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X Salão de
Iniciação Científica
PUCRS
As línguas na educação de surdos:
a escola como construtora de identidade
Juliana de Oliveira Pokorski1 , Lodenir Becker Karnopp2 (orientador)
Faculdade de Educação – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Resumo
Este trabalho é um recorte de uma pesquisa intitulada “A educação de Surdos na
Região Metropolitana de Porto Alegre” vinculada a uma proposta de investigação promovida
pelo Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Educação de Surdos (GIPES), cujo objetivo é
verificar quantitativa e qualitativamente “A educação de Surdos no Rio Grande do Sul”, desde
a Educação Infantil ao Ensino Médio.
A pesquisa está organizada em duas fases: a primeira, de cunho quantitativo, prevê um
levantamento do número de alunos surdos matriculados em escolas e a segunda, de cunho
qualitativo, focaliza as condições lingüísticas e de escolarização desses alunos, sendo nesta
última etapa que se debruça o presente estudo.
Introdução
Este trabalho enfoca questões relativas às línguas presentes na educação do surdo, a
partir de sete perguntas disponíveis no questionário aplicado aos alunos surdos durante a
segunda etapa da pesquisa. Escolheu-se este foco partindo do pressuposto de que a língua de
sinais é fundamental a vida social e educativa do surdo, sendo base de suas relações e
conseqüentemente parte formadora de sua identidade e cultura.
Metodologia
1
Aluna do curso de pedagogia, bolsista de iniciação científica BIC/UFRGS
2
Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Departamento de Estudos
Especializados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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A pesquisa está organizada em duas fases: a primeira, de cunho quantitativo, realizada
durante o segundo semestre de 2008, verificou, juntamente às secretarias de educação
municipais e estadual (e, em alguns casos, diretamente com as escolas), o número de alunos
matriculados em cada âmbito (municipal, federal, estadual e particular), em cada modalidade
(inclusão, classe especial e escola de surdos) e em cada nível (educação infantil, ensino
fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos), bem como o número de
professores e intérpretes presentes em cada escola. Nesta primeira etapa foram preenchidos
formulários e organizados gráficos e, na segunda fase, ainda em andamento, são aplicados três
tipos de questionários: para gestores, professores e alunos, no intuito de aprofundar análises
dos dados numéricos, abrindo espaço para análises mais específicas sobre diversas questões
acerca da educação do surdo, relacionada não apenas ao âmbito escolar, mas também em
relação a sua família e demais relações sociais.
Resultados
É interessante ressaltar que os resultados aqui presentes se baseiam em dados parciais da
pesquisa, referentes a cinco escolas: três escolas de surdos, uma escola comum com classes
especiais e outra com alunos surdos incluídos.
Já na primeira questão separada para análise (“18- Mais algum membro de sua família é
surdo?”) pode-se perceber que quase 80%3 dos alunos entrevistados são surdos com
familiares ouvintes. Esse dado que torna-se ainda mais interessante quando cruzado com o
resultado da questão que buscava saber o lugar onde o aluno surdo viu outra pessoa
sinalizando pela primeira vez (questão 22), onde o percentual de alunos que teve o primeiro
contato com a Libras na escola é próximo (75%) ao obtido na questão anterior, tornando
assim possível perceber que a maioria dos alunos não tem acesso à língua de sinais na família,
configurando a escola como o lugar por excelência onde os alunos têm acesso à língua de
sinais.
A partir destes dados é interessante perceber que a escola também amplia a comunicação do
surdo com sua família, uma vez que também a coloca em contato com a Libras através do
aluno surdo, o que pôde ser verificado nas respostas relativas a questão vinte onde é possível
observar que mais da metade dos alunos entrevistados se comunica com seus familiares
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Os percentuais presentes neste trabalho são calculados a partir de um total de 244 questionários.
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ouvintes através da Libras (25%) ou utilizando formas mistas ou bimodais (38%). Há ainda
uma percentagem de alunos que afirma ter uma comunicação apenas oral com a família
(14%), ou possuir alguns sinais caseiros4 com ela (21%).
Por fim, embora tendo um contato muitas vezes tardio com a língua de sinais, e que a mesma
não seja a língua principal no ambiente familiar, na questão 24 (Você se considera: a) um
bom sinalizador com muitos sinais; b) um bom sinalizador com poucos sinais; c) não é um
bom sinalizador) 75% dos entrevistados afirmou que se considera um “bom sinalizador com
muitos sinais”, o que corrobora com a conclusão de que o acesso a uma língua de modalidade
gestual-visual é por excelência a forma de manifestação da língua de sinais por pessoas
surdas.
Conclusão
Através desta analise é possível concluir que o papel da escola na educação dos surdos vai
muito além da transmissão de conteúdos e das questões ligadas estritamente à escolarização.
Diferente da escola para ouvintes, a escola para o surdos é um ambiente privilegiado para o
desenvolvimento de sua língua, fato que implica em mudanças na vida deste aluno até mesmo
no que se refere a sua relação entre amigos e familiares. Historicamente a escola de surdos se
mostrou como um espaço onde a cultura e identidade surda se fortalecem e isso torna
preocupante a questão das escolas inclusivas ou das escolas que não proporcionam um
ambiente linguisticamente adequado ao surdo, já que dados desta pesquisa tem nos mostrado
que fora da escola são poucos os espaços que propiciam ao surdo um ambiente onde ele possa
ter contato com a língua de sinais de forma a ter uma comunicação eficiente em todas esferas
de sua vida (família, escola, trabalho e demais grupos sociais).
Referências
KARNOPP, Lodenir; KLEIN, Madalena. Narrativas de professoras sobre a(s) língua(s) na educação
de surdos. Educação & Realidade v. 32, n. 2. Porto Alegre: UFRGS, jul-dez 2007, p. 63-78.
ROSA, Fabiano; GOES, Alexandre M.; KARNOPP, Lodenir B. Estudos surdos: uma abordagem
lingüística. Revista de Iniciação Científica da ULBRA nº 3. Canoas: Ed. da ULBRA, 2004, p. 259269.
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Sinais específicos criados pela família com o objetivo de estabelecer uma comunicação com
a criança surda. Em geral, os sinais caseiros são muito mais para uso familiar, não sendo de uso
compartilhado por uma comunidade maior.
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