REPORTAGEM Tecnologia para DJ’s Já pensou poder tocar todas as músicas em formato MP3 que você tem no seu computador em um toca-disco, usando vinil? Isso, há 10 anos, era somente um sonho bem distante. Entretanto, na atualidade é uma realidade e bem perto de nós. As interfaces para DJ’s e seus simuladores de vinil são o que há de mais “quente” no mercado dos clubs no mundo todo. Vamos falar delas mais detalhadamente Daniel Tamenpi [email protected] D iscotecar usando um computador sempre foi um obje- logia como Richie Hawtin e John Acquaviva começaram a tivo no mercado, tanto que já existiam programas para apoiar o projeto e a sugerir idéias de aperfeiçoamento do esse segmento, mas a coisa não era tão simples. Usar tecla- protótipo. A partir daí, a empresa fechou uma parceria do e mouse para mixar música em tempo real era muito com a Stanton, uma das fabricantes top de equipamentos complicado, não tinha a precisão necessária. Surgiu então para DJ’s e chegaram ao ScratchAmp, o aparelho que in- a idéia de ligar um computador a um par de toca-discos e terligava toca-discos com um computador e fazia a mágica usá-los para controlar as MP3 que eram tocadas no compu- acontecer, e foi usado por toda a primeira geração do Final tador. Uma simulação total e real. Isso foi em Scratch. Surgia, então, a primeira versão 1998, e nasceu assim o Final Scracth. Foi projeto comercializada do Final Scratch 1.0. Ela roda- de um grupo de alemães, que o apresentou ao pú- va em Linux, com o uso de um CD e um siste- blico em uma conferência de usuários do finado ma operacional (Debian) configurado apenas sistema BeOS, um sistema operacional nascido para rodar o programa. Isso fez com que ocor- de uma dissidência da Apple, destinado a PCs e ressem diversos problemas e os usuários, mes- que faliu no ano seguinte. Mas, para sorte dos DJ’s e produtores, o projeto do Final Scratch não se abalou. O grupo formou a empresa N2IT, e, em 99, já apresen- mo maravilhados com a tecnologia, começaram a descrer do produto devido a esses impasses técnicos. A Stanton resolveu então fazer uma parceria com a Na- tava o protótipo tive Instruments, em clubs da Ale- dona do melhor manha. DJ’s ante- programa para nados em tecno- DJ’s do mercado: 78 www.backstage.com.br REPORTAGEM o Traktor DJ Studio. A parce- Cheguei a usar o Final Scratch ria entre a Stanton e a Native logo no início, mas tive muitos Instruments era a seguinte: a problemas de funcionamento Stanton fabricava o hardware com essa versão 1.1”. e fazia a distribuição, e a NI Por essas e outras, a nova ver- cuidava do software e do aten- são era questão de emergência. dimento. Nascia ali o Final Nascia, então, o Final Scratch 2, Scracth 1.1 junto com o pro- com o aparelho ScratchAmp 2. grama Traktor Final Scratch, Uma nova versão do aparelho, que, apesar de ser bem simples, toda reformulada, com placa de rodava em Windows, Linux e som e um programa atualizado. OSX e ainda tinha recursos O ScratchAmp 2 usava o que que facilitavam a busca de ar- havia de melhor qualidade no quivos em biblioteca e a função mercado, tinha conexões de Master Tempo (Time Stretch), entradas e saídas e uma versão permitindo que o DJ acelere ou atualizada do programa Traktor diminua o pitch da música, Final Scratch. Além disso, a preservando sua entonação, coi- nova placa era com barramento firewire, abandonando o USB. sa que só rolava em aparelhos de CD profissional para DJ’s e era Dj Primo Logo que saiu, o FS 2 imvoramento Sound System e um dos pressionou. Funcionava com qual- A partir daí, o Final Scratch se tor- nomes respeitados da música eletrô- quer programa de áudio e junto com nou uma realidade no mercado e se nica no Rio de Janeiro, foi um dos pri- o Traktor DJ Studio 2.6 faziam-se popularizou. Como nesta tecnologia meiros a se interessar por essa tecno- coisas incríveis para usuários de vi- as coisas avançam em uma velocidade logia, “me interessei de cara, tanto que nil, com controle total também pelo incrível, em pouco tempo o Final comprei o Final Scracth para usar na teclado, mouse ou um controlador Scratch começou também a sofrer minha apresentação no Tim Festival midi. Nesses tempos começaram a críticas negativas devido a defeitos com o Apavoramento em 2003. Com aparecer concorrentes, como o Se- em canais de áudio e reclamava-se do a era digital e a disponibilidade de ar- rato Scratch Live, uma parceria en- fato de usar o já ultrapassado USB 1.1 quivos digitais de música, não conse- tre a Rane, fabricante dos melhores e componentes de baixa qualidade. gui me adaptar a CD’s devido à fragili- mixers de competição do mercado e DJ Nepal, membro do coletivo Apa- dade do material, sempre toquei vinil. a Serato, que fazia softwares de áudio Serato Traktor Scracth Audio 8 Audio 8 DJ um sonho para quem tocava vinil. www.backstage.com.br 79 REPORTAGEM para produção. Mas com tudo que o FS 2 oferecia, alcançá-lo era muito difícil. O business, no entanto, preparava uma pernada para os usuários: a parceria entre a Native Instruments e a Stanton começava a ter problemas sérios, com direito a brigas judiciais e confusões com o suporte técnico, tendo como resultado o fim dessa dupla. A NI simplesmente retirou o programa Traktor do Final Scratch e deixou os usuários na mão. E, para completar, em 2007 a Stanton relançou o produto Dj Nepal com o nome de Final Scratch Open, ra, qual o melhor? Quais as vantagens e compatível com qualquer simulador no desvantagens de cada um? mercado, menos o da Native Instru- O Serato é o favorito de 9 entre 10 ments, que era o melhor de todos. Isto é, DJ’s que usam as interfaces. Foi o primei- hoje você compra o Final Scratch Open ro a fazer concorrência quando o Final por um preço abaixo da concorrência, Scratch ainda era imbatível, por isso tem porém, sem programa nenhum. Ainda mais tempo de mercado e mais experiên- vai ter que comprar um programa para cia. “Assim que soube do Serato fui atrás, rodar nele, que pode não alcançar as ex- pois tive muitos problemas de funciona- pectativas necessárias. Enfim, o Final mento com o Final Scratch. Com o Scratch, que comandava o mercado, Serato realmente não foi essa a experi- caiu para a 2ª divisão. ência. É muito confiável seu funciona- Contada a história por trás da criação 80 www.backstage.com.br mento”, completa Nepal. e lançamento dessa tecnologia, vamos É o melhor sistema e o mais simples, para os dias atuais. Atualmente existem fato que anima os DJ’s. Este é o caso do vários produtos com a mesma proposta, DJ Primo, um dos nomes mais conceitu- mas quatro deles se destacam e coman- ados do Hip-Hop no Brasil, com passa- dam o mercado: o Final Scratch (já cita- gens por outros países. “Meu primeiro do nos parágrafos acima), o Serato (fa- contato com interfaces para DJs foi com bricado pela Rane), o Torq (fabricado o Final Scratch, usei o de um amigo e pela M-Audio) e o Traktor Scratch (fa- senti um atraso muito grande na hora de bricado pela Native Instruments). Ago- tocar e fazer scratch, continuei tocando REPORTAGEM com discos por mais um tempo. Depois, vando mais uma vez a preferência. A sua ço, em torno de 300 dólares, metade comprei o Serato e descobri que existe popularidade no mercado é tão grande dos demais, e a economia de conexão um controle de latência que o deixa bem que a marca de roupas e calçados Nike de cabos. Enquanto nos outros são 4 mais próximo do disco de vinil”, afirma. em parceria com a Rane/Serato lançou, cabos indo para o mixer, o Conectiv só Esse é um dos quesitos principais ano passado, uma edição especial do usa 2, o que é uma grande vantagem na que o torna o preferido dos DJ’s, a sua Serato Scratch Live em comemoração hora de montá-lo nos clubs. O progra- baixa latência ou tempo de resposta, aos 25 anos do Air Force 1, um dos tênis ma Torq também tem suporte a plug- quer dizer, o tempo que leva entre você mais famosos de toda a história da in- ins VST e bancos de samples. Apesar manipular o disco e a resposta na tela. dústria da moda. No kit estava incluso, da Conectiv ser uma plataforma bem Quanto menos latência, melhor. Ape- nova, a reputação da M-Audio como sar de usar barramento USB 1.1, a caixa marca passa confiança ao produto. E dele decodifica os sinais do disco e toma para si parte do processamento, tornando assim a latência mais baixa, algo entre 8 milissegundos, praticamente imperceptível. O lado ruim do Serato é a falta de funcionalidade no programa. Mas para o simples uso de DJ’s como mixar, manipular e fazer performances Este ano os olhos estão voltados para a plataforma da Native Instruments, que após o fim da parceria com a Stanton, lança seu próprio produto: o Audio 8 com o preço bom e suas facilidades, é uma ótima compra para o momento. Mas este ano os olhos estão voltados para a plataforma da Native Instruments, que após o fim da parceria com a Stanton, lança seu próprio produto: o Audio 8. Com toda a história da NI com o Final Scratch, além dela ser a fabrican- com o vinil é a plataforma mais popular te do melhor programa para DJ’s do no mundo, inclusive no Brasil, usada mercado – o Traktor – e contar com a pelos top DJ’s de todos os estilos. Caso também do Negralha, DJ da banda O Rappa: “O Serato me deu a pos- além do tênis, uma versão na cor branca experiência e o sucesso de outros pro- do aparelho e do vinil, e uma bolsa ex- gramas de áudio como o Absynth, Mas- clusiva para os DJ’s. sive, Kontakt e placas de som como a sibilidade de ter músicas que eu teria Em 2007, a M-Audio, uma das Audio Kontrol, há de se esperar mais muita dificuldade de conseguir; nas fes- grandes marcas de equipamentos de uma ótima opção nesse mercado. O tas uso repertórios de muitos estilos mu- áudio, vendo toda essa movimenta- Audio 8 é uma placa de áudio USB 2.0, sicais sem precisar carregar centenas de ção, resolveu investir alto em lança- com várias entradas e saídas, construída discos de vinil. Com a banda, me possi- mentos visando os DJ’s. E com isso com componentes da melhor qualidade bilita usar vários sons e músicas marca- ela também tem seu aparelho, cha- e com uma latência incrível. E ainda dos como sampler, isto é, ter minhas pró- mado Conectiv, que vem com o pro- vem com o Traktor Scratch 3, o melhor prias bases em vinil”, diz o DJ, compro- grama Torq. As vantagens são o pre- software do mercado de DJ’s. Para completar, tem algo que nenhuma outra concorrente tem: o programa continua funcionando perfeitamente quando o sinal dos toca-discos fica mono, fato rotineiro seja por maus contatos, cabos, agulhas, etc. Tudo isso faz com que as expectativas da Audio 8 sejam imensas. Mas só o tempo vai nos provar se ela vai Traktor Interface 82 www.backstage.com.br Serato Interface mesmo dominar o mercado.