ANÁLISE SENSORIAL E INSTRUMENTAL DE QUEIJOS TIPO: MINAS FRESCAL, MUSSARELA E MINAS PADRÃO 1 Alinne Brandão Andalécio Braga e Michelle Andriati Sentanin 2 1 Aluna 2 de iniciação Científica PIC/FEQ-UFU, discente do curso de Engenharia de Alimentos. Professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da UFU/MG. 1,2 Universidade Federal de Uberlândia, Campus Patos de Minas. Av. Getúlio Vargas, 230, Palácio dos Cristais, Patos de Minas - MG, CEP 38700-000. e-mail: [email protected]. RESUMO - Atualmente, considera-se a alimentação como principal fator de contribuição para um estilo de vida saudável e o êxito que o corpo adquire depende da escolha dos alimentos. Por esse motivo os consumidores buscam cada vez mais alimentos saudáveis, nutritivos e ao mesmo tempo saborosos, como os queijos. Estes são alimentos com contribuição apreciável para a saúde humana, em função da quantidade de nutrientes que oferecem, com o benefício de durabilidade prolongada. O alto teor de gorduras e proteínas dos queijos torna-os alimentos ricos em energia e nutritivos. Por isso, um estudo que envolva as qualidades reológicas, físicoquímicas e sensoriais destes produtos é bastante interessante. Neste trabalho foram avaliadas amostras de queijos tipos mussarela, minas padrão e minas frescal, de duas marcas comerciais, quanto ao teor de gordura, à firmeza por compressão uniaxial e à aceitação em função dos atributos aparência, textura, aroma, sabor e impressão global. Uma marca de queijo minas padrão obteve o maior teor de gordura, a menor firmeza e maior aceitação em todos os atributos exceto aparência. A outra marca obteve a maior firmeza e pior aceitação em todos os atributos. Palavras-Chave: Queijo, perfil sensorial, textura. INTRODUÇÃO Atualmente o consumidor brasileiro é bem informado sobre os critérios estabelecidos em normas e regulamentos técnicos para alimentos, e isto contribui para sua decisão de compra do produto, considerando atributos como preço, benefícios ou malefícios a saúde, qualidade, dentre outros. Os queijos são alimentos que contribuem de forma apreciável para a saúde humana. Derivados do leite são alimentos ricos em proteínas, cálcio, fósforo, zinco, iodo, selênio e vitaminas. O alto teor de gorduras dos queijos contribui tornando-os alimentos ricos em energia. Os avanços recentes na ciência da nutrição ilustraram a contribuição do queijo para a nutrição e saúde. A alta concentração de aminoácidos essenciais no queijo contribui para o crescimento e desenvolvimento do organismo humano. Mesmo com a presença de quantidades notáveis de gorduras saturadas e trans, não há evidências claras relacionando o consumo de queijos a qualquer doença (CAMPOS, 2013). Existem em todo o mundo dezenas de tipos de queijos, feitos a partir de diferentes leites e diferentes processos de produção, conferindo assim diferentes atributos sensoriais. Segundo o Regulamento Técnico de Identidade e qualidade de Queijos – Portaria número 146198 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “Entende-se por queijo, o produto fresco ou maturado que se obtém por separação parcial do soro do leite ou leite reconstituído (integral, parcial ou totalmente desnatado), ou de soros lácteos coagulados pela ação física do coalho, de enzimas específicas, de bactérias especificas, de ácidos orgânicos, isolados ou combinados, todos de qualidade apta para uso alimentar, com ou sem agregação de substâncias alimentícias e/ou especiarias e/ou condimentos, aditivos especificamente indicados, substâncias aromatizantes e matérias corantes”. Há vários critérios de classificação dos queijos e uma classificação bastante conhecida é aquela em função de atributos de diferenciação (SEBRAE, 2008): Commodities: Prato, Mussarela, Minas Frescal e Queijo Ralado; Fundidos: Fatiados, Porcionados, Tabletes, Ingredientes culinários; Processados: Cream Cheese, Requeijão Cremoso, Petit Suisse; Queijos Finos: Camembert, Parmesão, Provolone, Gorgonzola. Em 2005, a produção global de queijos no país se distribuía em 11% para processados, 2% para queijos fundidos, 11% para queijos finos, 68% para os commodities e 8% para demais tipos (SEBRAE, 2008). A produção de queijos no Brasil está em uma curva crescente. Em 2011, foram produzidos 867,1 mil toneladas de queijos no país, 9,4% mais que em 2010, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (ABIQ). O queijo mussarela, principal queijo produzido, representa 28,1% do total, seguido por requeijão culinário (18,7%), queijo prato (18,6%), requeijão cremoso (8,3%), petit suisse (6,3%) e ricota, minas padrão e provolone, que juntos somam 10%. A tendência para os próximos anos é que a produção de queijos aumente, pois a demanda, impulsionada pelo aumento no poder aquisitivo tende a crescer. Queijo Mussarela Autores retrataram que o queijo mussarela encontra-se entre os queijos mais consumidos no Brasil, por conta do grande consumo de pizza e alimentos fast food (SANTOS, 2009; SILVA, 2005). O formato tradicional desse queijo é o paralelepípedo, entretanto, outras formas também podem ser encontradas, como bolinha, palito e nozinho, utilizados no consumo de mesa (CAVALCANTE, 2004; SILVA, 2005). É um queijo de massa filada, macio e relativamente úmido. O queijo acabado apresenta, em média, a seguinte composição: 43% a 46% de umidade; 22% a 24% de gordura; teor de sal variando entre 1,6% a 1,8%; e pH entre 5,1 e 5,3 (SILVA, 2005). Queijo minas frescal O queijo fresco do tipo Minas Frescal é retratado por diversos autores sendo um dos queijos mais populares do Brasil, sendo produzido em larga escala e consumido por todas as camadas da população em diversas refeições durante o ano todo (FURTADO, 1999; VASCONCELOS, R.M.; MARIN, V.A, 2008; MARTINS et al., 2012). Segundo FURTADO (1999) é uma variedade não maturada, para o consumo imediato e de curta durabilidade no mercado. Queijo Minas Padrão O queijo minas originou-se das fabricações caseiras no estado de Minas Gerais e é atualmente um dos queijos mais produzidos comercialmente (FERREIRA et al, 1992). Ele difere do queijo minas frescal por ter a massa seca, firme (porém plástica), apresentando casca fina, ligeiramente amarelada. Com tanta diversidade de tipos e características, a aceitação de diferentes queijos pode divergir para os consumidores. Então, para avaliar a aceitação e qualidade dos queijos, como textura, sabor, efeito de processamento e aroma, entre outros atributos, utiliza-se como ferramenta a análise sensorial. Dentre as possibilidades de avaliação por essa ferramenta estão os testes afetivos. Estes têm como objetivo avaliar a resposta dos indivíduos com relação à preferência e ou aceitação de um produto ou características específicas do produto através de consumidores habituais ou potenciais do mesmo. A utilização de testes afetivos aumentou entre as empresas de maior expressão que têm conhecimento de estudos de consumidor, assegurando assim que sejam atendidas as expectativas do consumidor final (MEILGAARD et. al., 1999). OBJETIVOS Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivos: 1) avaliar a aceitação de três diferentes tipos de queijos (mussarela, minas frescal e minas padrão); 2) caracterizar os queijos através de análises de textura e gordura, na tentativa de correlacionar com os dados obtidos sensorialmente. MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizadas seis amostras comerciais de queijo, sendo duas marcas de queijo minas frescal (MF1 e MF2), duas marcas de minas padrão (MP1 e MP2) e duas marcas de mussarela (M1 e M2). Análise de gordura Os queijos tipo minas frescal, mussarela e minas padrão foram analisados quanto ao teor de gordura, por meio da metodologia de Bligh & Dyer. Esta metodologia é uma versão simplificada do procedimento clássico usando clorofórmiometanol proposto por Folch et al (1957). As análises foram realizadas em triplicata. Empregou-se o Teste de Aceitação com utilização de escala hedônica de nove pontos, metodologia descrita por STONE & SIDEL (1993). Durante um mês, cem voluntários não treinados representativos do público alvo foram escolhidos aleatoriamente para que degustassem seis amostras dos queijos (duas amostras de cada tipo). As amostras foram servidas em cabines brancas individuais, em cubos de aproximadamente 1cm quadrado, por meio de copos plásticos descartáveis de 50 ml, à temperatura de refrigeração (entre 5 e 8° C). Os provadores tiveram em seu domínio um copo com água e bolacha água e sal, que foram utilizados entre uma amostra e outra para enxaguar a boca. Os voluntários receberam uma ficha onde marcaram em uma escala hedônica (pontos de 0 a 9) para os graus de aceitação (desgostei muitíssimo a gostei muitíssimo) em relação à aparência, cor, textura, aroma, sabor e modo geral. Análise de textura por compressão uniaxial O equipamento analisador de textura foi o texturômetro com acessórios e software (Exponent Lite Software). Modelo: TA.XTPlus. Marca: Stable Micro Systems. As amostras de queijos, com 17 mm de diâmetro e 20 mm de altura, não lubrificadas, foram comprimidas por um probe cilíndrico de tecnil de 25 mm de diâmetro e 40 mm de altura. Os cilindros de queijos foram mantidos em refrigeração (8 ± 5 °C) até o momento do ensaio. As amostras cilíndricas dos queijos foram comprimidas até 50 % de sua altura inicial a uma velocidade de 1 mm/s. Em cada amostra de queijo as medidas foram repetidas cinco vezes. A tensão e deformação foram calculadas segundo Calzaga e Pegel (1978). Teste de aceitação A análise sensorial foi realizada no Laboratório de Engenharia de Alimentos da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 apresenta os teores de gordura obtidos nas amostras de queijos. Tabela 1 - Teor de gordura obtido nos queijos minas frescal, minas padrão e mussarela Queijo Quantidade de gordura (g/100g de amostra)* MF1 11 ± 0,8 MF2 8 ± 0,5 MP1 12 ± 0,8 MP2 13 ± 0,6 M1 12 ± 2,8 M2 12 ± 0,7 *Média ± Desvio Padrão Pode-se observar pelos dados obtidos que a maior variação entre marcas para um mesmo tipo de queijo foi para o minas frescal. Para os outros dois tipos, houve pequena variação no teor de gordura entre as marcas. O queijo que apresentou menor quantidade de gordura foi o MF2, e o que apresentou maior quantidade foi o MP1. A Tabela 2 ilustra os dados obtidos para os queijos no teste de compressão uniaxial. Tabela 2 - Dados de tensão e deformação obtidos em queijos minas frescal, minas padrão e mussarela Queijo Tensão (KPa)* MF1 55 ± 4,3 0,6 ± 0,0 MF2 44 ± 3,8 0,7 ± 0,0 MP1 118 ± 5,1 0,7 ± 0,0 MP2 30 ± 5,1 0,7 ± 0,0 M1 55 ± 9,4 0,7 ± 0,0 Deformação* M2 95 ± 3,9 0,7 ± 0,0 *Média ± Desvio Padrão Os dados obtidos de tensão e deformação, através do teste de compressão uniaxial, permitem concluir que o queijo que apresentou maior firmeza foi o MP1, e o que apresentou menor firmeza, ou maior maciez, foi o MP2. Outro queijo que também apresentou firmeza elevada foi o M2. A variação entre as duas marcas para os queijos minas frescal foi a menor observada, enquanto que a maior discrepância foi entre as duas marcas de queijo minas padrão. Também houve grande diferença entre as duas marcas de queijo mussarela. Os resultados obtidos a partir dos testes afetivos para os queijos estão apresentados na Tabela 3. Tabela 3 - Médias obtidas para os queijos minas frescal, minas padrão e mussarela através de testes de aceitação Queijo Aparência Textura Aroma Sabor Modo global MF1 7,17ª 6,76ab 6,55ª 6,24ª 6,47ª MF2 6,06b 6,01b 5,52b 6,25ª 6,12ª MP1 4,25c 3,90c 3,66c 2,97b 3,24b MP2 7,02ª 7,07ª 6,56ª 6,78ª 6,95ª M1 7,13ª 5,97b 6,41ab 6,08ª 6,30ª M2 6,89a 6,50ab 6,27ab 5,91ª 6,21ª Letras iguais na mesma coluna indicam que não houve diferença significativa entre as amostras a 5% de significância. diferiram significativamente entre si. As amostras Para o atributo aparência, a maior MF1, MF2, M1 e M2 também não diferiram entre aceitação ocorreu para o queijo MF1 e a menor si, mas diferiram de MP1 e MP2. A amostra MP1 para o queijo MP1. As amostras MF1, MP2, M1 e diferiu de todas as outras. M2 não diferiram significativamente a 5% de Em relação ao aroma, a amostra MP2 foi significância. As amostras MF2 e MP1 diferiram mais bem aceita, sendo a MP1 a menos aceita entre si e das amostras MF1, MP2, M1 e M2. pelos consumidores. As amostras M1, M2, MF1 e O queijo que apresentou maior aceitação MP2 não diferiram significativamente entre si, para textura foi o MP2, sendo MP1 o de menor assim como as amostras M1, M2 e MF2. A aceitação. As amostras MP2, M2 e MF1 não amostra MF2 diferiu de MP2, MF1 e MP1. A amostra MP1 diferiu de todas as outras. A maior aceitação no atributo sabor aconteceu para o queijo MP2, sendo que o queijo MP1 obteve a menor aceitação dentre as seis amostras, além de ser o único que diferiu significativamente dos demais. Avaliando os queijos em seu aspecto global, os consumidores apontaram como o mais bem aceito o MP2 e o MP1 o de pior aceitação. As amostras MF1, MF2, M1, M2 e MP2 não diferiram significativamente entre si. A amostra MP1 diferiu de todas as outras. CONCLUSÃO CAMPOS, L. Informativo Leite & Saúde. Edição Nº 37/10 - Queijos e Saúde. Disponível em: http://www.queijosnobrasil.com.br/queijo.html . Acesso em 06 de maio de 2013. CAVALCANTE, gouda, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIQ - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE QUEIJO. Disponível em http://www.abiq.com.br/nutricao_queijosbras il_classificacao.asp. Acesso em 06 de dezembro de 2014. Produção gryiére, de mussarela e queijos prato. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Católica de Goiás, para obtenção do título de graduado em Engenharia de Alimentos. Goiânia, 2004. ESTUDOS (2008). Comparando os dados obtidos na análise de gordura e no teste de compressão uniaxial com os dados obtidos sensorialmente, percebe-se que o queijo MP2, que apresentou maior teor de gordura e menor firmeza foi o mais bem aceito em todos os atributos sensoriais, exceto aparência. Já o queijo MP1, que apresentou teor de gordura muito semelhante aos queijos M1, M2 e MF1, além da maior firmeza dentre as seis amostras avaliadas, obteve a menor aceitação em todos os atributos avaliados. Pôde-se perceber que existe uma tendência de menor aceitação em relação à textura quanto maior a firmeza dos queijos, e que essa tendência não pode ser relacionada ao teor de gordura. F.M. DE MERCADO Queijos SEBRAEESPM Nacionais. Disponível emhttp://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/ BDS.nsf/4416AA3881FA433B832574DC004 71EF1/$File/NT0003909A.pdf. Acesso em 05 de dezembro de 2013. FERREIRA, C.L.L.F.; MOURA, K.R.P.; BOTINHON, L.; COELHO, A.A.; SCHILLER, O.R. Avaliação tecnológica de culturas lácticas nacionais – produção de queijo Minas. Revista do Instituto de Laticínios CândidoTostes, v. 47, n. 279-281, p. 32-37, 1992. FOLCH, J.; LEES, M.; SLOANE, STANLEY, G.H. A simple method for the isolation and purification of total lipides from animal tissues. 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