91 WALDEMAR MOREIRA SAMPAIO NETO GESTÃO DAS INFORMAÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA OCUPACIONAL: ESTUDO DE CASO DE EXPOSIÇÃO À SÍLICA NAS ATIVIDADES DE LAPIDAÇÃO DE PEDRAS ORNAMENTAIS Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Sistemas de Gestão em Saúde e Segurança da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. ORIENTADOR: Prof. Dr.º GILSON BRITO ALVES LIMA Niterói 2002 92 WALDEMAR MOREIRA SAMPAIO NETO GESTÃO DAS INFORMAÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA OCUPACIONAL: ESTUDO DE CASO DE EXPOSIÇÃO À SÍLICA NAS ATIVIDADES DE LAPIDAÇÃO DE PEDRAS ORNAMENTAIS Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Sistemas de Gestão em Saúde e Segurança da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Aprovada em setembro de 2002 BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Prof. Dr. Gilson Brito Alves Lima - Orientador Universidade Federal Fluminense ____________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Toledo Ferraz Universidade Federal Fluminense _____________________________________________________ Prof. Dra. Maria Egle Cordeiro Setti Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro _____________________________________________________ Prof. Dr. Reginaldo Vellos Loureiro Universidade Federal Espírito Santo Niterói - RJ Setembro 2002 93 Agradecimentos A Deus pela força, luz e consciência. A todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram e contribuíram para a realização deste trabalho. 94 Dedicatória Dentre muitas pessoas adoráveis que convivi e continuo tendo a oportunidade de conviver, a estas eu não poderia deixar de singelamente dedicar este trabalho: Minha avó: Flora Meus pais: Paulo e Dolores Minha esposa e filhos: Regina, Thaís e Thiago 95 Certeza De tudo, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.... Portanto devemos: Fazer da interrupção um caminho novo ... Da queda um passo de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro... Fernando Pessoa 96 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Foto 4.1. Vista geral do galpão da empresa Cristal Ltda ................. 77 Foto 4.2. Vista geral do galpão da empresa Quartzo Rosa Ltda .... 78 Foto 4.3. Ambiente da empresa Dolomita Ltda ................................ 79 Foto 4.4. Serra de corte e modelagem (disco 350 mm ∅) .............. 80 Foto 4.5. Rebolo de formação 8 x 1” ................................................. 81 Foto 4.6. Bancada serra corte - modelagem (disco 350 mm∅) ...... 82 Foto 4.7. Bancada disco de 50 e 200mm ∅ ...................................... 83 Foto 4.8. Bancada disco de 25 e 100 mm ∅ ..................................... 84 Foto 4.9. Incidência de luz solar / partículas em suspensão ......... 85 Foto 4.10. Monitoramento do trabalhador (Porta- filtro/ ciclone) .. 86 Foto 4.11. Vias aéreas superiores .................................................... 87 97 LISTA DE PLANILHAS Planilha 5.1. Diagnóstico médico / ativos ..................................... 93 Planilha 5.2. Diagnóstico médico / afastados e aposentados .... 94 Planilha 5.3. Avaliação ambiental / ativos .................................... 95 Planilha 5.4. Silicose ativos / inativos .......................................... 96 Planilha 5.5. Limite de tolerância versus silicose ....................... 100 Planilha 5.6. Matéria-prima versus silicose ................................. 101 Planilha 5.7. Tempo de exposição versus silicose ..................... 102 Planilha 5.8. Tempo de exposição (15 anos) versus silicose .... 103 98 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1. Avaliação ambiental – Empresa Cristal Ltda.............. 77 Tabela 4.2. Avaliação ambiental – Empresa Quartzo Rosa........... 78 Tabela 4.3. Avaliação ambiental – Empresa Dolomita Ltda.......... 79 Tabela 4.4. Avaliação ambiental - Autônomos: I. S. A., C. A. O., R. H. O., M. V. S. e S. H. O. ............................................................... 80 Tabela 4.5. Avaliação ambiental – Autônomos: A. B. E. e L. B. E... ............................................................................................................. 81 Tabela 4.6. Avaliação ambiental – Autônomos: E. E. R., V. A., L. G., F. F. O. e J. G. F. ......................................................................... 82 Tabela 4.7. Avaliação ambiental – Autônomo: M. S. .................... 83 Tabela 4.8. Avaliação ambiental – Autônomo: G. R. S. ................ 84 Tabela 4.9. Avaliação ambiental – Autônomo: M. A. F. J. ............ 85 Tabela 4.10. Avaliação ambiental – Autônomo: M. J. F. J. ........... 86 Tabela 4.11. Avaliação ambiental – Autônomo: J. M. C. ............... 87 Tabela 4.12. Percentual de SiO2 das pedras ................................. 88 Tabela 4.13. Tempo de exposição e diagnóstico de silicose dos ativos ................................................................................................. 89 Tabela 4.14. Tempo de exposição e diagnóstico de silicose dos inativos............................................................................................. 90 Tabela 5.1. Sexo ............................................................................... 92 Tabela 5.2. Idade .............................................................................. 92 Tabela 5.3. Tempo de exposição .................................................... 92 Tabela 5.4. Diagnósticos ................................................................. 92 Tabela 5.5. Pedras mais utilizadas ................................................. 92 99 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ACGIH – American Conference of Governammental Industrial Hygienist AIHA – American Industrial Hygiene Association B S – British Standards CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CTA – Centro de Tecnologia Ambiental do Sistema FIRJAN DPAO – Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais FUNDACENTRO – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho ISO – International Standard Organization MF – Progressive Massive Fibrasis MTPS – Ministério do Trabalho e da Previdência Social NBR – Norma Brasileira NIOSH – National Institute for Occupation Safety and Health NR – Normas Regulamentadoras OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial de Saúde OSHA – Occupational Safety and Health Administration PGA – Programa de Gestão Ambiental SESMT – Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho SGA – Sistema de Gerenciamento Ambiental SST – Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalhador SSO – Segurança e Saúde Ocupacional TCAR – Tomografia Computadorizada de Alta Resolução UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro UFF – Universidade Federal Fluminense UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro USP – Universidade de São Paulo 100 RESUMO Esta dissertação busca levantar dados das exposições às poeiras minerais com significativos percentuais de sílica livre cristalina. Tais concentrações, presentes nos ambientes onde são desenvolvidas as atividades de lapidação de pedras ornamentais, são causadoras da doença denominada silicose, uma das mais prejudiciais dentre as doenças ocupacionais. Na conclusão deste estudo de caso, são propostos procedimentos para atenuar as concentrações destes particulados nos ambientes, através de medidas de segurança no trabalho, no que diz respeito à higiene pessoal, ao ambiente e à proteção individual, assim como, é apresentado um projeto de ventilação local exaustora, para reduzir as concentrações de poeiras nesses ambientes. Palavras-chaves: ocupacional. silicose, prevenção, segurança no trabalho, doença 101 ABSTRACT This dissertation colects data of the exhibitions to the mineral dusts with sílica percentile significant crystalline free. Such concentrations, present in the environments where are developed the lapidation activities of ornamental stones, cause a disease denominated silicose, one of the most harmful among the occupational diseases. In the end of this study of case, are proposed procedures to attenuate the concentrations of these particles in the environments, through measured of safety at work, about personal hygiene, environment and individual protection, as well as, is introduced a project of local ventilation exhauster, to reduce the dusts concentrations in these ambient. Words-keys: silicose, prevention, safety at work, occupational disease. 102 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................... v LISTA DE PLANILHAS ............................................................................... vi LISTA DE TABELAS .................................................................................. vii LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................... viii RESUMO ..................................................................................................... ix ABSTRACT ................................................................................................. x SUMÁRIO .................................................................................................... xi CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO .................................................................... 1 1.1. Considerações Iniciais ....................................................................... 1.2. Situação Problema .............................................................................. 1.3. Objetivo Geral ...................................................................................... 1.4. Objetivo Específico ............................................................................. 1.5. Delimitação .......................................................................................... 1.6. Hipóteses ............................................................................................. 1.7. Estruturação do Trabalho ................................................................... 1 3 4 4 4 5 6 CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................... 8 2.1. Saúde e Segurança e Sistema de Gestão ......................................... 2.2. A Origem do Trabalho ......................................................................... 2.3. Histórico das Doenças do Trabalho .................................................. 2.4. A Segurança do Trabalho ................................................................... 2.5. As Doenças Profissionais no Brasil e sua Regulamentação .......... 2.6. A Gestão Social de Qualidade ............................................................ 2.7. Desenvolvimento e Formalização do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho ................................................................................ 2.8. O Histórico da Mineração .................................................................... 2.9. Os Estágios da Indústria Mineral ....................................................... 2.10. Aspectos Epidemiológicos ............................................................... 2.11. A Doença Silicose .............................................................................. 8 10 11 14 22 27 CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................... 63 3.1. Análise Gravimétrica e Sílica Livre Cristalina .................................. 3.1.1. Estratégia de Amostragaem .............................................................. 3.1.1.1. Poeiras Respiráveis ........................................................................ 3.1.1.2. Procedimentos de Preparação das Amostras de Poeiras para Análise ................................................................................................... 3.1.1.3. Cálculo de Resultados .................................................................... 3.1.1.4. Rochas Minerais ............................................................................. 64 64 64 38 44 45 51 52 65 65 66 103 3.1.2. Técnicas Analíticas ............................................................................ 3.1.2.1. Eliminação de Interferência de Carbonatos (Calcita) ..................... 3.1.2.3. Equipamentos ................................................................................. 3.1.3. Princípio do Método ........................................................................... 3.1.4. Referência Normativa ........................................................................ 3.2. Exames Médicos – Nexo Causal – Silicose ...................................... 3.2.1. Radiografia Simples de Tórax ............................................................ 3.2.1.1. Leituras Radiológicas ...................................................................... 3.2.2. Tomografia Computadorizada de Alta Resolução (TCAR) ................ 3.2.3. Avaliação Funcional ........................................................................... 3.2.3.1. Espirometria Simples e Curas de Fluxo-volume ............................. 3.2.3.2. Medidas de Volumes Pulmonares ................................................... 3.2.3.3. Capacidade de Difusão ao Monóxido de Carbono .......................... 66 66 67 69 69 69 70 70 70 70 70 71 71 CAPÍTULO IV – ESTUDO DE CASO .......................................................... 72 4.1. Exposição à Sílica na Atividade de Lapidação de Pedras Ornamentais ................................................................................................ 4.2. Descrição dos Ambientes de Trabalho ............................................ 4.3. Determinação de Poeiras Respiráveis, Percentual de Sílica no Ar do Meio Ambiente e Limite de Tolerância ........................................ 4.4. Determinação do Percentual de Sílica das Rochas Minerais ......... 4.5. Trabalhadores Examinados – Nexo Causal – Silicose .................... 72 73 75 88 89 CAPÍTULO V – ANÁLISE DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES ........... 91 5.1. Dados Levantados .............................................................................. 5.2. Ativos Examinados com Avaliação Ambiental................................. 5.3. Ativos e Inativos Examinados e Entrevistados ................................ 5.4. Análise dos Resultados ...................................................................... 5.4.1. Regressão do percentual de sílica sobre a concentração de poeira 5.4.2. Relações entre as distribuições Qui-Quadrado ................................. 91 97 98 99 99 100 CAPÍTULO VI – Conclusão ........................................................................ 105 6.1. Considerações Finais ......................................................................... 6.2. Avaliação das Hipóteses Levantadas ............................................... 6.3. Sugestões de Trabalhos Futuros ...................................................... 105 106 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 109 ANEXOS ...................................................................................................... 114 Anexo I - Planilhas das Entrevistas, Avaliação Ambiental e Diagnóstico de Silicose Anexo II - Medidas de Controle proposta no Homem e no Ambiente 104 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 1.1. Considerações Iniciais Dentre muitas atividades laborais citadas pela literatura, nas quais encontram-se relatadas os riscos das exposições as poeiras respiráveis contendo sílica livre cristalina, uma é pouco lembrada, pois sofre um ofuscamento pela grande atenção voltada para a indústria do mármore e granito. Isto foi o que motivou e despertou o interesse do aluno em desenvolver o seu projeto de pesquisa sobre a atividade de lapidação de pedras ornamentais Esta atividade é desenvolvida por artesãos, em sua totalidade autodidatas com dons inatos, que criam verdadeiras obras de arte. Nelas retratam, com impressionante fidelidade, expressiva parte da nossa fauna, através de pássaros raros como, araras, tucanos, papagaios e outros de menor porte. Essas peças são lapidadas nas mais variadas formas de rochas minerais, nacionais e importadas, que em sua constituição geológica, possuem consideráveis percentuais de dióxido de silício. Ao serem beneficiadas, delas desprendem - se partículas microscópicas contendo sílica. O ofuscamento citado faz com que esta categoria profissional torne-se desamparada e desprovida de orientações e informações quanto às questões de saúde e segurança no trabalho, no que diz respeito à prevenção e à atenuação das exposições às poeiras. Tais medidas fazem-se necessárias uma vez que essas partículas possuem significativos percentuais de sílica cristalina. Esta alta concentração, em sua totalidade, causa danos irreversíveis à saúde, como o acometimento de doenças no trato respiratório. Dano esse que, na maioria dos casos, após alguns anos de exposição, levam ao desenvolvimento da doença ocupacional denominada “silicose”. 105 Há um nicho de mercado, bem peculiar, em sua maioria empresários, que explora e consome não só as peças como também a saúde destes trabalhadores. Estes artesãos trocam de forma vil sua saúde e sua arte por baixa remuneração e sujeitam-se a exercer suas atividades nas mais precárias condições de higiene e bem estar laboral. Este trabalho tem rumo certo e altamente lucrativo, uma vez que é comercializado nas grandes cidades turísticas do nosso país e também exportadas para os grandes centros mundiais. Em países como, Áustria, Dinamarca, Itália, Estados Unidos, França e Portugal, são muito apreciadas por pessoas que as utilizam como peças de adorno nas suas residências, vitrines, escritórios e etc. Esta classe de trabalhadores, na sua totalidade, desconhece o risco potencial à saúde a que estão expostos, ao desenvolverem os seus dons artísticos na criação das suas obras. Nas visitas para coleta do material a ser analisado e no contato com os trabalhadores, os mesmos perceberam que estávamos ali com a intenção não só de pesquisar, mas principalmente, de prestar serviço de orientação. Essa atitude é prioritária para que sejam promovidas melhorias das condições de trabalho com redução das concentrações de poeiras, bem como, realização de procedimentos adequados que trataremos com mais detalhes nos capítulos seguintes. Julgamos de suma importância passar estas informações já que estes trabalhadores são abandonados pelo serviço público de saúde e massacrados pelo interesse consumista da sociedade que visa somente ao embelezamento. A nosso ver, não basta o desenvolvimento deste estudo científico, se este não agregar valor à vida humana no que concerne à saúde, segurança e, principalmente, à dignidade da vida de seres humanos. Homens que carregam, em sua curta e miserável existência, através do recolhimento de seus impostos, a esperança de melhores condições de trabalho, saúde, e educação para os seus descendentes. 106 1.2. Situação Problema Os lapidadores, quando trabalham suas peças, estão permanentemente expostos à elevadas concentrações de material particulado em seus variados postos de trabalho, bem como, a elevados níveis de pressão sonora. Esta categoria funcional é desprovida de qualquer preocupação com relação à preservação da saúde, primeiro por falta de informação, depois pelo baixo nível de escolaridade. E o mais terrível e irracional, é a forma como o nosso poder público, através dos órgãos do sistema de saúde, não se preocupa com a prevenção da saúde dos trabalhadores. Também, querer o que? Visto como os governos municipal, estadual e federal tratam a questão da saúde de uma forma geral, quiçá a ocupacional. Contudo, essa questão será tema para outro estudo, com certeza. Esses trabalhadores, de maneira geral, não tem nenhuma forma de apoio, instrução e de valorização da sua capacidade de transformar rochas brutas em peças de arte. Tal transformação gera altíssimos ganhos, mas, em contra partida, gera também gravíssimas seqüelas irreversíveis a sua saúde, como a silicose (que se dá através da inalação da poeira) e também a perda auditiva (provocada pelo elevado nível de pressão sonora, causada pelos equipamentos e discos utilizados na lapidação). 1.3. Objetivo Geral Objetivamos incluir os dados dos resultados deste estudo nos diversos segmentos voltados para pesquisa com finalidade de prevenção e controle de endemias. Buscamos intervir, de forma emblemática, na problemática da penosa condição de desumanidade que continuam sendo tratados os trabalhadores expostos a riscos laborais, principalmente, a poeiras de sílica. Esse particulado, além de incapacitar para o trabalho, leva a um estado de enfraquecimento tal que não permite o acometido de buscar outra atividade. O comprometimento da capacidade respiratória é muito elevada. 107 1.4. Objetivo Específico Temos como objetivo principal, contribuir para a formação de uma cultura prevencionista e uma conscientização dos trabalhadores perante a exposição à sílica nas atividades de lapidação de pedras ornamentais. Por ser a lapidação uma atividade incapacitante pela exposição a poeiras minerais, urge esclarecimento quanto aos danos à saúde, com atitudes e procedimentos voltados para a prevenção pessoal e para os cuidados com a higiene dos ambientes de trabalho, tornando-os menos nocivos, com a redução da concentração de particulados. Quanto aos equipamentos, estaremos voltados para sua conservação e consequentemente redução da incidência de danos provocados por eles. Na questão pessoal, abordaremos a higiene como fundamental para a conservação da própria saúde, como também a dos seus familiares. 1.5. Delimitação Toda a atividade que exponha o ser humano a elevadas concentrações de poeiras minerais, trará como conseqüência o comprometimento das funções respiratórias, podendo lesionar irreversivelmente a função pulmonar e consequentemente a saúde, principalmente a capacidade para o trabalho. Sendo assim, no desenvolvimento desta pesquisa, estaremos limitados ao trabalho de lapidação, por tratar-se de uma atividade incapacitante e pouco explorada até o momento por pesquisadores e profissionais da área de saúde e segurança ocupacional. Este estudo tem como cenário as localidades de Itaipava, Corrêas e Araras, todas pertencentes ao município de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Estas concentram um grande número de lapidários, tendo em sua maioria, atividades autônomas, desenvolvidas nos fundos dos quintais das próprias residências. A proposta deste trabalho é levantar dados para configurar a incidência de casos de silicose e prestar orientação de boas práticas no trabalho, como por exemplo: cuidados com a higiene pessoal e do ambiente de trabalho, a 108 importância do uso correto do EPI (Equipamento de Proteção Individual) adequado e, principalmente, esclarecer e informar aos trabalhadores que têm exposição as poeiras de sílica, dos riscos a saúde que estão expostos se não tomarem as devidas precauções, seguindo rigorosamente as orientações contidas nas normas de segurança do trabalho. Acreditamos tratar-se de atividade que gera elevadas concentrações de particulados e por ser realizada com rochas minerais, iremos avaliar o percentual de sílica contido nas partículas desprendidas nas operações de lapidação das pedras. Este trabalho não tem a pretensão de aprofundamento do estudo estatístico de variáveis, com a finalidade de buscar pistas que possam levar a conclusões sobre as ocorrências da silicose. 1.6. Hipóteses Enfatizaremos, desenvolveremos e direcionaremos este estudo de caso, com a finalidade de estabelecer procedimentos a serem implantados e implementados quanto às seguintes questões: - Significativas concentrações de poeiras com elevados percentuais de sílica, causadores de silicose; - Correlacionaremos concentrações de poeiras, percentual de sílica e período de exposição; - Determinaremos o percentual de sílica das rochas mais utilizadas, para classificarmos quanto aos danos a saúde; - Descreveremos condutas de higiene pessoal e do local de trabalho, visando as boas práticas laborais; - Desenvolveremos um esboço de um projeto de ventilação local exaustora para atenuar as concentrações de poeiras nos ambientes de trabalho. 109 1.7. Estruturação do Trabalho Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: Capítulo I – Introdução. Neste capítulo introdutório estão descritas as considerações iniciais, a situação problema, os objetivos gerais e específicos, a delimitação do estudo, as hipóteses a serem desenvolvidas e a organização do trabalho. Capítulo II – Embasamento teórico Apresentamos neste capítulo os conceitos que encontram-se correlacionados com a proposta deste trabalho, como por exemplo: revisão histórica das relações do trabalho do ambiente e a doença em decorrência destes; a importância da segurança no trabalho; as ferramentas de gestão de Qualidade/ISO 9000, Meio Ambiente/ISO 14000 e Saúde e Segurança/BS 8800; a atividade de mineração e a exposição a poeiras de sílica; a evolução da indústria mineral; aspectos epidemiológicos que provocam doenças pulmonares e o diagnóstico da silicose, danos a saúde, estágios e complicações. Capítulo III – Metodologia Descrevemos aqui as metodologias analíticas e as estratégias de amostragem para coleta das amostras de poeiras e os procedimentos médicos para diagnosticar os casos de silicose manifestados nos trabalhadores expostos as poeiras de sílica. Capítulo IV – Estudo de caso Apresentamos e descrevemos os ambientes onde são desenvolvidas as atividades de lapidação, os resultados das análises das amostras coletadas, os 110 tipos de pedras beneficiadas, o número de peças lapidadas, a concentração de poeira, o teor de sílica e o limite de tolerância. Também mostramos o percentual de sílica das rochas mais utilizadas e a relação dos casos de silicose constatados. Capítulo V – Análise dos resultados. Neste capítulo são analisados os resultados através do tratamento estatístico dos dados levantados, correlacionamos algumas variáveis e concluímos quanto ao percentual de desenvolvimento da doença pelo tempo de exposição e o tipo de pedra mais utilizada. Capítulo VI – Conclusão Abordamos de forma específica as conclusões definidas pela análise dos resultados, avaliamos as hipóteses levantadas e contempladas. Sugerimos propostas para trabalhos futuros que venham contribuir para a busca da excelência no controle da exposição a poeiras de sílica, não só na atividade de lapidação, mas, para todas as atividades que venham a desprender particulados que causam danos a saúde dos trabalhadores. 111 CAPÍTULO II EMBASAMENTO TEÓRICO Neste capítulo apresentaremos a revisão, não exaustiva, a cerca das principais temáticas relacionadas ao tema da proposta de trabalho, através de uma seqüência histórica das considerações formuladas por muitos autores, correlacionadas direta ou indiretamente as questões especificas de saúde e segurança, com a finalidade de demonstrar a importância e a dedicação de diversos autores debruçados sobre a questão da doença ocupacional. 2.1. Saúde e Segurança e Sistema de Gestão Atualmente, as empresas, para vencerem a crescente competitividade, estão utilizando estratégias de gestão que satisfazem as exigências do consumidor e que identificam diferenciais competitivos. Neste ambiente, verifica-se a preocupação, cada vez maior, das empresas, independente de sua natureza, em desenvolver políticas organizacionais compatíveis à Gestão da Qualidade e à Gestão da Segurança e Saúde Ocupacional. GUNN (1993) destaca como um fundamental diferencial competitivo a capacidade dessas empresas de mudarem a cultura de seus funcionários, através de educação, treinamento e liderança – onde a educação tem como objetivo uma maior conscientização dos empregados, enquanto o treinamento é direcionado para as habilidades na tarefa a ser executada – desenvolvendo a percepção de todos com relação ao seu efetivo envolvimento no processo organizacional. 112 SANTOS et al (1997:268) destaca que “o desempenho do ser humano na execução de suas atividades de trabalho está relacionado às condições de trabalho que lhe são impostas. Em particular, às condições organizacionais e às condições ambientais e técnicas, que determinam respectivamente sua motivação e satisfação no trabalho”. O que deixa claro a necessidade de investir em um ambiente de trabalho saudável e bem organizado, hoje, investir em satisfação e motivação é extremamente necessário. Na era do conhecimento, as organizações necessitam, cada vez mais, se conscientizarem de que seus valores são seus recursos humanos e a motivação destes faz a diferença no mundo competitivo. Sendo o gerenciamento do conhecimento tão importante quanto o gerenciamento das finanças, pois as organizações competem com base na sua habilidade de criar e utilizar conhecimento (DRUCKER, 1997). Como em outros países de dimensão continental, o Brasil ostenta sua grandeza como um país de importante vocação mineral. Com uma grande diversidade de terrenos geológicos, o país vem se destacando na produção e comercialização de minerais metálicos e não-metálicos. Estes vêm ocupando, cada vez mais, papel estratégico na economia brasileira. No ano de 1992, o país registrou a produção de 83 substâncias. Este potencial proporciona ao Brasil liderar a produção mundial de muitas substâncias, como no caso do minério de ferro e do nióbio. Além destes, o país destaca-se entre os 10 primeiros na produção de alumínio/bauxita, ouro, manganês, estanho, quartzo, caulim, rocha fosfática, cromo, ilmenita, grafite, níquel, terras raras, ligas de ferro, pedras preciosas, amianto, fluorita, magnesita (BARBOZA, 1995:22; FERRAZ et al, 1995:47). Toda esta capacidade, que coloca o Brasil em uma posição de destaque, não seria possível sem uma mão de obra consciente e especializada para este tipo de atividade. Porém, se não houver investimento nestes trabalhadores, a produção ou a extração destes 113 materiais não seria tão destacada, artistas, artesãos e, principalmente, operários que trabalham nas atividades de extração e lapidação, podem estar sujeitos a algumas “doenças” decorrentes a falta de higiene e proteção, que acarretam ao longo dos anos graves problemas de saúde. As “doenças do trabalho” que merecem atenção especial dos trabalhadores de minas são as intoxicações por metais pesados, tendo o chumbo no topo da lista, que causa o Saturnismo e outros metais usados em forma de pigmentos para dar cor a esmaltes e vidrados ou massas cerâmicas. Logo vem os problemas, considerados mais graves, causados pele respiração de pó de Sílica (quartzo) em suspensão no ar que provocam a Silicose. 2.2 A Origem do Trabalho Os estudos realizados por HEINRICH (1960) evidenciam que o trabalho se faz presente desde o início da humanidade, onde a partir dos primeiros movimentos do ser humano, que a história tem registrado, destacam-se as suas atividades laborais, como na construção de suas moradias em cavernas, construção de pirâmides, tapeçarias e antigüidades similares. Pela necessidade de conservação da própria vida e pelo temor de danos, a prevenção de acidentes era praticada, sem dúvida, num certo grau, nas civilizações mais remotas. A palavra trabalho, em linguagem cotidiana, tem muitos significados. Algumas vezes lembra dor, sofrimento e outras vezes designa a operação humana de transformação da matéria (SANTOS e FIALHO, 1995:65). Em quase todas as línguas, trabalhar tem mais de um significado. Os gregos têm a palavra ergon que designa a criação, e ponos que representa o esforço. Os franceses distinguem travailler e ouvrer. Os italianos distinguem lavorare e operare. Os espanhóis distinguem trabajar e obrar. Os ingleses labour and work, e os alemães em arbeit e werk. Em português, apesar de haver labor e trabalho, na palavra trabalho pode-se 114 conseguir ambas as significações: realização de uma obra que dê reconhecimento social e permaneça além da vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, de resultado consumível (ALBORNOZ, 1986: 41). Na língua portuguesa, a palavra trabalho se origina do latim tripalium, embora existam hipóteses de que se associe a trabaculum. Tripalium era um instrumento de três pontas que os trabalhadores rurais usavam para bater o trigo, milho e linho. Os dicionários registram como apenas instrumento de tortura, o que teria sido designado originalmente ou se tornado depois (ALBORNOZ, 1986:42). No dicionário, FERREIRA (1995:642) trabalho é definido como “aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. O exercício dessa atividade como ocupação ofício, profissão,...” 2.3. Histórico das Doenças do Trabalho Seja qual for a verdadeira origem da palavra trabalho, ela refere-se à passagem pré-histórica da cultura da caça e da pesca para a cultura agrária, baseada na criação de animais e no plantio (ALBORNOZ, 1986:42). Com ele surgiram os acidentes e as doenças. As primeiras referências sobre a associação entre trabalho e doença provêm de papiros egípcios e, posteriormente, no mundo greco-romano. Plínio, o Velho, mencionou doenças que ocorriam em trabalhadores expostos a poeiras em minas, e a utilização de membranas de bexiga de carneiros como máscaras; Lucrécio também relata doenças em mineradores refere-se às doenças dos mineiros de cobre em Chipre (OLIVEIRA, 1996:31). Entretanto, a obra de maior importância, De Morbis Artificum Diatriba, escrita pelo médico italiano Bernardino Ramazzini, em 1700, 115 chamado de pai da Medicina do Trabalho, descreve doenças que acometem cerca de 54 profissões diversas. (MENDES,1995:104). A profissão de mineiro foi a primeira a ter estudos sobre doenças ocupacionais. Em 1556, era publicado o livro De Re Metallica de autoria de Geor Bauer, chamado de Georgius Agrícola, em que estudava problemas de saúde relacionados à extração de ouro e prata, destacando a chamada “asma dos mineiros”, que, provavelmente, era a patologia hoje denominada silicose. Paracelso (Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim), publicou em 1567, Von Der Bergsucht und anderen Bergkrankheiten, assinalando os principais sintomas de intoxicação por mercúrio. (OLIVEIRA, 1996). No século XVI, o trabalho foi evidenciado pela primeira vez como causador de alguma doença. Em 1556, Geor Bauer, cujo nome latino era Georgius Agrícola, retratou em sua obra “De Re Metallica” sobre o trabalhador das extrações minerais argentíferos e auríferos, propensos a desenvolverem a “Asma dos Mineiros”, hoje identificada como a Silicose – doença dos pulmões causada pela inalação de poeiras que contenham sílica. Onze anos mais tarde, Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim, o famoso Paracelso, publica o livro “Von Der Bergsucht und anderen Bergkrankheiten”, em que relaciona Trabalho e Doença, destacando os principais sintomas da doença causada pela intoxicação pelo mercúrio. Apesar desses trabalhos serem conhecidos na época, pouca importância lhes foi dada. Por volta de 1926, o norte-americano H. W. Heinrich - considerado o precursor, o pai do prevencionismo - que trabalhava em uma companhia americana de seguros, por meio de pesquisas, pôde observar com bastante nitidez o alto custo que representava para a seguradora reparar os danos decorrentes de acidentes e doenças do trabalho. A partir daí, desenvolveu uma série de idéias e de formas desses problemas serem gerenciados dentro das empresas, privilegiando a prevenção acima de tudo (CICCO, 1995). 116 Neste contexto, CICCO (1995:4) ressalta “a participação significativa da área de seguros, verificando-se uma limitação imposta pela estrutura do sistema segurador brasileiro, que sempre foi bastante estatizado e rígido”, citando como exemplo: “O seguro de acidentes do trabalho que é estatizado, mas o mais preocupante é que se trata de um sistema “burro”, na medida em que dá o mesmo tratamento para as empresas, quer elas invistam em prevenção, quer elas não cuidem desse assunto. Basicamente, em função do setor de atividade, todas as empresas desse setor pagam o mesmo prêmio de seguro de acidente do trabalho, não importando se uma organização expõe mais do que outra seus trabalhadores a determinados riscos. Uma empresa que investe em segurança, portanto na proteção de seus recursos humanos, não tem assim nenhum diferencial, nenhum benefício financeiro em relação a outra que não faz prevenção. Em função dessas questões relacionadas ao seguro, vários enfoques relacionados à Gerência de Riscos foram sendo introduzidos acarretando uma dispersão do assunto até os dias de hoje”. Estes incentivos financeiros, ou de alguma outra natureza, por parte de seguradoras, ou até mesmo do Estado, poderia ser sem dúvida nenhuma um diferencial, um ponto divisor de águas entre um passado em que pouco se falou e se expandiu em termos de segurança, e um futuro que tornaria a segurança e a prevenção contra acidentes não só uma questão de consciência, mas de vantagens até financeiras, ou seja atraente para empresas. Diante do quadro estabelecido, verificou-se o interesse pela proteção à saúde do trabalhador, por parte de duas grandes organizações de âmbito internacional: Organização Internacional do Trabalho – OIT – e a Organização Mundial de Saúde – OMS. De tal forma que, em 1950, a Comissão Conjunta OIT/OMS estabeleceu, de forma genérica, os objetivos da Saúde Ocupacional. Para, em julho de 1953, a Conferência Internacional do Trabalho elaborar a Recomendação nº 97 sobre a Proteção à Saúde dos Trabalhadores em Locais de Trabalho. Depois de estabelecido um Convênio, a Conferência Internacional do Trabalho participa o acontecimento aos governos, estimulando-os a ratificarem e, consequentemente, obedecerem aos seus dispositivos (OLIVEIRA, 1996). 117 Paralelamente a tudo isso, Willie Hammer, fundamentado nas metodologias utilizadas nos programas aeroespaciais americanos, começou a desenvolver ferramentas para auxiliar, principalmente, na identificação e avaliação de riscos, às quais se deu a designação de Engenharia de Segurança de Sistemas (CICCO, 1995). CICCO (1995:5) destaca: “por volta de 1988, verifica-se que as questões relacionadas à qualidade estavam a induzir algumas empresas de “classe mundial” a fomentar também o desenvolvimento de ações efetivas de proteção ambiental e de segurança e medicina do trabalho”. A Constituição Federal da República de 1988 marca a inclusão da saúde do trabalhador no ordenamento jurídico nacional, passando a considerá-la como direito social e, consequentemente, garantindo aos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde e segurança (ROCHA, 1997). 2.4. A Segurança do Trabalho Sob o aspecto humano, a preservação da integridade física é um direito de todo o trabalhador, pois a incapacidade permanente para o trabalho poderá transformá-lo num inválido, com a conseqüente perda para a Nação. Segundo HEMÉRITAS (1981), a Segurança do Trabalho, para ser entendida como prevenção de acidentes, deve preocupar-se com a preservação da integridade física do trabalhador e também precisa ser considerada como fator de produção. Os acidentes, provocando ou não lesão no trabalhador, influenciam negativamente na produção através da perda de tempo e de outras conseqüências que provocam, como: eventuais perdas materiais; diminuição da eficiência do trabalhador acidentado ao retornar ao trabalho e de seus companheiros, devido ao impacto provocado pelo acidente; aumento da renovação de mão-de-obra; elevação dos 118 prêmios de seguro de acidente; moral dos trabalhadores afetada; qualidade dos produtos sacrificada. De acordo com SOTO (1978), as cifras correspondentes aos acidentes do trabalho representam um entrave ao plano de desenvolvimento sócio-econômico de qualquer país, cifras estas que se avolumam sob a forma de gastos com assistência médica e reabilitação dos trabalhadores incapacitados, indenizações e pensões pagas aos acidentados ou suas famílias, prejuízos financeiros decorrentes de paradas na produção, danos materiais aos equipamentos, perdas de materiais, atrasos na entrega de produtos e outros imprevistos que prejudicam o andamento normal do processo produtivo. Desta forma, de algumas décadas passadas até nossos dias, estudiosos dedicaram-se ao estudo de novas e melhores formas de se preservar a integridade física do homem e do meio em que atua, através do controle e, o que é mais importante, da prevenção dos riscos potenciais de acidentes. A Segurança do Trabalho é definida como: “a ciência que objetiva a prevenção dos acidentes do trabalho através das análises dos riscos do local e dos riscos de operação. São normas com a finalidade de proteger, física e mentalmente, o trabalhador e outras 10 medidas que visam ao perfeito funcionamento e eficaz proteção das máquinas e ferramentas de trabalho“ (SOUNIS, 1991:81). O que desmistifica a idéia de que segurança no trabalho, é proteger funcionários de acidentes que levam a perda de dias de serviço. Máquinas, eficiência, bom ambiente de trabalho e consequentemente uma maior produtividade, são vantagens da segurança no trabalho como se pode ver no parágrafo acima, uma citação de Sounis, porém esta idéia é nova, abaixo vê-se como este assunto foi encarado no passado. A Técnica da Segurança do Trabalho, teve seu início na Europa, tendo como base a propaganda de “Maior Cuidado”, atribuindo o acidente ao trabalhador sem levar em conta as condições de 119 segurança de seu trabalho. Entre 1900 a 1915, deram-se os primeiros passos com a criação dos Conselhos Nacionais de Segurança (SAAD, 1978:52). No Brasil, a obrigatoriedade dos serviços de segurança e medicina do trabalho nas empresas foi obra do Decreto-Lei n. 2 29, de 27 de fevereiro de 1967, que introduziu modificações no texto do Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho, que trata da segurança e da medicina do trabalho. Essa obrigatoriedade, no entanto, só foi regulamentada em 27 de julho de 1972, por intermédio da Portaria n. 3 .237, do então Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Esta regulamentação foi transformada em Normas Regulamentadoras baixadas pela Portaria n. 3 212, de 8 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho. Segurança no trabalho “é um conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas utilizadas para prevenir acidentes, quer eliminando as condições inseguras do ambiente, quer instruindo ou convencendo as pessoas sobre a implantação de práticas preventivas”. (MINICUCCI, 1982:381) Na citação acima, assinada por Minicucci, destaca-se um ponto importante, não basta avaliar as condições de segurança do ambiente e da operação a ser realizada pelo trabalhador, além destas práticas preventivas, prevenção maior, é trabalhar a consciência de empregados para a necessidade do uso destes protocolos de segurança implantados pela empresa. Tendo como principais áreas de atividade: a prevenção de acidentes, prevenção de incêndios e prevenção de roubos. Sua finalidade é profilática, uma vez que procura antecipar-se para minimizar os riscos de acidentes, pois depois que eles acontecem, muitas vezes restam poucas atitudes pontuais a serem tomadas, não nos esquecendo que se 120 ocorrem acidentes temos pessoas envolvidas e, por trás dos dados existe dor, desespero, frustração e outras formas de sofrimento físico e mora, prejuízos que o Estado e a organização não pagam. Acidente é um fato não premeditado do qual resulta dano considerável. Pode ser classificado em acidentes sem afastamento, acidentes com afastamento devido à incapacidade temporária, acidentes com afastamento devido à incapacidade parcial permanente, acidentes com afastamento devido à incapacidade permanente total e morte. Ainda segundo MINICUCCI, (1982) se o acidente é não premeditado precisa-se de normas amplas que dêem conta da realidade do trabalho, se previne acidentes com: Eliminação das condições inseguras: mapeamento de áreas de risco, análise profunda dos acidentes, apoio irrestrito da alta administração. Redução dos atos inseguros: processos de seleção de pessoal. Comunicação interna. Treinamento. Reforço positivo. “Aliás, a função social da organização reside nisso: colaborar para o desenvolvimento das pessoas e da comunidade de maneira responsável, pois de nada adianta ser uma ilha de prosperidade no meio de um oceano de pobreza”. (MINICUCCI, 1982:394) Quando relatado a dificuldade na realização dos treinamentos e a falta de conscientização da importância dos mesmos pela área administrativa pode-se fazer uma interligação com o fator comunicação. No processo 121 de implantação do sistema de gestão e principalmente na manutenção do mesmo a comunicação é uma prioridade estratégica para a empresa. Dado é um registro ou anotação a respeito de um determinado evento ou ocorrência. Informação é um conjunto de dados com um determinado significado. CHIAVENATO (1992:118) define comunicação como um processo de transmissão de uma informação de uma pessoa para outra, sendo então compartilhada por ambas, informação simplesmente transmitida, mas não recebida, não foi comunicada, “O boato é um exemplo típico da comunicação distorcida, ampliada e, muitas vezes, desviada. A comunicação aberta ocorre quando as pessoas sentem-se plenamente desimpedidas e livres para comunicar todas as mensagens e idéias que julgam relevantes. Um ambiente que encoraje a comunicação aberta tende a melhorar a satisfação no trabalho e a eficácia da organização, se pretendemos mudar a cultura da organização devemos ter padrões claros de comunicação.” DEJOURS (1992: 112) ressalta que: “Falar de saúde é sempre difícil. Evocar o sofrimento e a doença é, em contrapartida, mais fácil: todo mundo o faz. Como se, a exemplo de Dante, cada um tivesse em si experiência suficiente para falar do inferno e nunca do paraíso”. 122 Se falar em saúde é difícil, adotar política voltada para saúde requer além de esforço, táticas adequadas e um processo de comunicação bem executado. No caso da pintura se o boato de que as condições de trabalho eram inseguras se tornasse um “dado real”, criaria um fator complicador para a gestão, pois os comportamentos seriam voltados para esta crença, que poderia acabar gerando generalizações e muitos esforços para criar ambiente seguro que acabariam afetados. Quando CARDELLA, (1999) cita a abordagem holística da causa de acidentes nos remete a avaliação de outros sistemas da organização, podemos novamente retomara a hipótese de alguma falha no sistema de comunicação da empresa em questão. Segundo CARDELLA (1999), a Segurança no Trabalho requer uma abordagem holística – o todo está nas partes e as partes estão no todo – onde o acidente de trabalho é um fenômeno de natureza multifacetada, resultante de interações complexas entre fatores físicos, químicos, biológicos, psicológicos, culturais e sociais. Ele define, ainda, sistema de gestão como “um conjunto de instrumentos inter-relacionados, interatuantes e interdependentes que a organização utiliza para planejar, operar e controlar suas atividades para atingir objetivos”. Destacando que o sucesso de uma gestão está diretamente relacionado à capacidade de coordenar as necessidades e objetivos dos empregados tornando-os consistentes e complementares aos objetivos da organização. Ou seja, ao implantar noções de segurança e higiene em um ambiente de trabalho, seja uma empresa de pequeno ou grande porte, até mesmo multinacional, é preciso pensar nesta companhia como um todo, um conjunto de interações dependentes entre, empregado, empregador, produção e satisfação dos clientes, que são os receptores do produto final, pensando desta maneira, este processo deve ser sistematizado. Abaixo isto fica mais claro nas palavras de Pacheco. PACHECO (1995:31) reforça: “Para adequar e aplicar os conceitos de qualidade à segurança e higiene do trabalho, é preciso a aceitação de uma nova postura com esta última, em que suas ações 123 devem ser planejadas e desenvolvidas no âmbito global das empresas, de forma dinâmica e visando a satisfazer seus clientes (empresa e trabalhadores), quanto a eliminação e prevenção dos riscos inerentes a todas as atividades. Isto significa que é preciso tratar a segurança e saúde no trabalho como um sistema, o Sistema de Segurança e Saúde no Trabalho, nos mesmos moldes que se trata a qualidade”. Para que se efetive a gestão de segurança na empresa, parece mister, a definição de certos parâmetros de nível global, como diretrizes de que a empresa como um todo efetivará a política da segurança independentemente do setor ao qual o funcionário pertence, ou ao nível hierárquico que ocupa. Através da análise ergonômica 1 do trabalho, em situações análogas àquela estudada, procura-se identificar as dificuldades existentes, visando otimizar a utilização dos recursos envolvidos e o funcionamento das instalações. Para tanto, a situação de referência deve caracterizar detalhadamente a atividade procurada, permitindo uma caracterização da variabilidade industrial envolvendo variações de demanda, de fornecedores, de produtos, de processos e suas conseqüências sobre a atividade (SANTOS et al, 1997). Segundo SANTOS et al (1997:135), “nesta fase, então, a partir da análise das dificuldades encontradas em situações de referência, compara-se, de maneira global e em nível de postos de trabalho, as tarefas prescritas e as atividades desenvolvidas e busca-se conhecer as razões de diferenças importantes entre o funcionamento real e o previsto”. O que mostra que mesmo sendo um processo sistematizado e pensado de maneira global, ainda pode não funcionar da maneira prevista. Talvez este fenômeno se trata de um processo de implementação de um sistema que lida com seres humanos e necessita da conscientização dos mesmos para funcionar como previsto. 1 Considera ergonomia, “como o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficácia”. (SANTOS, 1997:339) 124 Organizada por Engels Dollfus, em Mulhouse, França, pregava o dever do empregador em zelar pelas condições físicas e morais, não podendo ser substituída por remuneração. No final do século XIX, no dia 15 de maio de 1891, a Encíclica do Papa Leão XIII, Rerum Novarum, prega a justiça social, diz ser necessária a aplicação da força e autoridade das leis contra patrões que coloquem pessoas em condições de trabalho indignas e degradantes. A partir desta época, vários estudos de médicos, preocupados com a construção do conhecimento da patologia do trabalho foram realizados. Embora as dificuldades, em 1897, foi realizada em Bruxelas uma conferência internacional a este respeito. Resultou na criação, em 1900, da Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores, que foi o órgão precursor da Organização Internacional do Trabalho (OIT). No início, a OIT tinha a missão de traduzir e publicar a legislação social de diferentes países. Na Conferência de Paz, em 1919, foi criada, por solicitação de vários sindicatos, uma Comissão sobre Legislação Internacional do Trabalho. Esta Comissão, composta por quinze países, era presidida pelo sindicalista americano Samuel Gompers, que adotou um texto que passa a ser a Parte XIII do Tratado de Versalhes, que, posteriormente, com algumas modificações, passou a representar a Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OLIVEIRA, 1996:35). A primeira Conferência Internacional do Trabalho da OIT foi celebrada em Washington, em outubro de 1919. Durante o período entre as duas guerras mundiais, a OIT funcionou como entidade autônoma, sendo o primeiro organismo internacional a se associar. Atualmente, funciona como uma organização tripartite, na qual participam representantes dos governos, dos empregados e dos empregadores, que conta com 156 membros e tem sede em Genebra, na Suíça. 125 A OIT, apesar de desempenhar uma atividade normativa, tem voltado muita atenção às atividades práticas e educativas, com atividades de cooperação técnica. Vários programas foram lançados pela entidade nos últimos anos, onde se destacam o Programa Mundial de Emprego (1969) e o Programa Internacional do Melhoramento das Condições e do Meio Ambiente do Trabalho (1976). O número de instrumentos internacionais de trabalho adotados pela OIT desde 1919 até a presente data, é de aproximadamente 380 normas, entre convênios e recomendações. As normas geralmente nascem da experiência dos trabalhadores, passam por votação da Conferência Internacional do Trabalho e poderão adquirir a forma de um Convênio. Uma vez adotado um Convênio, a Conferência Internacional do Trabalho comunica o evento aos governos, estimulando-os a ratificarem, obrigando então o membro a passar a cumprir com seus dispositivos (OLIVEIRA, 1996:38). 2.5. As Doenças Profissionais no Brasil e sua Regulamentação No período de 1899 a 1901, um milhão de imigrantes europeus chegam ao Brasil, substituindo os trabalhadores escravos nas fábricas que surgiam, sendo que 90% dos trabalhadores eram imigrantes e 10% eram ex-escravos. Nesta fase do desenvolvimento não existia nenhuma preocupação com a doença. Há poucos registros a respeito, mas tudo leva a crer que os acidentes eram freqüentes. O primeiro serviço de Medicina para atendimento de operários no Brasil foi implantado por iniciativa do empresário Jorge Street, em sua fiação em São Paulo. No entanto, não havia a preocupação com as doenças do trabalho. A iniciativa do empresário resultou em melhoria das condições de saúde dos operários e, consequentemente, aumento da 126 produtividade, o que levou outros empresários a seguirem o seu exemplo em relação aos seus empregados. As leis acompanharam a evolução, embora com algum atraso, assim temos, em ordem cronológica, as leis de maior destaque de âmbito nacional (FERNANDES, 1995:64): 1891 – as leis ordinárias passaram a dispor sobre trabalho do menor; 1903 – organização de sindicatos rurais; 1907 – organização de sindicatos urbanos; 1919 – aprovada a Lei de Acidentes do Trabalho; 1923 – criada a Instituição do Seguro Social para ferroviários; 1925 – instituída a Lei das Férias; 1930 – criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; 1931 – editadas as Leis Sindicais; 1932 – referências sobre o trabalho da mulher; 1932 – criação das Juntas de Conciliação e Julgamento; 1932 – instituídas as Convenções Coletivas de Trabalho; 1935 – aprovada a Lei da Indenização por Dispensa Injusta do Trabalhador; 1936 – Comissão do Salário Mínimo; 1939 – criação da Justiça do Trabalho; 1940 – instituído o Salário Mínimo. Em maio de 1943, foi desenvolvido o Decreto-Lei 5.452, que criou a Consolidação das Leis do Trabalho CLT. No seu capítulo V, estabeleceu as normas de segurança, higiene e medicina do trabalho. Entretanto, de acordo com relatos da época, a parte de segurança e medicina do trabalho era pouco explorada no Brasil, até que em 1972, a Portaria 3.237 do 127 Ministério do Trabalho torna obrigatória a existência de SESMT’s nas empresas, o que era estabelecido pela Recomendação n. 112 da OIT. A Lei 6514, de 1977, dá competência ao Ministério do Trabalho para regulamentar, por meio de Portarias, os assuntos referentes à manutenção de Serviços de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho nas empresas. Em 1977, a Portaria 3.214 edita as Normas Regulamentadoras, que são Normas Legais Básicas estabelecidas pela CLT a respeito deste assunto. As Convenções da OIT, ratificadas pelo Brasil, incorporam-se à legislação interna, podendo, assim, criar, alterar, complementar ou revogar as normas em vigor. A Convenção 148 foi ratificada no Brasil em 14 de janeiro de 1982, a Convenção 155, em 18 de maio de 1992 e a Convenção 161 em 18 de maio de 1990 (OLIVEIRA, 1996:91). A evolução tecnológica se fez acompanhar de novos ambientes de trabalho e de riscos profissionais a eles associados. Muitos desses novos riscos são pouco ou nada conhecidos e demandam pesquisas cujos resultados só se apresentam após a exposição prolongada dos trabalhadores a ambientes nocivos a sua saúde e integridade física. Hoje, o setor de segurança e saúde no trabalho é multidisciplinar e tem como objetivo principal a prevenção dos riscos profissionais. O conceito de acidente é compreendido por um maior número de pessoas que já identificam as doenças profissionais como conseqüências de acidentes do trabalho. Infelizmente, as estatísticas oficiais ainda não quantificam, adequadamente, a ocorrência anual de acidentes do trabalho no Brasil. O gerenciamento dos riscos associados ao trabalho é fundamental para a prevenção de acidentes. Isso requer pesquisas, métodos e técnicas específicas, monitoramento e controle. Os conceitos básicos de segurança e saúde devem estar incorporados em todas as etapas do processo produtivo, do projeto à operação. Essa concepção irá garantir inclusive a continuidade e segurança dos processos, uma vez que os acidentes geram horas e dias perdidos. 128 A norma NBR ISO 14001 trata da Gestão Ambiental da empresa. Tal norma, em sua introdução, oferece diretrizes relacionadas à legislação ambiental, que coloca a preocupação das organizações em garantir, continuamente, o atendimento aos requisitos legais e aos de sua própria Política Ambiental. A Norma não foi concebida para ampliar ou alterar as obrigações legais que incidem sobre uma organização, ou seja, a adoção deste referencial não confere imunidade para a organização. Os únicos requisitos absolutos de desempenho ambiental estabelecidos pela Norma são atender legislação e regulamentos aplicáveis e o compromisso com a melhoria contínua. A norma não inclui requisitos relativos a aspectos de gestão de saúde e segurança no trabalho, entretanto procura desencorajar uma organização que pretenda desenvolver a integração de tais elementos no sistema de gestão ambiental. Ou seja, se a organização decide promover tal integração deverá também identificar os requisitos legais ou outros associados a temas de saúde e segurança. O Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA) definido e apoiado nos requisitos definidos pela Norma ISO 14001 pode ser implementado em nível macro, disponibilizando recursos e ferramentas que serão necessários para o desenvolvimento do sistema: - Recursos humanos, materiais e financeiros; - Cronograma; - Programas para formação ambiental; - Participação e engajamento do pessoal - Análise Crítica Inicial; - Planejamento funcional. O planejamento do SGA em termos funcionais complementa o planejamento macro, com o detalhamento das atividades que devem ser implementadas para controlar os aspectos/impactos ambientais 129 considerados significativos. Para isso elabora-se documentos que contemplam: - Procedimentos de controle ambiental; - Procedimentos de verificação periódica da conformidade com os requisitos; - Procedimentos ou planos de ação em emergências; - Procedimentos de realização de análises/ensaios; - Procedimentos para calibração/manutenção de instrumentos de medição; - Procedimentos relacionados a fornecedores e contratados; - Procedimentos de prevenção de riscos ambientais. A política ambiental é a declaração formal de uma organização em que são expostas as suas diretrizes ou intenções globais, relacionadas ao Meio Ambiente, que a nortearão graças a um conjunto de parâmetros e de ações que virão a refletir seu desempenho ambiental. A política normalmente é elaborada pela alta administração. Tanto a NBR ISO 14001 como a ISO 14004 recomendam que sejam definidos objetivos para atender a política ambiental da organização, os quais refletem os propósitos de desempenho ambiental identificados na política. Dentre estes objetivos, considera-se: • Aspectos ambientais significativos; • Legislação ambiental; • Opções tecnológicas; • Visão de partes interessadas; • Compatibilidade com as partes interessadas; • Comprometimento com a prevenção da poluição; • Requisitos financeiros operacionais e comercias. 130 Para cada objetivo ambiental, definem-se metas específicas e mensuráveis, sempre que exeqüível, para cada área cujas atividades apresentem interfaces com os objetivos para seu acompanhamento e avaliação, definem-se os respectivos indicadores de desempenho ambiental, para os objetivos e metas estabelecidos. Ainda dentro do planejamento é fundamental o estabelecimento de um Programa de Gestão Ambiental (PGA) que considere todos os seus objetivos ambientais, porque o PGA tem a função de avaliar o desempenho ambiental da organização e a melhoria contínua do Sistema de Gerenciamento Ambiental. A identificação dos aspectos ambientais e a análise de seus respectivos impactos, serão a base de todo o ( S. G. A. ), sendo a identificação dos aspectos ambientais significativos, a primeira etapa a ser desenvolvida. Assim, a organização deve desenvolver uma metodologia para a identificação e avaliação de seus aspectos e impactos. A metodologia mais utilizada na identificação de aspectos ambientais é a avaliação de impactos associados que conta com os seguintes passos: • Seleção de uma atividade, produto ou serviço; • Identificação dos aspectos e riscos ambientais; • Identificação dos respectivos impactos ambientais; • Avaliação da significância dos impactos; • Registro para Gerenciamento dos Aspectos/Impactos Ambientais. 2.6. A Gestão Social da Qualidade A BS 8800, norma britânica editada pela BSI British Standards Institution foi preparada pelo Technical Committee HS/1. Ela fornece orientação sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalhador (SST), para encorajar a conformidade com as políticas e 131 objetivos declarados de SST, e sobre como a SST deve ser integrada ao sistema global de gestão da organização. A Norma Britânica BS 8800 trata-se na realidade não de uma norma certificável, mas de um guia de diretrizes produzido sem fins de certificação, ou seja, nenhuma empresa terá seu Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho certificado por este guia, o qual foi preparado pelo Tcchnical Committee HS/1, Occupapational Health and Safety Management – Comitê Técnico HS/1, Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho, sob a direção do Management Systems Sector Board, tendo sido publicado sob a autoridade do Standards Board, tornando-se válido em 15 de maio de 1996. Sabe-se que já existe uma estrutura legal sobre SST, requerendo que as organizações gerenciem suas atividades de modo a antecipar e prevenir circunstâncias que possam resultar em lesão ou doença ocupacional. A BS 8800 procura melhorar o desempenho das organizações em SST. Verifica-se que os elementos básicos de um Sistema de Gestão da SST são identificados na parte central da BS 8800, porém não os caracterizam de forma suficientemente clara que permita a sua implementação em uma empresa (definindo o que fazer). De fato, são os anexos deste guia que fornecem os detalhes inerentes à implementação dos vários elementos do sistema (definindo como fazer), constatando-se que a maior parte do seu conteúdo encontra-se em seus seis anexos com a seguinte abordagem: • Anexo A, apresenta o inter-relacionamento existente entre este guia e a ISO 9001, fornecendo subsídios às organizações para a implantação das medidas de SST em conformidade com os Sistemas de Gestão da Qualidade implantados ou a serem implantados, de forma a integrá-los em seu sistema global de gestão; 132 • Anexo B, fornece responsabilidades e orientação a sobre organização de a alocação pessoas, de recursos, comunicações e documentações, para definir e complementar a política e administrar eficazmente a SST; • Anexo C, descreve um procedimento que as organizações podem usar para desenvolver qualquer aspecto do seu Sistema de Gestão; • Anexo D, explica os princípios e práticas da avaliação de riscos de SST, e porque ela é necessária. • Anexo E, explica porque são necessárias a mensuração do desempenho da SST e as várias abordagens que podem ser adotadas; • Anexo F, dá orientações sobre como estabelecer e operar um sistema de Auditoria de SST. As alterações do ambiente geradas pelo trabalho criam uma série de fatores agressivos para a saúde, entre os quais encontram-se fatores mecânicos, agentes físicos, contaminantes químicos, fatores biológicos e tensões psicológicas e sociais. Estes agressores dão lugar a patologias do trabalho que se resumem nos riscos profissionais, tais como acidentes de trabalho, doenças profissionais, fadiga, envelhecimento e insatisfação. Na prática, os riscos ocupacionais podem ser divididos em riscos de operação e riscos de ambiente. Os riscos de operação são relativas ao processo operacional e às condições físicas dos locais de trabalho (máquinas desprotegidas, pisos escorregadios, empilhamentos incorretos). Já os riscos ambientais derivam das condições relativas ao ambiente de trabalho como a presença de gases e vapores. A norma BS 8800 se propõe a fornecer às organizações elementos para um sistema de gestão de saúde ocupacional e segurança efetivo, que podem ser integrados com outros sistemas gerenciais para auxiliá-los a 133 melhorar o desempenho na área de Segurança e Saúde Ocupacional (SSO). Tem por objetivo declarado: • Assegurar conformidade com a política de SSO; • Minimizar riscos aos funcionários e outras partes interessadas; • Melhorar o desempenho empresarial; • Estabelecer uma imagem responsável no mercado. As diretrizes contidas neste documento são baseadas nos princípios gerais do bom gerenciamento. Sua aplicação deve ser proporcional a circunstâncias e necessidades específicas das organizações. No entanto, ela não estabelece critérios de desempenho. A Norma BS 8800 é de fácil leitura, aplicável a qualquer organização, compatível com as Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho, complementar a outros Sistemas de Gestão existentes e integrável às ISO 9001 e ISO 14001. Dentro do escopo da norma há orientação para o desenvolvimento de sistemas de gerenciamento de Saúde e Segurança Ocupacional e as ligações com outras normas de sistema de gerenciamento. As referências normativas contêm definições entre as quais destacamos: • Acidente: evento não planejado que acarrete morte, problema de saúde, ferimento, dano ou outros prejuízos. • Perigo: fonte ou situação com potencial de provocar danos em termos de ferimentos humanos ou problemas de saúde, danos à propriedade, ao ambiente ou uma combinação disto. • Incidente: evento não previsto que tem o potencial de conduzir a acidentes. • Sistema de Gerenciamento: conjunto de complexidade, de pessoal, recursos e procedimentos cujos componentes interagem de maneira organizada, de modo a permitir que se 134 realize determinada tarefa ou que se atinja, ou se mantenha, determinado resultado. • Risco: a combinação de probabilidade e conseqüência de ocorrer um evento perigoso especificado. Assim sendo, um risco sempre tem dois elementos: • A probabilidade que um perigo possa ocorrer; • A conseqüência de um evento perigoso. Na abordagem, segundo HS(G)65, sequem-se os seguintes passos: • Política de SSO: definida pela alta administração. • Planejamento: avaliação de riscos associados a suas atividades ou produtos. • Requisitos legais: identificar e ter acesso à legislação e ou a três requisitos por ela subscritos aplicáveis aos riscos associados a suas atividades. • Gerenciamento de SSO: estabelecer metas e planos de ação, implementar e manter controles sobre os riscos e implementar ações corretivas. • Implementação e operação: com a estrutura e responsabilidades definidas, treinamento e conscientização realizados, documentação do Sistema de Gerenciamento de SSO e controle de documentos. • Verificação e Ação Corretiva: Monitorização e medição do desempenho com informações sobre a eficácia do sistema e ações corretivas das deficiências. Os registros devem rastrear a atividade, produto ou serviço envolvido. • Auditoria: estabelecer e manter programa e procedimentos para auditorias periódicas do sistema de gestão de SSO. 135 • Análise crítica pela administração: análise em intervalos determinados do sistema de gestão para assegurar adequação e eficácia. Atualmente, está mais difícil e dispendioso manter três sistemas separados (Qualidade, Meio Ambiente e Saúde e Segurança Ocupacional). Além disso, não há razão para termos procedimentos similares para os processos de planejamento, treinamento, controle de documentos, dados, aquisição, auditorias internas e outros. Assim sendo, estes sistemas não integrados tornam-se de difícil administração (CICCO, 1998: 125). Assim sendo, a integração de qualidade, meio ambiente e saúde e segurança, pode ser a mais nova solução administrativa para as empresas, não importando o porte destas. O programa integrado, sendo um sistema composto por uma gama de planos globais visando a melhoria da produção, busca assegurar a qualidade, a conservação do meio ambiente e a saúde e segurança de todos os quesitos envolvidos neste processo. Este programa de sistema integrado, é a prevenção, um único sistema ou projeto que englobe todos estes aspectos, cuidando de maquinaria, trabalhadores, ambiente de trabalho, saúde do quadro de funcionários e satisfação dos que consomem o produto final, sem a necessidade de programas individuais que sobrecarregariam o setor administrativo de uma empresa. CARDELLA (1999) destaca a importância da inspeção planejada do ambiente de trabalho para o diagnóstico de segurança por possibilitar a identificação e classificação dos agentes agressivos segundo o nível de periculosidade. CICCO (1996) considera que um ótimo caminho a ser seguido é o de se estabelecer um programa que possa, a partir da identificação dessas condições, conhecidas também como quase acidentes ou incidentes, sejam avaliadas e medidas com o objetivo de que soluções sejam propostas. Ou seja, as sugestões levantadas pela CIPA que possuam esse caráter próativo, as conclusões resultantes das inspeções de segurança, entre outras ações, podem ser traduzidas por indicadores de desempenho ou índices de implementação das medidas de prevenção e controle. Havia fundamentalmente uma preocupação na reparação de danos à saúde e integridade física dos trabalhadores, praticamente nada se pensava em prevenção. Em 1926 Heinrich, iniciou estudos em uma companhia americana de seguros e pôde observar o alto custo que representava para a seguradora reparar os danos decorrentes de acidentes e doenças do trabalho. Desenvolveu, então, idéias e formas de 136 gerenciar estes problemas, privilegiando a prevenção. É considerado o pai do prevencionismo. A abordagem proposta por Heinrich, para as causas de acidente do trabalho, não tem mais lugar nas organizações modernas. Nela o homem, por hereditariedade, influência do meio social, pode ser portador de características negativas de personalidade, caráter e educação. Destas características advêm as falhas humanas que dão origem aos dois elos da cadeia do acidente: atos inseguros, praticados pelas pessoas no desempenho de suas funções, e condições inseguras, criadas ou mantidas no ambiente pelos mais diversos motivos aparentes. Assim, os acidentes seriam prevenidos pela correção das condições inseguras e evitariam os atos inseguros do trabalhador (ZOCCHIO, 1992:32). Em 1966, o americano Frank Bird propôs um novo enfoque para as questões de segurança e saúde, a partir da idéia de que a empresa deveria se preocupar não somente com os danos aos trabalhadores, mas também com os danos às instalações, aos equipamentos, aos seus bens em geral. Ele chamou este enfoque de Loss Control, ou Controle de Danos, com o objetivo de dar uma abrangência maior a tais questões, tendo em vista que as causas básicas dos acidentes são as mesmas, ou seja, um acidente com origem humana ou material. Em 1970, John Fletcher ampliou o enfoque de Bird, dando outra designação a suas idéias, acrescentando a palavra “total”: Total Loss Control, ou Controle Total de Perdas, que incrementou o escopo para englobar as questões de proteção ambiental, de segurança patrimonial e de segurança do produto. Paralelamente a isso, foram desenvolvidas diversas ferramentas para auxiliar na identificação e avaliação de riscos, por meio de metodologias vindas dos programas aeroespaciais americanos, que originou a Engenharia de Segurança de Sistemas (CICCO e FANTAZZINI, 1994:41). 137 O homem, aparentemente, dispõe de recursos mais do que suficientes para evitar acidentes. A abordagem sistêmica e multidisciplinar dos fenômenos que levam aos acidentes laborais, leva a conclusões menos fragmentadas que conduzem a ações mais eficazes. Na abordagem holística a causa do acidente é um fenômeno de natureza multifacetada, resultante de interações complexas entre fatores físicos, químicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais (CARDELLA, 1999:72). Ainda nesta visão, pode-se afirmar que esforços para a Função Segurança, sem considerar a Produtividade, a Qualidade de Produtos, a Preservação Ambiental e o Desenvolvimento de Pessoas é grave falha conceitual e estratégica. Estratégia pode ter inúmeras definições, para Alfred CHANDLER relacionado à (1962: elaboração 25) e à o gerenciamento implementação da estratégico está estratégia nas organizações. A determinação das metas e objetivos de longo prazo de uma empresa e as linhas de ação e alocação dos recursos necessários para a execução dessas metas. Já para Robert D. Buzzell e Bradley T. Gale (1987:147) a estratégia empresarial é a vantagem competitiva. O único objetivo do planejamento estratégico é capacitar a empresa a ganhar, da maneira mais eficiente possível, uma margem sustentável sobre seus concorrentes. A estratégia corporativa, desse modo, significa uma tentativa de alterar o poder de uma empresa em relação ao dos seus concorrentes, da maneira mais eficaz. NONAKA e TAKEUCHI, (1997) diz que estratégia é o conjunto de objetivos, finalidades ou metas e as políticas e planos mais importantes para a realização dessas metas, declaradas de modo a definir em que o negócio a empresa está ou deverá estar, e o tipo de empresa que é ou deverá ser. Embora haja enorme variedade de definições diferentes, existem muitos pontos de convergência. O fundamental para a compreensão da 138 estratégia é a noção de que as decisões estratégicas são diferentes das decisões táticas. As decisões estratégicas caracterizam-se por: - serem importantes; - não serem facilmente reversíveis; - envolverem uma alocação de recursos para um período de tempo relativamente longo. A estratégia estabelece os parâmetros para a organização em termos da definição do negócio em que ela está e a maneira pela qual ela competirá. É por isso que um dos papéis importantes da estratégia é o de fornecer o direcionamento. Para essa finalidade, a estratégia pode ser definida como sendo o tema unificador que dá coerência e direção às ações e decisões de uma organização. A estratégia pode ser decidida em termos explícitos e até mesmo ser documentada. Entretanto, mesmo que a organização não articule uma estratégia, não significa que não a possua. Revela-se a estratégia de uma organização pelas decisões que ela toma e pelas ações que ele executa. Para muitas organizações, a estratégia revelada pode divergir da pretendida. Um Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho pode ser representado um processo que se inicia com a formalização da política de Segurança do Trabalho da empresa e com a determinação dos objetivos ambientais a serem atingidos, passando pelas diversas etapas de desenvolvimento, implantação, operação, avaliação e ações corretivas, a qual inclui uma análise crítica de todo o Sistema visando o seu aprimoramento e desenvolvimento contínuo. Sem dúvida a implantação de um Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho requer investimentos significativos na mobilização dos fatores técnicos, administrativos e humanos envolvidos e depende essencialmente da firme decisão da Alta Administração em fazer cumprir o planejado. Tendo como objetivo estabelecer diretrizes básicas para a gestão e garantia da qualidade, as normas da ISO Série 9000 originam um sistema de qualidade. De forma sucinta será apresentado o resultado de estudos 139 realizados sobre os seus elementos, objetivando caracterizar a viabilidade da integração das medidas de SST aos Sistemas da Qualidade. Embora a adoção da ISO 9000 não seja um pré-requisito, percebe-se que se constitui na base perfeita para a implementação da BS 8800, sabendo-se que as organizações possuidoras desses sistemas possuirão maiores subsídios que facilitarão a implementação de um modelo de sistema de segurança e saúde no trabalho (CICCO, 1996). A abrangência de todas as normas da família ISO 9000: a ISO 9001, a ISO 9002, ISO 9003 e a ISO 9004, é caracterizada a seguir: • ISO 9000 – Gestão da Qualidade e Garantia da Qualidade, Diretrizes para Seleção e Uso; • ISO 9001 – Sistema de Qualidade, Modelo para a Garantia da Qualidade em Projetos / Desenvolvimento, Produção, Instalação e Assistência Técnica – abrange todo o ciclo de vida do produto ou do serviço, desde a fase de desenvolvimento e projeto até os serviços associados a esse produto ou a esse serviço, como assistência técnica, por exemplo, passando pelas etapas de produção, instalação e entrega. Esta norma consiste na mais completa entre as normas contratuais, sendo chamadas contratuais por permitirem a certificação do Sistema de Garantia da Qualidade de uma organização. São normas em que uma empresa, um fornecedor, vai garantir para seu cliente que tem um Sistema da Qualidade que foi ou que pode ser auditado segundo uma dessas normas; • A ISO 9002 – Sistema de Qualidade, Modelo para a Garantia da Qualidade em Produção e Instalação – é considerada um subconjunto da ISO 9001, excluindo apenas o item referente ao desenvolvimento e projeto do produto ou serviço. Os outros elementos são exatamente iguais; • A ISO 9003 – Sistema de Qualidade, Modelo para a Garantia da Qualidade em Inspeções e Ensaios Finais – é uma norma muito 140 mais limitada, existindo muito poucas empresas certificadas. Ela se refere apenas à inspeção e ensaios finais. • A ISO 9004 – Gestão da Qualidade e Elementos do Sistema de Qualidade, Diretrizes – é uma norma de diretrizes: é um modelo para os Sistemas de Gestão da Qualidade (ou gestão da qualidade interna), diferentemente das ISO 9001, 9002 e 9003 que são normas sobre Sistemas de Garantia da Qualidade. Estabelecendo um paralelo, a ISO 9004 eqüivale à BS 8800 e à ISO 14004, da área de gestão ambiental. Somente com o desenvolvimento dos valores humanos é que as empresas poderão estabelecer uma estrutura organizacional capaz de sobreviver às modificações impostas por qualquer tecnologia ou sistema de produção que venham adotar (MÖLLER, 1997). A saúde humana, hoje, é profundamente marcada pela forma como se vive, no Brasil Reestruturação e no mundo, Produtiva, o mediado processo pelas de Globalização mudanças e de urbanas, as transformações no processo de trabalho e a difusão ampliada dos riscos industriais-ambientais. 0 modo de vida desenhado por este modelo redefine os padrões de saúde-doença das populações: "A incorporação de milhares de novas substâncias químicas, o aumento das plantas industriais, dos volumes produzidos e transportados e da aplicação de diversas formas de energia trouxeram, indubitavelmente, a ampliação da grandeza e do alcance dos impactos sócio ambientais das atividades humanas nas sociedades contemporâneas. Assim, os padrões de produção e consumo passaram a definir, cada vez mais profundamente, tanto o estado das águas, do ar, dos solos, da fauna e flora, quanto as próprias condições da existência humana: seus espaços de moradia e de trabalho, seus fluxos migratórios, as situações de saúde e de morte." (FRANCO e DRUCK,1997: 25) Por isso é tão importante investir na melhoria destes fatores. Hoje, desenvolver programas integrados como os já citados em parágrafos anteriores, sistemas de qualidade, saúde e prevenção, é assegurar a própria sobrevivência do sistema e da produção, que praticamente compõem os aspectos mais importantes de nossa civilização. De acordo 141 com o parágrafo acima, assinado por FRANCO e DRUCK (1997), os alicerces onde todos estão fundamentados, dependem cada vez mais da manutenção dos meios de produção e sua eficiência, a tal ponto, que se deve a vida a estes processos. Talvez isto tenha um aspecto positivo, mesmo que abordado de forma negativa pela maioria. A introdução destas culturas baseados em procedimentos químicos, grandes volumes de produtos que são introduzidos no mercado e demais fatores supracitados, nos permite ter certo controle sobre a manutenção destes alicerces, como nunca se teve antes. 2.7. Desenvolvimento e Formalização do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho Algumas ações precedem e são os fundamentos a partir do qual será concebido o Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho. São elas o desenvolvimento e o estabelecimento de uma política de Segurança do Trabalho e dos objetivos ambientais de curto, médio e longo prazo. As profundas mudanças observadas nos processos de trabalho, particularmente, na organização do trabalho, no marco da Globalização, ainda não tem sido bem avaliadas na sua integralidade. As mudanças no processos produtivos são orientadas pela busca do aumento da produtividade e redução dos custos, geralmente, acompanhadas além da redução do número de postos de trabalho e nos critérios de remuneração dos trabalhadores, e não são necessariamente seguidas pela melhoria das condições de trabalho. Assim, tornam-se necessários estudos mais abrangentes e interdisciplinares para fazer face a essa complexidade, para entender a intimidade desses processos e suas conseqüências para a saúde-doença dos trabalhadores. No Japão, o fenômeno da morte por excesso de trabalho é conhecido como karoshi, caracterizado por morte súbita, usualmente entre 142 adultos na faixa de 30 a 40 anos, após um período prolongado de trabalho intensivo. A causa imediata da morte é usualmente um "ataque". ZOCCHIO (1992), menciona a ocorrência de 110 mortes em três anos, atribuídas a esquemas de super exigência no trabalho e apresenta uma tendência ascendente. Assim, entre os problemas de saúde-doença dos trabalhadores, relacionados às condições de trabalho e meio ambiente, merecem destaque a persistência de altos índices de doenças relacionadas ao trabalho e de acidentes, socialmente distribuídos de modo desigual. Intensificação de ritmos de trabalho, prolongamento das jornadas, aumentando o tempo de exposição aos riscos ocupacionais e o desgaste dos trabalhadores. Exposição profissional a altas doses de agentes tóxicos, com efeitos agudos e de curta latência, paralela à exposição a baixas doses, com efeitos crônicos e de longa latência. Alta incidência de acidentes de trabalho, inclusive fatais, e das doenças profissionais clássicas (DIAS e LINO, 1996). A política de uma empresa com relação à questão de Segurança do Trabalho é ponto de partida. É importante definir neste momento se existe interesse em apenas atender às exigências legais ou se pretende um passo maior, tomando uma posição pró-ativa nos assuntos de meio ambiente, buscando sempre a melhor tecnologia, quer para reduzir a geração de efluentes e resíduos industriais, quer para controlar a emissão dos poluentes nas fontes, ou criar uma imagem de excelência. A política de Segurança do Trabalho deve ser coerente com outras políticas da empresa e devem ser tomadas todas as medidas necessárias para garantir que a mesma seja atendida, implementada e mantida. É importante frisar que esta atividade é responsabilidade do mais alto nível da administração. Quanto aos objetivos ambientais, estes devem ser necessariamente coerentes com a política de Segurança do Trabalho, e devem ser 143 estabelecidos com base em uma visão global dos objetivos da empresa e na sua real situação. Normalmente, o processo de estabelecimentos dos objetivos ambientais deve ocorrer em uma situação de Planejamento Estratégico e dever ser baseado em dados e informações oriundas de uma diagnose de Segurança do Trabalho específica para a empresa, que servirá ainda como referência para o Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho. Esta diagnose deve abordar pelo menos três grandes aspectos: 1) Caracterização das atividades da Empresa, incluindo forma de processamento (processos), identificação de poluentes e fontes de poluição, sistemas de controle e localização e vizinhança; 2) Analise de conformidade que inclui o levantamento e comparação com os critérios e padrões legais de emissão de poluentes e de qualidade das águas e do ar, exigências legais como licenças ambientais e termos de compromisso e comparação com referenciais de excelência nacionais e internacionais; 3) Análise das tendências legais, normativas e tecnológicas. É este conjunto de dados e informações específicos mais as informações usuais do Planejamento Estratégico como cenário, mercados, forças e fraquezas, etc. que permitirão a determinação coerente dos objetivos ambientais. O sistema de Gestão de Segurança do Trabalho a ser desenvolvido e implementado para atender aos objetivos ambientais de curto, médio e longo prazo já determinados deverá ser documentado e descrito em um Manual de Segurança no Trabalho. Dentre os diversos procedimentos, os programas e procedimentos de controle e os planos de prevenção são instrumentos estratégicos para se alcançar às melhorias pretendidas e os planos de monitoramento e procedimentos para rotinas de vigilâncias, ferramentas fundamentais na variável de Segurança do Trabalho, devendo ser bem definidos, ainda na 144 fase do desenvolvimento do sistema de Segurança do Trabalho, de forma a respaldar posteriores medições de performance. Um sistema de informação de Segurança do Trabalho também deve fazer parte do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho da empresa, de forma a colher dados e informações com a finalidade de detectar oportunidades de melhorias e facilitar um diálogo efetivo com a sociedade. Quando, determinadas áreas pelas suas características, merecerem destaque especial, poderão ser elaborados planos ambientais que são detalhamentos dos itens aplicáveis do Manual de Segurança do Trabalho para uma situação ou área específica. Para a elaboração dos diversos documentos que compõem o manual poderão ser utilizados recursos próprios ou de terceiros, dependendo do grau de especialização necessário e da disponibilidade de recursos. Uma vez concebido o Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho este deve ser implantado segundo um plano previamente definido. Nesta fase as necessidades de treinamento do pessoal devem ser identificadas de modo que haja entendimento do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho, bem como das ferramentas técnicas, métodos e habilidades requeridas. Para tarefas específicas deve ser prevista a qualificação dos envolvidos. Pode ser realizada com recursos humanos e materiais próprios ou terceirizados ou mesmo com alguns elementos da empresa, atuando como ligação junto à direção e coordenando a atuação do pessoal contratado. Esta equipe deve colocar em prática todo o conjunto de procedimentos estabelecidos para desenvolvimento do sistema, tais como a verificação do atendimento às condições de operação dos sistemas de controle, os programas de monitoramento de fontes e de corpos receptores, os planos de prevenção de episódios de poluição, as rotinas de vigilância para identificação de problemas ocasionais de poluição do ar, das águas, do solo e por ruídos, além dos cuidados em manter atualizado 145 o sistema de informação de Segurança do Trabalho, aí incluído o inventário de emissões. As avaliações periódicas são ferramentas extremamente importantes para verificar a eficácia do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho no atendimento aos objetivos ambientais e a aderência a Política de Segurança do Trabalho da Empresa. Segundo ENSSLIN, (1995), os principais instrumentos disponíveis são: a) Auditorias ambientais - As auditorias ambientais são o principal mecanismo de retroalimentação do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho, tendo um enfoque preventivo e visando principalmente o aprimoramento do sistema. Podem ser realizadas desde que estas tenham a qualificação necessária e não tenham responsabilidade direta pelas áreas auditadas. A freqüência destas auditorias deve ser ajustada ao grau de implementação do sistema e ao nível das deficiências observadas devendo no mínimo serem realizadas anualmente. Devem ter uma metodologia definida, consiste com práticas aceitas universalmente como por exemplo a proposta neste Trabalho. b) Fiscalização de entidades externas - A ação de agentes fiscais externos, tais como as de órgãos governamentais, associações de classe, etc., podem subsidiar a identificação de falhas em sistemas ambientais, indicando deficiências em sistemas de controle de poluição, inadequação de planos de monitoramento ou outros procedimentos. Os dados oriundos desta ação devem resultar em ações corretivas. c) Avaliações de desempenho - Normalmente feitas para um determinado sistema de controle de poluição ou como parte de um programa preventivo, ou como última etapa de uma manutenção ou reforma, são voltadas para a coleta de dados e sua análise visando preliminarmente o controle de processos, um dos elementos do Sistema de Gestão de Segurança do Trabalho, 146 através do monitoramento dos seus parâmetros mais significativos. Estas avaliações são feitas normalmente com o apoio de especialistas e laboratórios externos. d) Perícias Ambientais - São avaliações com a finalidade de detectar desvios dos requisitos estabelecidos na legislação e tem um enfoque policial. Nesta categoria se incluem, na opinião do autor, algumas das atividades previstas na legislação com a denominação de “Auditoria de Segurança do Trabalho” como por exemplo a lei n.º 1.898 de 26 de novembro de 1991 do Estado do Rio de Janeiro. A partir dos registros gerados nas avaliações periódicas devem ser implementadas ações preventivas e corretivas que resultarão na revisão de planos e procedimentos preestabelecidos, estudos ou desenvolvimento de novas tecnologias e capacitações do corpo funcional, sempre visando à contínua adequação e melhoria do sistema de Gestão de Segurança do Trabalho. A responsabilidade e autoridade para a tomada de ações corretivas deve ser definida no Manual de Segurança do Trabalho devendo ser avaliadas a importância e possíveis causas de problemas. As medidas tomadas devem ser monitoradas de modo a assegurar a sua eficácia e então serem incorporadas ao Sistema. Com um intervalo um pouco maior, geralmente por ocasião das atividades de planejamento estratégico, os próprios objetivos ambientais devem ser reavaliados incluindo sua aderência à Política de Segurança do Trabalho. A legislação atual de Segurança e Medicina do Trabalho está regida pela portaria n.º 3214 de 08 de junho de 1978, sendo que suas Normas Regulamentadoras vêm sofrendo ao longo dos anos atualizações Quando falamos em gestão de segurança falamos não só em periódicas. mudanças de comportamento, pois a implantação de um sistema de 147 gestão em segurança começa pela definição da política que a empresa vai adotar com relação a estes assuntos, tal gestão não deve ser desvinculada das áreas de produção e nem tratada como conflito trabalhista, é ponto estratégico da administração. 2.8. O Histórico da Mineração Na antigüidade, encontra-se estudos sobre a nocividade da poeira, estudos que remontam a Hipócrates (IV A. C.) posteriormente Plínio citava a utilização de bexigas (balão) que os refinadores de chumbo usavam sobre a face para evitar a inalação de poeira. Ao longo da história vários pesquisadores (Galeno, Platão, Marcial, dentre outros) tratam de alguma maneira o problema da nocividade da poeira. Em 1672, Van Diemerbroeck estudou vários cortadores de pedra mortos e comparou na autópsia, ao dissecá-los, que seus pulmões pareciam feitos de areia. Em 1770, B. Ramazzini estudou os sintomas clínicos e lesões ocasionadas pela inalação de pó (KLIPPEL, 1999). As mineralizações estão associadas à evolução de alterações hidrotermais. Os filões auríferos apresentam-se geralmente com formas muito comuns as tabulares, lenticulares e irregulares sendo mais de bolsões. Ocorrem de forma generalizada em toda a extensão do corpo granítico, variando de dimensões centimétricas à métricas, com ângulo de mergulho variando de 45º a 60º . No trabalho diário na mina, tem-se várias fontes de poeira. As mais importantes são o martelo pneumático e o Jumbo (perfuratriz eletrohidráulica), quando estes estão em operação perfurando rochas nas frentes de serviço. Também são fontes de poeiras o manuseio ou remoção do material (de modo mecânico ou manual), o seu transporte (por meio de máquinas) e no ato da detonação. 148 O início da atividade mineral no Brasil se confunde com o próprio processo de colonização do país, através da exploração de riquezas minerais, baseada na escravidão e visando o mercado externo. Desde o princípio, as terras brasileiras apareciam para Portugal como fonte potencial de tesouros, cuja descoberta e exploração foram fortemente estimuladas. Embora as primeiras iniciativas visando a descoberta de metais e pedras preciosas em terras brasileiras falhassem, devido às dificuldades daquela época, o desejo de descobrir riquezas minerais se manteve entre os habitantes da nova colônia, estimulados pela corte portuguesa, que oferecia promessas de honra e reconhecimento para os descobridores de tais riquezas. Os tempos mudaram, mas a mineração continua sendo em termos genéricos considerada, principalmente pelo ambiente externo, como uma atividade humana alheia à indústria de alta sofisticação técnica e financeira, relacionada à trabalhos rudimentares, dispensáveis e indesejáveis. Dentro da classificação dos Sistemas de Produção, de acordo com TUBINO (1997:27-30), a indústria extrativa mineral, de pequeno e médio porte, de minerais não-energéticos, caracteriza-se como processo contínuo, pois normalmente existe grande uniformidade na produção e os processos produtivos são altamente interdependentes. A mineração é uma atividade de alto risco em suas etapas iniciais de prospecção e exploração. Exige um longo tempo de maturação e envolve grandes investimentos. 2.9. Os Estágios da Indústria Mineral Dentro do macro processo delineado na indústria extrativa, existem processos básicos e comuns a vários tipos de exploração de ocorrência mineral (exceção a minerais energéticos), que podem ser rapidamente descritos 149 • exploração; • desenvolvimento; • extração; • beneficiamento; • processamento metalúrgico; • recuperação. Alguns destes métodos foram sumariamente enfatizados por RIPLEY et al (1996:11-12): a) A exploração geofísica pode ser conduzida fora da superfície como também por aviação, usando como ferramentas atuais a sísmica, gravidade, resistência, magnética, eletromagnética, radar e polarização induzida. Ondas de rádio e métodos eletrogeoquímicos são desenvolvimentos recentes. b) Poços e trincheiras são construídos para examinar o material que está no subsolo e para a aquisição de amostras para análises químicas. Estas tarefas, como também a remoção da sobrecarga (material superficial que impede acesso ao corpo mineral) são usualmente realizadas por máquinas de escavação, métodos hidráulicos ou explosões. Métodos hidráulicos ou explosivos são, provavelmente, os mais significantes em termos de área afetada. c) A tecnologia de exploração tem avançado em anos recentes. Prospectores têm aumentado os usos de sensoriamento remoto e tecnologia de computação e seus empregos na sondagem profunda e escavação subterrânea, como também métodos geofísicos para localização de corpos minerais profundos. Como resultado, grande quantidade de dados geológicos, geofísicos e geoquímicos estão sendo acumulados. Integrando estes tipos de dados, mais recentemente informação geográficas (GIS). vêm-se usando sistemas de 150 d) Outro método interessante em regiões de latitude elevada é o direcionamento de prospeção para estudos de sedimentos glaciais para identificar e localizar minerais e suas fontes. Pesquisas neste tópico começaram nos anos 50 e têm sido intensificadas em anos recentes. Um sistema de imagem por radar é esperado para ser lançado dentro dos próximos dez anos. e) Vários métodos biológicos de exploração mineral não têm ainda aceitação em muitos países. Geralmente técnicas não invasivas trazem a perspectiva de efeitos ambientais relativamente menores. Elas usam indicadores como espécies bióticas ou componentes químicos (ZONNEVELD, 1983), incluindo geobotânica, a qual está baseada no exame de áreas de vegetação revestidas ou a flora do solo; biogeoquímica, baseada na análise química da vegetação do solo e geozoologia, que usa animais para localizar áreas de mineração. f) A tecnologia de modelagem computacional está também sendo recomendada e usada com crescente aumento como uma ferramenta para transformar dados de exploração em modelos de corpos minerais, os quais podem ser de considerável ajuda na avaliação de reservas minerais e em estratégias de planejamento de extração . O desenvolvimento de minas consiste geralmente de quatro atividades: • estudo de viabilidade, para avaliar os depósitos e o melhor método a ser usado no processo de extração; • o desenho das minas e suas estruturas de controle ambiental; • avaliação de impacto ambiental e informações ao público associado e • construção. 151 A questão da extração dos depósitos minerais e dos combustíveis fósseis finitos e não renováveis vêm sendo teoricamente discutida por Elmar Altvater (1995), que utiliza o conceito de ilhas de sintropia para caracterizar as reservas e suas dimensões contidas no subsolo. Segundo ALTVATER (1995), as ilhas de sintropia são distribuídas por toda a Terra. Seu conceito refere-se às altas concentrações de matéria e/ou energia na crosta terrestre, aproveitáveis pelo homem. A sintropia não determina exclusivamente estados e fluxos energéticos, mas expressa primeiramente um alto grau de ordenamento e concentração material. Um depósito de minério de ferro, mas também de petróleo bruto, ou gás natural, seriam ilhas de sintropias. Estes são economicamente interessantes por causa do teor elevado da referida matéria-prima, como também quando estes contêm poucas misturas com outros elementos (MATHIS et al, 1997:29). Beneficiamento pode ser considerado o processo segundo o qual o minério passa por uma preparação para subseqüente estágio no processamento, tal como fundição, lixiviamento e refinamento. Este processo serve para remover minerais constituintes não desejáveis, aumentando assim a concentração do mineral desejado e/ou para alterar as propriedades físicas do mineral, tal como a classificação de partículas e misturas contidas. O processamento e refino metalúrgico incluem todos os tratamentos de minérios recebidos após sua extração e beneficiamento. Muitos destes tratamentos envolvem mudanças na natureza química dos minerais lavrados (MATHIS et al, 1997:33). De maneira geral, a concepção básica desse processo envolve o isolamento de um metal de seus outros componentes como óxidos, carbonatos ou outros. Este tipo de processo é conhecido e chamado de metalurgia extrativa e pode ser amplamente dividido em três grupos (MATHIS et al, 1997:33): a) Pirometalurgia: no qual temperaturas elevadas são usadas para auxiliar na reação extrativa; 152 b) Hidrometalurgia: no qual um líquido solvente é usado para lixiviar o metal dos seus minerais; c) Eletrometalurgia: no qual a energia elétrica é usada para afetar a dissociação de metal em solução produzida através da água. Embora a vida da atividade de mineração possa ter seu tempo determinado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, impulsionada pelo preço de mercado e pela demanda mineral, por outro lado a perspectiva finita dos corpos minerais e processos ambiciosos geralmente remetem para sua exaustão, ainda que o aspecto temporal de seu curso possa ser considerado. A história da atividade de mineração tem demonstrado que finalizadas as operações ou a vida do corpo mineral as minas e suas estruturas tendem a ser fechadas, abandonadas, depósitos de rejeitos são acumulados e sem cuidados, e um conjunto de lugares e locais transtornados. Assim, muitos reflexos são de preocupações imediatas como por exemplo alterações da topografia e da superfície, drenagem de superfície e subsuperfície, vegetação e solos destruídos, estradas e construções abandonadas, entre outros A sílica é encontrada na natureza em abundância, pois constitui a maior parte da crosta terrestre. Sua fórmula química é constituída por um átomo de silício e dois de oxigênio (SiO 2 ). Esses átomos, por sua vez, unem-se a outros formando diversas estruturas cristalizadas, resultando em diferentes classes de sílicas cristalizadas. Desse modo, a sílica cristalizada pode apresentar-se em forma de quartzo, cristobalita, tridmita, amorfa. A nocividade das partículas de SiO 2 é maior de acordo com sua forma. A cristobalita e a tridinita possuem um maior potencial fibrogênico do que o quartzo. Já a sílica amorfa e a fundida são menos nocivas que as cristalizadas. De maneira geral, vários são os fatores que influenciam na maior ou menor intensidade fibrogênica de determinado tipo de particulado, dentre o que se pode destacar: 153 • Concentração de poeira inalada; • Sílica na poeira; • Forma cristalizada das partículas; • Tamanho das partículas • Duração da exposição. O dano direto provocado pelo particulado é diretamente proporcional à concentração de particulado inalado e duração de exposição. A sílica é a substância causadora da enfermidade (silicose) e, evidentemente, quanto maior o percentual de sílica, maior será a nocividade da poeira. Outro fator importante na ocorrência da silicose é o tamanho das partículas. As partículas maiores são selecionadas pelo sistema respiratório, enquanto as menores podem chegar aos alvéolos pulmonares. A exposição ocupacional à poeira contendo sílica ocorre em diversos ambientes de trabalho e ramos de atividades, tais como: mineração de ouro, ferro, extração de calcário, dentre outras. Nessas indústrias, tanto na extração como no beneficiamento, há presença de particulados que podem conter sílica. Outros ramos de atividade em que há a presença de poeira sílica: Construção civil, fundição, indústria de refratários, siderúrgicas. A metodologia utilizada na avaliação de particulados é definida pelos métodos do NIOSH (National institute for Occupational Safety and Health), OSHA (Occupational Safety and Health Administration), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e FUNDACENTRO. Os métodos estabelecem os procedimentos para o levantamento de campo e análise laboratorial. Desse modo, para a realização da avaliação, deverá ser consultada e seguida as orientações contidas nesses métodos, visando alcançar com maior exatidão e embasamento científico as medições. O laboratório deve estar entrosado com a higiene de campo, de forma a não incorrer em grandes erros na qualificação dos particulados. Os laboratórios de analise devem ser credenciados pelos órgãos competentes do poder público para prestarem este tipo de serviço. É recomendado também, 154 consultas aos métodos do NIOSH, da OSHA, FUNDACENTRO, além de se trabalhar com um laboratório idôneo, que siga os métodos citados anteriormente e esteja afinado com os procedimentos técnicos no campo. 2.10. Aspectos Epidemiológicos As Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais - DPAO, especialmente aquelas relacionadas aos ambientes de trabalho, constituem ainda, entre nós, um importante e grave problema de saúde pública. Considerando o atual estágio de desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, enquanto país industrializado, são incipientes os conhecimentos e os mecanismos de controle dessas enfermidades conseqüentes da degradação ambiental, que, por sua vez, têm gerado impacto nas condições de saúde e qualidade de vida da população. Essas doenças, em sua maioria, de curso crônico, são irreversíveis e sem tratamento. Além de incapacitar os indivíduos ainda jovens em plena capacidade laborativa, requer compensação previdenciária, faceta importante de implicação social. Conforme Portaria nº. 2.569, publicada no Diário Oficial União de 20.12.95, o Ministério da Saúde, através da Coordenação Nacional de Pneumologia Sanitária e da Coordenação de Saúde do Trabalhador constituiu o Comitê Assessor em Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais, com o propósito de, juntamente com outros segmentos, implementar ações para o equacionamento e, se possível, a redução dessas doenças. Diante da importância e da abrangência das doenças relacionadas ao processo de trabalho, pretende-se abordar nesse manual de normas as Pneumoconioses, tais como: a Silicose, a Pneumoconiose dos 155 Trabalhadores de Carvão e a Pneumoconiose por Poeiras Mistas, em especial aquelas que causam maior impacto social em nosso meio. O termo pneumoconiose foi criado por Zenker, em 1866, para designar um grupo de doenças que se originam de exposição a poeiras fibrosantes. Em 1971, este termo foi redefinido como sendo “o acúmulo de poeiras nos pulmões e a reação tecidual a sua presença” e define como poeira um aerosol composto de partículas sólidas inanimadas. 2.11. A Doença Silicose Silicose é uma fibrose pulmonar difusa, nodular, intersticial causada por uma reação dos tecidos à inalação do pó de sílica cristalina. Poderá tomar uma forma aguda em situações de exposição intensa, mas normalmente aparece sob forma crônica, levando alguns ou mesmo muitos anos para se revelar. As pessoas atingidas pela silicose estão sujeitas a um aumento de susceptibilidade a certas infecções como a tuberculose, complicando assim os prognósticos relativos do paciente. Verifica-se ainda uma evidência crescente de que a sílica cristalina provoca o cancro e que os indivíduos portadores de silicose se encontram em risco acrescido de contraírem cancro do pulmão. (BRITTO, 1978). Excetuados os casos agudos, a silicose apresenta-se inicialmente com poucos ou nenhum sintoma. Quando se detecta a presença de sintomas clínicos de silicose, eles poderão traduzir-se em tosse e falta de ar de uma gravidade crescente. No exame físico, os ruídos respiratórios poderão apresentar-se normais ou distantes, e, ao agravarem-se, poderão constituir um sinal de insuficiência cardíaca. A evidência de resposta patológica a exposições à sílica existe muito antes de aparecerem os sintomas. As reações crônicas, que ocorrem 10 anos, ou mais, depois da primeira exposição, incluem lesões nodulares, (opacidades bilaterais, múltiplas, boleadas) mais salientes nos lobos superiores, com muita frequência. Na fase simples da silicose, os nódulos são geralmente 156 pequenos (1 centímetro ou menos). Nesta fase a função pulmonar poderá ser já ligeiramente afetada. A silicose complicada ou fibrose progressiva maciça [Progressive Massive Fibrosis (PMF)] aparece também nos lobos superiores, mas os nódulos acabam por se consolidar excedendo 1 centímetro e envolvendo vasos sanguíneos e vias aéreas. A função pulmonar poderá ser gravemente comprometida, muitas vezes segundo um padrão misto restritivo/obstrutivo, mas poderão ser constatadas tanto a restrição como a obstrução pura. Reações agudas poderão manifestar-se num período que poderá ir de umas poucas semanas até dois anos após o início da exposição maciça. A característica distintiva da silicose aguda são os depósitos intra-alveolares, semelhantes aos observados na proteinose alveolar. Em contraste com a fibrose nodular observada na sua forma crônica, não é encontrada a fibrose intersticial difusa. A silicose, na sua forma acelerada, que se revela em menos de 10 anos, tem sido associada na maioria das vezes aos aparelhos de jato de areia. Nestes casos, há sérias probabilidades de a fibrose difusa se manifestar e aparecer espalhada por todos os lobos do pulmão. Existem inúmeros trabalhadores expostos à sílica livre cristalizada em vários ramos de atividade no Brasil. A poeira contendo sílica é liberada durante operações nas quais rochas, areia, concreto e minerais são moídos, quebrados ou manipulados. Por esse motivo, trabalhos em minas, pedreiras, fundições, construção civil, fabricação de vidros, cerâmicas, beneficiamento de rochas ornamentais, atividades utilizando poeiras abrasivas, podem causar a silicose. Várias atividades são executadas por pequenas empresas onde as condições de exposição a poeiras são críticas. Essa situação é devida, entre outros motivos, às limitações no acesso à informação disponível sobre os riscos ocupacionais relacionados à sílica, aplicação de tecnologia rudimentar, possíveis condições de informalidade em diversos ramos de atuação. As Pneumoconioses são definidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como "doenças pulmonares causadas pelo acúmulo de 157 poeira nos pulmões e reação tissular à presença dessas poeiras". A silicose é um tipo de pneumoconiose conhecida desde a antigüidade, causada pela inalação de poeiras contendo sílica livre cristalina. É uma doença de origem tipicamente ocupacional, embora existam relatos de alterações radiológicas sugestivas de silicose em habitantes de comunidades de regiões desérticas . No Brasil, já há muitos anos, a silicose é considerada para fins previdenciários, como "doença profissional", o que equivale, para estes fins, à extensão do conceito de "acidente de trabalho". A silicose representa um sério problema de saúde pública uma vez que, apesar de ser potencialmente evitável, apresenta altos índices de incidência e prevalência, especialmente nos países menos desenvolvidos. É irreversível e não passível de tratamento, podendo cursar com graves transtornos para a saúde do trabalhador, assim como resultar em um sério impacto sócio-econômico. Visando solucionar este problema, a OMS e OIT lançaram um programa conjunto de erradicação da silicose no ano de 1995. Nos países desenvolvidos, embora sua incidência tenha diminuído devido a medidas de controle ambiental, substituição da sílica em algumas operações e conscientização de empresas e trabalhadores, casos continuam sendo notificados pelos sistemas de vigilância. No Brasil, segundo LAGO, (1981) a silicose é a pneumoconiose de maior prevalência, devido a ubiqüidade da exposição à sílica. Embora tenham ocorrido nítidas melhorias nas condições de trabalho em alguns setores nas últimas décadas, continua-se a diagnosticar casos de silicose com freqüência na prática clínica. A relação das atividades de risco é vasta: - indústria extrativa mineral: mineração subterrânea e de superfície; - beneficiamento de moagem; lapidação; minerais: corte de pedras; britagem; 158 - indústria de transformação: cerâmicas; fundições que utilizam areia no processo; vidro; - abrasivos; marmorarias; corte e polimento de granito; cosméticos; - atividades mistas: protéticos; cavadores de poços; artistas plásticos; jateadores de areia. Embora conhecida desde a antigüidade, no Brasil, caracteriza-se como a principal pneumoconiose e as estatísticas fiéis são escassas, assim como as estimativas da população de risco. Contudo, a ocorrência de poeiras com sílica certamente atinge alguns milhões de trabalhadores nas mais variadas atividades produtivas. Agrava-se o quadro quando se considera que a silicose está intimamente relacionada com a tuberculose, além de outras doenças como artrite reumatóide e até mesmo neoplasia pulmonar. A silicose é a pneumoconiose de maior prevalência no Brasil, devido a ubiqüidade da exposição à sílica. Encontramos no país, todas as situações de exposição à sílica onde há risco de silicose, assim como situações peculiares de exposição. O número estimado de trabalhadores potencialmente expostos a poeiras contendo sílica é superior a 6 milhões (por volta de 4 milhões na construção civil, 500.000 em mineração e garimpo e acima de 2 milhões em indústrias de transformação de minerais, metalurgia, indústria química, de borracha, cerâmicas e vidros). (MIN SAÚDE, 1997). Temos dados referentes à ocorrência de silicose de diferentes tipos, tais como número de casos diagnosticados em serviços especializados e prevalência de silicose em grupos industriais, tais como Pedreiras a céu aberto (3,0%), Cerâmicas (3,9%), Fundições (4,5%), Indústria Naval (23,6%) e Cavação de poços (17,4%). Estas taxas de prevalência referemse a trabalhadores em atividade e o contraste entre as mesmas reflete as condições de exposição dentro de cada grupo analisado. Somente no Estado de Minas Gerais, calcula-se que haja cerca de 7416 casos 159 provenientes de mineração de ouro . Sabe-se que destes cerca de 4500 casos são da região de Nova Lima. Os números de casos provenientes de garimpo e lapidação não são bem conhecidos. (MIN. SAÚDE, 1997). O que reforça a idéia de uma mineração alheia a indústria de alta tecnologia, visto que ainda não avançou no campo da prevenção contra acidentes de trabalho ou medicina ocupacional preventiva. Os dados e a confiabilidade deles, talvez possam ser um termômetro do grau de consciência de cada setor sobre a necessidade, em tempos contemporâneos, de preocupar-se com fatores tais como, qualidade do ambiente e a saúde dos trabalhadores. Como a silicose é uma doença de desenvolvimento lento, excetuando-se os casos de silicose aguda e sub-aguda, e pode progredir independentemente da exposição continuada, boa parte dos casos só serão diagnosticados anos após o trabalhador estar afastado da exposição. Em 1978 estimou-se que o "estoque" de casos de silicose no país seria próximo a 30.000 casos, através de uma busca ativa de casos de silicose em sanatórios de tuberculose (MENDES, 1978). Foram descritos inúmeros casos graves de silicose em cavação de poços (Vieira) e jateamento de areia na indústria naval (COMISSÃO TÉCNICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1994). Levantamento recente de casos de silicose acompanhados no ambulatório da FUNDACENTRO, mostra que os casos provenientes da mineração tendem a ser mais graves do que casos provenientes de indústrias urbanas como fundições e cerâmicas. É freqüente o aparecimento de casos graves provenientes de pequenas empresas e empresas fantasmas, pela total ausência de medidas de controle de exposição a poeiras. Um exemplo desta situação são os casos em lapidários, recentemente avaliados pelo Ambulatório de Doenças Profissionais da UFMG e pelo ambulatório de Pneumologia Ocupacional da FUNDACENTRO, assim como em jateadores de areia diagnosticados em Curitiba. A silicose é uma doença que pode ser incapacitante, associar-se a complicações como a tuberculose, limitação crônica ao fluxo aéreo e 160 câncer de pulmão. Não há tratamento padronizado e geralmente evolui com o correr dos anos. Nos países desenvolvidos sua ocorrência esta em franco declínio, pela instituição de medidas de controle de exposição a poeiras, substituição da sílica em algumas operações e conscientização de empresas e trabalhadores. No Brasil coexistem situações nas quais houve nítidas melhorias de condições de trabalho em alguns setores nas últimas décadas, com outras atividades exercidas em precárias condições ou ainda pouco conhecidas. Continuamos a diagnosticar casos de silicose com freqüência na prática clínica. É uma doença perfeitamente prevenível e já há tecnologia disponível para evitá-la. A OMS e OIT lançaram um programa conjunto de erradicação da silicose no ano de 1995. No período de 06 a 10 de novembro de 2000, a FUNDACENTRO, a Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná e a Fundação Oswaldo Cruz, com apoio da OIT e OMS, além de inúmeras instituições governamentais e não governamentais realizaram o Seminário Internacional sobre Exposição à Sílica - Prevenção e Controle. A realização do Seminário foi uma iniciativa que veio ao encontro dos objetivos propostos pelo programa internacional para a eliminação global da silicose, pois debateu questões pertinentes à situação da doença no Brasil com enfoque para as medidas de prevenção e controle, procurando identificar e difundir as formas e meios que essas ações e medidas possam ser efetivamente aplicadas e motivar todos os envolvidos com a questão a envidar esforços para que a doença seja cada vez mais um achado raro na nossa sociedade. Nesse Seminário firmou-se um compromisso de se elaborar um Programa Nacional de Eliminação da Silicose que integre as ações institucionais, principalmente das áreas Saúde, Trabalho e Previdência, garantindo que em seus projetos estratégicos contemple a questão da eliminação da SILICOSE e que considere a possibilidade da contribuição da Organização Mundial da Saúde, Organização Internacional do Trabalho, convênios de cooperação técnica com outros países e ainda a participação dos demais atores sociais envolvidos na questão. 161 A sílica livre cristalina é extremamente tóxica para o macrófago alveolar devido as suas propriedades de superfície que levam à lise celular. A ocorrência da doença depende de vários fatores, dentre eles, a suscetibilidade individual, o tamanho das partículas, o tempo de exposição e a concentração de sílica livre respirável. O risco de formação de nódulos silicóticos clássicos está relacionado a poeiras respiráveis que contenham mais de 7,5% de quartzo na fração respirável. Porém, é necessário lembrar que a presença de outros minerais pode aumentar ou diminuir a toxicidade da sílica. Portanto, o raciocínio deve estar embasado, preferencialmente, em medições qualitativas e quantitativas da poeira respirável. Classicamente são descritos três formas clínicas distintas, a crônica, a acelerada e a aguda, com diferentes expressões radiológicas e histopatológicas: - Silicose crônica: também conhecida como forma nodular simples, é a mais comum e ocorre após longo tempo do início da exposição, que pode variar de 10 a 20 anos, a níveis relativamente baixos de poeira. É caracterizada pela presença de pequenos nódulos difusos (menores que 1cm de diâmetro), que predominam nos terços superiores dos pulmões. A histologia mostra nódulos peribroncovasculares, com camadas concêntricas de colágeno e presença de estruturas birrefringentes à luz polarizada. Com a progressão da doença, os nódulos podem coalescer formando conglomerados maiores e, eventualmente, substituindo parte do parênquima pulmonar por fibrose colágena. Os pacientes sintomas que, costumam em geral, ser são assintomáticos precedidos ou apresentar pelas alterações radiológicas. A dispnéia aos esforços é o principal sintoma e o exame físico, na maioria das vezes, não mostra alterações significativas no aparelho respiratório . Este tipo de silicose pode ser exemplificado com os casos observados na indústria cerâmica no Brasil . 162 - Silicose acelerada ou subaguda: caracterizada por apresentar alterações radiológicas mais precoces, normalmente após cinco a dez anos do início da exposição. Histológicamente encontram-se nódulos silicóticos, semelhantes aos da forma crônica, porém em estágios mais iniciais de desenvolvimento, com componente inflamatório intersticial intenso e descamação celular nos alvéolos. Os sintomas respiratórios costumam ser precoces e limitantes, além de maior potencial de evolução para formas complicadas da doença, como a formação de conglomerados e de fibrose maciça progressiva. É o caso da silicose observada em cavadores de poços. - Silicose aguda: forma rara da doença, associada a exposições maciças à sílica livre, por períodos que variam de poucos meses até quatro ou cinco anos, como ocorre no jateamento de areia ou moagem de pedra. Histológicamente é representada pela proteinose alveolar associada a infiltrado inflamatório intersticial. A dispnéia costuma ser incapacitante e pode evoluir para morte por insuficiência respiratória. Em geral ocorre tosse seca e comprometimento do estado geral. Ao exame físico auscultam-se crepitações difusas. O padrão radiológico é bem diferente das outras formas, sendo representado por infiltrações alveolares difusas, progressivas, às vezes acompanhadas por nodulações mal definidas. O diagnóstico da Silicose é baseado na radiografia de tórax, em conjunto com história clínica e ocupacional coerentes. Eventualmente, outros procedimentos são necessários. • História Ocupacional. Um inquérito rigoroso sobre a profissão, ramo industrial, atividades específicas detalhadas, presentes e passadas, é fundamental para a caracterização da exposição. A silicose excepcionalmente é decorrente de atividade não profissional; em casos de suspeita com história ocupacional 163 negativa, um inquérito sobre hobbies região de moradia, outras atividades de lazer ou domésticas impõe-se. • História Cínica. A silicose em sua fase inicial é praticamente assintomática. Com a progressão, os sintomas predominantes são a dispnéia de esforço e a astenia. Nas fases mais avançadas da doença pode sobrevir insuficiência respiratória, com dispnéia aos mínimos esforços e até em repouso, bem como o cor pulmonale crônico. Sintomas precoces podem ser devidos ao tabagismo ou outras doenças associadas, como silicotuberculose. A presença de tosse e expectoração é freqüente, e diversos estudos epidemiológicos de grupos expostos a poeiras minerais mostram uma maior prevalência de bronquite crônica. • Radiologia. A silicose, como o principal exemplo de pneumoconioses nodulares, caracteriza-se pela presença de opacidades nodulares do tipo p, q ou r, conforme a Classificação Internacional de Radiografias de Pneumoconioses da OIT. As lesões tendem a ser difusas, simétricas, com predomínio nos campos superiores. A progressão das lesões pode, além do aumento de profusão, mostrar um aumento no diâmetro médio dos nódulos, chegando à coalescência (ax) e grandes opacidades. Estas últimas, normalmente, aparecem nos campos superiores e médios, crescendo em direção aos hilos e são usualmente bilaterais e simétricas. Com o tempo essas massas tendem a tracionar o parênquima surgindo enfisema e bolhas no tecido adjacente. Essa condição também é conhecida como fibrose maciça progressiva. São achados freqüentes em silicose o aumento hilar (hi), as linhas B de Kerley (kl), a distorção das estruturas intratorácicas (di) e as calcificações ganglionares em casca de ovo (egg shell - es). Quando existe predomínio de lesões irregulares deve-se pensar na presença de outras doenças como colagenoses e tuberculose, ou mesmo em decorrência do tabagismo e da idade, ou da exposição a poeiras mistas. 164 O espessamento pleural não é comum na silicose simples, podendo ser encontrado nas formas complicadas e nas associações com tuberculose. O encontro de derrame pleural sugere condições coexistentes como falência cardíaca congestiva e câncer broncogênico. Função Pulmonar. As provas de função pulmonar são indispensáveis no estabelecimento de disfunção/incapacidade de pacientes com silicose, no seguimento longitudinal de trabalhadores expostos a poeiras de sílica, com o objetivo de identificar trabalhadores que demonstrem perda de função excessiva ao longo do seguimento e na avaliação clínica de trabalhadores apresentando sintomas respiratórios. Por outro lado, não têm aplicação no diagnóstico de silicose ou de estágios precoces da doença. A espirometria é o exame recomendado nas indicações citadas, ocasionalmente acrescida de teste de exercício para o estabelecimento de incapacidade funcional. Infelizmente, muitos dos casos de silicose são erroneamente diagnosticados devido ao fato dos médicos desconhecerem a história da ocupação profissional do trabalhador e não estarem familiarizados com os sinais que vêm associados a esta doença profissional. É por isso que estes casos acabam não sendo comunicados. Sem um diagnóstico adequado e com falta de comunicação, os trabalhadores não poderão receber tratamento médico e aconselhamento apropriados. Além disso, a silicose é considerada como doença compensável em alguns estados. Por conseguinte, os trabalhadores afetados pela silicose poderão ter direito à indenização do trabalhador dependendo do estado em que se encontrem. (UNDERCOUNTING SILICOSIS, 1998) Não se conhece qualquer tratamento médico capaz de inverter o processo da silicose, por conseguinte a prevenção assume uma importância extremamente crítica. A remoção para fora de situações de exposição poderá contribuir para diminuir o ritmo de progressão da doença. Os corticosteróides não se têm mostrado eficazes na redução do progresso da doença. Deverá iniciar-se logo um tratamento adequado para a insuficiência cardíaca e tuberculose se forem detectadas estas 165 complicações. Todos os indivíduos deverão ser aconselhados a deixarem de fumar devendo receber energicamente todo o apoio e informação referente à abstenção do fumo. Para se avaliar a progressão e possível despistagem do cancro do pulmão, deverão ser marcados exames regulares de acompanhamento. Aos indivíduos afetados pela silicose deverá ser oferecida a opção de transferência para atividades isentas de sílica. E para que isto possa ser, de fato, uma alternativa realista, deverá ser-lhes garantido o mesmo nível de salário e respectivos benefícios sem perda de antiguidade. Mesmo com o avanço da consciência na base representativa patronal sobre a necessidade de profundas mudanças nas questões de saúde, segurança e preservação do meio ambiente, a realidade nos tem mostrado que o progressivo crescimento industrial e consequentemente o número de empresas, tem sido diferenciado quando comparados a qualidade de vida dos trabalhadores e das comunidades onde se localizam as pedreiras e as empresas de beneficiamento de mármore e granito. Saudamos a 12ª Feira Internacional do mármore e granito como um momento importante do ponto de vista comercial e industrial. Mas, a nossa saudação tem um peso enlutado pelas vidas que se vão nos caminhos desta atividade, do pranto corrente das famílias dos mutilados, e ainda do profundo desejo de que, um dia, possamos inserir na Feira Internacional do mármore e granito a trilogia , empresa - trabalhador - comunidade. Quando isto acontecer, teremos o que chamamos de "mineração social", onde os processos de extração e beneficiamento de mármores e granitos, incluam os cidadãos capixabas nos benefícios que advém da atividade. Em suma, no setor de mármore tem gente que assume tudo o que fala e faz, e tem outros que somem. 166 CAPÍTULO III METODOLOGIA Neste capítulo estaremos descrevendo as metodologias utilizadas para a determinação da concentração das poeiras respiráveis (mg/m3) nos ambientes de trabalho e, consequentemente, o teor de sílica livre cristalina (%) destas amostras de poeiras dos ambientes e das rochas utilizadas nas atividades de lapidação. Estaremos também fazendo a menção dos procedimentos realizados para diagnóstico dos exames, radiografia de tórax, tomografia computadorizada de alta resolução e avaliação funcional, nos quais são verificados e constatados os casos de comprometimento da saúde dos trabalhadores que adquirem ou não a doença denominada silicose, devido a exposição as poeiras de sílica. Faremos uso da metodologia descrita pela NIOSH, método 7602, para análise de sílica livre cristalina das amostras de poeiras respiráveis, coletas em cassetes específicos e também dos pequenos fragmentos dos mais variados tipos de rochas, utilizados nos ambientes de lapidação, por espectrofotometria de infravermelho, para determinarmos a concentração e o teor de sílica destas amostras. Descreveremos um passo a passo do procedimento analítico no laboratório, relação dos diversos equipamentos de laboratório, dentre estes a balança de centésimo de miligrama como descrito no método, para pesagem do filtro da amostra coletada, determinando a concentração de material particulado retido e posterior análise por espectrofotometria desta massa para determinar o percentual de sílica destas partículas. 167 Apresentaremos um resumo dos exames médicos, radiografia simples de tórax, tomografia computadorizada de alta resolução, avaliação completa da função pulmonar, a que são submetidos os trabalhadores com exposição às poeiras de sílica, para diagnosticar os casos de silicose já instalados e os não desenvolvidos, possibilitando definir a susceptibilidade individual e o tempo mínimo de exposição até o aparecimento da doença. 3.1. Análise Gravimétrica e Sílica Livre Cristalina As amostras coletadas de poeiras foram analisadas pelo Técnico Químico Adriano Nascimento de Oliveira do Laboratório de Toxicologia & Higiene Industrial do CTA – Centro de Tecnologia Ambiental do Sistema FIRJAN, sendo responsável pelo serviço o Engenheiro Químico Robson Vieira de Figueiredo. O CTA mantém um Programa de Controle de Qualidade Interlaboratorial para análise de Sílica Livre Cristalina com os laboratórios da American Industrial Hygiene Association - AIHA, e do National Institute of Occupational Health and Safety - NIOSH, ambos nos EUA. 3.1.1. Estratégia de Amostragem 3.1.1.1. Poeiras respiráveis A metodologia utilizada para coleta das amostras de poeiras de sílica, está descrita no manual da NIOSH, método 7602 - Espectrofotometria de -1 Infravermelho, com leitura feita a 800 cm (número de onda) e resolução de 1cm (número de onda), na qual é descrita a necessidade da -1 utilização dos equipamentos para coleta da amostra de particulado respirável contendo sílica livre cristalina. O método utilizado para análise de sílica livre tem como limite de detecção 1,0 %, portanto, qualquer valor abaixo deste será considerado zero no cálculo do limite de tolerância. 168 Relação de material utilizado para coleta de poeiras conforme descrito no método NIOSH 7602: - Porta-Filtros, com filtros de membrana de PVC (Policloreto de vinila), com 37 mm de diâmetro e porosidade de 5,0 μm, previamente preparados pelo CTA; - Bombas de Amostragem Gravimétrica com vazão controlável de até 4,0 litros/minuto, calibradas para vazão constante de 1,7 ±5 % Litros/minuto, antes e após a coleta; - Conjunto de ciclone de fibra sintética (nylon), com as características do Quadro n.º 1, para selecionar partículas ≤ 10 μm, com a finalidade de impedir a passagem de partículas maiores (não respiráveis), que possam se depositar no filtro; Quadro n.º 1 - Diâmetro Aerodinâmico (μm) (esferas de densidade unitária) % de passagem pelo seletor ≤ 2,0 2,5 3,5 5,0 10,0 90 75 50 25 0 (zero) Volume de ar coletado mínimo de 400 L e máximo de 800 L. As amostras foram coletadas no período de junho a agosto de 2001, em dias ensolarados e com a precedência mínima de ocorrência de chuvas de 7 (sete) dias, para evitar a interferência da elevada umidade relativa do ar que mascara a concentração da amostra. Isto porque o ar muito úmido aglutina as partículas fazendo com que essas tornem-se mais pesadas e se precipitem mais rapidamente, reduzindo o tempo de suspensão no ar. 3.1.1.2. Procedimento de Preparação das Amostras de Poeiras para Análise: - Abertura e estabilização, os porta-filtros devem ser destampados para estabilização e taragem; - Pesagem de Filtro-membrana; 3.1.1.3. Cálculo de Resultados: 169 Massa da amostra = P 2 - P 1, onde: P1 é o peso do filtro antes da coleta P2 o peso do filtro após a coleta. Fator de correção F: F = T 1(final) - T 1 (inicial) + T 2(final) - T 2 (inicial) 2 Para cálculo da massa da amostra corrigida: F > 0 ⇒ Massa da amostra corrigida = Massa da amostra - F F < 0 ⇒ Massa da amostra corrigida = Massa da amostra + F 3.1.1.4. Rochas Minerais Foram recolhidas pequenas amostras das pedras mais utilizadas nos lapidários e encaminhadas ao laboratório para serem analisadas quanto ao percentual de sílica contido. Procedimento descrito no Mid-Infrared (2.1-25 μm) Spectra of Minerals: First Edition, para preparação das amostras de rochas para análise por espectrofotometria de infravermelho: - Triturar todo o material fornecido pelo cliente com gral de ágata e pestilo; - Após todo o material estar com aspecto de pó (parecido com leite em pó), triturar novamente o pó de rocha em gral de ágata e pestilo por 10 minutos para garantir que a granulometria esteja próximo de 10 μm; - Separar uma fração do pó de rocha e secar à 120ºC por 24 horas; - Pesar em balança analítica de centésimo de mg, ± 1 mg de massa de rocha e 300 mg de brometo de potássio. 3.1.2. Técnicas Analíticas 170 3.1.2.1. Eliminação de Interferência de Carbonatos (Calcita) Coloca-se um filtro de éster-celulose de 47mm de diâmetro acoplado a um funil de Buchner intercambiável em vidro, adiciona-se 10 mL de HCl 9% e 5 mL de 2-propanol. Coloca-se o filtro contendo o material a ser analisado com a face voltada para baixo sobre a solução, deixando em repouso por 5 min e, em seguida, efetua-se a filtração a vácuo. Desliga-se o vácuo e lava-se por três vezes com quantidades de 10 ml H2O bidestilada com filtração, após esta, segue-se o procedimento normal. 3.1.2.2. Análise das Amostras de Poeiras e Rochas Após a etapa preliminar de eliminação de interferências na coleta de aerodispersóides e das rochas, na análise do percentual de sílica da amostra de particulado, transferir o filtro da coleta de poeiras cuidadosamente para um cadinho de porcelana e tampá-lo. Levar a mufla a uma temperatura de 600 oC, por 2 horas, retirar após este período, esperar resfriar e colocá-lo no dessecador . Pesar em um vidro de relógio 300 mg de KBr (brometo de potássio), adicinar ao cadinho contendo a amostra, homogeneizar a mistura desta com o KBr e transferir quantitativamente para o gral. Macerar esta mistura dando continuidade ao processo de homogeneização. Transferir a amostra para o pastilhador, tendo o cuidado para que esta seja por completo e caso necessário for, usar uma pequena escova para tal. Levar o pastilhador até a prensa e aplicar a força de 4500 psi sobre este, aliviar a pressão, inverter o pastilhador e em seguida retirar a pastilha pronta. Colocar esta no compartimento de pastilha do equipamento de espectrofotometria de infravermelho e executar a leitura a 800 cm-1 (número de onda), fazendo também a leitura do branco de análise (pastilha com 300 mg de brometo de potássio) em paralelo (background). Para o cálculo gravimétrico e do teor de sílica livre cristalina, basta ativar o aplicativo Excel e acessar a planilha de cálculo de amostra. 3.1.2.3. Equipamentos 171 - Balança analítica com aproximação mínima de 0,01 mg, modelo AT 261, marca METTLER; - Mufla com controle de temperatura; - Moinho e chapa de aquecimento; - Prensa hidráulica e bomba de sucção a vácuo; - Espectrofotômetro de Infravermelho por Transformada de Fourier, modelo Magma 550, marca Nicolet; - Notebook com software de transferência de dados e um aplicativo de cálculo na planilha do Excel 7.0. Com os valores da planilha da análise de sílica, calcula-se a concentração final de SiO2: Concentração % de SiO2 = μg sílica x Pf x 100 1000 x Pi x Pa Concentração em mg de SiO2 = μg sílica x Pf 1000 x Pi Onde: μg sílica - valor obtido da curva analítica Pf - Peso da pastilha após leitura no aparelho em mg. Pi - Peso do KBr adicionado mais a cinza da amostra (quando o teor de cinza for muito baixo, este valor pode ser desprezado) em mg Pa - Peso da pastilha após leitura no aparelho em mg Para calcular o Limite de Tolerância para exposição a poeiras respiráveis contendo sílica livre, usamos a seguinte fórmula: L.T.(mg/m3) = 8 %Quartzo(S iO ) + 2 2 172 3.1.3. Princípio do Método Método NIOSH 7602 - Espectrofotometria de Infravermelho, determina que -1 -1 a leitura seja feita a 800 cm , resolução de 1cm , através do Espectrofotômetro de Infravermelho por Transformada de Fourier. O filtro com a poeira coletada inicialmente é submetido a uma análise gravimétrica e após incinerado a 600º C, restam apenas as partículas selecionadas de poeiras nele depositadas. Em seguida, é misturado ao brometo de potássio e então realizada a leitura no espectrofotômetro de Infravermelho. 3.1.4. Referência Normativa - Brasil: Os valores citados como Limites de Tolerância para Poeiras Respiráveis no ar, são calculados pela fórmula {8 mg/m³ / (% SiO2 + 2)} na Portaria 3214, NR-15, anexo 12, de 08 de junho de 1978 do Ministério do Trabalho e Emprego. - OSHA: 10 mg/m³ / (% SiO2 + 2) - NIOSH: 0,05 mg/m³; carcinogens - ACGIH: 0,1 mg/m³ 3.2. Exames Médicos – Nexo Causal – Silicose Este item encontra-se mais detalhadamente descrito, quanto aos aspectos epidemiológicos e o acometimento da doença silicose, nas páginas 51 e 52 do Capítulo II. Os trabalhadores expostos passaram por uma bateria de exames descrita abaixo, no Centro de Referência em Pneumopatias Ocupacionais da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pelo médico Dr. Vinícius Cavalcanti dos Santos Antão, Professor Assistente da disciplina de Pneumologia, com tese de doutorado em Pneumologia, sendo desenvolvida na USP – Universidade de São Paulo. 173 As tomografias foram também avaliadas para diagnóstico pelo Doutores Radiologistas: - Jorge Kawakama – USP - Edson Marchiori - UFF/UFRJ - Roberto Mogami - UERJ 3.2.1. Radiografia Simples de Tórax Todos os pacientes foram submetidos a radiografia simples de tórax em posição póstero-anterior. 3.2.1.1. Leituras Radiológicas: Os exames foram avaliados por 3 leitores especializados, utilizandose as normas da OIT/1980 (classificação completa) (3). Foram considerados como portadores de pneumoconiose aqueles com profusão de pequenas opacidades igual ou superior a 1/0. 3.2.2. Tomografia Computadorizada de Alta Resolução (TCAR) Foram realizadas TCAR em tomógrafo helicoidal GE Sytec Synergy (General Electric Co., Milwaukee, Wisconsin, EUA), com o seguinte protocolo: apnéia inspiratória; matriz de reconstrução de 512 x 512 pontos; cortes axiais com espessura de 1 mm; incremento de 10 mm, em decúbito ventral e dorsal; tempo de corte de 1 a 3 segundos; filtro de alta resolução espacial; 150 mAs (miliamperes por segundo) e 120 kV (kilovolts). 3.2.3. Avaliação Funcional 174 Todos os pacientes realizaram avaliação completa da função pulmonar, no Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ, através dos exames abaixo. 3.2.3.1. Espirometria Simples e Curvas Fluxo-volume: Realizadas com aparelho Collins GS (Warren E. Collins Inc., Braintree, MA, EUA) conforme as normas da ATS-1994. 3.2.3.2. Medidas dos Volumes Pulmonares Realizadas com aparelho Collins GS (Warren E. Collins Inc., Braintree, MA, EUA), pela técnica de pletismografia corporal total. 3.2.3.3. Capacidade de Difusão ao Monóxido de Carbono Realizada com aparelho Collins GS (Warren E. Collins Inc., Braintree, MA, EUA), pela técnica da respiração única. 175 CAPÍTULO IV ESTUDO DE CASO Neste capítulo apresentaremos todas as características e peculiaridades dos ambientes, dos equipamentos utilizados e das atividades desenvolvidas na lapidação das pedras. As planilhas das concentrações de poeiras respiráveis desprendidas, seus respectivos teores de sílica livre cristalina e os limites de tolerância. Também será demonstrada a quantificação do percentual de sílica das rochas minerais mais utilizadas. Faremos uso de algumas imagens digitais captadas de alguns postos de trabalho e dos ambientes onde estão localizados alguns equipamentos, descrevendo-os e tecendo alguns comentários pertinentes. Ao final deste capítulo temos a planilha com a relação dos trabalhadores ativos e inativos que foram examinados para diagnóstico de silicose. 4.1. Exposição à Sílica na Atividade de Lapidação de Pedras Ornamentais Nas localidades onde desenvolvemos o nosso estudo, Itaipava, Corrêas e Araras, todas pertencentes ao município de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, nós encontramos três ambientes distintos quanto as características de layout, espaço físico, ventilação e iluminação (natural e artificial) e locais para higiene pessoal. 4.2. Descrição dos Ambientes de Trabalho Por uma questão ética, pela confiança, pelo respeito e, principalmente, pela credibilidade depositada neste que narra este estudo, usaremos neste trabalho 176 nomes fictícios pois ao tornarmos estes dados públicos, poderemos comprometer as atividades das empresas e das pessoas que, com tanto interesse e boa vontade, contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho. O resultado final será apresentado a cada um dos colaboradores para que eles possam usufruir das medidas de controle e recomendações específicas para atenuar a exposição e os danos a saúde. - Cristal Ltda. Trata-se de uma empresa com instalações recém construídas, em uma área predominantemente industrial, sendo um galpão de aproximadamente 200,0 metros quadrados, com pé direito de 5,0 metros, com um layout predefinido e sistema de ventilação local exaustora sobre os equipamentos onde são beneficiadas as pedras, na qual temos os seguintes setores: - área externa para estoque de matérias-primas (rochas minerais); - área das serras de corte e modelagem ; - área de estoque de pedras menores e bancadas de discos de riscar, modelar e dar acabamento; - área de confecção final das peças (colagem e polimento) e exposição; - escritório e sala de desenho; - banheiros e vestiários (masculino e feminino); - 10 empregados. - Quartzo Rosa Ltda. Encontra-se localizada em uma área mista (comercial e residencial), instalada nos fundos do terreno da residência do proprietário, em um galpão de aproximadamente 100,0 metros quadrados, com pé direito de 3,0 metros, sem sistema de ventilação local exaustora, com poucas janelas de ventilação e iluminação natural, com a seguinte distribuição: - área de externa para estoque de matérias-primas; - área das serras de corte e modelagem; - área de estoque de pedras menores, bancadas de discos de riscar, modelar e dar acabamento e bancadas de colagem e polimento; - um único banheiro de 3,0 metros quadrados; - 6 empregados. 177 - Dolomita Ltda. Está instalada em uma área estritamente residencial, em um sobrado, sendo no andar superior a atual residência do proprietário de sua família. No térreo, onde no passado era a sua residência, o lapidário foi improvisado nos cômodos de aproximadamente 9,0 metros quadrados e pé direito de 2,70 metros, sem sistemas de ventilação local exaustora e com pequenos e em alguns cômodos nenhum vão de janela, com baixa circulação de ar e pouca iluminação, assim distribuídos: - área dos fundos do lote para estoque de matéria-prima; - área das serras de corte e modelagem; - área das bancadas de discos de riscar, modelar e acabamento; - área de acabamento final (colagem e polimento); - escritório; - sala de exposição; - Um único banheiro de 3,0 metros quadrados; - 4 empregados mais seu casal de filhos. - Autônomos: Localizados nos fundos dos quintais das residências dos próprios artesãos, que vivem em condições precárias, normalmente são cômodos de aproximadamente 12 metros quadrados, algumas vezes menores com 2,5 metros quadrados, com pé direito de 2,5 metros de altura, sem vão de renovação de ar e com baixa incidência luz natural. Nestes pequenos ambientes trabalham uma ou duas pessoas, na serra de corte e modelagem e nos esmeris. Eles, em quase maioria, são terceirizados pelos donos das empresas da região e trabalham nos esmeris de gravação e acabamento. - Equipamentos: 178 Nessas instalações vamos encontrar bancadas em alvenaria com tampos em concreto armado. Estas superfícies tem dimensões semelhantes, com extensão de 1,20 metros, profundidade de 0,50 metros e altura de 0,80 metros, normalmente tendo ao fundo uma parede. Sobre esta bancada vamos encontrar os esmeris, com motores elétricos e em seus eixos, discos de variados diâmetros (25, 45, 50, 100, 150 e 200 milímetros), que são utilizados para gravar e dar acabamento às peças e os rebolos de formação de 8 x 1” de polimento. Estas bancadas vão se diferenciar umas das outras em alguns detalhes, como por exemplo, na extremidade frontal é adaptado um tubo de PVC (Policloreto de vinila) de duas polegadas cortado ao meio, no sentido longitudinal, e colado sobre a aresta frontal da bancada, para reduzir o atrito dos antebraços, evitando ferimentos. Em uma das empresas encontramos bancadas móveis de estruturas metálicas, com tampos de chapas, com bordas mais altas, onde ficam apoiados os motores elétricos dos esmeris. Para as serras de corte e modelagem são utilizados equipamentos com discos de 350 milímetros de diâmetro, sobre bancadas com tampos de chapa em aço, onde são feitos os primeiros cortes e se modela os mais diversos tipos de rochas brutas, sendo esta a primeira fase do trabalho de lapidação. Para não comprometer a vida útil dos discos, eles são resfriados com água durante as operações. 4.3. Determinação de Poeiras Respiráveis, Percentual de Sílica no Ar do Meio Ambiente e Limite de Tolerância Todas as amostra de poeiras foram coletas na zona de respiração dos operadores (à distância de 15 centímetros das vias áreas superiores), durante período de exposição, conforme descrito na estratégia de amostragem pelo método utilizado (NIOSH 7602) para poeiras contendo sílica. Foram consideradas as condições climáticas, evitando-se a coleta nos dias de chuvas, devido a elevada umidade relativa do ar nestes dias, predomínio da região estudada. Este é um 179 fator de interferência e comprometimento dos resultados das amostras, devido a redução da concentração de particulado no ambiente pela aglutinação das partículas em decorrência da elevação da umidade relativa do ambiente e, conseqüente precipitação mais acelerada pelo aumento do peso destas. Todavia, nestes ambientes já temos a formação destas névoas e neblinas em conseqüência da água de resfriamento dos discos. As colunas das tabelas a seguir estão assim distribuídas: - 1ª coluna: indicação do local ou setor da coleta da amostra, bem como, uma breve descrição da operação desenvolvida pelo operador no período de avaliação; - 2ª coluna: tipo de pedra beneficiada; - 3ª coluna: número de pedras e tamanhos (pq = pequenas, md = médias e gd = grandes) - 4ª coluna: indica a concentração de particulado respirável encontrada; - 5ª coluna: indica percentual do teor de sílica livre cristalina das partículas desprendidas das operações descritas; - 6ª coluna: indica o Limite de Tolerância para exposição a poeiras respiráveis contendo sílica, dado pela seguinte fórmula: LT= ______8_____ mg/m3 % SiO2 + 2 Em conformidade com a Portaria n.º 3214, de 08/06/78, NR-15, Anexo 12 e Quadro n.º 1, a porcentagem (%) de passagem de partículas de diâmetro aerodinâmico maiores ou iguais a 10µ (dez mícron) pelo seletor é ZERO. Md Gd 15 8 -- 0,85 Limite de Tolerância (mg/m3) AMT Pq Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % - Polimento esmeril baquelita no acabamento Número de peças Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.1: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Empresa – Cristal Ltda. 5,87 1,02 180 - Risco com disco de 50 mm ∅ QR -- -- 4 0,73 3,46 1,46 - Serra de corte e modelagem de 350 mm ∅ RB/QF 35 25 7 1,07 10,87 0,62 - Montagem e risco com disco de 200 mm ∅ QR -- -- 4 0,51 3,17 1,55 - Risco com disco 45 mm ∅ OT -- 16 -- 0,65 0,22 4,0 Pedras beneficiadas: AMT = Amestista, QR = Quartzo Rosa, RB = Rubi, QF = Quartzo Fume e OT = Olho de Tigre. Foto 4.1: Vista geral do galpão da empresa que possui instalado um sistema de ventilação local exaustora, ao fundo em vermelho, com os dutos em espiral que fazem a captação das poeiras sobre os equipamentos de lapidação. 181 Limite de Tolerância (mg/m3) QR, QV CT, SDT 60 -- -- 0,74 25,59 0,29 - Rebolo de formação 8 x 1” e serra de moldagem QR, QV, SDT 60 -- -- 0,52 35,83 0,21 - Serra de corte e modelagem de 350 mm ∅ QR -- -- 60 1,75 35,14 0,21 - Risco com disco 40 mm ∅ e serra corte e modelagem de 350 mm ∅ QR, QV, FRT,CT, SDT -- -- 60 0,58 19,50 0,37 Número de peças Pq Md Gd Concentração Encontrada 3 (mg/m ) - Risco com disco de 150 mm ∅ Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % Tabela 4.2: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Empresa – Quartzo Rosa Ltda. Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa, QV = Quartzo Verde, CT = Cristal, SDT = Sodalita e FRT = Fluorita. Foto 4.2: Nesta imagem podemos observar tratar-se de um galpão com o pé direito baixo, com pouca circulação de ar natural, concentrando e acumulando as partículas desprendidas das operações de lapidação. 182 Limite de Tolerância (mg/m3) CCR, CCT 100 -- -- 1,77 1,66 2,18 - Risco com disco de 150 mm ∅ CCT, DLT, SPT 400 -- -- 1,53 0,93 4,0 SDT, CT, QR 50 40 -- 4,21 13,06 0,53 - Serra corte e modelagem de 350 mm ∅ Número de peças Pq Md Gd Concentração Encontrada (mg/m3) - Rebolo de formação 8 X 1” Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % Tabela 4.3: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Empresa – Dolomita Ltda. Pedras Beneficiadas: CCR = Calcária, CCT = Calcita, DLT = Dolomita, SPT = Serpentinita, SDT = Sodalita, CT = Cristal e QR = Quartzo Rosa. Foto 4.3: Ambiente com deficiência de iluminação e ventilação natural, ao fundo uma bancada da serra de corte e modelagem e uma cadeira de PVC para o operador. 183 Limite de Tolerância (mg/m3) AZT, SPT -- 18 -- 3,32 2,54 1,76 - Risco com discos de 50, 150 e 200 mm ∅ AZT, SPT 05 02 02 0,72 7,32 0,85 Número de peças Pq Md Gd Concentração Encontrada 3 (mg/m ) - Serra corte e modelagem de 350 mm ∅ Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % Tabela 4.4: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomos – J. S. A., C. A. O., R. H. O., M. V. S. e S. H. O. Pedras Beneficiadas: AZT = Azurita e SPT = Serpentinita Foto 4.4: Esta imagem mostra a possibilidade da ocorrência de acidentes que podem mutilar o trabalhador. Este apresenta perda de parte da falange do dedo polegar da mão direita na serra de corte e modelagem de 350 mm ∅. Aqui ele está executando um corte para modelar uma peça em quartzo rosa. 184 Número de peças Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % Limite de Tolerância (mg/m3) - Serra de corte e modelagem de 350 mm ∅ QR 100 -- -- 0,82 43,78 0,17 - Rebolo de formação 8 X 1” QR, CT 122 -- -- 0,39 29,59 0,25 Equipamentos/Operações Pq Md Gd Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Pedras Beneficiadas Tabela 4.5: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomos - A. B. E. e L. B. E. Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa e CT = Cristal. Foto 4.5: Nesta imagem podemos constatar que este trabalhador já sofreu uma lesão em parte da unha do polegar esquerdo. Ele está realizando uma operação de polimento e acabamento em uma peça de quartzo rosa, na bancada do rebolo de formação 8 X 1”. 185 QR,CT , AMT, AZT Gd Limite de Tolerância (mg/m3) - Rebolo de formação 8 X 1” QR, AZT Md Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % - Serra de corte e modelagem de 350 mm ∅ Pq 13 -- -- 3,24 40,93 0,19 20 -- -- 0,78 6,88 0,90 Número de peças Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.6: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomos – E. E. R., V. A., L. G., F. F. O. e J. G. F. Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa, AZT = Azurita, CT = Cristal, AMT = Ametista Foto 4.6: Nesta imagem verificamos uma improvisação das instalações (mecânica e elétrica) de uma bancada de serra de corte e modelagem com disco de 350 mm ∅. As pedras são calcita laranja. 186 Md Gd -- 21 -- 1,06 Limite de Tolerância (mg/m3) CT,QR, QV,AMT, AZT Pq Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % - Risco com disco de 150 mm ∅ Número de peças Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.7: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomo – M. S. 17,29 0,41 Pedras Beneficiadas: CT = Cristal, QR = Quartzo Rosa, QV = Quartzo Verde, AMT = Ametista e AZT = Azurita. Foto 4.7: Bancada do esmeril em concreto, com motor elétrico, em seu eixo, discos de 50 e 200 mm ∅. Podemos observar a quantidade de poeira depositada sobre o motor e a mancha branca das partículas desprendidas na alvenaria. 187 Md Gd 10 10 -- 1,24 Limite de Tolerância (mg/m3) QR,AMT, CT,AZT Pq Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % - Risco com disco de 150 mm ∅, modelagem e acabamento Número de peças Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.8: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomo – G. R. S. 6,57 0,93 Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa, AMT = Ametista, CT = Cristal e AZT = Azurita Foto 4.8: Bancada do esmeril em madeira, motor elétrico com discos de 25 e 100 mm ∅, esta instalações mostram as improvisações e as péssimas condições de trabalho, além de colocar em risco de choque elétrico e consequentemente a morte. 188 - Serra corte e modelagem 350 mm ∅ e risco com disco 150 mm ∅ QR, CT Gd -- -- 15 1,46 33,45 Limite de Tolerância (mg/m3) Md Número de peças Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % Pq Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.9: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomo – M. A. F. J. 0,23 Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa e CT = Cristal Foto 4.9: Pela incidência dos raios da luz solar podemos observar a quantidade de partículas em suspensão no ambiente, temos uma bancada com esmeril, com disco de 150 mm ∅, lapidando Quartzo Rosa. 189 Md Gd 05 -- -- 3,16 Limite de Tolerância (mg/m3) QR Pq Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % - Serra de corte e modelagem 350 mm ∅ Número de peças Concentração Encontrada (mg/m3) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.10: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomo – M. J. F. J. 37,53 0,20 Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa Foto 4.10: Trabalhador sendo monitorado com o porta-filtro para captação de poeiras, com ciclone que seleciona partículas ≤ 10,0 μm, impedindo que estas se depositem no filtro. 190 Md Gd 02 08 -- 4,16 Pedras Beneficiadas: QR = Quartzo Rosa e DLT = Dolomita. Foto 4.11: Retenção de particulado nas vias aéreas superiores. Limite de Tolerância (mg/m3) QR, DLT Pq Teor de Sílica Livre Cristalina (SiO2)) % - Serra de corte e modelagem 350 mm ∅ Número de peças Concentração Encontrada 3 (mg/m ) Equipamentos/Operações Pedras Beneficiadas Tabela 4.11: Concentração de Poeira, Percentual de SiO2 e Limite de Tolerância Autônomo – J. M. C. 35,76 0,21 191 4.4. Determinação do Percentual de Sílica das Rochas Minerais Juntamente com as coletas das amostras de poeiras, foram recolhidas pequenas amostras das rochas minerais usadas com mais freqüência nos lapidários e analisadas para a determinação do percentual de sílica livre cristalina. Tabela 4.12: Percentual de SiO2 das pedras Tipos de rochas % de SiO2 - Cristal 39,71 - Azurita / Quartzo Azul 35,76 - Quartzo Rosa 32,76 - Quartzo Verde 28,91 - Ametista 27,57 - Dolomita Vermelha 14,52 - Olho de Tigre 7,33 - Dolomita Amarela 3,50 - Dolomita Preta 1,27 - Água Marinha 0 - Amazonita 0 - Calcita Laranja 0 - Dolomita Dentrita 0 - Fluorita 0 - Lapiz Lazuli 0 - Ônix 0 - Sodalita 0 - Turmalina Prreta 0 - Serpentinita 0 - Dentrita 0 - Labradorita 0 Desta relação, podemos estar concluindo a necessidade de informar e recomendar aos trabalhadores para que utilizem e dêem preferência as pedras em que não foram detectada a presença de sílica (SiO2). Incentivar e recomendar ao mercado consumidor que dêem preferência as peças que causam menor dano a saúde dos lapidadores. 192 4.5. Trabalhadores Examinados – Nexo Causal – Silicose Os trabalhadores relacionados na tabela 4.13 estão sendo monitorados no Hospital Pedro Ernesto, através de exames específicos para diagnóstico do acometimento da silicose. Tabela 4.13: Tempo de exposição e diagnóstico de silicose dos ativos. 01- A. B. E. Tempo Exposição (Anos) 16 02- C. A. O. 23 Verdadeiro 03- C. E. -- Verdadeiro 04- E. E. R. 17 Verdadeiro 05- E. G. 21 Verdadeiro 06- F. -- Falso 07- F. F. O. 11 Verdadeiro 08- F. O. 18 Falso 09- G. R. S. 17 Verdadeiro 10- H. G. 1 Falso Trabalhador Ativo Silicose Falso 11- J. S. A. 11 Falso 12- J. M. C. 18 Verdadeiro 13- J. G. F. 14 Verdadeiro 14- J. L. O. 7 Falso 15- J. R. R. S. 11 Falso 16- L. G. 3 Falso 17- L. B. E. 10 Falso 18- M. J. F. J. 16 Verdadeiro 19- M. S. 10 Verdadeiro 20- M. A. F. J. 20 Falso 21- M. A. B. S. 16 Verdadeiro 22- M. V. C. M. 20 Verdadeiro 23- M. A. -- -- 24- M. A. O. 20 Verdadeiro 25- M. C. S. M. 15 Verdadeiro 26- M. C. 23 Verdadeiro 27- M. V. S. 11 Falso 28- P. C. S. 14 Falso 29- P. R. R. S. 16 Verdadeiro 30- R. V. R. 13 Verdadeiro 31- R. H. O. 16 Verdadeiro 32- R. T. M. 23 Verdadeiro 33- S. H. O. 11 Falso 34- V. S. 20 Falso 35- V. P. S. 15 Falso 36- V. A. 15 Verdadeiro 193 A relação da tabela 4.14 são trabalhadores que estão afastados devido a gravidade da lesão, os não lesionados que exercem outras atividades laborais e os aposentados. Tabela 4.14: Tempo de exposição e diagnóstico de silicose dos inativos. Tempo Exposição (Anos) 14 Verdadeiro 02- A. G. – (AF) 19 Verdadeiro 03- J. C. B. E. – (AF) 3 Falso 04- J. A. T. B. – (AF) 5 Falso 05- L. C. M. – (AF) 8 Falso Trabalhador Afastado (AF) / Aposentado (AP) 01- A. C. R. S. – (AF) Silicose 06- A. S. – (AP) 55 Falso 07- M. J. S. – (AP) 11 Falso Todos os dados apresentados neste capítulo serão analisados através de um tratamento estatístico, que nos possibilitaram uma conclusão, juntamente com as recomendações propostas no objetivo deste estudo. 194 CAPÍTULO V ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste capítulo desenvolveremos através do tratamento estatístico a análise dos resultados dos levantamentos realizados através das coletas de amostras das poeiras e das rochas minerais, onde foram constatadas as presenças de sílica livre cristalina, como também, faremos a correlação das concentrações das poeiras, os teores de sílica das partículas desprendidas com os diagnósticos médicos confirmando o acometimento da silicose. 5.1. Dados Levantados Foram levantados dados de avaliação do ar do meio ambiente de trabalho de 23 (vinte e três) postos de trabalhos distintos, nas mais diversas condições e ambientes, já descritos no capítulo III, em que encontramos peculiaridades que retratam, de uma forma geral, o quanto e como é elevado o grau de riscos em todas as operações realizadas nas mais diversas configurações da seqüência da lapidação de uma peça, onde temos: corte, modelagem, risco, polimento, acabamento e perfuração, não necessariamente nessa ordem. Coletamos pequenas amostras das rochas minerais mais utilizadas para determinarmos o seu percentual de sílica livre cristalina, a fim de classificá-las como mais ou menos perniciosas. Dessa forma, identificaríamos, através de um selo, (“Ocupacionalmente Corretas”) as peças lapidadas em pedras com baixos teores de sílica, ou seja, aquelas que apresentam baixos riscos à saúde dos trabalhadores ao serem beneficiadas. 195 Buscamos também informações junto ao serviço de pneumologia da UERJ (relatado detalhadamente no capítulo III): o número de casos diagnosticados da presença da silicose, ativos e inativos, que em alguns pacientes a progressão da doença o incapacita o trabalho, onde confirmamos o nexo causal da exposição a poeiras de sílica. Se não, vejamos a seguir através das tabelas e gráficos como se encontra a situação nos lapidários onde realizamos as entrevistas com trabalhadores. Tabela 5.1: Sexo (43 trabalhadores) Sexo Masculino Feminino Percentual 98 % 2% Tabela 5.2: Idade (40 entrevistados) Idade 19 a 30 anos 31 a 40 anos Acima de 40 anos Percentual 12 % 68 % 20 % Tabela 5.3: Tempo de Exposição (40 entrevistados) Tempo < 10 anos ≥ 10 e < 20 anos ≥ 20 anos Percentual 15 % 63 % 22 % Tabela 5.4: Diagnóstico (42 examinados) Silicose Verdadeiro Falso Percentual 52 % 48 % Tabela 5.5: Pedra mais utilizada (40 entrevistados) Pedra Quartzo rosa Cristal Serpentinita Ametista Sodalita Percentual 43 % 35 % 15 % 5% 2% 40 (quarenta) 196 Planilha 5.1. Diagnóstico Médico / Ativos LOCAL TRABALHADOR CRISTAL LTDA. QUARTZO ROSA LTDA. DOLOMMITA LTDA. AUTÔNOMOS (A. B. E.) AUTÔNOMOS (J. S. A.) AUTÔNOMOS (E. E. R.) AUTÔNOMO AUTÔNOMO AUTÔNOMO AUTÔNOMO AUTÔNOMO 01- C. E. – Não fez entrevista 02- E. G. 03- F. – Não fez entrevista 04- H. G. 05- M. V. C. M. 06- M. A. O. 07- M. C. 08- R. T. M. 09- M. A. – Não fez entrevista 10- M. A. B. B. 11- M. C. S. M. 12- P. C. S. 13- F. O. 14- J. L. O. 15- J. R. R. S. 16- R. V. R. 17- V. S. 18- V. P. S. 19- P. R. R. S. 20- A. B. E. 21- L. B. E. 22- J. S. A. 23- C. A. O. 24- R. H. O. 25- M. V. S. 26- S. H. O. 27- E. E. R. 28- V. A. 29- L. G. 30- F. F. O. 31- J. G. F. 32- J. M. C. 33- M. A. F. J. 34- M. S. 35- M. J. F. J. 36- G. R. S. TEMPO DE ROCHA MAIS EXPOSIÇÃO -21 -1 20 20 23 23 -16 15 14 18 7 11 13 20 15 16 16 10 11 23 16 11 11 17 15 3 11 14 18 20 10 16 17 UTILIZADA -Quartzo Rosa -Quartzo Rosa Quartzo Rosa Quartzo Rosa Quartzo Rosa Quartzo Rosa -Sodalita Quartzo Rosa Quartzo Rosa Ametista Serpentinita Cristal Cristal Serpentinita Quartzo Rosa Cristal Quartzo Rosa Quartzo Rosa Ametista Serpentinita Serpentinita Serpentinita Serpentinita Cristal Quartzo Rosa Cristal Quartzo Rosa Cristal Quartzo Rosa Cristal Cristal Quartzo Rosa Cristal SILICOSE Verdadeiro Verdadeiro Falso Falso Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro Não fez exame Verdadeiro Verdadeiro Falso Falso Falso Falso Verdadeiro Falso Falso Verdadeiro Falso Falso Falso Verdadeiro Verdadeiro Falso Falso Verdadeiro Verdadeiro Falso Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro Falso Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro Observação: Planilha de diagnósticos de silicose dos ativos, relacionando ao tipo de pedra mais utilizada e o tempo de exposição. 197 Planilha 5.2. Diagnóstico Médico / Afastados e Aposentados LOCAL TRABALHADOR AFASTADO AFASTADO AFASTADO AFASTADO AFASTADO APOSENTADO APOSENTADA 37- A. C. R. S. 38- A. G. 39- J. C. B. E. 40- J. A. T. B. 41- L. C. M. 42- A. S. 43- M. J. S. TEMPO DE ROCHA MAIS EXPOSIÇÃO 14 19 3 5 8 55 11 UTILIZADA Cristal Quartzo Rosa Cristal Quartzo Rosa Cristal Cristal Cristal SILICOSE Verdadeiro Verdadeiro Falso Falso Falso Falso Falso Observação: Dos trabalhadores afastados, o Sr. A. C. R. S. está na fila para transplante de pulmão, que acontecerá em hospital do Estado do Rio Grande do Sul. O Sr. A. G. encontra-se sem condições de exercer atividade laboral de qualquer natureza, mas não sendo indicado até o momento o transplante de pulmão. Os Srs. J. C. B. E., J. A. T. B. e L. C. M. estão trabalhando em outro ramo de atividade. 198 Planilha 5.3. Avaliação Ambiental / Ativos % L.T. (mg/m ) SiO2 NR-15 0,85 0,73 0,51 0,65 1,07 5,87 3,46 3,17 0,22 10,87 1,02 1,47 1,55 4,00 0,62 0,84 0,50 0,33 0,16 1,72 Corte, risco e modelagem. 1,75 0,52 0,74 0,58 35,14 35,83 25,59 19,50 0,22 0,21 0,29 0,37 8,12 2,46 2,55 1,56 3,67 Corte, risco, moldagem e modelagem. 4,21 1,77 1,53 13,06 1,66 0,93 0,53 2,19 4,00 7,93 0,81 0,38 3,04 AUTÔNOMOS (A. B. E.) 09/07/01. Acabamento, Rebolo 8x1” e corte e Serra 350 mm ∅ modelagem. 0,82 0,39 43,78 29,59 0,17 0,25 4,69 1,54 3,12 AUTÔNOMOS (J. S. A.) 09/07/01. Disco de 50 a 200 mm ∅ e Serra 350 mm ∅ 3,32 0,72 2,54 7,32 1,76 0,86 1,88 0,84 1,36 AUTÔNOMOS (E. E. R.) 16/07/01. Acabamento, Rebolo 8x1” e corte e Serra 350 mm ∅ modelagem. 0,78 3,24 6,88 40,93 0,90 0,19 0,87 17,39 9,13 Serra 350 mm ∅ 4,16 35,76 0,21 19,64 19,64 1,46 33,45 0,23 6,47 6,47 1,06 17,29 0,41 2,56 2,56 3,16 37,53 0,20 15,61 15,61 1,24 6,57 0,93 1,33 1,33 LOCAL / DATA EQUIPAMENTO OPERAÇÃO Esmeril de baquelita, Discos CRISTAL LTDA. de 45, 50 e 200 25/06/01 mm ∅ e Serra 350 mm ∅. Polimento, corte, risco, montagem e modelagem. QUARTZO ROSA LTDA. 06/08/01 Discos de 40 e 150 mm ∅, Rebolo 8x1’e Serra 350 mm ∅. DOLOMITA LTDA. 18/08/01 Disco de 150 mm ∅, Rebolo 8x1” e Serra 350 mm ∅. AUTÔNOMO 23/07/01 AUTÔNOMO 23/07/01 AUTÔNOMO 16/07/01 AUTÔNOMO 23/07/01 AUTÔNOMO 18/06/01 - Corte, risco e modelagem. Corte e modelagem Disco de 150 mm Corte e risco ∅ Disco de 150 mm Corte e risco ∅ Serra 350 mm ∅ Corte e modelagem Disco de 150 mm Risco e ∅ moldagem C. P. 3 C. P. = Concentração de Poeiras (mg/m³); % SiO2 = Percentual de Sílica Livre Cristalina; L. T. = Limite de Tolerância ⇒ 8 mg/m³/(% SiO2 + 2); C.P. /L.T. = Relação da Concentração pelo Limite; Média C.P. /L.T. = Média da Relação. CP/LT MÉDIA CP/LT 0,71 199 Planilha 5.4. Silicose Ativos/Inativos DIAGNÓSTICO DE SILICOSE ATIVOS / AFASTADOS (AF) / APOSENTADOS (AP) EMPRESA/AUTÔNOMO MÉDIA CP/LT EXAMINADOS VERDADEIRO FALSO CRISTAL LTDA. (07 EMP) 0,71 8 6 2 QUARTZO ROSA LTDA. (03 EMP) 3,67 3 2 1 DOLOMITA LTDA.(07 EMP) 3,04 7 2 5 A. E. B. (02 EMP) 3,12 2 0 2 J. S. A. (05 EMP) 1,36 5 2 3 E. E. R. (05 EMP) 9,13 5 4 1 J. M. C. (01 EMP) 19,64 1 1 0 M. A. F. J. (01 EMP) 6,47 1 0 1 M. S. (01 EMP) 2,56 1 1 0 M. J. F. J. (01 EMP) 15,61 1 1 0 G. R. S. (01 EMP) 1,33 1 1 0 A. C. R. S. (AF) S/AVALIAÇÃO 1 1 0 A. G. (AF) S/AVALIAÇÃO 1 1 0 J. C. B. E. (AF) S/AVALIAÇÃO 1 0 1 J. A. T. B. (AF) S/AVALIAÇÃO 1 0 1 L. C. M. (AF) S/AVALIAÇÃO 1 0 1 A. S. (AP) S/AVALIAÇÃO 1 0 1 M. J. S. (AP) S/AVALIAÇÃO 1 0 1 MÉDIA 6,06 MÉDIA -- ATIVOS EXAMINADOS TOTAL TOTAL 35 20 ATIVOS / INATIVOS EXAMINADOS TOTAL TOTAL 42 22 TOTAL 15 TOTAL 20 Observação: Relação dos trabalhadores ativos e inativos examinados para diagnóstico de silicose. 200 5.2. Ativos Examinados com Avaliação Ambiental S I L I C O S E LIMITE DE TOLERÂNCIA ACIMA ABAIXO SIM 14 6 20 NÃO 13 2 15 27 8 35 Nesta inter-relação podemos concluir: - Quanto a presença de “silicose”: Dos 20 (vinte) trabalhadores com diagnóstico positivo, 14 (quatorze) estão expostos a concentrações acima e 6 (vinte) abaixo do limite de tolerância. Dos 14 (quatorze) trabalhadores com diagnóstico negativo, 13 (treze) estão expostos a concentrações acima e 2 (dois) abaixo do limite de tolerância. - Quanto ao limite de tolerância: Dos 27 (vinte e sete) com exposição acima, 14 (quatorze) desenvolveram a doença e 13 (treze) ainda não foram constatadas a presença da doença. Dos 8 (oito) com exposição abaixo, 6 (seis) desenvolveram a doença e 2 (dois) ainda não foram constadas a presença da doença. - Quanto ao diagnóstico total de silicose: Positivo ⇒ 20/35 = 57 % Negativo ⇒ 15/35 = 43 % 201 5.3. Ativos e Inativos Examinados e Entrevistados ≥ 5 < 10 ≥ 10 < 15 ≥15 SIM 0 5 17 22 NÃO SILICOSE TEMPO DE EXPOSIÇÃO (ANOS) 7 7 6 20 7 12 23 42 Nesta inter-relação podemos concluir : - Dos 22 (vinte e dois) casos de silicose: Anos de exposição ≥ 5 < 10 ≥ 10 < 15 ≥ 15 Número de casos Zero 5/42 17/42 Tipo de silicose Acelerada ou subaguda 12 % - Crônica 40 % - Crônica Do total de trabalhadores examinados. Silicose Positivo Negativo Número de casos 22/42 20/42 Percentual 52 % 48 % 202 5.4. Análise dos Dados 5.4.1. Regressão do percentual de sílica sobre a concentração de poeira O coeficiente de correlação de Pearson entre as duas variáveis foi de r = 0,232, que demonstra um fraca correlação linear entre as duas variáveis. O modelo linear explica apenas 5,36% da variação do percentual de sílica em função da concentração de poeiras, uma vez que coeficiente de determinação r2 é igual a 0,0536. O gráfico a seguir permite visualizar essa condição. 203 5.4.2. Relações entre as distribuições Qui-quadrado Planilha 5.5. Limite de Tolerância versus Silicose 14 13 27 6 2 8 20 15 35 Rejeita-se H0 15,42857 4,571428 11,57142 3,428571 0,132275 0,446428 0,176366 0,595238 1,350308 Coeficiente Phi = 0,196418 (correlação fraca) Qui-quadrado a 5% de significância e g.l.=1 : 3,841 Qui-quadrado a 1% de significância e g.l.=1 : 6,635 A C B D A / A+B = 0,7 C / C+D = 0,866666 A / A+C = 0,518518 B / B+D = 0,75 AD / CB = 0,358974 Testada a hipótese nula de que há independência entre o fato da concentração de poeiras estar abaixo ou acima do limite de tolerância e a presença ou não de silicose no trabalhador, concluiu pelo teste do Qui-quadrado, ao nível de significância de 0,05, que não se pode rejeitá-la (χ2 = 1,3503; g.l. = 1; α = 0,05). Assim, a concentração de poeiras não explica a presença da silicose nos trabalhadores, isto é, há independência entre as variáveis. Este fato se confirma, visto que todas as atividades que desprendem partículas nos lapidários e que expõem os trabalhadores as poeiras de sílica, são atenuadas devido as mesma serem realizadas com grandes quantidades de água para resfriarem os discos de corte, modelagem e acabamento. 204 Planilha 5.6. Matéria-Prima versus Silicose 18 4 22 14 5 19 32 9 41 Rejeita-se H0 17,17073 14,82926 4,829268 4,170731 0,040049 0,046373 0,142399 0,164883 0,393706 Coeficiente Phi = 0,097992 (correlação ausente) quiquadrado a 5% de significancia e g.l.=1 : 3,841 quiquadrado a 1% de significancia e g.l.=1 : 6,635 A C B D A / A+B = 0,5625 C / C+D = 0,444444 A / A+C = 0,818181 B / B+D = 0,736842 AD / CB = 1,607142 Testada a hipótese nula de que há independência entre a matéria prima utilizada (cristal, quartzo azul, rosa e verde, ametista e dolomita vermelha) e a presença ou não de silicose no trabalhador, concluiu pelo teste do Qui-quadrado, ao nível de significância de 0,05, que não se pode rejeitá-la (χ2 = 0,3937; g.l. = 1; α = 0,05). Assim, a matéria prima utilizada (cristal, quartzo rosa e ametista) não explica a presença da silicose nos trabalhadores, isto é, há independência entre as variáveis. Considerando o momento que se deu a avaliação e embora sendo a matéria-prima um dos fatores de risco por conter sílica, as variáveis estudadas aqui não se mostraram relacionadas. Então a ocorrência de silicose confirma-se, neste estudo de caso, ao prolongado tempo de exposição. As pedras citadas são as que apresentaram significativos percentuais de sílica (Tabela 4.12., página 88), mas devido as baixas concentrações de poeiras desprendidas das operações, elas podem ser classificadas como coadjuvantes no desenvolvimento da silicose e como principal fator, temos o tempo de exposição. 205 Planilha 5.7. Tempo de Exposição versus Silicose 0 7 7 5 7 12 17 6 23 22 20 42 Rejeita-se H0 3,666666 6,285714 12,04761 3,333333 5,714285 10,95238 3,666666 0,262987 2,035761 4,033333 0,289285 2,239337 12,52737 Coeficiente de contingência C =0,479316 (correlação moderada) V de Cramér = 0,546141 quiquadrado a 5% de significância e g.l.=2 : quiquadrado a 1% de significância e g.l.=2 : 5,991 9,21 Testada a hipótese nula de que há independência entre o tempo de exposição (dividido em 3 categorias) e a presença ou não de silicose no trabalhador, concluiu-se pelo teste do Qui-quadrado, ao nível de significância de 0,05, que pode-se rejeitá-la (χ2 = 12,5274; g.l. = 2; α = 0,05). Assim, o tempo de exposição (classificado nas 3 categorias) explica a presença da silicose nos trabalhadores, isto é, há associação entre as variáveis. Essa associação é moderada, uma vez que o coeficiente V de Cramer se apresenta com o valor 0,5461. Através destes cálculos constatamos a confirmação do item 5.3. Ativos e Inativos Examinados e Entrevistados, na página 98, onde não temos nenhum caso de silicose acelerada ou subaguda, que costuma se apresentar em um período que varia entre 5 e10 anos de exposição az poeiras de sílica. Já no período entre 10 e 20 anos, vamos encontrar 52% de ocorrência de silicose crônica, ou seja, de um total de 42 examinados, temos 22 silicóticos. 206 Planilha 5.8. Tempo de Exposição (15 anos) versus Silicose 17 5 22 7 13 20 24 18 42 Rejeita-se H0 12,57142 11,42857 9,428571 8,571428 1,560064 1,716071 2,080086 2,288095 7,644318 Coeficiente Phi = 0,426623 (correlação moderada) quiquadrado a 5% de significância e g.l.=1 : 3,841 quiquadrado a 1% de significância e g.l.=1 : 6,635 A C B D A / A+B = 0,708333 C / C+D = 0,277777 A / A+C = 0,772727 B / B+D = 0,35 AD / CB = 6,314285 Testada a hipótese nula de que há independência entre o tempo de exposição (dividido em 2 categorias) e a presença ou não de silicose no trabalhador, concluiu-se pelo teste do Qui-quadrado, ao nível de significância de 0,05, que pode-se rejeitá-la (χ2 = 7,6443; g.l. = 1; α = 0,05). Assim, o tempo de exposição (classificado nas 2 categorias) explica a presença da silicose nos trabalhadores, isto é, há associação entre as variáveis. Essa associação é ainda moderada, uma vez que o coeficiente Phi se apresenta com o valor 0,4266. Nestes cálculos temos a confirmação de que o tempo de exposição a poeiras de sílica, no caso estudado, é preponderante e de fundamental importância pelo ponto de vista do controle de ocorrência de novos casos de silicose. O risco relativo (RR) é a relação entre a taxa de incidência da silicose nos indivíduos com 15 anos ou mais de exposição pela taxa de incidência da silicose naqueles com menos de 5 anos. Neste caso, RR = 1,27, o que indica que o tempo de exposição maior ou igual a 15 anos é considerado risco para a doença. [Se RR = 1 temos ausência de associação; se RR < 1 temos proteção contra a doença; e se RR > 1 temos risco de doença.] [Pereira, 2000, p.408]. 207 A razão de chances (odds ratio, em inglês) (O.D.), que mede a relação entre a proporção dos trabalhadores com silicose naqueles que apresentam o fator de risco (no caso, ter 15 anos ou mais de exposição) em relação à proporção dos trabalhadores com silicose naqueles que não apresentam o fator de risco (no caso, ter menos de 15 anos de exposição), para as variáveis em questão foi igual a 7,6443, que indica que o tempo de exposição de 15 anos ou mais constitui-se em risco mais de 7 vezes maior para aqueles trabalhadores do que para os que têm menos de 15 anos de exposição. Após a análise dos dados podemos verificar que o principal fator de ocorrência de silicose nos lapidários, é o prolongado tempo de exposição. No caso específico destes ambientes e devido as suas peculiares características operacionais, encontramos baixas concentrações de poeiras, variados percentuais de sílica das matérias-primas, precárias condições de trabalho e descuidos pessoais comprometedores a saúde dos trabalhadores. Somos levados a desenvolver ações de ordem informativa, educativa e tecnológica, com o intuito de controlar as exposições as poeiras e a respectiva mitigação de futuros casos de silicose. Apresentamos no Anexo II, algumas propostas, como informativas, condutas corretas de prevenção e tecnologicamente um preliminar de ventilação local exaustora. palestras projeto 208 CAPÍTULO VI CONCLUSÃO 6.1. Considerações Finais A silicose é uma doença social, sendo esta uma patologia evitável, desde que sejam utilizados programas de prevenção e medidas de controle eficazes, bem como o uso de tecnologia adequada no cotidiano do trabalho de lapidação. Analogamente ao triângulo do fogo, podemos considerar os vértices do triangulo da silicose em lapidários. Homem SILICOSE Rocha Ambiente • Homem ⇒ Respiradores inadequados; • Rocha ⇒ Teores de sílica > 7,5 %; • Ambiente ⇒ Elevadas concentrações de poeiras de sílica. 209 Tendo o tempo de exposição como principal fator na ocorrência de silicose nos lapidários. Sabedores das limitações e aptidões para desenvolverem outro tipo de habilidade ou capacidade para o trabalho, com as mesmas oportunidades de ganhos financeiros conseguidos por esses artesãos. Apresenta-se como medida efetiva de controle o isolamento de um dos vértices do triângulo para o controle da silicose. 6.2. Avaliação das Hipóteses Levantadas - Significativas concentrações de poeiras com elevados percentuais de sílica, causadores de silicose; Constata-se que a necessidade do uso da água para resfriamento dos discos e conseqüente aumento na vida útil destes, temos como beneficio a redução da concentração de poeiras respiráveis nos ambientes da lapidação, muito mais abaixo, do que as encontradas em outras atividades que envolvam pedras, como na atividade de acabamento da indústria de mármores e granitos. Quanto ao percentual de sílica desprendida das pedras beneficiadas, verifica-se que as mais utilizadas (cristal, quartzo azul, rosa e verde, ametista, dolomita vermelha e etc.), apresentam os mais altos índices de sílica cristalina, outras não tão utilizadas, apresentam percentuais abaixo de 7,5 % e algumas zero. Essas de percentual zero serão qualificadas como pedras salutares e identificadas, através do selo “Ocupacionalmente Corretas”, selecionando as peças com elas confeccionadas. - Correlacionar concentrações de poeiras, percentual de sílica e tempo de exposição; Ao correlacionarmos os três parâmetros constatamos que o tempo de exposição é o fator preponderante no acometimento de silicose, se não forem tomadas efetivas medidas de controle para atenuar a exposição nas atividades de lapidação. 210 - Determinar o percentual de sílica das rochas mais utilizadas, para classificá-las quanto aos danos a saúde; Na atividade de lapidação são utilizadas algumas dezenas de pedras, nacionais e estrangeiras, com as mais variadas formações rochosas. Buscamos analisar as pedras mais utilizadas nos lapidários, quando do levantamento das poeiras nos ambientes pesquisados e verificamos que o cristal, quartzo (azul, rosa e verde), ametista, dolomita vermelha e etc., conforme apresentado na Tabela 4.12 – Percentuais de SiO2 das pedras, capítulo IV, página 88, onde podemos afirmar que as pedras com percentuais de sílica acima de 7,5 % devem ser banidas desta atividade. - Descrever condutas de higiene pessoal e do local de trabalho, visando as boas práticas laborais; No anexo II, encontra-se uma relação de medidas e procedimentos de controle de ordem pessoal e do ambiente dos lapidários, com o intuito de reduzir as concentrações de particulado e consequentemente os riscos de contaminação e o desenvolvimento da silicose. Juntamente com as condutas e descrição do EPI adequado e eficiente para atenuar e proteger os trabalhadores da exposição as poeiras de sílica. - Desenvolver um esboço de um projeto de ventilação local exaustora para atenuar as concentrações de poeiras nos ambientes de trabalho. Este esboço encontra-se desenvolvido ao final do Anexo II e será implantado como um projeto piloto numa das empresas pesquisadas, na qual temos hoje um sistema não muito eficiente operando. Parte do maquinário existente será utilizado para o desenvolvimento do projeto elaborado. Feito isto, serão realizadas avaliações da concentração do particulado do ambiente para verificar a eficiência deste projeto. 211 6.3. Sugestões de Trabalhos Futuros Como sugestões, dentre outras, pode-se propor: Pesquisar através de um tratamento estatístico as variáveis (pistas) que identifiquem e comprovem a não ocorrência de silicose em trabalhadores com características semelhantes de exposição aos que desenvolvem a doença; Analisar e avaliar o projeto de ventilação local exaustora, quanto a eficiência proposta para lapidários. Também verificar sua adequação para atenuar a concentração de particulado em outros ambientes de beneficiamento de rochas minerais, como por exemplo, a atividade de acabamento de mármores e granitos com lixadeiras manuais; Desenvolver um estudo para identificar a razão da resistência dos trabalhadores ao uso de equipamentos de proteção individual, fundamentado em pesquisas quantitativas; Elaborar um programa de proteção da exposição ao ruído, com a finalidade de alcançar medidas preventivas de ordem coletiva; Realizar a análise ergonômica dos postos de trabalho dos lapidários, visando o conforto e aumento da produtividade. Por fim, espera-se ter contribuído para minimizar a ocorrência de novos casos de silicose, através das conclusões alcançadas e com as medidas propostas para atenuar as exposições as poeiras de sílica que tantos danos causam aos trabalhadores. 212 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACGIH, American Conference of Governamental Industrial Hygienists. 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Ao final deste estudo agendaremos uma nova palestra para apresentarmos aos trabalhadores os resultados, as sugestões, as orientações de higiene e segurança e o projeto de ventilação local exaustora, quando prestaremos assessoria para execução do projeto. Na oportunidade apresentamos os riscos oferecidos pelas micro-partículas quanto ao tempo de permanência destas no ar dos ambientes de lapidação, conforme tabela abaixo: Tabela 5.6. Sedimentação de uma partícula de sílica no ar parado Diâmetro (μm) 5,0 2,0 1,0 0,5 0,2 Tempo (min) 2,5 14,5 54,0 187,0 590,0 Espaço percorrido = 30 cm Apostila do Curso de Exposição Ocupacional a Poeiras, pág. 11 – Pesquisadoras Alcinéia Meigikos dos Anjos Santos e Norma Conceição do Amaral FUNDACENTRO - 1991 221 Medidas de Higiene Pessoal e no Ambiente de Trabalho Implantar e implementar procedimentos de higiene pessoal e no ambiente de trabalho para reduzir e conter as partículas desprendidas durante as atividades. Cuidados com as roupas que são utilizadas, procurando fazer a higiene no próprio local do trabalho, trocando de roupa e lavando para retirar as poeiras e levando úmido para ser lavada em sua residência, evitando assim estar carreando para a sua família a contaminação por essas partículas. Nos ambientes evidenciar a importância da limpeza das bancadas e locais onde se depositam as partículas, lavando todas as bancadas e superfícies planas onde se acumulam poeiras. Esse procedimento deverá tornar-se um habito diário. Proteção Respiratória É recomendado pelo manual da FUNDACENTRO, para proteção respiratória, do grupo – aparelhos purificadores, do tipo – equipamentos com filtros mecânicos – 01 - máscaras contra suspensões particuladas – “Respiradores”, com as seguintes descrições: Características: • Oferecem proteção contra material particulado disperso no ambiente, no estado sólido ou líquido (névoas e neblinas). • Constam de máscara facial inteira ou parcial (meia máscara) de borracha, neoprene ou alumínio confortável para perfeita hermeticidade; tirantes válvulas de inspiração e expiração, e um ou dois alojamento para os filtros. • Os filtros variam em eficiência de filtração, segundo o material particulado que se deseja apreender. Há basicamente 4 classes: para material incômodo (poeiras inertes) – Particulados Insolúveis Não-Classificados de Outra Maneira-PNOC, para poeiras pneumoconióticas, para fumos metálicos, e para partículas extremamente finas como o berílio, materiais radiativos e certos vírus. 222 Observações: • São dispositivos para situações de não emergência, entretanto mais para exposições de média duração, do que para exposição continuada. • A vida útil relaciona-se principalmente com a atividade do usuário e a concentração do aerodispersóide no ambiente. • Exemplos de aplicação: moagem, peneiração e transporte de materiais pulverulentos; perfuração de rochas. Limitação: • Não oferecem proteção contra gases ou vapores tóxicos. • Não devem ser utilizados em atmosferas deficientes de oxigênio. • Não devem ser utilizadas em operações de jateamento abrasivo (usar equipamento específico). Orientaremos quanto ao equipamento mais apropriado e a maneira adequada e eficiente do uso do equipamento, buscando atenuar a exposição do trabalhador pela contaminação do particulado respirável. Sistema de Ventilação Local Exaustora O projeto de VLE tem a finalidade de reduzir as concentrações de poeiras nos ambientes de trabalho, estas exauridas serão recolhidas através de uma caixa de decantação, conduzidas por tubulação de PVC em espiral, afogada, retendo as partículas na água que precipitam-se para serem recolhidas e terem destino adequado evitando impactos ao meio ambiente. 223 224 Descrição do Projeto de Ventilação Local Exaustora. 1- Bancada em desnível para escoamento da água e material particulado para a calha ao fundo da mesma; 2- Calha de recolhimento da água e material particulado desprendido na operação de lapidação; 3- Duto de escoamento da água e material particulado para caixa de decantação; 4- Coifa de contensão do particulado total (respirável e não respirável) desprendido das operações dos equipamentos de lapidação; 5- Coifa de captação do particulado respirável desprendido das operações de lapidação, com escoamento da água e material particulado; 6- Duto de 100 mm para sucção do particulado respirável, através de um ventilador centrífugo acionado por um motor de 1/3 de HP, conduzido para caixa de decantação, na qual ficará afogado; 7- Duto de escoamento da água com o material particulado para a caixa de decantação.