Análise Matemática - 2009/2010 I - Funções reais de variável real 1. Números Reais. 1.1 - Números naturais, números relativos, números racionais e números reais. De uma forma muito simples vamos recordar os números: • Números Naturais ℕ - 1, 1+1=2, 2+1,... • Números Relativos ℤ simétricos e o 0. são os números naturais, os seus …, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3… • Números Racionais ℚ - são todos os números que possam representar-se na forma x , com x e y ∈ ℤ e y ≠ 0 y • Números Reais ℝ - Além dos números racionais englobam também os irracionais (exemplos: 2 , π ,…) Obviamente ℕ ⊂ ℤ ⊂ ℚ ⊂ ℝ 1.1 Propriedades básicas dos números reais, axiomática dos números reais. Vamos admitir o conjunto ℝ , cujos elementos são os números reais, e no qual supomos definidas duas operações: adição (+) e multiplicação ( × ). Na axiomática dos números reais os axiomas estão divididos em três grupos: • Axiomas de Corpo • Axiomas de Ordem • Axioma de Supremo 1ª aula teórica. pág. 1 Análise Matemática - 2009/2010 Axiomas são propriedades/preposições que não se demonstram, pois admitem-se (definem-se) como verdadeiras. Axiomas de um Corpo Axioma 1 - A adição e a multiplicação são operações comutativas no conjunto dos reais. x+ y= y+x e xy = yx Axioma 2 - A adição e a multiplicação são operações associativas no conjunto dos reais. ( x + y ) + z = x + ( y + z ) e ( xy ) z = x ( yz ) Axioma 3 - A multiplicação é distributiva em relação à adição x ( y + z ) = xy + xz Quaisquer que sejam x, y , z ∈ ℝ Axioma 4 - A adição e a multiplicação são operações com elemento neutro: Os elementos neutros das duas operações são números reais distintos. Tem-se para todo o x ∈ ℝ , x + 0 = 0 + x = x e x.1 = 1. x = x Axioma 5 - Todo o número real tem um simétrico (isto é, qualquer que seja o real x existe pelo menos um y ∈ ℝ tal que x + y = 0 ; todo real distinto de zero tem inverso (quer dizer, qualquer que seja o real x ≠ 0 , existe pelo menos um y ∈ ℝ tal que ( xy = 1) . Axiomas de Ordem Axioma 6 - O conjunto dos números positivos, ℝ + , é um subconjunto de ℝ fechado para as operações de adição e de multiplicação (esta última afirmação significa que, se x e y são números positivos, a sua soma e o seu produto também o são). Nota: um número real diz-se negativo sse o seu simétrico é positivo. 1ª aula teórica. pág. 2 Análise Matemática - 2009/2010 Axioma 7- Qualquer número real ou é positivo, ou é negativo ou é nulo. Axioma do Supremo Axioma 8 - Qualquer subconjunto de ℝ majorado e não vazio tem supremo. 1.2 Intervalos. Conjuntos ilimitados. Máximo, mínimo, supremo e ínfimo de um conjunto. Sendo a, b ∈ ℝ e a≤b é costume designar-se por [ a, b] ,[ a, b[ , ]a, b] e ]a, b[ respectivamente, os conjuntos dos reais, x que verificam as condições: a ≤ x ≤ b , a ≤ x < b , a < x ≤ b e a < x < b . Repare que: • [ a , b ] é um intervalo fechado de extremos a e b • ]a, b[ é um intervalo aberto de extremos a e b • [ a, b[ e ]a, b ] são intervalos semi-fechados ou semi-abertos Conjuntos ilimitados. Sendo a ∈ ℝ existem dois tipos de intervalo de origem em a ilimitados à direita: • O conjunto fechado [ a, +∞[ • O conjunto aberto ]a, +∞[ • O próprio conjunto ℝ é também considerado um intervalo ilimitado e designado às vezes por ]−∞, +∞[ Majorante e minorante. Seja K um subconjunto de ℝ e a e b números reais: • Diremos que b é majorante do conjunto K sse qualquer elemento de K for menor ou igual a b. 1ª aula teórica. pág. 3 Análise Matemática - 2009/2010 • Diremos que a é minorante de K sse a ≤ x , ∀x ∈ K Exemplos: • K = [1, 6] 1 é minorante, mas também o -2 é um minorante 6 é majorante mas também o 7 é majorante • K = ]0, +∞[ Neste caso qualquer número negativo é minorante (o 0 também é um minorante). Este conjunto não tem majorantes. • ℝ não tem majorantes nem minorantes Definições: Seja K ⊂ ℝ . • K diz-se majorado (ou limitado superiormente, ou limitado à direita) sse tiver majorantes. • K diz-se minorado (ou limitado inferiormente, ou limitado à esquerda) sse tiver minorantes. • K diz-se limitado se for majorado e minorado. Exemplos: {−2,10} ; {0} ; {1, 2, 3, 200} e ]1, 4[ • K diz-se ilimitado se não for limitado. Exemplos: ]−∞, +∞[ ; ]−∞, 4] e [ −3, +∞[ Seja K ⊂ ℝ . Pode existir ou não em K um elemento maior de que todos os outros, isto é pode existir ou não um número real c que verifique conjuntamente as condições: c ∈ K e c é majorante de K. Se existir chama-se máximo do conjunto. Analogamente, o mínimo de K, se existe, é o minorante de K que pertence a K. Nota: O máximo ou mínimo a existir é único. 1ª aula teórica. pág. 4 Análise Matemática - 2009/2010 Exemplos • • • {0,1} tem máximo 1 e mínimo 0 [0,1] tem máximo 1 e mínimo 0 ]−2, 9] tem máximo 9 e não tem mínimo (-2 é minorante mas não pertence ao conjunto) • Os conjuntos ℝ e ∅ não têm mínimo nem máximo Supremo e ínfimo Seja K ⊂ ℝ , designemos por V o conjunto de todos os seus majorantes (ter-se-á que V = ∅ sse k não for majorado). Chama-se supremo de K (e designa-se por sup K o elemento mínimo do conjunto V (no caso de V não ter mínimo dir-se-á que K não tem supremo). Nota: Quando o supremo de k existe, é único e pode pertencer ou não ao conjunto K; pertence certamente ao conjunto V, isto é, é um majorante de K (precisamente o menor de tais majorantes). Raciocínio idêntico pode ser feito para o ínfimo de K ou inf K, ou seja representa o maior dos minorantes. É óbvio que qualquer conjunto K que tenha máximo tem supremo, sendo sup K = max K; Assim como qualquer conjunto com mínimo tem ínfimo igual ao mínimo inf K = min K. Exemplos: sup [ 0,1] =max [ 0,1] = 1 sup ]0,1[ = 1 ; ; inf [ 0,1] =min [ 0,1] = 0 inf ]0,1[ = 0 Nota: No intervalo aberto ]0,1[ não existe máximo nem mínimo. 1ª aula teórica. pág. 5 Análise Matemática - 2009/2010 2 . Noções topológicas no conjunto dos reais. 2. 1- Módulo, distância, vizinhança. Def.1.1 Seja x ∈ ℝ , designa-se módulo ou valor absoluto ao real positivo (ou nulo), x se x ≥ 0 x = − x se x < 0 Prop.1.2* Sejam x e y, dois números reais, então: (2) x ≥0 x≤ x (3) −x = x (4) xy = x × y (5) se y ≠ 0, (1) (6) x x = y y x+ y ≤ x + y (7) x− y ≥ x − y (8) se n∈ ℕ , xn = x n Equações com módulos x =0⇔ x=0 x = a ⇔ x = a ∨ x = −a x − b = a ⇔ x − b = a ∨ x − b = −a * A demonstração destas propriedades encontra-se no livro do Prof. Campos Ferreira 1ª aula teórica. pág. 6 Análise Matemática - 2009/2010 Inequações com módulos Supondo a ∈ ℝ + e b ∈ ℝ − x < a ⇔ x < a ∧ x > −a ⇔ −a < x < a ⇔ x ∈ ]− a, a[ x ≤ a ⇔ x ≤ a ∧ x ≥ −a ⇔ −a ≤ x ≤ a ⇔ x ∈ [− a, a ] x > a ⇔ x > a ∨ x < −a ⇔ x ∈ ]− ∞,−a[ ∪ ]a,+∞[ x ≥ a ⇔ x ≥ a ∨ x ≤ −a ⇔ x ∈ ]− ∞,−a] ∪ [a,+∞[ x < 0 ⇔ x ∈∅ x ≤0⇔ x=0 x < b ⇔ x ∈∅ Exemplos: x + 1 se x + 1 ≥ 0 − ( x + 1) se x + 1 < 0 a) x + 1 = b) x + 2 = 3 ⇔ x + 2 = −3 ∨ x + 2 = 3 ⇔ x = −5 ∨ x = 1 c) x + 2 < 3 ⇔ −3 < x + 2 < 3 ⇔ −5 < x < 1 d) x + 2 > 3 ⇔ x + 2 < −3 ∨ x + 2 > 3 ⇔ x < −5 ∨ x > 1 Distância entre dois números reais Def.1.3 Seja x, y ∈ ℝ , define-se distância entre x e y, d ( x, y) = x − y Prop.1.4 * Sejam x, y, e z ∈ ℝ e d a distância definida anteriormente então, são válidas as três propriedades: (1) d ( x , y ) ≥ 0 e d ( x , y ) = 0 sse x= y (2) d ( x , y ) = d ( y , x ) (simetria da distância) (3) d ( x, z ) ≤ d ( x , y ) + d ( y , z ) (desigualdade triangular) 1ª aula teórica. pág. 7 Análise Matemática - 2009/2010 Def.1.5 Vizinhança Seja a um n.º real, dado um n.º ε > 0, designa-se por vizinhança de a, de raio ε , ao conjunto Vε (a ) = { x ∈ ℝ : d ( x, a) < ε } = { x ∈ ℝ : x − a < ε } Exemplo: V1 (5) = { x ∈ ℝ : x − 5 < 1} = { x ∈ ℝ : 4 < x < 6} 2.2- Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto. Prop.1.6 Seja A um subconjunto de números reais, A ⊂ ℝ , e b um número real. Diz-se que: (i) b é um ponto interior ao conjunto A se existir uma vizinhança de b contida em A, (isto é se existir ε >0 Tal que Vε (b) ⊂ A ). (ii) b é um ponto exterior ao conjunto A se existir uma vizinhança de b disjunta de A isto é se existir ε >0 tal que Vε (b) ∩ A = ∅ . (iii) b é um ponto fronteiro de A se b não for ponto interior nem ponto exterior de A . (iv) b é um ponto aderente de A se ∀Vε (b) ∩ A ≠ φ (v) b é um ponto de acumulação de A se ∀Vε (b) ∩ ( A | {b}) ≠ φ Faça a aplicação dos conhecimentos anteriores ao conjunto A A = ]1,4] ∪ {10} 1ª aula teórica. pág. 8 Análise Matemática - 2009/2010 Def.1.7 Dado um conjunto A ⊂ ℝ , designa-se: o (1) Interior de A, int(A) (ou A ), o conjunto das pontos interiores de A. (2) Exterior de A, ext(A), o conjunto dos pontos exteriores de A. (3) Fronteira de A, fr(A), o conjunto dos pontos fronteiros a A. (4) Aderência de A, ou fecho de A, o conjunto int(A) ∪ fr(A) e denota-se por A , ( A = A ∪ fr ( A) ) (5) Derivado de A, A´, é o conjunto dos pontos de acumulação. Exemplos: (1) B = [0,1] int( B) = ]0,1[ fr(B)= {0,1} ext (B) = ]− ∞,0[ ∪ ]1,+∞[ (2) (3) X =∅ int ( X ) = ∅ ext(X)= ℝ B = [0,1] fr(X)= ∅ X =∅ fr(X)= ∅ X =ℝ B′ = [0,1] X ′ =∅ X =ℝ int(X)= ℝ ext (X)= ∅ X′ = ℝ 1ª aula teórica. pág. 9 Análise Matemática - 2009/2010 Obs.: Sendo X c o complementar do conjunto X ( X c = ℝ \X) Qualquer que seja X ⊂ ℝ e X c : (i) int( X c )=ext(X) (ii) fr( X c )=fr(X) (iii) int(X) ⊂ X′ ⊂ X ⊂ X 2.3- Conjuntos abertos e conjuntos fechados. Conjuntos limitados. Def.1.8 Um conjunto A ⊂ ℝ diz-se aberto se coincide com o interior (A= A ) e A ⊂ ℝ diz-se fechado se coincidir com o fecho − ( A = A ). Exemplos: A= ]0,5[ B= [0,3] C= ]0,5] A é aberto B é fechado C não é aberto nem fechado Def.1.9 Conjunto limitado Um conjunto A ⊂ ℝ diz-se limitado se, dado um elemento b ∈ A , existe ε ∈ ℝ + tal que A ⊂ Vε (b) . Caso contrário diz-se que A é ilimitado. Exemplos: (1) { B= [− 5,3[ ∪ ]10,100[ ∪ π ,10 4 } B é limitado (2) C= ]− ∞, π ] C não é limitado, diz-se então que é ilimitado. 1ª aula teórica. pág. 10