Alterações da estabilidade postural e da estabilidade de alcance
funcional no processo de envelhecimento
Ciências da Saúde
Anna Quialheiro A. da Silva, Lucieny Gonçalves, Michele Mayer (PUIC continuado). Curso de
Fisioterapia da Grande Florianópolis.
Resultados
O envelhecimento populacional tem sido a mais importante mudança demográfica observada
na maioria dos países do mundo e cresce cerca de 2,5% ao ano [3-4]. Com os anos passando,
o organismo humano passa por um processo natural de envelhecimento e este por sua vez
causa diferentes modificações funcionais e estruturais em nosso corpo [2].
Em meados do século XIX, estudos demonstram a dificuldade encontrada para se quantificar
a distribuição de pressão plantar em indivíduos normais ou com algum distúrbio associado,
entretanto com o avanço da tecnologia foram desenvolvidas técnicas e dispositivos para
auxiliar o comportamento dessa pressão plantar em qualquer individuo e com diferentes
padrões de pé [4-7].
Essas alterações que levam a um mau controle postural estão associadas à maior risco de
queda e suas conseqüentes seqüelas, levando a uma taxa de morbidade muito elevada [5].
Estudos relatam que a perda de equilíbrio é aumentada quando realizada com movimentos
mais rápidos, sugerindo uma alteração da coordenação do movimento e da postura,
evidenciando que no idoso a estabilidade lateral está mais afetada que a frontal [1].
A manutenção da postura em pé é uma tarefa muito difícil e com o envelhecimento acaba se
caracterizando por declínios notáveis no controle postural e da organização dos movimentos
[1].
Os testes de alcance funcional e alcance lateral conhecidos internacionalmente por
Functional Reach (FR) – alcance funcional e Lateral Reach (LR) – alcance lateral, vem então
para avaliar o alcance funcional anterior e mediolateral, mensurando os limites de
estabilidade quando o individuo está em pé [6].
Objetivos
O presente estudo tem como objetivo estudar as alterações da estabilidade postural através
da pressão plantar e da estabilidade de alcance funcional no processo de envelhecimento,
através da fotopodoscopia e da análise do desempenho nos testes de alcance funcional (FR)
e alcance lateral (LR).
Como objetivos específicos:
A) Analisar as alterações da estabilidade corporal em jovens;
B) Descrever as alterações da estabilidade corporal em idosos ;
C) Comparar a estabilidade postural e a estabilidade no alcance funcional entre jovens e
idosos.
Metodologia
Os indivíduos foram submetidos às avaliações de fotopodoscopia: análise fotográfica do apoio plantar
bipodal no podoscópio (figura 1) e análise do desempenho nos testes de alcance funcional e alcance
lateral para avaliação da estabilidade dinâmica.
Massa corporal (kg)
Estatura (m)
Comprimento dos pés (cm)
Comprimento dos braços (cm)
1
Alcance funcional (cm)
Alcance lateral direito
Alcance lateral esquerdo
Média
Desvio Padrão
64,15
18,91
65,70
10,86
1,67
0,07
1,53
0,07
24,27
1,53
23,31
1,57
74
3,78
69,67
3,57
32,80
6,27
22,52
7,92
23,63
5,43
17,44
6,89
23,80
5,44
18,35
5,07
Com a análise dos dados de idosos pode-se observar que o grupo
está heterogêneo com alguns dados dispersos. O coeficiente de variação ficou acima de 5% (25 a
60%), não sendo possível visualizar a tendência em relação aos apoios plantares e alcance
funcional desta amostra.
Já a análise dos dados dos jovens observou-se um grupo menos heterogêneo embora o coeficiente
de variação tenha ficado entre 11 e 21%. Pode-se considerar que a média do alcance funcional de
jovens foi maior do a média dos idosos.
50
jovens
Gráfico 1: Média e desvio padrão para antepé,idosos
médiopé
e retropé em jovens e idosos.
40
Alcance funcional (cm)
Introdução
A idade média dos jovens foi de 22,36 ± 2,79 e dos idosos foi de 70,58 ± 7,41. A média e desvio
padrão das medidas antropométricas estão descritas na tabela 1, sendo as primeiras medidas dos
jovens e a segunda linha, os valores obtidos em idosos.
(1)
30
20
10
0
Antepé
Mediopé
Retropé
Apoio plantar
(2)
Figura: Exemplos da imagem de
apoio plantar de um jovem(1) e um idoso (2) da amostra.
Analisando apenas os grupos com apoio em antepé, pela amostra
ser muito pequena, podemos dizer que não houve evidência suficiente para afirmar que existe
diferença significativa entre as médias do alcance funcional.
Houve diferença significativa entre a média do alcance funcional
entre jovens e idosos com apoio em médiopé (p<0,01) e retropé (p<0,05).
Conclusões
Para a mensuração dos alcances utilizou-se fita métrica, fita adesiva simples e uma balança digital.
Foram coletadas as medidas descritivas: estatura, peso, comprimento dos braços e dos pés e a base
de suporte com os pés paralelos numa distância de 10 cm entre a região medial dos calcanhares,
com uma angulação de 30º para fora de cada pé.
Para o teste de alcance funcional foi instruído ao indivíduo que adotasse a seguinte posição: em pé,
descalço, com a região dorsal perpendicular à parede, com os pés paralelos numa posição
confortável, sem tocar a parede, com o ombro fletido em 90° e o cotovelo estendido. A mão ficou
cerrada. A fita métrica foi presa à parede, paralela ao chão, posicionada na altura do acrômio do
voluntário. A medida inicial correspondeu à posição em que o 3° metacarpo se encontrava nessa fita.
O voluntário foi, então, instruído a inclinar-se para frente, o máximo possível, sem perder o equilíbrio
ou dar um passo. Foi verificado o deslocamento sobre a fita métrica. Foi realizada uma tentativa de
alcance funcional e a mesma registrada.
Para a mensuração do alcance lateral, o posicionamento do paciente foi modificado para paralelo a
parede e instruído a inclinar-se para a direita, retorno à posição inicial e depois para a esquerda,
ambos o máximo possível sem retirar os pés do chão.
Pela análise das medidas descritas, observou-se que tanto o
alcance funcional quanto o alcance lateral diminuiu com a idade confirmando dados encontrados na
literatura.6
Mesmo não tendo encontrado diferenças significativas entre o
apoio plantar e o alcance funcional acredita-se que o apoio plantar seja um indicador de
instabilidade postural dinâmica, pois foi encontrado alcances menores quando o apoio estava no
retropé em relação ao médiopé e antepé.
Com os resultados pode-se observar que a amostra foi pequena
para indicar uma tendência do alcance funcional em relação ao processo de envelhecimento.
O grupo de pesquisadores considerou que a utilização do
podoscópio na prática clínica pode ser um bom instrumento para avaliação do apoio plantar se
determinado um padrão de avaliação da imagem.
Não foi encontrado um estudo com valores normativos para a
população brasileira em relação ao alcance funcional, temos apenas dados internacionais8-9, porém
um dos estudos relatou ser provável que os parâmetros que vêm sendo utilizados não sejam
adequados para a população brasileira.
Para captura da impressão plantar, o indivíduo foi posicionado sobre um podoscópio (marca Carci),
com os pés descalços, apoio bipodal e postura ortostática. Utilizou - se um retângulo de etil vinil
acetado (E.V.A) de 7,5 cm de largura para manter uma distância padrão entre os pés. A imagem da
impressão plantar refletida no vidro do podoscópio foi capturada por meio da câmera fotográfica
digital (SONY Cyber Shot 5.1), posicionada sobre um tripé pequeno a frente do podoscópio, a uma
distância de 24 cm e uma altura de 45 cm entre a máquina fotográfica e o solo. As fotos foram tiradas
sem a utilização de nenhum tipo de aproximação (zoom) da câmera fotográfica e com disparo
automático eliminando a influência de pressão dos dedos sobre a máquina no momento da obtenção
da imagem. Em seguida, essas imagens foram arquivadas para posterior análise.
Bibliografia
1- GUCCIONE, Andrew A. (Ed.) Fisioterapia geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
2- RUWER, Sheelen Larissa; ROSSI, Angela Garcia; SIMON, Larissa Fortunato. Equilíbrio no idoso. Rev. Bras. Otorrinolaringol. , São Paulo, v.
71, n. 3, 2005.
3- BARBOSA, S. M; ARAKAKI. J; SILVA, M. F. Estudo do equilíbrio em idosos através da fotogrametria computadorizada. Fisioterapia Brasil, v. 2, nº
3, maio/junho 2001.
4- MANFIO, E. F; JR VILARDI, N. P; ABRUNHOSA, V. M; FURTADO, C.S; SOUZA, L.V. Análise do comportamento da distribuição de pressão plantar
em sujeitos normais. Fisioterapia Brasil, v. 2, nº 3, maio/junho 2001.
5- SANGLARD, R. C. F; PEREIRA, J. S. A influência do isostretching nas alterações dos parâmetros da marcha em idosos. Fisioterapia Brasil,
2005.
6- SILVEIRA, KRM; MATAS, SLA; PERRACINI, MR. Avaliação do desempenho dos testes functional reach e lateral reach em amostra populacional
brasileira. Rev. bras. fisioter. , São Carlos, v. 10, n. 4, 2006.
7- RIBEIRO, AP et al . Confiabilidade inter e intra-examinador da fotopodometria e intra-examinador da fotopodoscopia. Rev. bras. fisioter. , São
Carlos, v. 10, n. 4, 2006.
8- WEINER, DK; DUNCAN, PW, CHANDLER, J; STUDENSKI, SA. Functional
Reach: a marker of physical frailty. JAGS. n.40, 1992.
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