MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE GOIÁS DIRETORIA DE ENSINO COORDENAÇÃO DE MEIO AMBIENTE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS CURSOS TÉCNICOS DO CEFET-GO Ana Paula Alves Barbosa¹ Fernanda Clarice Soares² Orientadora: Msc. Oyana Rodrigues dos Santos³ RESUMO Verificou-se os cursos técnicos do CEFET-GO e a abordagem do tema Educação Ambiental de forma transversal e interdisciplinar, mostrando o quanto a Educação Ambiental contribui na formação de profissionais comprometidos com a preservação do meio ambiente. Essa pesquisa está baseada no levantamento do estado da arte do tema Educação Ambiental na educação profissional de nível técnico, nas legislações competentes e na aplicação de questionários aos alunos dos cursos técnicos do CEFET-GO. Com base nos resultados obtidos concluiu-se que esta Instituição de Ensino ainda não se adequou completamente às recomendações sobre Educação Ambiental, tendo que dispor de maior investimento para tal. Palavras Chaves: Educação Ambiental, Cursos Técnicos, Transversalidade e Interdisciplinaridade. ABSTRACT There are technical courses of CEFET-GO and approach the topic Environmental Education of transversal form and to interdisciplinarity, showing how much the Environmental Education helps in the formation of professionals committed to the preservation of the environment. This research is based on the survey of the state of the art of the topic Environmental Education in the professional education of level technician, in the competent legislation and the application of questionnaires to the pupils of the technician courses of the CEFET-GO. On the basis of the gotten results were concluded that this Institution of Education not yet was adjusted completely to the recommendations on Environmental Education, having that to make use of bigger investment for such. Words Keys: Environmental Education, Technical Courses, Transversality and Interdisciplinarity. ¹ Ana Paula Alves Barbosa Graduanda em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo CEFETGO ² Fernanda Clarice Soares Graduanda em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo CEFETGO ³ Oyana Rodrigues dos Santos Mestra em Geografia 2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS CURSOS TÉCNICOS DO CEFET-GO A preocupação com a forma indiscriminada com que se dá o uso dos recursos naturais é recente, foi basicamente a partir da década de 60. Têm-se falado muito em preservação do meio ambiente devido às alterações ambientais globais evidenciadas na atualidade, causadas pela degradação e pelas práticas não sustentáveis de uso dos recursos naturais. Esta realidade nos leva a questionar o que tem sido feito e o que ainda pode ser feito para melhorar essa situação, pois se o meio ambiente é ameaçado, toda a humanidade é ameaçada também, pois depende dele para tudo. De fato, a necessidade de um uso mais racional e criterioso dos recursos naturais e uma mudança na relação do homem com o meio ambiente são evidentes para se estabelecer a interdependência que é necessária para uma sobrevivência mais equilibrada, porém, o que se tem que questionar vai além de simples ações como: reciclar, reaproveitar ou, ainda, reduzir o desperdício de recursos, é preciso apontar para outras relações sociais, outros modos de vida, ou seja, rediscutir valores e ambições da sociedade atual, sendo o estudo do meio ambiente fundamental para isto. A Educação Ambiental é uma ferramenta indispensável para uma vida harmoniosa em sociedade, pois busca adquirir conhecimentos, habilidades e experiências na busca de soluções para os problemas ambientais locais e concretos, tanto presentes quanto futuros. Como toda temática em fase de consolidação, a Educação Ambiental já recebeu várias definições ao longo de sua história, mas foi na Conferência realizada em Tbilisi (Geórgia, 1977) que a Educação Ambiental foi definida como: (...) uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente através de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada individuo e da coletividade. Essa definição é válida até hoje. (DIAS, 1992, p.26). Segundo Dias (1992), as recomendações da Conferência realizada em Tbilisi (1977) sobre os objetivos e os princípios orientadores da Educação Ambiental devem ser consideradas como os alicerces para a Educação Ambiental em todos os níveis, dentro e fora do sistema escolar. A Conferência de Estocolmo (1972), ao reconhecer a importância da Educação Ambiental em trazer assuntos ambientais para o público em geral, recomendou o treinamento de professores e o desenvolvimento de novos recursos instrucionais e métodos. 3 Mas segundo Medina (apud, PELICIONI, 2002), capacitar os docentes que estão em processo de formação juntamente com os que já estão em atividade é um dos grandes desafios para a Educação Ambiental no currículo da educação formal. Estamos em um contexto em que o meio ambiente está tão comprometido que a atual geração se vê obrigada a tomar decisões que interfiram na qualidade do meio, e essas decisões, na maioria das vezes, não têm um embasamento teórico e nem mesmo em experiências vividas, logo, não se sabe as conseqüências dessas decisões. Daí a importância de se investir na educação dos profissionais atuais e futuros. Não dá mais para esperar, não dá mais para buscar mudanças preocupando-se apenas com o futuro. As mudanças são para agora. Pretende-se, com este trabalho, verificar se os cursos técnicos do CEFET-GO abordam o tema Educação Ambiental de forma transversal e interdisciplinar, mostrando o quanto a Educação Ambiental tem contribuído para a formação de profissionais capazes de contribuir com a preservação do meio ambiente. 1. BREVE HISTÓRICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Em 1972, na Conferência de Estocolmo, decidiu-se inserir a responsabilidade sobre a Educação Ambiental na agenda internacional. Em 1975, também em Estocolmo, instituiuse o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), mas só dois anos depois, 1977, na Conferência de Tbilisi, que se consolidou o PIEA e se estabeleceram as finalidades, os principais objetivos orientadores e as estratégias para promover a Educação Ambiental. A Educação Ambiental surgiu no Brasil, no início dos anos 70, devido às lutas de professores, estudantes e escolas, através da organização da sociedade, governos municipais e estaduais através de atividades de recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente. A partir de então surgiram os primeiros cursos de especialização em Educação Ambiental. A institucionalização da Educação Ambiental no governo federal teve início em 1973, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), ligada ao Ministério do Interior. A SEMA tinha como atribuições o “esclarecimento e a educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente”. Foi a primeira responsável pela capacitação de recursos humanos e pela sensibilização da sociedade para as questões ambientais. Deu início a inserção da temática ambiental nos currículos escolares, dos antigos 1° e 2° graus, na região Norte. 4 Em 1981, instituiu-se a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que estabeleceu no âmbito legislativo a inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo educação na comunidade. Reforçando essa tendência, a Constituição Federal, em 1988, estabeleceu no inciso VI do artigo 225, a necessidade de promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Também em 1988, inicia-se uma prática de comunicação e organização social em rede, Rede Paulista de Educação Ambiental e Rede Capixaba de Educação Ambiental. Mais tarde, em 1992, no II Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, se adotou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, a partir de então, foram criadas diversas unidades federativas de Redes de Educação Ambiental. A partir de 1990, diversas ações em Educação Ambiental desenvolvidas pela sociedade e por instituições públicas, receberam apoios financeiros do Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), representando quase 20% dos projetos financiados por este órgão de fomento, criado em 1989 pela Lei n° 7.797. Em 1991, foram criadas duas instâncias no Poder Executivo: o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que em 1993 transformou-se na Coordenação Geral de Educação Ambiental (COEA/MEC), e a Divisão de Educação Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), cujas competências foram definidas no sentido de representar um marco para a institucionalização da política de Educação Ambiental no âmbito do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Em 1992, foi criado o Ministério do Meio Ambiente (MMA), neste mesmo ano foram institucionalizados os Núcleos de Educação Ambiental em esferas estaduais, implantou-se os Sistemas de Gestão Ambiental nos setores produtivos, dentro das leis e normas regentes, como a série ISO 14000. Em outubro de 1996, o MMA criou o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental, e em dezembro firmou um protocolo de intenções com o MEC, visando à cooperação técnica e institucional em Educação Ambiental. As atividades desempenhadas pelo Grupo de Trabalho de Educação Ambiental foram: Elaboração e coordenação da 1° Conferência Nacional de Educação Ambiental; Parcerias com o Projeto em Educação Ambiental para Ensino Básico “Muda o Mundo, Raimundo!”; 5 Seminários sobre práticas em Educação Ambiental no ecoturismo, biodiversidade e Agenda 21; Ação “Temporada de Palestras”; Ações de Educação Ambiental no âmbito dos Programas Nacionais de Pesca Amadora e Agroecologia; Levantamento Nacional de Projetos de Educação Ambiental. Em 1997, depois de dois anos de debates, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), foram aprovados pelo Conselho Nacional de Educação. Os PCNs constituem-se como um subsídio para apoiar as escolas na elaboração do seu projeto educativo, inserindo procedimentos, atitudes e valores no convívio escolar, bem como a necessidade de tratar de alguns temas sociais urgentes, de abrangência nacional, denominados como temas transversais: meio ambiente, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo, com possibilidade de as escolas e/ou comunidades elegerem outros de importância relevante para sua realidade. Mais adiante, em 2004, a mudança ministerial e a conseqüente criação da SECADSecretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, permitiram à Coordenação Geral de Educação Ambiental (CGEA) maior enraizamento no MEC e junto às redes estaduais e municipais de ensino, passando a atuar de forma integrada as áreas de: Diversidade, Educação Escolar Indígena e Educação no Campo, conferindo assim maior visibilidade à Educação Ambiental. A Educação Ambiental no MEC atua em todos os níveis de ensino formal, mantendo ações de formação continuada de 32 mil professores e 32 mil alunos de ensino fundamental por meio do programa: Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, sendo que este proporcionou a continuidade ao processo de Conferência Nacional Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente, sendo o mesmo integrante de uma visão sistêmica de Educação Ambiental. A Educação Ambiental passa a fazer parte das Orientações Curriculares do Ensino Médio e dos módulos do programa de Educação a Distância, bem como na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em abril de 2004, foi realizado em Goiânia o primeiro encontro governamental nacional sobre políticas públicas de Educação Ambiental, reunindo secretários e gestores públicos das esferas de governo da área educacional e ambiental. O evento, promovido pelos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente em parceria com o governo estadual de Goiás e com a prefeitura municipal de Goiânia, teve como intuito elaborar um diagnóstico dos principais desafios à difusão da Educação Ambiental em todo o país, estimulando a 6 descentralização do planejamento e da gestão da Educação Ambiental, além de propor a aproximação entre as secretarias de educação e de meio ambiente. 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA O Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo em relação à abordagem de questões ambientais, essa Constituição se destaca por criar a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino sem que ela seja tratada como disciplina isolada. Mais recentemente, foi instituído o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), que acabou culminando com a formulação e promulgação de uma legislação específica para a Educação Ambiental (lei 9795) e uma Política Nacional de Educação Ambiental ambas em abril de 1999. Essa Lei tramitou por quase 5 anos no Congresso e é na prática uma regulamentação do inciso VI do artigo 225 da Constituição. A Educação Ambiental como tema indispensável no currículo dos cursos técnicos ficou consolidada no art 10 § 3o desta Lei: “Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas.” A legislação (Decreto 2.208/97) prevê que a educação profissional de nível técnico deve pautar-se por diretrizes curriculares nacionais oriundas do MEC e aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação e pelos currículos básicos, de responsabilidade dos sistemas. Além disto, Carneiro afirma que: (...) cada escola terá a liberdade de eleger disciplinas, conteúdos, habilidades e competências específicas para incorporação ao currículo pleno do próprio estabelecimento, no limite de 30% do currículo básico estabelecido pelo respectivo Conselho Estadual de Educação. (CARNEIRO, 1998, p.119) O Artigo 39 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) destaca a necessidade de uma relação entre educação profissional e o desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. O currículo dos cursos deve ser elaborado de acordo com as competências e habilidades requeridas para o exercício da profissão. Para tanto, há a necessidade da realização de estudos de mercado, de análise de novos perfis profissionais, de tendências tecnológicas, de avaliação da atual oferta de cursos e estabelecer um diálogo entre escolas e empresas. 7 PRONEA O Programa Nacional de Educação Ambiental, o PRONEA, estabelece diretrizes voltadas a sustentabilidade socioambiental que, juntamente com os órgãos educacionais (federais, estaduais e municipais), possam divulgar as responsabilidades ambientais de forma transversal e interdisciplinar a todas as classes sociais, compartilhando com universidades, escolas, órgãos governamentais e não governamentais, empresas privadas ou públicas todo desenvolvimento na área ambiental, como: práticas de reciclagem e sustentabilidade. O PRONEA ressalta ainda a democratização social, que todos possam atingir níveis iguais em busca de um planeta melhor, e que haja formação de profissionais conscientes e responsáveis com o meio ambiente. Uma das estratégias e linhas de ações do PRONEA é a formação de educadores ambientais, apoiados pela proposta de implantações e implementações de cursos para enriquecer o conhecimento de profissionais no âmbito formal e não-formal, como cursos de especializações, mestrados e até mesmo cursos de aperfeiçoamento na área de Educação Ambiental, para melhor atender à inclusão dos portadores de necessidades especiais. O MEC, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, tem investido na aquisição e produção de material didático voltado à temática ambiental, na reestruturação da educação e reformulação de novos currículos nos quatro níveis de ensino. O PRONEA apóia o estímulo à pesquisa e novas tecnologias em todas as modalidades de ensino com enfoques na preservação ambiental, ao uso e ao consumo sustentável de recursos naturais, realização de congressos, implantação de comitês, seminários e simpósios voltados à Educação Ambiental. Parâmetros Curriculares Nacionais Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) consistem em um referencial para o Ensino Fundamental de todo o país. Têm por objetivo orientar e garantir discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores de todos os Estados brasileiros. A Educação Ambiental foi incluída como um de seus Temas Transversais, que são temas comprometidos com a cidadania. Segundo os PCNs “Para cada ser vivo que habita o planeta, existe um espaço ao seu redor com todos os outros elementos e seres vivos que com ele interagem, através de relações de troca de energia: esse conjunto de elementos, seres e relações constitui o meio 8 ambiente.” (PCNs, p. 51). Com base nesta definição de meio ambiente e de sua importância podemos perceber a seriedade e a responsabilidade que é posta nas mãos dos educadores. Os PCNs recomendam que a Educação Ambiental seja abordada de forma transversal e interdisciplinar. Esses dois elementos baseiam-se na complexidade do real e apontam à necessidade de se pensar as relações entre os seus diferentes e complexos aspectos. Porém a interdisciplinaridade tem uma abordagem epistemológica, enquanto a transversalidade baseia-se na prática pedagógica. Na prática pedagógica, a interdisciplinaridade e a transversalidade dependem uma da outra, pois não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida. Os PCNs entendem que: É preciso atentar para o fato de que a possibilidade de inserção dos temas transversais nas diferentes áreas não é uniforme, uma vez que é preciso respeitar as singularidades dos diferentes temas e das diferentes áreas. Não considerar essas especificidades seria cair num formalismo mecânico. (PCN, Como a transversalidade se apresenta nos PCNs, p. 52) À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos em função da tecnologia disponível. Algumas das conseqüências indesejáveis desse tipo de ação humana são, por exemplo, o esgotamento do solo, a contaminação da água e a crescente violência nos centros urbanos. 2.2.1 Transversalidade e Interdisciplinaridade Ainda segundo os PCNS, a transversalidade e a interdisciplinaridade são modos de se trabalhar o conhecimento que buscam uma reintegração de aspectos que ficaram isolados uns dos outros pelo tratamento disciplinar. Mas diferem-se, uma vez que a interdisciplinaridade baseia-se no grau de certeza do ensino transmitido, é a abordagem de determinado tema em diferentes disciplinas, enquanto a transversalidade visa à prática do conhecimento adquirido, é a busca de subsídios para que o conteúdo ministrado em sala de aula possa ser aplicado ao cotidiano do aluno e possa trazer melhorias à comunidade em que o mesmo está inserido. O Governo Federal, através do Ministério da Educação e Cultura, emitiu o parecer 266/87 de 11 de março de 1987, indicando o caráter interdisciplinar da Educação Ambiental 9 e recomendando sua realização em todos os níveis de ensino. Portanto, não se pode criar a disciplina Educação Ambiental para fazer parte da grade curricular. 3. HISTÓRICO DO CEFET-GO O Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás (CEFET-GO) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação. Foi fundado em 23 de setembro de 1909, quando por meio do Decreto n°. 7.566, o então presidente Nilo Peçanha criou 19 Escolas de Aprendizes Artífices, uma em cada Estado da União. Em Goiás, a Escola de Aprendizes e Artífices situava-se na antiga capital Vila Boa, oferecia cursos técnicos aos filhos de famílias carentes. Ainda hoje, essas escolas têm como característica o ensino voltado à profissionalização dos estudantes. O CEFET-GO é uma instituição de ensino superior pluricurricular, especializada na oferta de educação tecnológica nos diferentes níveis e modalidades de ensino, caracterizando-se pela atuação prioritária na área tecnológica. Essas escolas se transformaram em Escolas Técnicas Federais objetivando suprir a demanda de profissionais mais especializados imposta pela expansão industrial entre as décadas de 1930 e 1940. A Escola Técnica Federal de Goiás (ETFG) atraiu a classe média à medida que se preocupava com a formação integral, e não apenas técnica de seus alunos. Isso fez da instituição uma referência na qualidade de ensino no estado. Em 1999, um decreto transformou a ETFG em CEFET-GO (Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás). Uma das principais mudanças foi o estabelecimento do ensino de nível superior tecnológico. O objetivo do CEFET-GO é formar e qualificar profissionais para os diversos setores da economia, bem como realizar pesquisa aplicada e promover o desenvolvimento tecnológico de novos processos, produtos e serviços, em estreita articulação com os setores produtivos e com a sociedade, especialmente de abrangência local e regional, oferecendo mecanismos para a educação continuada. Hoje o CEFET-GO está presente em 5 cidades de Goiás: Goiânia, Jataí, Inhumas, Planaltina e Uruaçu e oferece além dos cursos técnicos e tecnológicos nas áreas de: Construção Civil, Geomática, Indústria, Informática, Meio Ambiente, Mineração, Química, Telecomunicações, Transportes, Turismo e Hospitalidade; cursos de Licenciatura e cursos de educação profissional técnica de nível médio integrado na modalidade de educação de jovens e adultos (PROEJA). 10 De acordo com o site da instituição, o ideal é que o conhecimento seja ao mesmo tempo especializado e integrado com as relações humanas, com a cultura, com as artes e, principalmente, com as inter-relações entre ciência, meio ambiente e vida social, por isso o CEFET-GO, com uma tradição de ensino marcada em diversas gerações, tem como princípio político-pedagógico o fortalecimento da instituição pública, gratuita, de qualidade e da inclusão social. Em 2008, uma nova transição é anunciada quando o governo federal decreta a transformação dos CEFETs em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – IFETs. Segundo o Ministério da Educação (MEC) a missão dos IFETs em relação à educação e ao trabalho é orientar-se na oferta de educação profissional e tecnológica, como processo educativo e investigativo, com foco no nível médio, além de consolidar e fortalecer os arranjos produtivos locais; estimular a pesquisa aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo e o cooperativismo, apoiando processos educativos que gerem trabalho e renda. O IFET deve ser centro de excelência, ao oferecer programas especiais de formação pedagógica inicial e continuada, com o objetivo de formar professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de Física, Química, Biologia e Matemática, de acordo com as demandas locais e regionais, bem como programas de extensão, com prioridade para a divulgação científica. 4. PESQUISA DE CAMPO O CEFET-GO possui, atualmente, 10 cursos técnicos, considerando os cursos integrados juntamente com os subseqüentes ao Ensino Médio, contabilizando um total de 406 alunos. Para esta pesquisa admitiu-se uma amostragem de 10% (40,6), que foi arredondada para 40 alunos. Neste trabalho não foi considerado o curso técnico dirigido aos alunos do PROEJA, por se tratar de uma modalidade de ensino diferenciada das demais. Quadro 1 - Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio Primeira turma 10% Última turma 10% Total Artes-música 20 2 ___ __ 2 Edificações 31 3 28 3 6 11 Eletrônica 25 3 ___ __ 3 Informática 18 2 ___ __ 2 Trânsito 34 3 25 3 6 Fonte: Autoras Quadro 2 - Cursos Técnicos Subseqüentes ao Ensino Médio Primeira turma 10% Última turma 10% Total Eletrotécnica 24 2 15 2 4 Mecânica 30 3 18 2 5 Meio Ambiente ___ __ 34 3 3 Mineração 28 3 41 4 7 Telecomunicações ___ __ 35 4 4 Fonte: Autoras Aplicou-se um questionário às turmas iniciantes e às turmas mais avançadas de todos os cursos técnicos do CEFET-GO. O ideal seria que o questionário fosse respondido por alunos que estivessem no primeiro semestre/módulo e no último semestre/módulo de cada curso, mas isso não foi possível devido a alterações de cursos oferecidos nesta instituição de ensino nos últimos dois anos. Os resultados obtidos em alguns cursos não podem ser comparados, para uma adequada avaliação do mesmo, por haver apenas uma turma, inicial ou concluinte. Em outros, o problema se dá por ser um curso recente, podendo haver apenas duas turmas, uma no primeiro e outra no segundo semestre, como é o caso dos cursos de Edificações e de Trânsito. Após a aplicação do questionário em todos os cursos técnicos obteve-se o seguinte resultado geral: 1- Você recebeu ou recebe noções básicas de Educação Ambiental no ensino médio? Primeiro período/módulo 38% Último período/módulo 38% 62% Não Sim 62% Não Sim 12 2- Você se considera uma pessoa preocupada com o meio ambiente? Primeiro período/módulo Último período/módulo 5% 44% 56% 95% Não Sim Não Sim 3- Um cidadão comum pode contribuir com a preservação do meio ambiente? Primeiro período/módulo Últim o período/m ódulo 0% 0% 100% 100% Não Sim Não Sim 4- Nas disciplinas de seu curso, você estudou ou está estudando maneiras de exercer sua profissão sem ameaçar o meio ambiente? Primeiro período/módulo Último período/módulo 29% 43% 57% 71% Não Sim Não Sim 13 5- Você acredita que sua profissão pode contribuir com o meio ambiente? Primeiro período/módulo Último período/módulo 14% 38% 62% 86% Não Sim Não Sim 6- Você se considera apto a exercer sua profissão de maneira responsável, cuidando e preservando o meio ambiente para a sua geração e para as futuras? Primeiro período/módulo Último período/módulo 10% 10% 90% Não 90% Sim Não Sim 7- Você considera seus professores aptos para lhe preparar para o mercado de trabalho com uma visão crítica, responsável e preocupada com o meio ambiente? Primeiro período/módulo Último período/módulo 38% 62% 38% 62% Não Sim Não Sim 14 8- Esta instituição de ensino dá o suporte necessário para que seus alunos desenvolvam novas técnicas, voltadas para o meio ambiente, em suas áreas de atuação? Primeiro período/módulo 48% Últim o período/m ódulo 44% 52% 56% Não Sim Não Sim 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS Verificou-se, nos resultados obtidos na pergunta 1, que a maioria dos alunos entrevistados não passou por uma Educação Ambiental no seu ensino médio e isso resulta em uma grande perda para o processo de aprendizagem desses alunos. Segundo Medina & Santos (2001) no processo de aprendizagem construtiva é de grande importância que o aluno já tenha algum conhecimento a respeito de um determinado assunto. Elas afirmam “que deve haver na estrutura cognitiva do aluno elementos anteriormente assimilados que permitam estabelecer relações com os novos conhecimentos a serem incorporados.’’ (MEDINA & SANTOS, 2001, p. 41). Uma triste constatação é a de que ao iniciarem um curso técnico os alunos se consideram mais preocupados com o meio ambiente que ao concluírem o curso (pergunta 2), apesar de terem a consciência de que até mesmo um cidadão comum pode contribuir com a preservação do meio ambiente (pergunta 3). Uma porcentagem maior dos alunos iniciantes afirma que nas disciplinas do seu curso estudam ou estudaram maneiras de exercer sua profissão sem ameaçar o meio ambiente, que os alunos concluintes (pergunta 4). Assim como os que acreditam que sua profissão pode contribuir com o meio ambiente (pergunta 5). Uma possível justificativa para este fato, é que ao iniciarem o curso eles têm uma visão de que no decorrer deste irão desenvolver essas habilidades e ao terminarem o curso se deparam com uma outra realidade. 15 90% dos alunos iniciantes e dos concluintes afirmam que estão aptos a exercerem sua profissão de maneira responsável, cuidando e preservando o meio ambiente para a sua geração e para as futuras (pergunta 6). Esta porcentagem é bem alta, considerando que 43% dos alunos concluintes afirmaram não terem estudado maneiras de preservarem o meio ambiente (pergunta 4) e 38% não acreditam que sua profissão pode contribuir com o meio ambiente (pergunta 5). A visão dos alunos iniciantes e concluintes com relação à capacidade de seus professores lhes preparar para o mercado de trabalho com uma visão critica, responsável e preocupada com o meio ambiente é a mesma, a maioria acredita que eles estão aptos (pergunta 7). Novamente foi possível perceber que a maioria dos alunos que iniciam o curso deposita uma confiança na Instituição, acreditando que esta lhes oferecerá o suporte necessário para que desenvolvam novas técnicas, voltadas para o meio ambiente, em suas áreas de atuação e ao final do curso, alguns destes alunos acabam mudando de opinião, fazendo com que o percentual de alunos que afirmam que esta instituição de ensino não dá o suporte necessário para que seus alunos desenvolvam novas técnicas, voltadas para o meio ambiente, em suas áreas de atuação seja maior (pergunta 8). 6. ENTRAVES E POSSIBILIDADES PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE QUALIDADE Educação Ambiental está relacionada às ações que podem levar o ser humano a transformar a sociedade em que vive, mudando suas atitudes com os outros seres vivos, com maior igualdade, mais democracia, justiça e posturas sustentáveis em relação aos recursos naturais, pensando nas gerações futuras. A visão ambiental muitas vezes é confundida com atos ecológicos ou simplesmente associada a “verdes”, belezas naturais, Parques, Reservas e também visto como o proibido ou o que é fiscalizado, esquecendo-se que vai além dessas fronteiras. É indiscutível a enorme importância que a qualificação dos professores tem no processo de Educação Ambiental, afinal, são eles que irão transmitir, ou permitir que seus alunos descubram, o meio ambiente como uma possibilidade para seu desenvolvimento e solução dos problemas que afetam sua vida cotidiana. Segundo Medina: 16 Um dos grandes desafios enfrentados, hoje, é iniciar um processo de capacitação de docentes em atividade, atendendo ao mesmo tempo aqueles profissionais que estão em processos de formação, ao fazer a inclusão da dimensão ambiental no currículo da educação formal. (MEDINA, apud PELICIONI, 2002, p. 9). Na Lei 9.795 de 27 de abril de 1999 art. 3° inciso II está explícito: “Cabe às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem.” Medina (apud, PELICIONI, 2002) afirma que apesar dos dispositivos legais existirem, as escolas públicas e particulares ainda não assimilaram ou não entenderam como devem implementar a Educação Ambiental em seus programas. Como foi recomendado na Conferência de Estocolmo (1972), os professores precisam de capacitação e treinamento para que possam trabalhar em conjunto visando atingir um objetivo comum. Lembrando que se trata de trabalhar em várias áreas do conhecimento ao mesmo tempo. Ao entrevistar alguns professores do CEFET-GO foi possível constatar que a falta de material, principalmente áudio-visual, é uma das dificuldades enfrentadas por eles. Ao conversar com o professor Geógrafo, da coordenação de Trânsito, pode-se confirmar essa situação. Segundo ele, é muito difícil encontrar algum material áudio-visual disponível aos professores e quando conseguem encontrar algum, o material é tão antigo que a dificuldade torna-se, então, encontrar algum aparelho compatível para reproduzir o mesmo. Segundo o professor Sanitarista Ambiental, a coordenação de Meio Ambiente não possui nenhum material para disponibilizar aos professores e estes precisam usar seus próprios materiais para complementar suas aulas, informação que foi confirmada pelo coordenador da área de Meio Ambiente. Atualmente a Biblioteca Prof. Jorge Félix de Souza possui materiais áudio-visuais, como VHS e DVD, mas estes ainda não estão disponíveis para empréstimos aos professores, devido sua recente aquisição e não estarem cadastrados no sistema. O projeto político-pedagógico é um instrumento muito importante para as escolas, pois nele encontram-se todos os planos e atividades, propostas pela escola, na busca de melhoria contínua do ensino, baseado na realidade da escola e de seu sistema de ensino. Seria de grande importância para este trabalho o acesso ao projeto políticopedagógico do CEFET-GO, por ser este o documento oficial que norteia as atividades a serem desenvolvidas pela instituição, mas isso não foi possível, pois, segundo a Diretoria de Ensino, este documento está sendo reformulado. 17 Dando seqüência à recomendação nº 96 da Conferência de Estocolmo (1972) percebemos que a Declaração sobre a Educação Ambiental, documento técnico que apresentava as finalidades, objetivos, princípios orientadores e estratégias para o desenvolvimento da Educação Ambiental, elegia o treinamento de pessoal, o desenvolvimento de materiais educativos, a pesquisa de novos métodos, o processamento de dados e a disseminação de informações como o mais urgente dentro das estratégias de desenvolvimento. Em relação ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás, uma instituição pública, que como os demais Órgãos do Governo, passam por problemas financeiros, é difícil dispor de verbas para investir em projetos ambientais, programas e cursos de capacitação para professores em geral. É bom ressaltar que o CEFET-GO é pioneiro em cursos técnicos, possuindo cursos de tecnologia e técnicos na área de Meio Ambiente, com uma Coordenação dedicada exclusivamente à área ambiental e professores capacitados como Mestres e Doutores na mesma. Algumas sugestões e propostas de mudanças possíveis para a Instituição em relação à Educação Ambiental são: aproximar professores e alunos de todos os cursos técnicos, já mencionados anteriormente neste trabalho, às questões ambientais, afim de que todos percebam o ambiente como algo próximo e de grande importância em suas vidas; a Coordenação da área de Meio Ambiente da Instituição, sendo uma referência na busca de meios e materiais para desenvolvimento de atividades em Educação Ambiental, poderia investir em materiais didáticos de fácil acesso, já que esta não os possui; alguns destes materiais didáticos podem ser encontrados em Órgãos Públicos Ambientais como a Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e outros; buscar parcerias e patrocínios para aumentar acervos bibliográficos; documentários e reportagens ambientais transmitidos pela rede de TV e internet poderiam ser gravados e, assim, disponibilizados a professores e alunos interessados; promover seminários e palestras, até mesmo com palestrantes do próprio CEFET-GO, com professores e profissionais da área; apoiar o Centro Acadêmico de Meio Ambiente a promover eventos, mini-cursos, oficinas com temas ambientais, dando oportunidade e incentivo ao relacionamento de todos os cursos técnicos com o Meio Ambiente. 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que o tema Educação Ambiental não é ministrado de forma transversal e interdisciplinar em todos os cursos técnicos e os poucos professores que procuram trabalhar o tema em suas disciplinas encontram barreiras na falta de material de apoio e incentivo para tal. O que ocorre no Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás não se deve a falta de legislações voltadas à área da Educação Ambiental, talvez haja pouco compartilhamento de conhecimento dos professores e pouco incentivo por parte da Instituição que se dá pela falta de recursos didáticos e financeiros. É importante destacar o papel do Tecnólogo em Saneamento Ambiental, profissional formado pelo próprio CEFET-GO, pois este tem muito a contribuir com o discernimento da Educação Ambiental de forma transversal e interdisciplinar, por estar preparado para atuar em equipes multidisciplinares, já que sua formação acadêmica possui ligações com diversas áreas de ensino, como exatas, humanas e biológicas. O CEFET-GO tem um enorme potencial para ser uma referência em todo estado na área de Educação Ambiental, por ser uma Instituição de Ensino que carrega consigo o compromisso da transmissão do conhecimento de qualidade e da formação de cidadãos conscientes e preocupados com o meio em que vivem, garantindo o retorno a comunidade em geral. BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Marco Antônio Marques. A Importância da Educação Ambiental. 1. ed. Espaço de Artes Vitória. Goiânia. GO, 2004. BRASIL. PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental. Ministério da Educação e do Desporto. Brasília, 1997. BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. 19 CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura crítico – compreensiva: artigo a artigo. 6. ed. Atualizada. Vozes. Petrópolis. RJ, 1998. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 4. ed. Gaia. São Paulo. SP, 1992. GOIAS. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Ensino Médio. Educação Ambiental. Goiânia, 2007. MEDINA, Nana Mininni & SANTOS, Elizabeth da Conceição. Educação Ambiental: Uma metodologia participativa de formação. 2. ed. Vozes. Petrópolis. RJ, 2001. PELICIONI, Maria Cecília Focesi & JÚNIOR, Arlindo Philippi. Educação Ambiental: Desenvolvimento de Cursos e Projetos. 2. ed. Signus. São Paulo. SP, 2002. VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org). Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma construção possível. 11. ed. Papirus. Campinas. SP, 2000. VIANA, Moacir da Cunha. Síntese dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais. Didática Paulista. (não consta data na publicação).