AGRONOMIA: INTEGRAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA, ECOLÓGICA, TECNOLÓGICA E CONCEITUAÇÃO PROFISSIONAL RONALDO GONÇALVES LINS Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, Pernambuco. _______________ Ocorreu-me uma idéia. Por que um jovem concluinte do Curso Colegial no ano de 1947, escolheria ser Engenheiro Agrônomo? Possivelmente, nenhum participante dessa turma de 1951, a qual, com muito honra, me dirijo, nesta solenidade, jamais refletiu sobre o assunto. Relembrando fatos marcantes do século passado, grandes conquistas científicas ocorreram, a exemplo da descoberta da penicilina, teoria da relatividade, transplantes de órgãos, energia atômica e clonagem animal. Por outro lado, realizações tecnológicas de vulto se processaram, dando significativo impulso ao desenvolvimento das nações, com destaques para o raio X, motores de combustão interna, transformação da energia atômica em energia mecânica e elétrica, transistor, telecomunicações e satélites teleguiados. Vieram, também, profundas transformações políticas, marcadas pela queda dos regimes totalitários, exemplo do nazismo, fascismo, franquismo, estado novo, peronismo e comunismo, entre outros, emergindo regimes democráticos, mais favoráveis ao desenvolvimento e entendimento entre as nações. Para maior segurança do mundo livre, foram criadas as organizações internacionais ONU (Organização das Nações Unidas), OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), OEA (Organização dos Estados Americanos) e Corte Internacional de Haia. Conquistas sociais, à época inesperadas, ocorreram, surgindo o Sistema Previdenciário, implantação da Medicina Social, Reforma Agrária, Ensino Livre e Gratuito do Primeiro e Segundo Graus em escolas públicas, Consolidação do Direito do Trabalhador, da Mulher e da Criança. Todas essas mudanças induziram transformações dos sistemas econômicos, passando, como sistema dominante do ______________________________________ Oração proferida na sessão de outorga do Título de Mérito Agronômico aos Engenheiros Agrônomos da Turma de 1951 da Universidade Federal Rural de Pernambuco, maio de 2002. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, vol. 2, p.67-69, 2005. 68 AGRONOMIA: INTEGRAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA... mundo livre, a economia centrada no Estado para economia do poder privado, regida pela Lei do Mercado, criou-se a globalização, neo-liberalismo, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Á luz de tal dinâmica, concomitantemente, o Engenheiro Agrônomo viu-se transformar de um técnico eclético, que era receptáculo de todo o conhecimento das Ciências Agrárias, para um técnico especializado em setores mais definidos, à luz de uma modernização de princípios e métodos agronômicos. Desenvolveram-se as profissões agrárias de veterinário, engenheiro florestal, engenheiro agrícola, zootecnista, engenheiro de pesca, economista agrícola, educador agrícola. Criou-se, então, a adoção de aprofundamento do conhecimento agronômico com a implantação dos cursos de pós-graduação em solos, fitotecnia, fitossanidade, engenharia agrícola, educação e economia agrícola. O Engenheiro Agrônomo original, que era eclético e portava um toque messiânico do saber agrário, transformou-se num agente da excelência do conhecimento agrário, em campos específicos da atividade agrícola: as supersafras agrícolas de recorde de produção, resultado de práticas agrícolas mais sofisticadas tais como adubação orgânica e química, uso de agrotóxicos, tratorização da agricultura, melhoramento genético das plantas, irrigação e drenagem dos solos, conservação dos solos, armazenamento, transporte e comercialização dos produtos agrícolas. Na esteira das supersafras, veio a consciência da preservação da vida, do ambiente, das prioridades econômico-sociais. Surgiram, então, práticas de reflorestamento, controle biológico de insetos e patógenos, práticas conservacionistas de controle de solos, adubação orgânica exclusiva, minifúndios, cooperativas agrícolas, agronegócio, a informatização das atividades agrícolas, desenvolvimento agrícola sustentado, a derrubada das práticas de protecionismo da produção agrícola, como tributação dos produtos agrícolas importados, subsídios agrícolas e cotas de importação dos produtos agrícolas. A despeito de todas essas transformações, o papel do Engenheiro Agrônomo permaneceu imutável. Ele, agora, como antes, é o agente que participa dos esforços humanos para viabilizar a eliminação da fome no mundo, para evitar o êxodo rural e a favelização urbana, para absorção da mão de obra ociosa e diminuição da taxa de desemprego, para integração nacional das imensas áreas não habitadas desse país, para a formação de um mercado consumidor interno que proteja a economia nacional do endividamento externo, para estimular uma política econômica de poupança nacional voltada para o bem estar da maioria da população, para assistir aos pobres Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, vol. 2, p.67-69, 2005. R.G. LINS 69 e necessitados do mundo. O desafio profissional era grande. Eis aí - quem sabe? a razão daquele jovem colegial da década dos anos quarenta, do século passado, carregar nos ombros, mesmo já sendo cidadão idoso no ano 2002, a consciência de que preencheu sua existência a serviço dos ideais nobres de solidariedade humana, respeito à natureza e plenitude da vida. Nossas homenagens póstumas aos colegas Wolckmar Mendonça de Vasconcelos, Jayme de Moura Sena e Paulo Dantas Correia de Góis. Meus votos de congratulações aos Engenheiros Agrônomos da turma de 1951, recipientes o diploma de mérito agronômico: Antonio Guerra Barreto, Antonio Américo de Almeida, Cícero Barreto Filho, Fernando de Lira Rabelo, José Santana Neves, Manoel de Almeida Castro Jr., Otávio Gonçalo da Silva, Nivaldo Vieira de Vasconcelos e Ronaldo Gonçalves Lins (membro da Academia Pernambucana de Ciências Agronômicas), assim como, aos Engenheiros Agrônomos homenageados com o diploma D. Pedro Bandeira de Melo, pelos seus 65 anos de aniversário: Aquiles Leonardo Schuler, Antonio Coelho Malta e Oswaldo Barbosa de Souza. Reconhecimento é aqui expresso à nossa ‘alma-mater’, a Escola Superior de Agricultura de Pernambuco, atualmente Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e à Academia Pernambucana de Ciência Agronômica. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, vol. 2, p.67-69, 2005.