[Ano]
Positivismo, Marxismo e Sociologia Compreensiva
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Unidade: Positivismo,Unidade:
Marxismo
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Unidade - Positivismo, Marxismo e Sociologia Compreensiva
MATERIAL TEÓRICO
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O Positivismo e os Primeiros Movimentos Sociológicos
Quando falamos em pensamento sociológico, podemos dizer que a
primeira corrente teórica sistematizada foi o positivismo, para demonstrar
e definir a particularidade do estudo científico da sociedade, distinguindose das demais ciências existentes e definindo os contornos de uma nova
ciência, cujo objeto primordial anunciava-se como a sociedade. Com isso,
o positivismo definiu o objeto, o método e os conceitos fundamentais da
nova disciplina. A sociologia desenvolveu-se quando a racionalidade das
ciências naturais alcançava status de substituta da religião e da tradição
na explicação do mundo e da realidade, trata-se do chamado
cientificismo.
O cientificismo caracteriza-se pela crença no poder absoluto, e
praticamente exclusivo, da razão humana para compreender a realidade e
traduzi-la sob a forma de leis naturais. Tais leis representariam regras
para o funcionamento e desenvolvimento da natureza e do ser humano.
“O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade,
representou um grande avanço para libertar o conhecimento do controle
teológico, da tradição e da „revelação‟”...
(MARTINS, 1990, P. 18)
Podemos dizer que o positivismo foi, enquanto teoria que propôs
uma ciência da sociedade fundada a partir de um modelo científico
natural, fruto do movimento iluminista, mesmo frente ao fato de seu
principal formulador, Auguste Comte, vê-lo como reação às ideias
revolucionárias do Iluminismo.
Foi provavelmente o francês Condorcet (1753 -1794) o primeiro a
formular a proposta de uma ciência da sociedade estruturada conforme o
modelo das ciências naturais, uma matemática social, isto é, precisa,
numérica e rigorosa que permitiria um conhecimento verdadeiramente
objetivo
dos fatos sociais.
Segundo
Condorcet,
toda
ciência
e
conhecimento sobre a sociedade, até então, estiveram submetidos aos
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interesses e preconceitos das classes poderosas. Esta seria uma marca
do positivismo, já colocada por Condorcet, a ciência da sociedade, assim
como as ciências naturais, deveria desvencilhar-se das paixões e dos
interesses, elementos que perturbam a produção do conhecimento.
O primeiro a utilizar o termo positivo ao tratar dessa nova ciência,
ao propor uma ciência positiva, foi Saint-Simon (1760-1825), discípulo
direto de Condorcet do qual apreendeu parte de suas principais ideias.
Saint-Simon buscou inspiração em outra ciência natural que se destacava
no período, a biologia; por sua vez, sua ciência da sociedade teria por
modelo a fisiologia, uma espécie de fisiologia social.
A idéia de que a ciência e a razão seriam capazes de captar a
dinâmica das sociedades e de que existiriam leis naturais regulando seu
desenvolvimento vai ganhando força durante o século XVIII e, aos
poucos, minando os antigos princípios de autoridade oriundos da tradição
e da religião. Neste momento, diversos pensadores conservadores,
voltados a restabelecer o passado, consideram que o caos e a ausência
de moralidade e solidariedade que as sociedades nascidas das duas
grandes revoluções (francesa e industrial) revelavam eram fruto do
enfraquecimento das antigas instituições protetoras, destacadamente a
Igreja, que haviam promovido e sustentado a estabilidade e a coesão
social anteriores.
Ao promover a Revolução
Francesa com a qual alcança o
almejado poder político a
burguesia deixa de ser uma classe
revolucionária para se tornar a
classe dominante na França.
A desordem e a anarquia social
denunciada por diversos
pensadores correspondem aos
novos conflitos gerados agora
entre a burguesia e o proletariado
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Comte e o Positivismo
A transição do positivismo de concepção crítica e de oposição à
ordem estabelecida para filosofia da ordem e da harmonia social
completou-se com Auguste Comte (1798-1857). Discípulo direto de SaintSimon em seus primeiros anos de estudo, rompeu com seu mestre por
considerá-lo, juntamente com Condorcet, demasiadamente
crítico e
negativo. Na concepção comteana, o pensamento teria que ser
totalmente positivo, não havendo dimensão crítica ou negativa na análise
social, acreditando que Condorcet não descobriu, como ele fez, as leis da
sociologia devido a sua postura e preconceitos revolucionários.
Comte, com o positivismo, foi o primeiro a sistematizar o
pensamento sociológico, definindo seu objeto, estabelecendo conceitos e
métodos de investigação. Acreditava no poder exclusivo da razão, sua
capacidade de conhecer a realidade e traduzi-la na forma de leis
naturais; tais leis permitiriam regular e controlar o comportamento e a
vida humana. Inicialmente, Comte denominou a sociologia de física social,
sob a influência do êxito e reconhecimento obtidos pelas ciências
naturais, aplicando seus métodos de investigação às ciências da
sociedade.
Conforme indicou Löwy (1985), são três as idéias principais do
positivismo:
1. A hipótese fundamental de que a sociedade humana é regulada
por leis naturais, portanto, invariáveis e independentes da vontade
e da ação humana. Assim como a lei da gravidade, não é possível
impedir ou modificar as leis da sociedade. Deste modo, “o que
reina na sociedade é uma harmonia semelhante à da natureza,
uma espécie de harmonia natural” (LÖWY, 1985, p. 36)
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2. Em
conseqüência
da
primeira
hipótese,
os
métodos
e
procedimentos para se conhecer a sociedade são exatamente os
mesmos utilizados para conhecer a natureza.
3. Assim como as ciências da natureza são ciências objetivas,
neutras, livres de juízos de valor, também as ciências da sociedade
devem funcionar segundo este modelo de objetividade científica
A idéia fundamental do método positivista é de que a ciência só
pode ser objetiva e verdadeira quando eliminar totalmente qualquer
interferência de preconceitos e prenoções. Para os positivistas, portanto,
as ciências sociais não teriam vínculo com classes sociais, posições
políticas ou ideologias.
Ao estudar a história da humanidade para compreender melhor as
leis que regulam seu desenvolvimento, Comte, herdeiro das idéias de
Condorcet de que a humanidade está em permanente desenvolvimento
ou evolução, formulou o que chama de lei fundamental,
“Essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções
principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa
sucessivamente por três estados de históricos diferentes:
estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato,
estado científico ou positivo. Em outros termos, o espírito
humano, por sua natureza, emprega sucessivamente, em cada
uma de suas investigações, três métodos de filosofar, cujo
caráter é essencialmente diferente e mesmo radicalmente
oposto (...) Daí três sortes de filosofia que se excluem
mutuamente: a primeira é o ponto de partida necessário da
inteligência humana; a terceira, seu estado fixo e definitivo; a
segunda, unicamente destinada a servir de transição” (COMTE,
1983, p. 4)
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Para Comte, nesta evolução do pensamento e das ciências a
Sociologia representa o ápice do desenvolvimento, o coroamento do
pensamento científico, é a ciência capaz de coordenar e condensar o
saber das demais ciências. De acordo com a lei dos três estados,
portanto, todas as ciências e o espírito humano desenvolvem-se a partir
de três fases, são eles:

Estado teológico: neste momento, a explicação da realidade
ocorreria a partir da crença na intervenção de seres sobrenaturais,
exercedo papel relevante de coesão social.

Estado metafísico: a metafísica impõe o abstrato na explicação
dos fatos, não a natureza, bem como a argumentação no lugar da
imaginação. O espírito metafísico corresponderia à substituição dos
reis pelos juristas, compreende-se a sociedade como originária de
um contrato.

Estado positivo: neste momento do desenvolvimento das ciências
ocorreria a subordinação da imaginação e da argumentação à
observação dos fatos concretos. Cada observação deveria,
necessariamente, corresponder a um fato.
Para Comte, representando os novos interesses da burguesia
interessada na ordem, as sociedades européias estavam em estado de
profundo “caos social”. Crítico das idéias iluministas, viu nelas o “veneno
da desintegração social”, ou seja, ideias iluministas, na sociedade
industrial, somente poderiam levar à desunião entre os homens. Para
superar
esta
situação
seria
necessário
atingir
e
estabelecer
definitivamente o “estado positivo”, deixando para trás os preconceitos e
noções equivocadas, fruto da imaginação ou do fervor religioso, e
estabelecendo definitivamente o domínio da ciência e da razão.
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Comte vê os estados
teológico e metafísico
como etapas
necessárias ao
desenvolvimento da
humanidade, mas sua
perpetuação causa
entraves à ciência e ao
verdadeiro
conhecimento do real
O estado positivo deve
estabelecer sua
superioridade
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De acordo com Comte, com a supremacia do estado positivo e da
ciência estabelece-se como consenso que não deve haver liberdade de
consciência com relação às questões sociais. Assim como na física, na
matemática e na biologia, cabe aos sábios determinar os princípios. Aos
sociólogos cabe a análise isenta da realidade e a elaboração das medidas
necessárias à sociedade, ao Estado cabe a execução destas medidas.
DURKHEIM: FATOS SOCIAIS, SOLIDARIEDADE E COESÃO
Mesmo com o reconhecimento devido a Comte por sua
contribuição para a instituição da Sociologia enquanto ciência, foi sem
dúvida Émile Durkheim (1858-1917) um dos pensadores que mais
contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência empírica e
para sua instauração no meio acadêmico, tornando-se o primeiro
professor universitário dessa disciplina. Ele é referência metodológica
obrigatória de boa parte da literatura positivista na área das ciências
sociais.
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A Sociologia pode ser definida, segundo Durkheim, como a ciência
das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento. Na fase
positivista que marca o início de sua produção, considera que, para
tornar-se uma ciência autônoma, essa esfera do conhecimento precisava
delimitar seu objeto próprio, os fatos sociais e o método adequado a sua
observação.
Definir e descrever um método próprio à sociologia, capaz de
tornar o conhecimento da vida social científico, superando as dificuldades
do senso comum, permeado pela interferência das tradições e valores
pré-científicos, foi uma das primeiras preocupações do autor. Tal método
deveria ser semelhante ao adotado nas ciências naturais, contudo, com
as adaptações necessárias ao reino social. Com base em suas
experiências práticas na observação da realidade social, Durkheim
elaborou regras para a observação dos fatos sociais, são elas:
Descrevê-los pelos
seus caracteres
exteriores que possam
ser descritos pela
observação

Considerar os fatos sociais como coisas

Afastar os preconceitos e as noções pré-concebidas

Definir previamente tais fatos pelos caracteres exteriores que lhes
são comuns

Considerá-los sem tomar em consideração suas manifestações
individuais
Fatos sociais compreendem “toda maneira de agir fixa ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então
ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando
uma existência própria, independente das manifestações individuais que
possa ter”,(DURKHEIM, 1971, p. 11).
Alguns aspectos permitem caracterizar um fato social. Primeiro,
são “maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam a
propriedade marcante de existir fora das consciências individuais”
(DURKHEIM, 1971, p. 2), ou seja, são exteriores ao indivíduo, definidos
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fora dele e independentes de sua existência, têm por substrato a
sociedade, são práticas, crenças e modos de agir que existem antes do
indivíduo nascer e continuarão a existir após sua morte.
Segundo, são capazes de se impor às consciências individuais,
“são também dotados de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do
qual se lhe impõe, quer queira, quer não. Não há dúvida de que esta
coerção não se faz sentir, ou é muito pouco sentida quando com ela me
conformo de bom grado, pois então torna-se inútil” (DURKHEIM,1971,
p.2). Fatos sociais, portanto, se impõem aos membros da sociedade,
sendo a coerção maior ou menor conforme a resistência que se opõe aos
mesmos.
Assim, pois, o fato social é algo dotado de vida própria, externo aos
membros da sociedade e que exerce sobre seus corações e mentes uma
autoridade que os leva a agir, a pensar e a sentir de determinadas
maneiras. É por isto que o “reino social” está sujeito a leis específicas e
necessita de um método próprio para ser conhecido, diferentemente do
que acontece no “reino psicológico” que pode ser entendido por meio da
introspecção.
Da perspectiva do autor, a sociedade não é o resultado de um
somatório dos indivíduos vivos que a compõem ou de uma mera
justaposição de suas consciências. Ações e sentimentos particulares, ao
serem associados, combinados e fundidos, fazem nascer algo novo e
exterior àquelas consciências e às suas manifestações. A sociedade,
então, mais do
que uma soma, é uma síntese e, por isso, não se
encontra em cada um desses elementos, assim como os diferentes
aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos na
célula: a vida está no todo e não nas partes.
Segundo Durkheim, todos possuem duas consciências: uma
individual, que é única a cada indivíduo e lhe coloca problemas de ordem
individual; outra coletiva ou comum, caracterizada como um conjunto de
idéias, sentimentos e hábitos que exprimem em cada indivíduo o grupo do
qual faz parte.
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Essa consciência comum ou coletiva corresponde ao “conjunto das
crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma
sociedade [que] forma um sistema determinado que tem vida própria”
(DURKHEIM, 1983, p. 52), isto é, independente dos indivíduos
Os laços que unem os membros entre si e ao próprio grupo
constituem a solidariedade, a qual pode ser orgânica ou mecânica; de
acordo com o tipo de sociedade cuja coesão procuram garantir. Quando a
personalidade individual quase inexiste, quando os indivíduos se
identificam uns com os outros por semelhanças mútuas sentindo-se
atraídos para manterem-se unidos, ocorre entre eles aquilo de Durkheim
denomina solidariedade mecânica.
Em sociedades onde se desenvolve a divisão do trabalho a
unidade do organismo é maior quanto maior é a individualidade das
partes, isto é, uma solidariedade mais forte e efetiva surge da
interdependência entre os membros da sociedade. À esta solidariedade,
na qual cada membro individual executa uma função para a manutenção
do todo, Durkheim deu o nome de solidariedade orgânica.
O MARXISMO
Pode-se dizer que no final da primeira metade do
séc. XIX, particularmente no ano de 1848 com a publicação
do “Manifesto do Partido Comunista”, dos alemães Karl
Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), tenha se
desenvolvido o que posteriormente seria nominado como
marxismo.
A obra é uma espécie de divisor de águas no
pensamento de Marx, marcando o fim de um longo
período de reflexões filosóficas (desde a elaboração de
sua tese de doutoramento: "Diferenças da filosofia da
Portrait of Karl Marx
Karl Marx (1818-1883), German political
philosopher,
author of Das Kapital.
IMAGEM: © Bettmann/CORBIS
DATA DA FOTOGRAFIA ca. 19th century
COLEÇÃO Bettmann
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natureza em Demócrito e Epicuro", defendida em 1841 na Universidade
de Berlim); para uma etapa de estudos políticos.
Nesta segunda fase, Marx resolveu um antigo problema
na cisão entre idealistas (que pensavam modelos ideais de
sociedade, por exemplo), e materialistas (alicerçados nas
condições materiais de transformação das sociedades),
propondo
aquilo
que
definiu
como
práxis:
a
ação
transformadora da realidade, rumo à concretização da
idealidade. Obviamente, o ideal vicejado por Marx só se
constituiria, em sua teoria, diante das possibilidades materiais
de tornar-se real.
Com base nisso, Marx, nesta fase, centrou seus esforços
na crítica política ao modelo de sociedade vigente ao seu
tempo, perscrutando suas raízes mais longínquas na História da
humanidade para defender um modelo de sociedade que
superaria os antagonismos de suas precedentes, levando o
Homem ao desenvolvimento máximo de suas potencialidades.
Friedrich Engels Working in
His Office
Título original: Illustration of
Friedrich Engels (1820-1895),
German socialist philosopher.
Undated.
IMAGEM: ©
Bettmann/CORBIS
DATA DE CRIAÇÃO ca.
1880's
COLEÇÃO Bettmann
Sendo assim, há uma dimensão fundamentalmente
sociológica na elaboração teórica de Marx, pois lançou as
bases do marxismo que, para além da Sociologia, constituiu um dos mais
significativos cabedais teóricos da contemporaneidade. Serviu tanto como
instrumento para organização da classe trabalhadora e para o surgimento
dos partidos políticos de esquerda em todo o mundo, como para
influenciar revoluções sociais como a Revolução Chinesa e a Russa, por
exemplo; e, ainda, para conformar uma intelectualidade engajada com a
transformação da realidade social em nome dos menos favorecidos,
aquela que se denomina: marxista.
O princípio fundamental do marxismo é o materialismo, ou seja, a
única realidade seria a matéria e suas forças, em transformação contínua.
Sendo assim, a matéria, para Marx, não consistiria em uma composição
estática, inerte, mas em constante movimento e transformação.
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De fato, o princípio já estava na filosofia pré-socrática (estudada
pelo “jovem Marx”), no materialista Heráclito de Éfaso (540 a.C. - 470
a.C.) e seu célebre exemplo de que um homem nunca se banharia no
mesmo rio duas vezes, pois, na segunda vez, nem as águas do rio seriam
as mesmas, nem o homem permaneceria o mesmo. Para ele, tudo flui.
MATERIALISMO ECONÔMICO
Para Marx, a base econômica seria determinante para o
desenvolvimento das sociedades.
Sua visão contrapôs-se à de Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831, foi professor e reitor da Universidade de Berlim, onde Marx
estudou), para quem “as idéias determinam todas as condições da
sociedade”; para Marx e Engels “a economia determina inclusive as
idéias”, sendo assim, para o marxismo “a economia molda a sociedade”.
Marx entendia que as relações econômicas de produção de
determinada sociedade permitiriam compreender todos os seus demais
aspectos. Para isso, focou sua análise nos modos de produção, a partir
dos quais se conformariam os demais aspectos da vida social, de forma
adaptativa ao sistema econômico vigente.
O estudo dos processos tecnológicos empreendidos nas atividades
produtivas, a divisão do trabalho decorrente da organização da produção,
a estratificação social resultante da divisão do trabalho, a distribuição dos
bens e produtos, seu consumo, a própria organização social, a
remuneração da mão-de-obra, o regime de propriedade e as leis que
legitimam
essas
relações,
são
elementos
fundamentais
para
a
compreensão das sociedades.
Segundo esta visão, a estrutura econômica exerceria um papel
determinante no processo de transformação das sociedades humanas.
Dela adviriam mudanças no cotidiano dessas sociedades, moldando seus
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aspectos
político-ideológicos
e
culturais,
pois
se
constituiria
fundamentalmente das próprias formas de relação de produção que as
regeriam.
A transformação das sociedades estaria, portanto, intrinsecamente
relacionada com o movimento de suas estruturas econômicas, ou seja,
com a forma como o Homem interfere na natureza para atender as suas
necessidades de sobrevivência.
MATERIALISMO HISTÓRICO
Para Marx, as sociedades, ao longo da História, também estariam
em
perene
transformação,
conforme
vimos,
determinadas
pelas
mudanças em sua base econômica.
Essas transformações se dariam por meio de uma marcha triática,
ou seja, a partir de três elementos: tese, antítese e síntese. Essa
formulação advém de uma re-apropriação que Marx fez da dialética
proposta por Hegel, daí dizer-se: da dialética hegeliana.
O movimento se daria da seguinte forma: tudo o que existe na
natureza constitui tese; porque tudo está em movimento (como vimos),
tudo o que existe em natureza se transforma, em especial, em direção ao
seu oposto (exemplo: a madeira se transforma naturalmente de forma a
deixar de ser madeira, quando começa a se decompor), a esse contrário,
que nega a tese, chamamos de antítese (anti+tese); o choque da tese
com seu contrário (ou suas contradições, como no exemplo dado, de a
madeira naturalmente se decompor), teria como resultado a síntese, ou
seja, algo novo (uma matéria nova, no exemplo dado, produto da
decomposição da madeira).
Essa mesma lógica verifica-se, segundo Marx, na mudança das
sociedades, que também se decompõem e se transformam em algo novo.
Essas transformações seriam determinadas, como vimos, pela base
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econômica. Sendo assim, uma base econômica determinada, como o
capitalismo, por exemplo (ao tempo de Marx, que era o tempo da
industrialização), seria a tese dessa sociedade: o chamado modo de
produção capitalista. Seus antagonismos ou contradições, ou seja, sua
antítese, seriam exatamente as condições de penúria e extrema
exploração vivida pelo proletariado, a classe trabalhadora nas fábricas.
No momento em que o proletariado não suportasse mais sua condição de
exploração e se voltasse contra o explorador - a burguesia -, ocorreria o
choque que produziria um novo modo de produção, ou seja, a síntese.
TESE
X
( o que existe)
ANTÍTESE
=
(suas contradições)
SÍNTESE
o novo
Sendo assim, a expressão do materialismo histórico seria a luta de
classes: o momento de choque entre uma classe dominante (cuja ordem
seria a tese) e as classes dominadas (cuja condição de exploração seria
antítese).
Com base na dialética hegeliana (tese + antítese = síntese), Marx
elaborou sua teoria explicativa sobre a sucessão dos modos de produção
da vida social: “Todo modo de produção já traz em si o germe que
provocará sua deterioração e o surgimento de um modo de produção
novo”, tendo como motor dessas transformações a “luta de classes”.
Para Marx, a luta de classes seria então o motor da História, da
transformação da base econômica das sociedades e, assim sendo, das
próprias sociedades.
A origem da divisão da sociedade em classes sociais estaria na
propriedade privada dos meios de produção.
MEIOS DE PRODUÇÃO: São os meios necessários para garantir a
existência material do Homem, como a terra e os instrumentos/ferramentas para a
transformação da natureza naquilo que possa saciar as necessidades humanas
(uma enxada, um arado, uma máquina numa indústria, por exemplo).
O meio de produção mais importante, no marxismo, é a terra.
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No momento em que um indivíduo se outorga proprietário de um
determinado meio de produção, como a terra, por exemplo, ele se
distingue de todos os demais que não são proprietários. Decorre daí a
divisão do trabalho social, entre os proprietários dos meios de produção e
aqueles que são proprietários apenas de sua força de trabalho. Trata-se,
para Marx, de uma relação fundamentalmente de exploração, na qual há
exploradores e explorados. Percebemos então que, segundo essa
perspectiva, a divisão do trabalho social determina papéis e identidades
sociais e, segundo o marxismo, estão na base das desigualdades, por
parte daqueles que são proprietários dos meios de produção e
expropriam a força de trabalho alheia.
Em determinado momento, então, essa condição de exploração se
tornaria de tal forma insuportável que adviria daí a consciência dessa
condição, chamada por Marx de “consciência de classe”: o combustível
necessário para ativar a luta de classes, o motor das transformações
sociais subseqüentes.
REVOLUÇÃO SOCIAL
A luta de classes encontra expressão máxima na forma da
revolução social, que então cria a nova ordem de produção, síntese do
velho e do novo.
Trata-se da síntese dialética que vimos em Hegel e depois em
Marx: a nova ordem já trás em si o germe de sua ruína, suas contradições
internas que provocarão a antítese, que em choque com a tese gerarim a
síntese (o novo).
A história da humanidade seria então a história da luta de classes,
e a luta de classes dependeria por sua vez da consciência de classe.
Sendo assim, compreende-se porque para Marx “a violência é a parteira
das novas sociedades”.
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A revolução como expressão da luta de classes, dada pelas
contradições do CAPITALISMO (expressão máxima da exploração a que
teriam chegado as relações entre proprietários dos meios de produção e
proprietários de sua força de trabalho), levaria ao SOCIALISMO
(propriedade dos meios de produção centradas no Estado), fase
transitória para o COMUNISMO (ausência de propriedade privada dos
meios de produção e, com isso, ausência de relações de exploração).
ESTRUTURA SOCIAL
A estrutura social, no marxismo, é formada pelas relações de
produção: o fator econômico é portanto o determinante fundamental na
configuração das sociedades, pois o papel do indivíduo na sociedade
advém do papel que desempenha na divisão do trabalho social.
As relações de produção determinariam as formas de consciência,
organizações políticas, religião, lei, filosofia, ciência, arte, literatura e até
mesmo a moralidade.
Nessa perspectiva, o Estado (que não fosse o Socialista) seria a
superestrutura criada a serviço da classe dominante, proprietária dos
meios de produção, para manter essas relações inalteradas em favor dos
dominadores.
A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
Max Weber é um nome de grande importância dentro do
pensamento social. Suas contribuições teóricas criaram as bases da
Sociologia moderna, juntamente com Durkheim e Marx. O estudo do seu
pensamento vai possibilitar a aquisição de uma importante ferramenta na
compreensão das ações humanas e das sociedades.
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Para Weber, o objeto da sociologia é a ação social. A ação social é
a conduta humana à qual o próprio agente associa um sentido. É aquela
ação orientada subjetivamente pelo agente levando em conta a resposta
ou a reação de outros indivíduos. É preciso ver o que Weber entende por
sentido. Ele estava mais preocupado com enfatizar que o sentido é
aquele subjetivamente visado pelo agente e não um sentido correto da
ação ou algum sentido definido como verdadeiro. Interessa, enfim, aquele
sentido que se manifesta em ações concretas e que envolve um motivo
sustentado pelo agente como fundamento da sua ação. Para Weber, a
sociologia é uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da
ação social, para sua explicação causal e para seus efeitos (COHN,
2003).
Em Economia e sociedade, Weber distingue quatro tipos de ação
social: 1) ação racional em relação a um fim (por exemplo, o
desempregado que procura um emprego); 2) ação racional em relação a
um valor (quando o sujeito age racionalmente não para alcançar um
resultado, mas para permanecer fiel a um valor, como no caso do capitão
que vai a pique com o navio que afunda ao invés de abandoná-lo); 3)
ação afetiva (aquela ditada pela emoção ou pelo humor do agente); 4)
ação tradicional (aquela ditada por hábitos, costumes e crenças). Esses
tipos de ação encontram-se mais ou menos mesclados na vida social,
mas sua classificação é necessária para se poder interpretar a vida social
(REALE; ANTISERI, 2003).
O conceito de motivo permite estabelecer uma ponte entre o
sentido da ação social e a compreensão dessa ação por parte do cientista
social. Do ponto de vista do agente, o motivo é o fundamento da ação.
Para o sociólogo, cuja tarefa é compreender essa ação, a reconstrução
do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura como a
causa da ação (COHN, 2003).
A tarefa do cientista social é descobrir os possíveis sentidos das
ações humanas presentes na realidade social que lhe interesse estudar.
O sentido, por um lado, é expressão da motivação individual. O caráter
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social da ação individual decorre da interdependência dos indivíduos.
Uma pessoa age sempre em função de sua motivação e da consciência
de agir em relação a outras pessoas. Por outro lado, a ação social gera
efeitos sobre a realidade em que ocorre. Muitas vezes, tais efeitos
escapam ao controle e à previsão do agente (COSTA, 1998).
Ao cientista social compete captar o sentido produzido pelos
diversos agentes em todas as suas conseqüências. As relações que o
cientista estabelece entre motivos e ações sociais revelam as diversas
instâncias da ação social – políticas, econômicas ou religiosas (COSTA,
1998).
Weber distinguiu a ação social da relação social. Para ele, a
relação social é uma ação cujo sentido é compartilhado pelos agentes
envolvidos nessa ação. Por exemplo, um sujeito que pede uma
informação a outro estabelece uma ação social: ele tem um motivo e age
em relação a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado. Numa
sala de aula, onde o objetivo da ação dos vários agentes é compartilhado,
existe uma relação social (COSTA, 1998).
O cientista, como todo indivíduo em ação, também age guiado por
seus motivos, sua cultura, sua tradição, sendo impossível descartar as
suas pré-noções. Existe sempre uma parcialidade na análise sociológica,
como em toda forma de conhecimento. As preocupações do cientista
orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser
analisada. Os fatos sociais não são coisas, mas acontecimentos que o
cientista percebe e cujas causas procura desvendar. Uma vez iniciado o
estudo, este deve se conduzir pela busca da maior objetividade na análise
dos acontecimentos. A realização da tarefa científica não deve entrar em
conflito com as crenças e as idéias pessoais do cientista. O que garante a
cientificidade de uma explicação é o seu método. Weber lembra que,
embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise
do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação,
subjetividade e compreensão (COSTA, 1998).
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METODOLOGIA WEBERIANA
As reflexões metodológicas de Weber têm uma clara dívida com a
filosofia do Iluminismo. O ponto de partida e de chegada da sua análise é
o indivíduo. Weber considerava o indivíduo e a sua ação como uma
unidade básica. Ele incorporou o problema da compreensão da ação
social em sua abordagem sociológica e chamou sua sociologia de
sociologia compreensiva ou interpretativa (GERTH; WRIGHT MILLS,
1971).
Para poder compreender os fenômenos sociais, Weber propôs um
instrumento metodológico que chamou de tipo ideal. Trata-se de uma
construção teórica abstrata a partir dos casos particulares analisados. O
cientista constrói um modelo pelo estudo das diversas manifestações
particulares do fenômeno, acentuando aquilo que lhe pareça característico desse mesmo fenômeno (COSTA, 1998). Para Weber, o tipo
ideal “obtém-se pela acentuação unilateral de um ou de vários pontos de
vista e encadeando uma quantidade de fenômenos isolados, difusos e
discretos, existentes que se encontram ora em grande número, ora em
pequeno número, por vezes até ausentes, que se ordenam segundo
aqueles pontos de vista unilateralmente evidenciados, em um quadro
conceitual homogêneo. Em sua pureza conceitual, esse quadro nunca
poderá ser encontrado empiricamente na realidade: ele é uma utopia. E
ao trabalho histórico se apresenta a tarefa de verificar, em cada caso
individual, a maior ou menor distância da realidade daquele quadro ideal”
(Apud REALE; ANTISERI, 2003, p. 473).
O tipo ideal não existe na realidade. É um instrumento de análise
científica, uma construção do pensamento que permite conceituar
fenômenos
sociais
e
identificar
na
realidade
observada
suas
manifestações. Pode-se ver que o tipo ideal é instrumento metodológico
de pesquisa. Com ele, construímos um quadro ideal (por exemplo, de
protestantismo, de economia urbana, de capitalismo, da Igreja, de
dominação, etc.) para depois com ele medir ou comparar com a realidade
efetiva, controlando a sua proximidade ou o seu distanciamento em
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relação ao modelo. Resumidamente, pode-se dizer que: 1) o tipo ideal
não se identifica com a realidade, não a reflete nem a expressa; 2) ao
contrário, em sua idealidade, o tipo ideal se afasta da realidade efetiva
para afirmar melhor os seus diversos aspectos; 3) o tipo ideal não deve
ser confundido com avaliação ou valor; 4) o tipo ideal, repetindo, pretende
ser
instrumento
metodológico,
os
conceitos
típicos-ideais
são
uniformidades limites (REALE; ANTISERI, 2003).
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Anotações
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