1 SISTEMA DE DILTHEY A classificação de Dilthey para as Ciências Experienciais (do Espírito, Hermenêuticas ou Humanas e Sociais) é a seguinte: CIÊNCI AS EXPERIENCI AI S HISTÓRIA CIÊNCIAS DA PESSOA CIÊNCIAS DA REALIDADE HISTÓRICO-SÓCIO-HUMANA CIÊNCIAS DOS SISTEMAS CULTURAIS CIÊNCIAS DE ORGANIZAÇÃO SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SOCIEDADE SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO EXTERNA DA SOCIEDADE No esquema apresentado, além de renominação das Ciências do Espírito por Ciências Experienciais, há a renominação das Ciências do Indivíduo para Ciências da Pessoa, o que poderia ser traduzido como Ciências das Unidades de Vida, hoje denominadas Ciências Humanas, Psicológicas, Comportamentais: a força dessa última expressão deve-se ao fato de que a primeira obra de Dilthey, Introdução às Ciências do Espírito, publicada originalmente na Alemanha em 1883, foi traduzida e publicada na França com o título Introduction a l’étude des sciences humaines (Introdução ao estudo das Ciências Humanas), em 1942. Sistemas são nexos finais e conexões de fim: as Ciências da Pessoa são sistemas procedentes das conexões ou nexos vivenciais ou conexão unitária da vida onde estão os conteúdos histórico-descritivos do conhecimento; as Ciências da realidade histórico-sócio- 2 humana são sistemas procedentes de conexões ou nexos volitivos de onde nascem os juízos de valor e as regras da sociedade. As Ciências da Realidade Histórico-sócio-humana, sendo conexões ou nexos volitivos e finais, dividem-se em ciências dos sistemas culturais, ciências dos sistemas de organização interna da sociedade e ciências dos sistemas de organização externa da sociedade. As Ciências dos Sistemas Culturais são nexos finais da cultura de onde nascem as teorias ou o campo dos conteúdos teórico-abstratos. As Ciências de Organização são nexos volitivos da cultura. Cultura, do alemão Kultur, significa espírito das manifestações criadoras; portanto, todas as ciências dos sistemas da realidade humano-sócio-histórica são culturais. A Ciência Fundamental e abarcadora de todas as ciências de todos os sistemas é a História, uma vez que a unidade de vida procede da (é conhecida pela) história, tanto quanto a história procede e é conhecida pela unidade de vida: -história é “realização da vida no curso do tempo e na simultaneidade” 5:236; -“o que o homem é não se conhece mediante introspecção sobre si mesmo nem tampouco mediante experimentos psicológicos, mas mediante a História.”3:229 As Ciências da Pessoa, nascendo dos conteúdos histórico-descritivos do conhecimento, erguem-se com fatos, objetos e teorias de primeira ordem; as ciências da realidade históricosócio-humana, tanto as ciências dos sistemas culturais quanto as ciências dos sistemas de organização, erguem-se com fatos, objetos e teorias de segunda ordem e “como cada um deles é um conteúdo parcial da vida real, nenhum [dos sistemas culturais e de organização] poderá ser tratado histórica ou teoricamente sem referência ao estudo científico dos outros”.7:49 A História funda, fundamenta e abarca todos os fatos, objetos e teorias de primeira e de segunda ordem. No triádico grupo de enunciados (fatos, teorias, juízos e regras), procedentes da classificação das Ciências Experienciais no Sistema de Dilthey, tem-se que nas Ciências da Pessoa o campo é o da vivência, nas Ciências dos Sistemas Culturais e de Organização o campo é o da expressão da vivência e a História, fundante e fundamentadora, é o campo da compreensão. 3 Se se insistir em momentos do pensamento diltheyano, sempre interconexos, pode-se dizer que os estudos no campo da vivência são o momento da fundamentação psicoempírica, de construção do Empirismo Histórico do Sistema de Dilthey; os estudos no campo da expressão da vivência são o momento epistemológico, de construção da Epistemologia Histórica do Sistema de Dilthey; os estudos no campo da compreensão são o momento hermenêutico, de construção filosófico-histórica da Hermenêutica do Sistema de Dilthey, em suas duas dimensões de Ciência Filosófica de Esclarecimento e de Ciência Metodológica das Ciências Experienciais. As Ciências da Pessoa, nascidas dos enunciados factuais descritivos, fundam-se na Psicologia Histórica, uma psicologia analítica, descritiva, compreensiva, real, concreta, de conteúdo, oposta em tudo à chamada Psicologia Experimental, explicativa, clínica; a Psicologia Histórica do Sistema de Dilthey é a um só tempo antropológica e histórica. As Ciências dos Sistemas Culturais, dos enunciados teóricos, englobam todos os sistemas filosóficos, científicos, religiosos, artísticos, pedagógicos, poéticos, entre vários outros. As Ciências dos Sistemas de Organização Externa da Sociedade, dos enunciados práticos, são as associações de família, Estado, igreja, comunidade, Direito, Economia e Economia Política, entre tantas outras: hoje, serão as Ciências da Família, Ciências Políticas, Ciências Teológicas, Ciência do Direito, Ciências Econômicas, Ciências Comunitárias ou da Comunidade. As Ciências dos Sistemas de Organização Interna da Sociedade, também dos enunciados práticos, são todas as associações particulares dentro da sociedade, tais como corporações, sindicatos, organizações não governamentais, associações de bairro e de determinados grupos populações (mulheres, negros, índios, sem-teto, sem-terra, sem-escola...) hoje denominados Movimentos Sociais. Todas as Ciências em todos os Sistemas, segundo a classificação das Ciências Experienciais, são nexos e conexões de concepções da vida e do mundo de quem as criaram; nasceram do mar empírico da história no tecido emaranhado da história e não do pensamento conceptual ou de uma vontade de saber. Portanto todas as ciências e todas as filosofias são empíricas, ciências e filosofias da experiência – definindo-se experiência como o conhecimento procedente da percepção. 4 As ciências (e seus métodos) empírico-experienciais e as ciências (e seus métodos) empírico-experimentais diferenciam-se lógica e epistemologicamente por uma questão muito simples: as primeiras compreendem e esclarecem nexos e regularidades dos fatos históricosociais ou naturalmente humanos, as segundas compreendem e explicam repetibilidades e previsibilidades dos fenômenos biofisicoquímicos ou naturalmente não humanos. Tanto os nexos e regularidades dos fatos histórico-sócio-humanos quanto as repetibilidades e previsibilidades dos fenômenos biofisicoquímicos podem ser qualitativos e quantitativos; daí, a inconsistência lógica e epistemológica de se chamarem ciências e métodos qualitativos ou quantitativos. Aos fenômenos biofisicoquímicos e aos fatos histórico-sócio-humanos a tradição platônica denominava, respectivamente, de mundo sensível e de mundo intelegível; Baruch Espinosa os denominava de natura naturata (plano natural exterior, corpo da Terra, plano da matéria bruta, compacta ou visível) e de natura naturans (plano natural interior, alma da Terra, plano da antimatéria ou invisível, matéria refinada-vibrátil-animada-dotada de sensibilidade). Os fenômenos biofisicoquímicos compõem os fatos das Ciências Naturais (por mim denominadas de Experimentais) e os fatos histórico-sócio-humanos compõem a realidade das Ciências do Espírito ou Humanossociais (por mim denominadas de Experienciais).