Rio de Janeiro, 2 de junho de 2008
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Maílton Freitas da Silva. Nasci em primeiro de dezembro de 1957, no Rio
de Janeiro.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu entrei na Petrobras em outubro de 1990, porque queria um emprego estável e
também queria participar, de certa maneira, do desenvolvimento do Brasil. Eu sempre
tive uma aspiração por trabalhar nas grandes empresas do estado, né, ou a Petrobras,
ou a Vale do Rio Doce, que eram as empresas mais dinâmicas, mais importantes do
Brasil, na época.
A Petrobras era, ao mesmo tempo, menos e mais conhecida. Era menos conhecida
como uma empresa de exploração de petróleo e mais conhecida como uma empresa
de refino e distribuição de combustíveis. A gente não tinha a parte de extração de
petróleo, principalmente offshore, que era praticamente desconhecida. Eu conhecia
alguma coisa porque já tinha um ou outro colega que trabalhava na empresa. Mas, a
maioria da população não tinha muita idéia do que a gente fazia no mar, na área de
extração de petróleo, por exemplo. A empresa era muito conhecida mesmo como
refinadora e como distribuidora de combustível.
FORMAÇÃO
Eu sou engenheiro mecânico, formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entrei no curso de formação de engenheiros de petróleo da Petrobras em Salvador.
Até hoje existe esse curso de formação, que converte engenheiros de outras
especialidades em engenheiros de petróleo, adaptados ao trabalho na produção,
perfuração e completação de poços marítimos.
INGRESSO NA PETROBRAS
[O primeiro contato com a Petrobras] Foi com esse curso em Salvador. Meu curso foi o
turno, o pessoal chama de CEP. É, de 1989, não é? É um curso de formação. Na
época, nós éramos 150 rapazes e moças fazendo o curso. Esses cursos de formação
podem ser variáveis de acordo com algumas necessidades da empresa. No meu caso,
foi cerca de um ano e meio. Ele equivale a uma extensão universitária, a uma
especialização, é o que se chamaria de pós-graduação, lato sensu, sem defesa de
tese.
INGRESSO NA BACIA DE CAMPOS
Eu fui enviado pra Macaé e fiz rápidos estágios na parte de avaliação e de operação,
mas eu fui lotado direto na antiga divisão de reservatórios da RPSE, Região de
Produção Sudoeste.
COTIDIANO
Eu continuo trabalhando em reservatórios. Passando pelas diversas mudanças que a
estrutura da companhia teve durante todos esses anos. Nomes de setores mudaram o
tempo todo, mas continuei trabalhando na atividade de reservatório. Os funcionários
administrativos da Petrobras nem sempre são tão visíveis quanto os funcionários
offshore. Mas, acho que a gente desempenha um trabalho igualmente essencial,
porque é necessário que alguém faça algumas atividades técnicas. Como engenheiro
de reservatório, o que eu faço? Faço previsões de produção, analiso comportamentos,
o desempenho dos campos de petróleo, procuro opções mais econômicas ou que
aumentem a produção de petróleo, tanto em volume, quanto em quantidade
recuperável final. Isso a gente faz através de uma seqüência, é uma integração com a
parte da geologia e da geofísica, usando modelos matemáticos e simuladores de
reservatório pra poder visualizar as alternativas e os desafios que possam ter um
campo de petróleo. Campos de petróleo podem recuperar, dependendo de como ele é
explorado, entre 10 e 60% do óleo que tenha dentro dele. E essa definição vai ser
feita, em grande parte, pela divisão de reserva.
COMPLEXO DE MARLIM
O período mais marcante da Bacia de Campos foi quando o complexo de Marlim, as
plataformas, a partir da P-26, começaram a entrar em seqüência. Por quê? Porque a
produção aumentou de uma maneira dramática e a atividade como um todo, e na
cidade, a atividade de todos os envolvidos na atividade de petróleo aumentou de uma
maneira estupenda. A cidade, a Base, toda a atividade deu uma grande explosão. Foi
Marlim, digamos assim, que dobrou a produção a partir da entrada principal dele e,
começou a entrar realmente, em meados da década de 90 e aí a produção foi
alavancada. Ela dobrou.
BACIA DE CAMPOS
Entre 1990 e 2000, praticamente não foram contratados empregados novos. Esse
período também foi muito complicado porque a força de trabalho era limitada como um
todo e nós estávamos aumentando muito a produção. A gente começou a admitir
funcionários novos a partir de 2000, alguns funcionários e, começamos a recuperar
nossa capacidade de trabalho, maciçamente, por volta de 2003. Teve uma turma de
engenheiros de petróleo, acho que foi em 2000, que tinha 30 pessoas. Na minha
turma em 1990, eram 150. Entre 1990 e 2000 e pouco, não entrou nenhum engenheiro
de petróleo na empresa. Então, a gente teve um período muito pesado de trabalho,
porque tinha muito pouca gente. Agora têm entrado algumas turmas, tanto de
engenheiros, quanto de operadores e geólogos, e estamos adequando o perfil da força
de trabalho à quantidade de trabalho. E ainda há deficiência, porque em princípio, a
gente tá descobrindo cada vez mais, mesmo que não seja na Bacia, mas fora, e isso
exige transferência de pessoal experiente da Bacia para as novas atividades no présal, por exemplo. Então, a demanda de pessoal ainda vai continuar alta durante muito
tempo.
RELAÇÕES DE TRABALHO
[O convívio entre os trabalhadores] é intenso. Eu tenho ótimos amigos na empresa e
lembre-se que isso aqui é uma cidade de petróleo: ou você trabalha na Petrobras, ou
trabalha com a Petrobras, ou trabalha para a Petrobras. Então, digamos, você não
consegue sair do serviço. Não vou diria 24 horas, mas você está em contato constante
com o seu pessoal, com os seus colegas, em todo o caso. Não é como a cidade do
Rio de Janeiro que você sai do trabalho e vai pra casa e não vê seu colega. Você vai
ao supermercado, você encontra um colega, você vai ao cinema, você encontra os
seus colegas, seus filhos estudam com os filhos dos seus colegas. Então, é um
convívio muito, muito intenso.
PERFIL DO TRABALHADOR
O perfil do trabalhador da Bacia de Campos, em princípio, é de pessoas que: se
esforçam, são determinadas e são corajosas. Existe um desafio muito grande e
precisa de muita coragem pra enfrentá-lo. Não precisa, necessariamente, coragem
física, mas coragem de assumir esses desafios. Eles continuam aumentando a cada
dia que passa, não diminuem com o tempo, só aumentam.
DESAFIOS
Em termos pessoais o maior desafio que eu tive foi completar o meu mestrado,
trabalhando e estudando ao mesmo tempo. Em 2003, eu fechei o mestrado, depois de
três anos, foi um desafio pessoal grande. O maior desafio profissional foi o
desenvolvimento e o apoio que a parte de incrustação de reservatórios que eu tenho
dado na Bacia, que é a parte que eu me dedico mais. Incrustações salinas e
reservatórios de petróleo em curvas de produção. É a parte que tem dado mais prazer,
mas também me causa mais dor de cabeça, o tempo todo.
DIFICULDADES
Em nível profissional, a maior dificuldade mesmo foi durante o final da década de
1990, tinha muito pouca gente, tava com muito pouco pessoal e tava cuidando de
muita coisa ao mesmo tempo. Mas, eu não gosto nem de dizer que isso foi uma
dificuldade, porque foi uma época em que a pessoa realmente se desenvolvia num
certo grau de diversidade.
MUDANÇAS
Quando eu entrei, a Base era modesta em termos de tamanho, muito mais
operacional, do que administrativa. Hoje, o que a gente vê aqui é que a Base se
transformou numa pequena cidade, né? A gente não tem, praticamente, espaço pra
nada. Pra quem conheceu essa Base em 1990, você simplesmente não acredita que
as pessoas consigam arranjar espaço pra colocar mais alguém, entende? É
impressionante. Os prédios novos que estão sendo construídos agora são um
exemplo: aquilo era um estacionamento. O estacionamento que você vê lá fora, era
um terreno de terra batida. A maior parte de alguns desses prédios foram construídos
nos últimos 5 anos, é impressionante. Em termos de tamanho, a Base ficou imensa.
SER PRETROLEIRO
Ser petroleiro não é trabalhar na Petrobras. É trabalhar na área de petróleo para o
Brasil. Isso é diferente. Ser petroleiro é isso. A Petrobras é um meio, não é um fim.
PROJETO MEMÓRIA
Ah, eu gostei, eu adoro falar! Eu dou algumas aulas, então eu tenho mania de falar. Eu
adoro conversar, discutir, então, eu realmente adoro dar uma opinião. Dizer alguma
coisa que eu possa... Dizer as outras pessoas uma visão, talvez seja um pouco
diferente. Mas é uma visão.
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Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2011