Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO DISCIPLINA CURRICULAR: POSSIBILIDADES FORMATIVAS Ana Gardênia Sampaio Foeppel (Universidade Estadual do Ceará – UECE, Colégio Santa Cecília e Rede Estadual de Ensino) e Francisco Marcôncio Targino de Moura (Universidade Estadual do Ceará – UECE, Colégio Santa Cecília e Rede Municipal de Ensino). RESUMO A pesquisa deste trabalho suscitou da questão norteadora: o que diz a legislação sobre a educação ambiental no âmbito escolar? Nosso objetivo foi investigar como a inserção da disciplina de educação ambiental no currículo escolar atua de forma significativa na formação de uma conscientização discente quanto às questões ambientais de forma a provocar mudanças em suas práticas cotidianas. A pesquisa realizada foi predominantemente qualitativa, escolhendo-se como método a pesquisa bibliográfica. Ao ser inserida como uma disciplina curricular a Educação Ambiental passa a ter materiais didáticos e ganha espaço para um trabalho mais sistemático e efetivo quanto a formação crítica, atitudinal e de consciência para as questões ambientais. Palavras Chaves: Currículo, Disciplina e Educação Ambiental. INTRODUÇÃO Os problemas ambientais pelos quais vem passando o nosso planeta, trouxe à tona a necessidade de revermos nossas atitudes para com o meio ambiente. Efeito estufa, chuva ácida, desertificação e muitas outras situações interferem na vida em nosso planeta. A exploração dos recursos naturais para abastecer as indústrias e o mercado consumidor que tem cada vez mais adeptos prejudica a manutenção da vida na Terra. Para conseguir solucionar os diversos problemas ambientais que afetam o mundo atualmente se faz necessário a participação de todos em estabelecer mudanças de concepções e atitudes. Silva 2011, citando Noal e Barcelos 2012, afirma que “o descontentamento e a não aceitação passiva do que está acontecendo no mundo é o que pode suscitar nossa criação imaginativa na construção de uma teoria crítica do que existe, e viabilizar sua recuperação”. (p.35) O exercício da cidadania deve começar por cada um de nós, em nossas atitudes cotidianas, nos simples momentos em que agimos para com o meio ambiente. Reconhecer-se a si mesmo, como sujeito da história comunitária pode ser mais complicado e penoso do que tentar reconhecer o outro sob o mesmo aspecto. Reconhecer o outro não significa necessariamente apreciá-lo, mas sim, respeitar sua história e individualidade. (SILVA, 2011, p. 35 APUD REIGOTA, 2003). 432 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Para exercer a cidadania se faz necessário não apenas o reconhecimento da própria importância na construção da história da nossa terra, mas também a intervenção e ação de cada um na construção de planeta digno de ser habitado. Esse desafio exige uma nova postura frente às questões ambientais para que possamos atuar como protagonistas do desenvolvimento de um planeta sustentável e não como um espectador de sua destruição. Partindo do exposto anteriormente, suscitamos como questões norteadoras deste trabalho os seguintes questionamentos: a) O que diz a legislação sobre a educação ambiental (EA) no âmbito escolar?; b) Que relação as abordagens sugeridas para educação ambiental mantêm com o trabalho formativo desenvolvido no contexto escolar? e c) Em que a inserção da disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar modifica hábitos, valores e atitudes dos discentes quanto a uma melhor conscientização ambiental? Ao longo de nossa pesquisa de especialização, procuramos responder esses questionamentos, visando suscitar contribuições para a melhoria do trabalho formativo da Educação Ambiental. Nosso objetivo geral nesta pesquisa foi investigar como a inserção da disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar atua de forma significativa na formação de uma conscientização discente quanto às questões ambientais de forma a provocar mudanças em suas práticas cotidianas. Mais especificamente trilhamos em nosso caminho a busca de: a) Analisar a legislação pertinente a educação ambiental quanto a sua inserção no contexto escolar; b) Observar a relação entre as abordagens sugeridas para educação ambiental e o trabalho docente desenvolvido na disciplina de educação ambiental no currículo do ensino fundamental e c) Investigar em que a inserção da disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar modificou hábitos, valores e atitudes dos discentes quanto a uma melhor conscientização ambiental. Após a escolha do percurso metodológico demos início a uma ampla revisão da literatura buscando fundamentar nosso objeto de pesquisa. Nesse trabalho nos deparamos com periódicos, resoluções, pareceres e livros que abordavam a temática escolhida por nós. UM MERGULHO NA LITERATURA Diretrizes Curriculares para a Educação Ambiental É de grande importância a disseminação dos documentos que legitimam a Educação Ambiental no Brasil, principalmente a Lei No 9795/99 que instituiu a Educação 433 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Ambiental no Brasil e que serviu de base para a resolução Nº. 2, de 15 de junho de 2012, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, para que os docentes possam direcionar suas práticas na Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, desde a Educação Básica ao Ensino Superior. O Capítulo I das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental define os princípios que a norteiam a partir do que dispõe a Lei Nº. 9.795, de 1999, são eles: I - totalidade como categoria de análise fundamental em formação, análises, estudos e produção de conhecimento sobre o meio ambiente; II - interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque humanista, democrático e participativo; III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; IV - vinculação entre ética, educação, trabalho e práticas sociais na garantia de continuidade dos estudos e da qualidade social da educação; V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e globais. (BRASIL, 2012, p. 70) Ao observarmos cada um destes princípios norteadores da Educação Ambiental, percebemos algumas palavras chaves que nos servem como conceitos guias: totalidade, interdependência, pluralismo, ética, articulação, perspectiva crítica, transformadora, respeito, pluralidade, multiculturalidade, plurietnicidade, cidadania planetária. São conceitos que devem ser incorporados por todo corpo docente no desenvolvimento da Educação Ambiental. O Capítulo II das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental define os objetivos da Educação Ambiental a serem concretizados conforme cada fase, etapa, modalidade e nível de ensino. São eles: I - desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações para fomentar novas práticas sociais e de produção e consumo; II - garantir a democratização e o acesso às informações referentes à área socioambiental; III - estimular a mobilização social e política e o fortalecimento da consciência crítica sobre a dimensão socioambiental; IV - incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - estimular a cooperação entre as diversas regiões do País, em diferentes formas de arranjos territoriais, visando à construção de uma sociedade ambientalmente justa e sustentável; VI - fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnologia, visando à sustentabilidade socioambiental; VII - fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas, como fundamentos para o futuro da humanidade; 434 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 VIII - promover o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, étnica, racial e de gênero, e o diálogo para a convivência e a paz; IX - promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais formativos do País que utilizam e preservam a biodiversidade. (BRASIL, 2012, p. 70). Os objetivos listados acima são amplos e representam uma visão sistêmica, buscando o desenvolvimento de uma postura cidadã crítica em relação ao meio ambiente em que vivemos contemplando diversos aspectos: culturais, socioeconômicos, entre outros para as práticas em Educação Ambiental. O Capítulo III das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental propõe a organização curricular, onde se destaca que todos os compromissos da instituição de ensino, inclusive os ambientais, devem está presentes nos projetos institucionais e pedagógicos da Educação Básica e Superior. Deve se considerar os níveis do curso, idades e especificidades dos estudantes, inclusive no que se diz respeito ao ambiente em que estes estudantes estão inseridos. O currículo deve ser diversificado, valorizando-se as diversidades sociais, éticas e culturais dos estudantes, estimulando-os à incorporarem valores de pertence, respeito e cooperação em relação ao meio ambiente. O planejamento curricular deve estimular uma visão integrada e multidimensional do ambiente, o pensamento crítico para a visão de sustentabilidade ambiental e cooperação, o reconhecimento e valorização das diferentes formas de saberes e olhares para questão ambiental, vivências que possibilitem a formação de um sentimento no qual o discente se sinta parte do meio ambiente, reflexões sobre os diferentes tipos de desigualdades e seus impactos ambientais, linguagens múltiplas para a execução de ações éticas em relação ao meio ambiente. A Educação Ambiental como disciplina do currículo. Conforme a Lei 9795/99, a Educação Ambiental não deve estar presente no currículo escolar como uma disciplina, porque ela não se destina a isso, mas sim como um tema que permeia todas as relações e atividades escolares. Com o objetivo de inserir os temas ambientais no fazer diário da escola, dentro das salas de aula, a Educação Ambiental foi inserida no currículo escolar como tema transversal. Segundo as orientações dos PCN, a Educação Ambiental deve ser trabalhada de forma interdisciplinar. Na teoria, vemos isso nos planos de curso de muitas disciplinas de escolas, mas na prática não acontece. Segundo Bizerril e Faria 2001, para os professores os 435 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 PCN não estão totalmente claros e eles sentem dificuldades na compreensão da proposta em si ou então na forma de executá-la e que muitos tendem a fugir do aprofundamento do tema por desinteresse ou despreparo. Isso porque o trabalho interdisciplinar ainda traz angústia e medo, principalmente porque na sua formação não foram preparados para esta prática, e por isso sentem muita dificuldade em executá-lo; outra dificuldade é o excesso de conteúdos que os professores ministram em sua disciplina curricular. Assim, a falta de preparo na formação dos professores e a grande quantidade de conteúdos em cada disciplina, fazem com que o tema Meio Ambiente seja abordado de uma forma simples e reducionista apenas por disciplinas consideradas mais intimamente ligadas, como ciências e geografia. O relato de uma professora do Distrito Federal descreve exatamente essa situação A gente vê muita resistência. Matérias academicamente mais importantes têm sempre um espaço muito limitado para tentar uma discussão coletiva na escola. Sinto um certo bloqueio para me inserir no contexto escolar, com esta hierarquia. Eu acho que os professores não estão preparados para a interdisciplinaridade, estão muito fechados. (BIZERRIL E FARIA, 2001, p. 61). Enquanto esse modelo de educação existir, onde as disciplinas curriculares estiverem sobrecarregadas de conteúdos e não houver uma melhor formação para os cursos de licenciaturas ou pelos menos formações continuadas nas instituições de ensino, os temas transversais ficarão de lado e com isso a formação de cidadãos críticos e participativos sobre as questões ambientais também. Para modificar a escola será imprescindível modificar, antes de tudo, a formação de seus professores. Apesar da Lei 9795/99 indicar que a inclusão da Educação Ambiental no currículo escolar não deve ocorrer na forma de uma disciplina específica do currículo, muitos argumentam que diante de toda problemática ambiental que vivemos hoje, a EA deveria ser inserida na grade curricular como disciplina para produzir resultados mais eficazes para a tomada de consciência e cooperação efetiva para o desenvolvimento sustentável. Segundo Bernardes e Prieto os principais argumentos usados para a introdução da Educação Ambiental como disciplina curricular são: - A transversalidade não funciona na prática, nem há garantias de que ela seja praticada nas escolas e instituições de ensino; - Como uma disciplina, a Educação Ambiental ganharia espaço na grade curricular e com isso visibilidade e materiais didáticos específicos; - Há diversos Educadores Ambientais, muitos formados em cursos de extensão e de especialização, mas que tem, muitas vezes como obrigação, que ministrar aulas de português, geografia, Ciências e Química para desenvolver atividades de Educação Ambiental nas Escolas. (2010, p. 178) 436 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Diante desta situação, enquanto a Educação Ambiental não se tornar uma disciplina específica do currículo, ela não terá o seu merecido espaço na escola e os cidadãos desse país continuarão a exercer práticas não efetivas quanto a conscientização ambiental. As abordagens da Educação Ambiental na sua relação com a escola. O trabalho em Educação Ambiental, assim como qualquer trabalho educativo, que envolva a formação de cidadãos, não pode ser constituído de práticas descontextualizadas. A Educação Ambiental crítica deve possibilitar aos estudantes uma sensibilização com as questões relativas ao meio e a aquisição de conhecimentos geradores de ações, jamais poderá ser usada para alienar pessoas para aceitar o sistema socioeconômico vigente. Assim, a concretização dos objetivos da Educação Ambiental, irá depender da forma como são encaminhadas as diferentes fases de trabalho em EA. Segundo Dias, Os novos métodos para a E.A dão prioridade a problemas concretos, à utilização do meio ambiente imediato como recurso pedagógico, à colaboração entre o pessoal docente de diferentes disciplinas e à necessidade que a escola esteja aberta à comunidade. (2004, p.212). Utilizar o meio ambiente que o aluno está inserido é a melhor formar de conscientizá-lo dos problemas locais para que ele possa ter uma dimensão dos problemas globais, e assim, conduzir este aluno a mudanças de atitudes. Seria interessante que os alunos não estivessem alheios aos problemas que fazem parte das comunidades em que eles estão inseridos, pois “a ação educativa não consegue sair do marco escolar para interessar-se pela comunidade e fazer como que os alunos participem de suas atividades.” (DIAS, 2004, p. 212). Segundo Dias 2004 alguns princípios básicos servem como norteadores das abordagens que devem estar presentes no contexto escolar. São eles: 1) Considerar o meio ambiente em sua totalidade, isto é, em seus aspectos naturais e criados pelo homem (político, social, econômico, científico-tecnológico e histórico). O ambiente deve ser estudado numa abordagem holística, do todo, considerandose todos os aspectos que afetam direta ou indiretamente a vida, buscando a compreensão da teia de relações ecológicas, políticas, socioculturais e econômicas que fazem parte da constituição deste meio. 2) Construir um processo contínuo e permanente, através de todas as fases do ensino formal e não formal. A EA deve ter apenas início, mas não deve ter meio nem fim, 437 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 visto que é um processo que deve começar em casa, antes mesmo de a criança ingressar à escola e perdurar para o resto da vida. 3) Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada. O ambiente tem uma natureza complexa e que é possível a abordagem interdisciplinar, no entanto, na prática os professores em sua maioria não se sentem confortáveis com este tipo de trabalho e, assim, a EA vai ficando de lado nas escolas. OS PASSOS DA CAMINHADA A pesquisa realizada neste trabalho foi predominantemente qualitativa, uma vez que, “compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados” (NEVES, 1996, p.1), escolhendo-se como método a pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica representa a “coleta e armazenagem de dados de entrada para a revisão, processando-se mediante levantamento das publicações existentes sobre o assunto ou problema em estudo, seleção, leitura e fichamento das informações relevantes” (MOREIRA 2004, P.25, APUD CALDAS, 1986). Em nossa revisão da literatura foram realizadas consultas às leis, pareceres, resoluções, livros e artigos científicos. Nessa garimpagem pudemos fundamentar melhor nosso objeto de pesquisa, bem como investigar trabalhos e pesquisas que utilizaram o tema. A pesquisa foi desenvolvida no primeiro semestre de 2013, tendo como lócus de pesquisa uma Escola Particular de Fortaleza. Os critérios para escolha do lócus de pesquisa foram: a) Boa receptividade para realização da pesquisa e b) possuir a disciplina de EA como componente curricular. O instrumento usado para coleta de dados foi o questionário aberto com perguntas que procuravam coletar os dados empíricos que fundamentassem nosso objeto de pesquisa. Os sujeitos da pesquisa foram 10 alunos do 9º ano do ensino fundamental que no ano de 2012, ao cursarem o 8º ano tinham em seu currículo a disciplina de Educação Ambiental e o docente que ministrou a disciplina de EA. A análise se deu confrontando os dados empíricos com a revisão da literatura já realizada, e que apresentaremos a seguir. 438 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 AS EVIDÊNCIAS DO PERCURSO A seguir apresentaremos a análise das principais respostas alcançadas com a aplicação dos questionários investigativos. Assim, poderemos através dos resultados elaborar um cenário que possibilite uma melhor compreensão sobre como a inserção da disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar atua de forma significativa na formação de uma conscientização discente quanto às questões ambientais de forma a provocar mudanças em suas práticas cotidianas. Análises e Discussões do questionário investigativo aplicado a docente. PERGUNTA 1 - Quais os Objetivos da Disciplina de Educação Ambiental? Segundo a professora investigada, a Educação Ambiental como disciplina curricular tem como objetivos: • • • Promover a conscientização dos educandos acerca do drama dos problemas ambientais que clamam por soluções imediatas. Promover conhecimento para que os educandos possam discutir sobre projetos ambientais dentro de suas casas, escolas, comunidades, etc. Conscientizar os estudantes quanto à importância e à responsabilidade de suas participações como agentes transformadores que lutam por uma melhor qualidade de vida coletiva e individual; despertando o amor, o respeito e a sensibilidade pelo ambiente equilibrado. Observa-se que a resposta da professora explicita a Educação Ambiental como um meio de conscientização crítica para as questões relacionadas ao Meio Ambiente. Os objetivos citados pela professora também expressam coerência com o V princípio das Diretrizes Nacionais Curriculares da Educação Ambiental que diz ser necessária a “articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e globais”. (BRASIL, 2012, p. 70). PERGUNTA 2 – Como são desenvolvidas as aulas de Educação Ambiental? Segundo a professora, as aulas são: Contextualizadas e estimuladoras da participação do aluno, trabalhando de forma coerente os conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais. O conhecimento tem sempre uma abordagem reflexiva, em que se busca dar sentido a este no cotidiano do educando. Nas aulas usamos recursos como: análise de músicas, de filmes e de vídeos; multimídia, aula de campo; e projetos como o Empresa Sustentável. 439 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Como o objetivo da EA é sensibilizar para a atuação participativa, ela precisa atingir os sentimentos, despertar indignações com a realidade, levar a autocrítica para que os estudantes, saiam da situação de expectadores para agentes transformadores. Segundo Berna 2001, as atividades de EA na educação formal devem colocar os estudantes em situações que sejam formadoras, estejam dentro de suas realidades e os façam compreender a visão física, cultural, político-econômica e ética do ambiente no qual eles fazem parte. Análises e Discussões do questionário investigativo aplicado aos discentes. A análise das respostas do questionário destinado aos alunos será apresentada e discutida a seguir. Como havia uma semelhança muito grande entre algumas das respostas, diferindo apenas em palavras, tomamos a liberdade de sintetizá-las de forma a representar um grupo de alunos quando necessário. PERGUNTA 1 - Você gostava da disciplina de Educação Ambiental? Por quê? Observa-se na primeira pergunta que 2 dos sujeitos não gostavam da disciplina EA, enquanto que 8 gostavam da disciplina. Os que não gostavam da disciplina justificam sua resposta dizendo que: Porque aquela disciplina falava de assuntos já vistos em relação à preservação do meio ambiente, fato que tornava as aulas bem entediantes. E eu prefiro ver assuntos relacionados a preservação do meio ambiente em outras matérias. (ALUNO 5). Porque não era legal. Mas eu acho que a disciplina de educação ambiental é muito importante, porque a população precisa ter consciência ambiental. A preservação do meio ambiente é muito importante para a nossa sobrevivência. (ALUNO 7). Nota-se na fala do aluno 5 que o mesmo prefere que as questões ambientais sejam trabalhadas de forma transversal, perpassando por várias disciplinas como preconizam os PCN. Já o aluno 7 não gostava da disciplina, mas reconhece sua importância na formação crítica dos alunos. A maioria dos alunos gostava da disciplina de EA, afirmando que: Porque a natureza e o meio ambiente nos fornecem uma quantidade enorme de matérias primas, que muitas vezes são exploradas em excesso pelo ser humano. Por isso devemos ter o mínimo de respeito por ela e a disciplina de educação ambiental serve para conscientizar os alunos da importância de preservar o ecossistema e a natureza, nos ensinando métodos práticos de seguir no dia a dia. (ALUNOS 1, 2, 6, 8 e 9, grifo nosso). 440 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Porque me ensinava coisas úteis e deixava-me sempre atento com a natureza, para cuidá-la já que é o nosso lar. Ensinava-nos a preservação ambiental e projetos que não prejudicava a natureza. (ALUNOS 3, 4 e 10). Observamos que o pensamento dos alunos expressa conforme Dias, as finalidades da Educação Ambiental que são: Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para protegerem e melhorarem o meio ambiente; Induzir novas formas de conduta, nos indivíduos e na sociedade, a respeito do meio ambiente. (2004, p. 109 e 110) Os objetivos da Educação Ambiental têm a finalidade de desenvolver certas atitudes e competências que ajudem os indivíduos e os grupos sociais na tomada de consciência, nos conhecimentos, nas atitudes e na participação efetiva. PERGUNTA 2 - A disciplina de educação ambiental trabalhava temas que buscavam desenvolver senso crítico para uma consciência de preservação? Quais? Observamos que 100% dos alunos afirmam que a disciplina de EA forma senso crítico para as questões ligadas a preservação ambiental. Isso denota que um dos objetivos colocados pela professora, como também os apresentados em nossa revisão da literatura para a disciplina estão sendo alcançados. Sobre quais temas eram trabalhados na disciplina de EA, para desenvolver senso crítico na perspectiva de uma consciência de preservação, os alunos dizem que: Aprendíamos através de trabalhos a importância de respeitar a natureza, e incentivarmos os outros a fazer isso também. Fizemos um trabalho muito interessante de criar uma empresa que produzisse produtos sustentáveis, ou seja, de forma dinâmica fomos aprendendo a cuidar do meio ambiente. Estudamos o desenvolvimento sustentável, reutilização de materiais e preservação da água. (ALUNOS 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10). Os temas escolhidos para serem trabalhados em EA devem está dentro da realidade dos sujeitos a quem se deseja a formação, para que eles fiquem motivados, já que através das atividades propostas eles adquirem conhecimentos e não ficam alheios aos problemas que interferem diretamente nas suas qualidades de vida. PERGUNTA 3 - Você mudou algumas de suas atitudes e valores com relação ao meio ambiente, depois de cursar a disciplina de Educação Ambiental? Quais? 441 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Novamente vê-se que 100% dos alunos afirmam que mudaram suas atitudes e valores com relação ao meio ambiente, depois de cursar a disciplina de Educação Ambiental. Através de pequenas ações eu tento fazer a minha parte e quando possível, incentivo o outro a fazer também algo pela natureza. (ALUNOS 1, 7 e 8). Eu passei a usar a água de forma mais controlada, passei a usar somente o necessário e comecei a pensar duas vezes antes de utilizar uma folha branca, por exemplo. (ALUNOS 2, 5, 6 e 10 ). Me ensinou a ter cuidado com o planeta, com a poluição, me ensinou a reciclar, a ter cuidado com a fauna e a flora, além de também ter cuidado com os gases poluentes e com a vida marinha e fluvial. (ALUNOS 3 e 10). Convenci a minha mãe a comprar lixeiras para coleta seletiva e comprar folhas já recicláveis, ou reutilizar folhas impressas e usar a parte de trás. (ALUNO 4 ). Para o exercício da cidadania deve-se começar uma mudança pessoal em nossas atitudes cotidianas, nos simples momentos em que agimos para com o meio ambiente, pois “reconhecer-se a si mesmo, como sujeito da história comunitária pode ser mais complicado e penoso do que tentar reconhecer o outro sob o mesmo aspecto. Reconhecer o outro não significa necessariamente apreciá-lo, mas sim, respeitar sua história e individualidade.” (SILVA, 2011, p. 35 APUD REIGOTA, 2003). Para exercer a cidadania se faz necessário não apenas o reconhecimento da própria importância na construção da história da nossa terra, mas também a intervenção e ação de cada um na construção de planeta digno de ser habitado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação Ambiental ganhou expressividade a partir de reflexões feitas sobre os impactos ambientais consequentes da ação humana sobre a natureza. Esse fato deu origem à elaboração de uma série de documentos e criação de órgãos que tinham como objetivo refletir sobre as condições ambientais, sugerindo ações que viessem a evitar a degradação ambiental e consequentes prejuízos à vida humana. A Lei 9795/99 na seção II, que trata da EA no ensino formal, em seu artigo 10º, inciso 1º, afirma que a EA não deve ser implantada como disciplina no currículo de ensino, talvez por isso as questões ambientais passaram a ser tratadas como tema transversal. Contrária a posição da Lei 9795/99 e dos PCN que coloca o meio ambiente como um tema transversal, autores como Bernardes e Prieto 2010, defendem a inserção da disciplina de EA como um componente curricular, uma vez que a transversalidade não funciona na prática. Ao ser inserida como uma disciplina curricular a EA passa a ter materiais 442 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 didáticos e ganha espaço para um trabalho mais sistemático e efetivo quanto a formação crítica, atitudinal e de consciência para com as questões ambientais. Concluindo o estudo, gostaríamos de enfatizar as seguintes considerações: 1. A disciplina de EA como componente curricular tem seus objetivos em consonância com o que preconizam os vários documentos que tratam da temática; 2. A EA é melhor desenvolvida como disciplina do currículo da Educação Básica, do que como tema transversal, pois alcança de forma mais efetiva seus objetivos e garante seu trabalho de forma mais segura na formação dos alunos; 3. A disciplina promove uma real mudança de postura dos alunos quanto as questões ambientais cotidianas, regionais e mundiais, formando senso crítico e participativo quanto a preservação do meio ambiente. A maneira mais prática para incentivar os jovens estudantes de hoje, é integrando o conteúdo sobre a preservação do meio ambiente ao seu cotidiano. A inserção da EA como um componente curricular na educação básica, mostra-se como uma possibilidade efetiva para um trabalho de formação crítica dos alunos como agentes ativos na preservação do planeta. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília: MEC, 1999. _____. Ministério de Educação e Cultura. Resolução N. 02/2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília: MEC, 2012. BERNA,Vilmar. S.D. Como fazer educação ambiental. 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