REGIONAL Educação superior Iniciativas do Regional catarinense estimulam trabalhador a estudar 1 concluiu o primeiro grau e já viu seu nome estampado no livro Expressão, obra que reúne redações produzidas por ele e colegas de sala de aula. Wiesenhiitter e Celestino têm algo em comum: integram duas importantes iniciativas do Departamento Regional desenvolvidas com o objetivo de oferecer aos trabalhadores um estímulo extra para prosseguir os estudos e melhorar o nível de escolaridade. Wiesenhiitter é um dos 5,5 mil industriários que serão beneficiados em 2005 pelo Laboratório de Inclusão Digital do SESI. “Trata-se de uma ação do programa SESI Educação do Trabalhador para valorizar a educa- ção básica e oferecer aos industriários uma oportunidade de qualificação profissional”, explica a coordenadora de Educação, Maria Tereza Paulo Hermes. “Quando cheguei nem sabia ligar a máquina. Mas vou fazer o curso para ter mais futuro. A empresa usa cada vez mais tecnologia e, depois do curso básico, quero fazer outro mais longo”, planeja Wiesenhiitter. Os resultados da iniciativa já foram observados no ano passado, quando 27 laboratórios de informática foram instalados em fábricas. Os alunos não faltam às aulas. Ao contrário, esperam ansiosamente por esses momentos”, diz a coordenadora. A timidez dos primeiros FOTOS: ELMAR MEURER Recém-formado no ensino médio, Ilson Wiesenhiitter, de 33 anos, empregado da Seara Alimentos, na cidade de Seara, em Santa Catarina, aprendeu a ligar o computador no início deste ano em seu primeiro curso de computação. Em Criciúma, no sul do Estado, Edison Celestino, de 39 anos, trabalhador da Canguru Embalagens, 2 1. Wiesenhiitter: planos para outros cursos no futuro; 2. laboratório de informática da Seara Alimentos 10 dias de aula, segundo ela, é em pouco tempo substituída pelos avanços e pelas boas produções dos alunos-trabalhadores. A gerente de Recursos Humanos da Seara Alimentos, Rita Poyer, enfatiza a importância da iniciativa que em sua empresa beneficiará 436 empregados em 2005: “O Programa de Inclusão Digital é extremamente necessário para o momento”, afirma. A informatização na empresa, explica a gerente, é cada vez mais importante em áreas como controle de qualidade e controle estatístico, entre outras. Para trabalhadores que ainda não incorporaram a informática ao dia-a-dia de trabalho, como Aliane Girardi, de 26 anos, o programa é uma alternativa de se manter atualizado enquanto a oportunidade na empresa não vem. No ano passado, Aliane voltou ao ensino médio depois de 11 anos de interrupção e agora retoma o curso de informática. “Já cursei computação há seis anos, mas sem trabalhar com o computador a gente esquece”, afirma. “É preciso estar atualizado para poder aproveitar quando surgir uma chance”, acrescenta. PESSOAL DE EXPRESSÃO O Grupo Jorge Zanatta, de Criciúma, com 2.013 empregados e negócios nos segmentos da construção civil e do plástico, encontrou na iniciativa da professora Lair Teresinha Pinter, do DR-SC, uma boa oportunidade para estimular os estudos entre os membros do quadro funcional da maior empresa do grupo, a Canguru Embalagens. A professora sugeriu transformar em livro as redações produzidas em sala de aula do programa SESI Educação do Trabalhador. A idéia foi patrocinada pelo Grupo Zanatta e os 44 formandos do ensino fundamental re- Zanatta (ao centro com os autores): não freqüentou escola, mas quer todos os funcionários na sala de aula. No destaque, a capa do livro Expressão ceberam de presente de formatura o livro Expressão, uma coletânea de suas redações. O objetivo, explica a professora, era mostrar como os alunos progrediram ao longo do curso. “Foi surpreendente, pois eles aprenderam a desenvolver e organizar melhor as idéias e evoluíram muito na pontuação e acentuação”, observa. Márcio Teixeira, de 25 anos, que interrompera os estudos por dez anos, demonstrou orgulho ao lembrar da receptividade do livro entre seus familiares. “Mostrei para a minha família e todo mundo leu as redações e gostou”, afirma. O trabalhador reconhece a importância da retomada dos estudos. “Para operar as máquinas é necessário ter segundo grau e sem estudos a gente fica para trás”, afirma. O maior incentivador do lançamento literário foi o empresário Jorge Zanatta, de 80 anos, presidente do grupo que leva seu nome. De origem humilde, ele lembra que não teve oportunidade de freqüentar uma sala de aula. Seu professor foi o dono do cartório em Morro da Fumaça, no sul de Santa Catarina, recorda-se. “Sou o mais novo entre nove filhos”, ressalta. Todos trabalharam na roça e não freqüentaram a escola, distante oito quilômetros de onde moravam. Essa talvez seja uma das razões para o empresário valorizar o aprendizado e buscar formas de incentivá-lo entre os empregados. Este ano, a Canguru Embalagens decidiu que todos os trabalhadores sem ensino fundamental completo deverão voltar a estudar. “Não vamos aceitar não como resposta”, diz a coordenadora de recursos humanos, Stelamaris Giassi. Ela aponta alguns bons motivos para isso: a autoestima do trabalhador se eleva e o maior nível de escolaridade é fundamental para a expansão da produtividade e melhora da qualidade de vida na fábrica. “O aumento da escolarização é necessário para que o trabalhador possa ler e entender os procedimentos de produção de nossas certificações de qualidade”, explica. Edson Celestino confirma o que diz a professora: “Estudar dá mais agilidade para desempenhar as funções na fábrica, onde as máquinas são controladas por computador”, afirma. Darcioni de Souza, de 34 anos, que também assina uma das redações publicadas no livro, concorda com o colega. “Agora, me expresso melhor na empresa e em casa”, conclui. 11