Memorial da Resistência de São Paulo PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA Igreja Nossa Senhora da Consolação Endereço: Rua da Consolação, 585 Consolação, SP Classificação: Espaço religioso. Identificação numérica: 141-10.001 No ano de 1799 os moradores da pantanosa região atualmente conhecida como Consolação solicitaram ao Bispo Diocesano de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira, autorização para a construção de uma igreja. No ano de 1801 foi inaugurada a Igreja Nossa Senhora da Consolação, ou apenas Igreja da Consolação, erguida a partir da técnica de taipa, bastante comum na época1. A região, denominada “Caminho de Pinheiros”2 – distante de São Paulo e caminho de tropas de burros vindas de Sorocaba ou que subiam para o atual bairro de Pinheiros –, ganhava a sua primeira igreja e atraia fieis com feiras de tropeiros onde se vendiam animais3. A expansão da área urbana de São Paulo nas décadas seguintes, resultou também no crescimento dos fiéis da Igreja da Consolação. Naquela região pantanosa começavam a surgir obras públicas visando a melhoria do espaço para as casas e A taipa é uma técnica construtiva de origem árabe utilizada na construção de paredes. Consiste em apiloar terra úmida entre dois pranchões de madeira removíveis que se mantém de pé e afastadas entre si graças a travessas ou escoras. O uso da taipa caracterizou todas as construções paulistas dos séculos XVI, XVII, XVIII e primeira metade do XIX. Verbete. Museu da Cidade de São Paulo. Disponível em <http://www.museudacidade.sp.gov.br/taipadepilao.php>. Acesso em 07/05/2015. 2 Para uma leitura sobre os caminhos de acesso à São Paulo durante os séculos XVI e XVII, conferir o artigo de Eudes Campos, A vila de São Paulo do Campo e seus caminhos. Publicado pela Revista do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, v. 204, 2006. Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/ada0c_Revista_do_Arquivo_n204.pdf#page=11. Acesso em 07/05/2015. 3 Danilo Janúncio Alves. História dos Bairros Paulistanos – Consolação. Disponível no Banco de Dados Folha. <http://almanaque.folha.uol.com.br/bairros_consolacao.htm> Acesso em 07/05/2015. 1 1 chácaras localizadas, principalmente, nos arredores da igreja. Em 1840, a humilde edificação religiosa recebeu também sua primeira reforma de ampliação, que “providenciou cinco janelas, duas torres, porta principal e duas entradas laterais, largas escadas de acesso e frente acolhedora. No altar-mor estava a pequena imagem portuguesa de Nossa Senhora da Consolação, esculpida em madeira e papel machê”4. Imagem 01: Aquarela de J. Wasth Rodrigues para o IV Centenário da Cidade de São Paulo em 1954. As aquarelas, reunidas sob o título "Documentários de São Paulo Antigo", foram baseadas em iconografias antigas da cidade. Autor da aquarela: J. Wasth Rodrigues. Fonte: Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo. Imagem 02: Fotografia da Igreja Nossa Senhora da Consolação no séc. XIX, após reforma de ampliação. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Hagop Garagem fotografias históricas. A informação está disponível no site da Paróquia. <http://www.iparoquia.com/paroquia/historia.php?id=2kTM>. Acesso em 06/05/2015. A fim de preservar a imagem da padroeira do século XVII, ela foi transferida para o Arquivo da Cúria e atualmente se encontra no Museu de Arte Sacra. 4 2 Na segunda metade do século XIX, a região da Consolação já era considerada um bairro de São Paulo e contava com uma população de “3.577 habitantes, sendo 342 escravos e 8 eleitores”5 e a Igreja, já ampliada pela reforma, seguia recebendo cada vez mais fiéis. Devido a esta crescente importância do bairro em termos populacionais e da Igreja como referência religiosa local, em 1870 ela foi elevada à condição de Paróquia. Nesta época, o livro de Tombo da Igreja registrava como limites de sua freguesia a região compreendida entre o Anhangabaú, a futura Avenida São João e o Rio Tietê6; e a ela se subordinavam as igrejas da Santa Cruz das Perdizes, de Santa Cecília, do Divino Espírito Santo, no Bela Vista, e de Nossa Senhora do Monte Serrate, em Pinheiros. Em 23 de março de 1870, o bairro passa a ser um distrito e nos seus arredores já estavam instaladas famílias da elite paulistana, que habitavam grandes chácaras ou palacetes, conforme lembranças de Monsenhor Francisco Bastos7. A Consolação vivia mergulhada na quietude bucólica de suas chácaras com os casarões aristocráticos da época, rodeados de árvores frondosas. E quantas eram! A de Dona Veridiana Prado, que abrangia toda a parte alta da Consolação, estendendo-se por Higienópolis e Pacaembu afora; a do General Arouche, que ocupava parte da Vila Buarque, largo do Arouche até a avenida São João; a da Marquesa de Santos, que descia da rua Líbero Badaró, alongando se pelo Vale do Anhangabaú, onde havia uma plantação de chá; o viaduto construído para transpor esse vale ficou conhecido como Viaduto do Chá por causa dessa plantação8. A Prefeitura de São Paulo, através da sua Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano realizou, em 2007, um interessante estudo sobre o histórico demográfico do Município de São Paulo entre 1872 e 2010. Conforme a publicação, que também fez uma abordagem da fundação da cidade, estima-se que em 1554 não mais de 100 habitantes viviam nos arredores do colégio erguido pelos padres jesuítas, constituindo o núcleo inicial da futura cidade. Nos três séculos seguintes, o povoado A informação no site da Paróquia é atribuída a Azevedo Marques. Os detalhes dos limites da freguesia foram disponibilizados pelo Quinto Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo no link < http://www.quinto.com.br/consolacao.htm>. Acesso em 08/05/2015. 7 Monsenhor Francisco Bastos nasceu em Piracicaba em 11 de Setembro de 1892. Formado pela Universidade Gregoriana de Roma em Filosofia e Teologia, assumiu a Paróquia da Nossa Senhora da Consolação em 1921, quando as obras de reconstrução iniciada em 1907 encontravam-se paralisadas. Bastos esteve à frente da Igreja durante 47 anos. Sobre a Igreja, neste período, há um fato curioso: em 1935 Francisco Bastos participou na refundação do São Paulo Futebol Clube, sendo eleito inclusive o primeiro presidente do Conselho. Nos primeiros anos do clube, o pároco fez da Igreja o local de “concentração” improvisado do time, enquanto este providenciava a construção de sua sede, o Estádio do Morumbi, inaugurado em 1960. Disponível em <http://www.saopaulofc.net/noticias/noticias/futebol/2010/10/1/m50-morumbi,-um-templo-de-fe/ >. Acesso em 11/05/2015. 8 As memórias de Monsenhor Francisco Bastos estão reunidas da obra de sua autoria: Reminiscências de um Pároco de Cidade, São Paulo: Paulinas, 1973. O trecho que utilizamos foi citado no site da Paróquia Nossa Senhora da Consolação. 5 6 3 conheceu um lento crescimento, somente alterado a partir da década de 1870, quando o primeiro levantamento censitário realizado no Brasil, em 1872, apontou a presença de 31.385 moradores. Já o último censo do século XIX registrou o crescimento vertiginoso de São Paulo, que então se transformara numa cidade de 240.000 habitantes. Neste período, as antigas chácaras ao redor do núcleo histórico da cidade eram loteadas e a área urbana se expandia continuamente. No ano de 1891 surge a avenida Paulista, que ajuda o distrito da Consolação a ganhar importância por causa de sua localização, agora mais central. Na região começaram a abrir ruas, avenidas, alamedas e largos e são criados bairros nobres como o Higienópolis e o Pacaembu. Além do processo de urbanização, também as ferrovias desempenham um importante papel para São Paulo neste contexto, pois elas fazem a ligação da cidade com o interior, onde se produzia o café, e com o porto de Santos, por onde ele era exportado. No fim do século XIX São Paulo se firmava como o mais dinâmico centro comercial e financeiro da nova República9. Pelo mapa a seguir, também disponibilizado pela publicação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo, é possível verificar a intensificação do processo de urbanização da cidade entre os anos de 1882 e 1914 em comparação com o período anterior a 1881. No mapa, chamamos a atenção para o distrito da Consolação, onde se evidencia que o crescimento da região ocorreu no fim da segunda metade do século XIX. Histórico Demográfico do Município de São Paulo, 2007. Disponível em http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/index.php>. Acesso em 11/05/2015. 9 < 4 Imagem 03: Mapa comparativo sobre a expansão da área urbanizada de São Paulo. Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo. 5 Esse contexto de intensificação urbanística de São Paulo, foi acompanhado por um desejo de renovação e progresso, característicos do início do século XX, e, dentro deste quadro, a humilde Igreja da Consolação – edificada com paredes de taipa – não correspondia aos anseios arquitetônicos dos belos edifícios de inspiração europeia que passaram a compor o cenário da região10. Além disso, aquele antigo templo, erguido no século XVIII, já não conseguia abrigar tantas pessoas. Assim, em 1907, o prédio original foi demolido. O novo projeto, de 1909, é assinado por Maximilian Emil Hehl, engenheiroarquiteto formado pela Escola Politécnica de Hannover na Alemanha11. Erguida em estilo românico-bizantino, a obra demorou décadas para ficar pronta, sendo que a torre só foi finalizada em 195912, isso porque, até os anos 1940, a Paróquia passou por sérias dificuldades financeiras, principalmente devido às crises do café, quando a elite paulista deixava de fazer doações para as obras de caridade. Segundo notícia de O Estado de São Paulo, Monsenhor Bastos, ao assumir a administração da paróquia em 1921, “encontrou a Igreja da Consolação apenas com o telhado, as paredes nuas, o piso de tijolo e uma dívida de mil contos de réis, quantia astronômica naquela época”13. Apesar das dificuldades vividas durante o processo de construção, a nova Igreja da Consolação é bem distinta da anterior e conseguiu ser ricamente adornada – como efeito das muitas negociações do pároco com os cafeeiros moradores dos arredores. Destacamos algumas de suas características externas: a torre gótica de 75 metros de altura, que já foi a mais alta de São Paulo; os ladrilhos em mosaico e mármore desenham a fachada; o carrilhão de cinco sinos; o relógio da torre, confeccionado pela mesma empresa que fez o Big Ben londrino; e a porta da entrada trabalhada em ferro forjado batido. No interior da Igreja vitrais coloridos feitos de chumbo e vidro a iluminam juntamente com o lustre central de 5 metros de diâmetro, confeccionado em ferro batido Para uma leitura sobre os referenciais arquitetônicos europeus na cidade de São Paulo no séc. XIX, conferir o artigo de Eudes Campos, Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana. Publicado nos Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, vol.13, n.1, São Paulo, jan./jun de 2005. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010147142005000100002&script=sci_arttext>. Acesso em 11/05/2015. 11 Hehl nasceu na Alemanha em 1861. Mudou-se para São Paulo em 1890 e começou a trabalhar com o importante arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Em 1896 iniciou sua carreira como docente na Escola Politécnica de São Paulo. Hehl também foi responsável pelos projetos do Sanatório Santa Catarina, de 1906 – demolido quarenta anos depois para a construção do Hospital Santa Catarina, na avenida Paulista; pelo Quartel do Corpo de Bombeiros de Santos, em 1907; a Catedral de Santos, em 1909, e, por fim, em 1912 iniciou o projeto da Catedral da Sé, considerado um dos cinco maiores templos neogóticos do mundo – que foi inaugurada apenas em 1954 durante as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo. Conferir o Dicionário de Artistas do Brasil. <http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/>. Acesso em 12/05/2015. 12 A data de finalização da torre só foi encontrada na reportagem de Ennio Squeff. A ameaça de penhora. O Estado de São Paulo, São Paulo, 05 de setembro de 1971, p.42. 13 A reportagem do dia 12 de setembro de 1982, p.58, foi citada pelo site Ateliê, Arte e Restauração. Disponível em <http://www.ateliearterestauracao.com.br/a-historia-da-igreja-daconsolacao-pelo-jornal/> Acesso em 12/05/2015. 10 6 pelo Liceu de Artes e Ofícios; o altar-mor, de carvalho, mármore branco e bronze foi encomendado em Paris; e uma relíquia à parte, vinda da Itália, era o órgão de tubo14. O interior está decorado com pinturas de passagens bíblicas e imagens da vida terrena e espiritual dos santos e são assinadas por artistas como Benedito Calixto, Oscar Pereira da Silva, Hans Bauer e Edmundo Gagni15. Com as fotografias abaixo, ilustramos partes do processo de construção da Igreja da Consolação no século XX. Imagem 04: Frontal da Igreja da Consolação em 1915. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo. Imagem 05: Entrada principal e lateral da Igreja da Consolação, ainda sem a torre, no ano de 1931. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo. O órgão de tubo é um instrumento musical muito comum em igrejas católicas ocidentais. Para uma leitura sobre o funcionamento deste instrumento, ver a publicação “O que é um Órgão de Tubos do Instituto de Cultura e Arte Organística. Disponível em < http://www.arteorganistica.org.br/artigos/Orgao_de_Tubos.pdf>. Acesso em 12/05/2015. 15 As informações artísticas sobre a Igreja da Consolação estão disponibilizadas no Portal das Artes < http://www.portalartes.com.br/not%C3%ADcias/867-um-pouco-de-historia-da-igreja-daconsolacao.html>. Acesso em 12/05/2015. 14 7 Imagem 06: Vista da construção da torre da Igreja no ano de 1948. Ao fundo, à direita, os edifícios Martinelli e Altino Arantes (o Banespa). Foto: Dmitri Kessel. Fonte: Revista Life. Imagem 07: Igreja da Consolação, vista dos fundos, em 1954. Em primeiro plano, a Praça Roosevelt. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo Folha de São Paulo. 8 Imagem 08: Projeto inicial da Igreja da Consolação divulgada pelo O Estado de São Paulo no dia 22 de novembro de 1909. Entre o projeto e a execução é possível perceber algumas modificações, como o estilo do pórtico e as torres, que se transformaram em apenas uma. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo O Estado de São Paulo. Imagem 09: Igreja da Consolação com as obras totalmente finalizadas. Foto: Gabriel Zellaui. Fonte: Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 9 ALÉM DAS ATIVIDADES RELIGIOSAS A Igreja da Consolação, nestes mais de 200 anos de ação no bairro que hoje recebe seu nome – em homenagem à santa de devoção que ajudou a povoar aquela região pantanosa e distante de São Paulo –, atuou fortemente junto à comunidade no sentido de fornecer amparo espiritual. Mas não foi apenas para essas atividades que a igreja foi procurada. Deste muito cedo, a edificação também recebeu e abrigou parcelas da população em situações bem adversas16. Em 1855, uma epidemia de cólera atingiu a província e, para tratar os doentes, a Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e São João Batista, criada na década de 1840 com o objetivo de tratar os enfermos da região do “Caminho de Pinheiros”, teve de improvisar 30 leitos no pátio da Igreja da Consolação para conseguir cuidar das vítimas. Foi nesse contexto que a Câmara Municipal retomou o debate sobre a construção de um cemitério público, o fututo Cemitério da Consolação, propondo o fim do sepultamento dos corpos em solo sagrado (no interior das igrejas), prática já condenada pelos higienistas desde o final do século XVIII17. No início dos anos 1920, como reflexo do Movimento Tenentista iniciado no início dos anos 192018, ocorreu em São Paulo um conflito que ficou conhecido como Revolução de 1924, decorrente do enfrentamento entre setores intermediários das Forças Armadas (tenentes e capitães) – que tentavam depor o presidente oligárquico, Artur Bernardes –, e as tropas legalistas comandadas por Bernardes. A população da cidade vivia um clima de insegurança semelhante a um verdadeiro estado de guerra, pois sofria com a falta de gêneros alimentícios e com os constantes avisos de bombardeios. Os habitantes Os eventos que citamos a seguir são utilizados para exemplificar alguns usos da Igreja pela população como espaço de reunião e abrigo. Citamos em ordem cronológica, mas sabemos que eles não esgotam, de forma alguma, a listagem dos diversos outros encontros realizados na Igreja ou por ela organizados. 17 Ainda em 1855 é elaborado um estudo que indica que o melhor local para a construção do cemitério público paulistano seria os altos da Consolação por considerar a elevada altitude da região, a direção dos ventos dominantes, a qualidade do solo e a sua “grande distância” da cidade. O Cemitério Público da Consolação foi inaugurado em 1858, por ocasião de uma epidemia de varíola que afligiu a capital. Para mais informações consultar o material produzido pela Prefeitura de São Paulo <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/cemiterio_baixa_1219246534.pdf>. Acesso em 12/05/2015. 18 No início dos anos 1920 crescia nos militares de baixa patente do Exército a insatisfação com as condições oferecidas pela corporação e com a política do governo. Organizados em levantes armados, os militares insatisfeitos (sendo a grande maioria Tenentes e por isso o termo “tenentismo” para designar esse movimento) queriam derrubar o governo. Os principais movimentos tenentistas da década de 1920 foram os 18 do Forte de Copacabana (1922), os levantes de 1924, e a Coluna Prestes (1924-1927). Para mais informações e documentos sobre o Movimento Tenentista consultar o CPDOC da Fundação Getúlio Vargas. Disponível em < https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/MovimentoTenentista>. 16 10 que tiveram oportunidade fugiram da cidade e refugiaram-se em Campinas e em outras localidades do interior paulista19. A população que não tinha condições ou não conseguiu deixar São Paulo procurava outros locais mais seguros para se abrigar. Ao lado da Igreja da Consolação, um barracão foi improvisado e utilizado como abrigo por Monsenhor Francisco Bastos, que alojou mais de 500 pessoas vindas de outros bairros, como o Cambuci, Mooca e Brás20. Ali a população recebia refeições preparadas pela paróquia e se protegiam dos bombardeios comandados por Artur Bernardes. No livro de suas memórias, Monsenhor narra sobre esses dias: E quando as balas e os petardos começaram a visar a Consolação, foi dentro da própria igreja que se abrigaram os refugiados, principalmente à noite, ao recrudescer do bombardeio. Esperavam que as paredes externas da igreja, feitas de blocos de pedra, fossem para eles seguro anteparo contra as bombas e o matracar constante das metralhadoras21. Já no fim da década de 1960, durante os anos da ditadura civil-militar no Brasil, era comum que os militantes da esquerda marcassem encontros dentro das Igrejas. Esses locais eram visados por serem espaços públicos, com circulação de pessoas, mas, ao mesmo tempo, protegidos. Em entrevista feita para o Memorial da Resistência, Antonio Oliveira22, ex-preso político, explica porquê eles escolhiam as igrejas como pontos de encontro: [...] eu ia encontrar ele [outro militante] dentro da Igreja da Consolação, porque a gente procurava as igrejas porque eram mais dissimuladas. Porque essas igrejas com aqueles vitrais assim bonitos, tipo a Sé, a Consolação, a gente encostava assim e ficava olhando o vitral, vendo tudo, aí outro encostava e a gente passava a mensagem, fazendo de conta que a gente estava: “...Bonito isso aqui e tal...” Mas mentira, a Exposição virtual do Arquivo Público do Estado de São Paulo sobre a Revolução de 1924. Disponível em http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_revolucao/cidade_revolucao.php. Acesso em 12/05/2015. 20 Reportagem de Ennio Squeff. No início, Estado sustentava igreja. O Estado de São Paulo, São Paulo, 05 de setembro de 1971, p.42. 21 As memórias de Monsenhor Francisco Bastos estão reunidas da obra de sua autoria: Reminiscências de um Pároco de Cidade, São Paulo: Paulinas, 1973. O trecho foi citado pelo no Portal das Artes. 22 Antonio Oliveira nasceu na fronteira dos estados da Paraíba e Pernambuco em 7 de março de 1946. Sua principal referência na formação política foi um tio que era comunista. Militou do Partido Comunista Brasileiro - PCB, no Partido Operário Revolucionário Trotskista - Port e na VARPalmares onde atuou no setor estratégico. Sempre foi crítico às dissidências entre os militantes. Foi preso três vezes - a primeira na Paraíba e as duas seguintes em São Paulo. Esteve no DeopsSP em 1972 e 1974. Passou também pelos presídios do Hipódromo e Casa de Detenção de São Paulo - Carandiru, além do presídio de Água Santa no Rio de Janeiro. O trecho citado é da entrevista de Antonio Oliveira para o Memorial da Resistência de São Paulo. OLIVEIRA, Antonio M. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni Evangelista em 23/10/2013. 19 11 gente estava passando a mensagem que tem que passar. Às vezes uma mensagem cifrada, entregava e tal, através das igrejas. Se adotava muito esse sistema de encontro nas igrejas. Além de seu uso pelos militantes, neste período as Igrejas também foram convertidas em espaços de reunião dos familiares de desaparecidos políticos ou como local de abrigo durante as investidas violentas da polícia. Por meio de ações da ala progressista da Igreja Católica, muitos padres, e a própria arquidiocese de São Paulo, cumpriram o papel de enfrentamento aos militares e de denúncia sobre as prisões, torturas, mortes e desaparecimentos que ocorriam no país. Figuras importantes como Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns, e outros, celebraram muitas missas em memória (e como forma de denúncia) de muitos mortos pelos militares durante a ditadura. Algumas das missas que tiveram grande repercussão e adesão social foram: a de Alexandre Vannucchi Leme em março de 1973, do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975 – rezadas na Catedral da Sé –, e a do operário Santo Dias em outubro de 1979, celebrada na Igreja da Consolação, de onde o corpo seguiu, em cortejo, para a Catedral da Sé. A PROCISSÃO DA IGREJA DA CONSOLAÇÃO A Igreja Católica no Brasil foi uma das principais bases de sustentação do golpe civil-militar de 1964, organizando, inclusive, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. No entanto, no início dos anos 1970, baseada nos princípios da Teologia da Libertação, a ala progressista da Igreja se transformou em um setor de contestação e denúncia das inúmeras violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado. Neste contexto, alguns padres foram identificados, portanto, como opositores do regime e, perseguidos, acabaram presos e torturados, sendo um dos casos mais conhecidos o dos padres dominicanos presos pelo Deops/SP em 196923. Também como resultado das Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano de Medellín (1968) e Puebla (1979), a Igreja adotou a “opção preferencial pelos pobres” e passou a ter um importante papel aglutinador na luta contra a ditadura e pela igualdade social. É neste período que se desenvolvem as Comunidade Eclesiais de Base (CEBs) com o objetivo de constituir núcleos pastorais nos bairros para que as pessoas pudessem estabelecer laços comunitários entre si e, a partir dos próprios ideais cristãos, reivindicarem melhorias em suas comunidades relativas à moradia, saúde, transporte, custo de vida24. Este caso foi narrado por Frei Betto no livro Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, com a primeira edição em 1982. 24 Existem muitas pesquisas relevantes sobre a atuação da Igreja Católica durante a ditadura civilmilitar no Brasil e o papel que ela desempenhou na luta contra os militares e a favor dos direitos humanos. Destacamos aqui apenas algumas leituras, como o trabalho de José Cardonha. A Igreja Católica nos "Anos de Chumbo": resistência e deslegitimação do Estado Autoritário Brasileiro 1968-1974. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 23 12 Dom Paulo Evaristo Arns é um nome recorrente neste período por ser o arcebispo metropolitano de São Paulo, tendo tomado posse em novembro de 1970 e, em 1973, nomeado Cardeal. Em sua atuação, sempre se guiou pelo princípio da defesa dos direitos humanos, procurando, muitas vezes, apurar pessoalmente as denúncias de torturas e abusos policiais; pressionava as autoridades para conseguir visitar os presos políticos nos presídios e organizava reuniões de familiares de desaparecidos na Cúria, onde eles trocavam informações, recebiam amparo e orientações de Dom Evaristo. Em 1973 criou na Arquidiocese de São Paulo a Comissão de Justiça e Paz, “organismo encarregado de cuidar dos assuntos jurídicos em defesa dos direitos da pessoa humana, [...] e que se constituiria em um dos principais instrumentos de proteção às vítimas da repressão policial no país”25. E foi ele também quem sugeriu, em outubro de 1979, que o corpo de Santo Dias, operário assassinado por agentes da repressão fosse velado na Igreja da Consolação e que depois se seguisse, como protesto, uma procissão até a Catedral da Sé, onde seria rezada uma missa para a vítima. Santo Dias trabalhava como operário metalúrgico, sendo reconhecido como um líder operário pelos trabalhadores e homem bastante ativo no movimento sindical, tendo sido, inclusive, candidato a vice-presidente em uma chapa de oposição à diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1978. Por sua formação católica se envolveu com as atividades das CEBs na periferia, lutando por transportes, mais escolas e melhorias nas vilas de trabalhadores. Também participou da coordenação do Movimento Contra o Custo de Vida, entre 1973 e 78, ao lado de sua mulher, Ana Maria do Carmo Silva (mais conhecida como Ana Dias), uma liderança feminina neste meio. Pelas lembranças de Dom Paulo Evaristo Arns, Santo Dias era “um homem de grande coração e muito amigo dos operários. Ele estava evitando que os operários reagissem com violência à violência da polícia. A morte dele acabou se transformando em uma grande manifestação pacífica, mas muito eficiente contra a ditadura”26. No dia de sua morte, 30 de outubro de 1979, Santo Dias participava de um piquete de greve na porta da fábrica Sylvania27, localizada em Santo Amaro, quando os policiais começaram a atirar e um dos tiros acertou o operário, que morreu na hora. A polícia São Paulo, 2011; e o Relatório da CNV, volume II, Textos Temáticos, Texto 4 - Violações de direitos humanos nas igrejas cristãs. Disponível em: < http://www.cnv.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_2_digital.pdf >. Acesso em 13/05/2015. 25 Verbete biográfico sobre Dom Paulo Evaristo Arns produzido pelo CEPDOC da Fundação Getúlio Vargas. Disponível em < http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx>. Acesso em 13/05/2015. 26 Entrevista de Dom Paulo Evaristo Arns concedida a Samarone Lima. O São Paulo, São Paulo, 09 de agosto de 1995. 27 Para uma leitura sobre a fábrica Sylvania, identificada como um lugar da memória sobre a repressão e resistência na ditadura civil-militar, conferir o documento produzido pelo Memorial da Resistência. Programa Lugares da Memória. Fábrica Sylvania. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível no site da instituição. 13 imediatamente recolheu o corpo de Santo Dias e o colocou no carro para “ser levado” ao Instituto Médico Legal (IML). Numa atitude bastante corajosa, Ana Dias, mulher de Santo Dias, entra junto com o corpo na viatura e se recusa a descer. A atitude dela evita que o marido fosse enterrado como indigente ou mesmo que ele viesse a desaparecer. Em entrevista ao Memorial da Resistência, Ana relata que os policiais tiraram todas as identificações de Santo Dias antes que ele desse entrada no IML e que dentro da viatura, ouviu ordens, entre os policiais, para que se “desfizessem” do corpo. Quando eu cheguei lá [...] no Instituto Médico Legal, o primeiro momento que eu cheguei lá, eles queriam que eu [...] arrumasse três testemunhas pra provar que ele era meu marido. Porque a primeira coisa que eles fizeram é deixou ele como indigente, ele entrou como indigente. Eles tiraram a carteira, tiraram aliança, tiraram documento, tiraram tudo, ele chegou sem camisa. Então ele [o policial] falou: “Não. É indigente. A senhora prova que esse é seu marido? Esse é o seu marido?”. Eu ia reivindicar uma pessoa pra quê? [Porque] Que era meu marido, né? [...] Eles me trancaram dentro de uma sala e era um perigo aquele tempo, né? Me trancaram dentro de uma salinha e me deixaram trancada lá dentro. Falou que enquanto eu não provasse, mas como eu ia provar trancada lá dentro que ele era meu marido? Aí nisso começou já a chegar gente... [mas antes de ser encaminhado ao IML, Santo Dias foi levado ao Pronto Socorro de Santo Amaro]. Quando chegou lá no Pronto Socorro [...] um cara do DOPS chegou pro motorista, todos a paisanos nenhum era de farda, e falou assim: “Olha, você some com isso.” Isso era o corpo do Santo. “Vocês somem com isso agora daqui, joga em qualquer lugar, mas tem que se livrar disso agora”. Aí que eu comecei gritar, mas gritar muito... Eles tavam querendo sumir com o corpo dele, porque ou eu gritava ou eles jogava ele e amanhã: ele foi numa briga contra a polícia e ele era um bandido e foi morto28. A notícia da morte de Santo Dias se espalhou rapidamente e gerou muita comoção, causando, até mesmo, uma intervenção por parte da Arquidiocese para que o corpo fosse liberado para o velório. No IML, Ana Dias foi procurada por Dom Evaristo que, já sabendo da movimentação da população em relação à morte de Dias, considerou que muita gente iria ao velório e que, portanto, a casa do casal não suportaria receber a multidão. Sendo assim, sua sugestão foi que o corpo fosse velado na Igreja da Consolação e que a missa ocorresse na Catedral da Sé, inclusive como uma precaução frente à possibilidade dos agentes da repressão instalarem, na ampla Praça da Sé, uma bomba. Além disso, a procissão até a Sé seria uma forma pacífica de protesto e denúncia. Estes argumentos, utilizado pelo arcebispo, são narrados por Ana Dias, que aceitou a sua sugestão. SILVA, Ana Maria do Carmo. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves Teixeira e Ana Paula Brito em 30/09/2014. 28 14 Na Catedral é perigoso por uma bomba lá, porque do jeito que tava o clima de guerra e se estourasse uma bomba lá? Era muito mais perigoso. Então acharam melhor levar pra Praça, pra Igreja da Consolação onde era uma igreja menor e o povo ficava na Praça da Consolação, né, e depois era uma maneira ou de mais protesto porque a gente ia da Consolação até a Praça da Sé caminhando e todo mundo ia em passeata, e com denúncia, com cartaz e faixa e tudo, né? Aí foi decidido, aí eu concordei29. No dia 31 de outubro, milhares de pessoas (as cifras variam entre 15 e 30 mil) se encontraram na frente da Igreja da Consolação para acompanhar o velório e o cortejo, que contou com muitas faixas e palavras de ordem contra a morte do líder operário, pelo livre direito de associação sindical e de greve e contra a ditadura. “Dos prédios caiam papeis picados, um sinal silencioso de solidariedade. Novos manifestantes se acresciam ao cortejo e as palavras de ordem se sucediam: ‘A Luta Continua’, ‘A polícia dos patrões matou um operário’, ‘Você está presente, companheiro Santo’”30. A passeata conduziu o caixão até a Sé, onde o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns celebrou com vários outros bispos uma missa de corpo presente, antes de o enterro seguir para o cemitério do Campo Grande, na zona sul de São Paulo. A morte de Santo Dias gerou revolta e as manifestações populares, que se seguiram em sua homenagem, foram umas das maiores do período. A população se indignou diante da violência utilizada pela polícia no ataque contra trabalhadores desarmados e em luta por melhores condições de vida e trabalho. Os relatos sobre aquela morte garantem que Santo Dias foi alvejado enquanto tentava negociar com os policiais após a prisão de alguns manifestantes. A polícia, além de agir com violência na porta da fábrica, ainda tentou ocultar o corpo. Fracassada essa opção, os agentes da repressão acabaram por alterar a causa da morte, que foi registrada no 43º Distrito Policial como morte por "resistência e agressão"31. Conforme relatório da Comissão Nacional da Verdade, o policial Herculano Leonel, autor do disparo que matou Santo Dias, foi julgado em 7 de abril de 1982 e condenado a seis anos de reclusão. Em agosto do mesmo ano, o recurso do acusado foi aceito pelo tribunal, que também decidiu pela anulação da sentença. A promotoria recorreu, mas o juiz relator manteve o policial impune. Em setembro de 1984 o Supremo Tribunal Federal arquivou o processo. Idem. Boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, novembro de 1979, p.4. O documento foi disponibilizado pela Comissão da Verdade “Rubens Paiva” do Estado de São Paulo no site < http://verdadeaberta.org/upload/001-copia-carteira-profissional-e-boletim-sindicatometalurgicos.pdf>. Acesso em 13/05/2015. 31 Informação disponibilizada pela publicação Tempo e Presença do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), n 155, novembro de 1979, p.4. Disponível em < http://koinonia.org.br/protestantes/uploads/novidades/Tempo-e-Presenca_155.pdf>. Acesso em 13/05/2015. 29 30 15 Imagem 10: No dia 31 de outubro de 1979, manifestantes se concentram na Igreja da Consolação, onde está sendo velado o corpo de Santo Dias. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Polícia Civil/SP. Imagem 11: Filho de Santo Dias chora sobre o caixão do pai. No recorte, à direita, uma imagem da vítima. Foto: Pedro Martinelli. Fonte: Acervo Veja. Imagem 12: Ana Dias junto ao caixão do marido, durante o velório. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Acervo Jornal da Vila. 16 Imagem 13: No centro de São Paulo, uma imensa procissão acompanha o corpo do operário Santo Dias no trajeto da Igreja da Consolação até a Catedral da Sé. Esta foi uma das maiores manifestações no período. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Polícia Civil/SP. Considerando a história da Igreja da Consolação apresentada por esta pesquisa, podemos afirmar que a paróquia conseguiu ajudar a sua população em tempos difíceis e adversos como nos casos citados. Ela se converteu em leito para doentes durante o surto de cólera, abrigo na Revolução de 1924 e, durante a ditadura civil-militar, foi palco de um grande protesto que reuniu milhares de pessoas no velório de Santo Dias e na procissão que se seguiu até a Catedral da Sé. Neste dia, a população se reuniu para carregar o caixão do operário assassinado e faixas de “abaixo a ditadura” e outras palavras de ordem contra um sistema opressor. Apesar deste importante evento em 1979, a Igreja não permaneceu ressignificada para a população como um Lugar de Memória da resistência contra a ditadura e a memória de Santo Dias segue viva em outros Lugares, como a fábrica Sylvania, por exemplo. A Igreja, no entanto, seguiu sua trajetória, buscando atrair melhorias para quem a frequenta. Mais recentemente, durante a reforma da Praça Roosevelt (vizinha da Igreja), ela incluiu em suas demandas construir dentro da sua área um espaço de convivência, com aparelhos de ginástica e brinquedos para crianças32. Já a respeito de Santo Dias, a memória de sua luta segue viva a partir dos militantes das Comunidades Eclesiais de Base, que desde 1979, organizam encontros, Um histórico sobre a trajetória da Praça Roosevelt pode ser lido na reportagem: ZONTA, Natália. A praça é nova. Folha de São Paulo. São Paulo, 01 de outubro de 2011. Disponível em< http://www1.folha.uol.com.br/revista/saopaulo/sp0210201111.htm>. Acesso em 14/05/2015. 32 17 caminhadas e visitam o seu túmulo. Amigos de Santo Dias e militantes dos direitos humanos também fazem intervenções na rua em frente à fábrica onde o operário foi assassinado, utilizando tinta vermelha pintam a calçada em representação ao sangue ali derramado33. Além dessas ações, em São Paulo, um dos organismos em defesa dos Direitos Humanos o homenageou, intitulando-se “Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo”. ATUALMENTE E/OU ACONTECIMENTOS RECENTES: A Igreja da Consolação passou, desde os anos 1980, por críticas situações financeiras e a mídia chamou a atenção para o estado precário de preservação do prédio. Naquele tempo, o centro degradado de São Paulo ajudava a afastar fiéis, inibindo ainda mais seu orçamento. A Igreja, sem conseguir angariar verbas através de doações, via sua dificuldade financeira aumentar. Sem recursos para reparos da infraestrutura básica (como goteiras e infiltrações) nem restauro das suas obras de arte e painéis, ela, que dependia de doações dos fiéis para continuar realizando suas atividades, organiza uma série de rifas, sorteios e festas para receber ajuda e conseguir conduzir suas reformas. Em 1999, uma boa notícia, o governo do Estado de São Paulo estava estabelecendo parcerias com a iniciativa privada para investimento na reforma do telhado, dutos de água e para arrumar as diversas infiltrações do prédio34; e um restauro artístico também estava sendo orçado. No que se refere à possibilidade de tombamento deste importante patrimônio histórico, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) afirma que não há nenhum estudo de tombamento da Igreja da Consolação em aberto. Por sua vez, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) reconhece a existência de um pedido, em análise e ainda sem conclusão, feito em 2003. ENTREVISTAS RELACIONADAS AO TEMA O Memorial da Resistência possui um programa especialmente dedicado a registrar, por meio de entrevistas, os testemunhos de ex-presos e perseguidos políticos, familiares de mortos e desaparecidos e de outros cidadãos que trabalharam/frequentaram o antigo Deops/SP. O Programa Coleta Regular de Testemunhos tem a finalidade de formar um A notícia está disponível no Portal Repórter Brasil: < http://reporterbrasil.org.br/2007/11/santodias-uma-historia-de-vida-que-promete-nao-ser-esquecida/>. Acesso em 14/05/2015. 34 Para uma coletânea de reportagens sobre as reformas e os restauros conduzidos na Igreja da Consolação ao longo desses anos, conferir os seguintes links: < http://www.ateliearterestauracao.com.br/a-historia-da-igreja-da-consolacao-pelo-jornal/>; < http://defender.org.br/tag/igreja-da-consolacao?print=pdf-page>. Para fotos da igreja danificada < http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/3735-igreja-da-consolacao#foto-71591>. Acessos em 14/05/2015. 33 18 acervo, cujo objetivo principal é ampliar o conhecimento sobre o Deops/SP e outros lugares de memória do Estado de São Paulo, divulgando, desta forma, o tema da resistência e repressão política no período da ditadura civil-militar. - Produzidas pelo Programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da Resistência OLIVEIRA, Antonio M. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves e Marcela Boni Evangelista em 23/10/2013. SILVA, Ana Maria do Carmo. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Karina Alves Teixeira e Ana Paula Brito em 30/09/2014. REMISSIVAS: Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; Fábrica Sylvânia; Catedral da Sé; Praça da Sé; Instituto Médico Legal (IML/SP). PLANTAS E MAPAS Imagem 14: Planta da parte térrea da Igreja da Consolação. Fonte: Cúria Metropolitana da Arquidiocese de São Paulo. 19 Imagem 15: Planta da parte superior da Igreja. Fonte: Cúria Metropolitana da Arquidiocese de São Paulo. Imagem 16: Desenho da fachada principal da Igreja. Fonte: Cúria Metropolitana da Arquidiocese de São Paulo. REFERÊNCIAS: ARQUIDICIOSE DE SÃO PAULO. Paróquia de Nossa Senhora da Consolação. História da Paróquia. Disponível em: http://www.iparoquia.com/paroquia/historia.php?id=2kTM. Acesso em 06/05/2015. ATELIÊ, ARTE E RESTAURAÇÃO. A história da Igreja da Consolação pelo jornal. Disponível em: <http://www.ateliearterestauracao.com.br/a-historia-da-igreja-da- consolacao-pelo-jornal/> Acesso em 12/05/2015. CENTRO ECUMÊNICO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO (CEDI). Tempo e Presença. Rio de Janeiro, n. 155, novembro de 1979, p.4. Disponível em < http://koinonia.org.br/protestantes/uploads/novidades/Tempo-e-Presenca_155.pdf>. Acesso em 13/05/2015 20 PORTAL DAS ARTES. Um pouco de história da Igreja da Consolação. Disponível em: < http://www.portalartes.com.br/not%C3%ADcias/867-um-pouco-de-historia-da-igreja- da-consolacao.html>. Acesso em 12/05/2015. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Histórico Demográfico do Município de São Paulo, 2007. Disponível em < http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/index.php>. Acesso em 11/05/2015. SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE SÃO PAULO. Boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, São Paulo, novembro de 1979, p.4. In: Comissão da Verdade “Rubens Paiva” do Estado de São Paulo. Disponível em < http://verdadeaberta.org/upload/001-copia-carteira-profissional-e-boletim-sindicatometalurgicos.pdf>. Acesso em 13/05/2015. SQUEFF, Ennio. A ameaça de penhora. O Estado de São Paulo, São Paulo, 05 de setembro de 1971, p.42. SQUEFF, Ennio. No início, Estado sustentava igreja. O Estado de São Paulo, São Paulo, 05 de setembro de 1971, p.42. COMO CITAR ESTE DOCUMENTO: Programa Lugares da Memória. Igreja Nossa Senhora da Consolação. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2015. 21