Saúde e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais Maria Clara Couto Soares Seminário Sistemas de Inovação e Desenvolvimento dos BRICS Brasília, 25 e 26 de Março Saúde no Brasil: sistema estratégico para promoção do desenvolvimento inclusivo • Conjuga de forma intrínseca dois vetores chave: – fator estruturante do Estado de Bem Estar Social (saúde como direito de todos e dever do Estado – Constituição 1988) – fator indutor de crescimento econômico (cerca de 9% PIB: investimento com capacidade de estimular fortemente a competitividade, produção de bens e serviços, geração de emprego e renda) • Área estratégica de futuro - intensiva em conhecimento e inovação, com alto dinamismo; agrega conhecimentos científicos e tradicionais • Alta capilaridade - disseminada em todo território nacional, com capacidade para reduzir desigualdades regionais, dinamizar economias locais e promover a inclusão produtiva e social de forma articulada. • Com forte centralidade do Estado - potencial estratégico de indução via políticas de financiamento, regulação, compras. • Governança participativa - institucionalidade tripartite (federal, estadual, municipal), com participação da sociedade civil. Reforma do Modelo de Atenção a Saúde • • • • • Criação do SUS (universalidade, integralidade e equidade no acesso) Conceito ampliado de saúde Territorialização: estratégia central para a reconfiguração do modelo de atenção e consolidação do SUS; requer compreender a dinâmica espacial dos lugares e populações como base para o planejamento das ações em saúde Modelo piramidal X rede integrada de serviços de saúde tendo como centro organizador a APS e como estratégia de organização dos serviços a ESF. Mudanças nos processos de trabalho Fonte: Mendes (2011) Expansão da Estratégia de Saúde da Família (ESF) 1998-2013 Forte expansão do acesso (dados 2013) 95% dos municípios brasileiros 107,6 milhões de pessoas 55,6% da população Fonte: DAB/MS O processo de universalização em curso vem trazendo forte deterioração da balança comercial em saúde Políticas de estímulo ao Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) • Fortalecimento dos segmentos industriais da saúde para reduzir a dependência externa em medicamentos, equipamentos, materiais médicos e produtos biológicos – compras públicas; margem de preferência; parcerias público-privadas; fomento a empresas • Fomento a redes nacionais de pesquisa, fortalecimento das capacitações nacionais e estímulo a inovação • Preocupação: territorialização do CEIS - expansão territorial da atenção à saúde, mas com baixa sinergia em termos da descentralização geográfica e difusão da base produtiva e de inovação da saúde - meta: estreitar o vínculo entre acesso, inovação e territorialização do desenvolvimento Projeto:Territorialização do Complexo Econômico Industrial da Saúde no Brasil Objetivo: subsidiar políticas públicas visando o fortalecimento produtivo e inovativo do Complexo Econômico e Industrial da Saúde no Brasil, considerando as especificidades territoriais e os requisitos de inclusão social. Rede de pesquisa: membros da RedeSist de universidades em 10 estados brasileiros, Fiocruz Abordagem conceitual: referencial analítico e metodológico de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPILs) 1ª. Fase: 2011-2012 - Foco em ASPILs de maior densidade tecnológica (atenção terciária – hospitais universitários e privados; doenças cardiovasculares e oncológicas) 2ª. Fase: 2013-2014 – Foco em ASPILs mais ligados à inclusão social (atenção primária – estratégia saúde da família, saúde indígena, fitoterapia) 6 estudos concluídos 4 estudos em elaboração Abordagem Conceitual Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPILs) • Desenvolvida na década de 1990 pela RedeSist (Lastres & Cassiolato 2005), com base na abordagem conceitual ampla de Sistema de Inovação (Freeman 1987, Lundvall 1988) e na literatura latino-americana sobre desenvolvimento e mudança estrutural (Fanjzilber, 1989). • Principais premissas: – conhecimento é o resultado de processos de aprendizagem interativos que são específicos e localizados (história e geografia importam) – território é um elemento ativo do processo de desenvolvimento (importância do enraizamento/atributos referentes aos contextos históricos, culturais, sociais, econômicos e políticos) – análise deve ir além de organizações de P&D e C&T, incluindo outras instituições que afetam o sistema local e moldam o desenvolvimento de competências a nível local (visão ampla e sistêmica). – as políticas produtivas devem ser qualificadas dando prioridade ao desenvolvimento no território Desenho esquemático ASPIL em Saúde Principais restrições identificadas nos estudos realizados para melhor articulação entre saúde, inovação e inclusão 1. 2. Dissociação entre dimensão econômica e social da saúde Fragmentação de políticas no território - apesar dos avanços recentes em nível federal, fragilidade em estados e municípios 3. Dependência e opções tecnológicas - expansão e crescente complexidade dos procedimentos X baixo desenvolvimento tecnológico endógeno 4. Institucionalidade ainda inadequada ao novo modelo de atenção 5. Padrão de financiamento incompatível com a universalização da saúde 6. Qualidade dos gastos - problemas de eficiência e falta de orientação de longo prazo 7. Conflito entre lógica publica e a privada - interesses privados influenciam o ‘modelo de negócios’, a regulamentação na área da saúde, o padrão tecnológico e inovativo, além de direcionar o perfil dos serviços oferecidos 8. Insulamento da proposta de regionalização - baixa articulação dos serviços de saúde com a cadeia produtiva local; faltam programas para construção de elos 9. Precariedade da articulação em rede dos serviços de saúde 10. Falta de profissionais com capacitação adequada para APS 11. Fraca articulação do setor produtivo com universidades e institutos de pesquisa 12. Pesquisas nas universidades - pouca articulação com a resolução de necessidades locais de saúde, baixa inovatividade, foco em testes clínicos para grandes empresas Desafios, Oportunidades e Implicações de Políticas i. Definição de políticas estratégicas de corte sistêmico e articuladas aos contextos locais - demanda avanços no planejamento e construção institucional ii. Elevar gastos em saúde, melhorar sua eficiência e orientá-los estrategicamente iii. Estimular a difusão e dinamização da estrutura produtiva e inovativa no território - envolvimento agencias de fomento/bancos de desenvolvimento no apoio a encadeamentos produtivos, desenvolvimento de fornecedores locais, programas iv. Expansão do uso do poder de compra para reverter alta dependência tecnológica e o baixo encadeamento dos serviços de saúde com a cadeia produtiva nacional reavaliar os sistemas de compras e financiamento para saúde à luz da nova Lei v. Ações voltadas a fortalecer o interesse público na saúde – regulamentação e indução para compensar as assimetrias geradas por estratégias empresariais e de mercado na saúde vi. Melhorar a integração e articulação em rede da rede assistência - o uso de TI, ampliação da oferta serviços especializados, aprimorar coordenação vii. Estimular a valorização dos profissionais de APS e sua qualificação – educação permanente, ampliação de vagas, incentivos viii. Fortalecer os segmentos industriais nacionais da saúde para reduzir a dependência externa – margens de preferência, política de compras, marco regulatório PPP Projeto RISSI: Sistemas de Inovação em Saúde e Inclusão Social • Objetivo: analisar as características específicas, interações processos de aprendizagem e dinâmicas de sistemas locais de inovação em saúde voltados para a inclusão social • Rede de pesquisa: universidades e institutos de pesquisa de cinco países em desenvolvimento • Abordagem conceitual: Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPILs) • Estudos: medicina tradicional, sistemas de saúde em áreas rurais, equipamentos de saúde de baixo custo • Período: 2012-2013 Algumas evidências Políticas de inovação de caráter amplo e sistêmico mostraram maior eficácia no desenvolvimento de novos produtos/processos em saúde. A melhoria da competitividade da base produtiva e inovativa na saúde não se reflete, necessariamente, na melhoria das condições de saúde em termos de prioridades sócio-sanitárias (dissociação dimensões econômico e social). A interação entre políticas de saúde e políticas de inovação em países em desenvolvimento pode gerar sinergias extremamente positivas em termos de crescimento, eficiência e equidade. Os problemas de exclusão em saúde podem ser transformados em demanda sustentável para a pesquisa e inovação, estimulando o aproveitamento das capacitações existentes. Grande relevância da medicina tradicional nos cuidados à saúde nos países analisados, apesar da precária integração dos mesmos nos sistemas nacionais de inovação em saúde Contribuição positiva da associação entre conhecimentos tradicionais e saber científico para o desenvolvimento de ASPILs em saúde de corte inclusivo. A forte influência dos interesses privados sobre políticas públicas leva freqüentemente a políticas de desenvolvimento de ASPILs equivocadas que dissociam as dimensões econômicas e sociais da saúde. Os processos de inovação local em saúde são significativos, mas a “invisibilidade” dos atores e/ou regiões os deixa de fora das lentes das políticas públicas. Alguns elementos para construção de uma agenda positiva de cooperação para inovação nos BRICS Características comuns dos BRICS: • Países de dimensão continental com grande heterogeneidade e diversidade. • 43% da população mundial (cerca de 3 bilhões de pessoas); redução da pobreza nas últimas décadas, mas significativa desigualdade. • Perduram problemas de acesso e outros desafios importantes na área da saúde; China e Índia responsáveis por cerca de 40% da carga mundial de doenças . • Perfil epidemiológico distinto dos países centrais: doenças infecciosas + crescimento dos novos problemas de saúde (doenças crônicas e causas externas) • Importantes competências nacionais em saúde • Envolvimento crescente em esforços globais de saúde e iniciativa recente para reforçar a cooperação entre os BRICS (Delhi Communiqué, 2013). Essas dentre outras características, desafios e competências comuns devem conduzir a uma agenda diferenciada de cooperação vis a vis os países mais desenvolvidos do Norte. Alguns elementos para construção de uma agenda positiva de cooperação para inovação nos BRICS “Ninety-five percent of the new science in the world is created in the countries comprising only one-fifth of the world’s population. And much of that science – in the realm of health, for example – neglects the problems that afflict most of the world’s people” Annan, K. (2003) • ir além da matriz de conhecimento originado nos países avançados (contextos muito diferentes dos nossos), empreendendo esforços para desenvolver nossos próprios conceitos analíticos e normativos, indicadores e modelos. • Oportunidade: incorporar à agenda de cooperação em P&D&I problemas comuns de saúde nos BRICS. • Cooperação na busca de soluções adequadas às necessidades de nossos países, levando em conta suas especificidades e buscando avançar na universalização da atenção (ex. doenças negligenciadas, populações vulneráveis situadas em áreas rurais ou remotas, etc.). Alguns elementos para construção de uma agenda positiva de cooperação para inovação nos BRICS “almost all devices present in developing countries have been designed for use in industrialized countries. Up to three quarters of these devices do not function in their new settings and remain unused” (WHO 2010) A dependência tecnológica e elevadas importações em saúde são um desafio para o conjunto dos BRICS, restringindo as possibilidades universalização da saúde. Oportunidade: os BRICS vêm expandindo suas capacidades produtivas e inovativas em bens e serviços em saúde de qualidade, baixo custo e adaptados às necessidades locais. Cooperação para o desenvolvimento de bens e serviços voltados para a saúde pública que permitam ampliar o acesso e inclusão em saúde nos BRICS e outros países menos desenvolvidos, considerando suas especificidades (ex. e-health, equipamentos portáteis de diagnóstico, etc.) Alguns elementos para construção de uma agenda positiva de cooperação para inovação nos BRICS 80% of the population in developing countries uses traditional practices in their basic health care (WHO, 2010). • No Brasil, África do Sul, Índia e China, o uso de medicamentos à base de plantas, animais e minerais, bem como tratamentos baseados em terapias tradicionais são segmentos importantes dos sistemas de atenção à saúde adotadas na promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. • Oportunidade: se devidamente apoiada e regulamentada, a medicina tradicional pode ampliar e complementar o acesso a serviços de saúde de qualidade, além de promover o fortalecimento da inovação em países em desenvolvimento. • Cooperação entre os BRICS para a valorização e integração da medicina tradicional nos sistemas nacionais de saúde, bem como para compartilhar os conhecimentos e práticas tradicionais existentes na área. 2a. Reunião de Ministros de Saúde dos BRICS (01/2013) Síntese das propostas de cooperação em saúde • Strengthen intra-BRICS collaboration in the area of access to public health and services including implementation of affordable, equitable and sustainable solutions for common health challenges. – Communicable and non-communicable diseases, mental health, tuberculosis, HIV/AIDS, malaria – Mechanisms for planning, monitoring and evaluating disease prevention and control activities and capacity-building for effective health surveillance systems – Application of bio-technology for health benefits – R & D for medical products – ICT in health services to promote cost-effective treatment in the remote areas • Influence global agenda in health – cooperate in all international forum regarding matters relating to TRIPS flexibilities with a public health perspective – assure availability of affordable generic ARV drugs to developing countries – take part in the WHO reform – BRICS network of technological cooperation Obrigada! Maria Clara Couto Soares [email protected]