a partir de gotas carregadas, este modelo envolve três passos: (1) a densidade de carga aumenta com a evaporação do solvente, levando (2) a que as forças de repulsivas de Coulomb entre as cargas superficiais 14 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa ultrapassem a tensão superficial, originando (3) a divisão da gota inicial. Este processo continua até que cada gota contenha apenas uma única molécula, que terá parte da carga inicial, formando os iões (figura 1.10). Figura 1.10 – Modelo de carga residual. No modelo de evaporação iónica, os iões formam-se em três passos: (1) a dispersão de um spray fino de gotículas carregadas, seguidas pela (2) a evaporação do solvente e (3) a ejecção de iões a partir das gotículas altamente carregadas. Este mecanismo foi aplicado por Fenn (figura 1.11). Figura 1.11 – Modelo de evaporação iónica. Assim, a solução que emerge do capilar é dispersa num aerossol com gotículas carregadas por acção do campo eléctrico acima referido e de um gás nebulizador (azoto). As gotículas diminuem a sua dimensão através da evaporação assistida pelo gás de secagem ou contra-corrente. Sendo a amostra convertida maioritariamente em iões livres de solvente. Os iões passam por um skimmer(s) para uma zona de pressão inferior à pressão atmosférica. O(s) skimmer(s) são cone(s) com um orifício pequeno (figura 1.9), que permitem estabelecer um gradiente de pressão entre a fonte iónica e o analisador.[59] O skimmer actua também como um separador de momento, separando os iões amostra, mais pesados, das moléculas, mais leves, do solvente e do gás. Posteriormente, os iões são transferidos para o analisador onde são medidas as razões m/z. 1.3.2. Analisador Os analisadores utilizados neste estudo foram a ion trap e o FTICR (Ressonância Ciclotrónica de Iões com Transformada de Fourier). 15 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa 1.3.2.1. Ion trap A ion trap é constituída por três eléctrodos aos quais são aplicados potenciais, formando uma rede de captura que aprisiona as partículas carregadas ou os iões gasosos. Dois desses eléctrodos são os eléctrodos endcap, que apresentam uma geometria hiperbólica (figura 1.12). Um dos eléctrodos endcap tem pequenos orifícios através dos quais os iões passam periodicamente para o analisar, enquanto que o outro tem vários orifícios pequenos que estão dispostos centralmente e pelos quais os iões passam em direcção ao detector. O terceiro eléctrodo é um eléctrodo anelar, que está posicionado entre os dois eléctrodos endcap.[62, 63] Figura 1.12 – Representação esquemática de uma ion trap. Assim, os iões produzidos na fonte entram na ion trap, onde são aplicadas várias voltagens entre os eléctrodos, de modo a aprisionar e ejectar os iões de acordo com as suas razões massa/carga (m/z).[49] As voltagens aplicadas têm duas componentes, a corrente alterna (AC) e as radiofrequências (rf). Ao entrarem num campo eléctrico, os iões oscilam e, a uma determinada radiofrequência, os iões de uma determinada massa estão num estado de oscilação que os leva a descrever uma trajectória estável que lhes permite atravessar a ion trap e chegar ao detector. Dentro destas condições nem todas as massas alcançam um estado de oscilação que lhe permita ter uma trajectória estável, ficando retidas nas paredes da ion trap, permitindo que haja separação de massas.[51, 53, 62] A voltagem da AC é alterada para variar a resolução. Se a voltagem AC estiver desligada, a ion trap opera apenas em modo rf.[52] Neste caso, a ion trap não está a ser 16 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa utilizada como analisador, mas antes como célula de colisão, permitindo a execução de espectrometria de massa tandem.[53, 64] 1.3.2.2. FTICR O FTICR (Ressonância Ciclotrónica de Iões com Transformada de Fourier) envolve a acção simultânea do campo eléctrico e magnético para confinar os iões numa região finita do espaço e aí os analisar e detectar. Toda a experiencia de FTICR ocorre numa célula de confinamento de iões formada por três pares de pratos em oposição que têm funções específicas de confinamento, excitação e detecção dos iões a serem analisados (figura 1.13).[49, 65, 66] Figura 1.13 – Representação esquemática de um FTICR. A célula está colocada na zona homogénea do campo magnético confinando cada ião radialmente, obrigando-o a descrever um movimento ciclotrónico com uma frequência que é função da respectiva razão massa/carga, enquanto o campo eléctrico gerado por um potencial electrostático é aplicado nos pratos de confinamento mantendo o ião num fosso de potencial na direcção de z, que corresponde ao campo magnético da figura 1.13.[46, 67] Os três movimentos naturais do ião são o movimento ciclotrónico, o movimento do magnetrão e a movimento por aprisionamento (figura 1.14). No entanto, as frequências do magnetrão e do movimento por aprisionamento são muito mais baixas que as frequências ciclotrónicas, não sendo geralmente detectadas.[65, 67] 17 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa Figura 1.14 – Movimentos naturais do ião, onde νm é a frequência do magnetrão, νc é a frequência ciclotrónico e νT é a frequência por aprisionamento. O movimento ciclotrónico só por si não é muito útil. Deste modo, todas as aplicações se baseiam na excitação por aplicação de um campo eléctrico espacialmente uniforme com frequência igual, ou próxima, à frequência ciclotrónica dos iões de uma dada razão massa/carga. A excitação em FTICR é usada de três formas (figura 1.15): • para acelerar coerentemente os iões até trajectórias com raios maiores, tornando possível a sua detecção; • para aumentar a energia cinética do ião acima do limite de dissociação iónica e/ou para a reacção ião-molécula; • para acelerar os iões até trajectórias com raio superior ao raio da célula de modo a removê-los (ejecção).[46, 67, 68] Figura 1.15 – Três forma de aplicar a excitação. Esquerda: aceleração dos iões até uma trajectória espacialmente coerente e detectável. Centro: Aumento da energia cinética acima do limite para a dissociação activada por colisão ou reacção. Direita: ejecção dos iões de uma dada razão massa/carga. Desta forma, os iões presentes na célula, são sujeitos a um campo eléctrico oscilante de radiofrequências (rf), transmitido através dos pratos de excitação. Quando as radiofrequências entram em ressonância com as frequências de ciclotrão dos iões, há absorção de energia que obriga os iões a deslocarem-se para uma órbita com maior raio, aproximando-se dos pratos de detecção, induzindo aí uma corrente.[65, 67] Essa corrente é 18 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa uma sobreposição das frequências de ciclotrão dos diferentes iões sujeitos a excitação, com amplitudes que são proporcionais ao número de iões. O sinal trasiente é convertido numa voltagem, digitalizado e sujeito a uma transformada de Fourier, a qual revela as frequências e intensidades que são depois convertidas em massas e abundâncias iónicas (figura 1.13).[65, 69] O FTICR-MS foi acoplado a todos os tipos de fontes iónicas, onde se observou que a maioria funcionava melhor fora do campo magnético. Assim, foram desenvolvidos vários métodos para conduzir os iões, gerados externamente, para a célula. Tal como na ion trap é possível realizar experiências de espectrometria de massa tandem, na célula do ICR.[46, 70] Como pudemos observar ambos usaram a mesma técnica de ionização, sendo ela, o electrospray (ES). A distinção entre os dois espectrómetros, foi o analisador, sendo que um tinha a ion trap e o outro o FTICR. Apesar dos dois analisadores serem diferentes, ambos são capazes de funcionar como câmaras de colisão permitindo realizar espectrometria de massa tandem, que foi vital para efectuarmos a determinação experimental dos parâmetros termoquímicos, em fase gasosa, descritos em capítulos anteriores. 1.3.3. Detectores O detector é o último elemento do espectrómetro de massa, onde se converte a corrente iónica em electrões ou fotões. Existem vários tipos de detectores, sendo um dos mais comuns o multiplicador electrónico ou o fotomultiplicador.[48] O detector da ion trap utilizada neste trabalho é um multiplicador de electrões.[71] O multiplicador de electrões utiliza uma tensão de aceleração sobre os iões levando-os a embater num dínodo de conversão produzindo uma emissão secundária de electrões, que sofre multiplicação por embate nos estágios seguintes do multiplicador. A corrente iónica é, assim, convertida em corrente eléctrica que é amplificada e susceptível de ser medida. 1.3.4. Espectrometria de massa tandem com dissociação induzida por colisão (CID) A espectrometria de massa tandem consiste na activação de um ião primário, “ião percursor”, que é dissociado ou reage, dando origem a um ião ou mais iões secundário que são analisados, “iões produto”. Para realizar espectrometria de massa tandem, um 19 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 1. Introdução 1.3. Espectrometria de Massa espectrómetro de massa deve ser constituído, normalmente, por dois ou mais analisadores. No primeiro analisador, selecciona-se e isola-se um ião com uma razão m/z, que é transferido para uma câmara de colisões onde é excitado e sofre posterior fragmentação. A fragmentação é realizada habitualmente através de dissociação induzida por colisão (CID) com um gás. Seguidamente, faz-se a análise de massa dos iões fragmento num segundo analisador de massa.[49, 72, 73] Neste trabalho experimental, utilizaram-se equipamentos com um único analisador, uma ion trap e um FTICR, que pode funcionar como célula de colisões e realizar várias análises de massa sucessivas. Estes passos ocorrem com separação temporal. Na ion trap, a CID é realizada, geralmente, na própria ion trap que funciona como câmara de colisões, onde um gás inerte (hélio ou outro) presente na célula de colisão, bombardeia os iões seleccionados da amostra, causando a sua fragmentação. No FTICR, a CID é realizada, geralmente, na célula do ICR funcionado como câmara de colisões colidindo com um gás, onde é aplicada uma frequência que vai excitar os iões seleccionados, causando a sua fragmentação. A CID de uma espécie iónica isolada, tanto na ion trap como no FTICR, é uma técnica poderosa para a determinação da estrutura de iões.[73] No entanto, neste estudo, esta técnica, CID, irá permitir o estudo da decomposição do heterodímero, para aplicação do método cinético.[23, 34] Uma das vantagens da espectrometria de massa tandem é que podemos utilizar compostos sem purificação prévia, pois podemos selecionar e isolar o ião de interesse. Como foi referido anteriormente, para além da determinação experimental da acidez em fase gasosa de alguns fenóis substituídos, também se fez o estudo teórico desses mesmos compostos. A termoquímica de fase gasosa utiliza os cálculos teóricos na confirmação dos valores obtidos e também na informação estrutural que é dificilmente obtida por espectrometria de massa. O objectivo final é determinar da entalpia de dissociação da ligação O-H, DHᵒ (ArO-H), nesses mesmos compostos. Assim, este estudo vai dividir-se em duas partes, num estudo da acidez e num estudo das afinidades electrónicas. O estudo teórico da acidez vai complementar o trabalho experimental, pois vamos obter um valor que deve confirmar o valor obtido experimentalmente, para além de esclarecer o grupo funcional em que ocorre a desprotonação. O estudo teórico das afinidades electrónicas foi feito apenas teóricamente, dada a dificuldade de o obter experimentalmente. 20 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.1 Reagentes 2. Parte Experimental 2.1. Reagentes Os compostos em estudo foram o 3-(3,4-Dihydroxyphenyl)propenoic acid (ácido cafeico) e o (±)-6-Hydroxy-2,5,7,8-tetramethylchromane-2-carboxylic acid (trolox), que foram obtidos na Sigma-Aldrich e utilizado sem purificação prévia. Também o α,α,α-tocopherol (vitamina E), obtido na Acros Organics, foi objecto de estudo e utilizado sem purificação prévia. As principais características dos compostos em estudo encontram-se descritas na tabela seguinte (tabela 2.1). O solvente escolhido foi o metanol, obtido no VWR com uma pureza de 99,8%. A selecção do solvente é importante, pois tem que ser capaz de dissolver a amostra completamente, caso contrário, a amostra pode precipitar e bloquear o capilar da fonte de ionização utilizada. Tabela 2.1 – Características dos compostos em estudo. Composto Fórmula estrutural Fornecido Massa Razão m/z da por (grau Molecular molécula de pureza) (Da) desprotonada [R-] 250,29 249 180, 16 179 430,71 429 SigmaTrolox Aldrich (C14H18O4) (97,0%) Ácido Sigma- Cafeico Aldrich (C9H8O4) (98,0%) α,α,α- Acros tocopherol Organics (C29H50O2) (98,0%) Os compostos utilizados como referências para este estudo foram o fenol, o 4fluorofenol, o 4-clorofenol, o ácido benzóico, o 3-(Trifluorometil)fenol, o 4- (Trifluorometil)fenol, o ácido nicotínico, a 4-hidroxiacetofenona, o ácido 4-hidroxibenzóico, o 4-hidroxibenzoato de metilo, o ácido 4-cianobenzóico, o ácido 2-hidroxibenzóico, o ácido 21 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.1. Reagentes 2,5-dihidroxobenzóico, o ácido 2,4,6-trihidroxiacetofenona e o ácido pícrico. Estas referências foram obtidas de diferentes fornecedores (tabela 2.2), tendo sido utilizadas sem qualquer purificação. Tabela 2.2– Características dos compostos de referência utilizadas neste estudo. Compostos de Referência Fornecido por Massa (grau de Molecular pureza) (Da) Fórmula ∆acH ∆acG (kJ/mol) (kJ/mol) 122,16 1467 1436 108,14 1465 1437 221,13 1465 1434 122,16 1463 1435 154,16 1462 1431 94,11 1462 1431 112,10 1451 1422 128,56 1435 1407 estrutural 3,4-Dimetilfenol Sigma-Aldrich (C8H10O) (98,0%) 4-Metilfenol Sigma-Aldrich (C7H8O) (98,0%) Cromanol Sigma-Aldrich (C14H20O) (99,0%) 4-Etilfenol Sigma-Aldrich (C8H10O) (98,0%) 3,4Sigma-Aldrich Dimetóxidofenol (98,0%) (C8H10O3) Fenol Sigma-Aldrich (C6H6O) (98,0%) 4-Fluorofenol Sigma-Aldrich (C6H5OF) (99,0%) 4-Clorofenol Sigma-Aldrich (C6H5OCl) (99,0%) 22 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.1. Reagentes Tabela 2.2 – Continuação das características dos compostos de referência utilizadas neste estudo. Composto de Referência Fornecido por Massa (grau de Molecular pureza) (Da) Fórmula ∆acH ∆acG (kJ/mol) (kJ/mol) 162,11 1419 1391 152,15 1410 1382 162,11 1410 1381 138,12 1405 1376 136,15 1404 1375 123,15 1399 1370 147,13 1372* 1342 138,12 1362 1330 154,12 1360* 1329 estrutural 3-(Trifluorometil) Sigma-Aldrich fenol (99,0%) (C7H5F3O) 4-Hidroxibenzoato Panrec de metilo (C8H8O3) (99,8%) 4-(Trifluorometil) Sigma-Aldrich fenol (99,0%) (C7H5F3O) Ácido 4Acros Organics hidroxibenzóico (99,8%) (C7H6O3) 4-hidroxiAcros Organics acetofenona (99,8%) (C8H8O2) Ácido Nicotínico Acros Organics (C6H5NO2) (99,8%) Ácido 4Acros Organics cianobenzóico (99,0%) (C8H5NO2) Ácido 2Sigma-Aldrich hidroxibenzóico (99,0%) (C7H6O3) Ácido 2,5Fluka dihidroxibenzóico (98,0%) (C7H6O4) * Valores calculados utilizando uma relação da literatura. [23] 23 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.2. Procedimento Experimental Tabela 2.2 – Continuação das características dos compostos de referência utilizadas neste estudo. Composto de Referência Fornecido por Massa (grau de Molecular pureza) (Da) Fórmula ∆acH ∆acG (kJ/mol) (kJ/mol) 154,12 1360* 1329 212,07 1354 1325 168,15 1353 1324 229,10 1298 1267 estrutural Ácido 2,5Fluka dihidroxibenzóico (98,0%) (C7H6O4) Ácido pentafluoro Sigma-Aldrich Benzóico (99,0%) (C8H8O4) Ácido 2,4,6Acros Organics trihidroxibenzóico (98,0%) (C8H8O4) Ácido Pícrico Sigma-Aldrich (C6H3N3O7) (99,0%) * Valores calculados utilizando uma relação da literatura. [23] 2.2. Procedimento Experimental 2.2.1. Preparação das soluções Neste estudo de compostos fenólicos em fase gasosa recorreu-se ao uso de soluções com concentração de 10-4 M. Para tal, começou-se por pesar o composto em estudo (por exemplo 0,02519g de trolox, ou 0,01801g de ácido cafeico ou 0,04301g de vitamina E) numa balança Sartorius CP225D, que foi dissolvido em 1000 µl de metanol, originando uma solução de 10-1 M. Essa solução sofreu diluições sucessivas até originar uma solução de 10-3 M. Para a preparação da referência utilizou-se o mesmo método, alterando-se apenas a massa de composto de acordo com a referência a utilizar. Deste modo, preparou-se uma solução de 10-3 M do composto em estudo e da referência. De seguida, retirou-se uma alíquota de 100 µl de cada solução, que se juntaram, formando uma solução com 200 µl que foi completa com metanol para originar uma solução de 1000 µl com uma concentração da ordem dos 10-4 M. 24 Correlação da função antioxidante a com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.2. Procedimento Experimental Depois de preparadas as soluções, introduziram-se no espectrómetro de massa com o fim de serem analisadas. 2.2.2. Condições Experimentais para aplicação do Método Cinético Quando introduzimos a solução no espectrómetro temos de selecionar as condições experimentais de modo observar os iões na forma aniónica ou catiónica. Para estudar a acidez necessitamos que se formem aniões, para tal o modo que vai se empregue neste estudo vai ser o modo negativo. Com este modo, é possível observar os aniões resultantes da dissociação do ácido em estudo, originando o ião do ácido (AcO-) e o protão (H+), isto é, 75 → 756 + (25) Após as soluções serem preparadas, contendo o composto em estudo e uma referência, injectaram-se directamente no espectrómetro de massa, através de uma bomba de seringa (a velocidade constante de 5 µl/min). Os espectrómetros de massa utilizados para aplicar o método cinético foram o LCQ Duo Thermoquest da Finnigan e o FTICR (Ressonância Ciclotrónica de Iões com Transformada de Fourier) da Bruker Daltonic. O LCQ Duo Thermoquest da Finnigan é constituído por um analisador de massa ion trap e equipado com uma fonte de ionização electrospray, estando acoplado a um computador equipado com o software Xcalibur, que permite o controlo do aparelho e a aquisição, armazenamento e processamento de dados.[71] Neste espectrómetro de massa, foi aplicado o método cinético restrito e o método cinético estendido. Para aplicar o método cinético, todos os parâmetros do espectrómetro de massa foram optimizados para cada experiência para melhorar as razões sinal/ruído para os iões de interesse. Assim, houve parâmetros que se mantiveram constantes em todas as experiências como a voltagem aplicada ao spray na fonte que foi de 4,5 kV e a temperatura que foi de 200ᵒC. De modo a maximizar a abundância do heterodímero, optimizou-se a voltagem aplicada no capilar e no tube lens offset. O gás nebulizador e o gás auxiliar utilizado foi em ambos os casos o azoto. A pressão medida durante as experiências no skimmer foi de 1,21 Torr e a pressão no ion trap com a adição de hélio foi de 2,33x10-5 Torr. Fez-se um estudo do comportamento dos compostos em estudo (trolox, ácido cafeico e α-tocoferol) em modo negativo e positivo, observando os iões mais abundantes 25 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.2. Procedimento Experimental em cada caso. Também se fez um estudo da concentração e do solvente a utilizar, para obter o melhor sinal para os iões em estudo. Finalmente, fez-se a determinação da acidez em fase gasosa dos mesmos compostos em modo negativo, logo na sua forma aniónica. Para tal, variaram-se as energias de colisão aplicadas, após isolarmos o ião heterodímero. Variaram-se as energias de colisão normalizada no intervalo de 5 a 20%, tendo sido feito em média 5 ensaios a cada energia de colisão normalizada.[74] Como se pode observar, estas energias de colisão normalizadas (NCE) vêm expressas em percentagem, logo têm de ser transformadas em voltagens pico a pico (Vp-p), através da seguinte equação :;< 8969 = =% × ? × '.⁄@) + 1 (26) Onde m/z é a razão massa/carga, a e b são pârametros experimentais.[75, 76] O FTICR tem a capacidade de aplicar dois métodos de ionização distintos, a ionização por electrospray (ES) e por MALDI (Ionização/ Desadsorpção da Matrix Assistida por Laser), sendo que nesta experiência utilizou-se a ionização por electrospray (ES). O analisador de massa deste espectrómetro é a célula de ICR (Ressonância Ciclotrónica de Iões), onde foram realizadas as experiências de SORI-CID (Irradiação Fora de Ressonância Sustentada Dissociação Induzida por Colisão). O FTICR-MS está acoplado a um computador equipado com o software Apex , que permite o controlo do aparelho e a aquisição, armazenamento e processamento de dados.[77] Neste espectrómetro de massa, foi realizado apenas o método cinético estendido. Todos os parâmetros do FTICR-MS foram optimizados para cada experiência de modo a melhorar as razões sinal/ruído para os iões de interesse. Assim, houve parâmetros que se mantiveram constantes em todas as experiências como as voltagens aplicada no capilar que foram de 4,5 / 4 kV e a temperatura do gás de secagem que foi de 200ᵒC. Mas para aplicar o método cinético estendido e maximizar a abundância do heterodímero foi necessário alterar certos parâmetros. Para aplicar o método cinético estendido na célula de ICR, foram realizadas as experiências de SORI-CID (Irradiação Fora de Ressonância Sustentada Dissociação Induzida por Colisão). No SORI, o ião percursor (o ião heterodímero) é excitado a uma frequência ligeiramente superior à sua frequência ciclotrónica. Deste modo, os iões sofrem múltiplos ciclos de aceleração/desacelaração, que dão origem a um grande número de colisões com o gás inerte, o Argon. Este fenómeno, faz com que o ião percursor (o ião 26 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 2. Parte Experimental 2.2. Procedimento Experimental heterodímero) absorva cada vez mais energia, até causar sua dissociação e formar os iões produto. Para tal, tem que se alterar certos parâmetros.[77, 78] Primeiramente, tem-se de ajustar a pressão do gás de colisões através de um conjunto de válvulas, até chegar aos 8 mbar de pressão. Depois, fez-se o isolamento do ião na célula de ICR. Ao isolarmos o ião na célula de ICR, vão aparecer novos parâmetros que têm de ser optimizados. Finalmente, fragmenta-se o ião seleccionado através do SORI-CID, sendo necessário ajustar parâmetros como a frequency offset, a duração do pulso rf e a potência de SORI a aplicar. Ao utilizar diferentes valores para frequency offset e a potência de SORI, vamos influenciar a oscilação do ião. Variou-se a frequency offset de 0Hz a 300Hz e a variou-se a potência de SORI de 0 a 0,03 %. 27 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1. Ácido Cafeico 3.1.1. Aplicação do Método Cinético Restrito Inicialmente, o ácido cafeico (figura 1.4), foi analisado em modo negativo, para se observar o ião correspondente ao ácido cafeico desprotonado (ACa-) de m/z de 179. ? → ?6 + (27) Ao introduzir a amostra no espectrómetro de massa obteve-se o seguinte espectro (figura 3.1), onde se pode verificar que o ião mais abundante é o ácido cafeico desprotonado (m/z 179). -4 Figura 3.1 - Espectro MS da solução 10 M de ácido cafeico, obtido em modo negativo. Para além do ião do ácido cafeico (m/z 179), também podemos observar o ião homodímero do ácido cafeico (m/z 359) e um ião de m/z 135 que corresponde a um fragmento do ácido cafeico. Tendo o ião do ácido cafeico (m/z 179) com uma intensidade relativa elevada, fez-se o seu isolamento, seguido de uma dissociação induzida por colisão (CID), obtendo-se os iões mais característicos da sua fragmentação (figura 3.2). Nesta análise verificou-se que o ião do ácido cafeico (m/z 179) perde uma massa de 44 Da (perda do grupo carbonilo) originando um fragmento de m/z 135. Posteriormente, ainda se fez um MS3 ao 29 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico ião de m/z 135, queoriginou dois fragmentos que correspondem à perda de 18 Da (uma molécula de água) e à perda de 28 Da (C2H4) (Figura 3.3). Para ter a certeza desta fragmentação teria de se recorrer à determiação de massas exactas. 2 Figura 3.2 - a) Espectro ESI-MS do ião do ácido cafeico (m/z 179) à energia de colisão normalizada de 20% b) 3 Espectro ESI-MS do fragmento m/z 135 do ácido cafeico à energia de colisão normalizada de 30%. OH O - 44 Da O OH (CO2) OH O m/z 135 m/z 179 - 28 Da - 18 Da (H2O) (C2H4) O O OH m/ z 117 m/ z 107 Figura 3.3 – Esquema de fragmentação do ácido cafeico. 30 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico Após o estudo referido passou-se à determinação da acidez em fase gasosa do ácido cafeico. Para essa determinação, utilizou-se o método cinético restrito, onde se associou o ácido cafeico com vários compostos de referência (tabela 3.1), que têm uma acidez conhecida para formar um heterodímero, que é constituído pelo anião ácido cafeico e o anião de um dos compostos de referência ligados por um protão. Assim, espera-se que apareçam três iões no espectro de massa MS2 do heterodímero, o heterodímero e cada um dos iões presentes na sua composição. Tabela 3.1 – Referências utilizadas com o respectivo valor de ∆acH e ∆acG. Razão m/z da molécula ∆acH ∆acG desprotonada [R-] (kJ/mol) (kJ/mol) Ácido Benzóico (C7H6O) 121 1423 1394 Ácido 4-hidroxibenzóico (C7H6O3) 137 1405 1376 4-hidroxiacetofenona (C8H8O2) 135 1404 1375 Ácido Nicotínico (C6H5NO2) 122 1399 1370 Ácido 4-cianobenzóico (C8H5NO2) 146 1372* 1342 Ácido 2-hidroxibenzóico (C7H6O3) 137 1362 1330 Ácido 2,5-dihidroxibenzóico (C7H6O4) 153 1360* 1329 Ácido pentafluorobenzóico (C8H8O4) 211 1354 1325 Ácido 2,4,6-trihidroxibenzóico (C8H8O4) 167 1353 1324 Ácido Pícrico (C6H3N3O7) 228 1298 1267 Compostos de Referência * Valores calculados utilizando uma relação da literatura. [23] No projecto de licenciatura, fez-se a determinação da acidez em fase gasosa para outro composto fenólico, o trolox (figura 1.5).[79] Nesse trabalho, concluímos que o trolox era um antioxidante bastante ácido comparando com outros compostos fenólicos estudados. O trolox para além do grupo fenólico também tinha um grupo ácido carboxílico na sua estrutura, o que poderia influenciar a sua acidez. Assim, como o ácido cafeico também tem um grupo ácido carboxílico na sua estrutura suspeitou-se que este poderia ter uma acidez da mesma ordem de grandeza. 31 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico Como o ácido benzóico foi uma das referências utilizadas no estudo da acidez em fase gasosa do trolox, este foi escolhido como primeiro composto de referência a utilizar no estudo do ácido cafeico. Ao fazer uma solução de ácido cafeico com o ácido benzóico, seria de esperar que se obtivesse um heterodímero de m/z 301, mas não aparece qualquer pico para essa razão massa/carga. Como no espectro (Anexo B), apenas aparece o ião correspondente ao ácido cafeico (m/z 179), conclui-se que a desprotonação está a ocorrer apenas no ácido cafeico, levando a que o heterodímero não se forme. Logo o ácido cafeico deve ter uma acidez muito maior que o ácido benzóico, o que impossibilita a determinação experimental da acidez em fase gasosa, para a aplicação do método cinético com esta referência. Quando as espécies que formam o heterodímero têm uma diferença de acidez (ΔacH) igual ou superior a 10 kJ/mol, entre elas, podem originar espectros de massa (MS2) com apenas dois iões, aparecendo o heterodímero e a espécie mais ácida. O ião que corresponde à espécie menos ácida, vai receber o protão, tornado-se neutra, não aparecendo no espectro de massa (MS2). Assim, escolheu-se uma referência que tivesse um valor de acidez mais elevado como o ácido 2,5-dihidróxibenzóico (tabela 3.1). Quando se analisou essa solução de ácido cafeico com ácido 2,5-dihidróxibenzóico, era de esperar que se forma-se um heterodímero a m/z 333. Através da análise desse espectro (Anexo B), pode-se concluir que o heterodímero se forma, mas tem um sinal muito fraco que impossibilita o seu isolamento. Posteriormente, utilizou-se como referência o ácido nicotínico, cuja acidez se encontra entre as duas referências anteriores (tabela 3.1). O ácido nicotínico juntamente com o ácido cafeico formou o heterodímero (m/z 302), que tinha também um sinal muito fraco impossibilitando o seu isolamento. Os resultados que se estavam a obter não eram os esperados, visto que não se conseguia um bom heterodímero com referências de diferentes zonas da escala de acidez. Resolveu-se então fazer uma experiência com um sistema já conhecido, como é o caso do trolox associado com a 4-hidroxiacetofenona, que foi estudado no projecto de licenciatura na determinação da acidez em fase gasosa do trolox. Assim, utilizando este sistema poderemos detectar se existia algum problema instrumental ou se as condições instrumentais precisavam de ser optimizadas para melhorar o sinal do heterodímero. Concluiu-se que as condições instrumentais tinham de ser optimizadas para valores 32 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico diferentes dos valores utilizados em estudos anteriores, como é o caso da temperatura que passou de 200ᵒC para 150ᵒC. Após alterar essas condições instrumentais, resolveu-se juntar o ácido cafeico e a 4hidroxiacetofenona, que deveria formar um heterodímero de m/z 315. Apesar do heterodímero ter uma intensidade baixa procedeu-se ao seu isolamento e fragmentação. Como é possível observar (Anexo B), quando o hélio (gás de colisão) colidia com o heterodímero, independentemente da energia aplicada, apenas apareciam dois iões: o heterodímero e o ião produto do ácido cafeico. Como foi referido, esta situação leva-nos a concluir que o ácido cafeico é muito mais ácido que o 4-hidroxiacetofenona. Sabendo que temos todas as condições instrumentais estão optimizadas prosseguiuse com o estudo para a determinação da acidez do ácido cafeico. Assim, utilizou-se novamente o ácido nicotínico e o ácido 2,5-dihidróxibenzóico como compostos de referência. Quando se emparelhou o ácido cafeico com o ácido 2,5-dihidróxibenzóico, observou-se a formação do heterodímero de m/z 333 (figura 3.4). Posteriormente, isolou-se e fragmentou-se esse ião com diferentes energias de colisão, originando mais dois iões, o do ácido cafeico e o ácido 2,5-dihidróxibenzóico. Figura 3.4 - a) Espectro ESI-MS do heterodímero do ácido cafeico com ácido 2,5-dihidróxibenzóico (m/z 333) b) 2 Espectro ESI-MS do heterodímero m/z 333 à energia de colisão normalizada de 7,50%. Como podemos observar no espectro (figura 3.4), a abundância relativa do ácido cafeico desprotonado é maior que a abundância relativa do ácido 2,5-dihidróxibenzóico 33 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico desprotonado, logo podemos concluir que o ácido cafeico é mais ácido que o ácido 2,5dihidróxibenzóico. Desta forma, obteve-se o primeiro resultado para a determinação da acidez em fase gasosa do ácido cafeico através do método cinético restrito. Tendo este resultado, também se repetiu a análise da solução de ácido cafeico com ácido nicotínico, e de ácido cafeico com ácido 4-hidroxibenzóico, nas novas condições experimentais, onde se formaram os heterodímero de m/z 302 e 317, respectivamente. O isolamento e fragmentação destes iões, deram origem a espectros só com um ião produto, o ácido cafeico desprotonado. Confirmou-se que estas referências não eram adequadas, mesmo depois das alterações das condições experimentais. Assim, dado que as referências utilizadas eram menos ácidas que o ácido cafeico foram-se procurar referências que seriam muito ácidas de maneira a encontrar um limite superior. Por isso, fez-se uma solução de ácido cafeico com ácido pícrico (tabela 3.1), dando origem ao heterodímero de m/z 408, mas verificou-se que o ácido cafeico desprotonado não aparecia, concluindo-se que o ácido pícrico era um composto muito mais ácido que o ácido cafeico. Estava encontrado um limite superior. Até este momento, o único composto de referência que tinha dado um resultado positivo era o ácido 2,5-dihidróxibenzóico. Para continuarmos o estudo, escolheram-se várias referências com uma acidez próxima do ácido 2,5-dihidróxibenzóico e acima do ácido pícrico (tabela 3.1). Esses compostos foram o ácido 2-hidroxibenzóico (também conhecido como ácido salicílico), o ácido 2,4,6-trihidroxibenzóico, o ácido 4-cianobenzóico e o ácido pentafluorobenzóico. Ao emparelharmos o ácido cafeico com as referências anteriores, formaram-se os respectivos heterodímeros de m/z 317, 347, 326 e 391. Depois dos heterodímeros serem isolados e fragmentados, através de diferentes energias de colisão, obtivemos espectros MS2 dos respectivos heterodímeros (figura 3.5). Através destas referências pudemos definir um intervalo de acidez para o ácido cafeico em fase gasosa, sendo esse intervalo entre 1372 kJ/mol e 1353 kJ/mol. 34 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico 2 Figura 3.5– Espectros MS dos diferentes heterodímeros formados pelo ácido cafeico e as respectivas referências. Na tabela 3.2, apresenta-se um resumo dos resultados experimentais obtidos com a aplicação do formalismo do método cinético restrito, onde se relaciona o valor da acidez das referências com o logaritmo da razão das abundâncias iónicas. 35 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico Tabela 3.2 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência. Compostos de Referência ΔacG (kJ/mol) ΔacH (kJ/mol) Ln [ArO-/R-] Ácido 2,4,6-trihidroxibenzóico 1324 1353 0,54 Ácido pentafluorobenzóico 1325 1354 -0,68 Ácido 2,5-dihidroxibenzóico 1329 1360 -1,47 Ácido 2-hidroxibenzóico 1330 1362 -2,21 Ácido 4-cianobenzóico 1342 1372 -7,33 Recordando a equação 24 e a figura 1.6, é possível fazer uma representação semelhante para determinar a acidez em fase gasosa. Assim, fazendo um gráfico (gráfico 3.1) do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez das referências, ΔacG(RH), pudemos determinar a acidez do ácido cafeico através da seguinte equação. + ,'BCDE ) ,' E ) - = .∆FG H'0) + 1 (28) Onde m = - 1/RTeff e b = ΔacG (ArOH) /RTeff. 4,00 Ln [ArO-/R-] 2,00 0,00 1315 -2,00 ΔacG (kJ/mol) 1320 1325 1330 1335 1340 1345 1350 -4,00 -6,00 -8,00 y = -0,4188x + 554,72 R² = 0,9867 -10,00 - - Gráfico 3.1 – Representação gráfica de ln (ArO /R ) vs ΔacG (RH), que permite a determinar o valor de acidez do ácido cafeico. Através desta representação gráfica, determinámos o valor de acidez em fase gasosa, ΔacG, do ácido cafeico. Dividindo b por -m, obtivemos o valor de ΔacG(ArOH), que foi de 1325 ± 9 kJ/mol. Como nesta versão do método, se considera que ∆(∆S) =0, então ∆(∆acG) = 36 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico ∆(∆acH), por isso em vez de utilizarmos os valores de ΔacG(RH), podemos utilizar o valor de ΔacH(RH), para determinar a afinidade protónica do anião do ácido cafeico (tabela 3.2). Fazendo um gráfico (gráfico 3.2) do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez das referências, ΔacH(RH), pudemos determinar a afinidade protónica do anião do ácido cafeico através da seguinte equação. + ,'BCDE ) ,' E ) - = .∆FG '0) + 1 (29) Onde m = - 1/RTeff e b = ΔacH (ArOH) /RTeff. 4,00 Ln [ArO-/R-] 2,00 0,00 1345 -2,00 ΔacH (kJ/mol) 1350 1355 1360 1365 1370 1375 1380 -4,00 -6,00 -8,00 y = -0,3856x + 522,33 R² = 0,9458 -10,00 - - Gráfico 3.2 – Representação gráfica de ln (ArO /R ) vs ΔacH (RH), que permite a determinar o valor de afinidade protónica do anião do ácido cafeico. Através desta representação gráfica, determinámos que o valor de afinidade protónica em fase gasosa, ΔacH, do anião do ácido cafeico. O valor obtido corresponde ao valor da ordenada na origem, b (ΔacH(ArOH)/RTeff), que posteriormente é dividida pelo negativo do declive, - m (1/RTeff), originando assim, o valor de ΔacH(ArOH), que foi de 1355 ± 10 kJ/mol. 3.1.2. Aplicação do Método Cinético Estendido O ácido cafeico, para além de ser estudado pelo método cinético restrito, também foi estudado pelo método cinético estendido. Como foi referido, o método cinético estendido, deve se aplicar quando o termo entrópico (Δ(ΔS)) não é desprezável. Isto acontece quando os compostos de referência escolhidos são diferentes estruturalmente do composto em estudo. 37 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico Para a sua aplicação é necessário variar a temperatura efectiva na célula da ion trapp. Uma forma de variar a temperatura efectiva, era variar o gás de colisões, que inicialmente era o hélio. Dessa forma, tentou-se acoplar uma garrafa de Argon ao LCQ Duo Thermoquest da Finnigan, mas verificou-se que o aparelho perdia a corrente iónica quando se mudava o gás de colisão. Posteriormente, concluiu-se que a utilização de diferentes energias de colisão na ion trap era suficiente para variar a temperatura efectiva. Assim, em cada experiência, com o composto em estudo e uma das referências, variaram-se as energias de colisão aplicadas, num intervalo de 5 a 20%, após isolarmos o ião. Antes de chegarmos a esta conclusão e visto que não conseguíamos alterar as condições experimentais na ion trap de forma a variar a temperatura efectiva, por esta via, decidímos recorrer ao FTICR. Na célula do FTICR conseguimos variar certos pârametros experimentais que nos permitiram variar a temperatura efectiva do sistema em estudo. Para tal, aplicámos uma técnica de excitação dos iões chamada SORI (Irradiação Fora de Ressonância Sustentada) onde variamos o valor da frequency Offset. Esta frequência trata-se de uma diferença entre a frequência ciclotrónica do ião isolado (heterodímero) e a frequência de excitação. Está descrito na literatura que variando este parâmetro verifica-se a variação da temperatura efectiva.[80] Concluíu-se que ao utilizar diferentes valores de frequency Offset, iríamos variar a temperatura efectiva. Desta forma, após isolarmos o ião heterodímero, variaram-se essas frequências num intervalo de 0 a 300 Hz. Para além das diferentes condições experimentais, o tratamento dos resultados obtidos para o método cinético estendido também é diferente. Primeiramente, temos de fazer uma série de gráficos do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez em fase gasosa das referências, ΔacH(RH). Cada gráfico foi obtido em condições experimentais diferentes, de modo a variar a temperatura efectiva, dando origem à seguinte equação + ,'BCDE ) ,' E ) - = .∆FG '0) + 1 Onde o declive (m) e a ordenada na origem (b) são 38 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. (30) 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico .=− I !"## 1 = ∆*233 'BCD) !"## = ∆'BCD) !"## − ∆'∆() (31) Como foram construídos diversos gráficos, são obtido vários valores de m (- 1/RTeff) e b (ΔGapp(RH)/RTeff), um para cada gráfico construído. Com esses vários valores de m e b, fizemos a segunda representação gráfica, que nos permite obter o valor da afinidade protónica do anião do ácido cafeico (ΔacH(ArOH)) e o valor do termo entrópico (Δ(ΔS)/R), pois correspondem respectivamente a m’ e a b’. .′ = ∆'45)1′ = ∆'∆() (32) Assim, obtemos o valor de ΔacH(ArOH), de Δ(ΔS) e o de Teff. 3.1.2.1. Aplicação do Método Cinético Estendido na Ion Trap do LCQ Duo Na tabela 3.3, aparece a relação entre a acidez em fase gasosa, ΔacH(RH), com o logaritmo da razão das abundâncias iónicas, a uma determinada voltagem (Vp-p). Tabela 3.3 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência, a uma determinada voltagem pico a pico (Vp-p). Ln [ArO-/R-] Compostos de Referência Amplitude de excitação (Vp-p) ΔacH (kJ/mol) 0,2 0,17 0,15 Ácido 2,4,6-trihidroxibenzóico 1353 0,69 0,54 0,90 Ácido pentafluorobenzóico 1354 -0,71 -0,76 -0,83 Ácido Dihidroxibenzóico 1360 -0,72 -0,71 -0,71 Ácido 2-hidroxibenzóico 1362 -1,74 -1,72 -1,84 Ácido 4-cianobenzóico 1372 -6,86 -6,72 -6,80 Com estes valores, fizemos um gráfico (gráfico 3.3) para cada conjunto de valores, do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez das referências, ΔacH(RH). 39 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico 4,00 Ln [ArO-/R-] 2,00 0,00 1345 -2,00 ΔacH (kJ/mol) 1350 1355 1360 1365 1370 1375 1380 -4,00 -6,00 -8,00 y = -0,3639x + 493,18 R² = 0,8966 -10,00 - - Gráfico 3.3 – 1ª regressão linear - Representação gráfica de ln (ArO /R ) vs ΔacH (RH), para cada referência a 0,15 Vp-p. Desta forma, obtivemos um conjunto de representações gráficas, um gráfico para cada voltagem pico a pico (Vp-p), onde retiramos o valor de ΔH(ArOH) na versão restrita. Como nos encontramos no método cinético estendido, o Δ(ΔS) é diferente de zero, logo ΔH(ArOH) é verdadeiramente um ΔGapp(ArOH). Assim, os valores obtidos através desta representação gráfica, m (-1/RTeff) e b (ΔGapp(ArOH)/RTeff), serão utilizados na segunda representação gráfica (gráfico 3.4) e estão sumarizados na tabela 3.4. Tabela 3.4 – Valores obtidos através das 1ª representações gráficas. Amplitude de excitação 0,15 0,17 0,20 -1/RTeff (m) 0,364 0,349 0,363 ΔGapp(ArOH)/RTeff (b) 493,176 473,427 491,768 R2 0,897 0,892 0,898 Teff 330,491 344,210 331,424 Através desta representação gráfica, determinámos que o valor da afinidade protónica em fase gasosa, ΔacH, do anião do ácido cafeico corresponde a 1361 ± 9,6 kJ/mol e o valor da variação de entropia a 18,04 J/mol. 40 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico 505 ΔGapp(RH)/RTeff 500 495 y = 1361,04x - 2,17 R² = 1,00 490 485 480 475 470 465 0,34 0,345 0,35 0,355 0,36 0,365 0,37 1/RTeff Gráfico 3.4 – 2ª regressão linear - Representação gráfica de 1/RTeff vs ΔGapp(ArOH)/RTeff. 3.1.2.2. Aplicação do Método Cinético Estendido na célula do FTICR Na tabela 3.5, aparece a relação entre a acidez em fase gasosa, ΔacH(RH), com o logaritmo da razão das abundâncias iónicas, a um determinada frequency Offset (Hz). Tabela 3.5 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência, a uma determinada frequency Offset. Ln [ArO-/R-] Compostos de Referência Amplitude de excitação (frequency Offset) ΔacH (kJ/mol) 0 Hz 100 Hz 200 Hz 300 Hz Ácido 2,4,6-trihidroxibenzóico 1353 0,40 0,90 1,26 1,60 Ácido 2,5-Dihidroxibenzóico 1360 -0,79 -0,68 -0,58 -0,48 Ácido 2-hidroxibenzóico 1362 -1,29 -1,22 -1,09 -0,97 Ácido 4-cianobenzóico 1372 -1,79 -1,33 -0,90 -1,15 Ácido pentafluorobenzóico* 1354 0,81 0,86 - - - * O composto de referência, ácido pentafluorobenzóico, não foi contabilizado para os valores de Ln [ArO /R ]. Como podemos observar na tabela 3.5, não existem valores de ln [ArO-/R-] para todas as frequency Offset aplicadas. Verificou-se que o heterodímero, quando foi sujeito à dissociação por CID, após ser isolado, formava mais iões para além dos esperados, sendo 41 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico que os esperados eram o ião do heterodímero, o anião do ácido cafeico e o anião ácido pentafluorobenzóico. Concluiu-se que o heterodímero ao dissociar-se, estava a sofrer mais fragmentações, originando o aparecimento de mais iões do que o esperado, impossibilitando a determinação da razão ln (ArO-/R-) (Anexo C). Assim, com os valores apresentados na tabela anterior (tabela 3.5), construiu-se um gráfico (gráfico 3.5) para cada conjunto de valores, do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez das referências, ΔacH(RH). 1,50 y = -0,1126x + 152,45 R² = 0,8854 1,00 Ln [ArO-/R-] 0,50 0,00 1345 -0,50 ∆acH (kJ/mol) 1350 1355 1360 1365 1370 1375 1380 -1,00 -1,50 -2,00 -2,50 - - Gráfico 3.5 – 1ª regressão linear - Representação gráfica de ln (ArO /R ) vs ΔacH(RH), para cada referência a 0Hz. Desta forma, obtivemos um conjunto de representações gráficas, um gráfico para cada frequency Offset, onde retiramos o valor de m (-1/RTeff) e b (ΔGapp(ArOH)/RTeff), coeficiente de correlação e o de Teff e organizamos na tabela 3.6. Tabela 3.6 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. Amplitude de excitação 0 Hz 100 Hz 200 Hz 300 Hz -1/RTeff (m) 0,113 0,112 0,105 0,137 ΔGapp(ArOH)/RTeff (b) 152,454 151,526 142,917 185,771 R2 0,885 0,727 0,588 0,716 Teff 1068,261 1076,789 1143,431 880,485 (frequency Offset) Com os valores da tabela 3.6, pudemos contruir a segunda representação gráfica (gráfico 3.6). Neste gráfico, determinámos que o valor da afinidade protónica em fase gasosa, 42 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico ΔacH, do anião do ácido cafeico corresponde a 1370 ± 13 kJ/mol e a valor da variação de entropia a 12,55 J/mol. 200 ΔGapp(RH)/RTeff 180 160 140 y = 1370,34x - 1,51 R² = 1,00 120 100 0,1 0,11 0,12 0,13 0,14 0,15 1/RTeff Gráfico 3.6 – 2ª regressão linear – Reperesentação gráfica de 1/RTeff em função de ΔGapp(ArOH)/RTeff . 3.1.3. Comparação dos resultados obtidos entre o método cinético restrito e estendido Neste trabalho, aplicámos o método cinético em três diferentes formas, utilizámos o método cinético restrito, método cinético estendido na ion trap e o método cinético estendido no FTICR. Assim, obtivemos três valores de ∆acH para o ácido cafeico (tabela 3.7). Tabela 3.7 – Valores de ∆acH obtidos através da aplicação das diferentes formas do método cinético. Método Cinético Aplicado ΔacH (kJ/mol) Δ(ΔS) (J/mol) Restrito 1354,73 ± 9,6 0 Estendido na Ion Trap 1361,72 ± 9,2 18,04 Estendido no FTICR 1370,34 ± 13 12,55 Como podemos observar na tabela 3.7, os valores obtidos estão dentro da mesma ordem de grandeza e se considerarmos o erro experimental associado, os valores são bastante semelhantes. O valor obtido para o método cinético restrito é um pouco mais baixo que os outros dois, mesmo assim é dentro das respectivas barras de erro. Dado que as referências utilizadas eram diferentes estruturalmente do composto estudado era expectável que Δ(ΔS) fosse 43 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.1.Ácido Cafeico diferente de zero. Assim, ao aplicar o método cinético estendido, pudemos verificar que existe uma pequena variação entrópica. Apesar do FTICR ser um espectrómetro de massa mais sensível e terem sido feitas mais experiências, é interessante de observar que ao aplicar o método cinético estendido em dois analisadores diferentes os valores obtidos para ∆acH, não são substancialmente diferentes. Para completar e complementar este estudo experimental do ácido cafeico, também foi feito um estudo teórico. Através desse estudo, vamos poder comparar estes três valores com o valor teórico e prever de onde sai o protão. 44 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox 3.2. Trolox 3.2.1. Aplicação do Método Cinético Restrito – Consolidação de resultados Até ao projecto de licenciatura, a maioria dos compostos estudados no grupo de espectrometria de massa, tinha sido a acidez relativa em flavonóides e a acidez absoluta em fenóis dissubstituído, dimetoxifenóis e o cromanol.[23, 33, 34] Escolheu-se para o projecto de licenciatura, um composto fenólico antioxidante que tivesse uma estrutura diferente para prosseguir o estudo da acidez. Esse composto foi o trolox (figura 1.5), que para além do grupo fenólico também tinha o grupo carboxílico como grupo funcional. A escolha do trolox foi feita com base na sua estrutura, pois se substituirmos o grupo ácido carboxílico por uma cadeia alifática saturada, podemos ter o αtocoferol (figura 1.2) que é um antioxidante natural muito activo. No estudo da acidez do trolox, utilizaram-se várias referências, o ácido nicotínico, a 4hidroxiacetofenona, o ácido 4-hidroxibenzóico e o 4-hidroxibenzoato de metilo. Na tabela 3.8, vêm as características dessas referências utilizadas na determinação da acidez em fase gasosa nesse projecto de licenciatura. Tabela 3.8 – Referências utilizadas com o respectivo valor de ∆acH e ∆acG. Razão m/z da molécula ∆acH ∆acG desprotonada [R-] (kJ/mol) (kJ/mol) 3-Trifluorometilfenol (C7H5F3O) 161 1419 1391 4-Hidroxibenzoato de metilo (C8H8O3) 151 1410 1382 4-Trifluorometilfenol (C7H5F3O) 161 1410 1381 Ácido 4-hidroxibenzóico (C7H6O3) 137 1405 1376 4-Hidroxiacetofenona (C8H8O2) 135 1404 1375 Ácido Nicotínico (C6H5NO2) 122 1399 1370 Compostos de Referência Posteriormente, já fora do projecto de licenciatura, escolheram-se mais dois compostos de referências para consolidar os resultados obtidos, essas referências foram seleccionadas tendo em conta o valor de acidez do trolox encontrado. Assim, optou-se utilizar o 3-trifluorometilfenol e o 4-trifluorometilfenol (tabela 3.8) como novas referências. 45 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox Quando se analisaram essas soluções, de trolox com 3-trifluorometilfenol ou de trolox com 4-trifluorometilfenol, observou-se a formação do mesmo heterodímero, m/z 411, pois estes compostos só diferem pela posição em que se encontra o grupo trifluorometilo. Isolou-se o heterodímero e da sua posterior decomposição utilizando a dissociação induzida por colisão (CID), obteve-se um espectro MS2 (Anexo E), onde pudemos concluir-se que têm uma acidez relativamente próxima, o que torna a sua razão mensurável experimentalmente. Na tabela 3.9, apresenta-se um resumo dos resultados experimentais obtidos com a aplicação do formalismo do método cinético restrito. Tabela 3.9 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o trolox, para cada referência, utilizando o método cinético restrito. - - Compostos de Referência ΔacG (kJ/mol) ΔacH (kJ/mol) Ln [ArO /R ] Ácido Nicotínico 1370 1399 1,94 4-hidroxiacetofenona 1375 1404 1,06 Ácido 4-hidroxibenzoico 1376 1405 0,99 4-(trifluorometil)fenol 1381 1410 -0,75 4-hidroxibenzoato de metilo 1382 1410 -0,62 3-(trifluorometil)fenol 1391 1419 -3,50 Recordando a equação 24 e a figura 1.6, é possível fazer uma representação semelhante para determinar a acidez em fase gasosa. Assim, fazendo um gráfico (gráfico 3.7) do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez das referências, ΔacG (RH), pudemos determinar a acidez em fase, ΔacG, do trolox através da equação 28, onde m = - 1/RTeff e b = ΔacG (ArOH) /RTeff. 46 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox 4 3 Ln [ArO-/R-] 2 1 ΔacG (kJ/mol) 0 -11365 1370 1375 1380 1385 1390 1395 1400 -2 -3 -4 y = -0,2659x + 366,55 R² = 0,9813 -5 - - Gráfico 3.7 – Representação gráfica de ln (ArO /R ) vs ΔacG (RH), que permite a determinar o valor de acidez do trolox. O valor de acidez em fase gasosa obtido corresponde a 1379 ± 8,7 kJ/mol. Fazendo um gráfico do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de acidez das referências, ΔacH (RH), pudemos determinar a afinidade protónica do anião do trolox (gráfico 3.8). 3,00 2,00 Ln [A-/B-] 1,00 0,00 1390 -1,00 ΔacH (kJ/mol) 1395 1400 1405 1410 1415 1420 1425 -2,00 -3,00 y = -0,2811x + 395,56 R² = 0,9811 -4,00 -5,00 - - Gráfico 3.8 – Representação gráfica de ln (ArO /R ) vs ΔacH (RH), que permite a determinar o valor de afinidade protónica do anião do trolox. Através desta representação gráfica, determinámos que o valor de afinidade protónica em fase gasosa, ΔacH, do anião do trolox foi de 1407 ± 9 kJ/mol. Concluímos que após utilizarmos mais duas referências, foi superior ao obtido no projecto de licenciatura (1402 ± 9,4 kJ/mol), mas afastado do valor teórico (1422 kJ/mol). Dado que o trolox é estruturalmente diferentes das referências utilizadas, fez o estudo do mesmo utilizando o método cinético estendido. 47 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox 3.2.2. Aplicação do Método Cinético Estendido O trolox foi, então, estudado pelo método cinético estendido. Como foi referido, neste método, reconhecemos que a variação de entropia (Δ(ΔS)/R) não é desprezável. 3.2.2.1. Aplicação do Método Cinético Estendido na Ion Trap do LCQ Duo Na tabela 3.10, aparece a relação entre a acidez em fase gasosa, ΔacG (RH), com o logaritmo da razão das abundâncias iónicas, a uma determinada voltagem pico a pico (Vp-p). Tabela 3.10 – Valores obtidos através da razão das intensidades entre a referência e o trolox. - - Ln [ArO /R ] Compostos de Referência Amplitude de excitação (Vp-p) ΔacH (kJ/mol) 0,20 0,18 0,17 0,16 0,14 0,10 Ácido Nicotínico 1399 - - - - 1,46 1,79 4-hidroxiacetofenona 1404 - - - - 1,12 1,10 Ácido 4-hidroxibenzoico 1405 1,00 1,01 0,98 0,99 1,04 1,04 4-hidroxibenzoato de metilo 1410 -0,61 -0,65 -0,61 -0,59 -0,59 -0,57 4-(trifluorometil)fenol 1410 -0,84 -0,82 -0,80 -0,81 -0,77 -0,76 3-(trifluorometil)fenol 1419 -3,50 -3,53 -3,50 -3,51 -3,52 -3,52 Com estes valores, fizemos um gráfico (gráfico 3.9) para cada conjunto de valores, do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de ΔacH(RH) das referências. Como podemos reparar na tabela 3.10, não existem valores para a razão das abundâncias iónicas (ln [ArO-/R-]) obtidos para quando o heterodímero, tinha como composto de referência o ácido nicotínico e 4-hidroxiacetofenona, pois ao utilizar energias de colisão normalizadas superiores a 10 % deixa-se de observar o heterodímero. Logo, o gráfico 3.9 é constituído apenas pelas outras quatro referências. 48 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox 3,00 Ln [ArO-/R-] 2,00 1,00 ΔacH (kJ/mol) 0,00 1400 -1,00 1405 1410 1415 1420 1425 -2,00 y = -0,32x + 456,51 R² = 1,00 -3,00 -4,00 -5,00 Gráfico 3.9 – 1ª regressão linear - Valores obtidos através da razão o logaritmo da razão das intensidades para cada referência a 0,1 Vp-p. Desta forma, obtivemos um conjunto de representações gráficas, um gráfico para cada voltagem pico a pico (Vp-p), onde retiramos valores de m (1/RTeff) e b (ΔGapp(RH)/RTeff), coeficiente de correlação e o de Teff e organizamos na tabela 3.11. Tabela 3.11 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. Amplitude de excitação 0,20 0,18 0,17 0,16 0,14 0,10 -1/RTeff (m) 0,319 0,322 0,318 0,320 0,324 0,324 ΔGapp(ArOH)/RTeff (b) 449,288 453,151 448,186 450,263 456,093 456,514 R2 0,998 0,998 0,997 0,998 0,997 0,996 Teff 376,911 373,697 377,840 376,102 371,322 370,985 (Vp-p) Com os valores da tabela 3.11, pudemos contruir a segunda representação gráfica (gráfico 3.9). Neste gráfico, pudemos determinar o valor da afinidade protónica em fase gasosa, ΔacH, do anião do trolox correspondeu a 1416 ± 11,3 kJ/mol e a valor da variação de entropia foi de 20,49 J/mol. 49 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox 460 ΔGapp(RH)/RTeff 458 456 454 452 y = 1415,63x - 2,46 R² = 1,00 450 448 446 0,316 0,318 0,32 0,322 0,324 0,326 1/RTeff Gráfico 3.9 – 2ª regressão linear - Valores obtidos através de 1/RTeff em função de ΔGapp(ArOH)/RTeff . 3.2.2.2. Aplicação do Método Cinético Estendido na célula do FTICR Na tabela 3.12, aparece ΔacH (RH) das referências, os logaritmos da razão das abundâncias iónicas, a uma determinada frequency Offset (Hz). Podemos também observar na tabela 3.12, que para a referência 3-trifluorometilfenol não foi possível determinar os valores de Ln [ArO-/R-] para todas as frequency Offset aplicadas, porque o heterodímero ao dissociar-se, estava a sofrer fragmentações, que originavam o aparecimento de mais iões além dos de interesse. Tabela 3.12 – Valores da razão das intensidades entre a referência e o ácido cafeico, para cada referência, a uma determinada frequency Offset. - - Ln [ArO /R ] Compostos de referência Amplitude de excitação (frequency Offset) ΔacH (kJ/mol) 0 Hz 100 Hz 200 Hz 300 Hz Ácido Nicotínico 1399 -2,61 -2,55 -2,48 -2,40 4-hidroxiacetofenona 1404 1,26 1,25 1,23 1,21 Ácido 4-hidroxibenzoico 1405 0,87 0,23 -0,49 -1,16 4-hidroxibenzoato de metilo 1410 -0,13 -0,22 -0,29 -0,38 4-(trifluorometil)fenol 1410 -1,04 -1,29 -1,42 -1,63 3-(trifluorometil)fenol 1419 - - - - 50 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox Com estes valores, fizemos um gráfico (gráfico 3.10) para cada conjunto de valores, do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de ΔacH(RH) das referências. 2,00 1,50 Ln [ArO-/R-] 1,00 0,50 0,00 1400 -0,50 -1,00 -1,50 ΔacH (kJ/mol) 1402 1404 1406 1408 1410 1412 1414 y = -0,301x + 423,81 R² = 0,8691 -2,00 Gráfico 3.10 – 1ª regressão linear - Valores obtidos através da razão o logaritmo da razão das intensidades para cada referência a 0 Hz. No gráfico 3.10, não foram utilizados os valores da razão das abundâncias iónicas (ln[ArO-/R-]) obtidos para quando o composto de referência era o ácido nicotínico, pois este tinha um comportamento completamente diferente, que o desenquadrava dos restantes compostos de referência. No Anexo I, pode-se verificar o que aconteceria se incluíssemos os valores de ln[ArO-/R-] quando temos como composto de referência o ácido nicotínico. Desta forma, obtivemos um conjunto de representações gráficas, um gráfico para cada frequency Offset, onde retiramos o valor de -m (1/RTeff) e b (ΔGapp(RH)/RTeff) e organizamos na tabela 3.13. Tabela 3.13 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. Amplitude de excitação 0 Hz 100 Hz 200 Hz 300 Hz 1/RTeff (-αm) 0,301 0,283 0,247 0,222 ΔGapp(ArOH)/RTeff (b) 423,806 398,049 347,834 312,576 R2 0,869 0,745 0,521 0,327 Teff 399,615 425,222 486,280 540,659 (frequency Offset) 51 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox Com os valores descritos na tabela, contruímos a segunda representação gráfica (gráfico 3.11). Através desta representação gráfica, determinámos que o valor da afinidade protónica em fase gasosa, ΔacH, do anião do trolox corresponde a 1416 ± 11,3 kJ/mol e a valor da variação de entropia é de 20,45 J/mol. ΔGapp(RH)/RTeff 500 450 y = 1416,10x - 2,46 R² = 1,00 400 350 300 250 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 1/RTeff Gráfico 3.11 – 2ª regressão linear - Valores obtidos através de 1/RTeff em função de ΔGapp(RH)/RTeff . 3.2.3. Comparação dos resultados obtidos entre o método cinético restrito e estendido Neste trabalho, aplicámos o método cinético em três diferentes formas, utilizámos o método cinético restrito, método cinético estendido na ion trap e o método cinético estendido no FTICR. Assim, obtivemos três valores de ∆acH para o trolox (tabela 3.14). Tabela 3.14 – Valores de ∆acH obtidos através da aplicação das diferentes formas do método cinético. Método Cinético Aplicado ΔacH (kJ/mol) Δ(ΔS) (J/mol) Restrito 1407,32 ± 8,7 0 Estendido na Ion Trap 1415,63 ± 11,3 20,49 Estendido no FTICR 1416,10 ± 11,3 20,45 Como podemos observar na tabela 3.14, que os valores obtidos são semelhantes, isto é, estão dentro da mesma ordem de grandeza, considerando os erros associados. No entanto, o valor obtido com o método cinético restrito afasta-se mais dos outros dois, como era esperado. 52 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.2. Trolox Dado que os compostos de referências utilizados eram diferentes estruturalmente do trolox, era pouco provável que o Δ(ΔS) fosse zero. É interessante de observar que ao aplicar o método cinético estendido em dois analisadores diferentes os valores obtidos, tanto para ∆acH como para ∆(∆S), vão ser muito semelhantes, apesar do FTICR ser um espectrómetro de massa mais sensível e sofisticado. Para completar e complementar este estudo experimental do trolox, também foi feito um estudo teórico, para confirmar o valor 1416 kJ/mol e ter informação estrutural quanto ao grupo funcional doador do protão. 53 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.3. α -Tocoferol 3.3. α -Tocoferol O α-tocoferol (figura 1.2), como já foi referido (capítulo 1), é a forma da vitamina E mais amplamente distribuída nos tecidos e no plasma, tendo uma grande acção antioxidante. Por isso, o α-tocoferol, tem sido alvo de muitos estudos, inclusivé dentro do grupo de espectrometria de massa. Neste trabalho, inicialmente, um dos compostos alvo era o α-tocoferol. Este foi analisado em modo negativo e modo positivo, estudando os principais iões, bem como as principais fragmentações. Posteriormente, passou-se para determinação da acidez em fase gasosa do α-tocoferol pelo método cinético restrito, assim associou-se α-tocoferol com vários compostos referência (tabela 3.15), que têm uma acidez conhecida. Tabela 3.15 – Referências utilizadas com o respectivo valor de acidez relativa em função do fenol. Razão m/z da molécula ∆acH ∆acG desprotonada [R-] (kJ/mol) (kJ/mol) 3,4-Dimetilfenol (C8H10O) 121 1467 1436 4-Metilfenol (C7H8O) 107 1465 1437 Cromanol (C14H20O) 220 1465 1434 4-Etilfenol (C8H10O) 121 1463 1435 3,4-Dimetoxidofenol (C8H10O3) 153 1462 1431 Fenol (C6H6O) 93 1462 1431 4-fluorofenol (C6H5OF) 111 1451 1422 4-clorofenol (C6H5OCl) 127 1435 1407 Compostos de Referência Estes compostos de referência foram escolhidos de acordo com a estrutura do αtocoferol e com o conhecimento apreendido em trabalhos anteriores. O α-tocoferol foi um dos primeiros compostos a ser estudado no grupo, onde foi aplicado o método de bracketing, tendo sido obtido um intervalo de acidez para α-tocoferol, entre o fenol e 4fluorofenol ( 1459 ± 10 kJ/mol). Como foi referido, este método não dá um valor de acidez, mas antes um intervalo. De seguida, fez-se um estudo com fenóis dissusbstituído para observar a influência dos grupos metilo na acidez do fenol, para tentar relacionar com o α54 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.3. α-Tocoferol tocoferol, que possui estes substituintes. Finalmente, através de estudos teóricos realizados, também no grupo [81] , tínhamos informação de que a acidez do α-tocoferol deveria encontrar-se entre o 3,4-dimetoxidofenol e o 4-fluorofenol. Para além desta informação, decidiu-se incluir o cromanol nas referências pois tem a estrutura semelhante ao α-tocoferol, exceptuando a cadeia alifática. Assim, emparelhando o α-tocoferol com todos os composto de referência, verificouse que o único ião de interesse que aparece é o α-tocoferol desprotonado (m/z 429). Nos vários sistemas estudados, o heterodímero não foi observado (Anexo G). Além disso, fizeram-se outros estudos, nomeadamente um estudo da concentração, um estudo do solvente e ainda um estudo comparativos entre duas amostras de α-tocoferol. Começou-se pelo estudo da concentração a utilizar, onde verificou-se que a melhor concentração seria de 10-4 M. De seguida, fez-se um estudo do solvente. Primeiramente, injectou-se o α-tocoferol em água, o que deu origem a um espectro mais limpo, tendo o ião do α-tocoferol muito intenso. Sendo assim, preparam-se várias soluções de α-tocoferol com fenol em diferentes solventes (água, acetonitrilo e DMSO). Começou-se por analisar o α-tocoferol com fenol em água. Ao contrário do que tinha acontecido anteriormente, este espectro tinha mais ruído e os iões característicos desta solução estavam pouco intensos. Quando se alterou para o acetonitrilo, o ruído diminuiu mas também o sinal dos iões. Em DMSO, o ruído era quase nulo, mas não existia sinal dos iões nem mesmo do ião do α-tocoferol (Anexo H). Assim, concluímos que o melhor solvente era mesmo o metanol. Finalmente, decidiu-se comparar as duas amostras de α-tocoferol, pois tínhamos uma amostra de α-tocoferol com cerca de 15 anos (que tinha sido usado anteriormente pelo grupo) e outra nova. Os resultados obtidos para o α-tocoferol foram bastante semelhantes, tanto para a amostra nova como para a velha, onde o ião mais intenso era o do α-tocoferol desprotonado (m/z 429). Apesar de usar estas referências com valores distintos de acidez o resultado foi sempre o mesmo, isto é, não se observa a formação do heterodímero, nem mesmo quando se utilizam concentrações diferentes, sendo o composto de referência mais concentrado já que o sinal do α-tocoferol desprotonado é muito intenso. 55 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 3. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais 3.3. α -Tocoferol Este insucesso levou-nos a supor que a longa cadeia alifática possa causar um impedimento esteroquímico, impedindo a formação do heterodímero. Suspeitamos que é devido a essa cadeia, pois é possível determinar experimentalmente a acidez do cromanol, que é igual ao α-tocoferol, mas sem essa cadeia alifática saturada. Como não conseguimos resultados experimentais, recorremos aos cálculos teóricos para fazer a determinação da acidez em fase gasosa, como também da afinidade electrónica, para posteriormente se poder determinar a enegia de ligação O-H. 56 Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 4. Química Teórica e Computacional 4.1. Introdução 4. Química Teórica e Computacional 4.1. Introdução No ínicio do século XX, cientistas como Planck, Einstein, Bohr, Heisenberg, De Broglie, Born e Dirac, revolucionaram os conceitos fundamentais e as teorias da Física, levando ao desenvolvimento da Mecânica Quântica. Posteriormente, associaram-se conceitos químicos no estudo mecânico-quântico da estrutura molecular, surgindo a Química Quântica. Esta última combinada com a Termodinâmica Estatística, permitiu interpretação de propriedades macroscópicas com fundamento a nível atómico-molecular e define um domínio que é a Química Teórica.[82] O principal objectivo da Química Teórica é estudar as propriedades estruturais, electrónicas, termodinâmicas e cinéticas dos sistemas químicos.[83, 84] Nos últimos 50 anos, assistiu-se a um grande desenvolvimento dos computadores, nomeadamente o aumento da performance, da memória e do espaço em disco, tornando possível, através do desenvolvimento do software adequado, “solucionar” equações complexas. Dessa forma, apareceu a Química Computacional, que utiliza fundamentos da Química Teórica, incorporados em método numéricos, para calcular as estruturas e as propriedades moléculares em diferentes estados termodinâmicos. A sua crescente utilização na determinação das propriedades moleculares veio generalizar e ampliar o conceito de experiência química, pois os métodos computacionais da Química Teórica definem, hoje em dia, uma alternativa de investigação comparável as outras tantas técnicas experimentais à disposição de um químico.[82] Actualmente, através da Química Computacional, podemos estudar a estrutura electrónica de moléculas, determinar as energias de ligação de moléculas, determinar propriedades termoquímicas, prever a estrutura molecular de moléculas complexas com uma precisão comparável à de técnicas experimentais. Por isso, tem-se tornado uma ferramenta indispensável em diferentes áreas, sendo amplamente utilizada no desenho de novos fármacos e materiais.[84] Para tal, existem diferentes métodos de química computacional que podem ser aplicados apenas para sistemas pequenos como também podem ser apropriados para sistemas grandes. Entre os diferentes métodos destacam-se os métodos ab initio, semiempíricos, mecânica molecular, dinâmica molecular e os DFT’s (teoria do Funcional da Densidade). Este último, tem sido bastante utilizado, pois além de ser capaz de resolver 57 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 4. Química Teórica e Computacional 4.1. Introdução problemas com elevada precisão, os recursos computacionais necessários para a sua aplicação são semelhantes aos utilizados em cálculos com um nível de teoria Hartree-Fock (HF), que é o método ab initio menos dispendioso.[85-87] Presentemente, os químicos teóricos e experimentais estão interessados em grandes sistemas moleculares com implicações biológicas, como é o caso, dos antioxidantes (capítulo 1.1). Entre os antioxidantes, destacam-se os antioxidantes fenólicos (ArOH),[88] ROO + ArOH → ROOH + ArO (7) Estes inactivam o radical livre (ROO) pela transferência do átomo de hidrogénio fenólico, formando um novo radical mais estável, o ArO. Assim, existe uma entalpia associada a essa dissociação da ligação O-H, que é descrita através de um mecanismo de acção antioxidante, o HAT (transferência do átomo de hidrogénio). Para além deste mecanismo, existem mais dois, o SET-PT (transferência de um electrão seguido pela transferência de protão) e o SPLET (perda sequencial de um protão seguido pela transferência de electrão). Tanto o SET-PT e no SPLET, envolvem vários passos de reacção até chegarem à inactivação do radical livre. Cada um desses passos está associado a uma entalpia de reacção, que vai contribuir para a determinação da entalpia de dissociação da ligação O-H (BDE). [23, 88, 89] Do ponto de vista da acção antioxidante, o resultado final dos três mecanismos é o mesmo, a transferência de um átomo de hidrogénio para um radical livre. Mesmo assim, as entalpias de reacção relacionadas com os três mecanismos são importantes para a avaliação de outros critérios na acção antioxidante, incluindo a solubilidade, a biodisponibilidade e a toxicidade, que não são consideradas aquando da concepção de um antioxidante eficaz e seguro.[88] Devido ao desenvolvimento recente das técnicas experimentais e de métodos de química quântica, o conhecimento da entalpia dissociação da ligação (BDE) foi acumulado substancialmente nos últimos 15 anos. Neste trabalho, considerou-se o SPLET (9-12) para determinar a BDE (DHᵒ (ArOH)). Assim, recorreu-se à química computacional para estudar o mesmo mecanismo. ArOH → ArO – + H + ΔacHᵒ (ArOH) (9) ArO – → ArO + e – EA (ArO) (10) H + + e – → H IE (H) (11) ArOH → H+ ArO DHᵒ (ArOH) (12) 58 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 4. Química Teórica e Computacional 4.1. Introdução Através desse mecanismo podemos relacionar a entalpia de dissociação da ligação OH (12), DHᵒ(ArOH), em fase gasosa, com os seguintes parâmetros termodinâmicos, a energia de ionização (IE) do átomo de hidrogénio, a afinidade electrónica (EA) do ArO e a afinidade protónica (ΔacHᵒ) de ArO-.[34, 88] DHᵒ (ArO-H) = BDE = ΔacHᵒ (ArOH) + EA (ArO) – IE (H) (13) Utilizando os métodos da química computacional podemos determinar as propriedades que definem da equação 13 e relacionarmos com os valores experimentais. A afinidade protónica (ΔacHᵒ) ou acidez em fase gasosa (9) do anião fenóxido (ArO-), está associado a uma dissociação heterolítica, onde a molécula neutra, o composto fenólico (ArOH), dissocia-se num anião e num catião, que neste estudo, foi o anião fenóxido e um protão, respectivamente. ΔacHᵒ pode ser determinado teoricamente através da seguinte equação ΔacHᵒ = PA = H(ArO–) + H(H +) - H(ArOH) (33) Assim, temos de relacionar a entalpia do composto fenólico (ArOH), a entalpia do anião fenóxido (ArO–) e a entalpia do protão (H +). Este último, tem valor conhecido de 6,197 kJ/mol.[90] Posteriormente, ΔacHᵒ, vai ser comparada com o valor experimental que foi determinado através da espectrometria de massa, como foi referido anteriormente. A afinidade electrónica (EA) do radical fenoxilo (ArO) ou a entalpia de transferência electrónica (ETE), equação 10, como diz o nome, está associada à transferência electrónica para o radical livre (ROO), formando o radical fenoxilo (ArO).[88] Teoricamente, a determinação de EA é feita através da equação 34, onde se relaciona as seguintes entalpias, a entalpia do radical fenoxilo (ArO), a entalpia do anião fenóxido (ArO–) e a entalpia do electrão (e -). Este último, tem valor conhecido de 3,145 kJ/mol.[88, 90] EA = ETE = H(ArO) + H(e -) - H(ArO–) (34) EA também pode ser obtida experimentalmente através da espectrometria de massa, mas dado que não tinhamos compostos de referência em número suficiente para realizar essa determinação, apenas se fez o estudo teórico. 59 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 4. Química Teórica e Computacional 4.1. Introdução Tendo ΔacHᵒ e EA, para completar o mecanismo SPLET, apenas nos falta valor da energia de ionização (IE) do átomo de hidrogénio. Este útimo é conhecido e tem o valor de 1312 kJ/mol. Assim, podemos determinar teoricamente a BDE, utilizando todos os parâmetros termoquímicos descritos pelo mecanismo SPLET (ΔacHᵒ , EA e IE ). Este mecanismo representa uma via alternativa ao HAT, que tem sido amplamente estudado. Este último mecanismo, também foi estudado através de cálculos téoricos. Através do HAT, podemos determinar directamente a BDE, pois neste mecanismo ocorre uma dissociação homolítica da ligação O-H (35), formando-se dois radicais, após a dissociação de ArOH.[91] ArOH → ArO + H (35) Para conhecermos a entalpia de dissociação da ligação O-H, necessitamos da entalpia do composto fenólico (ArOH), a entalpia do radical fenoxilo (ArO) e a entalpia do radical do átomo de hidrogénio (H). BDE = D° (ArOH) = H(ArO) + H(H) - H(ArOH) (36) Desta forma, vamos ter dois valores teóricos de BDE’s, um pelo mecanismo SPLET e outro pelo mecanismo HAT, que vão ser posteriormente comparados. Neste estudo, investigou-se teoricamente a entalpia de dissociação da ligação O-H (BDE) em alguns compostos, que incluem o trolox, o ácido cafeico e o α-tocoferol. Assim, calculou-se a acidez em fase gasosa (ΔacHᵒ) do composto fenólico (ArOH) e a afinidade electrónica (EA) do radical fenoxilo (ArO), utilizando cálculos DFT/B3LYP. O estudo teórico da acidez vai complementar o trabalho experimental, pois vamos obter um valor que é relacionável com o valor obtido experimentalmente, para além de esclarecer o grupo funcional em que ocorre a desprotonação. Dado que são escassos os valores de afinidades electrónicas referência para determinar experimentalmente as EA’s por espectrometria de massa para os diferentes compostos fenólicos em estudo, esta grandeza termoquímica apenas foi determinada teoricamente. Logo, a determinação destes dois parâmetros vão contribuir para a determinação da entalpia de dissociação da ligação O-H nesses mesmos compostos. 60 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 4. Química Teórica e Computacional 4.1. Introdução 4.2. Detalhes Computacionais A geometria de cada composto, neutro, radical e anião, foi optimizado utilizando método DFT com o funcional B3LYP. As optimizações das geometrias foram realizadas com uma base cc-pVDZ e cc-pVTZ. As estruturas optimizadas foram confirmadas serem mínimos locais pelo cálculo das frequências (não existiam frequências imaginárias). Os cálculos de single point foram realizados utilizando a base cc-pVTZ. As geometrias das moléculas neutras e do seu respectivo anião foram optimizadas e calculadas a nível B3LYP restrito, enquanto que os radicais foram optimizadas e calculadas a nível B3LYP não restrito. Todos os cálculos foram realizados utilizando o conjunto de programas GAUSSIAN 03.[87] 61 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos 5. Apresentação e Discussão de Resultados Teóricos Antes de determinar a entalpia de dissociação da ligação O-H para os compostos presentes neste estudo, o ácido cafeico, o trolox e o α-tocoferol, começou-se por estudar o fenol. Este foi escolhido, pois é um composto em que se conhecesse todos os parâmetros termoquímicos necessários a este estudo, tanto experimentalmente como teoricamente. Desta forma, pudemos experimentar diversas metodologias e diferentes bases até obter um valor que fosse próximo do experimental. Concluíu-se que o método DFT/B3LYP e a base ccpVTZ foram os que reportaram resultados teóricos mais próximos dos experimentais. Na tabela 5.1, apresenta-se um resumo dos resultados téoricos, obtidos para o fenol. Para determinar ΔacHᵒ, EA, BDE (SPLET) e BDE (HAT), recorreu-se as equações 34, 35, 13 e 36, respectivamente. Tabela 5.1 – Valores de teóricos de ΔacHᵒ, EA e a BDE para o fenol. Grandeza Termodinâmica ΔacHᵒ EA BDE (SPLET) BDE (HAT) Entalpia, H (T) (a.u.) ΔH (a.u.) ΔH (kJ/mol) 0,561162 1473,33 0,086385 226,80 * H(ArOH) -307,4747161 H(ArO–) -306,9159114 H(H +) 0,0023576 H(ArO–) -306,9159114 H(ArO) -306,8415043 H(e -) 0,0119780 ΔacHᵒ - 0,561162 EA - 0,086385 IE - 0,499714 H(ArOH) -307,4747161 H(ArO) -306,8415043 H(H) -0,4997140 0,133498 388,14 350,50 * Os valores de EA costumam vir em eV, mas para facilitar a apresentação dos resultados aqui aparecem em kJ/mol. Para converter kJ/mol em eV, basta multiplicar por 0,01. 63 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos Na tabela 5.2, podem-se observar os valores experimentais de ΔacHᵒ, EA e a BDE do fenol, como também os valores calculados do fenol, utilizando o método DFT/B3LYP e a base cc-pVTZ.[92] Tabela 5.2 – Comparação entre os resultados experimentais e teóricos para o fenol. Grandeza Termoquímica Experimental Teórico ΔacHᵒ 1463 ± 10 kJ/mol [93] 1473 kJ/mol EA 2,17 ± 0,06 eV[94] 2,27 eV BDE (SPLET) 368 ± 10 kJ/mol 388 kJ/mol Comparando estas entalpias de dissociação da ligação O-H (SPLET), com o valor experimental recomendado de 371 ± 2,3 kJ/mol[32] e com o valor teórico (HAT), de 351 kJ/mol, podemos concluir que o mecanismo HAT parece subestimar o valor de BDE. Depois de se optimizar a metodologia e a base a aplicar, passou-se para o estudo teórico da ΔacHᵒ, da EA e da BDE no ácido cafeico, no trolox e no α-tocoferol (figura 5.1-5.3). a) b) c) Figura 5.1 – Estruturas do ácido cafeico optimizadas . a) Ião/Radical A – desprotonação do grupo carboxílico.do b) Ião/Radical B – desprotonação do grupo fenólico em posição para. c) Ião/Radical C – desprotonação do grupo fenólico em posição meta. 64 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos Figura 5.2 – Estruturas do trolox optimizadas. a) Ião/Radical A – desprotonação do grupo fenólico. b) Ião/Radical B – desprotonação do grupo carboxílico. Figura 5.3 – Estrutura do α-tocoferol optimizadas. É importante referir que, estas grandezas termodinâmicas foram estimadas para todos os possíveis locais de desprotonação, já que o ácido cafeico e o trolox tinham mais de um grupo funcional (figura 5.1 e 5.2). 65 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos 5.1. Cálculo da acidez em fase gasosa, ΔacHᵒ 5.1. Cálculo da acidez em fase gasosa, ΔacHᵒ Este estudo teórico da acidez em fase gasosa foi realizado para completar o trabalho experimental. Assim, investigou-se os locais de desprotonação mais prováveis de ocorrer nos compostos fenólicos estudados, isto é, no ácido cafeico, trolox e α-tocoferol. Recordando a equação 9 e 34, podemos determinar a ΔacHᵒ. Na tabela 5.3, apresenta-se um resumo dos resultados teóricos obtidos para o trolox, ácido cafeico e α -tocoferol, aplicando B3LYP/ccpVTZ. Tabela 5.3 – Valores de afinidade protónica (ΔacHᵒ). Entalpia, H (T) Composto Ião em estudo ΔacHᵒ ΔacHᵒ H(ArO–) (a.u.) H(H +) (a.u.) H(ArOH) (a.u.) (a.u.) (kJ/mol) A -648,1942604 0,0023576 -648,7374869 0,5455841 1432,43 B -648,2214985 0,0023576 -648,7374869 0,5183460 1360,92 C -648,2113881 0,0023576 -648,7374869 0,5284564 1387,46 A -844,7003914 0,0023576 -845,2460342 0,5480004 1438,78 B -844,7067929 0,0023576 -845,2460342 0,5415989 1421,97 - -1284,824314 0,0023576 -1285,3821262 0,5601697 1470,73 Ácido Cafeico Trolox α-Tocoferol Começando por analisar o ácido cafeico, podemos observar que a acidez é diferente para cada ião. O ião A, que foi desprotonado no grupo carboxílico, tem o valor mais elevado de ΔacHᵒ, de 1432 kJ/mol. De seguida, encontra-se o ião C, com 1387 kJ/mol, onde a desprotonação ocorre no grupo fenólico, quando este se encontra em posição meta. Finalmente, temos o ião B, que foi desprotonado no grupo fenólico, quando este se encontra em posição para, com um valor de 1361 kJ/mol, é o mais ácido. É interessante de observar que o local mais provável de desprotonação é o grupo fenólico em posição para, já que se pensava que o grupo ácido carboxílico fosse o mais ácido. Este acontecimento pode ser explicado pela deslocalização da carga que ocorre quando o grupo fenólico está em posição para. Posteriormente, estes valores serão comparados com os experimentais. 66 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos 5.2. Cálculo da afinidade electrónica, EA Passando agora para o trolox, podemos observar que os dois valores de acidez em fase gasosa são diferentes, em que o ião A tem um valor de ΔacHᵒ mais elevado que o ião B. Dado que a desprotonação está a ocorrer no grupo carboxílico, já era esperado que o ião B fosse o mais ácido. Através destes resultados teóricos, concluímos que o local mais provável de ocorrer a desprotonação no trolox é no grupo ácido carboxílico. Posteriormente, estes valores serão comparados com os experimentais. Finalmente, temos o α-tocoferol com um valor de acidez em fase gasosa de 1471 kJ/mol. Comparando com o valor de acidez do fenol, obtido teoricamente, podemos concluir que o α-tocoferol tem uma acidez próxima do fenol, diferenciando apenas 2 ou 3 kJ/mol. 5.2. Cálculo da afinidade electrónica, EA Na tabela 5.4, apresenta-se um resumo dos resultados teóricos de EA (35) obtidos para o trolox, ácido cafeico e α-tocoferol, aplicando B3LYP/cc-pVTZ. Tabela 5.4 – Valores de afinidade electrónica (EA). Entalpia, H (T) Composto Ião / EA EA EA em estudo Radical H(ArO) (a.u.) H(e -) (a.u.) H(ArO–) (a.u.) (a.u.) (kJ/mol) (eV) A -648,0781562 0,0119780 -648,1942604 0,128082 336,28 3,36 B -648,1210118 0,0119780 -648,2214985 0,112465 295,28 2,95 C -648,1185526 0,0119780 -648,2113881 0,104814 275,19 2,75 A -844,6276398 0,0119780 -844,7003914 0,084730 222,46 2,22 B -844,6270031 0,0119780 -844,7067929 0,091768 240,94 2,41* - -1284,769911 0,0119780 -1285,3821262 0,066381 174,28 1,74* Ácido Cafeico Trolox α-Tocoferol *Até a este momento, cálculo destas afinidades electrónicas ainda não estava concluído. Assim, não conseguímos obter o valor das correcções das grandezas termodinâmicas para o cálculo com um nível de teoria B3LYP/cc-pVTZ. Por isso, utilizaram-se as correcções obtidas no cálculo com um nível de teoria B3LYP/cc-pVDZ. 67 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos 5.2. Cálculo da afinidade electrónica, EA Como foi referido, para determinar a entalpia de dissociação da ligação O-H, necessitamos dos valores das afinidades electrónicas (EA) e dado que não foi possível obtêlas experimentalmente neste trabalho, recorreu-se aos cálculos teóricos para determinar os seus valores, de maneira a completar o ciclo termoquímico descrito pelo mecanismo SPLET. As afinidades electrónicas do ácido cafeico foram as primeiras a serem analisadas. O radical A, radical formado no grupo carboxílico, tem o valor mais elevado de EA, de 3,36 eV. De seguida, encontra-se o radical B, com 2,95 eV, onde o radical é formado no grupo fenólico, quando este se encontra em posição para. Finalmente, o radical C, que se forma no grupo fenólico, quando este se encontra em posição meta tem o valor mais baixo de afinidade electrónica, com um valor de 2,75 eV. Os radicais B e C, formados nos grupos fenólicos, são os que têm a afinidade electrónica mais próxima do fenol, tendo o valor experimental de 2,17 eV, onde o radical C é o que mais se aproxima mais desse valor. Como era esperado o radical A é o que se afasta mais desse valor, dado que este é formado no grupo carboxilíco. Comparando com os valores obtidos para a ΔacHᵒ, podemos concluir que a ordem das EA é diferentes da ordem da a ΔacHᵒ. No caso do trolox, podemos observar que os dois valores de EA são diferentes, em que o radical A tem uma EA inferior ao radical B. O radical A, que se forma no grupo fenólico, tem uma EA de 2,22 eV e o radical B, radical formado no grupo carboxílico, tem uma EA de 2,41eV. Comparando com os valores obtidos para a ΔacHᵒ, podemos concluir que a EA tem a mesma ordem da ΔacHᵒ, sendo a estrutura B a mais estável. O último composto a ser analisado é o α-tocoferol, que tem uma EA de 1,74 eV. É interessante verificar que de todos os valores de EA, o do α-tocoferol é o mais baixo, principalmente quando comparamos este valor com o dos outros radicais também formados no grupo fenólico. 68 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos 5.3. Cálculo da Entalpia de dissociação da ligação O-H, BDE 5.3. Cálculo da entalpia de ligação O-H, BDE (HAT) Um dos objectivos deste trabalho é a determinação da entalpia de dissociação da ligação O-H para relacionarmos com a função antioxidante. Como foi referido, a BDE pode ser determinada tericamente por duas vias, pelo mecanismo SPLET ou pelo mecanismo HAT, equação 13 e 36, respectivamente. Na tabela 5.5, apresenta-se um resumo dos resultados teóricos de BDE determinado para o mecanismo HAT. Estes valores foram obtidos para o trolox, ácido cafeico e αtocoferol, aplicando B3LYP/cc-pVTZ. Tabela 5.5 – Valores da entalpia de dissociação da ligação (BDE). Entalpia, H (T) Composto BDE BDE (a.u.) (kJ/mol) Radical em estudo H(ArO) (a.u.) H(H) (a.u.) H(ArOH) (a.u.) A -648,0781562 -0,4997140 -648,7374869 0,1596167 419,07 B -648,1210118 -0,4997140 -648,7374869 0,1167611 306,56 C -648,118553 -0,4997140 -648,7374869 0,1192203 313,01 A -844,6276398 -0,4997140 -845,2460342 0,1186804 311,60 B -844,627003 -0,4997140 -845,2460342 0,1193171 313,27* - -1284,769911 -0,4997140 -1285,3821262 0,1125011 295,37* Ácido Cafeico Trolox α-Tocoferol *Até a este momento, cálculo destas afinidades electrónicas ainda não estava concluído. Assim, não conseguímos obter o valor das correcções das grandezas termodinâmicas para o cálculo com um nível de teoria B3LYP/cc-pVTZ. Por isso, utilizaram-se as correcções obtidas no cálculo com um nível de teoria B3LYP/cc-pVDZ. No caso do ácido cafeico, podemos observar que o radical A, radical formado no grupo carboxílico, tem o valor mais elevado de BDE, de 419 kJ/mol. De seguida, encontra-se o radical C, com 313 kJ/mol, onde o radical é formado no grupo fenólico, quando este se encontra em posição meta. Finalmente, temos o radical B, que se forma no grupo fenólico, quando este se encontra em posição para, com um valor de 306 kJ/mol. Podemos supor que a estrutura mais 69 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Teóricos 5.3. Cálculo da Entalpia de dissociação da ligação O-H, BDE provável a doar o átomo de hidrogénio é o B, pois tem o menor valor de BDE e está em concordância com os valores teóricos de ΔacHᵒ. Depois de analisar os resultados do ácido cafeico, passamos agora para o trolox. O radical A, radical formado no grupo fenólico, tem uma BDE de 311 kJ/mol, enquanto que o radical B, que se forma no grupo fenólico, tem uma BDE de 313 kJ/mol. Apesar de estes dois radicais serem formados em grupos funcionais bastante diferentes, o valor de BDE não é muito distante. Comparando o valor do radical B do trolox e o radical A do ácido cafeico, pudemos concluir que os seus valores de BDE são bastante diferentes, apesar de ambos os radicais serem formados no grupo carboxílico de cada molécula. Assim, pudemos supor que podem existir influências estruturais no valor da BDE. A BDE obtida para o α-tocoferol tem um valor de 295 kJ/mol. Mais uma vez, o resultado obtido para o α-tocoferol é o mais baixo de todos os valores calculados para as BDE’s pelo mecanismo HAT, principalmente quando comparamos este valor com o dos outros radicais também formados no grupo fenólico. Posteriormente, estas entalpias de dissociação da ligação O-H (HAT), serão comparadas com as BDE’s (SPLET) as que vão ser compostas pelos valores experimentais de ΔacHᵒ, os valores teóricos de EA e a energia de ionização do átomo de hidrogénio que é conhecida. 70 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 6. Comparação dos Resultados Experimentais e Teóricos 6.1. Ácido Cafeico 6. Comparação dos Resultados Experimentais e Teóricos Depois de analisarmos e discutirmos os resultados experimentais e teóricos, vamos passar agora à sua comparação. 6.1. Ácido Cafeico Como foi referido e podemos observar na figura 5.1, o ácido cafeico tem três possíveis locais de desprotonação. Através da aplicação do método cinético estendido na célula de ICR, determinámos a acidez em fase gasosa do ácido cafeico, tendo o valor de 1370 ± 13 kJ/mol. No estudo teórico da acidez, obtivemos três valores, 1432, 1387 e 1361 kJ/mol. Dado que o valor mais baixo de ΔacHᵒ corresponde à estrutura mais estável, considerou-se o valor teórico de acidez foi 1361 kJ/mol do ião B, que é comparável ao valor experimental dentro do erro associado. Assim, concluímos que o grupo funcional em que ocorre a desprotonação no ácido cafeico é no grupo fenólico que se encontra em posição para. Considerando o valor teórico e experimental de ΔacHᵒ do ião B e conhecendo a afinidade electrónica teórica para o radical B, de 2,95 eV, e a energia de ionização do átomo de hidrogénio, de 1312 kJ/mol, pudemos determinar a entalpia de dissociação da ligação OH (tabela 6.1). Tabela 6.1 – Comparação entre os resultados experimentais e teóricos para o ácido cafeico. Grandeza Termoquímica Experimental Teórico ΔacHᵒ 1370,34 ± 13 kJ/mol 1360,92 kJ/mol EA 2,95 eV 2,95 eV BDE (SPLET) 353,63 ± 11 kJ/mol 344,21 kJ/mol 71 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 6. Comparação dos Resultados Experimentais e Teóricos 6.2. Trolox Analisando os valores de BDE obtidos para o mecanismo SPLET, podemos verificar são bastante semelhantes. Por outro lado, o valor teórico de BDE (HAT), é 306,56 kJ/mol. Comparando este útimo com os dois valores de BDE’s (SPLET), podemos concluir que o primeiro se afasta muito dos outros dois. 6.2. Trolox No caso do trolox (figura 5.2), temos dois possíveis locais de desprotonação. A determinação da acidez em fase gasosa do trolox, foi realizada através da aplicação do método cinético estendido na célula de ICR, tendo o valor de 1416 ± 11,3 kJ/mol. No estudo teórico da acidez, obtivemos dois valores, 1439 e 1422 kJ/mol. O valor que corresponde à estrutura mais estável é a ião B, de 1422 kJ/mol. Assim, consideramos que o grupo funcional em que ocorre a desprotonação no trolox é no grupo carboxílico. Com esta consideração e conhecendo a afinidade electrónica teórica para o radical B, de 2,41 eV, e a energia de ionização do átomo de hidrogénio, de 1312 kJ/mol, pudemos determinar a entalpia de dissociação da ligação O-H (tabela 6.2). Tabela 6.2 – Comparação entre os resultados experimentais e teóricos para o trolox. Grandeza Termoquímica Experimental Teórico ΔacHᵒ 1416,10 ± 11 kJ/mol 1421,97 kJ/mol EA 2,41 eV 2,41 eV BDE (SPLET) 345,04 ± 11 kJ/mol 350,91 kJ/mol Utilizando o mecanismo SPLET, vamos obter dois valores de BDE’s, que apenas têm uma diferença de cerca 5 kJ/mol. Podemos determinar a do mecanismo HAT, recorrendo à equação 36. Nesse caso, a BDE tem o valor de 313,27 kJ/mol. Comparando os três valores de BDE’s, podemos concluir que este último se afasta dos outros dois, como aconteceu para o ácido cafeico. 72 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 6. Comparação dos Resultados Experimentais e Teóricos 6.3. α-tocoferol 6.3. α-Tocoferol Neste estudo do α-Tocoferol (figura 5.3), como foi explicado no capítulo 3.3, não foi possível determinar experimentalmente a acidez em fase gasosa. Podemos referir, que já se conseguiu chegar a um valor experimental de ΔacHᵒ, utilizando o método de bracketing, de 1459 ± 10 kJ/mol.[95] Comparando com o valor teórico de ΔacHᵒ, de 1470 kJ/mol, podemos concluir que estão muito próximos. Como, apenas conseguímos obter resultados teóricos e só tem um local de desprotonação, o grupo fenólico, vamos fazer uma pequena discussão sobre esses resultados. A entalpia de dissociação da ligação O-H, pode ser conseguida de duas formas, através do mecanismo HAT e SPLET. No caso do primeiro mecanismo, o valor de BDE (HAT) é de 295,37 kJ/mol. No segundo mecanismo, utilizando a equação 13 e os valores teóricos de ΔacHᵒ (1470,73 kJ/mol), EA (1,74 eV) e o valor conhecido de IE do átomo de hidrogénio (1312 kJ/mol), determinamos que o valor de BDE é de 333,01 kJ/mol. Assim, verificamos que existe uma diferença de cerca 40 kJ/mol entre os dois valores de BDE’s obtidos teoricamente. Tal como no fenol, o mecanismo HAT determina um valor BDE inferior ao do SPLET. 73 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 7. Conclusões e Perspectivas Futuras 7. Conclusões e Perspectivas Futuras Neste trabalho, da determinação da entalpia de dissociação da ligação O-H em compostos fenólicos, podemos concluir que se conseguiu alcançar o seu objectivo, já que se obteve o valor da BDE’s no ácido cafeico, no trolox e no α-tocoferol. No trabalho experimental, determinou-se a acidez em fase gasosa (∆acH) no ácido cafeico e no trolox, para tal, recorreu-se à espectrometria de massa aplicando dois formalismos diferentes do método cinético de Cooks. Para aplicar estes dois formalismos foi necessário implementar a versão estendida do método cinético, em dois espectrómetros de massa, o FTICR e a ion trap.Em paralelo, fizeram-se os cálculos teóricos, utilizando métodos DFT’s, mais precisamente, com o funcional B3LYP, associado a uma base cc-pVTZ. Depois de comparar os resultados experimentais com teóricos, pudemos esclarecer o grupo funcional em que ocorre a desprotonação. Dado que o objectivo deste trabalho é a determinação das BDE’s e experimentalmente era difícil obter as afinidades electrónicas (EA), recorreu-se aos cálculos teóricos para sua determinação. Combinando os valores experimentais de ∆acH (ArOH), os teóricos de EA (ArO) e o conhecido de IE(H), pudemos determinar as entalpias de dissociação da ligação O-H nos compostos fenólicos em estudo pelo mecanismo SPLET. Teóricamente foi possível determinar as BDE’s por dois mecanismos, o HAT (dissociação homolítica) e o SPLET (dissociação heterolítica). No estudo do ácido cafeico, obteve-se experimentalmente três valores de ∆acH. Considerou-se que o valor de ∆acH foi de 1370 ± 13 kJ/mol, que realizado no FTICR através da aplicação do método cinétco estendido. O resultado teórico escolhido foi o 1361 kJ/mol para o ião B. Assim, pudemos concluir que a desprotonação ocorreu no grupo fenólico, quando este se encontra em posição para. Com estas considerações e conhecendo a afinidade electrónica teórica para o radical B (2,95 eV) e a energia de ionização do átomo de hidrogénio (1312 kJ/mol), encontrou-se o valor de 354 ± 11 kJ/mol para a entalpia de dissociação da ligação O-H para o ácido cafeico. O estudo da acidez em fase gasosa do trolox começou num projecto de licenciatura, tendo sido obtido um valor de 1402 ± 9 kJ/mol. Neste trabalho, inserimos mais duas referências e aplicámos outro formalismo do método cinético, de modo, a consolidar esse resultado. Assim, obtivemos uma ∆acH de 1416 ± 11 kJ/mol. Comparando, com os cálculos 75 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 7. Conclusões e Perspectivas Futuras teórico realizados, esclarecemos que o protão saiu do grupo carboxílico desta molécula, tendo sido considerado o valor teórico de 1422 kJ/mol do ião B. Posteriormente, com o valor de ΔacHᵒ, da EA e da IE, determinámos a entalpia de dissociação da ligação O-H para o trolox, que foi de 345 ± 11 kJ/mol. Um dos objectivos deste trabalho era o estudo experimental e teórico do αtocoferol. Através da espectrometria de massa, pretendia-se determinar experimentalmente a acidez em fase gasosa, mas não fora possível formar o heterodímero que permitia esse estudo. Essa impossibilidade pode dever-se a impedimentos estereoquímicos causados pela longa cadeia alifática, já que anteriormente foi possível estudar o cromanol, sendo que este é igual ao α-tocoferol, mas sem a longa cadeia alifática. Assim, realizou-se o estudo teórico do α-tocoferol, onde se conseguiu obter os valores de ∆acH (ArOH), de EA (ArO) e BDE, que foram respectivamente, de 1470 kJ/mol, de 1,74 eV e de 333 kJ/mol. Sendo o α-tocoferol menos ácido que os outros compostos em estudo e apresentando resultados teóricos de EA e BDE inferiores em relação ao ácido cafeico e trolox, podemos concluir que a afinidade electrónica deve ter uma grande influência no valor da entalpia de dissociação da ligação OH. Sabe-se que a função antioxidante está relacionada com o baixo valor de BDE’s em compostos fenólicos. Assim, podemos concluir que o α-tocoferol com valores mais baixos de entalpia de dissociação da ligação O-H do que os outros dois compostos será o antioxidante mais activo dos três. Futuramente, concluir-se-á um estudo teórico do α-tocoferol, onde se tentará compreender a influência da cadeia alifática na formação do heterodímero. Também, concluir-se-á a análise dos resultados de ∆acH para o trolox e o ácido cafeico, obtidos na célula de colisões situada entre o quadrupolo e a célula de ICR, aplicando o método cinético estendido. 76 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. 8. Bibliografia 8. Bibliografia 1. Houaiss, A., Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001. 2. Os Antioxidantes, in Food Ingredients Brasik2009. p. 16-30. 3. Ferreira, A.L.A.e Matsubara, L.S., Radicais livres: conceitos, doenças relacionadas, sistema de defesa e estresse oxidativo. Revista da Associação Médica Brasileira, 1997. 43: p. 6168. 4. Sousa, C.M.d.M.S., Hilris Rocha ;Vieira-Jr., Gerardo Magela;;Ayres, Mariane Cruz C.;Costa, Charllyton Luis S. da; Araújo, Delton Sérvulo;Cavalcante, Luis Carlos D.;Barros, Elcio Daniel S.;Araújo, Paulo Breitner de M.;Brandão, Marcela S.;Chaves, Mariana H., Fenóis totais e atividade antioxidante de cinco plantas medicinais. 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Fernandez, M.T., Determinação da acidez em fase gasosa da vitamina E (trabalho não publicado), 2000. 86 Correlação da função antioxidante com energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexos Anexo A – Espectros MS das misturas de ácido cafeico com as várias referências – Ion Trap a) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido benzóico. b) Espectro MS do ácido cafeico com ácido 4-hidroxibenzóico. c) Espectro MS ácido cafeico com o 4-hidroxiacetofenona. d) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido nicotínico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. e) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido 4-cianobenzóico. f) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido 2-hidroxibenzóico. g) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido 2,5-dihidroxibenzóico. h) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido pentafluorobenzóico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. i) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido 2,4,6-trihidroxibenzóico. j) Espectro MS do ácido cafeico com o ácido pícrico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo B – Espectros MS2 - Estudo da acidez do ácido cafeico – Ion Trap a) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido benzóico. b) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 4-hidroxibenzóico. c) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o 4-hidroxiacetofenona. d) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido nicotínico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. e) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 4-cianobenzóico. f) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 2-hidroxibenzóico. g) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 2,5dihidroxibenzóico. h) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido pentafluorobenzóico. i) Espectro MS do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 2,4,6trihidroxibenzóico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo C – Espectros MS2 - Estudo da acidez do ácido cafeico– FTICR *Os iões 300,9 e 299,9 são frequências fantasmas. a) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 4-cianobenzóico. b) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 2-hidroxibenzóico. c) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 2,5dihidroxibenzóico. d) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido pentafluorobenzóico. e) Espectro MS do heterodímero formado pelo ácido cafeico e o ácido 2,4,6trihidroxibenzóico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo D – Espectros MS das misturas do Trolox com várias referências – Ion Trap a) Espectro MS do trolox com o 3-trifluorometilfenol. b) Espectro MS do trolox com o 4-hidroxibenzoato de metilo. c) Espectro MS do trolox com o 3-trifluorometilfenol. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. d) Espectro MS do trolox com o ácido 4-hidroxibenzóico. e) Espectro MS do trolox com a 4-hidroxiacetofenona. f) Espectro MS do trolox com o ácido nicotínico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo E – Espectros MS2 – Estudo da acidez do Trolox – Ion Trap a) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 3-trifluorometilfenol. b) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 4-hidroxibenzoato de metilo. c) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 3-trifluorometilfenol. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. d) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o ácido 4-hidroxibenzóico. e) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 4-hidroxiacetofenona. f) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o ácido nicotínico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo F – Espectros MS – Estudo da acidez do trolox– FTICR a) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 4-hidroxibenzoato de metilo. b) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 3-trifluorometilfenol. c) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o ácido 4-hidroxibenzóico. d) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o 4-hidroxiacetofenona. e) Espectro MS2 do heterodímero formado pelo trolox e o ácido nicotínico. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo G – Espectros MS das misturas do α-tocoferol com as várias referências – Ion Trap a) Espectro MS do α-tocoferol com o 3,4-dimetilfenol. b) Espectro MS do α-tocoferol com o 4-metilfenol. c) Espectro MS do α-tocoferol com o cromanol. d) Espectro MS do α-tocoferol com o 4-etilfenol. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. e) Espectro MS do α-tocoferol com o 3,4-dimetoxidofenol. f) Espectro MS do α-tocoferol com o fenol. g) Espectro MS do α-tocoferol com o 4-fluorofenol. h) Espectro MS do α-tocoferol com o 4-clorofenol. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo H – Espectros MS – Estudo do solvente no α-tocoferol – Ion Trap a) Espectro MS do α-tocoferol em metanol. b) Espectro MS do α-tocoferol em água. c) Espectro MS do α-tocoferol em água. d) Espectro MS do α-tocoferol em acetonitrilo. e) Espectro MS do α-tocoferol em DMSO. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. Anexo I – Resultados da acidez em fase gasosa do trolox, incluíndo os valores obtidos para o ácido nicotínico Com estes valores da tabela 3.12, fizemos um gráfico (I.1) para cada conjunto de valores, do logaritmo da razão das abundâncias iónicas em função dos valores de ΔacH(RH) das referências. 3,00 Ln [ArO-/R-] 2,00 1,00 0,00 1395 -1,00 ΔacH (kJ/mol) 1400 1405 1410 1415 -2,00 y = 0,1124x - 158,38 R² = 0,1108 -3,00 -4,00 Gráfico I.1 – 1ª regressão linear - Valores obtidos através da razão o logaritmo da razão das intensidades para cada referência a 0 Hz. Desta forma, obtivemos um conjunto de representações gráficas, um gráfico para cada frequency Offset, onde retiramos o valor de -m (1/RTeff) e b (ΔGapp(RH)/RTeff) e organizamos na tabela I.1. Tabela I.1 – Valores de m e b, obtidos através das 1ª representações gráficas. Amplitude de excitação 0 Hz 100 Hz 200 Hz 300 Hz 1/RTeff (-m) 158,38 133,80 118,69 96,12 ΔGapp(ArOH)/RTeff (b) 0,112 0,095 0,084 0,068 R2 0,1108 0,0904 0,0789 0,0516 Teff 1070,10 1268,77 1431,89 1774,03 (frequency Offset) Com os valores descritos na tabela, contruímos a segunda representação gráfica (gráfico I.2). Através desta representação gráfica, determinámos que o valor da afinidade Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos. protónica em fase gasosa, ΔacH, do anião do trolox corresponde a 1396 ± 10,3 kJ/mol e a valor da variação de entropia é de 12,06 J/mol. ΔGapp(RH)/RTeff 200 150 y = 1396,07x + 1,45 R² = 1,00 100 50 0 0,05 1/RTeff 0,1 0,15 Gráfico I.2 – 2ª regressão linear - Valores obtidos através de 1/RTeff em função de ΔGapp(RH)/RTeff . Comparando este valor com o valor experimental, de 1416 ± 11,3 kJ/mol, e com o valor teórico, de 1422 kJ/mol, verificamos que existe uma diferença de 20 kJ/mol ou mais. Correlação da função antioxidante com a energia de ligação O-H em compostos fenólicos.