Gestão de Pessoas por Competência Brasília-DF. Elaboração Lídia Oliveira da Silva Denise Dalescio Sá Teles Colaboração Evandro Tsufa Lepletier Guimarães Egle Pires Santos Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Apresentação...................................................................................................................................... 5 Organização do caderno de estudos e pesquisa.................................................................................. 6 Introdução.......................................................................................................................................... 8 Unidade I GESTÃO POR COMPETÊNCIAS...................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 Competência.......................................................................................................................... 12 CAPÍTULO 2 Modelo de Gestão por Competências...................................................................................... 23 CAPÍTULO 3 Alinhamento das Ações de Gestão de Pessoas à Estratégia Organizacional.............................. 31 Unidade Ii SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO .................................................................................................................. 35 CAPÍTULO 4 Sistema Tradicional de Remuneração..................................................................................... 38 CAPÍTULO 5 Sistemas Contemporâneos de Remuneração........................................................................... 41 CAPÍTULO 6 Plano de Cargos e Salários ................................................................................................... 45 CAPÍTULO 7 Remuneração por Competência.............................................................................................. 58 Unidade Iii GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS ..................................................................................................... 69 CAPÍTULO 8 Conceituando Carreira.......................................................................................................... 72 CAPÍTULO 9 Administração de Carreira na Gestão de RH............................................................................ 81 CAPÍTULO 10 Gestão de Mudanças.............................................................................................................. 85 Referências....................................................................................................................................... 89 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de to rná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do caderno de estudos e pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Pensamentos inseridos no Caderno, para provocar a reflexão sobre a prática da disciplina. Para refletir Questões inseridas para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre sua visão sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho. Textos para leitura complementar Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico. Sintetizando e enriquecendo nossas informações abc 6 Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua contribuição pessoal. Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas Aprofundamento das discussões. Praticando Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o processo de aprendizagem. Para (não) finalizar Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão. Referências Bibliografia consultada na elaboração do Caderno. 7 Introdução Muitos textos (mas muitos mesmo...) já foram escritos sobre o importante tema de Gestão de Pessoas. Se tivéssemos “tempo”, poderíamos “navegar” nos conteúdos de Dale Carnegie, James Hunter e Stephen Covey. Ao detalharmos o Brasil diante do desafio da Gestão de Pessoas por Competências, tributaríamos grandes contribuições a Joel Dutra, Pedro Paulo Carbone, Hugo Brandão e tantos outros autores. Infelizmente, não temos tanto tempo assim... Portanto, este curso tem como grande desafio suscitar interesses em áreas específicas da Gestão de Pessoas, das formas de remuneração e do planejamento de carreiras. Esses interesses devem remeter à construção do conhecimento nos fóruns de debate postados pelo professor-tutor. É lá que o conhecimento toma corpo e ganha uma dimensão que vai muito além de seu conteúdo. A educação a distância também pressupõe essa metodologia. Portanto, não se atenha tão somente ao que se apresenta, mas vá mais além, até a profundidade que desejar. 8 Unidade I GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Unidade GESTÃO POR COMPETÊNCIAS I Veja o que a Dra. Odete Rabaglio fala sobre o assunto <http://www.youtube.com/watch?v=l7Mwrcc2_ho>. As mudanças ocorridas no cenário socioeconômico nas últimas décadas – como a globalização, o advento da sociedade do conhecimento e da informação, o desenvolvimento das inovações científicas e tecnológicas, entre outras – fizeram com que as empresas mudassem suas formas de organização e de gerenciamento, para que pudessem se manter competitivas e atuantes no mercado. Para esse contexto, em que a evolução contínua dos profissionais é requerida, é que se desenvolveu o modelo de gestão de pessoas baseada em competências (GPPC). Nele, os profissionais são vistos como talentos a serem continuamente lapidados, de forma a desenvolverem as competências-chave tanto para o seu sucesso como indivíduo quanto para o sucesso da organização (DUTRA, 2000; 2004). 11 CAPÍTULO 1 Competência Como dissemos, as mudanças ocorridas no cenário socioeconômico nas últimas décadas fizeram com que as empresas mudassem suas formas de gestão. As mudanças tiveram impulsos inspirados, entre outras variáveis: na globalização, no advento da sociedade do conhecimento e da informação e no desenvolvimento das inovações científicas e tecnológicas, entre outras. O processo de globalização gerou uma uniformização de mercados e de produtos, fazendo com que os padrões de consumo se tornassem semelhantes nos diferentes continentes. Um dos efeitos da globalização é o aumento dos níveis de competitividade, gerando uma constante redefinição de produtos, de processos, de mercados e de insumos. A ênfase na satisfação do cliente veio com a abertura do mercado, quando a oferta tornou-se maior que a demanda. Para manterem-se no mercado, as empresas tiveram de se reestruturar a fim de atender às necessidades do cliente, cada vez mais exigente, e do mercado, cada vez mais competitivo. O desenvolvimento de novas tecnologias cresceu de maneira veloz no último século. A evolução dos computadores, o advento da internet, as descobertas da Biologia (da importância da Ecologia aos avanços da Genética) trouxeram um novo olhar para a sociedade contemporânea. As organizações tiveram muitos ganhos com isso. A criação de novas tecnologias permitiu que as linhas de montagem se transformassem em unidades de produção de fácil programação, podendo atender às variações do mercado, oferecendo diversos produtos. Isso gerou uma flexibilidade dos processos de produção e um aumento da diversificação dos produtos. A eficiência técnica da internet permitiu que as empresas agilizassem a troca de informações, tornando-se mais rápidas e competitivas. Vive-se na Era da Informação, do conhecimento. Segundo De Masi (2000), é preciso saber cada vez mais, mais rapidamente, para poder ganhar espaço na sociedade como um todo e no mundo do trabalho em particular. As relações entre informação e geração de riquezas são profundas. Valoriza-se quem tem a informação e sabe fazer uso dela. Tudo isso acontece em um ritmo muito acelerado. Como ficam as pessoas e as organizações no meio de tantas inovações e exigências? As pessoas estão buscando, em uma velocidade cada vez maior, as informações, o conhecimento. É preciso estar “antenado”, conectado ao mundo e às exigências do mercado. A formação é muito valorizada. Como as mudanças são contínuas, é requerida do indivíduo uma formação ininterrupta, seja em faculdades e universidades, seja no ambiente de trabalho. Os conhecimentos necessários para conseguir um emprego 12 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I de recepcionista, por exemplo, são maiores que há vinte anos. Não basta ser comunicativa e atender bem ao público, a recepcionista precisa ter conhecimentos de informática, pois a maioria das recepções já dispõe de computadores para registrar seus visitantes; é necessário, também, ter um bom conhecimento da estrutura da organização, para poder encaminhar as pessoas às áreas corretas. Percebe-se, nesse simples exemplo, a evolução das exigências no perfil profissional. Atualização constante, boa formação, domínio de idiomas estrangeiros, conhecimentos de informática são requisitos no atual mundo do trabalho. Assim, a Gestão por Competências requer “uma forma de remuneração relacionada com o grau de informação e o nível de capacitação de cada pessoa” (CHIAVENATO, 2004:300). A remuneração da competência “busca recompensar aspectos como a polivalência, a multifuncionalidade e o desenvolvimento de habilidades e da maturidade” (JORGE, 2007:121). Conceitos e Dimensões O conceito de competência vem sendo utilizado por vários autores. Boyatizis (1982) iniciou o debate sobre o tema competências no contexto gerencial em seu livro The competent manager: a model for effective performance (BOYATZIS, 1982). O modelo de Boyatizis (1982) destaca 21 atributos necessários para a construção do perfil ideal de um gestor, separados em seis grandes fatores. »» Metas e gestão pela ação. »» Liderança. »» Recursos Humanos. »» Direção de subordinados. »» Foco em outros clusters. »» Conhecimento especializado. Zarifian (1996) trata competência como a responsabilidade e a iniciativa do trabalhador perante as situações profissionais com as quais ele se depara. “É assumir responsabilidade frente a situações de trabalho complexas (aliado)... ao exercício sistemático de uma reflexidade no trabalho.” Para esse autor, o conceito de competências extrapola as habilidades, os conhecimentos do indivíduo e as tarefas a ele impostas. O conceito está apoiado nesses fatores, mas é expresso por meio de uma inteligência prática nas situações de trabalho. Para Le Boterf (1999), por sua vez, a competência está no saber mobilizar e aplicar os recursos disponíveis na atividade profissional. Destaca que a competência está além das qualificações individuais, mas no resultado dessas qualificações no trabalho. Esse estudioso relaciona o conceito de competência à mobilização, a articulação de recursos para a ação, enfatizando os resultados das qualificações dos indivíduos nos resultados práticos no trabalho. Dutra (2001) traz, associado ao conceito de competência, o conceito de complexidade. Cada indivíduo possui um conjunto de conhecimentos, de habilidades e de atitudes, o que não garante 13 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS que a organização se beneficie disso. É preciso levar em conta a capacidade de entrega do indivíduo à empresa. Assim, o conceito de complexidade permite avaliar o nível de entrega e de agregação de valor das pessoas. Segundo esse autor, é possível definir diferentes níveis de complexidade de entrega para cada competência. O que diferencia dois indivíduos de competências semelhantes em seu desempenho no trabalho é a capacidade de entrega, como ele utiliza seu potencial para a realização de suas tarefas. Para ele, “desempenho é o conjunto de entregas e resultados de determinada pessoa para a empresa ou negócio”. De acordo com Fleury e Fleury (2000), “competência é um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. O enfoque desse conceito está na capacidade de o indivíduo mobilizar recursos para a ação. Segundo os pesquisadores, o desenvolvimento das competências necessárias para a realização da estratégia competitiva da organização dá-se pelo processo de aprendizagem. Os conceitos desenvolvidos por Dutra (2001) e Fleury e Fleury (2000) associam competência e desempenho. Para Sparrow e Bognanno (1994), “competências representam comportamentos identificados como relevantes para a obtenção de alto desempenho em um trabalho específico, ao longo de uma carreira profissional, ou no contexto de uma estratégia corporativa.” Durand (apud BRANDÃO, 1999) desenvolveu um conceito de competência baseado em três dimensões: conhecimentos, habilidades e atitudes. Essas dimensões são complementares e interdependentes. Para ele, competência é um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias à consecução de determinado propósito. Conhecimento é uma série de informações assimiladas e estruturadas pelo indivíduo. O conhecimento depende da aprendizagem. Nas organizações contemporâneas, a aprendizagem precisa ser contínua, de forma que aumente o seu capital humano e intelectual. Aumentar esses capitais constitui hoje uma obsessão das empresas competitivas e deve começar pela alta cúpula e ser disseminada por todas as esferas da organização. Aqui encontramos termos como: “aprender a aprender”, “aprender continuamente”, “aumentar o conhecimento” e “aumentar o capital intelectual”. Habilidade é a capacidade de aplicar o conhecimento adquirido, visando a atingir um objetivo específico. Sobre esse assunto, Maximiniano (2002 apud KATZ) assevera 3 tipos de habilidades gerenciais, quais sejam: habilidade técnica – relacionada com a atividade específica do gerente; habilidade humana – abrange a compreensão das pessoas e suas capacidades de entender, liderar e trabalhar com outras pessoas (é a expressão da habilidade humana do gerente); habilidade conceitual – Lacombe e Heilborn (2003) a chamariam de visão sistêmica – está relacionada à capacidade de compreender e lidar com a complexidade de toda organização e de usar o intelecto para formular estratégias criativas, planejamento e raciocínios abstratos. Megginson, Mosley e Pietri Júnior (1998) acrescentam ainda as habilidades administrativas, que se referem ao conjunto de capacidades associadas a funções de planejamento, organização, contratação de pessoas e controle, incluindo a capacidade do administrador para se adaptar a diretrizes e procedimentos organizacionais. 14 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I Seja como for, podemos adicionar termos como: “aplicar o conhecimento”, “saber pensar e agregar valor” e “transformar o conhecimento em algo concreto e produtivo”. Figura 1 – Tipos de habilidades gerenciais e suas posições hierárquicas Habilidades Conceituais Administração Superior Gerência Intermediária Supervisão de Primeira linha Habilidades Humanas Habilidades Técnicas Autor: Antônio Cesar Amaru Maximiano Supervisores de primeira linha devem possuir habilidades técnicas, muito mais que as humanas e conceituais, mas isso não significa que não deva ter um pouco de habilidade nas outras áreas além da técnica. Na contramão disso, a administração superior preconiza habilidades conceituais mais do que as humanas e as técnicas, o que também não significa que não deva considerar outras habilidades além das conceituais. Já a gerência intermediária, por ser o meio de ligação entre a administração superior e os supervisores de primeira linha, devem ter um pouco de cada habilidade, com distribuição praticamente equivalente entre elas. Atitudes são estados complexos que afetam o comportamento, determinando a escolha de um curso de ação pessoal. De nada adianta ter habilidade se não puder colocar isso em prática. Requer atitudes das pessoas para que possa ser colocada em prática. Aqui encontramos termos que resumem a habilidade, tais como: “aplicar a habilidade”, “alcançar metas e objetivos” e “transformar a habilidade em resultado”. Para Durand (apud BRANDÃO, 1999), a aprendizagem que leva ao desenvolvimento das competências deve considerar a assimilação de conhecimentos, a aquisição de habilidades e a internalização de atitudes relevantes ao alcance de determinado fim. Figura 2 – As três dimensões da competência Conhecimento »» Informação »» Saber o quê »» Saber o porquê Competência »» Técnica »» Capacidade »» Saber como Habilidade Atitudes »» Querer fazer »» Identidade »» Determinação Fonte: Durand (1998), apud Brandão 15 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Para Chiavenato (2010) pessoas dotadas de competências são chamadas de “talentos”, em alusão à velha moeda “talento”, originalmente usada na Mesopotâmia e em Israel, e posteriormente disseminada na Grécia Antiga e no sistema romano. Chiavenato (2010) inclui, além de conhecimento, habilidades e atitudes, mais um componente: o “julgamento”. Ele coloca a questão em uma ordem de precedência e seus respectivos significados: Figura 3 – Talentos são pessoas dotadas de competência Conhecimento (SABER) Habilidade (SABER FAZER)) Julgamento (SABER ANALISAR) Atitude (SABER FAZER ACONTECER) Fonte: Chiavenato – adaptado pelos colaboradores De acordo com Dutra (2004), existem duas grandes correntes que conceituam competência. Uma delas, representada por Boyatizis (1982) e McClelland (1973), afirma que competência é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que credencia o indivíduo a exercer determinado trabalho. A outra corrente, defendida por Le Boterf (1999) e Zarifian (1999), relaciona competência às realizações do indivíduo em determinado contexto, àquilo que ele produz ou realiza no trabalho. Segundo Brandão (2006), competência não é apenas o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para exercer determinada atividade, mas também o desempenho expresso pela pessoa em determinado contexto, em termos de comportamentos e realizações decorrentes da mobilização e aplicação de conhecimentos, habilidades e atitudes no trabalho. Competências humanas são combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional dentro de determinado contexto organizacional, que agregam valor a pessoas e a organizações. Esse conceito associa competência ao desempenho, inserido no contexto organizacional. Tem, portanto, ampla aceitação no meio acadêmico e em ambientes organizacionais. O desempenho pode ser observado por meio dos comportamentos que o indivíduo apresenta no trabalho e pelos resultados alcançados por ele. No quadro comparativo, a seguir, percebe-se que existem ênfases diferentes nos conceitos de competência dos diversos autores que tratam do tema. 16 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I QUADRO 1 – Conceitos de competência AUTORES CONCEITOS ÊNFASE Boyatizis “Competências são aspectos verdadeiros ligados à natureza humana. São comportamentos observáveis, em grande parte, o retorno da organização.” Formação (1982) Sparrow e Bognanno (1994) (2001) (1997) (2001) Fleury e Fleury (2006) Durand (1998) Resultados Mobilização Ação Aptidão Ação Resultados “A competência pode ser compreendida como a capacidade de entrega de uma pessoa, que, associada às suas capacidades, agregam valor ao negócio ou à empresa onde atua e a ele mesmo.” Dutra Brandão Ação “A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de ‘saber-fazer’, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constatada quando de sua utilização em situação profissional a partir da qual é passível de avaliação. Compete à empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e fazê-la evoluir.” Le Boterf (2000) Estratégias “Competências representam atitudes identificadas como relevantes para a obtenção de alto desempenho em um trabalho específico, ao longo de uma carreira profissional, ou no contexto de uma estratégia corporativa.” “Competência é assumir responsabilidades frente a situações de trabalho complexas, buscando lidar com eventos inéditos, surpreendentes, de natureza singular.” Zarifian Resultados Ação Resultados “Competência: um ‘saber-agir’ responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo.” “Competência não é apenas o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para exercer determinada atividade, mas também o desempenho expresso pela pessoa em determinado contexto, em termos de comportamentos e realizações decorrentes da mobilização e da aplicação de conhecimentos, habilidades e atitudes no trabalho.” Ação Resultados Resultados Desempenho “Competência é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes interdependentes e necessárias à consecução de determinado propósito.” Resultados Fonte: Bittencourt (2002), com adaptações. Separamos este vídeo para você! <http://www.youtube.com/watch?v=0XighwavELc&feature=related>. Tipos de Competência Existem dois principais níveis de competência: organizacionais e humanas ou profissionais. No primeiro nível, incluem-se as core competences ou as competências essenciais da organização, que são responsáveis pela atuação da empresa no mercado, estimulando a construção de um diferencial 17 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS competitivo baseado nas especialidades e especificidades de cada organização. Para Prahalad e Hamel (1990), as core competences devem responder a três critérios. »» Oferecer reais benefícios aos consumidores. »» Ser difícil de imitar. »» Prover acesso a diferentes mercados. No mundo competitivo, a empresa que aplica bem sua competência essencial é aquela que aproveita os recursos de seus funcionários, busca novas maneiras de fazer e oferecer seus produtos e aproveita as oportunidades do mercado. Segundo Prahalad (1990), a empresa deve ser vista como um conjunto de forças, de capacidades e de habilidades que podem ser utilizadas para criar novos negócios. Para ele, a estratégia é desenvolver uma série de competências essenciais e, a partir daí, criar novos produtos e serviços. Nisembaum (2000) classifica as competências organizacionais em função de sua singularidade. »» Básicas: representam os atributos necessários ao funcionamento da organização, mas não distintivas em relação à concorrência. »» Essenciais: representam atributos de caráter distintivo, que diferenciam a organização das demais. Para Zarifian (1996), as competências da organização podem ser classificadas da seguinte forma: »» Técnicas »» Sociais »» De serviço »» Sobre processos »» Sobre a organização No segundo nível, das competências humanas, observa-se a necessidade crescente de formar e valorizar o profissional que possa oferecer respostas mais rápidas às demandas do mercado e da empresa, que tenha uma postura aberta à inovação, baseado num perfil criativo e flexível, que esteja preparado para trabalhar e estimular o desenvolvimento das outras pessoas com quem trabalha. A rapidez com que as mudanças acontecem no mundo organizacional faz com que o indivíduo tenha de mobilizar cada vez mais recursos para lidar com as novas situações impostas por tais mudanças. Desta forma, o trabalho não se concentra apenas no desenvolvimento de tarefas predefinidas e associadas a cada cargo. Tem um destaque cada vez maior o número de profissionais que responde às novas exigências do mercado, trazendo contribuições para o desempenho da organização. 18 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I Segundo Dutra (2001), “a agregação de valor dos indivíduos é sua contribuição efetiva ao patrimônio de conhecimentos da organização, o que lhe permite manter suas vantagens competitivas ao longo do tempo.” Percebe-se, assim, uma forte relação entre competências organizacionais e individuais. Pode-se, então, classificar as competências como profissionais e organizacionais, destacando-se que o conjunto de competências profissionais, aliado a processos e a outros recursos, dão origem e sustentação à competência organizacional. As competências humanas também podem ser observadas em equipes de trabalho. Segundo Zarifian (1996), uma competência pode se manifestar em processos produtivos e ser atribuída tanto ao indivíduo quanto ao grupo de trabalho. Durand (2000) afirma que valores comuns à equipe influenciam no desempenho e nos resultados alcançados por ela. Uma característica importante do conceito de competência refere-se ao seu caráter dinâmico. Isso significa que competências específicas, valorizadas em determinada atividade, no momento atual, podem perder seu valor, tornando-se obsoletas, ultrapassadas, devido ao surgimento de inovações tecnológicas ou a mudanças na estratégia organizacional. Para Prahalad e Hamel (1990), as competências têm um caráter dinâmico, pois necessitam ser transformadas, com o propósito de atender às mudanças no mercado competitivo em um processo ininterrupto. A competência essencial deve buscar uma natureza dinâmica, de modo a não se tornar uma “rigidez essencial”, que inibe a inovação e o crescimento. Isso decorre da dificuldade das empresas (e das pessoas) de mudar, principalmente se as ações que precisam ser modificadas são aquelas que alavancaram o sucesso do negócio. Logo, é preciso investir no desenvolvimento de novas competências, enquanto as antigas ainda agregam valor à organização. O desenvolvimento de competências essenciais dinâmicas requer aprendizagem organizacional e atualização contínua. Segundo Schein (1996), as competências essenciais, para serem eficazes, têm de evoluir e mudar de maneira constante, por meio de aprendizagem organizacional permanente. As organizações que investem e melhoram suas competências são capazes de criar novas alternativas de crescimento estratégico. Em geral, o planejamento estratégico organizacional aponta a visão de futuro aonde a empresa pretende chegar e, com ela, objetivos e metas que demandam um leque de competências necessárias para tornar o alvo atingível. Assim, mapeiam-se conhecimentos, habilidades e atitudes (competências) necessárias para que a organização torne sua visão uma realidade. Após o mapeamento das core competences, procede-se o mesmo mapeamento, desta vez em relação às competências humanas ou profissionais. Quais conhecimentos, habilidades e atitudes os colaboradores devem ter para que a organização atinja a visão desejada? A diferença entre as competências organizacionais e as humanas ou profissionais é chamada de gap ou lacuna de competências. Essa diferença deve ser compensada com educação corporativa que capacite pessoas e as tornem aptas ao alinhamento estratégico desejado. Outra alternativa é o recrutamento externo. Veremos isso com maiores detalhes no próximo capítulo. 19 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Figura 4 – Competências organizacionais x competências humanas ou profissionais Core competências (-) Competências Profissionais (=) GAP ou Hiato »» Conhecimentos »» Habilidades »» Atitudes »» Conhecimentos »» Habilidades »» Atitudes »» Educação Corporativa »» Recrutamento Externo Fonte: adaptado pelos colaboradores De acordo com Sparow e Bognanno (1994), as competências podem ser classificadas conforme seu grau de relevância. »» Competências estáveis: são essenciais para o andamento das atividades da organização e relevantes ao longo do tempo. »» Competências declinantes: são competências que fizeram parte da organização no passado recente e estão se tornando cada vez menos necessárias. »» Competências emergentes: são aquelas que estão se tornando relevantes, devido às inovações tecnológicas e às mudanças estratégicas da empresa, que serão fundamentais em um futuro próximo. »» Competências transitórias: são competências que não estão diretamente ligadas ao negócio da empresa, mas que são importantes em momentos de transição. Os autores ressaltam que, a partir dessa classificação, é possível identificar e mapear as competências necessárias ao sucesso organizacional. Desta forma, podem-se direcionar os recursos da organização para o desenvolvimento das competências emergentes e para a manutenção das essenciais. Diferenciação entre Competências e Habilidades De acordo com os conceitos já estudados, vejamos a relação entre competências e habilidades. O conceito de competência é mais amplo e não exclui o conceito de habilidade. O que os diferencia é, apenas, a maior nitidez e a mensuração mais objetiva que cada um trará em cargos específicos. Para grande parte dos autores, competência se resume a 3 fatores: conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA). 20 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I Outros autores fazem distinção entre competências e habilidades. Vejamos. »» Tipos de Competência Segundo Souza (2005), as competências podem ser gerais ou específicas, sendo que as específicas dizem respeito a uma carreira e as gerais são comuns a toda organização. Exemplos de competências: ›› Orientação para resultados. ›› Direcionamento estratégico. ›› Liderança de equipes. ›› Agente de mudança. ›› Colaboração irrestrita. ›› Orientação para o mercado. ›› Orientação para a ação. ›› Iniciativa. ›› Flexibilidade. ›› Planejamento e organização. ›› Construção de relacionamentos. ›› Capacidade técnica. ›› Visão sistêmica. »» Tipos de Habilidades Para Souza (2005), o sistema baseado em habilidades sustenta-se em três dimensões. ›› ›› ›› Habilidades horizontais: são características da carreira multifuncional. Representam habilidades de níveis de complexidade assemelhados, como habilidades de operação e manutenção. Habilidades por profundidade: predomina a especialização ou o conhecimento mais profundo de áreas do conhecimento. Habilidades verticais: envolvem níveis maiores de complexidade, como liderança técnica, coach ou supervisão. Exemplos de habilidades: ›› Operar painel de unidade industrial x. ›› Operar campo da unidade y. 21 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS ›› Realizar análise cromatrográfica do elemento z. ›› Coordenar operacionalmente a folha de pagamento. São atributos muito importantes no processo de certificação de habilidades, com base em Souza (2005): ›› ›› 22 Objetividade. Aferição de conhecimentos e práticas feita de forma sistemática e anteriormente ao ato da certificação. ›› Formalização e assinatura pelos certificadores. ›› Autoavaliação. ›› Periodicidade e ritual predefinido. ›› Processo informal e não burocrático. CAPÍTULO 2 Modelo de Gestão por Competências Várias organizações estão utilizando modelos de gestão por competências para planejar, captar e desenvolver as competências necessárias ao alcance de seus objetivos. A gestão por competências parte do planejamento estratégico da organização e direciona as ações de captação e seleção, treinamento e gestão de carreira de seus colaboradores visando a atingir seus objetivos e metas. É um processo que envolve todos os níveis da empresa: corporativo, divisional, grupal e individual. É um modelo que objetiva integrar todos os subsistemas de Recursos Humanos, alinhando-os com a estratégia organizacional. O modelo proposto por Ienaga (1998) parte do mapeamento do gap de competências da organização, identificando, a partir dos objetivos estratégicos da instituição, a discrepância entre as competências necessárias à consecução dos objetivos e as competências internas disponíveis na organização. Após a realização do mapeamento dos gaps de competência, é possível planejar e implementar ações de capacitação e/ou desenvolvimento de competências, visando a eliminar ou a minimizar as lacunas. Desta forma, a gestão por competências toma como referência a estratégia da organização e direciona suas ações de recrutamento e seleção, capacitação, gestão de carreira e formalização de alianças estratégicas, entre outras, para a captação e o desenvolvimento das competências necessárias para atingir seus objetivos. Identificação do gap Brandão e Guimarães (2001) apresentam as principais fases do modelo de gestão por competências no quadro a seguir: QUADRO 2 – Modelo de gestão por competências Formulação da estratégia organizacional Definição da missão, da visão de futuro e dos objetivos estratégicos Definição de indicadores de desempenho organizacional Diagnóstico das competências essenciais à organização Diagnóstico das competências humanas ou profissionais Desenvolvimento de competências internas Formulação dos planos operacionais de trabalho e de gestão Captação e integração de competências externas Definição de indicadores de desempenho e de remuneração de equipes e de indivíduos Acompanhamento e avaliação Fonte: Guimarães et al. (2001), com adaptações. 23 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Segundo os autores, o processo inicia-se com a formulação da estratégia organizacional. Define-se a missão, a visão de futuro e os objetivos estratégicos da organização. Partindo dos objetivos estratégicos, é preciso estabelecer os indicadores de desempenho organizacional e as metas a serem alcançadas. Feito isso, identificam-se as competências necessárias para concretizar o desempenho esperado. Após a identificação das competências necessárias para o alcance das metas organizacionais, parte-se para o mapeamento de competências (humanas e organizacionais). Identifica-se o gap (lacuna) existente entre as competências necessárias para alcançar o desempenho esperado e as competências já encontradas na organização. Veja no quadro a seguir a identificação do gap de competências. QUADRO 3 – Identificação do gap de competências Competências mapeadas Competências necessárias Gap 0 Gap 1 Competências atuais T0 T1 Tempo Fonte: Ienaga, apud BRANDÃO e GUIMARÃES (2001), com adaptações. A identificação do gap de competências permite que a organização crie estratégias para minimizar essas lacunas e manter-se competitiva no mercado. Isso é feito por meio do planejamento de ações de captação e de desenvolvimento de competências. As ações de captação de competências estão ligadas à seleção de talentos externos e sua integração ao ambiente organizacional. Segundo Brandão e Guimarães (2001), tais ações podem acontecer no nível individual (ações de captação e seleção de talentos) e no nível organizacional (joint-ventures ou alianças estratégicas). Já as ações de desenvolvimento estão relacionadas ao aperfeiçoamento das competências internas da organização. Podem ocorrer no nível individual, por meio da aprendizagem, e no nível organizacional, por meio de investimentos em pesquisa. É por intermédio da aprendizagem que se desenvolvem as competências. Já o desempenho é a manifestação da competência, daquilo que o indivíduo aprendeu. Após as ações de captação e de desenvolvimento, formulam-se os planos operacionais e de gestão, bem como os indicadores de desempenho e de remuneração das equipes e dos colaboradores. É feito, então, o monitoramento da execução dos planos operacionais e de gestão e de seus respectivos indicadores de desempenho, com o objetivo de identificar e de corrigir eventuais desvios. Ao final, fazem-se o acompanhamento e a avaliação, comparando-se os resultados alcançados com os esperados. Essa é uma etapa de retroalimentação do sistema, pois levanta informações que podem ser utilizadas como subsídio para as demais fases do processo. 24 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I Após estudar todas as etapas do processo, é possível identificar a relação de interdependência entre a gestão por competências e a gestão de desempenho. De acordo com Brandão e Guimarães (2001), “o desempenho expressa, em última instância, a competência de pessoas, de equipes e de organizações”. A gestão por competências é uma tendência a ser seguida onde há a necessidade de se integrar o modelo de gestão de pessoas à estratégia da organização. Mapeamento de Competências O objetivo do mapeamento de competências é identificar os gaps de competências, estabelecer as lacunas entre as competências necessárias para atingir os objetivos estratégicos da organização e as competências internas já existentes. A coleta de dados para mapeamento das competências pode ser feita por meio das seguintes estratégias. »» Pesquisa documental. »» Observação participante. »» Observação não participante. »» Entrevistas. »» Questionários. »» Grupo focal. Bruno-Faria e Brandão (2003) propõem a utilização de pesquisa documental, para identificar as competências humanas e organizacionais necessárias ao alcance do sucesso organizacional. Essa pesquisa parte da análise de documentos referentes ao planejamento estratégico da organização (missão, visão, valores, objetivos e metas). O objetivo da pesquisa é identificar nesses documentos indicadores da relação competências necessárias/objetivos organizacionais. Feito isso, parte-se para entrevistas com pessoas-chave da empresa (especialistas, membros da Diretoria). Nas entrevistas, procura-se captar a percepção dos entrevistados a respeito dos dados levantados na pesquisa documental, sempre visando a identificar possíveis competências necessárias à instituição. É importante que o profissional de RH planeje a realização da entrevista, criando um roteiro prévio e explicando a cada entrevistado os objetivos da pesquisa, bem como a importância de sua cooperação. Para obter respostas fidedignas, é fundamental que o entrevistador deixe claro que as informações repassadas são sigilosas, garantindo-se o anonimato dos entrevistados. Criar um clima amigável durante a entrevista ajuda a coletar as informações pretendidas. O entrevistador deve abrir espaço para que o entrevistado faça seus comentários, sem julgamentos. Deve demonstrar empatia e evitar a tendência de projetar seus pontos de vista no interlocutor. 25 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Recomenda-se tomar notas ou gravar as entrevistas, pois, por meio desse registro, é possível fazer a análise do conteúdo e identificar possíveis competências mencionadas pelos entrevistados. Ao analisar o conteúdo das entrevistas, é importante verificar a frequência com que cada competência foi destacada, indicando sua relevância para a organização. Em algumas ocasiões, o profissional de RH não tem tempo disponível para fazer entrevistas individuais. Nesses casos, ele pode utilizar a técnica do grupo focal, conduzindo uma discussão objetiva e moderada a respeito das competências essenciais para a organização. Geralmente, os grupos focais são compostos de oito a doze colaboradores, um moderador e, se possível, um ou mais observadores. A utilização dessa técnica permite maior flexibilidade na coleta de dados, oferecendo subsídios para a construção de outros instrumentos de pesquisa. Ações necessárias para a realização do grupo focal. »» Planejar a entrevista, elaborando um roteiro e selecionando os participantes. »» Conduzir a entrevista, moderando as reuniões. »» Analisar os resultados, dando tratamento aos dados e elaborando um relatório. O questionário é a técnica de coleta de dados mais usada para realizar o mapeamento de competências relevantes para a organização. Geralmente, o profissional de RH utiliza a pesquisa documental e as entrevistas como base para elaboração dos itens que irão compor o questionário. Para a construção e a validação do questionário, é importante que o profissional de RH tenha alguns cuidados. »» Evitar a elaboração de itens longos ou com múltiplas ideias. »» Evitar a utilização de expressões técnicas, ambíguas. »» Identificar a escala mais adequada ao público que irá responder ao instrumento. »» Realizar a validação semântica (verificar se os itens são bem compreendidos pelo público que irá responder ao instrumento). »» Definir a forma de aplicação mais adequada. Outra técnica de coleta de dados é a observação direta. Faz-se um exame detalhado do fenômeno ou do objeto de estudo. Tal método pode ser utilizado pelo profissional de RH, para identificar as competências relevantes ao trabalho, aos indivíduos e às equipes. Pode ser participante, quando o profissional de RH atua como parte integrante do objeto de estudo, no próprio ambiente organizacional. Pode ser não participante, quando o pesquisador não faz parte do contexto estudado, atuando apenas como espectador. Para cada uma das técnicas vistas acima, existem vantagens e desvantagens. Algumas se tornam inviáveis pelo alto custo e pelo longo tempo de execução. Veja, no quadro abaixo, os pontos fortes e fracos de cada uma das técnicas de coleta de dados para mapeamento de competências. 26 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I QUADRO 4 – Vantagens e desvantagens das técnicas de coleta de dados TÉCNICA DE COLETA PONTOS FORTES »» Garante o anonimato »» Traz questões objetivas de fácil pontuação »» Traz questões padronizadas, que garantem a uniformidade Questionário »» Deixa em aberto o tempo para as pessoas pensarem sobre as respostas »» Facilita a conversão dos dados para arquivos de computador »» Apresenta baixa taxa de respostas para questionários enviados pelo correio »» Apresenta inviabilidade de comprovar respostas ou de esclarecê-las »» É difícil pontuar questões abertas »» Dá margem a respostas influenciadas pelo “desejo de nivelamento social” »» É restrito a pessoas aptas à leitura »» Possui custo razoável »» Pode ter itens polarizados/ambíguos »» É capaz de captar o comportamento natural das pessoas »» É polarizada pelo observador »» Minimiza a influência do “desejo de nivelamento social” Observação direta PONTOS FRACOS »» Requer treinamento especializado »» Apresenta efeitos do observador nas pessoas »» Possui nível de intromissão relativamente baixo »» É pouco confiável para observações com inferências complexas »» É confiável para observações com baixo nível de inferência »» Não garante o anonimato »» Apresenta dificuldade para a interpretação das observações »» Não comprova/esclarece o observado »» Possui número restrito de variáveis »» Tem baixo custo »» Permite a redução do tempo de obtenção Pesquisa documental »» Contém informação estável »» Traz dados incompletos ou desatualizados e excessivamente agregados »» Revela mudanças de padrões no tempo »» É de uso restrito (confidencialidade) »» É difícil recuperar alguns dados »» Possui baixo custo e resposta rápida »» Apresenta flexibilidade na aplicação Grupo focal »» É eficiente para obter informações qualitativas a curto prazo »» É eficiente para esclarecer questões complexas no desenvolvimento de projetos »» Exige facilitador/moderador com experiência para conduzir o grupo »» Não garante total anonimato »» Depende da seleção criteriosa dos participantes »» Impede que as informações obtidas sejam generalizadas »» É adequado para medir o grau de satisfação das pessoas envolvidas Fonte: McMillan, 1997:274-275. Esses métodos de coleta de dados para mapeamento de competências são aplicados para identificar as competências relevantes para a consecução dos objetivos organizacionais. Porém, para mapear os gaps de competência, é preciso identificar as competências internas já existentes na organização. Para isso, os profissionais de RH utilizam os instrumentos de avaliação de desempenho. Como visto anteriormente, as 27 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS competências humanas podem ser expressas pelo desempenho do indivíduo e os instrumentos de gestão do desempenho profissional ajudam a identificar as competências que os colaboradores apresentam no trabalho. (BRANDÃO, 2006) A maior parte das organizações utiliza sistemas próprios para certificar as competências de seus colaboradores, usando instrumentos de avaliação de desempenho desenvolvidos internamente. O Balanced Scorecard e a avaliação 360º são alguns modelos de gestão de desempenho utilizados nas organizações. O Balanced Scorecard é um modelo desenvolvido por Kaplan e Norton (1997) que visa a orientar o desempenho organizacional e individual, levando em conta aspectos financeiros, perspectivas do cliente, processos internos, aprendizagem e crescimento. Tem como objetivo alinhar o desempenho de indivíduos e de áreas da organização aos objetivos estratégicos, usando indicadores de curto, médio e longo prazo. A avaliação 360° é um modelo de gestão de desempenho desenvolvido por Edwards e Ewen (1996) bastante utilizado nas organizações. Neste modelo, uma rede de indivíduos registra e recebe feedbacks de diferentes fontes de avaliação (superior hierárquico, pares, subordinados, clientes, fornecedores e outros eventuais atores envolvidos no processo produtivo). Assim, o resultado da avaliação de desempenho do indivíduo é mais fidedigno, pois minimiza distorções. Podem-se utilizar, ainda, instrumentos de autoavaliação para identificar as competências internas já existentes na organização. Neles, o próprio colaborador avalia o grau de importância de determinadas competências para o seu desempenho no trabalho, bem como o seu domínio sobre ela. Descrição de Competências A descrição de determinada competência deve traduzir o desempenho ou o comportamento esperado, deixando claro o que o indivíduo deve ser capaz de fazer. O profissional de RH deve tomar alguns cuidados ao descrever competências. »» Ser objetivo: descrever o comportamento ou o desempenho esperado, utilizando verbos que expressem uma ação concreta e um objeto de ação. »» Expressar condições e critérios: quando possível, destacar as condições em que se espera que o desempenho ocorra e os critérios que indiquem um padrão de qualidade satisfatório. »» Fazer validação semântica: para garantir que todos tenham o mesmo entendimento a respeito da competência descrita. É importante evitar o seguinte: »» Construções muito longas. »» Utilização de termos técnicos, de difícil compreensão. »» Verbos que não expressem ações concretas. 28 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I »» Ambiguidades. »» Irrelevâncias. »» Duplicidades. »» Abstrações. Veja alguns exemplos de descrição de competências (BRANDÃO, 2006). »» “Resolve problemas de álgebra, cada um deles em menos de 10 minutos e com exatidão.” »» “Edita textos, sem erros de digitação, utilizando o aplicativo Word.” »» “Comunica-se com os clientes, de forma clara e objetiva, utilizando diferentes veículos de comunicação (telefone, fax, e-mail).” Para descrever competências humanas, existem basicamente dois critérios, que podem variar, conforme a finalidade da descrição. »» Mediante utilização de pautas ou referenciais de desempenho: descrevem-se comportamentos passíveis de observação que demonstram que o profissional detém determinada competência. Esse critério é geralmente utilizado em instrumentos de avaliação de desempenho. Os autores que defendem essa forma de descrever competências são Santos (2001) e Whiddett e Hollyforde (1999). Veja um exemplo no quadro em questão. Quadro 5 – Exemplo de descrição de competências – referenciais de desempenho (comportamentos observáveis no trabalho) COMPETÊNCIA DESCRIÇÃO (REFERENCIAIS DE DESEMPENHO) »» Implementa ações para incrementar o volume de negócios. Orientação para resultados »» Avalia com precisão os custos e os benefícios das oportunidades de negócio. »» Utiliza indicadores de desempenho para avaliar os resultados alcançados. »» Elabora planos para atingir as metas definidas. »» Compartilha com seu grupo os desafios a enfrentar. Trabalho em equipe »» Mantém relacionamento interpessoal amigável e cordial com os membros de sua equipe. »» Estimula a busca conjunta de soluções para os problemas enfrentados pela equipe. »» Compartilha seus conhecimentos com os membros da equipe. Fonte: Santos (2001), com adaptações apud Brandão (2006). »» Mediante a utilização de recursos ou dimensões da competência: descrevem-se os conhecimentos, as habilidades e as atitudes que se acredita serem necessários para que o indivíduo alcance determinado desempenho. Esse critério é usado na formulação de ações de treinamento. (BRANDÃO et al., 2001; BRUNO-FARIA e BRANDÃO, 2003) 29 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS QUADRO 6 – Exemplos de recursos ou dimensões da competência “prestar um atendimento bancário baseado em padrões de excelência” DIMENSÃO DA COMPETÊNCIA DESCRIÇÃO »» – Princípios de contabilidade e finanças. Conhecimentos »» – Produtos e serviços bancários. »» – Princípios e relações humanas. Habilidades »» – Aptidão para operar computadores, periféricos e outros recursos tecnológicos. »» – Habilidade para argumentar de maneira convincente. »» – Predisposição para a tomada de iniciativa (proatividade). Atitudes »» – Respeito à privacidade do cliente. »» – Predisposição para aprimorar-se continuamente Fonte: Brandão, Guimarães e Borges-Andrade (2001), com adaptações apud BRANDÃO (2006). 30 CAPÍTULO 3 Alinhamento das Ações de Gestão de Pessoas à Estratégia Organizacional A gestão por competências tem como propósito gerenciar os gaps de competências existentes na organização, com o intuito de eliminá-los ou de minimizá-los, aproximando ao máximo as competências existentes das necessárias para o alcance dos objetivos institucionais. Nesse processo, a área de Recursos Humanos tem um papel fundamental. Segundo Brandão (2006), cabe a ela “orientar e estimular os profissionais a eliminar as discrepâncias entre o que eles são capazes de fazer (competências atuais) e o que a organização espera que eles façam (competências desejadas)”. Com o objetivo de promover o desenvolvimento profissional de seus colaboradores, para eliminar ou minimizar as lacunas de competências, a área de Recursos Humanos utiliza-se de seus diferentes subsistemas: captação e seleção de talentos, educação corporativa, avaliação de desempenho, remuneração e benefícios. Partindo do planejamento estratégico da organização, a área de Recursos Humanos constrói suas políticas e práticas, de forma a integrar seus subsistemas, visando à aquisição das competências necessárias ao alcance dos objetivos e das metas organizacionais. A integração dos principais subsistemas de Recursos Humanos em torno da necessidade de aquisição das competências fundamentais para o sucesso da organização gera impactos significativos na forma de condução dos processos de gestão de pessoas. Observe, no quadro a seguir, a importância do alinhamento da estratégia organizacional à gestão de pessoas. QUADRO 7 – Alinhando a gestão de pessoas à estratégia organizacional Planejamento Estratégia organizacional e diagnóstico de competências Planejamento em Gestão de Pessoas Subsistemas de Gestão de Pessoas Educação corporativa Identificação e alocação de talentos Avaliação do desempenho profissional Orientação profissional e carreira Competências Remuneração e benefícios Comunicação interna Fonte: Brandão (2006) 31 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS A partir do quadro anterior, observa-se que o planejamento das ações dos subsistemas de gestão de pessoas está vinculado à estratégia organizacional e ao diagnóstico das competências. É nesta fase que se faz o mapeamento das competências humanas necessárias para a consecução dos objetivos estratégicos e o planejamento das ações para desenvolvê-las. Brandão (2006) salienta que as competências humanas identificadas como relevantes às diversas unidades da empresa devem compor a avaliação de desempenho profissional, que permite à organização mensurar até que ponto seus colaboradores expressam tais competências no trabalho. Deste modo, a avaliação de desempenho tem como objetivo identificar as competências que superam o desempenho esperado, bem como as eventuais lacunas de competências. Partindo dos resultados obtidos na avaliação de desempenho, é possível alimentar os diferentes subsistemas de gestão de pessoas. Educação Corporativa – Desenvolvimento de Pessoas Este subsistema tem seu foco de ação no desenvolvimento das competências humanas. Por meio do modelo de gestão por competências, é possível organizar ações de aprendizagem, com a finalidade de minimizar ou de eliminar os eventuais gaps de competência. O resultado do mapeamento de competências humanas traz subsídios para a identificação das necessidades de aprendizagem, para a formulação dos objetivos instrucionais, para a definição de conteúdos programáticos, para a construção de trilhas de aprendizagem, bem como para o compartilhamento de competências entre as pessoas (BRANDÃO, 2006). Ressalta-se a importância da aprendizagem para o desenvolvimento das competências humanas. Para Le Boterf (1999), o desenvolvimento de competências humanas depende, essencialmente, de três fatores: do interesse da pessoa por aprender; de um ambiente de trabalho que incentive a aprendizagem; e do sistema de educação corporativa disponível ao indivíduo. De acordo com Dutra (2002), é possível construir um subsistema de gestão do desenvolvimento das pessoas baseado em competências, considerando como fator determinante a complexidade da entrega. Para esse autor, não é suficiente que o indivíduo possua conhecimentos, habilidades e atitudes. É preciso que haja entrega e agregação de valor para a organização. Este subsistema tem alguns desdobramentos. »» Análise das pessoas em sua individualidade: partindo dos resultados da avaliação de desempenho, a pessoa é observada com base em sua entrega. »» Análise das deficiências individuais: observa-se a capacidade de entrega do indivíduo e detectam-se os motivos de suas deficiências (falta de conhecimentos, habilidades não desenvolvidas, entre outras). É possível desenvolver um plano de ação individual e verificar sua efetividade. 32 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS | UNIDADE I »» Análise da efetividade das ações de desenvolvimento: estabelece-se com o indivíduo um plano de ação de desenvolvimento. Esse acordo é feito entre o colaborador e sua chefia imediata. Assim, é possível verificar se ocorreram mudanças após as atividades educativas. Captação e Seleção de Talentos O mapeamento de competências relevantes à organização orienta a definição de perfis profissionais, que norteiam as ações de captação e de seleção de pessoas. A partir das competências essenciais para o alcance dos objetivos estratégicos da organização, define-se o perfil profissional e inicia-se o processo de seleção das pessoas adequadas às necessidades presentes e futuras da empresa. Da mesma forma acontece com os processos seletivos internos. Busca-se adequar o perfil de competências das pessoas às competências exigidas para o cargo a ser exercido. Segundo Dutra (2001), ao avaliar um candidato, leva-se em conta não apenas o seu conjunto de competências, mas também sua capacidade de entregar-se à empresa. Orientação Profissional e Gestão da Carreira Ao fazer a identificação das lacunas de competências, é possível dar feedback e orientar os colaboradores da empresa a buscar o desenvolvimento e o crescimento profissional. Dutra (2001) afirma que o sistema de administração de carreiras deve conciliar o desenvolvimento da organização e do indivíduo. Para ele, a definição de trajetórias de carreira é importante para a manutenção de vantagens competitivas. Isso pode ser feito de forma compartilhada entre o colaborador, que estabelece suas opções de carreira, e a organização, que dá suporte ao planejamento individual da carreira de seus funcionários. A estrutura da carreira pode ser diferenciada nos seguintes tipos. »» Em linha: a sequência de posições está alinhada em uma única direção, não oferecendo alternativas às pessoas. »» Em rede: oferece várias opções para cada posição da empresa. Permite à pessoa estabelecer sua trajetória, a partir de critérios de acesso previamente estabelecidos. »» Paralelas: os indivíduos podem traçar suas trajetórias profissionais em duas direções: profissional ou gerencial. Para esse autor, há diferentes eixos de carreira nas organizações, que estão atrelados aos processos fundamentais da empresa. Para cada um dos eixos, é definido um conjunto próprio de competências, que devem ser graduadas de acordo com o nível de complexidade da entrega. Assim, é possível acompanhar o desenvolvimento individual em relação à entrega para a organização. Esse é um processo em que o feedback é peça-chave, pois o colaborador e sua chefia irão, periodicamente, avaliar os progressos feitos e os gaps ainda existentes. O objetivo principal do sistema de gestão de carreiras e orientação profissional é conciliar as necessidades organizacionais de competências, as oportunidades profissionais existentes na organização e as aspirações de crescimento do indivíduo (BRANDÃO, 2006). 33 UNIDADE I | GESTÃO POR COMPETÊNCIAS Remuneração Ao se atrelarem os conceitos de competência aos processos de gestão de pessoas, estimula-se a remuneração variável, de acordo com as competências expressas no trabalho pelo indivíduo. Determinadas competências podem ser remuneradas de maneira diferenciada, de forma variável. Isso gera incentivos e estimula os colaboradores a desenvolver a referida competência. Algumas organizações oferecem remuneração variável para colaboradores que se dispõem a atuar como instrutores ou tutores em capacitações internas. Esse é um exemplo de como a remuneração variável ligada a competências pode estimular o desenvolvimento profissional, além do reconhecimento dos pares e da retribuição financeira. Falaremos mais desse assunto na Unidade 3. Comunicação Interna A comunicação interna deve ser utilizada para estimular o autodesenvolvimento dos indivíduos, divulgando aspectos da estratégia organizacional, tais como: missão, visão, objetivos estratégicos e metas organizacionais. É usada, também, para a disseminação do conhecimento, pela socialização de informações relativas a experiências de sucesso e inovadoras das diferentes áreas da empresa. Dois conceitos em voga que estimulam novos métodos de trabalhar essa dimensão são: endomarketing e empowerment (empoderamento). Endomarketing busca adaptar estratégias e elementos do marketing tradicional, normalmente utilizados pelas empresas para abordagens ao mercado, para uso no ambiente interno das corporações. Parte do princípio de que, para que haja “venda” dos produtos e serviços da organização ao cliente externo, seus colaboradores devem ser os primeiros a “comprá-los”. Por isso, a organização monta uma estratégia de comunicação interna tão eficaz, que é capaz de fazer com que seus colaboradores se comprometam inteiramente com os objetivos organizacionais, antes mesmo de colocar o produto ou serviço à venda. Empowerment ou empoderamento adota o compartilhamento de ideias e objetivos comuns, fortalecendo os colaboradores e estimulando-os no trabalho em equipe. Segundo Chiavenato (2005), o empoderamento das pessoas passa, obrigatoriamente, por cinco providências fundamentais: 1. Participação direta das pessoas nas decisões. 2. Atribuição de responsabilidade pelo alcance de metas e resultados. 3. Liberdade para que as pessoas escolham métodos e processos de trabalho, programas de ação, com a ajuda e o apoio do gerente. 4. Atividade grupal e solidária e trabalho em equipe. Equipe, equipe e mais equipe. Tudo deve ser feito em trabalho conjunto. A equipe deve ser coesa, integrada, orientada e apoiada. 5. Avaliação do próprio desempenho da equipe. A autoavaliação é um importante meio de retroação e de melhoria constante. 34 Unidade Ii SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Unidade SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Ii O final do século XX foi marcado por grandes mudanças nas organizações. Foi necessário adaptar-se ao novo nível de exigência dos consumidores, aos avanços tecnológicos, à concorrência acirrada. Todos esses aspectos afetaram diretamente o modo de as empresas gerirem seus funcionários e, consequentemente, recompensá-los. “Uma das mais importantes funções da gestão de recursos humanos é a de determinar os padrões de remuneração dos empregados” (JORGE, 2007:19). Três perspectivas tiveram importante contribuição em toda essa mudança. A primeira perspectiva está voltada para o “modelo japonês de produção”, também conhecido como “produção enxuta”, que incorpora princípios organizacionais como o Just-in-time, a qualidade total, o processo de melhorias contínuas e as equipes autônomas. (SOUZA, 2005:20) A segunda perspectiva leva em consideração as transformações no contexto socioeconômico. “Os processos de negócios estão sendo impactados por parâmetros financeiros advindos do mercado de capitais” (SOUZA, 2005). Por fim, a terceira perspectiva tenta compreender as transformações no mundo pela Revolução Tecnológica. “É a aplicação do conhecimento e da informação para a geração de conhecimento e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre inovação e uso” (CASTELLS, 2000, in: SOUZA, 2005). A partir daqui, o capital humano passou a ser diferencial de vantagem competitiva, uma vez que apenas indicadores financeiros não eram mais suficientes para gerar valor econômico para as corporações. No entanto, entre os diferentes aspectos do meio profissional, a remuneração é um dos mais importantes para o trabalhador, pois estabelece a sua posição na comunidade e, na maioria dos casos, constitui o seu único meio de sobrevivência. Na tentativa de aperfeiçoar o sistema de remuneração, no século passado boa parte das empresas continuava buscando formas para controlar os custos com salários. Porém, um compromisso de adicional ao pagamento por antiguidade foi estabelecido em muitas classes e os funcionários passaram a ter como “líquido e certo” o direito ao recebimento de um aumento salarial anual, o que ocasionou o fracasso do sistema de pagamento por mérito. Apenas no início da década de 1990 é que as empresas passaram a buscar um maior envolvimento do trabalhador e a estimulá-lo para o desenvolvimento de novas competências. Isso só foi possível graças a um longo processo de mudança de crenças, de valores e de cultura organizacional. Daí surge a remuneração por competências, onde o trabalhador passa a ser avaliado mediante: seus conhecimentos, suas habilidades e suas atitudes. 37 CAPÍTULO 4 Sistema Tradicional de Remuneração Apesar das grandes mudanças ocorridas nas organizações, a maioria das empresas remunera seus funcionários pelo conjunto de tarefas que lhes são atribuídas. Para remunerar com justiça e equidade os ocupantes de um cargo, é preciso calcular o valor desse cargo em relação aos demais cargos da organização e também a situação do mercado de salários. A administração de salários envolve um conjunto de critérios que visam a estabelecer estruturas salariais equitativas, considerando o valor agregado dos salários. No sistema de remuneração funcional, é preciso conhecer bem o conjunto de atividades necessárias para que a empresa atinja seu objetivo e dividir a tarefa total em tarefas menores para chegar à atividade a ser executada. Assim, se, para cada posição existe um rol de atividades para um dado empregado e esse conjunto de atividades é comum a vários funcionários, nada mais justo do que remunerá-los da mesma forma. O valor agregado não se faz pelo trabalhador em si, mas pela descrição precisa e detalhada das atividades que compõem o cargo. [...] Assim, ao empregado que busca realizar um trabalho benfeito cabe a reprodução eficiente do trabalho prescrito (SOUZA, 2005:38). A maior dificuldade de uma empresa para implementar esse sistema de remuneração é a ausência de um instrumento realmente objetivo de mensuração que satisfaça a todos e que meça o quanto vale um trabalho em termos monetários. No entanto, para se implementar esse tipo de remuneração em uma empresa, dois fatores devem ser avaliados: o valor do cargo na empresa, que visa a “medir a contribuição do cargo para o alcance do objetivo organizacional” (SOUZA, 2005) e o valor do cargo no mercado de trabalho. Segundo Jorge (2007), alguns fatores, internos e externos, condicionam a formação da massa de remuneração. No âmbito interno, podem-se considerar a tecnologia, a saúde financeira, o custo da mão de obra em relação ao faturamento, a avaliação e a hierarquização dos cargos, os grupos internos de influência e os costumes baseados em crenças relacionadas ao estágio de desenvolvimento da organização. No âmbito externo, consideram-se a situação geográfica, a conjuntura econômica, o governo, os sindicatos, os paradigmas de grandes empresas, os componentes éticos e psicossociais. Após associar as informações obtidas nos dois processos, é possível definir a política salarial da organização e implementar o Plano de Cargos e Salários (PCS). A seguir, faremos uma breve apresentação sobre alguns métodos tradicionais. Entretanto, falaremos mais adiante sobre esses métodos quando tratarmos da Fase de Elaboração: avaliação dos cargos. 38 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Método do Escalonamento Também chamado de job ranking é um método de comparação simples e que consiste em dispor os cargos num rol crescente ou decrescente em relação a algum critério de comparação. Inicia-se com uma descrição e análise em relação aos cargos (habilidades necessárias, escolaridade requerida, conhecimentos exigidos etc.) e em seguida compara-se os cargos. O próprio rol serve como padrão para diferenças de remuneração. Ao invés de se comparar cargo a cargo com o critério escolhido, compara-se cargo a cargo com o cargo de referência que melhor o representa. Método das Categorias Predeterminadas Também chamado de job comparation é uma variação do método do escalonamento. Esse método consiste em separar inicialmente os cargos a serem comparados em conjuntos de cargos (categorias predeterminadas) que possuem determinadas características em comum. Chiavenato (2005) assevera que as duas categorias mais utilizadas na prática são os cargos mensalistas e os cargos horistas. Os cargos mensalistas são subdivididos em cargos de chefia e cargos de execução. Os cargos horistas são divididos em especializados, qualificados e não qualificados. Método da Comparação de Fatores Também chamado de factor comparision, compara os cargos em relação a fatores de avaliação previamente definidos. O primeiro passo é a escolha dos fatores de avaliação. Exemplos: »» requisitos mentais: exige aspectos intelectuais – escolaridade, experiência anterior, iniciativa etc.; »» habilidades requeridas: exige habilidades manuais ou mentais, concentração etc.; »» requisitos físicos: exige compleição física que o cargo irá requerer do seu ocupante; »» responsabilidade: impostas pelo cargo em razões como: supervisão de pessoas, responsabilização por máquinas e equipamentos, cofres, informações confidenciais etc.; »» condições de trabalho: impostas pelo contexto em que o cargo é ocupado, como: ambiente físico, riscos envolvidos etc. Método de Avaliação por Pontos Também chamado de point rating, compara os cargos em relação aos graus exigidos em cada fator de avaliação. Os fatores são definidos quanto a sua importância na estrutura dos cargos, divididos em graus e estes são transformados em uma escala de pontos para proporcionar uma avaliação quantitativa. Os cargos são comparados em relação a cada fator de avaliação e o resultado é transformado em pontos, visando a avaliação quantitativa. Essa comparação é feita por meio de um formulário denominado matriz 39 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO de avaliação de cargos. Ao somar os pontos de avaliação em cada um dos fatores de avaliação da matriz, obtém-se a avaliação final de cada cargo, que tem um valor de pontos a ele atribuído. Pesquisa Salarial É uma pesquisa de mercado de salários para averiguar os valores salariais pagos pelas outras empresas. Baseia-se em uma amostra representativa dos cargos (na empresa e no mercado pesquisado). As empresas podem ser escolhidas pelo seu ramo de atividade, setor de mercado, localização geográfica, tamanho ou política de remuneração. Os questionários são aplicados e os resultados são tabulados para serem distribuídos entre as empresas participantes da pesquisa. 40 CAPÍTULO 5 Sistemas Contemporâneos de Remuneração Com o decorrer dos anos, o sistema de remuneração foi se adaptando às necessidades das empresas e de seus funcionários. A partir dessas necessidades, surgiu o conceito de remuneração total. A remuneração total é constituída de três componentes principais. São eles: remuneração básica, incentivos salariais (remuneração variável) e benefícios. Figura 5 – Os três componentes da remuneração total Remuneração Total Remuneração Básica »» Salário mensal ou »» Salário por hora Incentivos Salariais »» Bônus »» Participação nos Resultados etc. Benefícios »» Seguro de vida »» Seguro saúde »» Refeições subsidiadas etc. Fonte: Chiavenato (2004:257). Vamos nos ater aos incentivos salariais, que constituem o diferencial do Sistema de Remuneração Contemporânea. Remuneração Variável “Remuneração variável é a parcela da remuneração total creditada periodicamente [...] a favor do funcionário” (CHIAVENATO, 2004:291). O principal papel desse novo conceito é vincular a remuneração ao desempenho, ao alcance de objetivos, além de “refletir a valorização das competências dos profissionais, sua evolução na carreira e sua capacidade de gerar valor para a organização” (SOUZA, 2005: 96). Segundo Souza (2005), existem dois grandes tipos de remuneração variável que o mercado costuma utilizar: os incentivos de curto prazo e de longo prazo. 41 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Figura 6 – Exemplo de incentivos em curto prazo TIPO DESCRIÇÃO Este programa prevê a avaliação em curto prazo, mediante um conjunto de indicadores e metas previamente acordados, sendo o pagamento do bônus efetuado após a apuração dos resultados. O valor pago é em dinheiro. Bônus e prêmios Participação nos lucros ou resultados Este tipo de programa segue a mesma lógica dos bônus ou prêmios, contudo sua prática foi consagrada no Brasil por meio da Lei no 10.101, que disciplina a maneira como esse incentivo deve ser implementado e estabelece incentivos de redução de encargos trabalhistas para as empresas que adotarem o modelo. Comissionamento Programa de incentivo focalizado na força de vendas. Na sua abordagem tradicional, implica o pagamento de um percentual sobre as vendas realizadas. Prêmio de vendas Programa também voltado para a força de vendas. Prevê o estabelecimento de indicadores e metas para a equipe de vendas e o pagamento de um bônus mediante o alcance ou a superação dessas metas. Tem como objetivo incentivar não apenas a geração de volume de receita, mas a realização de outros objetivos importantes para a equipe de vendas, como a redução da inadimplência, a conquista de market share, o desenvolvimento de novos clientes e mercados etc. Fonte: Souza (2005:105-106). Figura 7 – Exemplos de incentivos em longo prazo TIPO Participação acionária DESCRIÇÃO Opções de ações – o profissional tem o direito de adquirir no futuro, a um preço predeterminado, um número específico de ações da empresa. Compra de ações – a empresa concede a determinados profissionais o direito de adquirir ações da própria empresa, no ato da adesão ao programa e para pagamento em data posterior. Ações virtuais Este modelo garante a oportunidade de receber no futuro um “valor” correspondente a certo número de ações da empresa. Não se trata da transferência dessas ações, mas, sim, de pagamento relacionado à valorização das ações no momento do pagamento. Bônus diferido A avaliação dos resultados está atrelada a um período menor que o do pagamento do bônus, pois parte do bônus do executivo é diferido por certo período. O valor pago é em dinheiro. Bônus em longo prazo Este programa prevê a avaliação de resultados de longo prazo e o pagamento do bônus após a apuração dos resultados. O valor pago é em dinheiro. Por que a Remuneração Variável é tão Utilizada Atualmente? A retenção de talentos tornou-se um grande desafio para os gestores. Não adianta saber recrutar, selecionar e treinar se não puder reter as pessoas que irão envidar esforços no dia a dia da organização. Ademais, a remuneração variável serve como compensação pelo bom desempenho alcançado pelo colaborador. 42 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Desempenhos possuem uma “ligação direta” com estímulos e consequentemente com a motivação das pessoas. Chiavenato (2005 apud HERZBERG) explicita os fatores higiênicos e motivacionais. Veja no quadro a seguir. Quadro 8 – Fatores Higiênicos e Fatores Motivacionais FATORES HIGIÊNICOS FATORES MOTIVACIONAIS Extrínsecos ou Ambientais Intrínsecos à Pessoa »» Políticas da organização »» Realização pessoal »» Salário »» Reconhecimento »» Benefícios »» Responsabilidade »» Condições de trabalho »» Trabalho em si »» Estilo de supervisão »» Crescimento pessoal »» Relações interpessoais »» Avanço na carreira »» Status »» Segurança no Trabalho Fonte: Chiavenato (2005) Os fatores higiênicos, quando excelentes, evitam a insatisfação no trabalho; enquanto os fatores motivacionais, quando excelentes, aumentam a satisfação no trabalho. Mas a questão é: o que promove a retenção de talentos? Segundo Camila Micheletti (<http://carreiras. empregos.com.br/comunidades/rh/noticias/171002-pesquisa_retencao_talentos.shtm> – acesso em julho de 2012), De acordo com uma pesquisa publicada recentemente pela Right Saad Fellipelli, empresa de recursos humanos de abrangência mundial, este índice mostrou-se bem abaixo do esperado: apenas 13,79% possuem um programa formal de retenção. Realizada com mais de 300 executivos de diversas áreas de atuação, a pesquisa quis mostrar um panorama real sobre a existência ou não de programas estruturados de retenção de talentos nas empresas. Enquanto 37,93% desses profissionais afirmaram que suas empresas possuem um programa de retenção de talentos estruturado, 27,59% das empresas não possuem nenhuma sistemática para a permanência de executivos e 20,69% possuem apenas uma análise informal. A soma destes dois últimos percentuais mostra que quase 50% da amostra não possui um programa formalizado, o que pode ser uma surpresa para muita gente. Eduardo Mayer Fagundes, por meio do site <http://www.efagundes.com/artigos/Como%20Reter%20 Talentos.htm> – acesso em julho de 2012, lista os mais importantes anseios dos jovens talentos: »» Estarem envolvidos em constantes desafios profissionais. »» Rápido crescimento profissional, trabalhando duro no início da carreira para ter condições financeiras de fazer o que gosta ainda na juventude. 43 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO »» Ter autonomia para tomadas de decisão. »» Ser bem-remunerado por sua contribuição direta à empresa. »» Oportunidade de trabalhar no exterior para se tornar um profissional globalizado. »» Desenvolver o aprendizado em duas ou mais línguas. »» Possuir um alto nível de empregabilidade. »» Ter coaching para o desenvolvimento da carreira profissional. É fácil perceber que o fator remuneração (“ter condições financeiras...” e “ser bem-remunerado...”) – embora não seja hoje o principal componente – ainda é um fator muito importante para as aspirações de talentos, especialmente entre os jovens. Nesse sentido, a remuneração variável desponta como um importante componente. Prós e Contras da Remuneração Variável Segundo Chiavenato (2004:291), o sistema de remuneração variável apresenta as seguintes vantagens e desvantagens. Prós »» Ajusta a remuneração às diferenças individuais das pessoas, ao seu desempenho e ao alcance de metas e resultados. »» Funciona como motivação intrínseca, ou seja, como fator motivacional, dando ênfase à autorrealização pessoal. »» Premia o bom desempenho e incentiva o desempenho excepcional. »» Focaliza os resultados e o alcance de objetivos. »» Permite uma autoavaliação de cada pessoa, pois funciona como retroação. »» Estabelece uma remuneração adicional e contingencial. »» Não produz impacto sobre os custos fixos da organização Contras »» Requer certa “des-administração” salarial. »» Altera as estruturas salariais lógicas e rigidamente estabelecidas, instalando a contingência em função do desempenho. »» Quebra a isonomia dos ganhos dentro da organização. »» Reduz o controle centralizado dos salários. »» Pode provocar queixas dos funcionários não beneficiados e possíveis pressões sindicais 44 CAPÍTULO 6 Plano de Cargos e Salários “O Plano de Cargos e Salários é caracterizado pela determinação dos salários em função da obtenção de determinado equilíbrio interno e externo em um sistema cartesiano” (JORGE, 2007:20). Para o Plano de Cargos e Salários – PCS atingir o equilíbrio interno, é necessário que a diferença salarial entre os cargos seja proporcional às tarefas exigidas de cada ocupante. Quanto ao equilíbrio externo, é necessário que os valores pagos internamente se comparem aos praticados no mercado. As etapas e a elaboração de um Plano de Cargos e Salários são as seguintes: Fase de preparação »» Diagnóstico Organizacional »» Planejamento »» Divulgação Fase de elaboração »» Análise e Descrição de Cargos »» Avaliação de Cargos »» Pesquisa Salarial »» Montagem da Estrutura Salarial »» Definição da Política e das Normas Fase de Implantação »» Disseminação das Políticas e das Normas junto aos Gestores »» Divulgação aos Empregados Fase de Preparação Diagnóstico organizacional Não se trata de um diagnóstico profundo, mas de um levantamento de informações importantes sobre o contexto da empresa. 45 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Jorge (2007) cita alguns pontos que devem ser necessariamente identificados. »» Histórico da empresa »» Estrutura organizacional »» Sistema de remuneração vigente, sistematizado ou empírico »» Nível de insatisfação com o sistema vigente »» Cargos utilizados e dispersão salarial »» Reclamações trabalhistas com foco em cargos e salários »» Tentativas anteriores de sistematização da administração de salários »» Sistema de comunicação usual »» Relações com o sindicato – histórico de greves »» Visão dos trabalhadores sobre o assunto »» Existência de representações internas »» Estágio de desenvolvimento organizacional »» Principais valores da organização »» Centros de poder »» Demandas motivacionais predominantes »» Motivos determinantes da decisão de se desenvolver o sistema Planejamento do PCS A implementação do PCS deve ser planejada de modo a prever as ações em cada etapa do trabalho e a preparação do material necessário. Jorge (2007:25) sugere alguns itens que devem ser enfocados em cada etapa de desenvolvimento do projeto. »» Divulgação: formas, meios, material necessário. »» Análise e Descrição de Cargos: metodologia de levantamento, treinamento de equipe de análise, elaboração de material de coleta de informação, cronograma específico de cada etapa, modelo de descrição a ser adotado, sistema de banco de dados e recursos de informática. »» Avaliação dos Cargos: metodologia a ser usada, definição do número e da constituição dos comitês de avaliação, infraestrutura necessária, treinamento e detalhamento do cronograma. »» Pesquisa Salarial: mercado referencial, recursos de informática disponíveis para tabulação, necessidade de treinamento da equipe, recursos logísticos e detalhamento do cronograma. 46 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II »» Demais etapas: recursos de informática disponíveis para realização de estudos estatísticos e definição de cenários de enquadramento e custos. Divulgação e envolvimento dos empregados Para se garantir o sucesso na implementação do PCS, é necessário que o assunto seja amplamente divulgado, a fim de que não sejam criadas falsas expectativas e que a credibilidade seja garantida. A divulgação pode ser feita por meio de cartilhas explicativas, de jornal interno, de quadro de avisos, de comunidades etc. É importante, também, que haja uma comissão de acompanhamento do projeto. A divulgação deve ocorrer no momento certo, para não gerar expectativas muito elevadas. Por melhor que seja o plano, as pessoas tendem a se decepcionar quando introjetam falsas expectativas. Para explicar isso, recorremos a um dos princípios que o marketing utiliza para mensurar o nível de satisfação dos clientes. Basta substituir a palavra “cliente” por “colaborador”, que o efeito será o mesmo. Figura 8 – Níveis de Expectativas NÍVEIS EXPECTATIVA RESULTADO 1 RESULTADO 2 RESULTADO 3 CLIENTE INSATISFEITO CLIENTE SATISFEITO CLIENTE ENCANTADO 140 120 100 80 60 40 20 O problema de elevar muito o nível da expectativa é que, nesse exemplo, caso o colaborador esperasse o nível 100, o resultado 2 já não o satisfaria. Dito isso, resta-nos incentivar que a divulgação seja feita como um “marco” na história da empresa, com todos os detalhes que caracterizam um grande evento. Fase de Elaboração Análise e Descrição de Cargos É considerada uma das fases mais importantes do processo, “pois é nela que se processa a construção do alicerce do sistema, por meio da identificação, do mapeamento e do resumo das tarefas e das operações inerentes a cada cargo” (JORGE, 2007:27). 47 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Delineamento de cargos Vejamos alguns conceitos de cargo: “É um conjunto de funções de mesma natureza e complexidade” (SOUZA, 2005 39). “Posto de trabalho ou conjunto de postos de trabalho que apresentam identidade quanto à natureza das tarefas e às exigências para sua execução” (JORGE, 2007:28). Os cargos são delineados de acordo com a estrutura da organização. Se a estrutura organizacional é predominantemente mecânica, os cargos serão delineados com tarefas padronizadas e rotineiras, buscando manter sempre a estabilidade do ambiente, dos processos e da tecnologia. Por outro lado, a modelagem orgânica valoriza a instabilidade do sistema como fator de evolução. Os cargos são concebidos levando-se em consideração não apenas a tarefa, mas as estratégias, os processos, a estrutura, as pessoas [...], busca-se uma mínima formalização de tarefas, o enfoque é na resolução de problemas e o grau de autonomia do ocupante cresce (SOUZA, 2005:40). Segundo Souza (2005), o processo de delineamento dos cargos leva em consideração cinco etapas. »» Levantamento e análise de funções: levantamento das funções que compõem cada cargo. Geralmente é feito por meio de entrevistas, de questionários, de testes e de observação local. »» Estruturação: podem ser estruturados em cargo amplo, com maior número de tarefas, responsabilidades e desafios, além de ser mais flexível e permitir maior aproveitamento das potencialidades dos funcionários, ou cargo restrito, que caracteriza a modelagem organizacional mecânica. »» Titulação: nome do cargo: É o rol de cargos que constam nos registros funcionais e nas carteiras de trabalho. O nome deve ser descritivo, breve e de fácil uso. »» Descrição de cargos: refere-se ao cargo, às tarefas a serem realizadas. É impessoal e deve ser feita de forma organizada e padronizada. »» Especificação de cargos: definição de quais são os requisitos mínimos para que o ocupante desempenhe bem suas atribuições. Fazem parte da especificação o grau de escolaridade, a experiência mínima necessária, a iniciativa e as responsabilidades. Técnica de análise de cargos Entrevista É a mais complexa devido aos decorrentes problemas de comunicação entre o entrevistador e o entrevistado. Podem ser assim classificadas. »» Diretiva: o entrevistador tem o controle rígido da palavra. As perguntas são específicas e limitadas. 48 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II »» Não diretiva: o entrevistado pode divagar sobre vários assuntos. É demorada e pode apresentar uma grande quantidade de informações dispersas. »» Padronizada: é um misto das anteriores, sendo que algumas questões são direcionadas de forma mais rígida, mas sem privar as manifestações dos entrevistados. É o tipo mais adequado, “pois garante o envolvimento do entrevistado, sem perder o foco no objetivo desejado” (JORGE, 2007:29). Questionário Consiste em um roteiro de levantamento de dados por meio de questões abertas e fechadas para serem respondidas de forma abrangente, rápida e participativa. É importante que os objetivos do questionário precedam sua distribuição e orientação. Deve ser elaborado de forma clara, com todos os dados necessários e com as instruções precisas para seu preenchimento. Observação Esta técnica, se utilizada isoladamente, é indicada, apenas, para a análise de cargos de processos lineares de produção, pois apresenta o inconveniente de não envolver adequadamente o profissional que executa as tarefas. Métodos combinados Esta técnica caracteriza-se pela combinação das técnicas anteriores, buscando-se aproveitar as vantagens e minimizar as desvantagens delas. Jorge (2007:31-32) recomenda a utilização da combinação Questionário/Entrevista com a seguinte sequência de ações. »» Reconhecimento das funções da área, divisão dos trabalhos, identificação dos postos de trabalho e dos respectivos ocupantes. »» Elaboração do organograma funcional da área e identificação de postos de execução individual e coletiva. »» Distribuição dos questionários (apenas um por posto individual ou coletivo), orientação e designação do relator. »» Preenchimento do questionário pelo relator e complementação pelos demais ocupantes, em se tratando de posição coletiva. »» Recolhimento do questionário, análise e elaboração de esboço da descrição. »» Entrevista com o relator, para esclarecimento e complementação de dados. »» Entrevista com o supervisor, para complemento e validação das informações. 49 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Fatores de caracterização e diferenciação Além das informações sobre a tarefa, é importante ter bem-definidas as exigências para que uma pessoa possa exercê-la. A figura a seguir demonstra as exigências mais comuns. Figura 9 – Exigências mais Comuns Instrução REQUISITOS MENTAIS Experiência Complexidade das tarefas Iniciativa necessária Supervisão ou coordenação exercida Material, ferramentas, equipamentos etc. Valores, dinheiro, títulos, documentos Contatos: Internos e Externos RESPONSABILIDADE POR Informações confidenciais Efeito de erros Ambiente de trabalho, riscos INCONVENIÊNCIAS Esforço físico Esforço mental/visual Fonte: Jorge (2007:32). Descrição de cargos No passado, a descrição de cargos era um relato pormenorizado de todas as tarefas de um cargo, o que acabava “engessando” a atuação do empregado. Com o avanço tecnológico e as grandes mudanças nas organizações, a divisão do trabalho passou a ser feita de forma mais genérica, multifuncional, polivalente e flexível, permitindo aos funcionários uma maior liberdade na execução de tarefas. Ainda assim, não podemos desprezar o desenho dos processos que compõem as atividades. Ao contrário, o desenho, a análise e o redesenho de processos são elementos fundamentais para se colocar as pessoas certas nos lugares certos. Quando falamos em desenho de processos, estamos nos referindo às tradicionais perguntas: “o que você faz”, “como você faz” e “para quem você faz”. As respostas a essas três perguntas são suficientes para se começar a desenhar os processos organizacionais. Após esse verdadeiro mapeamento, é possível analisar os chamados “gargalos”, que obstruem os processos. O ato de acabar com esses gargalos, contornando-os ou mudando inteiramente as vias obstruídas, dá origem ao que denominamos redesenho dos processos. A gestão de processos, portanto, tem um papel preponderante na descrição de cargos. Ela assegura que os cargos sejam descritos adequadamente e preenchidos por pessoas certas. Ao incentivar a gestão de processos, antes mesmo da elaboração dos planos de cargos e salários, evita-se que os cargos sejam criados para atender às pessoas. O certo é fazer o contrário. 50 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Avaliação de Cargos Podemos definir Avaliação de Cargos como um processo comparativo que objetiva mensurar o peso de cada cargo em função de seus requisitos e de suas características, com a finalidade de hierarquizá-los em função de seu valor relativo (JORGE, 2007:48). Ainda, segundo Jorge (2007), os principais objetivos da Avaliação de Cargos é estabelecer uma estrutura de valor relativo, baseada na qualificação exigida pelo cargo, com uma visão clara das oportunidades de carreira, e evitar a determinação de salários de forma arbitrária. Assim, o cargo na organização seria compensado de forma equitativa. Conjunto de cargos-chave O conjunto de cargos-chave é de grande representatividade tanto para o ambiente interno quanto para o ambiente externo da empresa, pois “inclui os cargos que representam as diversas áreas da empresa, com salários distribuídos, sem concentrações excessivas, ao longo da estrutura em vigor”(SOUZA, 2007:48). Métodos de avaliação de cargos Os sistemas para avaliar os cargos podem ser quantitativos ou não quantitativos. Os sistemas não quantitativos podem ser o método de escalonamento e o método de graus predeterminados. Eles não avaliam os cargos por fatores de avaliação, mas em um contexto global. O método de graus predeterminados é um aperfeiçoamento do método de escalonamento, pois é feito com uma escala de comparação, o que estabelece valor relativo aos cargos. Por outro lado, os sistemas quantitativos hierarquizam os cargos por fatores de avaliação e podem ser feitos por meio do sistema de comparação de fatores, que define os cargos, escalonando fator a fator, ou pelo sistema de pontos, que atribui a importância ao cargo, de acordo com uma pontuação. Este sistema reúne vários atributos favoráveis: objetividade, passível de quantificação e de tratamento estatístico, de fácil entendimento, além da sua adaptabilidade a diferentes tipos de organizações com objetivos, mercado e porte distintos (SOUZA, 2005:43). Método de avaliação por escalonamento Este método tem como base a confrontação de cargo contra cargo. Os cargos são hierarquizados de acordo com sua dificuldade de execução ou seus valores relativos para a empresa. Sua aplicação consiste em um processo simples e rápido, mas com baixa confiabilidade, devido à subjetividade do método, por isso é viável apenas em organizações muito simples. Exemplo de avaliação de cargos pelo método de escalonamento (comparação aos pares): A seguir, você encontrará um conjunto de 14 cargos, todos eles relacionados em uma tabela, para serem comparados aos pares. Acompanham, também, as respectivas descrições de cargo. Na tabela de 51 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO comparação aos pares, procure estimar, comparando o conteúdo das descrições, o cargo de maior peso em cada par. Anote um “X” na coluna do cargo escolhido. Após escolher um cargo em cada um de todos os pares, some quantas vezes cada cargo foi escolhido, acrescente 1 e indique o resultado na coluna da direita do quadro. Quadro 9 – Conjunto de cargos-chave CARGO ÁREA ANALISTA DE CUSTOS SR ANALISTA DE LABORATÓRIO ARQUIVISTA AUDITOR AUXILIAR DE RECURSOS HUMANOS COMPRADOR I AUXILIAR DE ESCRITÓRIO ENGENHEIRO ESTOQUISTA MOTORISTA ANALISTA DE RECURSOS HUMANOS PL SECRETÁRIA DE GERÊNCIA SECRETÁRIA DE DIRETORIA BILINGUE TELEFONISTA FINANCEIRA TÉCNICA ADMINISTRATIVA FINANCEIRA REC. HUMANOS MATERIAIS ADMINISTRATIVA TÉCNICA MATERIAIS ADMINISTRATIVA REC. HUMANOS ADMINISTRATIVA ADMINISTRATIVA ADMINSTRATIVA X X X X X X Arquivista Auditor X X X Auxiliar de Rec. Humanos Comprador I X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Auxiliar de Escritório Engenheiro X X X Estoquista X Motorista X Analista de Rec. Huma. PL X Secretária de Gerência Secretária de Diretoria BI X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Telefonista X X X X 11 X 8 X 3 X 13 X 5 X 12 X 2 X 14 X 6 X 4 X 10 X 7 X 9 1 Fonte: Jorge (2007: 52). 52 X Total Secretária de Gerência X Telefonista Analista de Rec. Huma. PL X Secretária de Diretoria BI Motorista X Estoquista X Analista de Laboratório X Engenheiro X Auxiliar de Escritório X Comprador I Auxiliar de Rec. Humanos X Auditor Arquivista Analista de Custos SR Analista de Laboratório Cargos-Chave Analista de Custos SR Quadro 10 – Tabela de comparação aos pares SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Para mensuração dos demais cargos da empresa, após esta etapa, monta-se o quadro setorial de avaliações. Quadro 11 – Setorial de avaliações (Cargos em maiúsculas são cargos-chave) PONT. REC. HUM. 14 TÉCNICA MATERIAIS ENGENHEIRO Ass. Econômico AUDITOR Na. Sistemas 13 Analista RH Sr. Analista planejamento Sr. 12 Pesquisador Ass. Trabalhista Tec. Produção Tec. Cont. Qual. 11 Ass. Sindical Tec. Telecom. Almoxarife I 10 ANALISTA RH PL Nutricionista Des. Projetista Comprador II 9 Ass. Rec. Hum. Na. Temp. Mov. 8 Recrutador AN. LABORAT. Inspetor. Qual. I Aux. Testes 5 AUX. REC. HUM. 4 Aux. Enfermagem Contr. Produção Inspetor. Qual. II AN. CUSTOS An. Contábil Programador SECR. DIR. BI Almoxarife II Aux. Comprador ADMINIST. Tec. Orçamento Contr. Materiais Ass. Contabil Oper.Comput. Caixa Des. Detalhista 6 Ass. Administr. SECR. GER. ESTOQUISTA Aux. Contábil Des. Copista 3 2 COMPRADOR I Cronometrista 7 FINANCEIRA Aux. Estoque Rec. Materiais Digitador MOTORISTA ARQUIVISTA Amostrador 1 TELEFONISTA Fonte: Jorge (2007:54). Método por graus predeterminados Por também ser um método não quantitativo, o método de graus predeterminados apresenta alta subjetividade e baixa confiabilidade. Este método já caiu em desuso nas empresas privadas, mas ainda é usado nos Serviços Públicos de Administração Direta, que possuem um número exagerado de cargos. “Tem como base a confrontação entre cargos e uma tabela de graus previamente determinados com base nas constatações de níveis de exigência existentes na empresa” (JORGE, 2007:55). 53 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Figura 10 – Exemplo de escala de graus predeterminados GRAU/ QUALIFICAÇÃO ESPECIFICAÇÃO I Não Qualificados Executa tarefas simples e repetitivas, executando-as sob supervisão constante. Passíveis de aprendizado rápido, envolvendo responsabilidades diminutas ou quase nulas. II Semiqualificados Executa tarefas repetitivas e rotineiras que exigem habilidades obtidas em experiência prévia. O ocupante executa ações simples de forma independente. Exigem atenção normal na execução das tarefas, para não causar retrabalho. Trabalha sob supervisão direta. III Qualificados Executa tarefas que exigem conhecimentos específicos associado com experiência prática de 3 a 4 anos. Trabalha de forma mais independente, discutindo com o supervisor as soluções encontradas, envolvendo responsabilidades médias sobre o patrimônio da empresa. IV Altamente Qualificados Executa tarefas que exigem conhecimento específico associado com extensa experiência prática de 5 a 8 anos. Trabalha de forma mais independente, informando ao supervisor as soluções encontradas, envolvendo responsabilidades substanciais sobre o patrimônio da empresa. V Técnicos e De Supervisão Executa tarefas que exigem conhecimentos acadêmicos seguidos de experiência e/ou treinamento específico especializado. O ocupante desenvolve trabalhos que exigem capacidade de planejamento, iniciativa, ação independente, criatividade e tomada de decisão. A supervisão de seu trabalho é geral. Poderá coordenar equipes relacionadas à sua área de eficácia. As decisões e recomendações podem afetar substancialmente os resultados e o patrimônio da empresa. VI Alta Chefia Cargos que exigem, além de formação superior e curso de extensão, grande experiência e familiarização com uma das áreas de gestão da empresa. Ocupações com responsabilidade e nível de decisão que podem afetar os destinos da empresa. Fonte: Jorge (2007:55-56). Método por pontos O método de avaliação por pontos é um método quantitativo e estabelece uma “importância relativa dos cargos com uma pontuação, produto da avaliação de cada cargo, segundo os fatores de avaliação de cargos da empresa” (SOUZA, 2005:43). É um método objetivo que permite quantificação e, portanto, tratamento estatístico, de fácil entendimento, além de grande adaptabilidade a diversos tipos de empresas. Segundo Jorge (2007:56-57), a aplicação do método de avaliação por pontos segue os seguintes passos. »» Identificação com base nas informações obtidas na etapa de análise de cargos, dos fatores de avaliação, ou seja: dos requisitos, das exigências e das inconveniências que diferenciam os cargos, correlacionando-os com os salários pagos. »» Montagem do manual de avaliação. »» Avaliação qualitativa dos cargos-chave. »» Identificação das médias de mercado dos cargos-chave (dados obtidos na pesquisa salarial). »» Estudo de regressão para ponderação e pontuação do manual – tentativas sucessivas de ponderação até a obtenção do menor erro estatístico (<10%) e a maior correlação global (>0,85). 54 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II QUADRO 12 – Método por pontos PONTOS A hierarquização de cargos se dá em função do somatório de pontos obtidos pelo cargo quando de sua avaliação nos diversos graus de fatores de avaliação. Grau Fator 1 2 3 4 5 6 Formação acadêmica 17 30 54 95 170 – Complexidade 23 36 58 92 145 230 Experiência 30 53 95 169 300 – Iniciativa 20 32 50 80 126 200 Resp. erro tec. 10 18 32 56 100 – Fonte: Souza (2005: 45). Pesquisa Salarial A pesquisa salarial é o processo pelo qual se obtém informações de um segmento de mercado de trabalho sobre os valores pagos a determinados cargos, práticas e políticas de recursos humanos adotadas pelas organizações, objetivando a identificação de indicadores para a montagem ou o acompanhamento das estruturas salariais da empresa, para a reavaliação de suas práticas e políticas para o setor (JORGE, 2007:67). A pesquisa salarial deve levar em consideração a precisão e a veracidade dos dados, devendo ser feita uma análise criteriosa destes, para consolidá-los e para dar consistência às ações de gestão da remuneração interna. As empresas participantes devem ser concorrentes no produto ou serviço, concorrentes na mão de obra, de forma que estejam localizadas na mesma região e, preferencialmente, que sejam grandes, conhecidas e organizadas. Souza (2005) cita três etapas importantes para a pesquisa salarial: planejamento, execução e relato. Planejamento Esta etapa objetiva definir o que e como será a pesquisa. Acontece em três momentos. »» Delimitação de abrangência do mercado: que empresas irão fazer parte da amostra. Preferencialmente empresas que estejam na mesma região, de grande porte, organizadas e concorrentes no produto ou serviço e na mão de obra. »» Definição dos cargos que serão alvo de pesquisa: não se deve pesquisar um número excessivo de cargos. Deve-se dar preferência àqueles que são representativos na estrutura, bem-definidos, universais e estáveis salarialmente. 55 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO »» Definição de como os dados serão coletados e tratados: os dados coletados irão oferecer subsídios para a comparação entre as empresas pesquisadas, por isso é fundamental que sejam precisos. Jorge (2007) sugere que a coleta de dados seja composta dos seguintes itens. »» Relação das empresas participantes. »» Relação dos cargos a serem pesquisados e dos respectivos códigos. »» Instruções para preenchimento dos formulários. »» Formulário para coleta de informações sobre: razão social, endereço, telefone, responsável pela área de salários/RH, responsável pelas informações, número de funcionários, data-base para aumento coletivo, antecipações salariais (data e percentual), número de salários anuais. »» Planilha para coleta de informações salariais contendo campos para: faixa salarial (mínimo, médio, máximo), jornada diária de trabalho (HS), tipo de remuneração (horista, mensalista), frequência (número de funcionários), salários, título do cargo na empresa pesquisada, código e características (escolaridade e experiência exigidas) e salários indiretos. »» Questionário sobre práticas e políticas de recursos humanos. Fase de Implantação Execução É o momento em que a pesquisa é realizada nas empresas participantes. Os dados coletados são tratados e analisados estatisticamente. A tabulação dos dados deve obedecer às seguintes etapas (JORGE, 2007:78). »» Análise dos dados coletados. »» Equalização das informações para a mesma data, tipo de jornada, número de salários anuais e inclusão de salários indiretos. »» Eliminação de informações inconsistentes. »» Cálculo de medidas de tendência central (média aritmética ponderada, mediana e quartis etc.). »» No caso de uma pesquisa global, a tabulação pode ser feita considerando-se segmentos tais como: região, porte, ramo etc. 56 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Relato dos dados Após realizar a tabulação dos dados, a empresa patrocinadora deve fazer um relato dos resultados obtidos e enviá-lo às empresas participantes da pesquisa. “A vantagem para a empresa participante é o recebimento gratuito de dados do mercado de remuneração, assim como de sua posição específica diante do mercado pesquisado.” (SOUZA, 2005:48). Não podemos deixar de lembrar da importância de se buscar as convenções coletivas dos sindicatos patronais e dos empregados que compõem a organização. Os pisos salariais das categorias devem ser respeitados, ainda que o benchmarking aponte que eles estão acima do que o mercado paga. As pesquisas sindicais, combinadas com o benchmarking, garantem um planejamento mais virtuoso. Todos os domingos, o jornal O Estado de São Paulo publica uma tabela geral de resultados de pesquisas salariais coletados pela Arthur Andersen em 100 empresas, classificando-as em portes e em sete ramos de atividades. O trabalho tem o apoio da Associação Brasileira de Recursos Humanos. Fonte: Chiavenato (2004) 57 CAPÍTULO 7 Remuneração por Competência Vimos, na Unidade I, que a remuneração da competência “busca recompensar aspectos como a polivalência, a multifuncionalidade e o desenvolvimento de habilidades e da maturidade” (JORGE, 2007:121). A remuneração da competência, ou remuneração por habilidades, ou remuneração por maturidade, ou remuneração por polivalência ou multifuncionalidade, surgiu da necessidade de diferenciar empregados com habilidades diversas e tem crescido muito nas empresas que estão procurando novos projetos de reestruturação organizacional, visando à redução de níveis hierárquicos, à democratização das relações e a um maior comprometimento com os resultados. Uma das principais características dessas empresas é a autonomia dos colaboradores, que permite o crescimento contínuo e o desenvolvimento de um espírito empreendedor. Na unidade I, também vimos que o foco é o colaborador e não mais o cargo. A organização contemporânea, orientada para a obtenção de altos níveis de desempenho, passa a buscar profissionais que demonstrem capacidade de autodireção, autocontrole, maior domínio tecnológico, iniciativa, direcionamento estratégico voltado para resultados, orientação para o mercado e, especialmente, visão sistêmica de seu processo de trabalho, entre outras dimensões (SOUZA, 2005:56). Souza (2005) atrela a remuneração às oportunidades de aquisição de novas competências, as quais contribuem para o seguinte. »» Potencializar o atendimento das necessidades motivacionais dos indivíduos. »» Melhorar o ambiente organizacional e o nível de satisfação das pessoas. »» Reduzir o contencioso trabalhista, pela evidência objetiva das habilidades certificadas e das competências avaliadas. »» Criar senso de propriedade dos empregados com sua carreira, saindo da condição de “ocupantes de cargos” ou donos de “uma mesa” para agentes do autodesenvolvimento e coautores de sua carreira, como líderes. »» Fornecer aos líderes instrumentos relevantes para organizar o trabalho e melhorar os resultados globais. 58 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II »» Capacitar os líderes no contínuo e efetivo acompanhamento do processo educacional dos liderados, como seu facilitador. »» Estabelecer um pragmatismo importante quanto ao impacto salarial dos deslocamentos de carreira, que passam a ser vistos não mais como um “custo”, mas, sim, como um investimento. Remuneração por Maturidade A remuneração por maturidade parte do princípio de que os profissionais se desenvolvem por meio do acúmulo de experiências e de habilidades obtidas ao longo do tempo. Jorge (2007:125-128) cita exemplos de fatores que permitem a avaliação da maturidade profissional por pontos. Vejamos as tabelas a seguir. Fator I – Tempo de Experiência Peso 20% CONCEITO – avalia o tempo efetivamente trabalhado, comprovado em anos de trabalho, nas atividades da carreira. GRAU DEFINIÇÃO PONTOS 1 Tempo de experiência de até 1 ano 20 2 Tempo de experiência de mais de 1 ano até 2 anos 24 3 Tempo de experiência de mais de 2 anos até 3 anos 29 4 Tempo de experiência de mais de 3 anos até 4 anos 34 5 Tempo de experiência de mais de 4 anos até 5 anos 41 6 Tempo de experiência de mais de 5 anos até 7 anos 48 7 Tempo de experiência de mais de 7 anos até 9 anos 58 8 Tempo de experiência de mais de 9 anos até 12 anos 69 9 Tempo de experiência de mais de 12 anos até 15 anos 82 10 Tempo de experiência de mais de 15 anos até 18 anos 98 11 Tempo de experiência de mais de 18 anos até 22 anos 118 12 Tempo de experiência de mais de 22 anos até 26 anos 140 13 Tempo de experiência de mais de 26 anos até 30 anos 168 14 Tempo de experiência acima de 30 anos 200 59 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Fator II – Qualidade da Experiência Peso 40% CONCEITO – avalia a qualidade com base nas tarefas realizadas no trajeto profissional. Observa aspectos como: complexidade, diversidade, decisão, responsabilidades, criatividade, liderança etc. GRAU DEFINIÇÃO PONTOS 1 Maior parte do tempo dedicado a atividades repetitivas. 40 2 Maior parte do tempo dedicado a atividades que requeiram seleção e aplicação de normas e técnicas para elaborar pequenas modificações. Tempo mínimo para enquadramento – 3 anos. 63 3 Maior parte do tempo dedicado a trabalhos independentes, lidando com problemas complexos. Tempo mínimo para enquadramento – 5 anos. 100 4 Maior parte do tempo dedicado a trabalhos que impliquem conhecimento amplo e diversificado de técnicas específicas da área. Tempo mínimo para enquadramento – 8 anos. 159 5 Maior parte do tempo dedicado a trabalhos que envolvam interpretações, organização de projetos de grande envergadura e que apresentem problemas únicos e controvertidos. Tempo mínimo para enquadramento – 12 anos. 252 6 Maior parte do tempo dedicado a atividades diversificadas e complexas que exijam alto grau de criatividade e decisões de impacto. Tempo mínimo para enquadramento – 20 anos. 400 Fator III – Cursos de Especialização e Curso Peso 10% CONCEITO – avalia a participação em cursos de especialização, mestrado e doutorado, bem como o título de livre docente. GRAU 60 DEFINIÇÃO PONTOS 1 Participou de cursos de especialização com duração de até 300 horas. 10 2 Participou de cursos de especialização, de congressos e de seminários com duração superior a 360 horas. 16 3 Participou de cursos de Curso (lato sensu) ou de mestrado sem ter defendido tese. 25 4 Possui o título de mestre (stricto sensu) 40 5 Possui o título de mestre e participou de curso de doutorado, sem ter defendido tese. 63 6 Possui o título de doutor ou livre docente. 100 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Fator IV – Trabalhos Publicados Peso 10% CONCEITO – avalia a qualidade de trabalhos publicados no seu campo de atuação profissional. GRAU DEFINIÇÃO PONTOS 1 Não publicou trabalhos no seu campo de atuação profissional. 10 2 Publicou textos didáticos, resenhas e resumos. 16 3 Publicou artigos/textos de conferências que apresentam inovações no seu campo de atuação. 25 4 Publicou artigos e textos de conferências que, além de inovadores, foram objeto de prêmio. 40 5 Publicou monografias, pesquisas/projetos inovadores no seu campo profissional. 63 6 Publicou livro ou tese de doutoramento ou livre-docência. 100 Fator V – Conhecimento de Idiomas Estrangeiros Peso 10% CONCEITO – avalia o conhecimento de idiomas estrangeiros, que facilitam o acesso a publicações não editadas em português, bem como o contato com profissionais de outros países. GRAU DEFINIÇÃO PONTOS 1 Não conhece nenhum idioma estrangeiro. 10 2 Lê outro idioma, excluído o inglês. 15 3 Lê e escreve outro idioma, excluído o inglês, ou lê o inglês. 22 4 Fala e lê outro idioma, excluído o inglês, ou lê e escreve o inglês ou lê outro idioma, inclusive o inglês. 32 5 Fala, lê e escreve outro idioma, excluído o inglês, ou fala e lê o inglês ou lê e escreve outros idiomas, inclusive o inglês. 46 6 Fala, lê e escreve o inglês ou fala e lê outros idiomas, inclusive o inglês. 68 7 Fala, lê e escreve outros idiomas, inclusive o inglês. 100 61 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO FATOR VI – ATIVIDADES DE DOCÊNCIA PESO 10% CONCEITO – avalia as atividades de ensino desenvolvidas em escolas de Nível Superior e o tempo gasto com elas, ministrando cursos de especialização, graduação ou Curso. GRAU DEFINIÇÃO PONTOS 1 Não exerceu atividade de docência. 10 2 Até 2 anos como instrutor em curso de graduação ou especialização. 15 3 Até 2 anos como instrutor em curso de graduação ou especialização ou como instrutor de Curso. 22 4 Mais de 2 até 5 anos como instrutor em curso de graduação ou especialização ou até 2 anos como responsável por Curso. 32 5 Mais de 5 anos como instrutor de curso de graduação e/ou especialização ou mais de 2 até 5 anos como responsável por curso de graduação ou especialização ou mais de 2 até 5 anos como instrutor de Curso. 46 6 Mais de 5 anos como responsável por cursos de graduação e/ou especialização ou mais de 5 anos como instrutor de Curso ou mais de 2 até 5 anos como responsável por Curso. 68 7 Mais de 5 anos como responsável por Curso. 100 CLASSIFICAÇÃO 62 NÍVEL POSIÇÃO PONTOS 1 TRAINEE até 126 2 JÚNIOR 127 a 158 3 JÚNIOR 159 a 200 4 PLENO 201 a 251 5 PLENO 252 a 317 6 SÊNIOR 318 a 398 7 SÊNIOR 399 a 501 8 MASTER 502 a 631 9 MASTER 632 a 794 10 MASTER Mais de 794 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II Remuneração por Polivalência ou Multifuncionalidade Carreiras em espiral A carreira em espiral é uma das melhores opções para atender às necessidades do sistema tradicional de modernizar a distribuição do trabalho. As carreiras são planejadas mediante a preparação e o exercício de postos de trabalho em rodízio periódico em cada fase da espiral, prevendo-se promoções para a fase seguinte, de profissionais com determinado nível de polivalência. O salário cresce à medida que se aumenta o grau de polivalência, de forma a favorecê-la e incentivá-la (JORGE, 2007:129). Figura 11 – Esquema de carreira em espiral OPERADOR II H OPERADOR I I E AJUDANTE DE PRODUÇÃO F A G B C CLASSE SALARIAL 1 ADMISSÃO 2 EFETIVAÇÃO NÍVEL 3 2 POSTOS 1 2 3 400 560 863 440 616 935 477 668 1014 D 4 3 POSTOS 5 4 POSTOS 517 723 1098 560 863 1189 Figura 12 – Exemplo descritivo da carreira de um funcionário DATA EVENTO 02/02/90 Admissão 02/05/90 CARGO ENQUADRAMENTO SALÁRIO Aj. Produção – Posto A CS1 – N1 400 Efetivação Aj. Produção – Posto A CS1 – N2 440 02/05/91 Polivalência Aj. Produção – Posto A/B CS1 – N3 447 02/05/92 Polivalência Aj. Prod. – Posto A/B/C CS1 – N4 517 02/05/93 Promoção Operador I – Posto E CS2 – N1 560 02/08/93 Efetivação Operador I – Posto E CS2 – N2 616 02/08/94 Polivalência Operador I – Posto E/F CS2 – N3 668 02/08/95 Polivalencia Operador I – Posto E/F/G CS2 – N4 723 02/08/96 Promoção Operador II – Posto H CS3 – N1 863 02/11/96 Efetivação Operador II – Posto H CS3 – N2 935 02/11/97 Polivalência Operador II – Posto H/I CS3 – N3 1014 Fonte: Jorge (2007:129-130). 63 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Carreira por Habilidade Certificada É considerado um dos métodos mais criativos dos sistemas atuais de remuneração. Segundo Jorge (2007), este sistema deve criar condições para responder a dois desafios: »» estimular o indivíduo na busca do seu próprio desenvolvimento; »» criar condições ideais para que isso de fato ocorra. O grande diferencial deste sistema de remuneração está no fato de desfocar o cargo para focar as pessoas que exercem suas atividades. O plano de carreira baseado em competências aponta com clareza e objetividade as trilhas de crescimento, por entender as pessoas como sujeitos ativos e com senso de propriedade sobre seu próprio desenvolvimento dentro do espaço organizacional (SOUZA, 2005:59). Jorge (2007), Souza (2005) e Chiavenato (2004) estabelecem uma interessante comparação entre sistema tradicional de remuneração e sistema de remuneração por habilidade certificada. Quadro 13 – Sistema Tradicional de Remuneração X Sistema de Remuneração por Habilidade Certificada SISTEMA TRADICIONAL DE REMUNERAÇÃO SISTEMA DE REMUNERAÇÃO POR HABILIDADE CERTIFICADA Foco no cargo Foco nas pessoas Contrato patriarcal Contrato empreendedor Habilidades pressupostas Habilidades demonstradas e certificadas Aumentos automáticos vinculados à promoção Aumentos dependentes do treinamento e da certificação Fonte: Jorge (2007:131). Quadro 14 – Plano de Cargos Tradicional x Gestão por Competência PLANO DE CARGOS TRADICIONAL GESTÃO POR COMPETÊNCIA Voltado ao que deveria ser feito. Foco no que é entregue. O quanto realiza e quanto valor agrega. Cargos alocados por funções e por área. Profissionais alocados em eixos de carreira. Carreiras desenhadas de acordo com a estrutura organizacional. Carreira desenvolvida de forma não atrelada à estrutura organizacional. Dificuldade de mudança de área. A mudança pode ocorrer sem alteração do eixo de carreira. Descrição de funções que se alteram constantemente. Descrição de níveis de complexidade (mais estáveis e abrangentes). Dificuldade de flexibilidade funcional, pois as pessoas se prendem Total flexibilidade, incentivando a multifuncionalidade. ao que deveriam fazer. Independe dos objetivos organizacionais. As competências derivam da estratégia organizacional. Número excessivo de cargos/funções. A tendência é de redução e de racionalização das funções. O desenvolvimento não é perfeitamente relacionado aos cargos. O desenvolvimento, ou capacidade de entrega, é a base para o posicionamento na carreira. Fonte: Souza (2005:60). 64 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I REMUNERAÇÃO TRADICIONAL | UNIDADE II REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIAS Pagamento do salário previamente estabelecido para o cargo. Pagamento mensal ou anual varia de acordo com a avaliação do desempenho. O salário é fixo. O salário não é fixo. A avaliação de desempenho não afeta a remuneração da pessoa. A avaliação de desempenho afeta diretamente a remuneração da pessoa. Apenas os executivos podem receber bônus, relacionado com metas pré-negociadas. Todos os funcionários podem receber ganho adicional, conforme o desempenho alcançado. Não motiva nem estimula envolvimento com o negócio da empresa. Funciona como fator motivador e estimula o envolvimento com as metas da empresa. Fonte: Chiavenato (2004:301) Para a implementação desse sistema de remuneração, algumas coisas devem ser observadas, como: definir as atividades ou o bloco de atividades necessárias às atividades consideradas, que serão a base para determinação da remuneração, determinar os passos para a evolução das pessoas e estabelecer procedimentos e regras para treinamento e certificação. Quando um funcionário executa uma atividade que requer uma habilidade diferenciada e complexa, ele poderá ter uma remuneração específica pelo uso desta habilidade ou poderá ser remunerado por blocos, quando for possível integrar habilidades menos complexas e dirigidas para uma mesma finalidade. [...] A definição de habilidade depende do contexto de cada organização e depende de criteriosa análise de seus processos, que deve ser realizada de forma diferenciada da análise de cargos, que implica uma visão estática das atividades, divididas em cargos, mas deve considerar o caráter dinâmico dos processos (JORGE, 2007:132). O fator determinante da progressão de um funcionário neste sistema será a sua atitude empreendedora, a sua determinação em progredir, em adquirir novas habilidades, de acordo com a demanda da empresa. Assim, nas empresas que adotam o sistema de remuneração por habilidades, a capacitação passa a constituir item essencial na organização do trabalho. No entanto, é necessário que o funcionário comprove, por meio de testes práticos e teóricos, que, de fato, pode produzir os resultados esperados. “As habilidades a serem certificadas são avaliadas mediante aplicação de testes de proficiência técnica e teórica e decisão de um comitê constituído por gestores do sistema e representantes da equipe.” (JORGE, 2007:133). O Desenvolvimento de um Sistema de Remuneração por Habilidades O modelo será tão mais efetivo quanto maior, em sua construção, for a vinculação com as competências estratégicas do negócio. Os perfis de competências, portanto, são delineados a partir das competências essenciais da empresa (SOUZA, 2005:62). Jorge (2007) prevê quatro etapas para o desenvolvimento de um sistema de remuneração por habilidades. 65 UNIDADE II |SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO Etapa 1: Definição do modelo conceitual Objetiva definir os objetivos, as premissas e a abrangência e deve ter como base o conhecimento das características da empresa: negócio, estratégia, cultura, estrutura, processos etc. Etapa 2: Montagem do sistema Inclui a descrição das habilidades, as exigências para certificação e os possíveis planos de desenvolvimento dos funcionários. São estabelecidos os cenários de impactos financeiros, legais e de gerenciamento. Esta etapa se conclui com a validação e o comprometimento da organização com o sistema. Segundo Souza (2005), o fluxo do processo de gerenciamento por competência tem cinco etapas. »» Descrição dos perfis de competências para cada carreira e Elaboração do inventário das habilidades e das competências que cada indivíduo executa. »» Identificação dos gaps (ou lacunas de competências), para cuja eliminação se encaminham os planos individuais de treinamento e desenvolvimento. »» Avaliação, pelo processo de certificação, da aplicação prática dos conhecimentos, das práticas e das atitudes, como referencial para a liderança. »» Posicionamento salarial do indivíduo na faixa do respectivo cargo, baseado no referencial anterior, a partir de decisão da liderança. Etapa 3: Implantação Para implementação, é necessário observar três possibilidades. »» O funcionário apresenta condições de ser certificado em habilidades compatíveis com seu salário atual. »» O funcionário apresenta habilidades superiores ao nível de seu salário atual. »» O funcionário apresenta habilidades inferiores ao nível de seu salário atual. Observando-se essas questões, é possível fazer o inventário das habilidades dos funcionários e a determinação de seu enquadramento no novo sistema. “Na empresa, todos os níveis hierárquicos, desde os empregados que ocupam posições operacionais até o corpo gerencial, são abrangidos pelo sistema de remuneração por competências.” (SOUZA, 2005:64). Etapa 4: Gerenciamento Para garantia de funcionamento do sistema, é necessário que ele seja acompanhado constantemente e que seja passível de constantes ajustes, a fim de, efetivamente, ser eficaz na sua aplicação. É importante que sempre haja ajustes para alinhar as estratégias de negócio à dinâmica das carreiras, visando a atender a novas demandas tecnológicas, constituindo um dos novos conceitos de organização do trabalho. 66 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO I | UNIDADE II “A competência é um entendimento prático de situações que se apoia em conhecimentos adquiridos e os transforma à medida que aumenta a diversidade de situações.” (SOUZA, 2005:65). Prós e Contras – Remuneração por Competência Chiavenato (2004) cita as vantagens e desvantagens específicas da remuneração por competência. Quadro 15 – Vantagem e Desvantagem VANTAGENS DESVANTAGENS Facilita a identificação dos pontos fortes e fracos de cada funcionário. Funcionários menos competentes podem sentir-se inseguros. O treinamento torna-se útil para funcionários, por ser específico e ter objetivos definidos. A possível diferença salarial entre funcionários que ocupam o mesmo cargo pode gerar insatisfação. Os funcionários sentem-se mais motivados. A motivação pode desaparecer ao longo do tempo, se o incentivo virar rotina. Funcionários com potencial inexplorado podem crescer na empresa. Pode gerar angústia e ansiedade. Fonte: Chiavenato (2004:303). 67 Unidade Iii GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS Unidade GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS Iii As empresas modernas têm sofrido grandes transformações, em decorrência das mudanças aceleradas na tecnologia, na gestão e nos valores sociais. Todas essas transformações geram uma grande instabilidade nas empresas e, consequentemente, um aumento da competitividade. Para que uma empresa se destaque em relação à concorrência, é necessário que ela se renove continuamente e que trabalhe com pessoas dispostas a renovar-se constantemente. Segundo Dutra (1996), as empresas que têm como objetivo manterem-se competitivas sofrem alguns problemas. »» Administrar pessoas estacionadas profissionalmente e sem nenhuma apetência por se desenvolverem. »» Compatibilizar as expectativas e o ritmo de desenvolvimento das pessoas com os da empresa, de forma a assegurar uma relação vantajosa para ambas as partes. »» Estimular e oferecer o apoio necessário a uma postura empreendedora e inovadora em seus gestores. Diante desse contexto, as empresas têm apresentado novas necessidades na gestão de recursos humanos. A administração de carreiras surge como a resposta mais completa para essas empresas. De um lado, estimula e instrumentaliza as pessoas para pensar em suas carreiras e seu desenvolvimento profissional e pessoal. De outro, oferece à empresa os conceitos e o ferramental necessários para pensar a gestão de recursos humanos de forma estratégica e para integrar o conjunto das políticas e práticas de administração de pessoas (DUTRA, 1996:07). 71 CAPÍTULO 8 Conceituando Carreira “Carreira passa a ideia de um caminho estruturado e organizado no tempo e no espaço que pode ser seguido por alguém” (MAANEN, 1977 apud DUTRA, 1997). “Carreira é uma sequência de atitudes e de comportamentos, associada com experiências e atividades relacionadas ao trabalho, durante o período de vida de uma pessoa” (HALL, 1976 apud DUTRA, 1997). “Carreira é uma sucessão ou sequência de cargos ocupados por uma pessoa ao longo de sua vida profissional” (CHIAVENATO, 2004:374). “Carreira são as sequências de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. A carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas e imposições da organização e da sociedade. Da perspectiva do indivíduo, engloba o entendimento e a avaliação de sua experiência profissional, enquanto, da perspectiva da organização, engloba políticas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, a níveis organizacionais, a compensação e a movimento de pessoas. Essas perspectivas são conciliadas pela carreira dentro de um contexto de constante ajuste, desenvolvimento e mudança” (STUMPH, 1982 apud DUTRA, 1997). Diante desses conceitos, pode-se concluir que carreira é uma série de estágios e de transições pelos quais os indivíduos passam em função de pressões dele mesmo ou do ambiente em que está inserido. É fruto do arbítrio individual. Pessoas e Planejamento de Carreira Até a década de 1980, as pessoas apresentavam uma grande resistência em planejar suas vidas profissionais. A partir do início desta década, nos EUA, surgiram fatos que obrigaram as pessoas a se posicionarem quanto as suas carreiras, passando a rejeitar promoções que não constituíssem desafios ou que implicassem deslocamento de moradia. Hall (1986 apud DUTRA, 1997) destaca o seguinte. »» Os baby boomers (geração Baby Boomer é aquela que compreende pessoas que nasceram nos Estados Unidos entre 1946 e 1964, quando o coeficiente de natalidade cresceu de forma acentuada e anormal) chegaram a posições intermediárias nas estruturas organizacionais e começaram a verificar que as oportunidades eram escassas e que as empresas não cuidavam de suas carreiras. 72 GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS | UNIDADE III »» Os profissionais nascidos na década de 1950 viam suas chances de progresso reduzidas em função do achatamento das estruturas organizacionais e da ocupação das posições intermediárias, entre a cúpula e base, pelos baby boomers. »» A influência dos casais que fizeram sua carreira juntos, conciliando trabalho e família, sobre seus filhos, que no início dos anos 1980 estavam entre 10 e 15 anos. Segundo Dutra (1997), no Brasil ainda há uma grande resistência das pessoas em planejar suas carreiras e em se guiar por apelos externos, como remuneração, status, prestígio etc., do que por preferências pessoais. Por outro lado, as empresas demonstram estar cada vez mais preocupadas em estimular as pessoas a planejarem suas carreiras. Alguns motivos são estes (DUTRA, 1997:22). »» A busca de um posicionamento mais competitivo em seus mercados, o que tem conduzido as empresas a uma redefinição do perfil exigido de seus recursos humanos. Esse perfil desloca-se da postura e do comportamento obedientes e disciplinados para o inovador e empreendedor. As empresas estimulam e oferecem todo apoio necessário para que a pessoa possa empreender seu desenvolvimento e sua carreira. A mudança de comportamento é de responsabilidade da pessoa. »» O estímulo para que as pessoas planejem suas carreiras tem sido um instrumento importante para torná-las empreendedoras consigo próprias. O planejamento da carreira faz com que as pessoas pensem seu desenvolvimento a partir delas próprias e se posicionem para negociar com a empresa. No Brasil, há poucos exemplos de empresas que estimulem o planejamento de carreira e que ofereçam condições corretas para que as pessoas possam planejá-lo. No ambiente externo das empresas, destacam-se as seguintes situações. »» O aumento na diversificação das oportunidades profissionais, ocasionado pelos movimentos de maior complexidade organizacional e tecnológica das empresas, de revisão das estruturas organizacionais e de diversificação do mercado de produtos e serviços, exigindo das pessoas posicionamentos cada vez mais conscientes quanto a sua trajetória profissional. »» A disseminação cada vez maior da ideia de que as pessoas são capazes de influenciar suas próprias carreiras tanto no setor privado quanto no público. »» A valorização social do contínuo crescimento, da mobilidade, da flexibilidade e da notoriedade. Esse tipo de valorização pressiona as pessoas a competirem consigo próprias, a estarem sempre revendo suas expectativas e necessidades A grande maioria das pessoas encara a reflexão sobre suas carreiras apenas como a identificação de oportunidades e a busca de seu aproveitamento. Ao proceder dessa maneira, subordina suas carreiras a uma realidade dada pelo ambiente e perde a condição de atuar sobre essa realidade. A atuação sobre o ambiente, no sentido de transformá-lo para melhor, adequar-se às preferências e às características pessoais, exige que as pessoas, antes de refletirem sobre as oportunidades de carreira oferecidas pelo ambiente, olhem 73 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS para dentro de si, procurando identificar o que gostam, o que as satisfaz, o que as estimula etc. Ao fazê-lo, por estarem usando um padrão interior de avaliação, terão melhor condição para identificar oportunidades de carreira (DUTRA, 1997:23-24). No entanto, decisões sobre carreiras são complicadas e, muitas vezes, conflituosas, pois temos de tomálas no calor dos acontecimentos e, na maior parte das vezes, sem condições para o distanciamento crítico necessário. Segundo Dutra (1997), um modelo de planejamento de carreira tem como principais os objetivos a seguir. »» Desenvolver nas pessoas um espírito crítico com relação a seu comportamento diante da carreira. »» Estimular e dar suporte a um processo de autoavaliação, visando ao planejamento individual de sua carreira. »» Oferecer uma estrutura para reflexão das pessoas sobre sua realidade profissional e pessoal. »» Disponibilizar ferramentas para desenvolver objetivos de carreira e de planos de ação e para monitorar a carreira ao longo do tempo. Algumas organizações estão atribuindo gradativamente a responsabilidade pela administração de carreira aos seus próprios funcionários, dando-lhes todas as condições e os suportes possíveis para que eles façam escolhas adequadas e sejam bemsucedidos (CHIAVENATO, 2004:375). Dutra (1997) apresenta um modelo para orientar as pessoas na reflexão sobre suas carreiras, demonstrado por London e Stumph (1982), e que depende de três tarefas de responsabilidade do indivíduo. »» Autoavaliação: avaliação de suas qualidades, de seus interesses e de seu potencial para vários espaços organizacionais. »» Estabelecimento de objetivos de carreira: identificação de objetivos de carreira e de um plano realista, baseado na autoavaliação e na avaliação das oportunidades oferecidas pela empresa. »» Implementação do plano de carreira: obtenção da capacitação e acesso às experiências profissionais necessárias para competir pelas oportunidades e para atingir metas de carreira. Figura 13 – Etapas do processo de planejamento de carreira Estabelecimento de objetivos de carreira Autoavaliação Identificação de oprtunidade Plano de ação Fonte: London e Stumpf (1982, apud Dutra, 1997) 74 Implementação GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS | UNIDADE III No entanto, as ferramentas disponíveis para orientar o processo de autoavaliação voltado para o planejamento de carreira são limitadas. Rothweel e Kazanas (1988 apud DUTRA, 1997) apresentam um processo para planejamento de carreira composto de sete passos. 1o passo: clarificação da identidade individual. 2o passo: avaliação de pontos fortes e fracos da carreira. 3o passo: análise do ambiente. 4o passo: identificação de estratégias de carreira e seu alcance. 5o passo: seleção de objetivos de carreira. 6o passo: implementação da estratégia de carreira. 7o passo: avaliação de resultados das estratégias de carreira Escolha da Carreira Segundo Dutra (1997), as teorias da escolha de carreira podem ser agrupadas em duas categorias mais gerais. »» Compatibilidade: afirma que determinadas pessoas escolhem determinadas ocupações com base em medidas de compatibilidade entre si e a ocupação escolhida. Pode ser explicada por quatro características pessoais: interesse, identidade, personalidade e experiência social. Dá maior ênfase a explicações sobre o que influencia a escolha da carreira e menor ênfase ao como se processa a escolha e a seu por quê. »» Processo de escolha: afirma que a pessoa, ao longo de sua trajetória de vida, vai, gradualmente, chegando à escolha de sua ocupação. Super (1957 apud DUTRA,1997) aponta cinco estágios de vida que tendem a ser catalogados neste tipo de análise: infância, adolescência, idade adulta, maturidade e velhice. Quadro 15 – Características ESTÁGIO PERÍODO CARACTERÍSTICAS »» desenvolvimento do “autoconceito” pela identificação com figuras-chave da situação familiar e escolar »» predominância das necessidades e da imaginação Crescimento Até 14 anos »» importância da capacidade, à medida que aumentam a participação social e os choques com a realidade »» fases de crescimento: imaginação (4 – 10) – predominam as necessidades; interesses (11 – 12) – imitação de determinadas aspirações; e atividades e capacidade (13 – 14) – aptidões ganham mais peso »» ocorrência de autoanálise, representação de papéis e exploração ocupacional na escola, em atividade de lazer e trabalho Exploração 15 a 24 anos »» fases de exploração: tentativa (15 – 17) – tentativas de escolhas são efetuadas e desenvolvidas na imaginação, nas discussões, nos cursos etc.; transição (18 – 21) – acentuam-se as considerações acerca da realidade, à medida que o jovem entra para o mercado profissional ou para o treinamento pessoal; e experiência (22 – 24) – um campo de interesse é definido e experimentado 75 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS ESTÁGIO PERÍODO CARACTERÍSTICAS »» concentração de esforços para permanecer numa área, quando encontrada Estabele-cimento »» tentativas de mudança no início e estabelecimento na carreira 25 a 44 anos »» fases de estabelecimento: experiência (25 – 30) – mudanças antes que a vida profissional seja definitivamente assumida; e estabilização (31 – 44) – esforço para estabelecer um lugar permanente no universo do trabalho Permanência 44 a 64 anos »» consolidação de uma posição ou situação »» tendência para a continuidade dos planos estabelecidos »» declínio da capacidade física e mental Declínio 65 em diante »» desenvolvimento de novos papéis »» fases de declínio: enfraquecimento (65 – 70) e aposentadoria (de 71 em diante) Existem elementos de nossa realidade que irão determinar as preferências por determinadas ocupações. Esta autopercepção de habilidades é chamada de âncoras de carreira. Os padrões para escolha de carreiras podem ser agrupados nas seguintes categorias, segundo Schein (apud DUTRA, 1997). »» Competência gerencial »» Competência técnica ou funcional »» Segurança e estabilidade »» Criatividade »» Autonomia e independência »» Senso de serviço e dedicação à causa »» Desafio constante »» Estilo de vida integrado Ao nos conhecermos melhor, fica mais fácil estabelecer as bases para uma negociação honesta com a empresa sobre nossas necessidades e expectativas. Além desse fato, a percepção clara de nossas preferências faz com que analisemos nossos pontos fortes e fracos, visando à alavancagem de nossa carreira (DUTRA, 1997:44). Desenho de Carreira O desenho de carreira demonstra as sequências lógicas de cargos ou de posições e traduz os diferentes patamares de exigência sobre as pessoas. Conforme destaca Dutra (1997), diversos aspectos influenciam os desenhos de carreiras. »» Valores organizacionais. »» Estratégias negociais e de gestão de pessoas. 76 GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS | UNIDADE III »» Especificidade da categoria profissional abrangida pela carreira. »» Características do mercado de recursos humanos. »» Inserção da gestão de carreira no contexto da gestão de recursos humanos da empresa. »» Momento histórico vivido pela empresa. Em virtude da influência dos aspectos descritos acima, os desenhos podem ter diversas formas. No entanto, as formas são baseadas em três tipos básicos de desenho: estrutura em linha, estrutura em rede e estrutura e paralela. 1. Estruturas em linha: a sequência de posições está alinhada em uma única direção, não oferecendo outra alternativa para as pessoas. Apesar disso, sua estrutura permite maior ou menor flexibilidade, para que a pessoa proceda a escolhas profissionais. Cada degrau da carreira é caracterizado e identificado por um conjunto específico de responsabilidades e de atribuições, quando o sistema de diferenciação está centrado no trabalho, ou por diferentes conjuntos de atributos da pessoa, quando o sistema de diferenciação está centrado nas pessoas (DUTRA, 1997:81). Quadro 16 – Estrutura em linha GERENTE DE SISTEMAS COORDENADOR DE GRUPO ANALISTA DE SISTEMA SÊNIOR ANALISTA DE SISTEMA PLENO ANALISTA DE SISTEMA JÚNIOR Fonte: Dutra (1997:82). Um exemplo de carreira em linha é a que define seus degraus em função dos atributos das pessoas, em que cada um ascende à medida que aumenta sua qualificação profissional, sendo muito comum em laboratórios de pesquisa, em áreas de informática e em áreas financeiras das empresas. Apesar de ser a estrutura mais comum dentro de uma empresa, Dutra (1997:82) cita algumas limitações que esse sistema pode apresentar. Dentro da carreira, a pessoa não tem opções para outras trajetórias, devendo subordinar-se às determinações da empresa. »» O topo desse tipo de carreira geralmente é configurado com posições gerenciais, não oferecendo alternativa para as pessoas que preferem fixar-se numa carreira mais técnica. »» As estruturas em linha, por estarem muito atreladas a áreas funcionais e possuírem características de pouca flexibilidade, são pouco adequadas a empresas que necessitam de maior mobilidade para realocação de pessoas ou para reconfiguração de suas estruturas organizacionais. 77 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS 2. Estruturas em rede: sua principal característica é apresentar várias opções para cada posição na empresa, o que permite que a pessoa possa estabelecer sua trajetória com base em critérios previamente estabelecidos. Essa estrutura torna-se mais flexível à medida que as características que definem os degraus da empresa são mais abrangentes. Figura 14 – Estrutura mais Comum de uma Empresa Gerente de Processos Industriais Gerente de Produção Gerente de Vendas Gerente de Desenvolvimento Analista de Processos Industriais Sênior Analista Sênior de Suporte de Vendas Representante Técnico de Vendas Analista Sênior de Desenvolvimento Analista de Processos Industriais Júnior Analista de Suporte de Vendas Júnior Analista de Desenvolvimento Júnior Analista de Sistemas Trainee Fonte: Dutra (1997: 84) Assim como a estrutura em linha, a estrutura em rede apresenta algumas limitações, tanto para a pessoa quanto para a empresa. Vejamos (DUTRA, 1997:83). Para a pessoa »» Uma aparente possibilidade de escolha, uma vez que as escolhas são restritas. Uma boa imagem é a da pessoa que entra em uma sala e encontra três portas, escolhe uma e entra em outra sala com mais três portas, escolhe outra porta e assim sucessivamente. »» Trajetórias profissionais limitadas, conduzindo, não importa o caminho, para posições de alta gerência. »» Caminhos preestabelecidos pela empresa, restando à pessoa pouca ou nenhuma condição de interferência. Para a empresa »» Pouca mobilidade para reconfigurar estruturas organizacionais, na medida em que qualquer modificação nessas estruturas implica alterações na carreira; »» Dificuldade para adequar as expectativas das pessoas às necessidades da empresa. 3. Estruturas paralelas: é a forma mais flexível e abrangente para instrumentalizar a administração de carreiras. Permite um encarreiramento alternativo àquele que está ligado à estrutura organizacional da empresa. 78 GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS | UNIDADE III A carreira paralela constitui-se em um instrumento de transição, por ser capaz de conciliar, em uma mesma estrutura de carreira, »» sistemas de diferenciação centrados no trabalho e sistemas centrados em pessoas; »» sequências de cargos e posições totalmente atreladas à estrutura organizacional e sequências vinculadas a espaços ocupacionais ou a pessoas, totalmente desatreladas da estrutura organizacional (DUTRA, 1997:85). Segundo Dutra (1997:86), a carreira paralela pode ser definida como: Sequência de posições, que cada pessoa pode assumir no interior de uma organização, orientada em duas direções, uma de natureza profissional e outra de natureza gerencial, sendo o acesso aos maiores níveis de remuneração e de reconhecimento oferecidos pela empresa garantido em qualquer uma das direções escolhidas. As estruturas paralelas podem ser: totalmente paralelas, em Y e múltiplas. Figura 15 – Carreira totalmente paralela Cientista Associado Cientista Gerente de Divisão de P&D Pesquisador Júnior Gerente de Departamento de Projetos Pesquisador Supervisor de Projetos Engenheiro de P&D Sênior Coordenador de Suporte a P&D Engenheiro de P&D Pleno Analista de Suporte de P&D Sênior Engenheiro de P&D Júnior Analista de Suporte de P&D Pleno Analista de Suporte de P&D Júnior Fonte: Dutra (1997:87) Figura 16 – Estrutura em Y BRAÇO TÉCNICO BRAÇO GERENCIAL Diretor de Laboratório Pesquisador Associado Gerente de Projetos Pesquisador Líder de Grupo Cientista Pesquisa Sr. Cientista de Pesquisa Cientista de Projeto Cientista Cientista Júnior Cientista Trainee Fonte: Dutra (1997:88) 79 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS Principais vantagens da carreira em Y, segundo Dutra (1997). »» Tem uma base comum, tanto para o braço técnico como para o braço gerencial, garantindo maior flexibilidade na alocação dos recursos humanos nos dois braços da carreira. »» A base do Y tem característica técnica, permitindo que o profissional técnico, em um estágio mais maduro de sua carreira, possa efetuar a opção pela carreira técnica ou gerencial. »» O formato Y para a carreira paralela dá legitimidade técnica àqueles que ocupam posições gerenciais, facilitando o diálogo e sua aceitação como gerente junto àqueles que optaram pelo braço técnico da carreira. Quadro 17 – Exemplo de estrutura múltipla EIXOS PROFISSIONAIS NÍVEIS Técnico 1 Técnico 2 Software Hardware Administrativo EIXO GERENCIAL Apoio F Cientista SF Sr. Cientista HD Sr. Partner adm. Sr. Partner de Suporte Sr. Diretor de Laboratório E Cientista SF Pl. Cientista HD Pl. Partner adm. Pl. Partner de Suporte Pl. Gerente de Projetos ou de Área D Cientista SF Jr. Cientista HD Jr. Partner adm. Jr. Partner de Suporte Jr. Coordenador de Projetos C Pesquisador SF Sr. Pesquisador HD Sr. Analista adm. Sr. Analista de Suporte Sr. B Pesquisador SF Pl. Pesquisador HD Pl. Analista adm. Pl. Analista de Suporte Pl. A Pesquisador SF Jr. Pesquisador HD Jr. Analista adm. Jr. Analista de Suporte Jr. Fonte: Dutra (1997: 91). Dutra (1997) apresenta as seguintes vantagens da carreira múltipla. Para a empresa »» Permitir mais flexibilidade para compor e organizar várias trajetórias profissionais em uma única estrutura de carreira. »» Abrir espaço para ascensão dos diferentes grupos profissionais da empresa. »» Estimular a formação e a manutenção de equipes multidisciplinares, na medida em que permite às pessoas obterem alto nível de reconhecimento e remuneração independentemente da trajetória profissional escolhida. »» Manter equidade entre as diferentes trajetórias de carreira, de forma que as pessoas em determinada trajetória não se sintam diminuídas em relação às demais. Para a pessoa »» Ampliar o leque de opções profissionais. »» Investir com segurança em sua trajetória de carreira. »» Ter opção de mudar sua trajetória de carreira em qualquer tempo. 80 CAPÍTULO 9 Administração de Carreira na Gestão de RH Algumas categorias podem ser definidas para caracterizar os instrumentos utilizados na administração de carreiras. São elas: suporte às decisões individuais sobre carreira, suporte ao gerenciamento de carreira pela empresa e facilitadores da comunicação entre as pessoas e a empresa. Eixos de Responsabilidades Com base nessa categorização, podem-se alinhar três eixos de responsabilidades, que servirão como “reflexão acerca da gestão de carreiras, jamais como prescrições a serem seguidas” (DUTRA, 1997:110). Quadro 18 – Responsabilidades na gestão de carreiras PLANEJAMENTO INDIVIDUAL DE CARREIRA »» Autoavaliar interesses, valores e habilidades »» Analisar opções de carreira Responsabilidade das pessoas »» Decidir sobre objetivos e necessidades de desenvolvimento GERENCIAMENTO DE CARREIRA »» Prover informações precisas para a empresa acerca de suas expectativas, experiências e habilidades »» Comunicar preferências de carreira ao gestor »» Mapear expectativas de carreira e conciliar com necessidades da empresa »» Perseguir seu plano de ação »» Estimular o subordinado a planejar sua carreira »» Avaliar com realismo os objetivos e as necessidades de desenvolvimento de seus subordinados Responsabilidade dos gestores »» Aconselhar seus subordinados no desenvolvimento conciliado com a empresa »» Acompanhar a implementação do plano de carreira de seus subordinados »» Prover modelos de planejamento de carreira, recursos, aconselhamento e informações necessárias Responsabilidade da »» Prover treinamento em planejamento de carreira para empresa gestores e seus subordinados »» Validar as informações fornecidas pelo subordinado »» Prover informação acerca de vagas em aberto em sua área »» Identificar candidatos internos em condições de assumir a vaga em aberto »» Identificar oportunidades para desenvolvimento de seus subordinados »» Prover informações e processos para suportar a ação dos gestores »» Manter atualizado sistema de informações acerca das necessidades da empresa »» Prover ações de capacitação Fonte: Dutra (1997:111). 81 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS O sistema de administração de carreiras deve incorporar tanto elementos das pessoas como das empresas. Assim, os instrumentos e as técnicas irão variar de empresa para empresa. Há, porém, um conjunto de premissas básicas que devem ser incorporadas a qualquer sistema (GUTTERIDGE, 1986 apud DUTRA, 1997). »» Dados sobre atitudes, interesses, habilidades, competências individuais, a partir de processos de autoavaliação. »» Dados sobre oportunidades de carreira, associados com habilidades requeridas pela empresa, com necessidades de pessoas, com postura requerida das pessoas etc., a partir da administração estratégica da empresa. »» Sistemas que disponibilizem informações da empresa, para as pessoas, e sobre as pessoas, para a empresa. »» Sistemas que assegurem o diálogo e o feedback entre as pessoas e a empresa, permitindo a conciliação contínua entre as necessidades de carreira das pessoas e as oportunidades oferecidas pela empresa. »» Sistema de desenvolvimento que permita que o crescimento pessoal e profissional seja compatível com o planejamento individual de carreira. Construção de um Sistema de Administração de Carreiras Um Sistema de Administração de Carreira é sempre concebido para atender necessidades percebidas pela empresa e pelas pessoas que nela trabalham. [...] Pela natureza da Administração de Carreiras, as mudanças que se interpõem implicam, na maior parte das vezes, alterações dos padrões de relacionamento da empresa com o grupo ocupacional abrangido pelo Sistema (DUTRA, 1997:121). Figura 17 – O sistema de desenvolvimento de carreira Necessidades da organização Necessidades individuais de carreira Quais são os principais itens estratégicos para os próximos anos? Como posso encontrar oportunidades de carreira dentro da organização que: »» Quais são as necessidades críticas e os desafios com que a organização se defrontará nos próximos anos? »» Quais conhecimentos, habilidades e experiências serão necessários para enfrentar tais desafios? »» Quais níveis de pessoas serão requeridas? Consequência: Os funcionários estão se desenvolvendo de maneira a que junte sua eficácia e satisfação com o alcance dos objetivos estratégicos da organização? »» Atenda às minhas necessidades de desenvolvimento »» Proporcione desafios »» Atenda meus interesses »» Utilize meu estilo pessoal »» Quais as forças necessárias à organização para enfrentar esses desafios? Fonte: Chiavenato (2004: 375) 82 »» Utilize minhas forças e competências GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS | UNIDADE III Para compreender as mudanças de um Sistema, é preciso identificar alguns elementos. »» O porquê da mudança: identificar quais são as necessidades, os problemas ou as oportunidades que estão gerando a mudança. »» O que mudar: construir com clareza o que se quer com a mudança. »» Como mudar: definir o caminho o ser percorrido, para que a mudança se realize. »» Manutenção da mudança: garantir a consecução dos resultados planejados. Métodos e Técnicas para Efetividade de Gestão de Carreiras Dutra (1997:123) cita algumas premissas comuns para propor métodos e técnicas que garantam a efetividade do Sistema de Administração de Carreiras. »» O Sistema gerado deve ter legitimidade. »» Deve haver uma contínua adequação do Sistema às necessidades e às expectativas das pessoas e da empresa ao longo do tempo. »» O Sistema deve suportar o desenvolvimento da empresa e das pessoas. As fases de mudança desse Sistema podem ser resumidas com as ideias dos principais autores no quadro a seguir. Quadro 19 – Modelo para concepção, implementação e revisão de sistemas de administração de carreiras FASES TÓPICAS LEIBOWITZ (1986:11) »» Definição de necessidades específicas »» Definição de grupos de trabalho Levantamento de necessidades »» Análise das políticas e das práticas de gestão de RH existentes »» Análise da cultura organizacional da empresa »» Construção de um modelo conceitual Determinação de novas direções e possibilidades »» Envolvimento de todos os gestores e das pessoas abrangidos pelo sistema »» Desenho de múltiplas intervenções, abrangendo pessoas e empresa GUTTERIGGE (1986:78) »» Identificação de problemas, pressões, necessidades e oportunidades »» Definição de indicadores de sucesso »» Avaliação dos processos, dos instrumentos e das técnicas existentes »» Desenho de um novo modelo SUPER (1986:114-115) »» Identificação de interesses, valores e habilidades da força de trabalho e necessidades da empresa »» Avaliação das possibilidades concretas de desenvolvimento das pessoas e da empresa »» Desenvolvimento de programa de processos e processos de administração de carreiras »» Planejamento de programas corporativos e individuais para aproveitamento de talentos e desenvolvimento de pessoas 83 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS FASES TÓPICAS Definição de um plano de ação Manutenção da mudança LEIBOWITZ (1986:11) »» Obtenção do suporte pela cúpula da empresa »» Desenvolvimento de uma estratégia de implementação »» Desenho do plano de ação com grupo responsável por sua implementação »» Recursos necessários »» Criação de uma implementaçãopiloto, estabelecimento de orçamento e alocação de recursos »» Definição de resultados e necessidades de sucesso de longo prazo »» Publicação de programa »» Estabelecimento de programa de reavaliação contínua 84 GUTTERIGGE (1986:78) »» Alavancadores e barreiras SUPER (1986:114-115) »» Colocação em ação dos programas e dos processos, oferecendo o suporte necessário às pessoas e aos gestores »» Prioridades »» Programa de comunicação »» Estratégia de avaliação »» Criação de implantação-piloto »» Avaliação contínua do processo »» Criação de implantação-piloto CAPÍTULO 10 Gestão de Mudanças Mudança significa fazer as coisas de maneira diferente. Mudanças podem fazer diferença quando uma organização alterna de um estágio para outro. Ciclo de Vida das Organizações As organizações estão sempre mudando. Ao longo de sua história, elas atravessam ciclos de vida comuns a outras organizações e que envolvem um novo desenho organizacional, estilos de liderança, sistemas administrativos, entre outros fatores. Chiavenato (2005 apud GREINER) lista cada um dos estágios e ciclos de vidas organizacionais. Vejamos. »» Estágio Empreendedor – quando a organização nasce, a ênfase está em criar um produto ou serviço e sobreviver no mercado. Os fundadores da organização são empreendedores e se dedicam à atividades técnicas de produção e marketing. Dado o crescimento da organização, a crise se dá quando existe necessidade de liderança. »» Estágio de Coletividade – quando a organização começa a desenvolver metas e diretrizes mais claras; os departamentos são criados e com eles uma hierarquia de autoridade. Os colaboradores se identificam com a missão da organização e se esforçam para ajudar no alcance do sucesso. Quando a nova direção se torna bem-sucedida, os colaboradores de níveis mais baixos se sentem constrangidos pela forte liderança de cima para baixo. A organização necessita encontrar mecanismos para coordenar as áreas sem a supervisão direta da cúpula. É a necessidade de delegação. »» Estágio da Formalização – quando a organização começa a utilizar normas, procedimentos e sistemas de controle. A comunicação se torna mais formal e alguns especialistas são admitidos na organização. A direção passa a se interessar por assuntos de planejamento e estratégia, deixando as operações da empresa para a média gerência. Daí surge a crise de formalidades, cuja burocratização é notória. »» Estágio de Elaboração – quando a burocratização alcança seu limite e os gerentes aprendem a trabalhar dentro da burocracia, sem aumentá-la. Os sistemas formais são diminuídos e simplificados por equipes e forças-tarefas. A organização busca a colaboração das pessoas e o trabalho em equipe. Daí surge a necessidade de revitalização. Ao atingir a maturidade, a organização passa por um período de declínio temporário que exigem a revitalização para que ela se torne mais ágil e inovadora. 85 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS Numa outra visão, Chiavenato (2005 apud ADIZES) diz que as organizações passam sucessivamente por estágios de: »» crescimento – envolvendo infância, meninice, adolescência e plenitude; »» maturidade – envolvendo estabilidade; »» envelhecimento – envolvendo aristocracia, burocracia e morte. Cada ciclo de vida envolve certas alterações para ser devidamente transposta, tais como: »» alteração de políticas e procedimentos; »» modificações no desenho organizacional; »» mudanças culturais; »» adequação do estilo gerencial dos proprietários a cada fase. Quando a Mudança se Torna Necessária Chiavenato (2005) lista uma série de situações que se requer mudanças. »» Mudança no tamanho da organização, devido a crescimento, consolidação ou redução. »» Mudança nas operações, nos produtos ou serviços, na clientela ou nos fornecedores. »» Mudança de pessoas-chave que podem alterar objetivos organizacionais, interesses e habilidades. »» Dificuldade em atingir objetivos, capitalizar as oportunidades ou ser inovadora. »» Inabilidade em executar as tarefas e operações em seu devido tempo. »» Centralização que congestiona o trabalho dos executivos de topo. »» Custos operacionais elevados ou orçamentos não cumpridos. »» Problemas éticos e morais. »» Hierarquia que inibe a agilidade, liberdade no trabalho e controle estratégico. »» Planejamento que se torna pesado e divorciado dos gerentes e de suas equipes. »» Falta de inovação devido ao detalhamento nos controles e na monitorização. »» Soluções uniformes que são aplicadas a situações não uniformes. »» Dificuldade no relacionamento e conflitos entre as unidades, divisões ou subsidiárias. »» Duplicação de atividades ou de cargos. »» Subutilização de recursos materiais e financeiros. »» Aumento das reclamações de clientes e parceiros da organização. 86 GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS | UNIDADE III O Processo de Mudança Chiavenato (2005 apud KURT LEWIN) salienta que mudanças ocorrem dentro de um modelo de três etapas: »» descongelamento – ocorre quando a necessidade de mudança faz com que a pessoa ou a organização passe a entendê-la e aceitá-la. Significa que as velhas ideias e práticas são derretidas e desaprendidas para serem substituídas por novas que devem ser aprendidas; »» mudança – ocorre quando há a descoberta e adoção de novas atitudes, valores e comportamentos. A mudança é a fase em que as novas ideias e práticas são aprendidas de modo que as pessoas passam a pensar e executar de uma nova maneira; »» recongelamento – ocorre quando existe a incorporação de um novo padrão de comportamento por meio de mecanismos de suporte e de reforço, de modo que ele se torne a nova norma. Significa que foi integrado à prática atual. É a nova maneira que a pessoa conhece e faz o seu trabalho. Figura 18 – As três fases do processo de mudança Descongelamento Mudança Recongelamento Velhas ideias e práticas são derretidas, abandonadas e desaprendidas Novas ideias e práticas são exercitadas e aprendidas Novas ideias e práticas são incorporadas ao comportamento definitivamente Identificação Internalização Suporte Reforço Fonte: Chiavenato (2005) Toda mudança requer habilidades humanas. Em geral, os gestores estão acostumados a trabalhar com a atenção focada em aspectos físicos e concretos, com dados previsíveis e lógicos. Entretanto, quando se trata de aspectos humanos, é aí que residem os maiores problemas para fazer acontecer a mudança dentro das organizações. É por isso que a importância de se saber gerir mudança é um diferencial competitivo entre as organizações contemporâneas. Os responsáveis pela gestão das atividades de mudanças são chamados de agentes de mudança. Esses agentes são pessoas que atuam como catalisadores e assumem a responsabilidade pela gestão da atividade de mudança. São capazes de conduzir ou guiar a organização a um novo estágio. 87 UNIDADE III | GESTÃO DE CARREIRA E DE MUDANÇAS Entretanto, tais agentes podem estar dentro das próprias organizações que vindicam mudanças, bem como serem contratados sob a forma de consultoria externa. As vantagens dos consultores externos é que estes oferecem habilidades especializadas e não ficam absorvidos por responsabilidades operacionais cotidianas. Mas levam desvantagem quanto à pouca compreensão da história e do conhecimento sobre a cultura e os procedimentos operacionais da organização que irá atuar. 88 Referências ALMEIDA, Walnice. Captação e seleção de talentos: repensando a teoria e a prática. São Paulo: Atlas, 2004. BOYATZIS, R. E. The competent management: a model for effective performance. Nova York: John Wiley, 1982. BRANDÃO, Hugo Pena. Gestão baseada nas competências. 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