II SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Local: Centro Universitário São Camilo
Data:
24 de maio de 2014
AVALIAÇÃO DAS INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS DAS BULAS DE
FITOTERÁPICOS CONTENDO ISOFLAVONAS DE SOJA
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Vieira J.P , Silva A.M. , Ribeiro Neto L.M.
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Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP.
Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP.
e-mail: [email protected]
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Palavras-chave: SOJA. ISOFLAVONA. DESREGULADOR ENDÓCRINO.
INTRODUÇÃO
Os fitoterápicos são medicamentos elaborados a partir de drogas vegetais, utilizada
terapeuticamente na forma de extrato fluido, tintura e comprimidos. São regulamentados no Brasil e
têm que apresentar critérios similares de qualidade, segurança e eficácia requeridos pela ANVISA
para todos os medicamentos, inclusive quando se trata das informações referenciadas nas bulas. Nos
últimos anos, as evidências benéficas da isoflavona “alternativa terapêutica natural sem riscos” na
reposição hormonal tem favorecido o uso deste em substituição aos estrógenos sintéticos. Entretanto
o seu uso abusivo como ”produto natural” pode trazer riscos à saúde.
A soja, bem como alguns cereais, leguminosas, frutas e chás utilizados na alimentação
humana, são fontes de fitoestrógenos. Estes são substâncias com ações similares às dos hormônios
esteroidais. Os principais fitoestrogênios são as isoflavonas, lignanas e coumestanos. Sendo que as
isoflavonas constituem os principais fitoestrógenos encontrados nos grãos de soja.
Os fitoestrógenos na forma de isoflavonas parecem possuir uma atividade estrogênica e
antiestrogênica com ação dependente da quantidade circulante, número e tipo de receptores
estrogênicos. Atuam em receptores do tipo alfa (ER), encontrados na mama e útero, e beta-(ER),
encontrado no sistema cardiovascular e ósseo, sendo que as isoflavonas são 7 a 30 vezes mais
seletivas para receptores do tipo beta.
OBJETIVO
Avaliar criticamente as informações e orientações disponíveis nas bulas dos riscos dos
medicamentos fitoterápicos a base de soja comparativamente aos efeitos tóxicos descritos na
literatura científica.
MÉTODOLOGIA
Foi realizado levantamento bibliográfico em banco de dados como Scielo, Medline, usando os
descritores fitoterápico, isoflavona, soja, toxicologia; e em livros de referência na área de fitoterápicos
e toxicologia, considerando o período retrospectivo a 2013, para levantamento dos efeitos benéficos e
tóxicos dos fitoestrógenos.
Para a seleção dos fitoterápicos comercializados no País, foram utilizados o Dicionário de
Especialidade Farmacêuticas e a internet. Foram coletadas as seguintes informações na bula dos
fitoterápicos: nome do medicamento, fabricante, composição, posologia, indicação terapêutica,
contra-indicações e reações adversas. A presença de registro em órgãos competentes também foi
verificada, sendo incluídos na presente pesquisa, aqueles com registros válidos no Ministério da
Saúde no período da avaliado.
Realização
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Data:
24 de maio de 2014
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As evidências benéficas das isoflavonas estão relacionadas como alternativa terapêutica na
reposição hormonal, amenizando os sintomas do climatério sem apresentar efeitos colaterais
associados ao estrógeno, como terapia auxiliar no controle do colesterol e na prevenção do câncer de
mama. Por outro lado, os fitoestrógenos atuam como desreguladores endócrinos, podendo
desencadear precocidade sexual em crianças de ambos os sexos.
Além disso, ajudam na prevenção da osteoporose, pois o consumo prolongado de soja com
elevado conteúdo de isoflavonas, pode aumentar o conteúdo de minerais nos ossos.
De fato, estudos clínicos e aleatórios controlados têm demonstrando uma ligeira redução nas
ondas de calor em mulheres que consomem isoflavonas derivadas de soja. Cerca de 30 a 50% da
isoflavona daidzeína é convertida a equol (metabólito e estrógeno não esteróide) que produz maior
alívio nas ondas de calor observadas em mulheres japonesas que consomem quantidades de
isoflavona entre 40 e 80 mg/dia, sugerindo-se que a dose mínima efetiva seja de 50 mg/dia, e com a
observação de reações adversas mínimas.
De acordo com Vieira et al, em estudo randomizado duplo-cego com 79 pacientes do sexo
feminino, amenorréia de 12 meses, idade superior a 40 anos e índice de massa corporal superior 30
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kg/m , evidenciou-se ação positiva dos fitoestrógenos na qualidade de vida (relacionada aos
parâmetros vasomotores, aspectos psicossociais e físicos e sintomas sexuais) destas mulheres na
pós-menopausa semelhante aos efeitos dos estrógenos conjugados. Neste estudo foi comparada a
ação dos estrógenos conjugados equinos em relação ao extrato concentrado de soja enriquecido com
isoflavona durante seis meses.
Foram avaliados 7 fitoterápicos a base de soja. As Tabelas 1, 2 e 3 reúnem os dados
referentes aos medicamentos fitoterápicos contendo isoflavonas, comercializados com maior
frequência. Na Tabela 1 são apresentados dados referentes ao medicamento, fabricante, composição
e dose. Enquanto que na Tabela 2 encontra-se a indicação terapêutica e, na Tabela 3 são apresentas
as respectivas, contra indicações e reações adversas quando citadas.
Tabela 1. Informações sobre fabricante, composição e posologia relativas aos medicamentos
fitoterápicos contendo isoflavonas.
Medicamento
Fabricante
Composição
Posologia
®
Isoflavine
Herbarium
Extrato de isoflavona de Comprimidos com 150 mg de
soja 40% e excipientes.
extrato de isoflavona de soja
(equivale a 60 mg de isoflavonas
de soja por comprimido) e
excipiente qsp 1 comprimido.
®
Glycine max (L.) Merril.
Isovit
Laboratório
Comprimido revestido com 75
Farmacêutico
mg, 100 mg ou 150 mg.
Vitamed Ltda.
®
Soy 50
Gross
Extrato de soja.
Comprimidos com 130mg de
extrato de soja (correspondendo
a 50 mg de isoflavonas).
®
Extrato seco de Glycine Cápsulas.
Soyfemme
Ache
max, isoflavonas da soja.
®
Glycine max (L.) Merril
Aglicon-Soy
Steviafarma
Cápsula gelatinosa dura com
Industrial S/A
150mg
®
Glycine max (L.) Merril.
Menop
Ativus
Cápsulas gelatinosas duras com
Farmacêutica
125 mg de extrato seco de
Glycine max L. a 40% de
Ltda – Brasil
isoflavonas totais (equivalente a
50 mg de isoflavonas).
®
Glycine max (L.) Merril.
Buona
Eurofarma
Cápsulas gelatinosas de 150 mg
(60 mg de isoflavonas totais).
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Tabela 2. Informações sobre indicação terapêutica relativa aos medicamentos fitoterápicos contendo
isoflavonas.
Medicamento
®
Isoflavine
®
Isovit
Indicação terapêutica
Auxiliar na redução dos sintomas do climatério, conhecidos como fogachos.
Para o tratamento dos sintomas da menopausa (fogachos) e para auxílio no
tratamento do colesterol.
®
Soy 50
Fitoterápico hormonal.
®
Soyfemme
No tratamento dos sintomas vasomotores, tais como: fogachos (ondas de calor) e
sudorese, associados ao climatério.
®
Aglicon-Soy
NC
®
Menop
Terapêutica da menopausa.
®
Buona
No tratamento dos sintomas associados ao climatério, tais como: fogachos
(ondas de calor) e sudorese. Como coadjuvante no controle da
hipercolesterolemia.
NC: não consta informação.
Tabela 3. Informações sobre contra-indicação e reações adversas relativas aos medicamentos
fitoterápicos contendo isoflavonas.
Medicamento
®
Isoflavine
Isovit
®
Contra-indicação
Gravidez e em casos de hipersensibilidade
à soja.
NC
®
Soy 50
NC
Soyfemme
®
®
Buona
Não deve ser utilizado durante a gravidez e
lactação ou em pacientes com história de
hipersensibilidade à soja e seus derivados
ou a qualquer componente da fórmula. Não
deve ser administrado a crianças.
Não deve ser utilizado durante a gravidez e
lactação ou em pacientes com história de
hipersensibilidade à soja e seus derivados
ou a qualquer componente da fórmula. Não
deve ser administrado a crianças.
Reações adversas
Esses efeitos têm sido atribuídos aos
constituintes
estrogênicos
das
isoflavonas,
particularmente
à
formononetina.
Ainda não foram relatadas reações
adversas referentes ao uso de
isoflavonas.
Reações
urticariformes
têm
sido
documentadas.
Infertilidade e desordens de crescimento
foram relatadas em animais de pasto.
Níveis baixos de estrógenos circulantes
e prolongamento do ciclo menstrual em
mulheres pré-menopausadas. Vômitos e
diarréia podem ocorrer raramente.
Dermatite atópica pode ocorrer, porém
anafilaxia é extremamente rara.
NC: não consta informação.
Da análise dos dados obtidos foi possível observar que as bulas dos fitoterápicos
apresentaram orientações para não ser consumido por mulheres grávidas, lactantes, crianças e em
casos de hipersensibilidade à soja. Cerca de 71% dos fitoterápicos avaliados apresentaram, em suas
bulas, informações sobre contraindicações e/ou efeitos adversos, sendo que 29% citaram a
possibilidade de efeitos adversos sobre o sistema reprodutivo e 43% indicaram a possibilidade de
reações alérgicas.
Estes fitoestrógenos podem atuar como desreguladores endócrinos, desencadeando
precocidade sexual em crianças. Há evidências científicas de que crianças que consomem alimentos
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a base de soja, podem sofrer alterações no trato reprodutivo. Na literatura encontra-se citações de
fitoestrógenos desencadeando epidemia de puberdade precoce vários estudos em animais, sugerem
que estas substâncias levaram à infertilidade em ovelhas, diminuição da distância ano-genital e
alteração do comportamento sexual em ratos.
CONCLUSÃO
Verificou-se que não há informações toxicológicas suficientes nas bulas dos fitoterápicos
avaliados. Portanto, a falta dessas informações pode comprometer a segurança dos consumidores e,
consequentemente, o uso racional de medicamentos.
BIBLIOGRAFIA
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