492 A percepção do indivíduo na gestão do conhecimento organizacional: estudo teórico-empírico das influências da interferência nos fluxos informacionais na criação de conhecimento e tomada de decisão Regis Garcia (UNESP/Marília) Bárbara Fadel (Uni-FACEF/Franca) 1 O PROBLEMA 1.1 Introdução É fato que a sociedade da informação e do conhecimento já tem por consolidada a idéia de que são os fluxos informacionais que, convergidos e ou emanados dos indivíduos, constituem um dos principais elementos de sua construção. A construção contínua (SCHEIN, 1982) é uma função vital das organizações. “A hegemonia econômica e social é exercida não mais pelos proprietários dos meios de produção, e sim por aqueles que administram o conhecimento e podem planejar a inovação” (TARAPANOFF, 2001). A informação que subsidia os processos decisórios e que viabiliza a criação de conhecimento com vista à inovação, no entanto, só faz sentido a partir de sua relação com o sujeito do processo de decisão. Como seu processamento é feito na mente humana, a organização que deseja inovar deve agir primeiramente na compreensão e incentivo do indivíduo. Ela tem como objetivo subsidiar a construção de conhecimento e sempre depende de uma interpretação humana (VALENTIM;ZWARETCH, 2007). É dinâmica, e é ela que mantém as organizações unificadas (MORAES, FADEL, 2007). A maior parte dos indivíduos está de alguma forma inserida num contexto organizacional, principalmente empresarial. Essa inserção forma o que se denomina de “contrato psicológico” (SCHEIN, 1982, p.18) devido ao fato de que “há um conjunto não explícito de expectativas” atuando intra-organizacionalmente. A influência da organização no comportamento humano, devido pela presença do indivíduo nas organizações extrapola a do próprio tempo de convivência. Os esforços para a compreensão dos elementos influenciadores desse comportamento representa desafio para a ciência. A organização tem reflexo bem maior no comportamento humano do que se poderia deduzir pela análise do tempo 493 de permanência dentro delas (MARCH; SIMON, 1970). As organizações empresariais são como micro-sociedades submetidas a toda sorte de mutações do ambiente externo, influenciada e influenciadora desse ambiente e são os indivíduos que por meio da tomada de decisões as modificam e as constroem continuamente. Muitas das habilidades dos indivíduos que influenciam a vida das organizações emanam de sua íntima percepção. As ações, muita das vezes, são guiadas pelo que está dentro da mente do próprio indivíduo influenciando sua autoestima e motivação para gerir a si mesmo e aos outros com impacto direto nas rotinas organizacionais (ARGYRIS, 1993). É importante a compreensão da organização como núcleo social constituindo uma congregação de indivíduos (VALENTIM, 2007). Tal idéia coloca o indivíduo como sujeito de transformação e, portanto, como elemento principal da formação do conhecimento, organizacional e da própria sociedade. Uma vez apresentado o relacionamento existente entre a sociedade, a organização e o indivíduo, destacada a importância da informação neste contexto, este projeto propõe uma pesquisa focada nos elementos comportamentais dessa relação, especificamente aqueles que envolvem a percepção do sujeito quanto aos fluxos informacionais. 1.2 Questão de pesquisa Procurar-se-á responder: na percepção dos indivíduos - em que pese às limitações cognitivas enquanto sujeitos do processo decisorial – quais as influências do volume e qualidade das informações - disponibilizadas e ou infundidas1 - na criação de conhecimento e tomada de decisão, a partir da interferência nos fluxos informacionais? 1.3 Objetivo geral A pesquisa procurará identificar sob a percepção dos indivíduos, quais as influências do volume e qualidade das informações - disponibilizadas e ou infundidas - na criação de conhecimento e tomada de decisão, a partir da interferência nos 1 O verbo infundir aqui proposto foi escolhido por representar sinônimo de duas das ações que uma organização pode executar em relação ao trato com as informações que deseja fazer chegar aos indivíduos. Primeiramente pode representar incutir, inspirar, fazer penetrar no ânimo, ou seja, com sentido mais propenso ao incentivo. Por outro lado também pode representar uma imposição do qual deriva pressão e constrangimento. Na teoria de Takeuchi e Nonaka (2008) o termo utilizado é incutir. 494 fluxos informacionais, visando contribuir com a discussão e construção da base teórica da gestão do conhecimento tratada pela ciência da informação de forma interdisciplinar. 1.4 Objetivos específicos Para o atendimento ao objetivo geral se estabelecem alguns objetivos específicos: • exteriorizar a percepção dos indivíduos em relação ao impacto das informações no seu aprendizado e tomada de decisões na hipótese de disponibilização dessas pelo ambiente organizacional, sem imposição ou constrangimento explícito; • exteriorizar essa percepção na hipótese das informações lhes serem infundidas pelo ambiente organizacional; e • discutir com base nessas percepções o impacto da interferência nos fluxos informacionais e a influência no aprendizado e tomada de decisão. 1.5 Hipóteses H0 - A depender da extensão e do modo de interferência nos fluxos informacionais, da forma com que se faz a oferta de informações aos indivíduos intra-organizacionalmente, do volume e qualidade disponível, haverá influência significativa no processo de criação de conhecimento e tomada de decisão, de tal forma que a percepção positiva ou negativa do sujeito pode influenciar todo o restante desses processos. Derivadas da hipótese principal levantam-se três hipóteses secundárias: H1: A interferência nos fluxos de informação dentro das organizações, na percepção dos sujeitos tomadores de decisão, é o principal elemento da gestão do conhecimento. H2: O alto volume e os múltiplos significados das informações derivadas dos variados meios informacionais externos, presentes no ambiente social dos indivíduos, estão criando sentimentos de angústia e ansiedade demasiados que deslocam o foco do sujeito dos objetivos da organização, necessitando-se, portanto, da interferência da organização. H3: Os fluxos informacionais internos podem ser geridos pela organização, pondo foco nos objetivos sem que o volume e a qualidade das informações 495 representem angústia ou ansiedade demasiada no ambiente informacional. 1.6 Justificativas e contribuições A experiência e a publicação de trabalhos envolvendo o estudo da percepção do indivíduo tomador de decisões, por parte do autor deste projeto, é um dos elementos motivadores deste trabalho. Além disso, outros trabalhos de alta relevância vêm contribuindo para a elevação do indivíduo no contexto das organizações. Davenport (1998) destaca a importância de se identificar todos os passos de um processo informacional, as fontes envolvidas, as pessoas que afetam cada passo e os problemas que surgem. Recentemente, Neto e Barbosa (2008, p.168) consideraram ser fundamental o desenvolvimento de pesquisas na área da ciência da informação “pari passu ao afastamento da estéril dissensão derivada da discussão terminológica”. Considera-se que dentre as principais interações informacionais, estão as intra-organizacionais, principalmente as que envolvem o indivíduo e os fluxos informacionais. O estudo proposto se justifica a partir de pelo menos três considerações: I. como os indivíduos se enquadram como elementos principais do processo de criação de conhecimento para as organizações, necessitam ter suas percepções consideradas no que tange à gestão dos fluxos informacionais, e somente estudando empiricamente essas percepções é que a ciência da informação poderá compreendê-las; II. que o processo de interferência nos fluxos informacionais é algo necessário nas organizações que desejam criar condições para a criação de conhecimento, e estudar qual o impacto dessa interferência no processo de criação de conhecimento e tomada de decisões pode representar um importante passo da ciência da informação no sentido de criação de um referencial teórico consistente; e III. a promoção de condições para a criação de conhecimento é um elemento crítico para as organizações, justamente porque não é simples a conceituação de uma visão sobre o tipo de conhecimento a ser desenvolvido (TAKEUCHI; NONAKA, 2008). 496 1.7 Delimitações do estudo Tendo em vista a pluralidade das abordagens possíveis em relação ao objeto de estudo proposto, fazem-se necessários alguns recortes, a fim de possibilitar um maior aprofundamento no referencial teórico e desenvolvimento das análises. O enfoque que se pretende dar à pesquisa é especifico ao ambiente informacional e ao desenvolvimento de políticas de incentivo à criação de conhecimento (fim) sob a abordagem das interferências nos fluxos informacionais (meio). O estudo se restringe às organizações empresariais 1.8 Representação gráfica da pesquisa A seguir uma representação gráfica sobre o posicionamento da questão de pesquisa. 497 Tensão (AB) Necessidade de diferenciação, a capacidade decisória como elemento principal, conhecimento como base e necessidade informacional sem a qual não ocorrerá a transmissão/criação de significados que resultam na criação de novos conhecimentos. Desafio Reunir indivíduos com conhecimento e capacidade decisória, gerir o conhecimento intra-organizacional interferindo positivamente nos fluxos informacionais como forma de fomentar a criação de conhecimento constante. DA INFORMAÇÃO/CONHECIMENTO AxB ORGANIZAÇÕES (Gestão do conhecimento) Ambiente informacional: Davenport (1998) SUJEITO DA TOMADA DE DECISÕES BxC Situação problema I - A necessidade da organização em gerir o conhecimento a faz interferir nos fluxos informacionais e a ter uma conduta de incentivo ou de imposição. II - O indivíduo percebe de que forma essa interferência e sua influência no processo de criação de conhecimento e tomada de decisão? Tensão (BC) Necessidade de diferenciação, a capacidade decisória como elemento principal, conhecimento como base e necessidade informacional sem a qual não ocorrerá a transmissão/criação de significados que resultam na criação de novos conhecimentos. Desafio Captar as informações disponíveis e ou infundidas dentro da organização, processá-las e tomar decisões. Figura 1: Representação gráfica da pesquisa Fonte: O autor (2009) 2 As organizações, os indivíduos e os fluxos informacionais Os indivíduos se organizam em prol de objetivos comuns formando a 498 sociedade. As organizações empresariais podem ser vistas como micro-sociedades influenciadas e influenciadoras da macro-sociedade da informação e do conhecimento. Para Schein (1982, p.12) elas são “uma coordenação planejada de atividades de uma série de pessoas [...]”. Os ambientes, nos quais a informação é elemento primordial como no caso das organizações, se apresentam como campo fértil de estudo, o que se deve ao fato de envolver inúmeros fatores de difícil quantificação e ou qualificação. Isso se dá principalmente em relação à compreensão do comportamento informacional dos indivíduos, porque o universo informacional “é extremamente complexo [...]” (VALENTIM, 2007, p.13). Potencialmente as organizações estão focadas nos estímulos (incentivos) à criação de insights e na capacitação decisória e acabam, algumas vezes, ignorando a característica perceptiva do indivíduo o que impõe riscos, pois o estímulo “pode ter conseqüências imprevistas por evocar um complexo de reações [...]” (MARCH E SIMON, 1970, p.62). Ocorre que existem fatores situacionais que impactam diretamente a motivação do indivíduo tomador de decisão sendo que um dos principais se refere ao contexto organizacional, ou ambiente no qual ocorrem os fluxos informacionais (SCHEIN, 1982). Compreende-se, no entanto, a necessidade das organizações interferirem nos fluxos informacionais de modo a incentivar seus subsistemas e indivíduos a desenvolverem um espírito de socialização das informações para impulsionar a criação de conhecimento. Modelos de gestão e ferramentais tecnológicos surgem buscando viabilizar instrumentalmente o fluxo horizontal das informações como meio para a viabilização dessa criação. Ocorre que de um lado está um enorme volume de problemas a serem solucionados a todo o momento, de outro “infinitas” fontes de informações, com possibilidades de acessos facilitados e uma variedade múltipla de abordagens sobre um mesmo problema ou tendência. Diante da “enxurrada” de problemas e informações, da preocupação das organizações em estarem na vanguarda informacional, pode haver equivocadamente a priorização do volume em detrimento da qualidade. Utilizando uma metáfora, parece que em alguns casos o ambiente organizacional se torna verdadeiras “feiras livres” de dados. Ao transitarem por ela seus clientes, os 499 indivíduos, sentem-se confusos e ansiosos por nem sempre saberem se o que está sendo oferecido é o que lhes suprirá satisfatoriamente a necessidade informacional. O volume (sem discutir a qualidade) de informações vem transbordando a mente das pessoas. “Antigamente a gente sabia de cor o telefone e data de aniversário de todos os amigos [...]” (NETO, 2006). Ocorre, porém, que tal situação interfere no comportamento desse sujeito e de seus pares dentro da organização visando à sobrevivência na competição de saberes, característica das organizações onde o produto informação significa status e poder. Outro processo que sofre influência dessas ações de interferência nos fluxos informacionais é o de comunicação que é o meio/canal de distribuição, disseminação e transferência de dados, informação e conhecimento no ambiente corporativo (VALENTIM, 2007). Essa interferência pode influenciar também a tomada de decisão, uma vez que a comunicação é o meio pelo qual transitam as informações: subsidio do processo de escolha. Cervantes e Valentim (2007) destacam que a qualidade e a diponibilização das informações têm sido discutidas constantemente. Além do foco em relação à forma com que as informações são disponibilizadas e ou infundidas dentro das organizações, a terminologia com que chegam aos indivíduos a de ser pensada, o que remete à idéia de que a percepção do indivíduo extrapola os aspectos meramente focados no volume de informações. Seria ingênuo desconsiderar a necessidade das interferências nos fluxos informacionais, mas não se podem ignorar os reflexos dessa interferência no comportamento dos indivíduos e o fato delas nem sempre resultarem ganho de qualidade informacional. O olhar da sociedade contemporânea para o estudo da informação, principalmente no âmbito organizacional reconhecendo-a como matéria prima para a criação de conhecimento, necessita considerar a questão das interferências nos fluxos informacionais. O problema reside na falta de equidade entre a atenção dada à tempestividade, precisão e quantificação em relação à qualidade das informações e a dispensada no processo de tratamento e sintetização, considerando principalmente, as características cognitivas e comportamentais do indivíduo usuário dessas informações. O subsídio informacional oferecido a qualquer custo para o indivíduo pode resultar em indesejáveis consequências. 500 O estudo apenas das conseqüências da decisão pode ocultar problemas, pois o comportamento interpretativo do sujeito tomador de decisão sofre influência da forma com que o fluxo informacional é tratado pelas organizações. Trata-se de se dar atenção ao processo (meio) e não apenas a ação (fim). A vida na organização não envolve apenas escolha, ela passa necessariamente também, pela interpretação (CHOO, 2003). 3 A abordagem de Davenport Um dos estudos relevantes que aborda a questão do fator humano no contexto do ambiente informacional foi feito por Thomas H. Davenport em 1997 (DAVENPORT, 1998). Segundo Moresi (2001) é um “valioso referencial conceitual que pode ser usado na ciência da informação para conduzir pesquisa sobre informação nas organizações”. A preocupação de Davenport com o modo como as pessoas usam e dão destinação à informação, faz deste trabalho um excelente referencial para a compreensão dos efeitos das interferências organizacionais nos fluxos de informacionais. A proposta é de uma modelo que represente a qualificação das informações com foco no indivíduo como elemento central da ecologia da informação, título do trabalho. A grande quantidade sugere o autor, dá lugar ao uso de informações selecionadas em pequena quantidade. Pressupõe que deva haver seleção informacional, portanto, um modo de interferência no fluxo normal da informação. O ser humano é colocado como o elemento principal do contexto informacional sendo que os ferramentais informacionais devem ser encarados como auxílio tecnológico. Dentre as abordagens da informação tratadas por Davenport a do capital intelectual/ conhecimento é a que mais se relaciona com o indivíduo e os fluxos informacionais dentro da organização. Essa abordagem destaca o conhecimento acumulado pelas pessoas que é um importante ativo que pode ser capitalizado. Por essa abordagem infere-se que os fluxos informacionais da comunicação horizontal poderiam, ao serem incentivados de maneira racional, ser capazes de maximizar a capitalização desse conhecimento pela troca entre os indivíduos. A concepção de que a o processo de escolha e suas consequências é o 501 elemento principal das políticas de informação instiga às reflexões importantes como: gestão dos conflitos, preocupação com a auto-imagem, enfrentamentos políticos entre outros aspectos relacionados ao comportamento do indivíduo dentro das organizações. A evidência de que o modelo de Davenport implica na interferência da organização nos fluxos informacionais se dá pela afirmação de que o “ecologista da informação” deve ter como maior preocupação a mudança da maneira como as pessoas usam a informação. Também é tratada a questão sobre o nível e quantidade de informação capaz de ser percebida e apreendida pelos indivíduos. O ambiente informacional é analisado sob o enfoque do indivíduo como demonstra a Figura 2, com destaque para o componente crítico (item 3) que se refere especificamente ao comportamento deste em relação à informação. AMBIENTE EXTERNO AMBIENTE DA ORGANIZAÇAO AMBIENTE INFORMACIONAL Indivíduo, sujeito da tomada de decisões. ELEMENTOS CRÍTICOS DA ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO (1) Estratégia da informação. (2) Política da Informação. (3) Cultura e comportamento em relação à informação. (4) Equipe especializada em informação (5) Processo de gerenciamento de informação. (6) Arquitetura da infromação. Figura 2: O indivíduo no contexto do modelo ecológico de gestão da informação Fonte: Adaptado de Davenport (2008) Cultura e comportamento em relação à informação Esse componente discute o núcleo do ambiente informacional centrado no indivíduo. Dois fatores interagem e constituem os elementos desse ambiente. O primeiro se refere à como o indivíduo reage às experiências informacionais na organização: positivamente ou não. De acordo com Davenport esse comportamento interfere na criação da cultura informacional da organização. A depender da interferência da organização nos fluxos informacionais, de 502 como as informações são disponibilizadas e qual o volume e qualidade dessas, o indivíduo poderá ter um comportamento de aceitação ou de aversão. É a cultura informacional, se adequada ao modelo, a determinante do nível de sucesso quanto à valorização, o compartilhamento e o grau de aceitabilidade das informações geradas e transmitidas dentro das organizações. Os três comportamentos que são considerados contributivos a um bom ambiente informacional são: (1) compartilhamento; (2) gestão de sobrecarga informacional; e (3) redução dos significados dos termos. Somente com a disseminação desses elementos intra-organizacionalmente é que a cultura informacional adequada se faz presente. 4 Interferência nos fluxos informacionais para promoção de conhecimento A interferência nos fluxos informacionais acontecerá no sentido de promover as condições para a criação do conhecimento o que se dá pela (TAKEUCHI; NONAKA, 2008): Intenção: representa a aspiração da organização às suas metas. É pressuposto para que se iniciem e se mantenham as ações em prol da criação do conhecimento. Ela proporciona os critérios mais importantes de julgamento dos conhecimentos criados. Autonomia: condição que impacta diretamente o comportamento do indivíduo uma vez que lhe proporciona liberdade de ação. Tal pressuposto de gestão organizacional visa à auto-organização individual, eliminação tanto quanto possível, de barreiras burocráticas como mecanismo facilitador da comunicação. Flutuação e caos criativo: diferente de desordem, mas até certo ponto com padrão de difícil previsão, funcionam como estimuladoras da comunicação interna e externa. Pressupõe que as organizações adotem uma atitude aberta dirigida aos sinais ambientais. Nesse tipo de conduta são permitidos elementos que de certa forma não são bem vistos pelas organizações ocidentais como: ambigüidade, redundância e ruídos. Redundância: no sentido proposto pela teoria dos autores, o termo representa a existência de informação além das exigências operacionais imediatas. Significa uma sobreposição intencional de informação. Requisito variedade: representa o produto da combinação de informações 503 variadas entre os membros da organização. A variedade informacional se caracteriza pela idéia, tanto quanto possível, de que todos devem saber um pouco de tudo a fim de enfrentarem as contingências. O contrário seria haver diferenciais de informação que impedem que haja interação entre os indivíduos baseados numa linguagem (termos) comum. Essas cinco condições promotoras da criação de conhecimento permitem que ocorram, no modelo proposto pelos autores, cinco processos: (1) compartilhamento do conhecimento tácito; (2) criação de conceitos; (3) construção de um arquétipo; e (5) nivelação do conhecimento, conforme pode ser visto na Figura 3. Condições promotoras Interação Autonomia Flutuação/caos criativo Redundância Variedade requisito Conhecimento explícito na organização Conhecimento tácito na organização Socialização Compartilhamento do conhecimento tácito. Externalização Internalização Combinação Justificação de conceitos Criação de conceitos Criação de um arquétipo Nivelação do conhecimento Mercado De organizações colaboradores. Conhecimento tácito. Dos usuários. Interlalização pelos usuários. Conhecimento explicito como propaganda, patentes, produtos e/ou serviços. Figura 3: Cinco fases do processo de criação de conhecimento organizacional. Fonte: Kao Corporation apud Takeuchi e Nonaka (2008, p.82) O ambiente no qual o conhecimento é criado deve ser propenso e adequado, pois conforme destaca Takeuchi e Nonaka (2008) ele é específico ao contexto e depende dos fatores temporais e de espaço. Na definição utilizada pelos autores, o espaço no qual o conhecimento é criado (ba), pode emergir dos indivíduos ou de suas formas de organizações em grupo, como reuniões, equipes etc. Nessa concepção pressupõe-se que as interferências nos informacionais também influenciam a emersão desses espaços de criação. 5 METODOLOGIA fluxos 504 5.1 Caracterização e método A pesquisa proposta se enquadra na área social uma vez que tratará de assuntos relacionados à percepção humana no contexto das organizações empresariais, as quais estão inseridas na sociedade influenciando e sendo influenciadas por ela. Segundo Rummel (1974, p.4) a pesquisa social “é devotada ao estudo da humanidade em seu ambiente social, e está interessada em melhorar a sua compreensão de ordens, grupos, instituições sociais e ética”. O método de abordagem, conforme sugerem Lakatos e Marconi (2005) será o dedutivo que segundo Richardson et al. (1999) prevê que as teorias e leis predizem a ocorrência dos fenômenos particulares. Conforme Lakatos e Marconi (2005) pressupõe que o conteúdo factual da conclusão já está, mesmo que implicitamente, nas premissas teóricas. 5.2 Tipo de pesquisa A pesquisa proposta se classifica como teórico-empírica uma vez que procurará interagir com as abordagens teóricas, mas ao mesmo tempo pontuando com os dados coletados e suas análises a partir da observação da realidade. É explicativa à medida que segundo Vergara (2006, p.47) nesse tipo de pesquisa o objetivo principal é tornar o fenômeno mais inteligível justificando seus motivos, esclarecendo quais fatores contribuem para sua ocorrência. De acordo com seus objetivos ela pode ser classificada “de fundamento” à medida que ela, conforme Laville e Dionne (1999, p.85-86), objetiva contribuir para “aumentar a soma dos saberes disponíveis, mas que poderão, em algum momento, ser utilizados com a finalidade de contribuir para a solução de problemas posto pelo meio social”. 5.3 Métodos Vale a ressalva de que não se pode estabelecer de forma rígida e imutável um conjunto de metodologias aplicáveis a cada tipo de pesquisa. Existe uma pluralidade de métodos que são aplicáveis às pesquisas em dados momentos que talvez não o possam ser em outro. Pesquisa bibliográfica, incluindo o referencial teórico disponível nas mais variadas fontes como bases de dados digitais, bibliotecas, bancos de teses e dissertações, anais de congressos, participação de eventos científicos entre outros. 505 A execução dessas tarefas deverá se dar tanto presencialmente como virtualmente pela utilização do computador e da internet. Pesquisa empírica: se fará a partir da pesquisa de campo, que segundo Rudio (1980, p.89), necessita da especificação de como os dados serão coletados para a análise o que define como: “à fase do método de pesquisa, cujo objetivo é obter informações da realidade”. 5.4 População, amostra, coleta e análise dos dados População: O universo de pesquisa a ser explorado é amplo: organizações empresariais que atuam no contexto da sociedade contemporânea da informação e do conhecimento no Brasil, porém para a viabilidade operacional da pesquisa, pretende-se analisar um extrato dessa população. A sub-população, portanto, é a das empresas multinacionais relacionadas ao setor de imagem, com filiais no Brasil e participantes da maior feira de imagem da América Latina a Photo Image Brazil e contempla Kodac, Fuji Film, Canon, Xerox, Agfa, Noritsu, Roland entre outras. Essa escolha se deu primeiramente pela acessibilidade do pesquisador à alta direção dessas organizações e por elas representarem empresas que devido à sua característica de “globalizadas” são excelentes exemplos práticos de ambientes informacionais conectados à sociedade da informação e do conhecimento. Amostras: serão calculadas com base nos princípios da estatística probabilística, com fator de correção finita, nível de confiança de 95% e erro de 5%. Coleta de dados e análise: se fará por meio de questionário semiestruturado e por entrevistas. O questionário será elaborado considerando as teorias discutidas no referencial. Para a melhor qualificação será feito um pré-teste dos instrumentos antes do envio definitivo. O objetivo é o de primeiro cotejar as informações obtidas e as teorias pesquisadas e num segundo momento identificar as percepções dos pesquisados de forma desprendida e focada exclusivamente nas interferências ocasionadas no seu modo de criar conhecimento e tomar decisões. Pretende-se utilizar o meio eletrônico para a aplicação dos questionários e a visita in loco para as entrevistas. O objetivo é o de, após a aplicação da análise de conteúdo, dar maior confiabilidade às informações obtidas pela aplicação do questionário. 506 5.5 Tratamento dos dados Além da estatística descritiva, pela qual se obterá informações gerais sobre a percepção do indivíduo, se utilizará a estatística discriminante que identificará o nível de compatibilidade entre suas percepções declaradas nas respostas ao questionário e à entrevista, e as teorias discutidas no referencial. A ferramenta a ser utilizada deverá ser a análise de componentes principais que possivelmente sugerirá a metodologia da análise logística multinominal como forma de se destacar as variáveis relevantes e influenciadoras dos processos em estudo. 6 EXPECTATIVAS A partir do aprofundamento do referencial teórico necessário à fundamentação do trabalho e da execução da pesquisa empírica, espera-se a confirmação da hipótese principal. A depender da extensão e do modo de interferência nos fluxos informacionais, da forma com que se faz a oferta de informações aos indivíduos intra-organizacionalmente, do volume e qualidade disponível, haverá influência significativa no processo de criação de conhecimento e tomada de decisão. Assim sendo a percepção positiva ou negativa do sujeito pode influenciar todo o restante desses processos. Se confirmada essa hipótese o trabalho poderá propor uma modelagem da forma de influência nos fluxos informacionais no contexto organizacional o que poderá contribuir para o aumento da eficácia informacional e sua consequente influência no processo decisório dos indivíduos. REFERÊNCIAS ARGYRIS, Chris. Knowledge for action: a guide to overcoming barriers to organization change. San Francisco: Jossey-Bass, 1993. CHOO, Chun Wei. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. Eliana Rocha [trad.]. São Paulo: Senac São Paulo, 2003. DAVENPORT, Thomas H. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. Bernadette Siqueira [trad.]. São Paulo: Futura, 1998. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 507 LAVILLE, C. & DIONNE, J. A construção do saber. 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