Produção colaborativa: uma proposta reflexiva sobre a dinâmica de comportamento dos usuários na internet1 Fernanda Fabian2 Resumo: compreender as mudanças comportamentais nunca foi tão necessário para a comunicação como está sendo atualmente. O pensamento coletivo quebrou paradigmas e modificou o que até então era determinado e invicto para uma única pessoa no papel de transcrever e distribuir conteúdo. Este artigo propõe o questionamento sobre quais os caminhos percorridos por estes usuários que se tornaram pró-ativos considerando aspectos da realidade da comunicação digital e o manifesto cultural colaborativo. Diante de um grande número de informações que recebemos diariamente, perceber e entender as ideias que rodeiam as pessoas é fundamental para avaliar a evolução provida da internet. Como destaque e exemplificação prática é apresentado ao final a enciclopédia on-line Wikipedia. Palavras-chave: produção colaborativa, participação, mídias sociais, internet, Wikipedia Introdução Segundo as palavras do compositor Belchior3 “nós ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”, uma letra nostálgica que demonstra um momento do país regrado pela ditadura militar. Mas, que tampouco transpõem a visão do momento que temos atualmente ao refletirmos sobre o papel das pessoas na sociedade, e compará-la com o que era na época da criação da música. Assim como a referência musical colocada anteriormente, estamos em um momento como em nenhum outro da história, no qual as pessoas passaram a ter voz e serem cada vez mais expressivas. Já não vivemos como os nossos pais. E a oportunidade para esta expressiva mudança surgiu com a internet, uma ferramenta capaz de disseminar a informação em escala global. O poder passou a ser da multidão. São as próprias pessoas que geram conteúdos, distribuem, financiam, compartilham e, muitas vezes, até pautam grandes veículos de comunicação. Por meio de contatos virtuais a interação em nível global tornou-se uma possibilidade e uma realidade. 1 Artigo criado para a disciplina de Seminário Avançado, do curso de Relações Públicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, São Leopoldo/RS, em 16 de junho de 2011. 2 Aluna em Ciências da Comunicação – Habilitação Relações Públicas pela UNISINOS. 3 Em referência a música “Como nossos pais” criada em 1976. 2 Recuero (2009, p. 24) lembra a evolução da internet na ideia do processo de mudança no comportamento humano e indica que “[...] a mais significativa é a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador”. Pisani e Piotet (2010, p. 16) também complementam ao afirmar que “os usuários atuais propõem serviços, trocam informações, comentam, envolvem-se, participam. Eles e elas produzem o essencial do conteúdo da web”. Se em um período da história, como o da canção, os comentários se restringiam a alguns amigos e conhecidos, agora a expansão se tornou factual e progressiva. E aliado a esta percepção acrescenta-se o poder da união das pessoas que gera consequentemente, um aglomerado de discussões de interesses em comum. Terra (2009, p. 13) denomina como quinto poder a “mídia produzida pelo consumidor” para demonstrar a importância de se considerar tal envolvimento que traz os usuários como personagens centrais. Este artigo propõe justamente esta reflexão: o envolvimento e a multi participação da chamada multidão e o grande poder desse novo patamar para o desenvolvimento de uma nova óptica comunicacional. Os desafios são crescentes e tal pensamento deve ser relevado cada vez mais, visto que esta ascensão será constante e progressiva. No primeiro momento será considerada a visão do colaborativismo e de que forma a sociedade passou a inserir na sua vivência de maneira natural; no segundo é destacado como a tecnologia proporcionou esta mudança; já na terceira parte, é compreendido como a população aderiu essa ideia na construção de benefícios para si próprios. O momento da concepção colaborativa O desejo de estar em grupos sociais e ser aceito, aliados a facilidade proposta pela internet podem ser considerados como pontos iniciais para esta discussão. Pisani e Piotet (2010, p. 46) fortalecem essa ideia ao abordar que nós “passamos de uma comunicação pró-ativa e institucionalizada para uma comunicação flexível e não controlada”. Esta dinâmica possui milhões de adeptos de maneira indireta e permite que as pessoas desenvolvam múltiplas personalidades e possam estar por dentro de todos os assuntos de seus interesses. De maneira que somos frequentemente convidados a descobrir novas ideias e expressar a opinião a respeito delas. Em troca, é criado um grande número de envolvimentos e uma participação coletiva. Pisani e Piotet (2010, p. 25) afirmam: 3 4 Cada ação dos web atores , conectados entre si e com os dados, acrescenta alguma pequena coisa, um valor que não existia, e logo a soma do conjunto de ações deságua num terreno que alguns são tentados a chamar de “inteligência coletiva” ou “sabedoria das multidões. Esta aceitação colocada por termos que emergem da colaboração (entende-se inteligência coletiva ou sabedoria das multidões) representa o grande passo para revelar a ideia reflexiva provinda pela web. Estamos agindo em conjunto para obtermos resultados para o mesmo conjunto. Como consequência a disseminação e valorização do que é dito acaba sendo muito maior e mais correta, visto que em meio aos chamados amadores a participação também consiste em envolver especialistas que enriquecem ainda mais. Howe (2009, p. 34) ressalva tal ideia ao dizer que “à medida que a internet dissemina o conhecimento, os amadores começam também a ajudar a analisar os dados”. A respeito de amadores, Anderson (2006, p. 61) também reflete que “estamos deixando de ser apenas consumidores passivos para passar a atuar como produtores ativos. E o estamos fazendo por puro amor pela coisa (a palavra “amador” vem do latim amator, “amante”, de amore, “amar”)”. Desta forma, é possível compreender que o espaço é existente para qualquer pessoa com qualquer tipo de conhecimento, bastando, apenas, que tenha interesse em dispor suas ideias naquele canal. Pois assim como citado por Anderson (2006, p. 70) “esse é o mundo da “peer prodution” (produção colaborativa ou entre pares), fenômeno extraordinário, possibilitado pela Internet, caracterizado pelo voluntarismo ou amadorismo de massa”. A respeito da inteligência coletiva, Jenkins (2008, p. 28) também aceita tal terminologia e refere-se como uma “fonte alternativa de poder midiático”. Já Lévy (1998, p. 30) aponta que é “uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada e mobilizada em tempo real”. Já o termo sabedoria das multidões é apontado por Surowiecki (2006, p. 12) em sua obra com o mesmo nome, para grupos que não necessitam ter lideranças inteligentes para obter suas conclusões, já que a expressão e o raciocínio conjuntos podem concluir uma decisão sábia. Para a compreensão completa devemos definir multidão, e Howe (2009, p. 125) conclui que pode ser definida como “um grupo de pessoas unidas por uma 4 Neste contexto compreende-se ainda segundo os autores, os web atores como uma contrapartida para o termo “internauta”, que representa os primeiros usuários da internet. 4 característica comum”. E é justamente este grupo transformador que orienta ideias, tendências e conceitos da realidade. Nesse ponto Pisani e Piotet (2010, p. 120) destacam também: Em lugar de simplesmente receber, nós produzimos, publicamos, agimos. Usuários ativos, somos consumidores/ criadores, leitores/ escritores, ouvintes/ gravadores, espectadores/ produtores. Temos até o poder de organizar todos esses dados (informações, conhecimentos, criações), atribuído-lhes etiquetas de nossa criação, tags. Geramos um conteúdo que organizamos e modificamos a cada instante. E esta é a nova mídia segundo Howe (2009): o conteúdo criado por amadores. Por isto, vivemos em um momento distinto de qualquer outro: a voz das pessoas passou a ser muito mais relevante. E ouvir o que elas têm a dizer tornou-se não apenas um diferencial, mas sim, uma necessidade. Aranha (2009, p. 29) aponta a conscientização por parte das próprias pessoas sobre o mundo 2.0. Para ele “somos autores e protagonistas de nossas próprias vidas, que o que vivemos pode interessar a outras pessoas e que há maior demanda e abertura para o diálogo”. O mesmo autor coloca em evidência um ponto contrário a respeito do individualismo criado e que está tão presente quanto a coletividade: “mesmo mantendo, o prazer de dialogar abertamente, as pessoas estão se tornando mais individualistas, portanto menos gregárias”. Já Anderson (2006, p. 70) afirma que “este é o mundo da ‘peer production’ (produção colaborativa ou entre pares), fenômeno extraordinário, possibilitado pela internet, caracterizado pelo voluntarismo ou amadorismo de massa”. O autor ainda estreita tal ideia ao expor que “estamos na aurora de uma era”. A possibilidade da expressividade pela web é abordada ainda por Zanoni (2008) que afirma que neste caso o usuário abandona seu papel passivo diante do conteúdo e passa a oferecer ele. Ainda o autor traz esta ideia ao mostrar os conceitos essenciais da web 2.0, de forma que um único usuário possa ser um misto de receptor e emissor ao mesmo tempo. É possível compreender neste ponto que a livre participação e o envolvimento social já deixaram de ser uma questão teórica e ríspida para se tornar algo voluntário e dinâmico para todos. Entre os que são tidos como produtores e os que são receptores daquelas informações a prática tornou-se algo comum e flui de forma natural para o momento que nos encontramos. Dessa forma, possibilita, inclusive, desconhecimento sobre o papel inicial de cada um neste meio comunicacional. gerar 5 Coutinho (2007) apresenta a ideia de comunidades on-line, que muito bem se enquadram ao conceito colaborativo, por entender que são pessoas com interesses em comum e que se comunicam pela rede de computadores. O que mostra a abrangência desta ideia da participação em massa ao considerar a possibilidade de envolver o on-line e o off-line. Até este momento foi possível compreender que tudo representa e pode ser também explanado pela expressão produtores de conteúdo. Anderson (2006, p. 81) propõe que os consumidores são produtores. Ao indicar que “alguns criam a partir do nada; outros modificam os trabalhos alheios, remixando-os de maneira literal ou figurativa”. Para chegarmos até aqui foi necessário uma modificação a longo prazo com interferências midiáticas modernas como será visto em sequência. A tecnologia a favor do colaborativismo Um dos meios que indiscutivelmente possibilitaram o avanço da cultura colaborativa foram as mídias sociais. Recuero (2011) as descreve como um “fenômeno complexo, que abarca o conjunto de novas tecnologias de comunicação mais participativas, mais rápidas e mais populares”. A velocidade e a forma despida de quaisquer consultas ou validações para publicar, fizeram com que as mídias sociais se tornassem parte do cotidiano das pessoas. Prova disto é a pesquisa realizada pelo IBOPE Nielsen Online5, 2010, que situou o Brasil como o país que possui mais acessos às redes sociais, ao estimar que 85,6% dos brasileiros acessam de casa ou do trabalho suas contas pessoais. Terra e Bueno (2009) abordam a participação pública nestes meios: Mídias sociais, redes sociais on-line, conteúdo gerado pelo consumidor, mídia gerada pelo consumidor ou ainda social media são termos sinônimos que significam que o consumidor está no poder, na Internet, com capacidade de viralizar seus conteúdos. De forma geral, Recuero (2009, p. 30) expõe que as conexões das redes sociais são constituídas dos laços sociais, formados pela interação social dos usuários. E neste ponto, o engajamento e a participação são essenciais para o crescimento destes novos meios. 5 Disponível em http://info.abril.com.br/noticias/internet/brasileiro-e-o-que-mais-acessa-redessociais-12052010-23.shl 6 De fato, as mídias sociais são abrangentes, tanto em sua conceituação quanto em sua vivência prática. Comm e Burge (2009) indicam que talvez a melhor forma para definição do termo seja o conteúdo que foi criado por seu público. Estes sites são compostos por grupos de pessoas que possuem interesses em comum. Seguindo esta visão, Telles (2010, p. 19) caracteriza as mídias sociais como “sites construídos para permitir a criação colaborativa de conteúdo, a interação social e o compartilhamento de informações de diversos formatos”. Ele ressalva o conceito aliado a participação coletiva (2010, p. 78): Os sites de relacionamento ou redes sociais são ambientes que focam reunir pessoas, os chamados membros, que, uma vez inscritos, podem expor seu perfil com dados como fotos pessoais, textos, mensagens e vídeos, além de interagir com outros membros, criando listas de amigos e comunidades. A dispersão da ideia de tempo e espaço também são fatores convidativos para as pessoas acessarem e compartilharem cada vez mais. Pisani e Piotet (2010, p. 66) complementam da seguinte forma: “Em vez de depender de uma única comunidade, inicialmente local, somos cada vez mais conduzidos a nos conectar a uma grande variedade de redes menos densas e mais dispersas geograficamente”. Desta forma, torna-se compreensível a evolução e o processo colaborativo que está em evidência atualmente. A interligação entre as pessoas oportunizada pela interdependência das redes sociais, como citado por Recuero (2009) gera esta contribuição coletiva e alavanca a dinâmica social participativa. Aranha (2009, p. 29) indica, e afirma, ainda mais sobre o avanço deste novo comportamento: Antes da web, escrever era um processo em que um autor compartilhava seus conhecimentos, ideias e pontos de vista com muitos leitores, num broadcasting. Hoje, muitos autores 2.0 compartilham com muitos outros autores, num verdadeiro diálogo socialcasting. A rede social 2.0 é um processo de comunicação que evolui com a tecnologia disponível no momento, que se aprende caso a caso. Não é um meio ou fim em si, reaplicável a todas as formas de comunicação. E como relatado por Jenkins (2008, p. 90), precisamos ter em mente de que “os interesses de produtores e consumidores não são mais os mesmos. Às vezes eles se sobrepõem. Às vezes entram em conflito”. Neste ponto observa-se a dificuldade de generalização. Afinal, as mudanças comportamentais não são uma novidade deste século, mas questioná-las e pesquisa-las é necessário. 7 A formação de grupos pelo ambiente digital compõe, assim, um fator determinante de processo de cooperação. Anderson (2006, p. 190) completa ao expressar que “a cultura de massa pode desaparecer, mas a cultura compartilhada perdurará”. Produção Coletiva Para expressar a prática da construção colaborativa é possível analisar o papel criado pela enciclopédia on-line criada em 2001 por Jimmy Walles, a Wikipedia6. Segundo Anderson (2006, p. 63) sua ideia era de criar algo inteiramente novo “explorando a sabedoria coletiva de milhões de especialistas e semi-especialistas amadores, apenas pessoas comuns que se julgam conhecedoras de alguma coisa”. Colocada a disposição de forma gratuita a qualquer pessoa, seu site não recebeu apenas grande sucesso e reconhecimento, mas se tornou um marco na história. Por trazer o conceito de trabalho coletivo e conseguir explorar os conhecimentos de milhões de pessoas formou-se uma rede de trocas no qual todos acabam ganhando culturalmente. Pisani e Piotet (2010, p. 91) descrevem: É uma poderosa ferramenta de trabalho colaborativo on-line. É exatamente o princípio da Wikipedia: um usuário publica um artigo e os leitores podem modificá-lo. O wiki é uma plataforma, e o documento original que foi “postado” nessa plataforma torna-se um “canteiro de obras”, beneficiando-se da contribuição de cada um. É uma nova forma de compreender o que antes era limitado. “Em vez de basear-se numa única pessoa inteligente ou num grupo de indivíduos privilegiados, a Wikipedia explora os conhecimentos de milhares de pessoas de todos os tipos” confirma Anderson (2006, p. 63). A simplicidade e navegabilidade existente são fatores que ponderam o reconhecimento desta ferramenta. Assim, para obter acesso e interagir neste meio é necessário apenas estar conectado à internet e ter conhecimento de algum dos verbetes. Na inexistência dele é possível criar ou se haver discordância é facilmente possível editar e expor a informação correta. Anderson (2006, p. 70) complementa ao afirmar que: 6 Localizada em www.wikipedia.org 8 Os autores da Wikipedia tendem a ser pessoas liberais, entusiasticamente engajadas e motivadas pela oportunidade de melhorar o conhecimento público de algum assunto de que são aficionados e profundos conhecedores. A participação no mercado fez com que o novo conceito de enciclopédia fosse comparado a outras renomadas e tradicionais. Pisani e Piotet (2010, p. 159) destacam alguns dados que ressalvam o sucesso: Desde setembro de 2007, podemos ler nela mais de 5 milhões de artigos em mais de duzentas línguas, dos quais 2 milhões em inglês e mais de 50 mil em alemão e em francês (quinze línguas tinham então mais de 100 mil artigos). Mais de 100 mil pessoas criaram ou modificaram pelo menos dez artigos. Na mesma data, Citizendium, uma enciclopédia similar que oferece mais espaço aos especialistas, tinha, em doze meses, acumulado pouco menos de 3 mil artigos em inglês, escritos e revisados por 2 mil pessoas. Este posicionamento que considera a sabedoria de qualquer pessoa também gerou contrapontos negativos. A veracidade é uma das questões mais discutidas. No entanto, como Esteves (2009, p. 246) relata houve uma avaliação deste tema: A Nature fez um estudo seminal sobre a Wikipédia, sobre os verbetes em inglês, que são muito citados, muito criticados também, comparando com verbetes de ciências da Enciclopédia Britânica, através do sistema da revisão por pares. O time de revisão da Nature encaminhou 50 verbetes, sem que se soubessem quais eram da Britânica, quais eram da Wikipédia, para especialistas daquelas áreas específicas e constatou que o número de erros factuais era muito parecido nas duas. Com o acréscimo interessante que os erros apontados puderam ser corrigidos imediatamente pela Wikipédia, e na Britânica o processo é muito mais lento. A Nature soltou um editorial dizendo que os pesquisadores em vez de demonizar a Wikipédia deveriam mais é criar o hábito de ir lá e trabalhar e editar os artigos da área deles. Spyer (2007, p. 188) também destaca esta questão ao afirmar que “de fato é complicado distinguir na Wikipedia a informação correta da inventada”. Afinal, um site aberto pode facilmente receber interferências de pessoas de má fé que irão expor algo que na verdade não aconteceu. Mesmo diante deste parecer, Pisani e Piotet (2010, p. 160) lembram a atitude tomada pela própria comunidade que participa do processo: “os wikipedianos decidiram exigir que os colaboradores se inscrevessem, o que limita, sem eliminar, a ação dos sabotadores”. 9 Isto só demonstra a importância desta ferramenta para todos, já que as próprias pessoas corrigem as outras. E apesar de haver incidentes, a ideia colaborativa constitui este momento também. A partir de Tapscott e Williams (2007, p. 94) é possível retomar a importância da Wikipedia: Não é apenas o seu tamanho ou a sua popularidade, mas a maneira como a Wikipedia evoluiu que a torna única. Milhares de usuários da internet dedicaram voluntariamente o próprio tempo e conhecimento para ajudar a atingir o objetivo da comunidade, que é fornecer a qualquer pessoa no mundo uma enciclopédia de alta qualidade em sua língua nativa. O grande valor de todo este trabalho exposto pela Wikipedia é a participação da multidão, é a geração de conteúdo e o envolvimento popular. Se neste caso tal ferramenta se tornou tão comum para as pessoas, há de se rever a comunicação de forma generalizada e destinada para um público que se tornou conjunto e participativo em grande escala. Considerações finais O papel participativo e social das pessoas nunca esteve tão em evidência. O mercado nunca se preocupou tanto quanto agora. Os livros, jornais e revistas não citavam tanto a opinião das pessoas como é agora. Estar no meio, ser do meio, fazer parte de um meio é considerado um aspecto positivo em meio a um turbulento número de dados e informações que recebemos diariamente. De fato, a Wikipedia tornou-se um dos exemplos mais expressivos deste movimento. Se por um lado encontra-se Howe, em 2009, falando sobre o poder das multidões, do outro temos Anderson já em 2006 esclarecendo seu pensamento sobre a Cauda Longa. Anos diferentes do atual, mas com ideias tão complementares e que descrevem perfeitamente esta transição da produção individual para a conjunta. Somos todos formadores, criadores e explanadores de informações. A percepção do amador para o profissional fica cada vez mais limitada e difícil de discriminar. Mas esta é a grande realização de toda a mudança. Afinal, quem irá consumir aquilo serão as próprias pessoas. Sob o ponto de vista comunicacional é preciso compreender que o usuário tem plena consciência de seu papel na sociedade e o ato de estar conectado é algo simples e comum para eles. Desta forma, é preciso repensar o potencial de 10 relacionamento e como esta se comportará diante das futuras tecnologias que ainda surgirão. Prevalece a característica do ser humano de desejar compartilhar, de ensinar, de representar e demonstrar de múltiplas formas sua existência e personalidade. Mas será este o grande desafio para a comunicação nos próximos tempos? Há de se relevar e considerar, no entanto a interrogação é discutível. Enfim, o processo coletivo é capaz de direcionar a comunicação para caminhos até então desconhecidos, mas certamente ouvir o que a massa tem a dizer irá gerar retorno positivo muito maior. 11 Referências bibliográficas ANDERSON, Chris. A cauda Longa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. ARANHA, Marcos de Souza. A era do autor 2.0 In: FERNANDES, Manoel (Org.). Do Broadcast ao Socialcast. São Paulo: W3 Editora, 2009. BELCHIOR, Antônio Carlos. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Belchior>. Acesso em 15 de junho de 2011. COMM, Joel; BURGE, Ken. O poder do Twitter: Estratégias para dominar seu mercado e atingir seus objetivos com um tweet por vez. São Paulo: Gente, 2009. COUTINHO, Marcelo. 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