1 A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA, TRABALHO E FORMAÇÃO HUMANA Juliana Chiarini Balbino Fernandes UNIVÁS/Mestrado em Educação Linha Temática: Educação, Formação e Tecnologias RESUMO O presente artigo discorre sobre as tecnologias aplicadas no trabalho e na educação, procurando compreender e discutir as implicações e influências exercidas por essas novas tecnologias na formação dos indivíduos, em se ajustarem ao mercado de trabalho. Partiremos do entendimento que o trabalho é caminho para a aquisição do conhecimento, e que a tecnologia é compreendida como configuração desse processo de trabalho. Os aspectos abordados irão priorizar a educação e o contexto de transformações tecnológicas na construção de um novo paradigma social alicerçado na sociedade do conhecimento, sob o olhar de Gitahy; Brisolla (1997), Lobo Melo (2009) e Maron; Neto (2011). Ao final apontaremos que a escola e o fazer pedagógico, juntamente com as tecnologias poderão auxiliar nesse processo de formação humana. Palavras-chave: Tecnologia; Educação; Sociedade. ABSTRACT This article discusses the technologies applied in the workplace and in education, seeking to understand and discuss the implications and influences exerted by these new technologies in the training of individuals, fit in the job market. Depart from the understanding that work is the way to acquire the knowledge and the technology is understood as setting this working process. The aspects will prioritize education and the context of technological change in the construction of a new social paradigm rooted in the knowledge society, under the gaze of Gitahy; Brisolla (1997), Melo Lobo (2009) and Maron; Neto (2011). At the end will point out that the school and the pedagogical practice, along with technologies may assist in this process of human development. Key-words: Technology; Education; Society INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea apresenta avanços na forma como o homem modifica a natureza, um desses avanços é o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no mundo. As pessoas se deparam com essas mudanças nas suas vidas ao utilizar esses recursos tecnológicos para auxiliarem as suas atividades rotineiras. Essas modificações não seriam possíveis sem a junção das descobertas científicas com as transformações no processo de trabalho, de tal forma que essas mudanças podem ser concretizadas com as TIC nos processos sociais (LAPA; BELLONI, 2012). Os países latino-americanos, nesses últimos vinte anos, apresentam um conjunto de grandes transformações relacionadas ao processo de reestruturação na área de produção em nível internacional, que pode ser assinalada pela ampliação das inovações tecnológicas nas diversas esferas produtivas. Portanto, compreender a dinâmica desses processos de transformações não é uma tarefa fácil, porém, é fundamental “para a formulação de estratégias de desenvolvimento econômico e social mais adequada, ou seja, mais solidárias, equitativas e compatíveis com o meio ambiente” (GITAHY, L; BRISOLLA, S, 1997, p.1). 2 Assim sendo, a discussão entre a relação: tecnologia, trabalho e educação, adquire uma admirável relevância. A formação humana, o trabalho e a tecnologia estão diretamente relacionados, de tal forma a ser explicada pelas relações econômicas, políticas e sociais que são estabelecidas sob a égide do capitalismo, quando pensado no sentido estrito de qualificação para emprego e perde-se o potencial humanizante. Nesse contexto, a concepção de trabalho pode ser considerada como a “fonte de apropriação de conhecimentos e saberes, chegando a uma categoria fundamental da articulação da educação: a busca de uma formação que considera a inserção no mundo do trabalho” (MARON; NETO, 2011, p. 1). O conceito de tecnologia se modificou no decorrer da história, constituindo-se de formas diferentes em cada período histórico, porém, essas modificações vivenciadas por meio da história podem ser retomadas, nos tempos de hoje, no formato de novas perspectivas devido aos novos desafios atribuídos ao homem moderno e as transformações tecnológicas que ele está sujeito. A utilização e fabricação de instrumentos foi o marco histórico para o surgimento da tecnologia, onde pela primeira vez observou-se a necessidade de satisfazer o homem; a necessidade determinava o instrumento que, por sua vez, conduz à satisfação (BASTOS, 1997, p.4); e os instrumentos criavam novas necessidades. Assim, abordava a história do homem relacionada com a natureza e a fabricação de instrumentos que pudessem ultrapassar os empecilhos determinados pelas forças naturais. Dessa forma, a história das máquinas surgiu por trás de um caminho repleto de contradições, pois a sociedade se desenvolveu ao redor das máquinas e, ao redor delas, foram estabelecidas as relações de trabalho e as condutas dos trabalhadores. Nesse sentido, as máquinas foram escolhidas pela sociedade e, se transformaram em ferramentas de inovação e adaptaram-se aos interesses e necessidades dos indivíduos, que de certo modo, limitam-se ao exercício de seus trabalhos (BASTOS, 1997). O processo de trabalho pode ser compreendido como a relação entre a humanidade e natureza, onde a humanidade será apenas uma abstração; e a humanidade apenas existirá como conjunto das relações sociais que os homens estabelecem na reprodução de suas vidas. E, o processo de trabalho, sob o enfoque do caráter social, gera novas potencialidades humanas relacionadas com a transformação da natureza, compondo dessa forma, as forças produtivas capitalistas. De acordo com Maron; Neto (2011), o trabalho é um princípio educativo, pois, inclui a ciência, a cultura, a tecnologia e a sociedade, e por meio desse processo possibilita uma formação baseada em conhecimentos acumulados pela humanidade, por meio de uma “organização curricular que promova a apropriação dos saberes de caráter mais amplo e genérico (científicos e culturais) voltados para o desenvolvimento humano e contribui para a formação do trabalhador” (p. 3). O trabalho, segundo Saviani (2003) é uma prática social de produção da existência e uma forma específica da criação do ser social. Ele permeia todo o processo de formação humana e constitui a especificidade humana. Nessa perspectiva, trabalho não se reduz à atividade exclusivamente laborativa ou emprego, mas define e caracteriza a existência humana, visto que o ser humano se constitui como tal, quando passa a trabalhar para produzir sua existência. Na visão de Hannah Arendt, filósofa Alemã, o trabalho: Requer, para obter melhores resultados, uma execução ritmicamente ordenada e, na medida em que muitos operários se aglomeram, exige uma coordenação rítmica de todos os movimentos individuais. Nesse movimento, as ferramentas perdem seu caráter instrumental, e a clara distinção entre o homem e seus utensílios são toldados. O que preside o processo de trabalho 3 e todos os processos da obra executados à maneira do trabalho não é o esforço propositado do homem e nem o produto que ele possa desejar, mas o próprio movimento do processo e o ritmo que este impõem aos trabalhadores (ARENDT, 2014, p.181-182). Desta forma, o estabelecimento da relação entre trabalho, tecnologia e educação passa primeiramente pela análise semântica dos conceitos e significados que cada um destes fatores desenvolveu ao longo da história e nas contribuições das diversas culturas, tendo como sua maior relevância o papel do homem nas pesquisas, definições e aplicações em sua realidade. Segundo Antunes (2003) o ato de produção e reprodução da vida humana realiza-se pelo trabalho. “É a partir do trabalho, em sua cotidianidade, que o homem torna-se ser social, distinguindo-se de todas as formas não humanas” (p. 123). 1. TRABALHO, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA Na relação entre o trabalho e o conhecimento é importante observar que no passado havia a divisão entre aquele que estudava e aquele que trabalhava. A partir do século XVIII, iniciou-se a valorização do conhecimento como pré-condição para um trabalhador mais completo. Essa mudança fez com que a tecnologia, no sentido de evolução dos recursos para beneficiar a adaptação da natureza ao homem, tivesse um grande avanço ao longo do final do século XX e início do século XXI, trazendo ganhos de recursos e equipamentos para melhoria da produtividade do trabalho, assim como, para novas formas de aquisição de conhecimento (LOBO MELO, 2009). Dessa forma, segundo Lobo Melo (2009), aqueles que tinham o maior conhecimento passavam a ser mais valorizados e reconhecidos na sociedade, fazendo com que a classe menos favorecida, em termos de acesso ao conhecimento, seja subjugada e aprisionada a padrões de atividades básicas, onde a complexidade e o treinamento mostram-se mais como fatores de adestramento do que de evolução emancipadora. Num mundo de constantes mutações evidencia-se a reorganização e reestruturação do capital, integrando os aspectos políticos e econômicos. Para Ciavatta (2000), o indivíduo produtor que não integra em si as dimensões políticas e culturais da cidadania, torna-se um indivíduo - cidadão, "aquém das expectativas geradas em torno de sua capacidade de atender às exigências das novas competências e habilidades que lhe estão destinadas na produção" (p.86). Essa característica invadiu o cotidiano da vida social, notadamente na educação, que absorveu todo o modo de produção da lógica capitalista, na medida em que, transfere determinadas formas de educação como meio de ingresso no mercado de trabalho, e como elemento de desenvolvimento e progresso econômico. Isso remete a um processo educativo, delineado pela sociedade, que encontra sua legitimação na ampliação da esfera da racionalidade instrumental, isto é, como técnica dominadora que estabelece condições para o aprimoramento da vida ao acoplar à atividade de conhecer, o domínio da realidade (MARON; NETO, 2011). Antunes (2003) observa que no modo de produção capitalista, o trabalho assume a dimensão alienada e inclusive de exclusão social, seja pelo desemprego ou subemprego. E, segundo Kuenzer (2011) existe ainda: Outra dimensão do trabalho capitalista que precisa ser considerada: em que pesem os fatores de alienação, é preciso considerar que a unidade rompida entre decisão e ação precisa ser recomposta no processo de trabalho, sem que se altere a condição que a gerou: a propriedade privada dos meios de 4 produção. Esta necessidade, além de colocar para o capitalista a necessidade de rigoroso controle, aponta para o fato de que a geração do excedente depende, também, da capacidade multilateral dos seres humanos, do caráter inteligente e proposital que reveste sua ação de infinita adaptabilidade. Ou seja, a realização do trabalho capitalista depende da anuência do trabalhador, o que o torna artífice da própria exploração (p.677). Considera-se, portanto, que a falta de conhecimento aumenta as desigualdades e provoca transtornos na sociedade, que tem uma minoria pensante e crítica em contraposição a uma maioria que apenas segue os rumos que lhe são impostos sem que possam encontrar novas maneiras de contribuir que não as operacionais. Neste contexto, sabemos que a escola tem o poder de fomentar a emancipação humana e desenvolver alternativas que se confrontam à simples adaptação à sociedade instituída (MARON; NETO, 2011). Ao analisar a sociedade pós-moderna, Harvey (1999), ressalta que as principais alterações no processo de produção, advindas com os avanços tecnológicos, no qual o trabalhador recebe formação no trabalho faz dele corresponsável pelo processo produtivo, executando múltiplas operações. Lobo Neto (2009) esclarece a impossibilidade de se desenvolver forças econômicas ou de produção, "sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa que são fatores fundamentais ao crescimento de riqueza de uma sociedade". (p. 85) O trabalho é uma fonte de apropriação dos saberes e da tecnologia, transformando-se em instrumento de legitimação da sociedade capitalista (MARON; NETO, 2011), da mesma forma, as dificuldades advindas da falta de conhecimento e capacitação dos trabalhadores para acompanhar as necessidades de produtividade e inovação são sentidas nas empresas. Para compreender a relação entre a tecnologia e as relações produtivas: É preciso retomar o aspecto fundamental dessa relação: a separação entre o trabalhador e as condições de trabalho. Essa separação caracteriza a relação entre capital e trabalho como uma relação de apropriação, conforme visto anteriormente. Mas, enquanto o trabalhador detém o saber fazer do processo de trabalho, enquanto o processo de trabalho depende das decisões, julgamentos e ações efetuadas pelo trabalhador na oficina, a posse do trabalho - isto é, o controle e a capacidade de organizar o processo de trabalho - ainda não pertence ao capital (AUGUSTO, 2009, p.315). Da mesma forma, Marcuse (1996) compreende que a “tecnologia é o instrumento e o modo de produção, bem como a forma de organizar e perpetuar as relações sociais, a manifestação do pensamento, o padrão de comportamento, um instrumento de controle e dominação” (p. 73). Assim, a formação do trabalho com o olhar voltado para a tecnologia deve aproximar-se da construção social do indivíduo, de tal forma que: Mesmo com todos os limites impostos pela sua condição burguesa, os processos educativos são os responsáveis pela elevação da prática ao nível do pensamento, ou, dito de outro modo, são os processos educativos que fazem a mediação entre a teoria e a prática (KUENZER, 2008, p. 14). Dessa forma, o trabalho e as tecnologias se tornaram indiferentes ao trabalhador, perdendo “a ligação original com o trabalho e com o trabalhador e tornando-se, pelo racionalismo técnico, não mais instrumentos de humanização, mas sim de coisificação do ser humano” (MARON; NETO, 2011, p. 6). Nesse sentido, a sociedade acostumou a associar o avanço da tecnologia com as mudanças e melhorias do modo de vida das pessoas. Assim, a presença das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) surge para reconfigurar o 5 movimento do trabalho e formação do docente, de tal forma a ser compreendida como um conjunto de práticas de linguagem desenvolvidas nas situações concretas do ensino, visando alcançar um nível de explicação para essas situações (BARRETO, 2004). 2. EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão unindo o mundo em redes de comunicações, permitindo a consolidação de um mundo cada vez mais globalizado, inserindo tudo e todos em uma comunidade em rede. Assim, há fatores culturais, sociais e econômicos “que faz com que as tecnologias prosperem e se instalem com a força de um império que a todos influencia, independentemente de lugares, raças e nacionalidades” (ROSA; CECÍLIO, 2011, p.108). A tecnologia para Garcia et al (2001, p.81)“é uma forma de conhecimento, uma produção criada pelo homem ao longo da história, um conjunto de saberes que se referem à concepção e desenvolvimento de instrumentos criados pelo homem para satisfazer suas necessidades”. A educação e a tecnologia segundo Bastos (1997) “não são termos teóricos e abstratos, mas dimensões com conteúdos de práticas vivenciadas através da história e retomadas hoje em novas perspectivas face aos desafios impostos pelos padrões do homem moderno e pelas transformações tecnológicas que o envolvem” (p.1). E ainda, essa relação entre a educação e a tecnologia despertará “para a consciência da existência, das coisas e dos caminhos a serem percorridos, o que significa a capacidade de estabelecer distâncias perante as técnicas para torná-las presentes como comportamento do ser humano perante o mundo” (p.2) . O cenário atual do trabalho requer que as pessoas possam relacionar a criatividade com a reflexão e a solidariedade, de tal forma a estabelecer uma determinada competência para traçar novos tempos, novos caminhos, novas práticas e novos pensamentos críticos. Dessa forma, a educação está relacionada com o “domínio de conteúdo, aquisição de habilidades e busca de estratégias que viabilizem a aprendizagem em cada situação de ensino. Estes são fatores fundamentais no processo de ensino e aprendizagem” (ROSA; CECÍLIO, 2011, p.110). Portanto, o processo tecnológico: Engloba uma série de transformações em setores variados do viver humano, que vão do econômico ao político, do social ao simbólico, do cultural ao psíquico, que acarretam muitas mudanças para a sociedade e afetam diretamente a educação. Isso nos faz assistir a um movimento de rápidas alterações no cenário educacional, de amplitudes ainda desconhecidas, que necessita ser analisado e discutido. Requer, ainda, uma reflexão que englobe o repensar dos próprios conceitos de educação e tecnologia, de forma integrada, no sentido da criação de propostas pedagógicas que incorporem ao processo educativo as potencialidades trazidas pelas TICs, de modo a reafirmar o seu lugar na construção do conhecimento, na democratização do saber e, consequentemente, no desenvolvimento da cidadania (ROSA; CECÍLIO, 2011, p.109). Nesse sentido, Masetto (2006) aponta que as tecnologias devem ser empregadas para “valorizar a aprendizagem, incentivar a formação permanente, a pesquisa de informação básica e novas informações, o debate, a discussão, o diálogo, o registro de documentos, a elaboração de trabalhos, a construção da reflexão pessoal, a construção de artigos e textos” (p. 153). Entretanto, Lobo Neto (2009) acredita que há um desgaste no discurso sobre a tecnologia e vem se enfraquecendo na sociedade pela ausência de teoria na prática, isto é, pela ausência de sentido dessa prática, de reflexão crítica que toda prática deve conter. 6 Por outro lado, pode-se aceitar a possibilidade de que no campo educacional estruture e alimente transformações da mesma sociedade. As dimensões sociais estão relacionadas com os avanços da humanidade, de tal forma a abranger o desenvolvimento tecnológico. Para que essa inclusão ocorra na sociedade é necessário que os currículos escolares aceitem a formação tecnológica, onde o conhecimento tecnológico possa se desenvolver a parte das áreas humanistas (CARVALHO 1998). Dessa forma, Rosa; Cecílio (2011) acreditam que: A incorporação das TICs na educação é um recurso que pode contribuir para uma maior vinculação entre ensino e as culturas existentes fora do âmbito escolar, e uma forma de transformar as relações sociais e diminuir suas diferenças. Mas também é preciso evitar a fascinação pelas tecnologias, pois estas podem promover a utilização inadequada devido às facilidades técnicas de uso, em detrimento dos potenciais educativos (p.112). Uma educação tecnológica crítica e consciente da realidade histórica e social na qual os sujeitos estão inseridos poderão contribuir na formação de trabalhadores que saibam lutar por seus interesses, estando conscientes de sua situação na sociedade. Para isso, é de fundamental importância perceber que a tecnologia não se desenvolve de maneira isolada, mas sim na interação com todas as demais áreas do conhecimento e dimensões da vida dos sujeitos nas suas relações sociais e produtivas. (MARON; NETO, 2011). Dessa forma, a escola é fundamental para a formação tecnológica, pois ela é responsável por transmitir e gerar novos conhecimentos. No ambiente escolar há a possibilidade de “construir a emancipação humana do ser social, e de ser um espaço de crítica e resistência à adaptação passiva, à coisificação do homem, de seu modo de pensar e de sua identidade, entendendo a realidade de maneira ao mesmo tempo ampla e concreta” (MARON; NETO, 2011, p. 9). A escola é um local privilegiado onde ocorre a liberdade para o exercício das manifestações da vida do indivíduo, e onde a identidade do outro deve ser respeitada; na escola “isso inclui o respeito às manifestações da diversidade cultural presentes nas relações interpessoais e a compreensão da importância das marcas culturais que todo ser humano carrega desde o nascimento” (MARON; NETO, 2011, p. 9). Dessa maneira, o homem constitui sua humanidade de forma concreta no tempo e no espaço e não de forma abstrata. (GITAHY; BRISOLLA, 1997). Observa-se que a ausência de cultura e valores dissociados dos ganhos que os equipamentos tecnológicos, assim como outros bens, trazem à socialização do indivíduo. A retomada dos valores relativos ao ser humano enquanto agente da relação trabalho, educação e tecnologia, deve ter como base fundamental a escola, de onde importa os conceitos não só sobre a teoria das coisas, mas principalmente, sobre a forma como se busca e aplica os conhecimentos em prol da valorização das relações sociais e consequente evolução da humanidade. É através de uma adequada formação de professores, dando-lhes não só os conceitos teóricos e históricos das disciplinas a serem ensinadas, mas do entendimento e uso adequado das tecnologias em favor da disseminação e atratividade do conhecimento, que se conseguirá transformar “a educação profissional como formação humana e como práxis transformadora das relações trabalho-tecnologia-profissão-educação na especificidade concreta de cada situação e no conjunto das situações” (LOBO NETO, 2009, p. 99). Lobo Neto (2009) acredita que não é possível tratar a ciência, a tecnologia e a educação como variáveis independentes, separadas das práticas sociais. Assim, se faz necessário compreender como e por que a sociedade se reproduz e quais os mecanismos eficazes sobre os quais se assentam o seu funcionamento, pode ser a chave necessária para sua real possibilidade de mudança. Assim, se o trabalho em sua dimensão epistêmica se apresenta 7 como capacidade reflexiva pode-se compreender como ele "é", como sentido de vida e não, exclusivamente, como "queremos", trabalho é uma categoria vital da produção. Educação e formação são esferas sem as quais não se permite a produção. “A educação em todos os níveis precisa transformar-se em atos de compromisso e libertação pelo conhecimento, superando a mera habilitação profissional.” (ROCHA NETO, 2006, p. 79-80). O grande desafio, talvez seja utilizar a proposta da UNESCO (2010), baseando a educação em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, fazendo com que desta forma a relação ensino-aprendizagem seja mais prazerosa, dotada de maior significação para todos e fortalecedora de uma sociedade mais justa e coesa. CONSIDERAÇÕES FINAIS A escola é um espaço privilegiado de liberdade para o exercício das múltiplas manifestações da vida do indivíduo. Dentro de um ambiente onde a identidade do outro precisa ser respeitada, a escola inclui o respeito às manifestações da diversidade cultural presentes nas relações pessoais e a compreensão da importância das marcas culturais que todo ser humano carrega. Dessa forma, a escola atua na formação da classe trabalhadora, e potencializa o desenvolvimento integral do trabalhador. Uma educação emancipadora necessita articular a teoria e a prática produzidas pela sociedade. A formação para o trabalho deve ser a categoria, na qual se organiza os demais conhecimentos mobilizados na formação. Nesse sentido, a escola, por ser responsável pela transmissão do conhecimento e geradora de novos conhecimentos, tem importância fundamental nesse processo. Está na escola a possibilidade da construção da emancipação e da humanização do ser social, e de ser um espaço de crítica e resistência à adaptação passiva, à coisificação do homem, de seu modo de pensar e de sua identidade, entendendo a realidade de maneira ao mesmo tempo ampla e concreta. O indivíduo produtor, que não integra em si as dimensões políticas e culturais da cidadania, torna-se um indivíduo cidadão, aquém das expectativas geradas em torno de sua capacidade de atender às exigências das novas competências e habilidades que lhe estão destinadas na produção. Assim, a tecnologia e a ciência, podem ganhar sentido quando um determinado desenvolvimento social for responsável pelo crescimento e preocupação quanto às consequências da ciência e da tecnologia para a sobrevivência da humanidade; por outro lado, é possível manter a totalidade das práticas sociais, inclusive as da ciência e da tecnologia, sob controle social. Uma educação tecnológica crítica e consciente da realidade histórica e social, na qual os sujeitos estão inseridos poderá contribuir na formação de trabalhadores que saibam lutar por seus interesses, estando conscientes de sua situação na sociedade. Para isso, é de fundamental importância perceber que a tecnologia não se desenvolve de maneira isolada, mas sim integrada com as demais áreas do conhecimento e dimensões da vida dos sujeitos nas suas relações sociais e produtivas. REFERÊNCIAS ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2003. ARENDT, H. A Condição Humana. Tradução de Roberto Raposo; revisão técnica: Adriano Correia. 11ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014. 8 AUGUSTO, A. G. A Dessubjetivação do Trabalho: o homem como objeto da tecnologia. In: Economia Contemporânea, v. 13, nº. 2. Rio de Janeiro: maio/ago, 2009. BARRETO, R. G. Tecnologia e educação: trabalho e formação docente. 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