Revista Interdiscip linar Digitally signed by Revista Interdisciplinar DN: cn=Revista Interdisciplinar, o=UNIVAR, ou=COPEX, [email protected], c=BR Date: 2010.06.23 15:56:58 -03'00' RELAÇÕES DE GÊNERO NOS ASSENTAMENTOS DO MST EM GOIÁS Joana dos Santos Rosa 1 RESUMO: o objetivo deste artigo é analisar as relações de gênero presentes na primeira, segunda e terceira geração de mulheres de assentamentos. Baseia-se em dados da pesquisa O papel educativo das mulheres nos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) 2 , do Núcleo de Pesquisa em Estudo e Pesquisa em Estados, Sociedade e Cidadania (Nupesc), do Departamento de Serviço Social da Universidade Católica de Goiás (UCG). Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco mulheres, representantes de assentados que lutaram pela conquista da terra e ocuparam a Fazenda Rio Vermelho, localizada no município da cidade de Goiás. Nessas terras constituíram-se os assentamentos Rancho Grande, Acaba Vida e São Felipe II. Retiro, e Retiro Velho localiza-se no município de Itapirapuã, também no estado de Goiás. Este artigo aborda a questão do gênero nos assentamentos Rancho Grande, instituído em 1986, e Retiro, Retiro e Velho, em 1988. Palavras-chave: gênero, primeira geração, segunda geração, terceira geração, movimentos sociais, políticas públicas. ABSTRACT: The purpose of this article is to examine the relationship of gender in the first, second and third generation of women of settlements. It is based on data from research the educational role of women in the settlements of the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), the Center for Research in Study and Research in States, Society and Citizenship (Nupesc) of the Department of Serviço Social, Pontificia Universidade Católica de Goiás (PUC). Were held semi-structured interviews with twenty women, representatives of settlers who fought for conquest of land and occupied the Fazenda Rio Vermelho, located in the municipality of the city of Goiás these lands were to the settlements Rancho Grande, Acaba Vida and São Felipe II. Retreat and Retreat located in the Old City of Itapirapuã, also in the state of Goiás this article addresses the issue of gender in the settlements Rancho Grande, established in 1986, and Retiro, Retiro and Velho, in 1988. Keywords: gender, first generation, second generation, third generation, social movements, public policies. Introdução: Pretende-se com este artigo analisar as relações de gênero presentes na primeira, segunda e terceira geração de mulheres de assentamentos. Baseia-se nos resultados da pesquisa O papel educativo das mulheres nos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST), do Núcleo de Pesquisa em Estudo e Pesquisa em Estados, Sociedade e Cidadania (Nupesc),do Departamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC). Foram realizadas, por cinco pesquisadoras do Nupesc, entrevistas semi-estruturadas com cinco mulheres representantes de gerações de assentados que lutaram pela conquista da terra e ocuparam a Fazenda Rio Vermelho, localizada no município da 1 Graduada em Serviço Social, Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC). Professora no departamento de Serviço Social das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. Pesquisadora vinculada ao NUPESC ([email protected]). 2 A pesquisa foi coordenada pelas professoras doutoras Maria José Pereira Rocha e Regina Sueli de Sousa, do Nupesc. 2 cidade de Goiás. Nessas terras constituíram-se os assentamentos Rancho Grande, Acaba Vida e São Felipe II. Retiro, Retiro Velho no município de Itapirapuã, também no Estado de Goiás. Este estudo aborda a questão do gênero nos assentamentos Rancho Grande, instituído em 1986, e Retiro, Retiro e Velho, em 1988. Visando respeitar a identidade das entrevistadas, elas são identificadas por codinomes de flores de árvores do cerrado. De acordo com Minayo (1996), há várias modalidades de entrevistas semiestruradas, que vão desde a descrição do caso individual até a compreensão das distintas culturas de grupos e da comparação de casos diversos. As relações de gênero Para apreender as relações de gênero presentes no cotidiano dessas mulheres, faz-se necessário lembrar que o conceito de gênero existe há muito tempo. Segundo Saffioti 3 (2007), ele adquiriu maior expressividade após a publicação, em 1949, do livro de Simone de Beauvoir O segundo sexo, no qual ela cunhou a frase “Ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher”. Para Saffioti (2007) nas décadas que se sucederam a esta publicação, feministas de todo o mundo começaram a escrever utilizando o conceito de gênero. No Brasil, o uso desse conceito expandiu-se a partir da década de 1990. No entanto, o conceito de gênero, para a autora, não pode ser usado como sinônimo de mulher, pois o gênero existe independentemente de qualquer qualificação. Há uma hierarquização do gênero, no caso, o domínio do masculino sobre o feminino, trata-se de patriarcado, uma relação que está presente na sociedade como um processo de dominação e exploração, e que aparece também como forma de hierarquização na divisão sexual do trabalho. Para Alves (1991, p. 64 - 65), o trabalho profissional da mulher concentra-se, majoritariamente, no setor de prestação de serviços. Quer seja como empregada doméstica, onde ela substitui outra mulher nas tarefas que seriam específicas ao seu sexo, quer seja nos serviços de escritórios, no magistério, na enfermagem, ela cuida serve, atende, ensina. Para Grossi (2000), o conceito de gênero pode ser apreendido pela construção da identidade primária e do aprendizado de papéis sexuais. O campo de estudos é chamado 3 Palestra Proferida pela Profa., Esp. Heleieth Iara Bongiovani Saffioti, ocorrida no dia 28 de Agosto de 2007 no auditório da Área IV na Universidade Católica de Goiás. Goiânia, 2007.A palestra foi gravada, e posteriormente, transcrita integralmente. 3 de gênero ou relações de gênero, a partir dos anos de 1970/1980, é a abordada a problemática da condição feminina. Conforme Amora (1978, p.171), em lógica, chama-se gênero a uma classe que tem maior extensão e menor compreensão que a outra, [...]. O gênero usa-se, na lógica clássica, para a definição combinando-o com a diferença específica em tal caso, o gênero comumente usado é o chamado gênero próximo. (grifos da autora). Implica dizer que ao falar das relações de gênero estabelecidas no Brasil, revelam-se as diferenças específicas entre homens e mulheres como seres que compartilham a mesma classe, dividindo-se em subclasses distintas. Dessa forma, Blackburn, (1997, p.167), explica gênero como “uma classe de coisas que compartilham a mesma propriedade, mas que se dividem em subclasses ou espécies diferentes [...], gênero é a espécie diferenciadora a que uma coisa pertence”. Nesse sentido, reporta-se a Rezende (1987) que, em sua análise, assinala ser conflituoso o relacionamento entre o homem e a mulher, pois o ser humano não se constitui como um ser apenas biológico, pois ele necessita do convívio em sociedade. E nas palavras da autora (1997, p.14) a relação entre individuo e sociedade não é tranqüila e linear, ao contrário, traz em si um componente considerável de tensão, conflito e mesmo antagonismo que configura entre o que é subjetivo e o que é objetivo, entre a vida individual e a vida coletiva do homem, uma intima inter-relação e, ao mesmo tempo, um espaço de embate. Para a autora, é nesse conflito que o indivíduo vai se constituindo como ser. O processo é dialético, pois nele estão presentes o embate de idéias e as correlações de forças que expressam a complexidade dessas relações que, no sistema capitalista liberal, demonstram a influência da livre concorrência e do indivíduo como ser autônomo. Assim, relações sociais nesse sistema exemplificam a obtenção da mais valia, a disputa entre os sexos masculino e feminino, no qual as mulheres buscam o seu reconhecimento no trabalho e em suas ações, enquanto que os homens, que historicamente se constituíram como senhores da hegemonia, divergem delas e/ou questionam os direitos da mulher. Scott (1995) considera que o conceito de gênero ocorre por ser “um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos, sendo que, gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder”. 4 Para Grossi (2000) as relações de gênero no Brasil passaram a serem problematizadas na sociedade a partir das décadas de 1970 e 1980, demonstrando a não mixidade entre homens e mulheres. Neste sentido, segundo a autora, o movimento de gênero emergiu para demonstrar a opressão sofrida por mulheres nas sociedades patriarcais, as lutas por liberdade foram desencadeadas, sobretudo a partir de 1960 com “as revoltas estudantis, o movimento hippie, e o fim da Ditadura Militar” (Grossi, 2000, p.35). Nesse período, houve o questionamento da sexualidade com a única função da procriação e a resposta da comunidade científica com o advento do uso do anticoncepcional, inaugurando o sexo pelo prazer. As lutas por liberdade e igualdade de direitos entre homens e mulheres ocorreram em virtude de as mulheres não mais estarem dispostas às práticas sexistas a que foram submetidos ao longo dos anos. Contudo, para Grossi (2000), mesmo as mulheres lutando em pé de igualdade com os homens durante a luta política, acabaram assumindo papéis de retaguarda, ou seja, ocupando cargos considerados pela sociedade como subalternos, de secretária, recepcionista, dentre outros. De acordo com Jonas e Munévar (2000, p. 103 -106), as mulheres têm vivido transformações, mas sua posição no mundo continua igual porque os homens não mudaram [...]. A entrada massiva das mulheres nas distintas profissões deveria ter produzido importantes mudanças, [...], indicam um aumento de sua presença nas chamadas ciências exatas, [...]. Entretanto, a (dês) igualdade de oportunidade continua sendo determinada pelas condições materiais de existência. Para Grossi (2000, p.38), “é neste projeto que se separam público e privado, e a elas são associados papéis de gênero, contra os quais o feminismo tem lutado desde as sufragistas”. Para a autora, esses papéis não são biologicamente determinados, pois mudam de uma cultura para outra, e ocorrem no momento em que se rotula o bebê como menina ou menino. Jonas e Munévar (2000) consideram que, apesar da herança cultural patriarcal, as mulheres vão conseguindo conquistar paulatinamente espaços na vida social mediante através de questionamentos acerca de sua dedicação exclusiva na esfera à família, além de assegurarem espaços de cidadania. As questões de gênero e/ou patriarcado, para Grossi (2000), referem-se às convivências estabelecidas entre homens e mulheres, persistindo ainda uma diferença no que diz respeito ao trabalho, pois os salários de ambos são desiguais, mesmo quando as mulheres desempenham papéis, funções e cargos iguais. Além desse problema, encontra-se a dupla jornada de trabalho feminino, pois, na cultura ocidental, persiste a ideologia segundo a qual o trabalho da mulher é só uma ajuda para as despesas 5 domésticas. Contudo, conforme dados do Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE, 2000) 27,4% das mulheres é arrimo de família. A autora analisa que as diferenças entre os gêneros configuram – se no cotidiano pois as relações entre homens e mulheres são desiguais, e socialmente constituídas com base nas diferenças biológicas entre os sexos. Para Canoas (1997), o sexo é biológico, distinguindo-se o macho e a fêmea na espécie humana. A diferença entre os sexos também classifica as pessoas. E a categoria gênero e/ou patriarcado é cultural e pressupõe assumir e desvelar relações com outros seres humanos. Dessa forma ser masculino ou feminino não é conseqüência de ter nascido menino ou menina, mas ter assumido essa condição na relação com outro. Saffioti (2007) utiliza a frase de, Beauvoir segundo a qual ninguém nasce mulher, mas se torna mulher, para explicar que a humanidade é somos constituída de meninos e meninas pertencentes ao sexo masculino ou feminino, porém gênero é uma expressão cultural e não biológica. O sexo classifica as pessoas em homens e mulheres, porém gênero é cultural, pois pressupõe assumir e desempenhar relações entre as pessoas. Para Beauvoir (1995), desde a Antiguidade, as possibilidades e as mulheres ascenderem socialmente como indivíduos sujeitos de suas próprias histórias vêm sendo cerceadas. Nessa perspectiva, Alves (1991) reporta o feminismo como um movimento social que defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres, procurando pela sua prática como movimento, o rompimento com todas as formas tradicionais autoritárias e preconceituosas de diferenças entre homens e mulheres. Conforme Alves (1991, p.8), o feminismo busca repensar e recriar a identidade de sexo sob uma ótica em que o indivíduo, seja ele homem ou mulher, não tenha que adaptar-se a modelos hierarquizados, e onde as qualidades “femininas ou masculinas” sejam tributos do ser humano em sua globalidade. Que a afetividade, a emoção, a ternura possam aflorar sem constrangimentos nos homens e serem vivenciadas nas mulheres, como tributos não valorizados. (grifos da autora) Nobre (2000) analisa o feminismo como um conjunto de idéias e práticas que têm por objetivo a superação das desigualdades entre homens e mulheres. Trata-se de uma teoria política que envolve mulheres que lutam por sua liberdade, rompendo o silêncio histórico em relação às questões de gênero, projetando suas reivindicações na esfera pública como cidadãs. 6 Para Alves (1991) por sete décadas as mulheres lutaram nos Estados Unidos da América (EUA) e na Inglaterra pelo direito ao sufrágio eleitoral, com o objetivo de assegurar seus direitos políticos, e somente em 1920 é que tiveram assegurado esse direito. No Brasil, as mulheres também lutaram por quase quarenta anos pelo direito ao voto, conseguindo-o em 1932. As décadas de 1930 e 1940 foram marcadas pela ascensão do nazi-fascismo, que provocou a deflagração da segunda Guerra Mundial. Cresce a necessidade de mãode-obra feminina, pois os homens estavam nos campos de batalhas, e como as produções industriais não poderiam esperar, contratava-se o contingente feminino em grande escala, para assegurar o trabalho. No entanto, com o fim da guerra e o retorno dos homens, reabriu-se o mercado de trabalho para eles, incentivando-se o retorno das mulheres aos lares. Para Alves (1991, p.50), esse processo acirrou a ideologia da valorização da diferença de papéis de gênero e/ou patriarcado, limitando a ser mulher “única e exclusiva dona de casa, aquela que fica vinte e quatro horas por dia tomando conta do cônjuge, filhos e entes queridos”. Conforme Alves (1991, p.50), nesse processo, “as mensagens veiculadas nos meios de comunicação enfatizam a imagem da rainha do lar, exacerbando-se a mistificação do papel da dona-de-casa, esposa e mãe. Normalmente o trabalho externo da mulher é desvalorizado, tido como suplementar ao homem”. O movimento de mulheres e o feminismo reivindicam no campo do direito político, civil e trabalhista, igualdade natural 4 , cultural e religiosa. Para tanto, há a necessidade de aprofundar questões relativas à biologia, à psicanálise, à história, a educação dentre outras. Assim, para Saffioti (1997) gênero é uma categoria histórica, empírica e analítica que expressa as relações e as formas de existências na realidade social. Como categoria histórica, esse conceito pode ser empregado para analisar as relações que permeiam os assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem–Terra (MST) em Goiás, apontando novas perspectivas de entendimento e interpretação das transformações da realidade social. OS ASSENTAMENTOS DO MST EM GOIÁS 4 Aprende-se a ser homem e mulher e a aceitar como naturais às relações de poder entre os sexos. “A menina, assim, aprende a ser doce, obediente, passiva, altruísta, dependente; enquanto o menino aprende a ser agressivo, competitivo, ativo independente” assinala Aves (1991, p.55 - 56). 7 No final da década de 1970 e início dos anos 1980, surgiram novos personagens na luta fundiária, fruto da conjugação dos resultados do processo de modernização, da ruptura de relações sociais e de novos valores que passam a ser disseminados. Leonilde Servolo Medeiros De acordo com a análise de Medeiros (2003) os personagens que lutam pela reforma agrária no Brasil mobilizaram-se por intermédio de movimentos sociais, que ao lutarem por melhores condições de vida, reivindicam a ampliação dos direitos de cidadania. Para Melucci (1989) os atores sociais, ao travarem os embates por suas utopias, almejam um significado e outras perspectivas para suas vidas. Essas assertivas são percebidas nos assentamentos do MST em Goiás como, por exemplo, em Rancho Grande 5 , Retiro e Retiro Velho 6 . Os componentes desses assentamentos mobilizaram-se, por meio do Movimento Sem-Terra, buscando melhores condições de vida para si próprios e suas famílias. Essa mobilização e organização foi longa e árdua. Em um primeiro momento, reivindicaram a posse da terra, acamparam em pontos estratégicos as terras, ocuparam terras, sofreram despejos, depois conseguiram que o Instituto de nacional de colonização e reforma agrária INGRA desapropriasse as fazendas, assentando-os, ou seja, assegurando-lhes uma parcela de terra para poderem viver e trabalhar. Além de assegurarem educação, saúde, lazer, estradas e transporte e condições de produção. Os assentados que lutaram e conquistaram o direito de uma parcela de terra são sujeitos sociais que têm em comum a lida rural os valores do cultivo da terra, bem como semelhanças nas relações de gênero com referencias culturais. Para Giddens (1997), as reflexibilidades levam a uma maior compreensão e autonomia do social. Nesse sentido, a pesquisa, O papel educativo das mulheres nos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra, permite perceber como as relações de gênero são constituídas no rural. A primeira geração que habita esses assentamentos são homens e mulheres acima de 50 anos, provenientes do meio rural. Essa geração tem sofrido transformações e mudanças no decorrer de suas histórias e guardam na memória o processo de luta e conquista de suas terras nas palavras de Paul Thompson (1992, p.21) “os mais velhos são os guardiões das reminiscências de seus antepassados”. A segunda geração, de acordo 5 Localiza-se segundo documentos da Comissão Pastoral da Terra (CPT, n.66. set./out. de 1986) no município da cidade de Goiás, a qual conforme a Secretaria do Estado de Goiás de Planejamento e Desenvolvimento (Seplan,22.março de 2005 está na mesorregião no noroeste do Estado de Goiás. 6 Situados no município de Itapirapuã – GO, na microrregião do Rio Vermelho (CPT, n.66. set./out. de 1986) 8 com Sousa (2002), são os que têm mais de trinta anos, nasceram na zona rural, mas já passaram pela experiência de viverem nas cidades. A terceira geração são os filhos da segunda geração, que nasceram ou não no processo de luta. Dito de outra forma, essas gerações de assentados, Idosos, adultos, jovens, adolescentes e/ou crianças advindos de um processo de mobilização, organização, luta e conquista de terras nas regiões da cidade de Goiás e Itapirapuã, no estado de Goiás. Em suas relações sociais percebe-se a construção das relações de gênero. Nas últimas décadas, as análises sociais têm favorecido uma reflexão sobre a história social dos assentados, com diferentes possibilidades de pesquisas nesse campo. Dessa forma, várias abordagens para melhoria do cotidiano desses assentados estão sendo construídas, sejam elas nos fóruns organizados pelos movimentos sociais, como o MST, e/ou por organizações como a Conferência Nacional dos Bispos (CNBB), Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), dentre outros. Segundo Bertti (2007), os encaminhamentos conquistados podem contribuir para que a nação brasileira perceba com menos preconceito esses trabalhadores em seus cotidianos e contribua para seu desenvolvimento como seres humanos dotados de capacidade de reflexidades. Os caminhos trilhados por essas gerações, nesses assentamentos, estão permeados de relações de gênero, estejam eles na primeira, segunda ou terceira geração. Coube, a primeira geração de mulheres o papel de educar os filhos, sob o ponto de vista das experiências adquiridas, no decorrer de suas vidas, isto é, de forma a legitimar o patriarcado em virtude através do não-conhecimento das questões de gênero. Bertti (2007) referencia que as relações que a primeira geração estabelece com processo educacional indica elevados índices de analfabetismo. Em Goiás, em média, “20% dos assentados não são alfabetizados, 50% freqüentaram até a quarta série do antigo primário” (Bertti, 2007, p.124) No entanto, a primeira geração, por ter participado do processo de luta e conquista da terra, sabe realizar negociações, articulações, e outros encaminhamentos políticos. Todavia sente falta de conhecimentos manifestados na escola, por isso, deseja que seus filhos e netos possam adquiri-los. Conforme suas percepções, a educação possibilitará um futuro melhor para eles. Para Saffioti (2007), as relações do cotidiano são estabelecidas de forma patriarcal, na qual há submissão das mulheres ao legado cultural do patriarcado. A fala 9 de Violeta 7 volta-se para o ontem, desvelando o legado do patriarcado presente no assentamento, em que mora: Aqui [Retiro Velho] quando as mulheres começou reuni, os homens era muito machista, eles pensava que a gente reunia aqui era conta bobage contra eles, [...] até hoje a voz da mulher não é bem aceita. Depois de assentados continuaram os desafios com a falta de verba, moradia, porque a maioria das casas até hoje não está terminada. Observa-se que, no relato de Violeta, a presença do patriarcado ainda permanece vivo, nos assentamentos rurais de Goiás, pois esses exemplos também aparece nos demais pesquisados. Constata-se que o homem exerce poder simbólico sobre a mulher. Todas as tarefas a elas atribuídas são desempenhadas de acordo com uma forte ideologia, que lhes foi impregnada desde o seu nascimento. Para as mulheres da primeira geração são aceitáveis as relações de gênero de forma patriarcal. Essas pessoas também são conservadoras em relação à educação sexual nas escolas e, até mesmo em relacionamentos conjugais e/ou extraconjugais dos mais jovens. Essas idéias são reforçadas pelas doutrinas pentecostais e/ou evangélicas presentes na maioria dos assentamentos. O modelo tradicional oligárquico também aparece na segunda geração. Contudo, já aparecem queixas das mulheres em relação aos seus cônjuges e/ou companheiros, bem como não consideram como único e exclusivo o papel de rainha do lar, até porque muitas delas, além de realizarem as tarefas domésticas saem para trabalhar nos municípios vizinhos, como merendeiras, feirantes, e/ou professoras. Dessa forma, as mulheres da segunda geração quebraram o isolamento da casa e passaram a participar do espaço público que há muito estava destinado exclusivamente à condição masculina. Essas trabalhadoras rurais, lavradoras, merendeiras, domésticas, professoras, salgadeiras, herdaram de seus antepassados o contato direto com a lida agrária (Sousa, 2002, p17). Todavia, ainda permanece forte a presença do patriarcado nas decisões familiares, assim como nas concessões de financiamentos, títulos das parcelas, destinados ao chefe de família. Entretanto, já existem assentamentos nos quais na titularidade de algumas parcelas constam o nome da mulher ou de ambos. 7 Violeta, foi entrevistada por Neto, (20 de junho de 2005) em sua residência no Assentamento Retiro e Velho. Violeta está na faixa etária dos quarenta anos, portanto, já consegue até criticar esse tipo de situação, diferente da 1º geração. 10 Organizações sociais apontam questões do machismo de homens, que ao obterem a terra, vendem-na apesar do não-consentimento das mulheres, deixando suas famílias desamparadas. No entanto essa pauta de reivindicação dos movimentos e organizações sociais encaminhada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), já se conseguiu que essa Instituição reconheça que a mulher assegura a continuidade da preservação da terra para a família. Dessa forma pode haver a diminuição do poder do patriarcado, porém, isso não significa dizer quer ele deixa de existir. Também na segunda geração, constata-se a abertura para outros tipos de conversas e de relações familiares, por exemplo, as mulheres dessa geração relatam que ensinam tarefas domésticas para todos os filhos (homens e mulheres), o que acaba contribuindo para a constituição de novos valores, crenças e culturas. Contudo, a entrevista de Moreira 8 (18 de jun. de 2005) indica que em sua família embora ocorra ajuda dos membros do sexo masculino para realização de atividades domésticas, ela ainda é esporádica, “Eu passo o tempo fora, trabalho quarenta horas, e faço as tarefas doméstica. As vezes, tenho ajuda da família, meus meninos já consegue quando tô em casa ajudam alguma coisa, e o meu esposo, quando tá em casa, ajuda também”. A fala de Moreira (18 jun. 2005) demonstra que as relações de gênero são travadas constantemente no cotidiano dos assentamentos, o que requer solidariedade e auxílio do outro. Trata-se de uma mulher que é trabalha em escola pública, contudo exerce dupla jornada de trabalho. Outra situação apontada nessa fala é a percepção de que homem dessa geração ainda age como se tivesse o papel de patriarca, ou seja, seu trabalho é só na roça ou na pecuária, e o papel da esposa é de cuidar das tarefas domésticas. No entanto a mulher trabalha também fora de casa, ele até ajuda nas tarefas domésticas quando pode. Dessa forma, pode-se compreender que, embora em menor proporção, ainda prevalece a mentalidade conservadora herdada dos pais. A segunda geração é muito preocupada com a educação e o sucesso profissional dos filhos, membros da terceira geração, ou seja, os que nasceram ou não no processo de luta. Alguns são crianças, jovens e/ou adolescentes, e os netos da primeira geração. Para a terceira geração, a educação é primordial em suas vidas. Querem concluir um curso de graduação, querem contato com as tecnologias existentes e considera o lazer como algo muito importante. Convivem diariamente com os valores culturais urbanos, já que estudam na cidade todos os dias. 8 Entrevista realizada pela autora em 18 de junho de 2005, na varanda da casa dos pais da entrevistada, Assentamento Rancho Grande. 11 Saffioti (2007) em sua palestra assinala que as relações de gênero estabelecidas na sociedade ocidental, especificamente na latino-americana e brasileira, estão permeadas de exploração e dominação do homem sobre a mulher em relação à divisão do trabalho. Como exemplo dessa reflexão, remete-se a narrativa de Flor de Pequi 9 (18 jun.2005), no qual pai é tido como o provedor da casa. A mãe da entrevistada, apesar de ser feirante, não é reconhecida pela filha como provedora da casa: A minha mãe trabalha fazendo feira. Então ela ajuda meu pai, fazendo as quitandas, doces, tempero também pra vender na feira, em frente à catedral de Goiás [Igreja do Rosário] na cidade de Goiás. Meu pai tem o carro. Aí vai no carro. Ele tira o leite,leva no resfriador. Também arranca mandioca pra levar pra feira, garapa pra levar pra feira, tira o leite em dia de feira que dá mais lucro do que levar pro resfriador. (Entrevista realizada pela autora). Percebe-se, nessa narrativa, o poder simbólico do patriarcado no qual o homem ainda exerce o papel do provedor, e se torna assim o responsável pela família. Nas relações do cotidiano, no meio rural e/ou urbano, todas estão permeadas, de forma direta ou indireta, por essa ideologia. Segundo Bourdieu (2000, p.9), existe um poder simbólico que permeia a realidade mantendo-a. De acordo com o autor, o poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social) supõe aquilo a que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer, “uma concepção homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a concordância entre as inteligências”. (grifos do autor) As relações de gênero são formas simbólicas de poder presentes no patriarcado dos assentamentos, e as desigualdades sociais existem nas relações entre homens e mulheres. No Brasil e na Alemanha, conforme Doll (1999,p.112), “os homens possuem um núcleo universal que recebe uma cobertura cultural” e assim não é possível concebe-los fora de sua cultura, pois nela estão presentes as relações simbólicas, com as quais se pode entender o comportamento do ser humano. Giddens (1997) aponta o desenvolvimento das reflexidades sobre o social. Nessa perspectiva, as relações e reflexões de gênero no campesinato não têm ficado estáticas, pois o rural não está mais distante do urbano. Há um intercâmbio entre a cidade e campo, 9 Flor de Pequi é um codinome utilizado pela pesquisadora como forma de preservar a identidade da entrevistada. Assentamento Rancho Grande. 12 que vão se unindo em processo dialético e contínuo, é perceptível na narrativa de Flor de Cagaita 10 (19 jun.2005): As informações chegam aqui pelo celular, que algumas casas têm, pela antena parabólica que a gente tem aqui [quase todas as famílias tem antena parabólica]. Tenho a televisão, o rádio também, porque agora mesmo que tá de greve, falaram, que quando voltar as aulas eles vão avisar no rádio. (Entrevista realizada pela autora) Para os assentados, a educação é um indicativo de ascensão social, ou seja, desejam realizar um curso de nível, superando a hierarquização patriarcal. Giddens (1997, p.21) considera que “a complexidade da sociedade contemporânea apresenta aos indivíduos um aspecto amplo de possibilidades para vivenciar os momentos da vida e as passagens de uma etapa para outras do curso da vida”. Essas pluralidades apresentam várias possibilidades de comportamentos, compreendidos como estilos de vida que podem ser adotados. Observa-se esse processo nas relações cotidianas das gerações que almejam liberdade e ascensão profissional, dentre outros. Os que já se casaram disseram que conseguem dividir as tarefas domésticas, que participam das decisões que afetam a vida da família. No entanto nesses assentamentos, embora haja auxílio de alguns homens nas tarefas domésticas, eles ainda consideram que essas tarefas são atribuições das mulheres, mesmo se elas trabalharem fora de casa. Conforme Pessoa (2007), os valores expressados nessas gerações, são urbanos estão mais presentes na terceira geração. Contudo, são fenômenos da globalização, o que faz emergir as centralidades econômicas, subjugando as populações rurais caracterizando-as como subculturas, criando inúmeros depreciativos julgamentos de valor, referentes à forma de falar, ao jeito de andar, de vestir, dentre outros, além dos esteriótipos segundo os quais a vida na cidade é boa, e a vida no campo é ruim. Assim, aquilo que é advindo do rural é tido como atrasado. Para o autor, a nação brasileira segue essa ordem, desde os senhores dos engenhos que subjugaram as populações rurais, até a chamada pós–modernidade. Dessa forma, a terceira geração é mais influenciada pelo apelo das novas tecnologias, veiculadas nas cidades, e delas, para o campo. De acordo com Para Pessoa (2007), esses esteriótipos ocorrem à revelia de que a cidade historicamente foi constituída e mantida por intermédio da produção rural. Todavia, o rural ainda é tido como desqualificado e mero fornecedor para a cidade. Para Naxara (1992, p.185), 10 Flor de Cagaita é um codinome utilizado por essa pesquisadora como forma de preservar a identidade da entrevistada. Assentamento Rancho Grande. 13 essa identificação levou a uma leitura que realçou o atraso do homem rural brasileiro, identificando o campo ao atraso, em contraposição ao urbano que é o civilizado. Oposição que, transposta para um outro nível, diferenciava as elites brasileiras de seu povo, estando a elite identificada ao progresso e à civilização e o povo identificando ao atraso e à barbárie [...]. [no entanto] a desqualificação da população livre e pobre no Brasil remonta às [suas] origens. A situação do translado campo cidade da terceira geração durante o ano letivo mostra a dura realidade que os filhos ou netos de assentados enfrentam ao saírem de madrugada de suas casas, retornando a ela somente à noite. Dessa forma, perdem o contato com a lida agrária na busca por uma vida melhor. Nessa perspectiva, a relação de gênero constituída pela terceira geração, é permeada de valores rurais e urbanos, e sua vida, embora não seja fácil, é menos árdua que a de seus antepassados. Nesse sentido, Pessoa (2007, p. 15) considera que é necessário tratar de questões importantes para o rural, como “a qualificação da mão-de-obra, o desenvolvimento educacional, crescimento dos padrões de consumo, reprodução sustentável dessa população”. Para o autor, uma modernização conservadora, reafirma os estereótipos do rural. Dessa forma, as relações ficam cristalizadas, fragmentadas, mascaradas ou superficializadas diante da uma situação em que inexistência de outros mecanismos de distribuição da renda para esses assentados. É necessário a implementação de políticas públicas de qualidade e excelência, visando a preservação da natureza, o equilíbrio das relações com os seres humanos, para que haja um ambiente sustentável para os que vivem no meio rural. Assim, de acordo com Saffioti (2007), não se podem conceber as relações de gênero em que uma pessoa se sobreponha à outra, não há como suportar o patriarcado e nem mesmo o matriarcado. Dessa forma, estabelecer relações equânimes entre homens e mulheres requer a constituição de novas relações, nas quais um seja parceiro do outro com respeito, solidariedade, fraternidade. Devem-se constituir laços de amor universais e holísticos, em outras palavras, que ambos os sexos aprendam, a viverem com a percepção do outro e do bem-estar voltados à felicidade compartilhada por ambiente e natureza bioéticos, com respeito aos direitos humanos. Dessa forma, pode-se gerar uma sociedade sem exclusão, sem pressões, sem descriminações e sem violências, articulando os interesses de mulheres e homens do campo e da cidade. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Branca Moreira. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense 1991. AMORA, Antonio Soares. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999. 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