UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA LAIZA MARTINHAGO A FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA CRICIÚMA, ABRIL DE 2009. LAIZA MARTINHAGO A FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Educação Matemática. Orientador: Profª. MSc Viviane Raupp Nunes de Araújo. CRICIÚMA, ABRIL DE 2009. Dedico todo o trabalho realizado aos meus pais, Milton e Daria. “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.” Jean Piaget RESUMO Nesta pesquisa apresentamos nossas investigações acerca da avaliação e do nível de satisfação dos professores de Matemática com relação ao seu processo de formação inicial. Sendo assim, elegemos como ponto de partida de nossa pesquisa o seguinte questionamento: Como os professores de Matemática da Escola Salete Scotti dos Santos, pertencente a rede pública estadual de ensino, avaliam o seu processo de formação inicial? Com o intuito de responder a problematização, apresentamos como objetivo geral analisar como sete professores de Matemática desta escola avaliam a sua formação inicial. Para atingirmos o objetivo geral, traçamos especificidades que nos permitiram: analisar o processo de formação inicial dos professores de Matemática da escola Salete Scotti do Santos, identificar as razões que levam os professores de Matemática da escola citada estar satisfeitos ou insatisfeitos com sua formação inicial, verificar as concepções e crenças relacionadas à Matemática e ao seu ensino que fundamentam a análise de sua formação inicial. Inicialmente, nos preocupamos com as leituras do referencial teórico relacionado ao objeto em estudo; história e desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos, concepções e crenças dos professores com relação a Matemática e seu ensino, formação de professores, entre outros, obtendo como referência as leituras baseadas em Ponte (1992, 1994, 1995, 1998, 2002), Fiorentini (1994, 1995), Saviani (1980), etc. Em seguida, entramos em contato com a escola, pedimos permissão para a realização da pesquisa e debatemos o nosso objeto de estudo com os professores que se dispunham a fazer parte deste trabalho. Em continuidade, como forma de coleta de dados, aplicamos os questionários aos professores. Admitindo as duas modalidades de pesquisa qualitativa e quantitativa, adotamos o tipo de pesquisa descritiva e o método de Survey respectivamente para análise dos dados. Acreditamos que a pesquisa atingiu os objetivos esperados, visto que, os dados obtidos dos discursos dos professores nos mostraram não somente o nível de satisfação com relação a formação inicial destes, mas também as concepções de ensino que transitam naquele ambiente escolar. Palavras-chave: Formação inicial de professores, professores de Matemática, concepções e crenças. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Aspecto humano dos professores da instituição............................... 52 Gráfico 2 – Qualidade das disciplinas do curso................................................... 53 Gráfico 3 – Infra-estrutura das bibliotecas........................................................... 55 Gráfico 4 – Prática docente.................................................................................. 56 Gráfico 5 – Curso................................................................................................. 57 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LDB – Lei de Diretrizes e Bases. SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica. CNE – Conselho Nacional de Educação. CP – Conselho Plano. MMM – Movimento da Matemática Moderna. CIAEM – Comitê Interamericano de Educação Matemática. ICMI – International Comittee of Mathematical Instruction. GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática. FUNBEC – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências. SBM – Sociedade Brasileira de Matemática. RPM – Revista do Professor de Matemática. UNESP – Universidade Estadual Paulista. SBEM – Sociedade Brasileira de Educação Matemática. NCTM – National Council of Teachers of Mathematics. ACT´s – Admitidos em Caráter Temporário. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 09 2 O ENSINO DA MATEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E SALA DE AULA ................................................................................................................ 12 2.1 Considerações iniciais....................................................................................... 12 2.2 Origem e evolução do ensino da Matemática.................................................... 12 2.3 História do ensino da Matemática no Brasil....................................................... 17 2.4 A Matemática na sala de aula e o papel do professor no processo de ensino aprendizagem.......................................................................................................... 19 3 CONCEPÇÕES DE ENSINO DA MATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES...................................................................................................... 23 3.1 A formação inicial dos professores Matemática ................................................ 23 3.2 Concepções e crenças dos professores com relação à Matemática e o seu ensino....................................................................................................................... 27 4 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONSTITUIÇÃO E SIGNIFICADOS.................... 35 4.1 Educação Matemática: Constituição.................................................................. 35 4.2 Educação Matemática: Significados ................................................................. 39 5 METODOLOGIA................................................................................................... 45 6 ANÁLISE DOS DADOS........................................................................................ 48 7 CONCLUSÃO....................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 62 APÊNDICE............................................................................................................... 67 9 1 INTRODUÇÃO Diante da preocupação social com a formação do professor de Matemática, tem-se tentado buscar soluções que contribuam para que o professor tenha a oportunidade de renovar-se profissionalmente. A Matemática é geralmente tida como uma disciplina extremamente difícil, que lida com objetos e teorias fortemente abstratas, quase incompreensíveis. Diante disso e levando em consideração o sistema escolar, podemos perceber que a Matemática deve ser entendida como um sistema conceitual que não está restrito apenas à escola, e sim como um campo de estudo abrangente que faz parte das inter-relações sociais, e que possibilita aos indivíduos através do seu conhecimento um nível mais elevado de reflexão e criticidade diante dos aspectos da sociedade. Os professores de Matemática são os responsáveis pela organização das experiências de aprendizagem dos alunos. Estão, pois, num lugar chave para influenciar suas concepções. Por cada momento de criatividade, o professor de Matemática tem muitos momentos de trabalho rotineiro e de árduo estudo. Além disso, trabalha com novas idéias e tem ao seu alcance recursos que derivam do seu conhecimento de domínios mais ou menos vastos e de uma grande experiência anterior. Ao longo do exercício profissional, os professores vão construindo um saber que não pode ser construído nos bancos escolares. Trata-se do saber da experiência. É necessário, portanto, investigar como o professor de Matemática vai se construindo, depois da sua formação, a partir da sua experiência profissional. Em geral, hoje, alguém que leciona transmite conhecimento, instrui e ensina. Mais que outras profissões, esta precisa de reconstrução completa dentro da máxima: ser profissional hoje é, em primeiro lugar, saber renovar, reconstruir, refazer a profissão. É olhar reflexivamente para seu processo de formação realizado em nível de Graduação. Segundo Demo (2004), professor é quem, estando mais adiantado no processo de aprendizagem e dispondo de conhecimentos e práticas sempre renovados sobre aprendizagem, é capaz de cuidar da aprendizagem na sociedade, 10 garantindo o direito de aprender. Professor é o eterno aprendiz, que faz da aprendizagem sua profissão. Porém, a realidade é outra, a sociedade brasileira, e em particular seus governos, não investem na formação de seus professores. São mal pagos, como regra, e também muito mal formados. Muitos querem aprender mais, querem aprender bem, mas não possuem condições de continuar aprendendo: muitos dão aulas de manhã, de tarde e de noite, para ganhar um pouco mais e acabam ficando sem tempo para novos estudos e projetos. Grande parte dos professores apenas lecionam, preocupando-se em repassar os conteúdos previstos no currículo, sem tomar a sério se os alunos estão ou não aprendendo. A própria nova LDB (Leis de Diretrizes e Bases) contribui para esta confusão, aumentam para 200 os dias de aula, não de aprendizagem. Acredita que o aluno aprende mais se tiver mais aulas. Engano fútil. Os dados do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) mostram que desde 1995 o aproveitamento escolar tem mostrado tendência de queda sistemática. Grande parte dos alunos não entende o que lê. Infelizmente o Brasil está hoje entre os países onde menos se aprende na escola, apesar de ter aumentado o número de dias letivos. E os professores? Seu papel é de estudar, reconstruir conhecimento, elaborar projetos pedagógicos, evoluir na sua formação. Neste sentido, a formação de professores pode ser considerada um espaço importantíssimo, pois é baseado nesta preparação profissional, que integra conteúdos e metodologias que o professor desenvolverá com seu aluno o tipo de conhecimento adequado à sua formação intelectual, política, cultural, afetiva e profissional. Segundo Kincheloe (1997), um debate tradicional dentro da formação de professores gira em torno da tensão entre a preparação de professores para as escolas como elas existem no presente e a educação de professores para as escolas como elas poderiam tornar-se. A pesquisa contribuirá para propor reflexões importantes sobre o processo de formação em nível de graduação dos professores de Matemática e sua prática pedagógica. Neste contexto, verificamos a necessidade de estudos que nos apontem como os professores de Matemática da rede estadual de ensino avaliam seu processo de formação em nível de graduação. Sendo assim, elegemos como ponto 11 de partida de nossa pesquisa o seguinte questionamento: Como os professores de Matemática da Escola Salete Scotti dos Santos, pertencente a rede pública estadual de ensino, avaliam o seu processo de formação inicial? Com o intuito de responder com a problematização, apresentamos como objetivo geral: Analisar o nível de satisfação relacionado ao processo de formação inicial dos professores de Matemática da escola Salete Scotti dos Santos pertencente à rede estadual de ensino do município de Içara. Para atingirmos o objetivo geral, traçamos especificidades que nos permitiram: • Analisar o processo de formação inicial dos professores de Matemática da escola Salete Scotti do Santos; • Identificar as razões que levam os professores de Matemática da escola citada estarem satisfeitos ou insatisfeitos com sua formação inicial; • Verificar as concepções e crenças relacionadas à Matemática e ao seu ensino que fundamentam a análise de sua formação inicial. No capítulo 1 apresentamos a introdução da pesquisa em que procuramos construir uma justificativa para o trabalho desenvolvido, seguida da definição do problema e objetivos. No capítulo 2, 3 e 4, apresentamos uma leitura do referencial teórico, em concordância com o objeto em estudo. O capítulo 5 anuncia o percurso metodológico da pesquisa, o procedimento de coleta de dados, os sujeitos e as técnicas utilizadas para análise dos dados coletados. No capítulo 6 apresentamos a análise dos dados, seguido pelas considerações finais e pelo referencial bibliográfico. 12 2 O ENSINO DA MATEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E SALA DE AULA 2.1 Considerações iniciais Neste capítulo, relata-se a história da Matemática, buscando entender onde, com quem e porque iniciou seu ensino; sua chegada no Brasil com os Padres Jesuítas até ser concebida como Educação Matemática. Discute-se ainda, a relação entre linguagem e Matemática como também a Educação Matemática. A palavra Matemática de origem grega, significa “o que se pode aprender”, foi criada a fim de contar e resolver problemas dos mais simples aos mais complexos, iniciados por problemas de ordem prática da Matemática e posteriormente vinculados a outras disciplinas. A própria história da Matemática revela que as várias disciplinas aplicadas utilizam cada vez mais dos procedimentos que relacionados com o nosso cotidiano contribuem para as tomadas de decisão. Sendo assim, no mundo pós-moderno dominado pela ciência e pela tecnologia se explica a grande necessidade do uso no nosso dia-a-dia e do domínio pelo conhecimento que a Matemática nos oportuniza. O seu uso se aplica também em outros campos do conhecimento como a física, química, astronomia, engenharia, medicina, economia, portanto há a necessidade de aprendê-la, pois está presente, em todos os momentos desde o nosso nascimento. No entanto, essa matéria mesmo sendo ensinada a todos, permaneceu restrita para aqueles que conseguissem entender as regras, fórmulas e as propriedades de entes abstratos, pelo emprego do raciocínio dedutivo. 2.2 Origem e evolução do ensino da Matemática Os primeiros indícios da Matemática, segundo Miorim (1998, p.5), 13 “surgiram no período Paleolítico, devido às necessidades da época”. Neste período o homem vivia da caça da pesca e da coleta de sementes, mas com o passar dos tempos, foi percebendo a necessidade de inventar outros recursos que contribuísse para resolver seus problemas no controle da fabricação de seus produtos. De acordo com Miorim (1998), o conceito de número surgiu nesta época, com a necessidade de prever quantidades com alimentos, animais ou pessoas. Seu desenvolvimento foi muito lento, iniciando com a percepção das diferenças dos objetos e para depois a representação das quantidades por meio de objetos concretos e meios abstratos. Miorim (1998) afirma ainda que o Período Neolítico forçou o desenvolvimento da agricultura, da domesticação e criação dos animais e a fabricação de instrumentos e armas, o que fez com que o homem não dependesse tanto da natureza. Com o aumento da população e a complexidade da vida na aldeia, surge a necessidade de transferir pessoas do trabalho manual para cuidar e controlar os interesses da comunidade. Houve a necessidade de criar e separar funções, para que cada um conseguisse resolver os problemas da comunidade e dos materiais, surgindo a categoria de funcionários, responsáveis pela resolução das tarefas fundamentais de toda a comunidade, dividindo o trabalho manual do intelectual. A partir daí, inicia-se a Educação com o objetivo de ensinar novas técnicas e novos instrumentos aos filhos dos organizadores, passando a ter um tratamento especial: É o início da Educação intencional, sistemática, organizada, violenta e sapiencial. Em princípio, apenas como complementação aos conhecimentos práticos das técnicas, mas em seguida, como a única forma de educação das classes dirigentes. (MIORIM, 1998, p. 8). Neste período, de acordo com Miorim (1998, p.8), “com o aumento dos agrupamentos das aldeias e da população surgiram as ‘cidades’ ”. Nesta época, já sobressaia a classe que dominava e uma grande maioria que obedecia. Foi a partir dessa classe dos governantes que surgiu a necessidade de registrar e somar as quantidades de suas vendas e o cálculo dos lucros obtidos pela transação de comerciar. Com isso surgiram as primeiras noções Matemáticas com símbolos em formas de desenhos e traços que possibilitavam o controle na contagem e o próprio 14 registro, surgido assim o processo de escrita. A contagem dos objetos e registro dos lucros era realizada com outros elementos que eram as técnicas digitais e corporais existentes desde o período primitivo. Com o aperfeiçoamento dos cálculos, o sistema de registro para as quantidades evoluiu, até que foi implantado o sistema de numeração. Com a dificuldade de operar com ábacos, surge a necessidade de um especialista que soube lidar com esse instrumento, mas nessa época era permitido somente aos sacerdotes-governantes. Conforme Miorim (1998, p.9), “as maiores contribuições para a Matemática da Antiguidade são atribuídas às civilizações Mesopotâmicas e Gregas”, enquanto as Culturas Egípcias e Romanas se limitaram a aperfeiçoar as técnicas de medida e a prática Matemática. Nas viagens pelo Egito, Babilônios e os Filósofos Jônicos conheceram a Matemática prática e ao buscar respostas às questões sobre a origem do mundo, descobriram uma fonte de conhecimento. No entanto esses pensadores ao aprofundarem seus estudos desligavamse cada vez mais das práticas dos ofícios, propiciando as condições necessárias para o desenvolvimento da Matemática: (...) dispensados de lidar com as coisas materiais, tendiam a complicar os métodos simbólicos e a imputar-lhes uma realidade independente. Em certo sentido isto foi valioso, pois veio dar, pelo menos a um número reduzido de gente selecionado, o lazer necessário para pensar, permitindo-lhes assim criar, a partir desses símbolos, as construções abstratas da Matemática (...) [que viviam a fornecer] o alicerce sobre o qual cresceria, mais tarde a Matemática mais abstrata dos Gregos. (BERNAL apud MIORIM, 1998, p.10). Os Babilônios criaram as primeiras tábuas de informações e de cálculos destinados a armazenar dados extraídos da observação astronômica, como também propagaram seus métodos aritméticos (adição, subtração, multiplicação e divisão). Portanto, neste mesmo século, as escolas filosóficas dos séculos VII e VI a.C., aspiravam-se no pensamento de Pitágoras de Samos, que exerceu grande influência no avanço da Matemática, por intermédio de Platão. O ensino na escola pitagórica desde o seu início era voltado para as questões religiosas, e acreditavam que alcançaria a purificação da alma por meio de conhecimento puro. Segundo Miorim (1998, p.10), “com o surgimento da escrita e a única forma de acesso à cultura, levou a profissão de escriba ser cada vez mais 15 valorizada”. Portanto é o início da valorização do trabalho intelectual ligado à escrita, mas os cálculos matemáticos, sendo realizados ainda de forma manual com o auxílio do ábaco, eram desconsiderados. Nesse processo, Originários de diversas cidades, sem local fixo para ensinar, os sofistas visitavam as cidades oferecendo seus préstimos. Não eram pensadores, nem investigadores, não formavam uma escola filosófica e tampouco tinham a mesma proposta de ensino. Em comum havia apenas o fato de serem profissionais de ensino, ou seja, professores (...). (JAEGER, apud MIORIM, 1998, p.15). Independentemente da profundidade com que os estudos matemáticos eram desenvolvidos na época pelos sofistas, graças a esses primeiros professores, que a Matemática se popularizou, mas o ensino era voltado para a formação das classes dirigentes, privilegiando os estudos clássicos. Por volta do Século IV a.C, com os filósofos Platão e Sócrates, surgia uma nova pedagogia, voltada para o ensino da Matemática que exigia uma forma de pensar abstrata, que para muitos é considerada difícil e da Matemática prática de fácil compreensão, por ser ensinada de forma mais simples, sendo que a Matemática abstrata era destinada à elite e a outra que era a prática era destinada aos escravos. Platão ampliou o ensino da Matemática e transformou-a em importante e necessária, para todo e qualquer trabalho que fosse realizado em qualquer outra profissão, pois a Matemática procurava desenvolver o raciocínio. Segundo Miorim (1998, p.18), com Platão “temos a Matemática concebida como um conhecimento importante não pelo seu valor próprio, mas pela sua capacidade de despertar o pensamento no homem”. O ensino da Matemática era baseado na resolução de problemas de forma mecânica, por meio da repetição, com um único objetivo de memorizar, sendo de forma autoritária, mas de grande importância, para estes povos: (...) conseguiram, sem dúvida, desenvolver os rudimentos de várias áreas, que viriam a compor o que seja, futuramente chamado de Matemática. Entretanto, a preocupação com as regras gerais, com a exatidão dos resultados e com os princípios lógicos, em parte, resolvida pelos matemáticos de uma nova civilização, que viria a ser o novo centro de cultura: a civilização grega. Esta começou a dominar o litoral mediterrâneo à medida que as civilizações das margens dos rios entravam em declínio. (MIORIM, 1998, p.13). 16 Na Grécia, já com inspiração mais filosófica e menos voltada para as exigências práticas, a Matemática formada pelos gregos ganhava a denominação de ciência abstrata, com bases metodológicas que estruturavam e sistematizavam seu estudo, tomando forma como uma área do conhecimento. Na idade Média e Renascimento, a Matemática passou por um período de retração, havendo pouco progresso, quase desaparecendo, pois os estudos eram voltados para os estudos religiosos voltados para a bíblia, sendo que os demais estudos não eram necessários. Neste período, o ensino da Matemática ficou voltado somente para o estudo do calendário litúrgico e datas importantes da época. Com o passar dos anos o ensino foi evoluindo de forma gradativa e foi se tornando cada vez mais necessário para tudo que fosse aprender ou ensinar. A partir daí com o surgimento das escolas práticas, percebeu-se a direção que teria a educação com a inclusão de certas disciplinas e a importância que tem cada uma e a Matemática. A educação clássica, preocupada com a formação integral do homem, e não com uma formação técnica especifica, uma vez que entendia que essa formação integral possibilitaria ao homem que exercer com sucesso qualquer trabalho especializado (...). (MIORIM, 1998, p.25). No entanto, os estudos matemáticos continuavam a ser um privilégio apenas da elite, com o ensino ligado à arte culta, voltado ao desenvolvimento do raciocínio, voltado aos matemáticos profissionais e aos futuros imperadores. No século XIX, o avanço tecnológico contribuiu para o deslocamento da população dos campos para as cidades, se fazendo necessário cada vez mais a necessidade do ensino da Matemática. Mesmo com todos os avanços da tecnologia, o uso da Matemática se tornou imprescindível em qualquer que fosse a função que fosse exercer na indústria ou no comércio. Por um lado, era necessário preparar o operário para o uso adequado das novas máquinas, e isso só seria possível através da introdução do ensino de alguns elementos básicos de escrita e Matemática. Por outro lado, seja também preciso formar técnicos especializados, que, através do conhecimento dos últimos avanços da ciência, pudessem melhorar ainda mais as técnicas de produção. (MIORIM, 1998, p.51). A partir daí, a educação passou a ser universalizada, e interliga-se com o trabalho. Começando assim, a luta pela universalização da educação Matemática. A conquista não parecia fácil, pois havia oposição sobre o assunto. Os que tinham 17 poderes de escolha eram contra a educação. Frisavam em dizer que a educação era somente para os mais privilegiados e não para todos. 2.3 História do ensino da Matemática no Brasil Para melhor compreender e se situar é importante voltar atrás sobre as reformas curriculares que ocorreram nos últimos anos no ensino da Matemática no Brasil. Nas décadas de 60/70, o ensino da Matemática em diferentes países, foi influenciado por um movimento que ficou conhecido como Matemática Moderna. A Matemática Moderna nasceu como um movimento educacional inscrito numa política de modernização econômica e considerado tão importante como as outras áreas de Ciências Naturais, se constituía com a entrada privilegiada para o pensamento científico e tecnológico. Esta concepção apresentava uma Matemática apoiada em estruturas lógicas, algébricas topológicas e de uma ordem que enfatizava a teoria dos conjuntos, se preocupando somente com as abstrações Matemáticas, uma linguagem exclusiva da Matemática, usando símbolos e com termos complexos dificultando a compreensão e a aprendizagem do aluno. Nesse processo, somente o professor falava, não oportunizando o aluno a se manifestar com suas dúvidas, sendo que às vezes o professor não dominava totalmente o assunto, deixando-o muitas vezes até inseguro. Com tudo que era ensinado, o aluno não conseguia fazer uma ligação do que estaria sendo apreendido com a Matemática usada fora da escola. Os novos símbolos matemáticos eram somente utilizados em exercícios realizados em sala de aula. Portanto, o ensino ficou restrito somente com a formalização dos conteúdos, não se preocupando em relacionar com questões práticas. Essa reforma não estava preocupada com a formação de um cidadão consciente e capaz de resolver seus próprios problemas, mas com uma única intenção de prepará-los para os saberes matemáticos. 18 Segundo os Parâmetros Curriculares (1997), a Matemática a ser ensinada nesse movimento, era aquela concebida como lógica, compreendida a partir das estruturas. A mesma conferia um papel fundamental à linguagem dos currículos da época e insistia na necessidade de uma reforma pedagógica, incluindo a pesquisa de novos materiais e a renovação dos métodos de ensino. Portanto, o ensino passa a ter a preocupação voltada para as abstrações da própria Matemática, voltada mais para a teoria do que com a prática. Tinha como exemplo a linguagem da teoria dos conjuntos, dando ênfase à aprendizagem de símbolos, que estava muito distante da compreensão por parte dos/as alunos/as das séries iniciais do Ensino Fundamental. A Matemática Moderna foi fortemente veiculada no Brasil por meio dos livros didáticos, tendo uma grande influência na época. No entanto, teve a sua rejeição a partir que foi constatada a inadequação de alguns de seus princípios e das distorções que ocorrem na sua implantação. Sendo assim, em 1980, o National Council of Teachers of Mathematics – NCTM – dos Estados Unidos, apresentou recomendações para o ensino de Matemática no documento “Agenda para Ações”. Neste documento destacava-se a resolução de problemas com foco do ensino da Matemática a situações do dia-a-dia. De acordo com Pozo (1998, pg.15), “na reforma do Sistema educacional se reconhece a necessidade e a importância da resolução de problemas como conteúdo curricular da Educação Básica”. Rabelo (1996, p. 63) comenta que dentro da reforma do ensino da Matemática [...] a resolução de problemas tem sido objeto de preocupação de grande número de profissionais da área de Educação Matemática. Nesse sentido, a linha de trabalho de George Polya, se pode chamar de método de ensino de resolução de problemas, vem servindo de base a muitos outros autores. Um dos objetivos desses estudiosos é conseguir que os/as alunos/as pensem matematicamente, que não aprendam apenas regras, técnicas e estratégias prontas e acabadas, mas que cheguem também compreender os conceitos subjacentes à prática Matemática. Nos últimos anos, vêm ocorrendo no Brasil, assim como em outros Países, discussões, que tem como objetivo de adequar a prática escolar uma nova realidade, marcada pela crescente presença dessa área do conhecimento em diversos campos da atividade humana. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.19), o ensino da 19 Matemática no Brasil atualmente é o “componente importante na construção da cidadania”, na medida em que é utilizada e compreendida a sua função para a sociedade em geral. Cada vez mais esses cidadãos precisam se aprimorar e se apropriar frente aos conhecimentos científicos e recursos tecnológicos, na medida em que o mesmo vai se construindo e se apropriando desses conhecimentos que servirão para compreender a transformar a sua própria realidade. No ensino da Matemática, devem prevalecer dois aspectos básicos: procurar relacionar as observações desse seu mundo real na forma de representações (esquemas, tabelas, figuras) e também ter a capacidade de relacionar essas representações com princípios e os conceitos matemáticos. Nesse processo, a comunicação tem uma grande importância e deve ser estimulada, procurando levar o aluno a expor de forma oral e escrita sobre os assuntos relacionados com a Matemática, a trabalhar e a compreender as informações e os dados representados por meio de gráficos e desenhos e a aprenderem como organizar esses dados e como saber usá-los. O ensino da Matemática deverá ser significativo para o aluno, de modo que o mesmo consiga relacioná-la com as demais disciplinas, estabelecendo nexo com o seu cotidiano e, dessa forma, perceber que há diferentes assuntos matemáticos. 2.4 A Matemática na sala de aula e o papel do professor no processo de ensino aprendizagem Para Moisés (1997) o ensino da Matemática ou sua aprendizagem continua sendo difícil para muitos alunos. O erro começa pela noção da proporcionalidade que deveria servir para a vida e não para resolver apenas os problemas propostos pela escola. Não é possível preparar alunos capazes de solucionar problemas ensinando conceitos matemáticos desvinculados da realidade, ou que se mostrem sem significado para eles, esperando que saibam como utilizálos no futuro ou diante de suas necessidades propostas no seu trabalho. Professor e 20 aluno se defrontam com sentenças, regras e símbolos matemáticos sem que nenhum deles consiga dar sentido e significado a tal simbologia, então a escola continua a negar ao aluno, especialmente aquele que frequenta a escola pública, uma das formas essenciais de ler, interpretar e explicar o mundo. Observa-se que uma grande parte dos alunos tem dificuldade em relacionar a aplicação da Matemática com as demais disciplinas do curso. Contudo, Vitti (1999) nos diz que a falta de entendimento de tais simbologias e dos conceitos matemáticos em geral, tem caracterizado um ensino marcado por muitos traumas, medos e dificuldades. O fracasso do ensino da Matemática vem sendo apontado ao longo de muitos anos e os índices de reprovações são assustadores. O ensino inadequado da Matemática, a maneira como o professor trata os assuntos em sala de aula, a deficiência dos currículos (que não deveriam ser baseados num conteúdo pré-fixado, nem tampouco voltados a uma realidade estrangeira, mas no desenvolvimento de valores científicos ligados à nossa realidade), a má qualidade dos livros didáticos, a pressão do vestibular, a carência de bibliotecas e materiais de ensino, a falta de base do aluno, o medo na hora da prova, notas baixas, reprovações, o ensino divorciado da nossa realidade e das aplicações da Matemática no dia-a-dia, contribuem para que o aluno goste ou não desta disciplina, queira ou não continuar seus estudos sobre ela ou simplesmente passe a procurar cursos ou até mesmo uma profissão (embora seja difícil escolher qualquer profissão em que a Matemática, se não ocupa posição de destaque, pelo menos não se faça presente) em que a Matemática seja muito pouco utilizada. (VITTI, 1999, p. 39). Segundo Vitti (1999) embora muitos não gostem da Matemática, ela está presente no dia-a-dia e a criança já possui contato com a mesma antes mesmo de chegar à escola, onde terá contato com os conhecimentos científicos a serem apropriados e poderá gostar ou não da disciplina. Isto significa dizer que as crianças trazem para a escola conhecimentos, idéias e intuições, construídas através das experiências que vivenciaram em seu grupo sócio-cultural, chegando à sala de aula com entendimentos diferenciados em relação a classificação, ordenação, quantificação e medição. Contribuindo com os estudos de Vitti (1999), Moisés (1997) nos diz que parece não haver continuidade entre o que se aprende na escola e o conhecimento que existe fora dela. Muitos educadores trabalham de forma mecânica, através de atividades repetitivas, deixando de estimular o raciocínio lógico matemático e a 21 criatividade para solucionar desafios. Nesta prática, o educador assume o papel de transmissor de conhecimentos e o educando receptor, sem o menor interesse e compreensão naquilo que está aprendendo. De acordo com Rabelo & Lorenzato (1994), para pensar numa mudança é preciso antes de tudo ter coragem, é preciso ousar, criar e experimentar, é preciso buscar uma mudança de paradigmas para testar e avaliar o potencial de nossos alunos e vê-los sob uma perspectiva de competência, mas isso significa antes de tudo um teste e a avaliação de nós mesmos enquanto profissionais. Para dar um ensino de qualidade nas nossas escolas de Ensino Fundamental, chega-se a conclusão de que é preciso: 1o Contextualizar o ensino da Matemática, fazendo com que o aluno perceba o significado de cada operação mental faz; 2o Levar o aluno a relacionar significados particulares com o sentido geral da situação envolvida; 3o Que nesse processo se avance para a compreensão dos algoritmos envolvidos; 4o Propiciar meios para que o aluno perceba, na prática, possibilidades de aplicação desses algoritmos. (MOISÉS, 1997). Abrir caminhos para que os alunos gostem das aulas, ter interesse em frequentar e estudar seus conteúdos, é necessário que o professor reflita, ouse e assuma posições. Neste sentido, o processo de formação dos professores perpasse por quatro pontos fundamentais: 1o É importante para o professor tomar consciência do que faz ou pensa a respeito de sua prática pedagógica; 2o Ter uma visão crítica das atividades e procedimentos na sala de aula e dos valores culturais de sua ação docente; 3o Adotar uma postura de pesquisador e não apenas de transmissor; 4o Ter um melhor conhecimento dos conteúdos escolares e das características do desenvolvimento e da aprendizagem de seus alunos. Neste sentido, Silva (2004) explica que muitos fatores interferem na aprendizagem do aluno, como por exemplo, espaço físico, ambiente tranquilo, criatividade, capacitação docente, predisposição a aprender, estímulos, metodologia de ensino adequada, entre outros, e complementa afirmando que: para haver 22 aquisição de conhecimento, não existe um método de ensino que seja considerado melhor, pois em determinados momentos um complementa outro. O importante é que uma boa aula de Matemática requer planejamento criterioso e estratégias bem definidas baseadas no conteúdo matemático a ser trabalhado, levando o aluno a pensar, refletir, analisar e concluir, atingindo o objetivo proposto. 23 3 CONCEPÇÕES DE ENSINO DA MATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 3.1 A formação inicial dos professores Matemática Segundo Ponte (1995), a formação é um mundo onde se inclui a formação inicial, contínua e especializada. Onde é preciso considerar os modelos, teorias, e investigação empírica sobre a formação, analisar a legislação e a regulamentação e, o que não é de menor importância, estudar as práticas reais dos professores e das instituições, e as suas experiências inovadoras. Para García (1999), a formação inicial de professores deve contribuir para o desenvolvimento pessoal, para a tomada de consciência da responsabilidade no desenvolvimento da escola e dos alunos, para a aquisição de uma atitude reflexiva acerca dos processos de ensino e de aprendizagem. Refletindo sobre as idéias de Ponte (1995), a formação do professor está muito associada à idéia de frequentar cursos, enquanto que o desenvolvimento profissional ocorre através de múltiplas formas, que incluem cursos, mas também atividades como projetos, troca de experiências, leituras, reflexões, entre outras. A formação tende a ser vista de modo isolado, sendo classificada por assuntos ou por disciplinas. Quanto ao conhecimento específico da disciplina Garcia (1999) nos alerta: O conhecimento que os professores possuem do conteúdo a ensinar também influencia o que e como ensinam. Por outro lado, a falta de conhecimentos do professor pode afetar o nível de discurso na classe, assim como o tipo de perguntas que os professores formulam (...), e o modo como os professores criticam e utilizam livros de texto (...). (GARCIA, 1999, p. 87). Para este autor o conhecimento da disciplina que o professor deve ter é diferente na medida em que é um conhecimento para ser ensinado, o que obriga a que se organizem, não apenas em função da própria estrutura disciplinar, mas pensando nos alunos a quem se dirigem. 24 Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), o ensino da Matemática visa à educação plena do aluno, a formação de valores fundamentais através da busca do transcendental e da descoberta do sentido mais profundo da existência da Matemática. A Proposta não se baseia somente em cálculos, mas em uma realidade ampla e rica que visa não só formar alunos, mas seres humanos comprometidos com a vida, agentes da história, construtores de uma nova sociedade. Neste sentido, Scheibe & Daros (2002), afirmam que a realidade no ensino da Matemática nos mostra a necessidade e a urgência que na formação de professores, além do domínio nas áreas de conhecimento se dê também prioridade ao desenvolvimento de atitudes que permitam não só “aceitar” a mudança e a inovação, mas ser ele próprio agente de mudança, através de práticas de reflexão. Lendo a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - (lei nº 9.394, sancionada em 20 de dezembro de 1996), percebe-se que a mesma enfatiza a associação entre teoria e prática, e institui um mínimo de 300 horas para a prática de ensino de todos os cursos de licenciatura (artigo 65), sendo que a mesma foi antecipada em no mínimo 1 ano, fazendo com que os licenciandos entrem em contato com os alunos mais cedo e durante mais tempo em sua formação acadêmica. Neste caso, a LDB sabe a importância que os estágios tem para os futuros professores, pois possibilitam que sejam trabalhados aspectos indispensáveis na construção da identidade, dos saberes e das posturas necessárias ao exercício da profissão docente. Às 300 horas de Estágio Supervisionado, como citado, são apenas o mínimo, abaixo desse número de horas não é possível dar conta das exigências de qualidade necessárias ao ensino. Com isso, foi elaborada uma resolução que institui a obrigatoriedade de 400 horas para a prática de ensino, que diz ser “procedente acrescentar ao tempo mínimo já estabelecido em lei (300 horas) mais um terço (1/3) desta carga, perfazendo um total de 400 horas” (CNE/CP1 28/2001). O Estágio Supervisionado é uma parte importante da relação teoria e prática, tem de ser visto como uma aproximação da realidade da sala de aula e da escola, sendo que esta leva a uma reflexão teórica sobre a prática, sobre tudo o que 1 Conselho Nacional de Educação/Conselho Plano 25 observamos e vivenciamos durante a mesma, propiciando ao futuro professor a oportunidade de fazer uma síntese da teoria e da prática. Mas, faz-se necessário, que se mude a idéia “de que a formação teórica recebida nos primeiros anos da formação inicial é uma espécie de receituário, em que a prática é uma aplicação da teoria” (SOUSA e FERNANDES, 2004, p.92), e ainda, muito se fala ao acadêmico sobre “como deve ser um professor, o que deve fazer, que conteúdos estudar e os métodos para os ensinarem, mas pouco ou nada lhes é dito, por exemplo, acerca do controle e disciplina dos alunos” (SOUSA e FERNANDES, 2004, p.92). Segundo os autores citados acima, existe ainda, uma grande tradição acadêmica, onde a formação é orientada de modo a ter os aspectos e as preocupações pedagógicas em segundo plano. (...) o conflito entre a formação teórica e a dificuldade em se transferir esses conhecimentos para a prática, que é uma das críticas habituais dos professores estagiários e que não deixa de ser um aspecto crítico da formação inicial merecedor de reflexão. (SOUSA e FERNANDES, 2004, p.92). Garcia (2003) nos chama a atenção que as Diretrizes Curriculares indicam que os profissionais formados nos cursos de Matemática devem ter uma visão abrangente do papel social do educador na sociedade; capacidade de compreender, criticar e utilizar novas idéias e tecnologias; participar de programas de formação continuada e trabalhar em equipes multidisciplinares; capacidade de comunicar-se matematicamente e compreender Matemática, de estabelecer relações com outras áreas do conhecimento, de expressar-se com clareza, precisão e objetividade. Estas almejam ainda, a valorização da prática e uma nova visão da prática, durante o curso, vista como lugar, foco e fonte de pesquisa. Tudo isso, conforme Sousa e Fernandes (2004), não ocorre. A formação de professores é bastante teórica em muitas universidades, estando afastada da realidade do ensino básico, dando-se ainda, pouca importância à prática e supervalorizando a teoria. Neste sentido, Ponte (2002) diz que, se se pretende que os novos professores ensinem de acordo com as novas perspectivas curriculares, ou seja, de uma forma viva e desafiante, mais difícil ainda se torna a organização da formação inicial. Na verdade, um ensino desse tipo é cheio de incertezas. Mais importante que 26 saber as competências que devem ter os novos professores, é saber como é que eles as devem adquirir. Os profissionais da educação precisam saber como construir novo conhecimento. Deste modo, a formação de professores pode ser encarada como um processo de indução numa comunidade de prática e de discurso que tem as suas próprias ferramentas, recursos, idéias partilhadas e debates. Mesa (1990) pensa na formação inicial do professor de Matemática como um caminho a ser construído por ele mesmo, que lhe permita integrar, através de sua prática docente, o conhecimento específico da Matemática (a história, os processos, os algoritmos, os conceitos e as aplicações), a Matemática escolar, e as diferentes metodologias para a construção do saber matemático; entender a apropriação e compreensão da Matemática, por parte do sujeito que aprende (processos de meta-aprendizagem dos alunos); e conhecer as relações da Matemática com outros saberes específicos (como os do tipo interdisciplinar, polidisciplinar e transdisciplinar), científicos ou não. Diante disso, a formação inicial de professores deve ser organizada de modo que os futuros professores possam ir adquirindo as competências necessárias ao bom desempenho profissional. Assim, a formação de professores não deve consistir em um treinamento de técnicas e métodos, e sim, na ajuda aos futuros professores no seu desenvolvimento e autonomia profissional. Dessa forma, o professor terá condições de desenvolver suas próprias crenças, concepções, conhecimentos/saberes pedagógicos, matemáticos, sociais e políticos. Contudo, um professor, para exercer adequadamente a sua atividade profissional, tem de ter bons conhecimentos e uma boa relação com a Matemática, de conhecer em profundidade o currículo e ser capaz de recriá-lo de acordo com a sua situação de trabalho. Na sua prática educativa, o professor deve ser capaz de agir e, muitas vezes, de agir em situações de grande pressão. Analisando o que escrevem os autores deste capítulo, podemos afirmar que as competências adquiridas durante a formação inicial do professor são manifestamente insuficientes para o exercício das suas funções ao longo de toda a carreira. Segundo Ponte (1994), o professor está longe de ser um profissional acabado e amadurecido no momento em que recebe a sua habilitação profissional. Por outro lado, o professor de Matemática não pode ser encarado como um mero 27 receptáculo de formação, mas sim, como um ser humano com potencialidades e necessidades diversas, que importa descobrir, valorizar e ajudar a desenvolver. Por esse motivo, um curso de formação inicial de professores de Matemática deve ser necessariamente diferente de um curso que visa formar matemáticos para se dedicarem prioritariamente à investigação. O professor é um profissional em permanente desenvolvimento. Para Saviani (1980), é preciso pensar numa educação que objetive trabalhar o senso comum de modo a extrair o seu núcleo válido e dar-lhe expressão elaborada com vistas à formulação de uma concepção de mundo adequada aos interesses populares. De acordo com Ponte (1995), se a formação não preparar o jovem professor para se inserir nas escolas que existem, com os seus alunos e as suas culturas profissionais, corre o sério risco de formar profissionais que não conseguem se adaptar, professores que, ao assumirem funções, se sentem completamente deslocados e inaptos para desempenhar o seu papel. Muitos deles podem mesmo abandonar o ensino. Se a formação não prepara os novos docentes para a mudança educativa e social, assume-se como mais uma força conservadora e, no fundo, complacente com os problemas existentes. Na formação inicial, a inexistência de uma prática que proporcione a possibilidade de formular objetivos de intervenção prática imediata e vivências diretas de reflexão torna-se um problema. É preciso formar professores que reflitam sobre a própria prática educativa, sendo que esta reflexão propiciará um enorme crescimento intelectual dos mesmos, sendo que este é hoje, um requisito fundamental para as transformações que se fazem necessárias na educação. A formação é aqui entendida como processo contínuo e permanente de desenvolvimento, o que pede do professor disponibilidade para a aprendizagem. 3.2 Concepções e crenças dos professores com relação à Matemática e o seu ensino 28 A Matemática é uma ciência muito antiga, faz parte das matérias escolares e é ensinada como caráter obrigatório há muito tempo, tem um importante papel de seleção social, provoca medos e admirações, sendo assim, difícil não existir concepções. Nos estudos de Ponte (1995), o professor, no início dos anos oitenta, tornou-se cada vez mais o centro das atenções dos investigadores e começa a ser visto como tendo crenças e concepções que determinam, ou pelo menos influenciam decisivamente, a forma como desempenha as suas tarefas. Cury (2001) observou que alguns professores apresentam uma grande diferença entre as concepções e crenças sobre a Matemática e o seu discurso frente à comunidade Matemática e aos próprios alunos. Conforme a autora, os professores não têm clareza de suas próprias concepções embora elas norteiem a sua prática pedagógica. Da mesma forma, Becker (1993) acredita que além deste fator, existe um outro a ser considerado: a falta de consciência e clareza de suas próprias concepções filosóficas e epistemológicas. Ponte (1992) discute a necessidade que o professor tem das concepções e das crenças, que dão sentido ao conhecimento. Concordando com Thompson (1992), Ponte assume que ambas têm um caráter cognitivo, mas diferentemente de Thompson, Ponte detém-se no fato de que as crenças não têm sustentação na realidade empírica, apesar de derivarem do conhecimento. Para ele as crenças configuram-se de forma pouco elaborada, fantasiosa, ao contrário das concepções, que tem uma natureza essencialmente cognitiva. Atuam como uma espécie de filtro. Por um lado, são indispensáveis, pois estruturam o sentido que damos às coisas. Por outro lado, atuam como elemento bloqueador em relação a novas realidades ou a certos problemas, limitando as nossas possibilidades de atuação e compreensão. De acordo mútuo com Ponte, Rico et al (2002) considera as concepções como “miniteorias” do conceito, os elementos organizadores subentendidos deste. As concepções estão estreitamente ligadas com a prática, uma vez que por um lado elas apontam caminhos e fundamentam as decisões, por outro lado, a prática faz com que apareçam concepções para enquadrar as atitudes tomadas. Dessa forma, concepções e práticas interferem uma na outra. 29 O trabalho original de Alba Thompson (1982) constituiu a primeira investigação importante neste sentido. Segundo ela, muitas das concepções e crenças manifestadas pelos professores acerca do ensino pareceram ter mais a ver com uma adesão a um conjunto de doutrinas abstratas do que com uma teoria pedagógica operatória. Para alguns professores, as idéias que têm acerca dos seus alunos e da dinâmica social e emocional da sala de aula (em especial no que se refere aos problemas disciplinares), parecem ter prioridade sobre as suas perspectivas mais específicas sobre o ensino da Matemática. A autora concluiu que a relação entre as concepções e as decisões e ações do professor não é simples, mas complexa. No entanto, considera que o seu estudo suporta a idéia de que as concepções (conscientes ou inconscientes) acerca da Matemática e do seu ensino desempenham um papel significativo na determinação do estilo de ensino de cada professor. Para Thompson (1992), o ensino da Matemática está impregnado pelas crenças e concepções dos professores. Se os padrões de comportamento dos professores são em função de seus pontos de vista, crenças e preferências sobre o conteúdo e seu ensino, então qualquer esforço para melhorar a qualidade do ensino de Matemática deve começar por em compreender as concepções sustentadas pelos professores e pelo modo como estas estão relacionadas com sua prática pedagógica. (THOMPSON, 1997, p.14). Neste sentido, Ponte (1998) afirma que o conhecimento profissional é formado pelas crenças, concepções e mitos que se acumulam durante a experiência profissional do docente, passando por diversas elaborações, tendo sempre um caráter implícito. O mesmo autor, em (1992) já tinha a opinião de que as nossas concepções sobre a Matemática são influenciadas pelas nossas experiências individuais, e também pelas representações sociais dominantes. Neste processo, individual (como resultado da elaboração sobre a nossa experiência) e social (como resultado do confronto das nossas elaborações com as dos outros) as concepções se desenvolvem. Dessa forma, as concepções influenciam as práticas, no sentido em que apontam caminhos, fundamentam decisões, entre outros. Por seu lado, as práticas, que são condicionadas por um grande número de fatores, levam naturalmente à 30 geração de concepções que com elas sejam compatíveis e que possam servir para enquadrá-las conceitualmente. As concepções, crenças, idéias, pensamentos, visões e/ou saberes vem sendo gerado pelos futuros professores de Matemática, de forma consciente ou inconsciente a partir de um resumo de suas vivências, experiências e conhecimentos adquiridos através de sua formação profissional atuante em sala de aula e sua formação inicial. O professor constrói essas opiniões em relação ao conhecimento matemático e à sociedade. Isso implica diretamente no processo do ensino que ele desenvolve, e se manifesta claramente no processo de aprendizagem dos seus alunos. Fiorentini et al (1999), acredita que este processo se converte em autênticos saberes empíricos e em elemento fundamental da prática pedagógica do professor, baseando-se da sua formação inicial, das vivências cotidianas e de seu sentir como aluno perante os processos de sua própria formação (passada e presente), das experiências profissionais, as quais resultam da prática pedagógica ou do trabalho docente. O mesmo autor, em (1995), já pensava que a concepção de conhecimento dos professores se revela como um dos vários elementos que interferem em sua prática. Para o professor, é fundamental saber como se dá o conhecimento, a fim de melhor saber como interagir com o aluno, buscando meios de favorecer seu desenvolvimento e construção do conhecimento. Dessa forma, o professor não apenas constrói sua experiência profissional, mas, também, problematiza, forma um novo significado e reconstitui seu próprio pensar a respeito das concepções. Assim, o professor tentará promover mudanças em seu trabalho docente, produzindo, deste modo, novos significados e saberes profissionais. Segundo Ponte (1994), vários fatores estão relacionados nesse processo educacional. A título de exemplo, podemos citar os fatores econômicos, sociais e familiares no qual estão inseridos os educandos. No entanto, destaca-se a importância do professor nesse ato educacional. O professor é hoje visto como um elemento-chave do processo de ensinoaprendizagem. Sem a sua participação empenhada é impossível imaginar qualquer transformação significativa no sistema educativo, cujos problemas, de resto, não cessam de se agravar. (PONTE, 1994, p.01). 31 Por isso, faz-se necessário, que os professores identifiquem e analisem as concepções que, implicitamente, norteiam suas atividades; antes mesmo de refletir sobre “como ensinar” (método) e o “que” (conteúdo) é ensinado em sala de aula, pois são elas que limitarão ou possibilitarão a construção do conhecimento nos educandos, e até mesmo, determinadas posturas e atitudes dos professores frente ao conhecimento a ser transmitido. Refletindo sobre os estudos de Ponte (1992), o problema da natureza do conhecimento não parece passível de uma solução definitiva. Cada uma das abordagens tem os seus méritos e as suas insuficiências. Cada uma poderá dar contribuições positivas em domínios restritos da atividade educativa. Em todo o conhecimento intervêm necessariamente crenças. Carvalho (1989) afirmou que em toda e qualquer prática pedagógica do educador, estaria subjacente (consciente ou inconsciente) uma concepção de conhecimento; mesmo que para a grande maioria desses profissionais da educação haja um distanciamento sobre as questões de natureza epistemológica. D’Ambrósio (2003) define conhecimento como um fundamento da ação comportamental ou simplesmente do comportamento que é essência do estar vivo. Afirma que o conhecimento seria gerador do saber, e este saber seria decisivo para a ação. Segundo este autor, é no comportamento, na prática, no fazer que se avalia, redefine e reconstrói o conhecimento. Ponte (1992) distingue quatro tipos de conhecimento, intimamente interrelacionados: (a) O descritivo, envolvendo conceitos e imagens. (b) O proposicional ou argumentativo, envolvendo cadeias de raciocínios. (c) O ativo e processual, o saber fazer, as regras de ação. (d) O controle, a metacognição e a reflexão. Faz-se mister, que o professor tenha um mínimo de consciência sobre o significado do que seja conhecimento, para que desta forma, o mesmo possa estabelecer o ensino de forma coerente e assegurar significativamente a aprendizagem dos educandos. (MACHADO, 2002, p.15). Na prática tradicional do ensino da Matemática têm-se valorizado muito o aspecto processual do conhecimento, as expensas dos outros aspectos. No 32 Movimento da Matemática Moderna (MMM), buscou-se salientar, sobretudo os aspectos descritivos e preposicionais (através da imposição de uma linguagem mais formalizada, e valorizando o papel das estruturas algébricas mais abstratas), mas sem muito êxito. Uma boa teoria educativa deverá ser capaz de explicar as relações que existem entre estes diferentes tipos de conhecimento e como se desenvolve cada um deles. Ponte (2002), afirma que sobre a natureza da Matemática têm sido propostas diversas teorias, incluindo a logicista, a intucionista, a formalista, a platônica, e a falibilista, cada uma delas associada a uma dada concepção acerca desta ciência. Estas teorias, que constituem as grandes escolas da Filosofia da Matemática, pretendiam resolver o problema de como é que a Matemática “deveria ser” para atingir os almejados objetivos de perfeição (seja a garantia da verdade, da certeza, ou mais modestamente da consistência). Para Vanconcellos (1994), cada professor tem uma maneira de organizar e sistematizar o conteúdo. Essa maneira particular de lidar com o tratamento da informação possui relações estreitas com a forma de como os professores concebem suas concepções, ou seja, seu conhecimento matemático. Ponte (1988) diz que a Matemática é uma ciência em permanente evolução, com um processo de desenvolvimento ligado a muitas atribulações, dilemas e contradições. Pode ser encarada como um corpo de conhecimento, constituído por um conjunto de teorias bem determinadas (perspectiva da Matemática como “produto”) ou como uma atividade (constituída por um conjunto de processos característicos). Pode-se ainda argumentar que tanto o produto como o processo são igualmente importantes, e só fazem sentido se equacionados em conjunto. Será impossível nesse caso explicar a alguém o que é a Matemática sem apresentar um exemplo em que simultaneamente se usem os seus processos próprios e se ilustre com conceitos de uma das suas teorias. Refletindo os estudos de Ponte (1992), podemos enunciar quatro características fundamentais do conhecimento matemático: • A formalização segundo uma lógica bem definida. • A verificabilidade, que permite estabelecer consensos acerca da validade de cada resultado. 33 • A universalidade, isto é, o seu caráter transcultural e a possibilidade de aplicá-lo aos mais diversos fenômenos e situações. • A generatividade, ou seja, a possibilidade de levar à descoberta de coisas novas. Conforme Pólya (1981), no ensino de Matemática há uma tendência permanente para resvalar para uma formalização prematura. Uma alternativa é apresentar uma Matemática tão desformalizada quanto possível. Outra é reconhecer a formalização como inevitável, mas procurar encontrar formas de torná-la acessível aos alunos. Da mesma forma, Abrantes (1986) estudou as concepções sobre quais os objetivos porque se ensina Matemática, considerando um modelo teórico que envolvia três categorias de finalidades: (a) as que diziam respeito à relação Matemática com a sociedade (variando entre uma ênfase substantiva e uma ênfase cultural), (b) as que se referiam à relação da Matemática com o aluno (variando entre um papel receptivo e um papel criador), e (c) as respeitantes à Matemática encarada em si mesma (variando numa dimensão do dedutivo ao indutivo). Este autor concluiu que os professores efetivos desta disciplina manifestavam uma tendência para valorizar mais os seus aspectos lógicos, formais e dedutivos, dando pouco relevo às aplicações e desvalorizando as finalidades associadas a um papel ativo e criador dos alunos. Baseadas nas conceituações apresentadas por Canavarro (1994) e Ponte (1992) sobre concepções, Moron e Brito (2001) definiram as concepções como sendo a maneira própria que cada indivíduo tem de elaborar, interpretar, representar suas idéias e agir de acordo com as mesmas. É construída das experiências individuais que são influenciadas por uma série de variáveis do ambiente, conhecimentos, experiência prática e componente emocional. Estas concepções, na maioria das vezes, têm origem essencialmente na sua formação inicial. A vivência muito limitada de experiências Matemáticas significativas na sua atividade profissional faz com que o professor não se sinta na realidade nem um matemático nem um engenheiro e dificultam a aplicação destas metáforas ao processo de ensino-aprendizagem. Os profissionais da educação necessitam ter clareza das diversas crenças e concepções que podem assumir o conhecimento. Além disso, devem saber que 34 embora estejam inter-relacionadas, as diferentes abordagens sobre o conhecimento, apresentam diferenças qualitativas e significativas entre a informação propriamente dita do conhecimento e do saber. Torna-se fundamental, portanto, olhares mais profundos e investigativos sobre a relação que se estabelece no processo de ensino-aprendizagem dos professores de Matemática, em especial daqueles que estão no início de sua formação. 35 4 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONSTITUIÇÃO E SIGNIFICADOS 4.1 Educação Matemática: Constituição A Educação Matemática no Brasil, atualmente, representa uma área de pesquisa emergente envolvendo professores dos diversos níveis educacionais. Nas últimas décadas, observou-se um aumento quantitativo e qualitativo de centros de pós-graduação nessa área, o que contribui para promover essas pesquisas. Segundo Fiorentini (2003), é comum chamar o professor de Matemática, de matemático. Contudo o autor afirma que há diferença entre eles, ou seja, enquanto o matemático promove uma educação para a Matemática – priorizando os conteúdos formais – o educador matemático concebe a Matemática como meio a formação de crianças, jovens, adultos e acadêmicos das licenciaturas, professores de Matemática do Ensino Fundamental e Médio, promovendo uma educação pela Matemática. Para Fiorentini (2003, p. 6), é possível dizer que “a Educação Matemática é uma área de conhecimento das Ciências Sociais, que estuda o ensino e a aprendizagem da Matemática”. Está diretamente relacionada com a Filosofia, com a Matemática, com a Psicologia e com a Sociologia, entretanto a História, a Antropologia, a Semiótica, a Economia e a Epistemologia têm também prestado sua colaboração. Assim, somente a experiência de magistério e o conhecimento de Matemática não garantem competência ao profissional que trabalha com Educação Matemática. Desde então, o objeto de estudo da Educação Matemática, envolve as múltiplas relações entre ensino, aprendizagem e conhecimento matemático. A partir disso, Fiorentini (2003), nos diz que a Educação Matemática não aparece somente no campo profissional, mas numa área de conhecimento, representando um campo de trabalho não apenas universitário, mas podendo ser 36 exercido por professores da Educação Fundamental e Média. É uma área de pesquisa teórica, de atuação prática e ao mesmo tempo ciência, arte e prática. O esforço empreendido para viabilizar a Educação Matemática como área autônoma é relativamente jovem, quando comparado com a história milenar da Matemática. O desenvolvimento da Educação Matemática recebeu um grande impulso, nas últimas décadas, dando origem a várias tendências teóricas, cada qual valorizando determinadas temáticas educacionais do ensino de Matemática (Fiorentini, 1995). A esse respeito, Ubiratan D’Ambrosio (1999, p. 5), em entrevista à Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM), diz que [...] a Educação Matemática teve um grande impulso no início do século, em 1908, com Felix Klein e a fundação da Comissão Internacional de Instrução Matemática [ICMI]. O Brasil participou desse processo, com a presença de Eugênio Raja Gabaglia naquele evento. Isso teve influência na evolução da Educação Matemática no Brasil. Mas, no Brasil e no resto do mundo, a Educação Matemática foi encarada como ensinar bem (isto é, ter boa didática) a Matemática que constava dos programas (isto é, conhecer bem o conteúdo) e verificar se o aluno aprendeu bem esse conteúdo (isto é, aplicar exames rigorosos). Lamentavelmente, essa percepção ainda encontra adeptos, no Brasil e no resto do mundo. Segundo Fiorentini (1994), a Educação Matemática Brasileira, enquanto campo profissional e área de investigação percorreu quatro fases de desenvolvimento. São elas: • A fase de gestação do campo profissional que começou a partir do início deste século e se prolongou até o final dos anos 60. • A fase do nascimento do ensino e da pesquisa que foi do início da década de 70 aos primeiros anos da década de 80; • A fase de surgimento de uma comunidade nacional de ensino e de pesquisa marcada pela fundação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, no período de 1983 a 1990; • A fase da emergência de uma comunidade científica de pesquisadores em Educação Matemática que se caracterizou pelo fortalecimento das pesquisas em Educação Matemática e a criação das linhas de pesquisa, iniciada nos primeiros anos da década de 90, permanecendo até os nossos dias. Sem dúvida, a preocupação mundial com a Educação Matemática passa a ganhar relevância a partir da década de 60 com a criação do CIAEM (Comitê 37 Interamericano de Educação Matemática) e a recriação do ICMI (International Comittee of Mathematical Instruction). Em 1979, a organização da 5ª Conferência Interamericana de Educação Matemática ficou ao encargo dos professores Omar Catunda (presidente honorário) e Ubiratan D´Ambrosio (presidente). Só mais recentemente, na década de oitenta, com a participação mais intensa de países do terceiro mundo, com o enfoque se deslocando da abordagem estritamente ligada a aspectos de técnicas de ensino para um enfoque mais ampliado, compreendendo o papel decisivo das formações histórico-culturais é que a Educação Matemática ganhou a face que tem hoje. Portanto, conforme Petronzelli (2002), o sentido ampliado da Educação Matemática tem apenas cerca de vinte e quatro anos. No Brasil, a Educação Matemática é uma área de conhecimento que se vem consolidando cada vez mais, atraindo pesquisadores, estudiosos, formando educadores matemáticos, influenciando diretamente na produção de trabalhos e pesquisas em várias áreas de desenvolvimento da Matemática. O GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática) criado na Universidade de Santa Úrsula no Rio de Janeiro era a única referência que tínhamos em Educação Matemática, antes da década de 80. O surgimento da Educação Matemática no Brasil teve início a partir do Movimento da Matemática Moderna, mais precisamente no final dos anos 70 e durante a década de 80. A década de 80 foi extremamente significativa para a Educação Matemática no país. As preocupações com a área se institucionalizaram. Em 1980 a FUNBEC – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências cria a Revista de Ensino de Ciências; em 1982, a SBM – Sociedade Brasileira de Matemática cria a RPM – Revista do Professor de Matemática, uma iniciativa tímida se pensarmos em Educação Matemática, mas significativa em termos de preocupação com o ensino da Matemática nos 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Em 1984 iniciam-se as aulas do Mestrado em Educação Matemática na UNESP – Universidade Estadual Paulista. A SBEM – Sociedade Brasileira de Educação Matemática é fundada em 1988 em Maringá, no estado do Paraná. Consideramos que todos esses fatos apontam para uma efetiva preocupação com o ensino e a aprendizagem da Matemática nos seus múltiplos aspectos. (JESUS, 2002). 38 Recentemente, os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Matemática no Ensino Fundamental constituem uma forte evidência da influência dos estudos no campo da Educação Matemática, desenvolvidos nos últimos anos. Esse campo incorpora, de tempos em tempos, alguns componentes novos que visam, em uma primeira instância, fornecer instrumentos metodológicos que possam ser utilizados pelo professor de Matemática em suas atividades didáticas. Estes instrumentos são introduzidos através de, inicialmente, uma reflexão teórica metodológica e são divulgados sob o ponto de vista de propostas didático – pedagógicas. Para Micotti (1999), a orientação pedagógica tem um papel fundamental no processo ensino-aprendizagem. Ela afirma que: O ensino compreende informação, conhecimento e saber, mas a orientação pedagógica, seguida nas aulas, determina o tratamento que será dado a cada um desses elementos e às relações entre eles. A escola tradicional, por exemplo, privilegia as suas exposições – a apresentação de informações – o que nem sempre assegura o acesso ao saber. As novas orientações pedagógicas acentuam a importância da construção do conhecimento, das elaborações pessoais dos estudantes para o acesso ao saber. (MICOTTI, 1999, p. 156). Nesse sentido, numa perspectiva construtivista, o aluno, considerado como sujeito do processo de ensino-aprendizagem, teria papel ativo em contraposição à passividade característica do ensino tradicional, particularmente de Matemática. Conforme Piaget (1980), a idéia de construção pressupõe que, quem ensina saiba lidar com as potencialidades e, ao mesmo tempo, com as limitações do aluno, compreendendo seus “erros” na medida em que o conhecimento se constrói juntamente com o próprio sujeito epistêmico. Esse conhecimento, na ótica da Educação Matemática, não pode se restringir à conformação do já produzido, mas precisa abranger a geração do novo. A concepção da Matemática reclama por análise crítica reflexiva na busca de abordagens que transcendam as tradicionais filosofias absolutistas da Matemática. Na atualidade a Educação Matemática adquire seu significado de acordo com o referencial teórico a seguir. 39 4.2 Educação Matemática: Significados Bertoni (1998) caracteriza a área de Educação Matemática, com seus profissionais e suas atividades da seguinte maneira: A área de Educação Matemática é uma área interdisciplinar. Seu foco principal é o papel da Matemática na formação dos indivíduos e os meios para se conseguir essa formação, dentro e fora da escola. Entrelaçam-se aí, entre outros, conhecimentos filosóficos, sociológicos, históricos, matemáticos, psicológicos, pedagógicos. Resulta que os profissionais dessa área têm diferentes áreas de formação básica, mas sua produção, ou atividade em Educação Matemática, reveste-se de um caráter multi ou interdisciplinar. (BERTONI, 1998, p.114). Destaca-se também o fato de a Educação Matemática adotar o enfoque sociocultural, uma preocupação com a contextualização do ensino de Matemática, como uma tendência que se tem firmado nos últimos anos, constituindo-se em um dos seus pontos básicos. Moisés (1997) considera a Educação Matemática como uma área autônoma de pesquisa em educação. Afirma também que a Educação Matemática é um campo em franca expansão em níveis internacionais. Congrega em torno de si um grupo de pesquisadores ativos e participantes, que fazem um intenso trabalho de produção e divulgação de conhecimento: promovem eventos, publicam periódicos, mantêm cursos de pós-graduação etc. Para D´Ambrosio (1996), a Educação Matemática poderia ser caracterizada como uma atividade multidisciplinar, que se pratica com um objetivo geral bem específico que é o de transmitir conhecimentos e habilidades Matemáticas através dos sistemas educativos. (....) Isto nos conduz a atribuir à Matemática o caráter de uma atividade inerente ao ser humano, praticada com plena espontaneidade, resultante de seu ambiente sociocultural e consequentemente determinada pela realidade material na qual o indivíduo está inserido. Portanto, a Educação Matemática é uma atividade social muito específica, visando o aprimoramento dessa atividade. (D´AMBROSIO,1996, p.35-36). Embora ainda em construção, poderíamos dizer que o objeto de estudo da Educação Matemática consiste nas múltiplas relações e determinações entre o ensino, aprendizagem e conhecimento matemático. Isso não significa que uma determinada investigação não possa priorizar o estudo de um desses elementos da 40 tríade, ou de uma dessas relações. Mas, ao mesmo tempo em que isso acontece, os outros elementos jamais podem ser totalmente ignorados. (LORENZATO e FIORENTINI, 1999). Seus dois principais objetivos contemplam a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem em sala de aula e o desenvolvimento da Educação Matemática como campo de investigação. No campo da pesquisa em Educação Matemática, a maioria dos problemas que deram origem a projetos de investigação é decorrente dos objetivos mencionados, ou seja, perguntas que surgem diretamente da prática de ensino, aquelas geradas a partir da investigação, estudos precedentes ou, ainda, da própria literatura da área. Constata-se assim a existência de um considerável movimento educacional, em plena evolução que trabalha na estruturação de um saber pedagógico voltado para o ensino da Matemática. A justificativa para a defesa social desse desenvolvimento se intensifica em face da necessidade de responder aos desafios de uma crise generalizada que atinge toda a educação escolar e, nesse sentido, não se trata de um problema localizado no que se refere somente ao ensino da Matemática. De uma forma geral, há um descontentamento com o ensino da Matemática em todos os níveis de escolaridade; o seu significado real e a sua função no currículo escolar passam a ser questionados e pesquisados de uma forma bem mais consciente e contextualizada. Apesar do empenho de muitos professores com o processo de ensino e aprendizagem da Matemática no contexto de Educação Matemática, o que se observa ainda, é a prática da Matemática com métodos de ensino inadequados, a pouca relação entre a ciência da escola com as necessidades cotidianas e outros. D´Ambrosio (2001, p. 16) afirma que, “a sociedade está mudando, as crianças estão mudando, o conhecimento está mudando. Não há como ser conservador com a Educação Matemática”. A Matemática nas escolas deve servir também como fator de progresso social, de liberação individual e política para a vida e para o trabalho, promovendo a capacidade para lidar com situações novas e reais que possam surgir. Formar para a cidadania significa que o aluno/indivíduo aprende a fazer suas escolhas, é 41 consciente e ativo nos seus direitos – individuais e coletivos – através de instituições criadas de forma democrática e pública. O processo para a formação da cidadania é ininterrupto e está na raiz da construção da sociedade. Para termos uma sociedade mais justa, sem o homem explorando o seu semelhante, tem-se que pensar em um novo papel para a educação científica na formação de uma geração de indivíduos atuantes em suas sociedades. A Matemática é reconhecida pela sua importância por todos os governos, em todos os graus de instrução. A relevância da Matemática, acrescida das demais disciplinas das grades escolares deve restabelecer o enfoque humanístico à educação geral – Matemática para todos. Tomando por base o estudo de Kilpatrick (1992), poderíamos destacar pelo menos três determinantes para o surgimento da Educação Matemática enquanto campo profissional e científico. O primeiro é atribuído à preocupação dos próprios matemáticos e de professores de Matemática sobre a qualidade da divulgação e socialização das idéias Matemáticas às novas gerações. Essa preocupação dizia respeito tanto à melhoria de suas aulas quanto à atualização e modernização do currículo escolar da Matemática. De acordo com Schubring (1999), a Matemática foi a primeira das disciplinas escolares a deflagrar um movimento internacional de reformulação curricular. Este movimento aconteceu a partir da Alemanha, no início do século XX, sob a liderança do matemático Felix Klein. O segundo fato é atribuído à iniciativa das universidades européias, no final do século XIX, em promover formalmente a formação de professores secundários. Isso contribuiu para o surgimento de especialistas universitários em ensino de Matemática. O terceiro fato diz respeito aos estudos experimentais realizados por psicólogos americanos e europeus, desde o início do século XX, sobre o modo de como as crianças aprendiam a Matemática. Não obstante, D´Ambrósio (1993) destaca que, internacionalmente, as pesquisas em Educação Matemática atingiram o seu auge somente em meados dos anos 1950 e 1960, a partir do Movimento da Matemática Moderna. Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 5) incluíram recentemente a Educação Matemática na área do conhecimento das ciências sociais ou humanas, com foco de estudo o ensino e a aprendizagem da Matemática. Por isso, requer o domínio tanto do conteúdo matemático quanto de “idéias e processos pedagógicos relacionados à 42 transmissão/assimilação e/ou à apropriação/construção do saber matemático escolar”. Dessa forma, inter-relaciona alguns campos científicos como: Matemática, psicologia, sociologia, pedagogia, epistemologia, ciências cognitivas, semiótica, entre outras. Skovsmose (2001) adere a uma concepção de Educação Matemática Crítica, movimento surgido na década de 80, cujas idéias e preocupações fundamentais são os aspectos políticos da educação Matemática, que tem como ponto central do seu debate o tema ‘poder’. O objetivo é levar os estudantes a interpretar a realidade, com condições de se organizarem para intervir no contexto social, com vistas à transformação no modo de pensar a estrutura social vigente. “Educação Matemática envolve idéias e significados diferentes e até mesmo incoerentes”. (SKOVSMOSE, 2001, p. 20). Relacionados aos princípios filosóficos e pedagógicos de ensino, o autor distingue três alternativas em Educação Matemática: estruturalismo, pragmatismo e orientação ao processo, e mostra as contradições existentes entre eles. De acordo com Cury (2004), a Educação Matemática é crítica quando traz à tona a postura daqueles que pensam e fazem o ensino da Matemática, em relação à sociedade em que vivem e àquela idealizada como melhor. D´Ambrósio (1996) da mesma forma, apóia-se na crença de que a compreensão da realidade se reverte numa valiosa ferramenta nas mãos dos alunos na busca de uma sociedade mais justa para todos. O autor idealiza a Educação Matemática em seu aspecto político e sociocultural. Contudo, tal percepção não pode ser adquirida somente com conhecimentos matemáticos científicos hegemônicos determinados pela cultura ocidental eurocêntrica. Por isso, propõe o programa EtnoMatemática voltado às práticas do homem comum, das comunidades, dos rejeitados, das minorias e dos povos que foram vencidos pela colonização. Explorar situações-problema do cotidiano dos alunos significa, para os etnomatemáticos, uma forma de ensinar, ampliar e aprimorar o conhecimento matemático, fortalecendo a identidade cultural dos indivíduos como seres autônomos e reflexivos. Giardinetto (2002), opondo-se às idéias de D´Ambrósio (1996), aceita a universalidade do saber matemático, comparando-o a um fio condutor que está implícito ao processo e à sistematização do conhecimento matemático 43 historicamente acumulado. “A dimensão educativa possível é a socialização daquilo que diferentes contextos produziram através de um núcleo em comum”. (GIARDINETTO, 2002, p.8). Este autor considera Educação Matemática como sinônimo de Educação Escolar Matemática. Desta forma, o termo refere-se ao processo ensinoaprendizagem da Matemática, ou seja, ao ato pedagógico de socialização do saber matemático sistematizado. Defende o uso do termo Ensino de Matemática ao invés de Educação Matemática, visto que na língua portuguesa o termo educação significa um processo amplo em que se percebe a educação formal, diga-se a “educação escolar”. Para Floriani (2000), a Educação Matemática tem como tarefa, conduzir os estudos sobre o processo de construção do conhecimento matemático tomando como pressuposto que a Matemática advém da prática social, ou seja, da atividade econômica, política e social de determinada época. Para este autor, a Educação Matemática é uma disciplina ainda em construção. A Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (1998), enfatiza que Educação Matemática é uma postura político-ideológica de quem se propõe a ensinar Matemática, o que implica na compreensão de que todos têm o direito de se apropriar do conhecimento matemático sistematizado. Tal entendimento só tem razão de ser se os alunos forem considerados como sujeitos humanos, portanto, inseridos num contexto histórico com realidade social definida. Afirma, além disso, que a Educação Matemática sugere a produção de métodos adequados para o processo de apropriação de conteúdos matemáticos, com base em subsídios extraídos do contexto da Matemática, em outras ciências voltadas à educação e na realidade social. Miguel (2003) entende a Educação Matemática tanto no aspecto didáticopedagógico quanto no seu objeto de pesquisa: (...) quando falo em educação Matemática (...), estou me reportando ao conjunto de práticas sociais, do presente ou do passado, institucionalizadas ou não, que objetivaram, direta ou indiretamente, colocar intencionalmente em circulação a cultura Matemática socialmente produzida e/ou investigar, sob qualquer aspecto e sob qualquer forma, esse processo de circulação. (MIGUEL, 2003, p.26). 44 Segundo Carvalho (1998), traz consigo uma estrutura de atividades e de estudo com as quais se deparam os pesquisadores. Educação Matemática significa o estudo de um conjunto de fatores que influenciam direta ou indiretamente os processos de ensino-aprendizagem em Matemática e atuação sobre estes fatores. Por conseguinte, a Educação Matemática se constitui num campo de ensino e de pesquisa com saberes típicos. Devido a sua recente história, ainda deixa margem a perplexidade quanto a sua identidade, seus domínios, suas fronteiras, seus objetivos de pesquisa e a definição do educador matemático. 45 5 METODOLOGIA Neste capítulo procuramos descrever e delinear o percurso metodológico, ou seja, os métodos, as ações e análises que seguimos para desenvolver nosso estudo e atingir os propósitos desta pesquisa. 5.1 Os sujeitos da pesquisa, características da escola e diagnostico da realidade Para a aplicação da pesquisa entramos em contato com a direção da Escola de Educação Básica Salete Scotti dos Santos, que nos recebeu e oportunizou contato com as professoras do Ensino Fundamental e Médio. Os sujeitos da pesquisa são sete professores de Matemática, entre ACT´s e efetivos. Ao contatarmos com as professoras, explicamos que a pesquisa seria realizada por meio de questionários, enfatizando que esses resultariam num documento escrito, na qual seria respeitado o anonimato dos participantes. A maioria dos professores possui habilitação superior, além de especialização na área. Os professores, com frequência, participam de cursos de capacitação com objetivo de aperfeiçoar sua prática pedagógica. A filosofia da escola baseia-se na teoria histórico cultural, pretendendo desenvolver uma educação que introduz o indivíduo na atividade histórico e social de sua época, possibilitando-lhe conhecer e relacionar-se com essa realidade na qual está inserido. Dessa forma, busca socialização do educando de forma consciente e crítica, levando-os a compreenderem a realidade cultural, social e política afim de que se torne capaz de participar do processo de construção da sociedade. O objetivo geral da escola é elaborado através do Projeto Político Pedagógico da rede a qual pertence, adequando a realidade da instituição escolar. O planejamento da escola é feito no início do ano e complementado ao longo do ano letivo nas reuniões pedagógicas que são feitas mensalmente. Nestes 46 encontros também são elaborados pelos professores os projetos desenvolvidos na escola. Entre professor e aluno há um ótimo relacionamento. Os alunos se respeitam e são muito participativos. Existe a participação da maioria dos pais, o que torna o trabalho do professor mais gratificante. A direção e os professores em geral têm grande preocupação com os conteúdos que são ministrados na escola. Existe a preocupação com a prática pedagógica para que os conceitos não sejam trabalhados de forma solta, fragmentada e sim que apresentem uma visão do todo, visto que sem este entendimento a aprendizagem não acontece como deveria, ou seja, de uma forma significativa. 5.2 Métodos da pesquisa A pesquisa é a maior finalidade da ciência sendo a metodologia uma preocupação instrumental, pois trata das formas de se fazer ciência, cuidando dos procedimentos, formas e caminhos, captando e manipulando a realidade assim como ela é. (DEMO, 1987). Neste sentido, para este estudo, elegemos a pesquisa qualitativa e quantitativa de natureza aplicada. Minayo (1998) afirma que este tipo de abordagem científica responde a questões muito particulares e se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Como forma de pesquisa quantitativa, utilizamos o método de Survey2, do qual utiliza o parâmetro estatístico, para analisar e quantificar os dados coletados em relação aos objetivos propostos. 2 O método de Survey significa a coleta de dados por meio de questionários, entrevistas, cuja finalidade é estudar o objeto em estudo e analisá-lo de forma quantitativa, ou seja, estatisticamente. 47 Admitindo as duas modalidades de pesquisa qualitativa e quantitativa, adotamos o tipo de pesquisa descritiva, visto que por meio de questionários, descrevemos algumas das características, relacionadas ao problema. 5.3 Obtenção dos dados A coleta dos dados da presente pesquisa foi feita exclusivamente pela pesquisadora. Os questionários foram aplicados na primeira quinzena de Outubro de 2008. Para a realização da pesquisa foi aplicado um questionário para os sete professores que aceitaram fazer parte da pesquisa. As questões do questionário eram direcionadas para a formação inicial dos professores, enfatizando características e dados relevantes deste processo de formação. 5.4 Tratamento dos dados A partir do momento que se estava com os questionários em mãos, foi iniciado o procedimento de análise. A análise dos dados obtidos por meio dos questionários dos professores foi feita de forma quali-quantitativa. Depois disso, procurou-se fazer a aproximação entre os discursos obtidos, com o referencial teórico em questão comparando-os a fim de compreender os encontros e desencontros acerca do nível de satisfação destes professores com relação a sua formação inicial e chegar a uma consideração final. 48 6 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA Envolveram-se neste projeto de pesquisa em Formação Inicial, sete professores na área de Matemática da Escola de Educação Básica Salete Scotti dos Santos, localizada em Içara/SC. A pesquisa foi realizada através de um questionário entregue aos professores individualmente. A opção para a elaboração do projeto nesta unidade escolar, deve-se pelo fato de ser ele o maior colégio Estadual do Município e por ter sido nele, que conclui meus estudos antes de ingressar na universidade. Dos professores que responderam o questionário cinco concluíram sua formação inicial na universidade A, um professor concluiu na universidade B e um professor na universidade C. Três professores concluíram o curso de graduação entre os anos de 2002 e 2005, um professor a 15 anos atrás e os outros três professores entre 23 e 30 anos atrás. Quando questionados de que forma participava das atividades desenvolvidas pela universidade na área do seu curso (seminários, palestras, projetos, etc.) as respostas foram as seguintes: Professor 1: “Seminários, cursos de aperfeiçoamento e projetos”. Professor 2: “Projetos/Feiras”. Professor 3: “Na modalidade de ouvinte”. Professor 4: “Viagem de estudo, na área de ciências. Matemática pouca prática fora da sala de aula”. Professor 5: “Atividades bastante diversificadas oferecidas aos acadêmicos”. Professor 6: “Como ouvinte”. Professor 7: “Atividades em sala de aula, palestras. Semana de debates científicos com palestras, projetos, etc”. (Fonte: dados da pesquisa). Observamos aqui que a maioria dos professores participava das atividades oferecidas pela universidade aos acadêmicos. Dois dos professores entrevistados participavam apenas como ouvintes, o que torna provável que a universidade, talvez, não abria espaço para todos os acadêmicos do campus. Porém, a falta de interesse em se aperfeiçoar também não pode ser descartada. Ponte (1995) escreve que a formação do professor está muito associada à idéia de frequentar cursos, enquanto que o desenvolvimento profissional ocorre através de múltiplas formas, que incluem cursos, mas também atividades como projetos, troca de experiências, leituras, reflexões, entre outras. 49 O professor 3 concluiu seu curso de graduação a 6 anos, o professor 6 concluiu a 23 anos. Destaca-se aqui que a 23 anos as universidades não ofereciam projetos de pesquisa e aperfeiçoamento a todos, assim como a 6 anos a situação não mudou. As atividades eram as mesmas para todos os professores que disseram participar: palestras, feiras, seminários, cursos e projetos, dentro ou fora do campus universitário. Vale destacar que o professor 4, formado na universidade A, disse que na área de ciências Matemática há pouca prática em sala de aula. Neste sentido, Scheibe & Daros (2002), dizem que a realidade no ensino da Matemática nos mostra a necessidade e a urgência que na formação de professores, além do domínio nas áreas de conhecimento, se dê também prioridade ao desenvolvimento de atitudes que permitam não só “aceitar” a mudança e a inovação, mas ser ele próprio agente de mudança, através de práticas de reflexão. A pergunta n°. 4 refere-se à metodologia dos professores. A questão investiga como era a metodologia aplicada pelos professores no seu curso de graduação. Professor 1: “Algumas disciplinas eram trabalhadas por meio de recursos áudio-visuais, porém a maioria era com a utilização do quadro e giz”. Professor 2: “A maioria era bem tradicionalista. Explicavam conteúdo e aplicavam provas”. Professor 3: “Tradicional (restritamente o básico)”. Professor 4: “Quadro e giz. A faculdade ainda não era informatizada. Tudo era muito simples, seguia simplesmente o conteúdo”. Professor 5: “Muita pesquisa, projetos e também aulas expositivas dialogadas”. Professor 6: “Igual da atualidade, tradicional”. Professor 7: “Aula expositiva e dialogada. Pouco diversificada”. (Fonte: dados da pesquisa). De acordo com a maioria dos professores entrevistados a metodologia era tradicional. O professor 4, formado a 30 anos, justifica dizendo que a faculdade ainda não era informatizada. Porém o professor 2, com menor tempo de conclusão na graduação, apenas 3 anos, também afirma que a maioria dos professores aplicava uma metodologia tradicionalista, com explicação de conteúdo e aplicação de provas. Por que será que o ensino não mudou? Outra situação diferente é do professor 5, formado a 26 anos na universidade C. A metodologia tinha muita pesquisa, projetos e também aulas expositivas e dialogadas. Esta situação leva a pensar que na universidade A o ensino não evoluiu em 30 anos e que na universidade C a metodologia era ideal a 26 anos. Isso deixa 50 claro que o processo de formação inicial dos professores de Matemática pode variar, e muito, de acordo com a instituição de ensino. Demo (2004) nos diz que professor é quem, estando mais adiantado no processo de aprendizagem e dispondo de conhecimentos e práticas sempre renovados sobre aprendizagem é capaz de cuidar da aprendizagem na sociedade, garantindo o direito de aprender. Dessa forma, a universidade e seu método de ensino e aprendizagem têm papel importantíssimo na formação inicial do professor e na formação de suas crenças e concepções. Partindo do referencial teórico, Garcia (1999) diz que o conhecimento que os professores possuem do conteúdo a ensinar também influencia do que e como ensinam. Por outro lado, a falta de conhecimentos do professor pode afetar o nível de discurso na classe, assim como o tipo de perguntas que os professores formulam, e o modo como os professores criticam e utilizam livros de texto. É papel das universidades preparar os futuros professores para atuarem em sala de aula confiantes e conscientes da responsabilidade do desenvolvimento da escola e do aluno. E é através dos estágios que esta responsabilidade aparece de forma concreta. Quando questionados sobre o momento que consideram importante para a sua formação durante o curso de graduação, seis dos sete professores entrevistados disseram que o momento dos estágios foi o mais importante, pois é chegada a hora de integrar teoria e prática, garantindo a troca de experiências entre professores e colegas. A LDB sabe da importância que os estágios têm para os futuros professores, pois possibilitam que sejam trabalhados aspectos indispensáveis na construção da identidade, dos saberes e das posturas necessárias ao exercício da profissão docente. Contudo, verificou-se que este é uma parte importante da relação teoria e prática. Conforme o referencial teórico, as universidades deveriam se preocupar se os estágios estão preparando os futuros professores para as escolas como elas existem no presente ou para as escolas como elas poderiam tornar-se. Para Kincheloe (1997), um debate tradicional dentro da formação de professores gira em torno da tensão entre esta preparação. 51 O processo de avaliação dos professores do curso de graduação também foi investigado. As respostas seguem abaixo: Professor 1: “Considero coerente com o processo de ensino-aprendizagem empregado pelos mesmos, que é compatível com a tendência da universidade, seguida pelos professores”. Professor 2: “Penso que não tinha nada de novo, pois era feito por meio de provas”. Professor 3: “Acho importante, construtivo e nem sempre eficiente”. Professor 4: “Simplesmente avaliado através de provas”. Professor 5: “Avaliações compatíveis com o conteúdo desenvolvido”. Professor 6: “Não muito bom. Exclui, é falho”. Professor 7: “Pouco criativo, deixando a desejar. Consequência das aulas pouco diversificadas”. (Fonte: dados da pesquisa). A maioria dos professores entrevistados disseram haver deficiência no processo de avaliação. Este pode ser consequência da metodologia tradicional e pouco diversificada, conforme resposta do professor 7. O referencial teórico aponta que o ensino da Matemática (metodologia) e seu processo de avaliação continua sendo difícil para muitos alunos. O professor na sua formação inicial não é levado a pensar, construir o novo, refletir e solucionar. Ao chegar em sala de aula, professor e aluno se defrontam com sentenças, regras e símbolos matemáticos sem que nenhum deles consiga dar sentido e significado. Dessa forma, para Moyses (1997), a escola continua a negar o aluno. E esta falta de entendimento acaba gerando um ensino marcado por traumas, medo e dificuldades. O fracasso do ensino de Matemática vem sendo apontado ao longo de muitos anos e os índices de reprovação são assustadores. As universidades precisam rever o processo de avaliação na formação dos professores de Matemática. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o ensino da Matemática no Brasil atualmente é o componente importante na construção da cidadania. Os professores avaliaram seu processo de formação inicial respondendo um questionamento atribuindo valores na escala de 1 a 10 (conforme seu nível de satisfação) para cada questão relacionada ao aspecto pesquisado. O resultado pode ser conferido abaixo: 52 Gráfico 1 Média das Notas Atribuidas pelos Professores Entrevistados ASPECTO HUMANO DOS PROFESSORES DA INSTITUIÇÃO 11 9 7 6,57 6,85 A B 6,85 7,14 6,71 6,42 D E F G 5,42 5 3 1 C Itens Relacionados a Categoria Fonte: Questionário aplicado aos professores envolvidos na pesquisa A – Possuem disposição ao diálogo, respeitando pontos de vista contrários. B – Tem interesse pelo aprendizado dos estudantes. C – Apresentam avaliações compatíveis com o conteúdo desenvolvido. D – Elaboram avaliações compatíveis com o conteúdo desenvolvido. E – Apresentam clareza na exposição dos temas abordados. F – Promovem ações que ajudam na formação dos estudantes (atitude, normas e valores). G – Possuem habilidade em despertar o interesse dos estudantes pela disciplina. Podemos verificar conforme o gráfico acima, que de um modo geral, o Aspecto Humano dos Professores da Instituição é considerado regular. Segundo Alba Thompson (1982), muitas das concepções e crenças manifestadas pelos professores acerca do ensino pareceram ter mais a ver com uma adesão a um conjunto de doutrinas abstratas do que com uma teoria pedagógica operatória. Para alguns professores, as idéias que têm acerca dos seus alunos e da dinâmica social e emocional da sala de aula, parecem ter prioridade sobre as suas perspectivas mais específicas sobre o ensino da Matemática. A autora suporta a idéia de que as concepções (conscientes ou inconscientes) acerca da Matemática e do seu ensino desempenham um papel significativo na determinação do estilo de ensino de cada professor. 53 Se os padrões de comportamento dos professores são em função de seus pontos de vista, crenças e preferências sobre o conteúdo e seu ensino, então qualquer esforço para melhorar a qualidade do ensino de Matemática deve começar por em compreender as concepções sustentadas pelos professores e pelo modo como estas estão relacionadas com sua prática pedagógica. (THOMPSON, 1997, p.14). O professor constrói suas concepções e crenças em relação ao conhecimento matemático e à sociedade. Isso implica diretamente no processo do ensino que ele desenvolve – na disposição ao diálogo, no interesse pelo aprendizado dos estudantes, na disposição para atender aos estudantes fora dos horários das aulas, na elaboração das avaliações, na clareza da exposição dos temas abordados, nas ações que ajudam na formação dos estudantes e na habilidade em despertar o interesse dos estudantes pela disciplina. A análise dos dados nos mostrou certo descontentamento quanto ao modo como os professores desempenham seu papel humano em sala de aula. Talvez o motivo deste desempenho insatisfatório dos professores da instituição esteja ligado à falta de clareza de suas próprias concepções. E esta dificuldade pode atuar como elemento bloqueador em relação a novas realidades ou a certos problemas, limitando as possibilidades de atuação dos professores. Gráfico 2 Média das Notas Atribuidas pelos Professores Entrevistados QUALIDADE DAS DISCIPLINAS DO CURSO 11 9 7 6,71 6,28 6,42 6,28 6,42 6,14 A B C D E F 5 3 1 Itens Relacionados a Categoria Fonte: Questionário aplicado aos professores envolvidos na pesquisa A – Há integração entre teoria e prática. B – Relacionam o conteúdo teórico apresentado com a prática. 54 C – A relação entre a carga horária teórica e prática é adequada. D – Há clareza quanto a utilidade das disciplinas para a capacitação profissional. E – Possuem habilidade em despertar o interesse dos estudantes pela disciplina. F – Há integração entre as disciplinas do curso. Quando questionados sobre a qualidade das disciplinas do curso, a opinião dos professores entrevistados também classificou-se como regular. Conforme o resultado da pesquisa, percebemos que, de acordo com o referencial teórico, somente a experiência de magistério e o conhecimento de Matemática não garantem competência ao profissional que trabalha com Educação Matemática. A falta de integração entre teoria e prática confirma a idéia de Sousa e Fernandes (2004), quando dizem que a formação de professores é bastante teórica em muitas universidades, estando afastada da realidade do ensino básico, dando-se ainda, pouca importância à prática e supervalorizando a teoria. Pode-se afirmar que a insatisfação desta categoria pelos professores entrevistados, deve-se a falta de coerência entre teoria e prática. Analisando suas respostas, conclui-se que as competências adquiridas durante a formação inicial do professor são insuficientes para o exercício das suas funções ao longo de toda a carreira. A carência de habilidade em despertar o interesse dos estudantes pela disciplina e de integração entre as disciplinas do curso também é um sério problema. De acordo com Ponte (1995), se a formação não preparar o jovem professor para se inserir nas escolas que existem, com os seus alunos e as suas culturas profissionais, corre o sério risco de formar profissionais que não conseguem se adaptar, professores que, ao assumirem funções, se sentem completamente deslocados e inaptos para desempenhar o seu papel. Muitos deles podem mesmo abandonar o ensino. Se a formação não prepara os novos docentes para a mudança educativa e social, assume-se como mais uma força conservadora e, no fundo, complacente com os problemas existentes. 55 Gráfico 3 Média das Notas Atribuidas pelos Professores Entrevistados INFRA-ESTRUTURA DAS BIBLIOTECAS 11 9 7,85 7,85 7,85 8,28 A B C D 7 5 3 1 Itens Relacionados a Categoria Fonte: Questionário aplicado aos professores envolvidos na pesquisa A – Os livros disponíveis na biblioteca atendem as necessidades das disciplinas. B – O acervo bibliográfico é atualizado. C – Os periódicos existentes na biblioteca atendem as necessidades das disciplinas. D – A biblioteca conta com espaço físico adequado para estudo e consulta. Todos os itens desta categoria são considerados bons pelos professores entrevistados. Com livros que atendam a necessidade das disciplinas, com o acervo bibliográfico atualizado e espaço físico adequado, as universidades possibilitam a pesquisa, contribuindo, dessa forma, para a formação dos futuros professores. O referencial teórico nos mostra que desde o período Neolítico os registros deixados contribuíram para o comércio local e o desenvolvimento da escrita. Com o aperfeiçoamento dos cálculos, o sistema de registro para as quantidades evoluiu, até que foi implantando o sistema de numeração. Durante toda a evolução da humanidade, os registros deixados pelos povos anteriores colaboraram para a evolução do ensino e aprendizagem da Matemática. A pesquisa científica contribui de modo que os futuros professores possam ir adquirindo as competências necessárias ao bom desempenho profissional, que só consegue o professor que tem um bom conhecimento e uma boa relação com a Matemática. 56 Segundo o referencial teórico, é preciso formar professores que reflitam sobre a própria prática educativa, sendo que esta reflexão propiciará um enorme crescimento intelectual dos mesmos. Já que na sala de aula esta reflexão não acontece – conforme resposta dos professores entrevistados – a biblioteca possibilita desenvolver através da pesquisa, conhecimento profissional para que ele consiga desempenhar o seu papel e não abandone o ensino. Gráfico 4 Média das Notas Atribuidas pelos Professores Entrevistados PRÁTICA DOCENTE 11 9 7 7 7,57 8,14 6,28 7,28 5 3 1 A B C D E Itens Relacionados a Categoria Fonte: Questionário aplicado aos professores envolvidos na pesquisa A – Respeito opiniões dos estudantes. B – Trato os estudantes de forma equânime. C – Trato gentilmente os estudantes. D – Estabelece prazos adequados para entrega de trabalhos e projetos. E – Incorpora os conhecimentos obtidos na pesquisa, extensão e exercício profissional à prática pedagógica. Nesta categoria apenas o item B – Trato os estudantes de forma equânime – é considerado regular pelos professores entrevistados. Este fato pode estar relacionado à falta de clareza na formação das crenças e concepções que norteiam a prática pedagógica dos professores das universidades. Conforme Cury (2001), alguns professores apresentam uma grande diferença entre as concepções 57 e crenças sobre a Matemática e o seu discurso frente a comunidade Matemática e aos próprios alunos. A ausência de equanimidade em sala de aula, baseado no referencial teórico, torna o ensino de Matemática inadequado. Para Vitti (1999), a maneira como o professor trata os assuntos em sala de aula, e consequentemente os próprios alunos, contribui para que o aluno goste ou não desta disciplina, queira ou não continuar seus estudos sobre ela ou simplesmente passe a procurar cursos em que a Matemática seja muito pouco utilizada. Para os professores entrevistados, a prática docente das universidades respeita as opiniões dos estudantes, trata-os gentilmente, estabelece prazos adequados para entrega de trabalhos e projetos e incorpora os conhecimentos obtidos na pesquisa, extensão e exercício profissional à prática pedagógica. D´Ambrosio (2001, p. 16) afirma que, “a sociedade está mudando, as crianças estão mudando, o conhecimento está mudando. Não há como ser conservador com a Educação Matemática.” A Educação Matemática nas universidades e nas escolas deve servir também como fator de progresso social, de liberação individual e política para a vida e para o trabalho, promovendo a capacidade para lidar com situações novas e reais que possam surgir. Formar para a cidadania significa que o aluno/futuro professor aprenda a fazer suas escolhas, seja consciente e ativo nos seus direitos. Para tanto, a prática docente das universidades deve continuar favorecendo neste processo. Gráfico 5 Média das Notas Atribuidas pelos Professores Entrevistados CURSO 11 9 7 6,57 6,85 5,85 6,14 4,57 5 3 1 A B C D Itens Relacionados a Categoria Fonte: Questionário aplicado aos professores envolvidos na pesquisa E 58 A – O curso forma bons profissionais (com conhecimento satisfatório da área de ensino que vai atuar). B – O curso forma profissionais generalistas e com bom embasamento científico. C – O curso propicia ótima formação no que tange a fundamentação teórica que alicerça a prática pedagógica para sala de aula. D – Os acadêmicos demonstram interesse, e da mesma forma, são incentivados a participarem de projetos de pesquisa e extensão da universidade. E – Há oferta de projetos de iniciação científica. Nesta última categoria da pesquisa, os professores entrevistados avaliaram os itens A, B, C e D como sendo regular, e o item E classificado como ruim. Conforme os professores entrevistados, o curso não forma bons profissionais, pois não oferece o conhecimento satisfatório da área de ensino que vai atuar. Na formação inicial, de acordo com o referencial teórico, a inexistência de uma prática que proporcione a possibilidade de formular objetivos de intervenção prática imediata e vivencias diretas de reflexão torna-se um problema. Quando questionados se o curso forma profissionais generalistas e com bom embasamento científico, e se o curso propicia ótima formação no que tange a fundamentação teórica que alicerça a prática pedagógica para sala de aula, as respostas foram unânimes, os professores encontram-se insatisfeitos com sua formação. Mas esta responsabilidade não é apenas das universidades, o referencial teórico mostra que a sociedade brasileira, e em particular seus governos, não investem na formação de seus professores. Muitos querem aprender mais, querem aprender bem, mas não possuem condições de continuar aprendendo. Muitos precisam trabalhar o dia inteiro e acabam ficando sem tempo para novos estudos e projetos. Acabam esquecendo de seu papel fundamental que é de estudar, reconstruir conhecimento, elaborar projetos pedagógicos, evoluir na sua formação. O item D analisa se os acadêmicos demonstram interesse, e da mesma forma, são incentivados a participarem de projetos de pesquisa e extensão da universidade. O item E analisa se há oferta de projetos de iniciação científica. Para 59 estes dois itens, mais uma vez, o resultado foi professores insatisfeitos com sua formação inicial. Silva (2004) explica que muitos fatores interferem na aprendizagem do aluno, como por exemplo espaço físico, ambiente tranquilo, criatividade, capacitação docente, predisposição a aprender, estímulos, metodologia de ensino adequada, entre outros, e complementa afirmando que: para haver aquisição de conhecimento, não existe um método de ensino que seja considerado melhor, pois em determinados momentos um complementa o outro. O importante é que uma boa aula de Matemática requer planejamento criterioso e estratégias bem definidas baseadas no conteúdo matemático a ser trabalhado, levando o aluno a pensar, refletir, analisar e concluir, atingindo o objetivo proposto. Dessa forma, o futuro professor conclui sua formação inicial consciente daquilo que faz ou pensa a respeito de sua prática pedagógica, sai da universidade com uma visão crítica das atividades e procedimentos na sala de aula e dos valores culturais de sua ação docente, adota uma postura de pesquisador e não apenas de transmissor e adquire um melhor conhecimento dos conteúdos escolares e das características do desenvolvimento e da aprendizagem dos seus alunos. 60 7 CONCLUSÃO Esta pesquisa teve como objetivo analisar o nível de satisfação relacionado ao processo de formação inicial dos professores de Matemática Nesta pesquisa, as análises foram realizadas com sete professores de Matemática da escola Salete Scotti dos Santos, pertencente a rede estadual de ensino do município de Içara/SC. Foi possível observar algumas contradições nas respostas dos professores entrevistados. Como por exemplo, na pergunta descritiva número três do questionário, observou-se através das respostas, que a maioria deles participavam das atividades oferecidas pela universidade aos acadêmicos. Mas quando questionados atribuindo valores de 1 a 10 na categoria Curso, no item: os acadêmicos demonstram interesse, e da mesma forma, são incentivados a participarem de projetos de pesquisa e extensão da universidade, todos mostraramse insatisfeitos. Como se não tivessem a oportunidade de participar. Foi possível verificar que a metodologia aplicada pelas universidades é tradicional, para quem se formou a 30 anos atrás, como para quem se formou a apenas 3 anos. O processo de avaliação é deficiente. A qualidade das disciplinas do curso também não satisfaz os professores. Um dos motivos para tal descontentamento é a falta de integração entre as disciplinas do curso, considerado requisito importante na sua formação inicial. Outro importante item desta categoria que demonstra desagrado é o que questiona o relacionamento do conteúdo teórico apresentado com a prática. Como afirmam Souza e Fernandes (2004), a formação de professores é bastante teórica em muitas universidades, estando afastada da realidade do ensino básico, dando-se ainda, pouca importância à prática e supervalorizando a teoria. Percebe-se que o aspecto humano dos professores da instituição não atende os professores entrevistados. Dois itens gritantes nesta categoria é a falta de avaliações compatíveis com o conteúdo desenvolvido e a deficiência de habilidade em despertar o interesse dos estudantes pela disciplina. Como afirma Moisés (1997), muitos educadores trabalham de forma mecânica, através de atividades repetitivas, deixando de estimular o raciocínio lógico matemático e a criatividade para solucionar desafios. Nesta prática, o educador assume o papel de transmissor 61 de conhecimentos e o educando receptor, sem o menor interesse e compreensão naquilo que está aprendendo. Constatou-se que a infra-estrutura das bibliotecas é considerada boa. O item mais pontuado é aquele que se refere ao espaço físico adequado para estudo e consulta. Na categoria Prática Docente, foi possível averiguar que o item mais pontuado diz respeito aos prazos adequados para entrega de trabalhos e projetos, e o item menos pontuado foi o que se refere ao tratamento dos estudantes de forma equânime pelos professores. Pode-se verificar, de um modo geral, através da última categoria analisada que o curso das instituições que apareceram na pesquisa, atendem superficialmente os requisitos para que possam formar profissionais com conhecimento satisfatório da área de ensino que vai atuar, formando profissionais generalistas e com bom embasamento científico, propiciando ótima formação no que tange a fundamentação teórica que alicerça a prática pedagógica para sala de aula. Contudo, nos parece que os profissionais entrevistados confundem o verdadeiro papel social e cientifico da formação inicial. A tendência é conceber sua formação inicial como pronta e acabada, ou seja, como se ela própria se bastasse e em decorrência disso nenhum outro processo de formação fosse necessário. Como afirma Ponte (1994), o professor está longe de ser um profissional acabado e amadurecido no momento em que recebe a sua habilitação profissional. Saviani (1980) afirma que é preciso pensar numa educação que objetive trabalhar o senso comum de modo a extrair o seu núcleo válido e dar-lhe expressão elaborada com vistas à formulação de uma concepção de mundo adequada aos interesses populares. “A dimensão educativa possível é a socialização daquilo que diferentes contextos produziram através de um núcleo em comum”. (GIARDINETTO, 2002, p. 8). 62 REFERÊNCIAS ABRANTES, P. Porque se ensina Matemática: perspectivas e concepções de professores e futuros professores (Provas APCC). Lisboa: DEFCUL, 1986. BECKER, F. A. Epistemologia do Professor: O cotidiano na escola. Petrópolis: Vozes, 1993. BRASIL, LDB. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: < http://www.unifesp.br/reitoria/reforma/ldb.pdf. > Acesso em: 11 nov. 2008. CANAVARRO, A. P. O computador nas concepções e práticas de professores de Matemática. Quadrante: Revista Teórica e de Investigação. Abril: 1994, V. 3, n° 2, p. 25-49. CARVALHO, D. L. DE. 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O foco de nosso estudo está centrado na seguinte questão: O nível de satisfação dos professores de Matemática da rede estadual de ensino, mais especificamente da Escola de educação Básica Salete Scotti dos Santos, com relação ao seu processo de formação inicia. Por este motivo, elaboramos o roteiro de pesquisa e gostaríamos de sua resposta. Comprometemo-nos em preservar sua identidade. Na certeza de sua colaboração, agradecemos. Criciúma, outubro de 2008. ___________________________________ Laiza Martinhago 69 QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES 1. Em qual Universidade você concluiu o curso de graduação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. A quanto tempo você concluiu o curso de graduação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3. De que forma você participava das atividades desenvolvidas pela Universidade na área do seu curso? (seminários, palestras, projetos, etc.). ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4. Como era a metodologia aplicada pelos professores do seu curso de graduação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. Qual o momento que você considera importante para a sua formação durante o curso de graduação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6. O que você pensa sobre o processo de avaliação aplicado pelos professores do seu curso de graduação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 70 7. Como você avalia o seu processo de formação inicial? Para responder a este questionamento, atribua valores na escala de 1 a 10 (conforme o seu nível de satisfação) para cada questão relacionada abaixo. Notas: 1 a 4 – Ruim 5 a 6 – Regular 7 a 8 – Bom 9 a 10 – Ótimo Aspecto Humano dos Professores da Instituição Nota Possuem disposição ao diálogo, respeitando pontos de vista contrários. Tem interesse pelo aprendizado dos estudantes. Elaboram avaliações compatíveis com o conteúdo desenvolvido. Apresentam clareza na exposição dos temas abordados. Promovem ações que ajudam na formação dos estudantes (atitude, normas e valores). Possuem habilidade em despertar o interesse dos estudantes pela disciplina. Qualidade das Disciplinas do Curso Nota Há integração entre teoria e prática. Há clareza quanto à utilidade das disciplinas para a capacitação profissional. Há integração entre as disciplinas do curso. Infra-estrutura de Bibliotecas Os livros disponíveis na biblioteca atendem as necessidades das disciplinas. O acervo bibliográfico é atualizado. Os periódicos existentes na biblioteca atendem as necessidades das disciplinas. A biblioteca conta com espaço físico adequado para estudo e consulta. Nota 71 Prática Docente Nota Respeito opiniões dos estudantes. Trato os estudantes de forma equânime. Trato gentilmente os estudantes. Estabelecem prazos adequados para entrega de trabalhos e projetos. Incorporam os conhecimentos obtidos na pesquisa, extensão e exercício profissional a prática pedagógica. Curso O curso forma bons profissionais, (com conhecimento satisfatório da área de ensino em que vai atuar). O curso forma profissionais generalistas e com bom embasamento científico. O curso propicia ótima formação no que tange a fundamentação teórica que alicerça a prática pedagógica para sala de aula. Os acadêmicos demonstram interesse, e da mesma forma, são incentivados a participarem de projetos de pesquisa e extensão da Universidade. Há oferta suficiente de projetos de iniciação científica. Nota