MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx - DEE - DEPA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR 1º Ten Al FRANCISCO WELLINGTON SIQUEIRA PAES DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS: UM ESTUDO DAS TÉCNICAS APLICÁVEIS NA ADMINISTRAÇÃO MILITAR Salvador 2009 1º Ten Al FRANCISCO WELLINGTON SIQUEIRA PAES DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS: UM ESTUDO DAS TÉCNICAS APLICÁVEIS NA ADMINISTRAÇÃO DO EXÉRCITO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Administração do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Orientador: Maj QCO Marco Antonio de Oliveira Salvador 2009 1º Ten Al FRANCISCO WELLINGTON SIQUEIRA PAES DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS: UM ESTUDO DAS TÉCNICAS APLICÁVEIS NA ADMINISTRAÇÃO MILITAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Administração do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Aprovado em: 30 de outubro de 2009 _______________________________________________ JOSÉ EUCLIDES LEMOS PIÑEIRO – Maj – Presidente Escola de Administração do Exército _________________________________________________ MARCO ANTONIO DE OLIVEIRA – Maj – 1º Membro Escola de Administração do Exército __________________________________________ JORGE DA SILVA FILHO – Cap – 2º Membro Escola de Administração do Exército Este trabalho é dedicado à minha família, que tanto me apoiou nos momentos difíceis. AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus, pela força e amparo nos momentos difíceis. Ao meu orientador, Maj QCO Marco Antonio de Oliveira, pela paciência e orientação durante a realização deste trabalho. À minha esposa Georgia, pelo seu apoio incondicional. À minha filha Alessandra, por suas palavras doces e infantis, que tanto me apoiaram. Por fim, meus agradecimentos ao Exército Brasileiro, pela oportunidade de realização desta pesquisa. RESUMO O desenvolvimento do capital humano é fundamental para a sobrevivência de uma organização, pois tem o papel de investir no maior bem que uma instituição pode ter: as pessoas. Porém não se pode investir nas pessoas sem um método racional e prático; para isso, existem técnicas que podem ajudar na valorização dos recursos humanos. As técnicas de desenvolvimento de pessoas são procedimentos utilizados pelas organizações, civis e militares, públicas e privadas, para integrar, capacitar e reciclar seus funcionários, com isso gerando fontes de criatividade por toda a instituição. No Exército Brasileiro, através do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), estas técnicas de desenvolvimento de pessoas são valorizadas e muito bem aplicadas aos seus militares. A presente pesquisa objetivou fazer um levantamento das técnicas de desenvolvimento de pessoas citados por alguns teóricos, e outras que foram muito bem aplicadas em grandes organizações. Por fim, foram levantadas as principais técnicas existentes no Exército Brasileiro, e as mais importantes na formação do oficial do Quadro Complementar da Força. Este estudo contribui para expressar a importância destas técnicas para uma instituição tão importante para nosso país, principalmente quando se trata da formação de seus oficiais, militares que estão sempre à frente, liderando pessoas. No curso de formação de oficiais da Escola de Administração do Exército Brasileiro existe uma diversificação muito grande de técnicas para o aprendizado do oficial-aluno; sua importância, na verdade, transcende os cursos de formação, pois, a atuação destes métodos está presente em todas as escolas e Organizações Militares do Exército; desde a formação dos soldados, durante o alistamento militar obrigatório, aos cursos promovidos pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), sem exceção, todas as formações estão sujeitas às técnicas determinadas pelo Estado-Maior do Exercito Brasileiro. Palavras-chave: Capital humano. Departamento de Educação e Cultura do Exército Brasileiro (DECEx). Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). ABSTRACT The development of the human capital is vital to the survival of an organization, because it has the role to invest in the greater welfare that an institution has; that is its human resources. But you can not invest in people without a rational and practical method. for this, there are techniques that can help in the enrichment of human resources. The techniques for developing people are procedures used by organizations, civil and military, public and private, to integrate, train and recycle their employees, with that, generating sources of creativity throughout the institution. In the Brazilian Army, through the Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), these techniques for developing people are valued and well used to their military. This research aimed to survey the techniques of development of people mentioned by some theorists, and others that were very well implemented in large organizations. Finally, we raised the main techniques in the Brazilian Army, and the most important in shaping the official of Quadro Complementar. This study contributes to express the importance of these techniques to an institution so important to our country, especially when the training of its officers, military who are always leading people in front. There is great diversity of techniques for forming the official in the officer formation course in the Brazilian Army’s administration School; In fact, its importance transcends the training, because, the performance of these methods is present in all military schools and barracks of the Brazilian; since the training of soldiers during compulsory military draft, the courses promoted by the Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), without exception, all the techniques are the subject determined by the General Staff of the Brazilian Army. Keywords: Human capital. Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx). Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................08 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................. 11 2.1 TEORIAS ORGANIZACIONAIS COM ENFASE EM RECURSOS HUMANOS....... 11 2.1.1 Abordagem Humanística: Teoria das Relações Humanas.......................................... 11 2.1.2 Abordagem Comportamental..................................................................................... 13 2.1.2.1 Teoria Comportamental...................................................................................... 13 2.1.2.1.1 Hierarquia das Necessidades de Maslow.................................................... 14 2.1.2.1.2 Teoria dos Dois Fatores de Herzberg.......................................................... 15 2.1.2.2 Desenvolvimento Organizacional....................................................................... 15 2.1.3 Organizações que aprendem....................................................................................... 17 2.3 CAPITAL HUMANO........................................................................................................ 20 2.3.1 Identificação do Capital Humano............................................................................... 21 2.3.2 Desenvolvimento do Capital Humano........................................................................ 23 2.4 GESTÃO DE PESSOAS.................................................................................................... 25 2.4.1 Processos de Gestão de Pessoas................................................................................. 26 2.4.2 Desenvolvimento de Pessoas e suas técnicas............................................................. 26 2.4.3 Desenvolvimento de Pessoas no Exército Brasileiro................................................. 29 2.4.4 Técnicas de Desenvolvimento de Pessoas Aplicadas no Exército Brasileiro.............31 2.4.5 Técnicas Aplicadas na Formação de Oficiais do Quadro Complementar...................33 3 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 37 8 1 INTRODUÇÃO O Exército Brasileiro conquistou, no transcurso de sua história, uma imagem respeitável perante seu povo; suas tradições, seus valores morais e éticos e seus deveres sempre foram muito bem preservados, graças aos heróis, que um dia tiveram suas vidas sacrificadas pela Pátria. Desde sua formação, nas batalhas de Guararapes, da luta pela unificação do Brasil e, por fim, da garantia das leis constitucionais, o Exército nunca deixou de valorizar seus homens; sempre os reconheceu como peças fundamentais no cumprimento de sua missão. Hoje, tanto em sua missão atual, quanto em sua visão de futuro, o Exército Brasileiro encara o preparo de seus homens como essencial para garantia dos poderes institucionais, da lei e da ordem e, consequentemente, continuar sendo merecedor do apreço e da confiança da população brasileira. A importância de se preparar um profissional das armas, desde sua formação, para que ele possa ser bem sucedido em sua missão e agregue valor à organização de forma concreta, se tornou imperativo no contexto atual. Para o Exército Brasileiro, a garantia do pronto emprego de seu pessoal nos exercícios operacionais e administrativos, de sua imagem tanto interna quanto externa ao país, garante um espaço de importância no cenário brasileiro e mundial. Nota-se o valor que um profissional bem preparado e adestrado pode significar para uma instituição militar como o Exército Brasileiro, quando percebemos a importância de sua participação na produção de qualidade e de inovação. O presente estudo teve como problema descobrir a existência de técnicas de desenvolvimento de pessoas no âmbito Exército Brasileiro, bem como sua aplicabilidade na formação do militar, em particular da Formação de Oficiais do Quadro Complementar. Pois, o desenvolvimento do capital humano, presente neste referido curso de formação de oficiais, pode tanto agregar valor aos processos administrativos e operacionais da Instituição Militar, quanto contribuir de forma sustentável para o desenvolvimento, no âmbito do Exército, de determinadas áreas como Administração, Magistério e Veterinária; com isso, propõe a construção de uma imagem positiva perante à sociedade brasileira. O objetivo geral deste trabalho é identificar a utilização das técnicas de desenvolvimento de pessoas na formação do Oficial-Aluno do Quadro Complementar de Oficiais (QCO) do Exército Brasileiro, comparando-as com técnicas aplicadas em empresas civis, bem como observar a importância das mesmas para o desenvolvimento intelectual do referido militar. E para ser atingido este objetivo geral foram destacados os seguintes 9 objetivos específicos: descrever as teorias e técnicas de desenvolvimento de pessoas utilizadas nas organizações civis; descrever as teorias e técnicas de desenvolvimento de pessoas na Administração Militar do Exército; e identificar e descrever as técnicas principais que são utilizadas no Curso de Formação de Oficiais do Quadro Complementar do Exército. Para alcançar os objetivos expostos neste trabalho, foi observada a classificação da pesquisa como base no critério proposto por Vergara (2005), que qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa será descritiva, pois segundo Rudio (2002, p. 71) “a pesquisa descritiva está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevêlos, classificá-los e interpretá-los”. A pesquisa descritiva tentará identificar técnicas de Desenvolvimento de Pessoas descritas por alguns teóricos, bem como sua utilização e sua importância na formação do profissional. Quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica e documental. Bibliográfica porque na fundamentação metodológica serão utilizados materiais acessíveis ao público em geral (fontes primárias e secundárias), bem como livros, revistas, dissertações, sites e artigos na Internet, e documental porque serão realizadas investigações, no interior de Órgão Público (EsAEx), através de regulamentos, informações em mídia eletrônica e comunicações informais. A metodologia consiste em, primeiramente, expor técnicas de desenvolvimento de pessoal citadas e desenvolvidas por alguns teóricos e aplicadas por organizações civis, e depois identificar algumas destas técnicas e sua importância na Formação do Oficial-Aluno do Quadro Complementar de Oficiais, fazendo assim, uma comparação entre ambas. O estudo tem sua delimitação na identificação de técnicas de desenvolvimento de pessoas utilizadas na formação de oficiais do quadro complementar do Exército Brasileiro. A pesquisa apresenta, ainda, algumas técnicas citadas por teóricos e outras aplicadas com sucesso por algumas empresas. Na revisão bibliográfica, que tem como propósito dar consistência ao objeto de pesquisa, foram abordados os seguintes assuntos: primeiramente, sobre as Teorias Organizacionais que tem como ênfase as pessoas, onde é abordada a evolução histórica das escolas que transferiram o foco, que antes eram nas tarefas e estruturas em si, para um plano mais humano, utilizando-se inclusive de outras ciências como a psicologia organizacional. Através de Peter Senge, é estudado o valor que uma organização tem quando estimula o conhecimento e facilita suas informações dentro de uma arquitetura organizacional. 10 O próximo assunto é voltado exclusivamente para o Capital Humano, onde autores como Thomas Stewart e Paulo Roberto Mota relatam a importância na identificação e no desenvolvimento do Capital Humano para as organizações. E, por último, este estudo expõe como é realizado um processo de gestão de pessoas, a importância do desenvolvimento de pessoas neste processo. E, também, quais técnicas são utilizadas em organizações civis e no Exército Brasileiro como um todo, bem como quais são as mais importantes na Formação de Oficiais do Quadro Complementar do Exército Brasileiro. A relevância do estudo está no desenvolvimento de pessoas que nos leva a refletir sobre a qualidade dos profissionais que trabalham na Administração Militar e, também, instiga em saber quais as melhores maneiras de potencializar tanto as características pessoais já existentes no militar quanto desenvolver habilidades que contribuam nas relações interpessoais e na riqueza do capital humano. A grande contribuição na formação do profissional militar, através do desenvolvimento de pessoas, enriquece a Administração Militar com profissionais mais preparados e capazes de atingir os objetivos estabelecidos pela referida Administração. Identificar os recursos humanos que se adéque aos princípios morais e éticos da organização e, ao mesmo tempo, transformá-los em verdadeiros capitais humanos é um dos maiores desafios a ser conquistado, principalmente por instituições que tanto valorizam a hierarquia, a disciplina e suas tradições, sem abrir mão da modernidade e das inovações tecnológicas, como é o caso do Exército Brasileiro. 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO COM ÊNFASE EM RECURSOS HUMANOS Esta parte do trabalho, que enfatiza os estudos das escolas humanísticas da administração, colabora no sentido de que a evolução dos estudos sobre os recursos humanos favoreceu um ambiente organizacional que acredita na gestão de pessoas como uma forma eficaz de se desenvolver as capacidades dos trabalhadores e ajudá-los na evolução profissional, bem como, criar um ambiente organizacional propício à criatividade e à disseminação do conhecimento. As técnicas utilizadas hoje para o desenvolvimento do profissional estão muito ligadas a estas escolas humanísticas, que colocam seu pessoal em destaque dentro da estrutura organizacional. Desde os primeiros estudos da administração de empresas como ciência, e a formação das primeiras escolas que contribuíram para a evolução deste estudo, criou-se primeiramente uma mentalidade mecanicista, com ênfase nas tarefas e nas estruturas, e que o empregado era visto como um mero instrumento de trabalho e movido essencialmente pelo dinheiro. Com o tempo foi percebido a importância de se investir nos recursos humanos, de que as pessoas poderiam ser um fator diferencial no desenvolvimento estrutural da organização e um recurso fundamental de criatividade. Neste contexto, começaram a surgir algumas abordagens de pensamento preocupadas com o fator humano, das quais citamos a abordagem humanística e a comportamental. 2.1.1 Abordagem Humanística: a Teoria das Relações Humanas A Abordagem Humanística deu um passo importantíssimo na evolução da ciência da administração de empresas, pois ela conseguiu transferir a ênfase, que antes era colocada nas tarefas e na estrutura organizacional, para as pessoas, nascendo desta forma a Administração de Pessoas. Esse pensamento colocou os recursos humanos em primeiro plano e deu o 12 pontapé inicial para a importância do seu desenvolvimento na escola da administração. Essa Abordagem é representada pela Teoria das Relações Humanas. Na década de 30, com a influência da Psicologia do Trabalho e em oposição à Teoria Clássica da Administração, é criado a Teoria das Ralações Humanas com o intuito de mudar a ênfase na administração de empresas, pois antes o foco era nas tarefas e nas estruturas, e não nas pessoas. Depois de aproximadamente quatro décadas de hegemonia da Teoria Clássica, passou-se a acreditar que o diferencial para se conseguir competitividade seria investir nos Recursos Humanos. A Escola Humanística da Administração surgiu nos Estados Unidos através das conclusões de um trabalho realizado entre os anos de 1927 e 1932 pelo Conselho Nacional de Pesquisa, uma fábrica de Hawthorne da Western Electric Company, em Chicago. O trabalho realizado por Elton Mayo, que ficou conhecido como Experiência de Hawthorne, tinha a intenção de avaliar a correlação entre iluminação e a eficiência dos operários, medida por meio da produção. Dentre as várias conclusões expostas por Chiavenato (2000), algumas merecem destaque como: 1) o que determina o nível de produção são as normas sociais e expectativas criadas nos grupos de trabalho; 2) as empresas são compostas por grupos informais; e 3) o conteúdo e a natureza do trabalho tem influências significativas sobre o moral de trabalhador. Ainda, segundo Chiavenato (2000, p. 126): “A experiência de Hawthorne teve o mérito de demonstrar que o pagamento ou recompensa salarial – mesmo quando efetuado em bases justas ou generosas – não é o único fator decisivo na satisfação do trabalhador dentro da situação de trabalho”. Surge uma nova concepção sobre o homem: o “homem social”, que se baseia em alguns pontos como motivação, grupos sociais, necessidades, liderança, entre outro, e não no “homo economicus”, concepção adotada pela Teoria Clássica da Administração, que defende a teoria que o homem é motivado pelo fator econômico. Quando a Escola Humanística se consolidou no universo dos estudos da administração de empresas, as organizações já estavam criando meios para investir nestes recursos humanos. Pois, as técnicas utilizadas para o desenvolvimento de seu pessoal serviram de instrumento para este tipo de investimento, então, daí em diante, houve uma evolução significativa destas técnicas. 13 2.1.2 Abordagem Comportamental O comportamento humano passou a ser estudado, desta vez, dentro de uma concepção organizacional, onde o ser humano é visto como peça fundamental na reorganização estrutural das empresas, e com isso, os estudos relacionados ao comportamento humano se intensificaram e se tornaram fundamentais para as ciências da Administração de Empresas. A Abordagem Comportamental é representada por duas teorias: a Teoria Comportamental e a Teoria do Desenvolvimento Organizacional (DO). As técnicas de desenvolvimento de pessoas, neste momento, ganharam uma contextualização, herdando como “pano de fundo” um ambiente organizacional, onde existem inúmeras variáveis, tais como: o tipo de organização, o tipo de pessoas que irão ser submetidos a estas técnicas, os tipos de recursos disponíveis, que podem contribuir e influenciar na aplicação destas técnicas. 2.1.2.1 Teoria Comportamental Na década de 40, Herbert A. Simon com seu livro “O Comportamento Administrativo” marca o início da Teoria Comportamental. Uma teoria administrativa, também chamada Teoria Behaviorista, que nada mais é que um desdobramento da Teoria das Relações Humanas, uma nova tentativa de enfatizar as pessoas, porém, desta vez, dentro de um contexto organizacional. Esta teoria critica de forma implacável a Teoria Clássica e desbrava no campo da Sociologia da Burocracia, onde a preocupação em estudar o comportamento humano se torna fundamental para a compreensão do desenvolvimento e sobrevivência organizacional. Alguns estudos sobre o comportamento humano, como a Hierarquia das Necessidades de Maslow e a Teoria dos Dois Fatores de Herzberg, foram muito importantes para a consolidação da Teoria do Comportamento. Para o desenvolvimento deste trabalho, iremos exemplificar apenas os estudos supracitados, pois são os que melhor definem o estudo do comportamento humano e nos dá uma ideia da importância destes estudos para a evolução da gestão de pessoas, e especificamente, das técnicas que irão ser descritas e analisadas. 14 2.1.2.1.1 Hierarquia das Necessidades de Maslow Segundo Chiavenato (2000, p. 393): “Maslow apresentou uma teoria da motivação segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influenciação.” Este autor representou a Hierarquia das Necessidades Humana da seguinte forma: Necessidades de Autorealização NECESSIDADES SECUNDÁRIAS Necessidades de Estima Necessidades Sociais Necessidades de Segurança NECESSIDADES PRIMÁRIAS Necessidades Fisiológicas Quadro 1: A Hierarquia das Necessidades de Maslow Fonte: Chiavenato (1999, p. 128-130). As Necessidades Fisiológicas são as mais essenciais, pois estão condicionadas à sobrevivência do ser humano, como por exemplo, fome, sono e desejo sexual. As Necessidades de Segurança fazem parte do segundo nível das necessidades. Elas são representadas pela segurança, estabilidade, proteção contra a ameaça e fuga do perigo. As Necessidades Sociais são satisfeitas quando o indivíduo é bem aceito por seus companheiros no convívio do dia-a-dia ou quando sua integração gera troca de amizade, de afeto ou amor. As Necessidades de Estima são atingidas quando o indivíduo se sente autoconfiante, valorizado no seu ambiente de trabalho e se ver capaz de agregar valor e utilidade nos seus negócios. E, por último, as Necessidades de Auto-realização que são as necessidades mais elevadas e que são atingidas quando o indivíduo consegue sua auto-realização profissional e autodesenvolvimento contínuo. Estas necessidades estudadas por Maslow nos ajuda a compreender um pouco a importância de conhecermos o comportamento humano na gerência das organizações. 15 2.1.2.1.2 Teoria dos Dois Fatores de Herzberg Frederick Herzberg criou a Teoria dos Dois Fatores com o intuito de explicar o comportamento humano nas condições de trabalho. Para este teórico existem dois tipos de fatores que orientam o comportamento humano: Fatores Higiênicos e Fatores Motivacionais. Os Fatores Higiênicos ou Fatores Extrínsecos são variáveis que estão no ambiente externo de trabalho vivido pelo trabalhador, isto é, fatores que estão fora do controle das pessoas como: salário, benefícios sociais ou tipo de chefia. Os Fatores Motivacionais ou Fatores intrínsecos são variáveis que estão no controle do indivíduo, pois são relacionados diretamente com suas atividades no trabalho como: realização, responsabilidade e progresso profissional. 2.1.2.2 Desenvolvimento Organizacional A Teoria do Desenvolvimento Organizacional (DO) tem ênfase nas pessoas, na organização e no ambiente, com o intuito de facilitar a adaptabilidade e mudança organizacional perante as variáveis ambientais. Esta Abordagem trabalha vários conceitos tais como mudanças ambientais, estrutura, cultura e clima organizacional. O DO tem ênfase na mudança cultural da organização como resposta às contínuas evoluções do ambiente mercadológico. Esta teoria trata-se de uma mudança organizacional planejada. Porém não basta a mudança em si, ela tem que ser rápida, pois acompanhar a velocidade com que as coisas mudam é um verdadeiro desafio, e também tem que ser contínua, pois o ambiente onde as organizações estão inseridas é repleto de elementos, que nada mais são que sistemas dinâmicos e vivos que estão se adaptando e readaptando continuamente ao ambiente. Tratando-se da estrutura organizacional, Chiavenato (2000, p. 444) cita que: Os autores do DO criticam o conceito tradicional de organização, ressaltando as diferenças entre os sistemas mecânicos ou mecanísticos (sistemas fechados típicos do conceito tradicional) e o sistemas orgânicos (sistemas abertos e flexíveis). Para eles, os sistemas orgânicos tornam as organizações coletivamente conscientes de seus destinos e da orientação necessária para melhor se dirigir a eles. A tarefa básica do DO é transformar as organizações mecanísticas em organizações orgânicas. 16 Para os teóricos do DO, as pessoas são as grandes responsáveis e implementadoras destas organizações orgânicas, pois para o sucesso desta transformação (de organização mecânica para orgânica) é preciso flexibilidade, comprometimento e preparo profissional do pessoal envolvido. Nota-se, então, a importância do desenvolvimento do pessoal na criação de uma estrutura organizacional flexível, moderna e preparada para os constantes desafios exigidos pelo mercado, pelos clientes e também pelos próprios colaboradores da organização. O estudo da cultura organizacional dentro do DO é de suma importância, já que não se pode falar em mudança organizacional sem antes entendermos a força que uma cultura exerce no comportamento humano e vice-versa. As condições internas e externas do ambiente podem modificar uma cultura com o tempo, pois uma cultura organizacional não pode ser estática e permanente, ela deve ser flexível e se modificar constantemente para acompanhar e se adaptar às evoluções do mercado, garantindo assim a sobrevivência da empresa. Esta revitalização e renovação organizacional são completamente dependentes das mudanças culturais ocorridas, e estas mudanças culturais são plenamente dependentes das pessoas que trabalham nas organizações. Daí a preocupação em admitir profissionais qualificados e bem preparados, que estejam dispostos às mudanças e comprometidos com os interesses e valores da instituição. Outro conceito muito importante para os autores do DO é o clima organizacional. Este pode ser descrito como a atmosfera psicológica desenvolvida pela organização, é a percepção que o colaborador tem de seu ambiente de trabalho. Quando o clima organizacional não é bom, pode gerar desmotivação e desinteresse por parte dos empregados, causando assim baixa produtividade. Porém, quando o clima atende às perspectivas do trabalhador, pode gerar motivação, comprometimento e alta produtividade. O estudo de identificação das percepções, que as pessoas tem das organizações que labutam é imprescindível para que possa ser trabalhado a motivação e o comprometimento do trabalhador e, com isso, tentar resolver possíveis anomalias que possam está prejudicando o clima organizacional na empresa, desenvolver culturas organizacionais mais adequadas aos perfis de seus profissionais e, por fim, aplicar técnicas de desenvolvimento de pessoas, com o intuito de capacitá-los intelectualmente e contribuir para o crescimento da organização. 17 2.1.3 Organizações que Aprendem As organizações que aprendem são instituições que tem, como umas das características marcantes, a busca constante pelo desenvolvimento de seus profissionais através da disseminação do conhecimento, por isso, existe uma dedicação em se estudar formas de como desenvolver a capacidade intelectual e profissional de seus colaboradores. Então, estas organizações colaboram para este trabalho, porque mostram a verdadeira importância do desenvolvimento de pessoal para a sobrevivência e para a imagem de uma instituição. As técnicas, que são objetos de estudo deste trabalho, recebem uma imensa contribuição neste capítulo, pois, elas são o verdadeiro combustível para o aprendizado organizacional, isto é, as técnicas de desenvolvimento de pessoas são utilizadas como disseminação do conhecimento, propagação de informações, que são tanto úteis para o profissional quanto para a empresa e preparação intelectual do empregado. O Aprendizado Organizacional propõe mudanças nos padrões organizacionais, tornando suas atividades mais rápidas e flexíveis através do comprometimento dos colaboradores e da busca constante do aprendizado. Para Fritz (1997, p. 120): “As organizações que não podem aprender não podem mudar. As organizações que podem aprender podem transformar-se em novas entidades capazes de realizações maiores”. Não existirá mais o papel do indivíduo isolado, único e soberano, e sim a formação de grupos coesos, onde o aprendizado através da troca de informação e conhecimento entre os integrantes será intenso, e terão como objetivo, desenvolver soluções para os mais distintos problemas. Contudo as empresas poderão utilizar o maior número de dados e informações que elas dispõem, transformando-se em uma “organização que aprende”. Mariotti (1999) utiliza um termo chamado educação organizacional continuada que é uma abordagem que transcende o puro e simples treinamento. Desta forma, estas organizações que conseguem ter o comprometimento de seus funcionários através de vantagens recíprocas entre as necessidades do desenvolvimento profissional individual e o aproveitamento de seu conhecimento pela empresa, e ao mesmo tempo, conseguem privilegiar o aprendizado e o conhecimento, ocuparão os espaços de empresas que trabalham de forma individualizada, onde seus empregados não estão tão comprometidos com os objetivos organizacionais. 18 As instituições que adotam aprendizado organizacional buscam derrubar toda e qualquer barreira que empeça uma conexão direta entre os setores, estimulando, desta forma, o compartilhamento de ideias, dados e informações entre as diversas áreas funcionais de uma organização. Estas instituições sabem que a forma mais experta de acompanhar o mercado é alimentando e viabilizando a informação e, consequentemente, fomentando o conhecimento dentro delas. E as que preservam uma visão fragmentada das atividades e não constroem um ambiente favorável ao dinamismo informacional estarão ameaçadas ao fracasso. As respostas às mudanças do ambiente devem ser rápidas, pois as organizações que custam acompanhar as tendências do mercado são ultrapassadas pela concorrência e dificilmente se recuperaram do tempo perdido. Para Senge (1998) o aprendizado só será possível quando as instituições, de modo geral, subtraírem de suas atitudes comportamentais uma visão fragmentada de suas atividades funcionais, e proporcionar uma conexão estreita com todas as partes da empresa de modo a facilitar o compartilhamento de informações, conhecimentos e experiências, e assim a aspiração coletiva ganhará liberdade e as pessoas poderão aprender juntas e continuamente. Pensamento Sistêmico Quando toda empresa está interrelacionada por ações e atitudes, que podem gerar algum efeito. Domínio Pessoal É a disciplina de continuamente esclarecer e aprofundar nossa visão pessoal, de concentrar nossas energias, de desenvolver paciência e de ver a realidade objetivamente. ORGANIZAÇÃO QUE APRENDE Visão Compartilhada É quando uma idéia é capaz de gerar uma imagem compartilhada entre seus colaboradores em torno Fonte:deSENGE, Peter. “A Quinta Disciplina”, uma identidade e senso de destino comum. Modelos Mentais São pressupostos profundamente arraigados, generalizações ou mesmo imagens que influenciam nossa forma de ver o mundo e de agir. Aprendizagem em Equipe É quando a inteligência da equipe excede a inteligência de seus membros, e nos quais o grupo desenvolve capacidades excepcionais de ação coordenadas. Figura 1: As cinco disciplinas da organização que aprende Fonte: Senge (1998, p. 40-45). Senge ainda comenta que para uma organização aderir o aprendizado organizacional deve possuir cinco disciplinas essenciais (figura 1), que segundo ele devem ser 19 compartilhadas por todos os níveis da empresa, mas antes, precisa acontecer uma mudança cultural que permita a viabilidade e a consumação destas disciplinas. Nota-se, que para existir um ambiente propício ao desenvolvimento de pessoas numa organização, é preciso estimular uma cultura organizacional livre de barreiras que impeça a disseminação do conhecimento. Esta cultura deve oferecer um ambiente rico de ideias e de pensamentos que contribuam para o contínuo aprendizado do pessoal. 20 2.3 CAPITAL HUMANO É necessário, para o desenvolvimento deste trabalho, esclarecer o significado do capital humano e o valor que ele representa para uma instituição que valoriza a criatividade e a disseminação do conhecimento. Pois, para entender a importância da implantação de técnicas de desenvolvimento de pessoas é preciso, primeiramente, entender o que é o capital humano e, segundo, saber identificá-lo. Uma empresa que não possui capital humano é uma empresa morta, sem criatividade, sem capacidade de adquirir know-how. Na atualidade, com a concorrência globalizada, as necessidades do mercado cada vez mais complexas, os ciclos de vidas dos produtos cada vez menores e as mudanças tecnológicas ocorrendo com uma rapidez nunca vista, as organizações precisam de informações e conhecimento para se adaptar e se flexibilizarem às novas tendências. Justamente o capital humano é quem pode reter e disseminar as informações e o conhecimento numa empresa através do aprendizado, da criatividade e de ideias construtivas. Stewart (1998) define o capital humano como a capacidade intelectual necessária para que os indivíduos ofereçam soluções aos seus clientes, seja através da criação de produtos, serviços ou processos de negócios, e o autor ainda completa dizendo que: “Capital humano é formado e empregado quando uma parte maior do tempo e do talento das pessoas que trabalham em uma empresa é dedicada a atividades que resultam em inovação”. É importante criar um ambiente que propicie a integração entre seus membros, para que as informações possam fluir de maneira livre, sem restrições e qualquer tipo de barreira que prejudique o processo criativo e inovativo. Dentro deste ambiente é imperativo a existência de pessoas comprometidas e envolvidas tanto com a instituição que trabalham, quanto com a gestão das informações que ali serão tramitadas. E estas informações circuladas nas organizações são importantes porque o mercado valoriza quem cria valor, e os profissionais devem estar preparados para esta realidade. O funcionário que não possui estas habilidades estará com o futuro incerto, pelo menos em empresas que se preocupam em acompanhar as tendências do mundo dos negócios. São identificados dois tipos de funcionários: o primeiro, não acrescenta em nada à empresa, são tidos como custo para ela, podem até executar atividades como ninguém, mas sempre serão facilmente substituíveis, e existe o segundo tipo, são aqueles que fazem a diferença, são 21 vistos como ativos imprescindíveis, e a empresa tem a consciência do valor de suas existências para ela. As organizações estão passando a se preocupar mais com a gerência desse capital humano, porém não adianta apenas querer administrar este ativo tão precioso, é preciso ter um ambiente organizacional favorável. Para se gerenciar o capital humano é necessário que a empresa tenha um comprometimento com a educação contínua, que ela incentive o empowerment, que insira uma política de recompensa por ideias criativas que dêem resultados, e para finalizar, as empresa devem se adaptar o mais rápido possível às mudanças que estão ocorrendo no mercado. Porém o capital humano é apenas uma peça do capital intelectual, uma peça importante, mas isolada dos demais componentes se torna irrelevante. Ela se torna uma peça inútil quando contextualizada de forma isolada por uma empresa que não reconhece o verdadeiro valor desse capital humano. 2.3.1 Identificação do Capital Humano A necessidade de identificar o capital humano numa empresa é fundamental para que se possa gerenciá-lo. Essa identificação nos proporciona não só saber onde se encontra o potencial intelectual em relação aos funcionários, como também auxilia na investigação de quem agrega e quem não agrega valor à empresa. Os primeiros são considerados como investimentos por parte da empresa e os segundos são considerados custos, já que não oferecem nenhum diferencial à organização. Identificar o capital humano é ter acesso às fontes de conhecimento e inovação que uma organização possui ou tem disponível quando precisa. Para Chiavenato (2000, p. 521): “O conhecimento conduz à ação no desenvolvimento de novos produtos ou serviços, na tomada de decisões acertadas em relação aos clientes, na formulação de estratégias para enfrentar os concorrentes, na logística a ser adotada, etc”. Quando uma organização consegue harmonizar esta relação, de conhecimento, inovação e desenvolvimento de produtos ou serviços, é porque ela possui um capital humano muito bem identificado, comprometido e orientado para a finalidade da empresa. Então, é percebido como o desenvolvimento de pessoas, juntamente com as técnicas aplicadas, se 22 encaixa nesta contextualização. As técnicas referidas neste estudo serão baseadas no perfil das pessoas que irão utilizá-las e na finalidade que se dispõe este desenvolvimento. Por isso, antes de querer identificar o capital humano é importante conhecer os dois tipos de conhecimentos que são: o codificado ou explícito e o tácito ou implícito. Segundo Corrêa (1998) o conhecimento tácito é o conhecimento pessoal, produto de estudo e experiência de cada um, já o conhecimento explícito pertence à empresa, pode ser transformado em manual e pode ser transferível de maneira sistêmica. O autor completa afirmando que, em relação aos dois tipos de conhecimento, a transferência de informação pode ser feita de quatro formas: socialização, exteriorização, incorporação e individualização. Stewart (1998) menciona uma análise das forças de trabalho de uma empresa ou departamento, classificando os funcionários de acordo com os quatro quadrantes abaixo: Difícil de substituir. Difícil de substituir. Pouco valor agregado. Muito valor agregado. INFORMAR CAPITALIZAR Fácil de substituir. Fácil de substituir. Pouco valor agregado. Muito valor agregado. AUTOMATIZAR DIFERENCIAR OU TERCEIRIZAR Quadro 2: Análise da força de trabalho e localização do pessoal referente às estas forças Fonte: Stewart (1998, p. 81) No quadrante inferior esquerdo encontra-se a mão-de-obra especializada e semiespecializada, onde a empresa precisará certamente dessas pessoas, mas o seu sucesso não dependerá delas como indivíduos. São atividades que podem ser facilmente substituídas pela automação. No quadrante superior esquerdo estão os trabalhadores que apresentam um conjunto de atividades difíceis na empresa, mas são pouco valorizados pelos clientes. São atividades que precisam agregar mais valor de informação (enriquecimento de cargos) e desta forma se tornar relevante aos olhos dos clientes. No quadrante inferior direito encontram-se os trabalhadores que realizam atividades valorizadas pelos clientes, mas como indivíduos são descartáveis, pois são atividades que as empresas podem simplesmente terceirizar. No quadrante superior direito é onde se encontra o capital humano das empresas. Stewart (1998, 23 p.82) afirma que “é onde estão os trabalhadores cujo talento e experiência criam os produtos e serviços que são o motivo pelo qual os clientes procuram a empresa e não as concorrentes”. São estes tipos de funcionários, do quadrante superior direito, que fazem a diferença em uma empresa, são seus ativos mais valiosos, enquanto nos demais quadrantes estão os funcionários considerados apenas custos de mão-de-obra. Esta análise acima pode indicar a melhor técnica de desenvolvimento de pessoas a ser aplicada para cada tipo de funcionário, dentro de suas respectivas funções; e também contribuir para a construção de uma estrutura organizacional que promova a disseminação no conhecimento. 2.3.2 Desenvolvimento do Capital Humano Quando alguém fala que “as pessoas são nosso ativo mais importante”, ele está se referindo a aquelas que são difíceis de substituir por possuírem conhecimentos que podem agregar à organização, com outras palavras, informações que podem capitalizar a empresa. Para Mota (2002), a criatividade é um potencial humano que está disponível no meio organizacional pronto para ser desenvolvido, usado e transformado em novas habilidades individuais. Então, o desenvolvimento do capital humano numa empresa é imprescindível, pois tanto o funcionário quanto a empresa se beneficiam. O primeiro aprende novas habilidades que podem ser utilizadas tanto no trabalho quanto fora dele, no seu dia-a-dia. O segundo se beneficia por dispor de funcionários bem mais criativos e preparados para assumir atividades mais complexas e desafiadoras. O primeiro passo para gerenciar o desenvolvimento do capital humano, segundo Stewart (1998), é diferenciar aprendizado de treinamento. O aprendizado tem um significado muito mais profundo, pois dá oportunidade aos funcionários de aprender habilidades que podem ser utilizadas tanto nas empresas quanto fora delas, já o treinamento são atividades repetitivas que em nada acrescenta ao intelecto do empregado. Pois, não basta apenas transmitir e atualizar conhecimento técnico, é preciso construir um confronto crítico de práticas e teorias, desta forma, a organização assumirá um papel de renovação de atitudes, processos e métodos que garantam um ambiente aberto a inovações. 24 Stewart (1998) ainda que a relação entre o aprendizado individual e o capital humano da empresa – não apenas seu estoque de conhecimento, mas sua capacidade de inovação – envolve ainda mais grupos do que indivíduos, e que a verdadeira gênese e a verdadeira propriedade das idéias e do know-how não cabem à empresa. Nem ao indivíduo. Pertencem a algo que vem ficando conhecido como comunidade de prática. A comunidade de prática é como um grupo de profissionais ligados informalmente uns aos outros por meio da exposição a uma classe de problemas comuns, então, à busca comum de soluções é que, em si, incorporam um conjunto de conhecimento. Segundo McGee e Prusak (1995 apud Oselame, 2002) quando a tecnologia da informação é utilizada de forma adequada ela pode possibilitar a criação de novos produtos. Empresas que apostam em processo de inovação de produtos costumam investir intensamente em informação e em centros de pesquisa e desenvolvimento. Estes centros são normalmente constituídos de profissionais que possuem habilidades complementares e direcionadas a possível concepção de um determinado produto. Para Chiavenato (2000) o treinamento é um processo educacional sistêmico e organizado, em que as pessoas aprendem conhecimentos, atitudes e habilidades em relação aos objetivos definidos, e que a transmissão de conhecimento específico relativos ao trabalho, a atitude frente às tarefas e o ambiente, e o desenvolvimento de habilidades são três aspectos necessários que envolvem o treinamento. Percebe-se que enquanto Chiavenato (2000) aborda o treinamento como forma de desenvolvimento de pessoal, considerando os aspectos do conhecimento específico, da atitude e do desenvolvimento de habilidades, Stewart (1998) faz uma distinção entre o treinamento e o aprendizado. Este autor sugere a troca do treinamento pelo aprendizado, pois afirma que através do aprendizado o funcionário adquire habilidades que podem ser utilizadas além do ambiente da organização, tornando-os mais capacitados a desenvolver atividades mais complexas. Na prática, tanto o desenvolvimento quanto o treinamento estão envolvidos nas técnicas de desenvolvimentos de pessoas abordadas neste trabalho. O desenvolvimento de pessoas está mais ligado às técnicas que proporcionam a aplicação de novos conhecimentos, e o treinamento de pessoas está mais ligado às técnicas que proporcionam o aperfeiçoamento do conhecimento já existente. 2.4 GESTÃO DE PESSOAS A Gestão de Pessoas é tida como uma nova concepção voltada ao funcionário, de que ele seja visto como parte integrante, participativa e fundamental no processo produtivo, e não como mero telespectador, agente passivo e indireto. Esta nova realidade busca ver a ótica do trabalhador como parceiro, onde tanto os interesses pessoais quanto os interesses organizacionais são identificados e supridos. O funcionário busca, através da organização, atender suas necessidades e alcançar seus objetivos pessoais, e com isto, tornar seus sonhos reais, se sentir produtivo, realizado e com a sensação de fazer parte de uma entidade que reconhece sua importância e seu valor como pessoa. A empresa, por outro lado, reconhece que por si só não conseguirá alcançar seus objetivos dentro de um ambiente competitivo se não tiver pessoas comprometidas com seus valores e tradições, e que também sejam capazes de enriquecer com seus conhecimentos tanto a relação interpessoal que envolve convívio entre colaboradores quanto produtos/serviços que são tão essenciais para a sobrevivência da organização no mercado. Para Chiavenato (2004, p.5) “[...] cada uma das partes depende da outra. Uma relação de mútua dependência na qual há benefícios recíprocos. Uma relação duradoura simbiose entre pessoas e organizações.” O objetivo da Gestão de Pessoas é, primeiramente, reconhecer as pessoas como o principal ativo que uma organização pode ter, segundo, gerir as habilidades e talentos que precedem destes ativos, e desta forma fazendo a organização trabalhar de maneira harmônica com seus colaboradores, e que cada um possa alcançar seus objetivos, seja ele individual ou coletivo. Segundo Chiavenato (2004), existem alguns aspectos fundamentais da moderna Gestão de Pessoas: • pessoas como seres humanos: as pessoas são ativos dotados de habilidades primordiais para gestão dos recursos organizacional; • pessoas como ativadores inteligentes de recursos organizacionais: as pessoas como verdadeiros impulsionadores do processo produtivo e não como seres inertes, passivos, isto é, meros telespectadores; e • pessoas como parceiras da organização: as pessoas passam a ter uma relação de troca de interesses com a organização, pois, um reconhece e busca satisfazer os objetivos do outro, daí o caráter de integração entre estas duas partes. 26 2.4.1 Processos de Gestão de Pessoas A Gestão de Pessoas é um conjunto de processos integrados e interdependentes, dinâmicos e interativos, isto é, na falta ou desequilíbrio de um dos processos pode desencadear o desequilíbrio dos demais. Estes processos são estruturados conforme influências ambientais externas e organizacionais internas para se obter a melhor compatibilização entre si. Estes são os Processos de Gestão de Pessoas, conforme Chiavenato (2004): 1) processos de agregar pessoas: são processos utilizados para a admissão de novos funcionários na empresa; 2) processos de aplicar pessoas: são processos que tem a responsabilidade de descrever as atividades que o funcionário irá desempenhar na empresa; 3) processos de recompensar pessoas: são processos que tem a responsabilidade de incentivar o funcionário através de recompensas, bem como satisfazer suas necessidades individuais mais elevadas; 4) processos de desenvolver pessoas: são processos responsáveis pelo desenvolvimento do capital humano da empresa, isto é, capacitação, e treinamento das pessoas, de forma a gerir e estimular todo o conhecimento presente na organização; 5) processos de manter pessoas: são processos responsáveis pela permanência ou não do funcionário na empresa. Estes processos são que ditam as condições tanto ambientais quando psicológicas do local de trabalho; e 6) processos de monitorar pessoas: são processos que controlam e acompanham as atividades e os respectivos resultados de seus funcionários. Como forma de atingir os objetivos traçados neste trabalho, iremos abordar apenas o processo de desenvolvimento de pessoa, bem como descrever as diversas técnicas utilizadas nestes processos. 2.4.2 Desenvolvimento de Pessoas e suas técnicas As organizações que realmente estão preocupadas em investir nos seus funcionários, que tem a consciência da importância do potencial intelectual, adotam técnicas que são 27 utilizadas para o desenvolvimento de seu pessoal. Pois, segundo Chiavenato (2004, p.370): [...] as atividades de desenvolvimento pessoal que estão relacionadas com os processos mais profundos de formação da personalidade e da melhoria da capacidade de compreender e interpretar o conhecimento, do que com a repartição de um conjunto de fatos e informações a respeito de habilidades motoras e executoras. O desenvolvimento está mais focalizado no crescimento pessoal do empregado e visa à carreira futura e não apenas o cargo atual. Com a finalidade de atingir os objetivos deste trabalho, serão abordadas determinadas técnicas citadas por alguns teóricos. Para Chiavenato (2004) algumas técnicas são essenciais como: 1) rotação de cargos: trata-se da movimentação do funcionário, em diversos cargos diferentes, com o intuito de capacitá-lo profissionalmente. Existe a rotação vertical, que é a movimentação do funcionário em cargos mais complexo, visando uma provável e futura promoção. E existe a rotação horizontal, que é a rotação do funcionário em cargos de mesma complexidade, e que visa o desenvolvimento do conhecimento e da experiência do profissional, tornando-o mais capacitado no desempenho do seu cargo atual; 2) posição de assessoria: é quando o profissional, com significativo grau de conhecimento e sob supervisão de um gerente preparado, trabalha como assistente de staff ou em equipes de assessoria direta, desempenhando diferentes tarefas; 3) atribuição de comissões: é quando as pessoas participam de comissões de trabalho, tomando decisões e adquirindo conhecimentos através da observação e de soluções de problemas. Normalmente estas comissões são temporárias e efêmeras, e tem como finalidade solucionar problemas específicos, propor alternativas e recomendar suas implementações; 4) treinamento (outdoor) fora da empresa: este tipo de técnica possibilita o profissional adquirir determinados conhecimentos que não são possíveis de ser adquiridos dentro da organização. Normalmente, a busca é por conhecimentos específicos e são geralmente disponibilizados por organizações especializadas; 5) estudo de casos: ocorre quando o profissional tem que analisar e resolver determinados problemas fictícios, desenvolvidos para este tipo de treinamento, mas com características e situações bem próximas da realidade. Para Chiavenato (2004) “Trata-se de uma técnica que permite diagnosticar um problema real e apresenta alternativas de solução, desenvolvendo habilidades de análise, comunicação e persuasão”; 6) aconselhamento de funcionários: o aconselhamento é utilizado para ajudar no desempenho das atividades das pessoas, pois esta técnica ocorre quando é percebido algum problema no desempenho do trabalhador ou quando apresenta um comportamento instável e 28 que pode comprometer a funcionalidade administrativa da organização. O gerente que proporcionar o aconselhamento tem que ser preparado para tal e ter o discernimento do momento ideal para a intervenção. Pode-se, ainda, citar algumas organizações que obtiveram sucesso no desenvolvimento de pessoas, a partir da implantação de determinadas técnicas. São elas: 1) o Canadian Imperial Bank of Cammerce (CIBC): que aplica uma técnica de desenvolvimento de capital humano chamada “modelo de competência”. Estes modelos descrevem capacidades específicas e exigidas para cada tipo de cargo preenchido na empresa. Estas capacidades são determinadas dentro das exigências do ambiente mercadológico e dos interesses e objetivos da empresa. Segundo Stewart (1998, p.84): [...] a faixa e profundidade do conhecimento que se espera de um caixa de banco difere do que um gerente de filial ou funcionário do setor de empréstimo deveria saber, por isso os modelos de competência foram transformados em “mapas de competência” que, na verdade, exibem as habilidade de que as pessoas precisam para seguir em frente em suas carreiras. Ao invés da organização realizar treinamentos, ela disponibiliza Salas de Aprendizagem em cada filial, onde fica à disposição do profissional, livros, software e outros recursos para seu desenvolvimento. Com isso, o profissional tem a oportunidade de preencher lacunas entre o que ele pode desenvolver hoje e o que o cliente e o mercado esperam dele. Porém, tudo depende da iniciativa do próprio empregado; se ele deseja manter-se no cargo atual ou se pretende conquistar outros cargos; tudo dependerá de sua própria vontade e objetivos dentro da organização e realização pessoal; 2) a Xerox: nesta organização se aplica uma técnica chamada “comunidade de prática”, que nada mais são que oficinas, onde as pessoas são reunidas informalmente com a finalidade de resolver determinados problemas, oferecendo soluções criativas e inovadoras. Estas comunidades são verdadeiras fontes de conhecimentos para a organização; elas utilizam-se do relacionamento, da coletividade e da integração, para gerar soluções para determinados problemas, sejam eles de produtos ou de processos. Para Stewart (1998, p.87): “As comunidades de prática realizam dois trabalhos principais de formação do capital humano: transferência de conhecimento e inovação.” 29 2.4.3 O Desenvolvimento de Pessoas no Exército Brasileiro O desenvolvimento de pessoas é um procedimento utilizado por qualquer que seja a instituição; seja uma igreja, quando trata do ensinamento de seus padres ou pastores; seja uma fábrica, quando realiza aprendizado e reciclagem com seus colaboradores; seja uma organização militar como o Exército Brasileiro, que trabalha na formação, especialização e aperfeiçoamento de seus militares. Para cada uma destas instituições citadas acima existem técnicas utilizadas para o desenvolvimento de pessoas. Algumas destas técnicas estão presentes, raramente, em uma única instituição (normalmente para atender determinadas peculiaridades), pois a grande maioria está presente em mais de uma organização, como é o caso das palestras, cenários, rotação de cargos, estudo de caso, etc. Numa organização como o Exército Brasileiro, que possui várias instituições de ensino, tanto para oficiais quanto para praças, existe o Departamento de Educação de Cultura do Exército (DECEx), que é uma Organização Militar responsável pela política de gestão de pessoas da Força. Ela tem como principais missões administrar a execução das políticas de ensino e pesquisa; promover a evolução e o aperfeiçoamento das atividades de ensino; e distribuir os recursos necessários ao ensino e à pesquisa. A gestão de pessoas no Exército vem ganhando espaço a cada ano, pois o comprometimento assumido por esta Organização Militar, com seu pessoal, está sendo consolidado através de atitudes que colaboram com o enriquecimento intelectual da tropa, seja de forma mais abrangente no âmbito do Exército como um todo, seja de forma mais específica no âmbito da Força Terrestre. Os agentes diretos e indiretos de ensino desta Organização estão, segundo as diretrizes do Chefe do DECEx, altamente motivados e preparados para buscar inovações e melhorias educacionais visando à qualidade e o aprimoramento de seus militares. Segundo a Diretriz do Chefe do DECEx (2008a, p.2): “O Sistema Ensino deverá proporcionar aos integrantes da Força uma sólida base de conhecimentos profissionais, fazendo com que os valores éticos e morais da Instituição lhes permeiem o caráter.” Estão vinculados a este Departamento: • Diretoria de Formação e Aperfeiçoamento (DFA): responsável pela formação e aperfeiçoamento da tropa, por altos estudos militares, pelo ensino militar científico-tecnológico e pelo desenvolvimento da doutrina de emprego da Força-Terrestre; 30 • Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA): voltada para o ensino médio e fundamental dos dependentes de militares, com o caráter preparatório e assistencial. Os Colégios Militares do Exército Brasileiro e a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) estão subordinados a esta Diretoria; • Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal (DPEP): cuida da parte de pesquisa e desportos das organizações militares, bem como assessora na doutrina do Treinamento Físico Militar; • Diretoria de Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx): preserva as tradições, a memória e os valores morais, culturais e históricos do Exército Brasileiro; • Diretoria de Especialização e Extensão (DEE): no fim da 2ª Guerra Mundial o Exército Brasileiro percebeu a necessidade de desenvolver intelectualmente seus militares, através de cursos de especialização e extensão para oficiais e praças. Hoje, a formação de oficiais do Quadro Complementar e de Saúde e os de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos da áreas técnicas e logísticas estão ligados a esta Diretoria. Para fins deste estudo, será abordado o desenvolvimento de pessoas na Formação de Oficiais do Quadro Complementar, através de técnicas específicas que ajudarão na vivência e liderança militar, já que o oficial do Exército Brasileiro é adestrado para, dentre outras atribuições, comandar e liderar homens. Como objeto deste estudo, as principais técnicas de desenvolvimento de pessoas utilizadas no Exército Brasileiro serão identificadas e comparadas com algumas técnicas aplicadas em organizações privadas. Então, serão levantadas algumas peculiaridades que caracterizam as técnicas desenvolvidas na Força. DPHCEx DPEP DEE DECEX DEPA Figura 2: Estrutura do DECEX Fonte: http://www.decex.ensino.eb.br/pag_estrutura.htm DFA 31 2.4.4 Técnicas de Desenvolvimento de Pessoas Aplicadas no Exército Brasileiro As técnicas de desenvolvimento de pessoas no Exército Brasileiro tem a denominação de “Técnicas de Instrução” e estão amparadas no Manual do Instrutor (T21250). O processo ensino-aprendizagem compreende diversos componentes, sendo portando um conceito abrangente. A técnica de instrução é um desses componentes, consistindo na maneira, jeito ou habilidade especial de se executar ou ministrar uma sessão de instrução ou aula. A expressão “técnica de instrução” corresponde às expressões “técnica de ensino”, empregada nos documentos do Sistema de Ensino ou “processo de instrução” empregada nos documentos do Sistema de Instrução. (BRASIL. EXÉRCITO BRASILEIRO, 1997, p.4-1) Dentre todas as técnicas utilizadas na Força, serão citadas e exemplificadas as mais importantes, bem como as características de cada uma delas. Elas podem ser utilizadas isoladamente, porém, em regra geral, são desenvolvidas de forma mista, combinando duas ou mais técnicas ao mesmo tempo. 1) palestra: é uma técnica onde os recursos de comunicações são intensos e que os meios auxiliares são fundamentais para melhor qualidade na sua aplicação. Sua utilização é muito útil na inicialização da aprendizagem (novos assuntos), instigando a reflexão e a discussão dos temas abordados. A palestra aproxima muito o instrutor do instruendo, facilitando a retirada de dúvidas e o esclarecimento de possíveis questionamentos que possam ocorrer. No entanto existem algumas desvantagens como a fácil dispersão dos instruendos, por isso, o instrutor deve ser muito criativo para conquistar a atenção dos alunos. Então, é comum associar a palestra com outras técnicas como, exercícios, dramatizações e estudos de caso; 2) demonstração: técnica utilizada na iniciação da aprendizagem voltada ao desempenho. Os instruendos aprendem pela visualização da execução de determinados procedimentos, podendo complementar conceitos anteriormente estudados. A demonstração leva ao instruendo uma simulação bem próxima da realidade que o aluno provavelmente irá vivenciar no futuro; 3) interrogatório: o instrutor utiliza-se de perguntas para instigar a participação dos instruendos, e com isso, ajudá-los na reflexão do assunto exposto, no desenvolvimento de raciocínio, na participação ativa e na contribuição pessoal, através de experiências vividas por cada um. As perguntas feitas pelo instrutor são muito importantes, pois deverão servir de instrumentos para envolver e comprometer a participação dos alunos; 32 4) discussão dirigida: técnica utilizada para instigar os instruendos à reflexão crítica e à resolução de impasses, com isso, levando-os a expressar idéias e críticas relativas ao tema exposto. “Técnica na qual o grupo de instruendos examina um assunto ou problema, a partir de tópicos que estimulam o raciocínio e levam à reflexão.” (BRASIL. EXÉRCITO BRASILEIRO, 1997, p.A-4) A Discussão Dirigida pode desenvolver nos instruendos: a expressão oral de pensamentos e de pontos de vista; a reflexão crítica, o raciocínio e a compreensão; a capacidade de saber ouvir e de aceitar pontos de vista diferentes; a capacidade de argumentar e de contra-argumentar, com tato; o interesse pelo assunto; e a capacidade de trabalho em equipe; 5) dramatização: técnica onde os instruendos desempenham papéis, sendo oferecido a eles a oportunidade de diagnosticar e resolver situações-problemas. Com isso, desenvolvendo-lhes alguns atributos essenciais para a formação militar como, criatividade e capacidade de expressão. A dramatização permite uma vivência prática através da observação, da análise e do estudo de situações, onde o instrutor atua como interventor tanto acrescentando ensinamentos, conceitos e idéias relevantes, quanto criando novas situações, dinamizando desta forma a instrução; 6) grupo de oposição: é uma técnica onde existem dois grupos; o primeiro defende uma ideia, apresentando suas vantagens, e o segundo grupo apresenta seus contraargumentos e desvantagens relativas a esta mesma ideia. Com isso, os alunos desenvolvem noções de argumentação, persuasão, comunicabilidade e equilíbrio emocional e o instrutor colabora através da coordenação, moderação e orientação de cada grupo exposto. Segundo Brasil. Exército Brasileiro – Manual do Instrutor (1997, p.A-9) “favorece a fixação da aprendizagem, o espírito crítico e a capacidade de argumentar e contra-argumentar”; 7) pesquisa em grupo: técnica na qual os instruendos, através de grupos, iniciam uma busca por informações relativas a determinados assuntos. Este procedimento ajuda os alunos a desenvolverem senso crítico, auto-aperfeiçoamento, iniciativa, etc. A execução desta técnica compreende em duas fases: a primeira é a pesquisa propriamente dita, aonde os alunos vão atrás de fontes para o desenvolvimento de ideias, opiniões e conceitos; e a segunda é a exposição dos resultados alcançados, que pode ser oral ou escrita. 33 2.4.5 Técnicas Aplicadas no Curso de Formação de Oficiais do Quadro Complementar O Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro, criado no dia 02 de outubro de 1989 e que está ligado à Diretoria de Especialização e Extensão (DEE), é composto de oficiais de ambos os sexos direcionados ao emprego em atividades de natureza administrativa e complementar, bem como no assessoramento aos Comandantes Militares. Atualmente, apesar de sua história ainda ser curta, em relação ao Exército Brasileiro, o Quadro Complementar de Oficiais (QCO) é fundamental no cenário atual da Força, pois sua contribuição na área do conhecimento técnico/administrativo flexibiliza e dinamiza os procedimentos organizacionais, sem abandonar os valores e tradições que tanto fortalecem a história do Exército Brasileiro. Dentro deste contexto e da importância do papel do oficial no Exército Brasileiro, existe toda uma preocupação na formação destes militares, pois estes ajudarão a originar a Instituição adequando-a aos novos dilemas do século XXI, honrando suas tradições e relembrando os heróis que um dia derramaram seu sangue e defenderam nossa Pátria. Para que a formação e o desenvolvimento destes oficiais estejam dentro das expectativas estabelecidas pela Força, existem técnicas de desenvolvimento de pessoas, que estão disponíveis nas Normas Gerais de Ação da Escola de Administração do Exército (NGA/EsAEx), e são aplicadas, com o intuito de prepará-los para a realidade que irão encontrar no cotidiano das Organizações Militares em que irão servir. As principais técnicas são: 1) rodízio de funções: os tenentes-alunos assumem algumas funções especiais que o possibilitam desenvolver habilidades como: iniciativa, criatividade, planejamento, decisão etc; esta técnica é denominada por Chiavenato com “Rotação de Cargos”, como já foi citado anteriormente neste trabalho. Por um período determinado, os alunos assumem papeis de destaque dentro da Companhia de Alunos, possibilitando o aprendizado através da prática e vivência de algumas funções administrativas essenciais (Auxiliar de Comando, Sargenteante, Furriel, Guia do Treinamento Físico Militar (TFM), Chefe e Subchefe de Turma). Com isso, o oficial-aluno adquire conhecimentos específicos que o habilita a coordenar qualquer uma destas funções depois de formado. 2) pesquisa em grupo: através de um Projeto Interdisciplinar (PI), os oficiais- alunos, de áreas distintas (Administração de Empresas, Contabilidade, Saúde, Informática, etc), são levados a desenvolver trabalho científico, que os proporcionará uma visão sistêmica 34 de determinados assuntos na área militar. Nesta tarefa, alguns atributos são observados como, trabalho em equipe, liderança, responsabilidade, tolerância, etc. O aluno é instigado a pesquisar assuntos relativos às atividades militares, desta forma, contribuindo para o desenvolvimento e melhoramento de determinadas rotinas no âmbito do Exército Brasileiro. O Projeto Interdisciplinar pode ser associado à técnica “comunidades de práticas” que foi citada anteriormente, quando aplicada na empresa Xerox. A peculiaridade da técnica, na Força, é o seu direcionamento, pois, o PI está voltado para assuntos especificamente militares, proporcionando ao oficial-aluno a conhecer mais a Instituição Militar que ele está inserido, e dando-lhe uma oportunidade de envolvimento e comprometimento com o Exército; 3) experiência em outras Organizações Militares: a Escola de Administração do Exército proporciona aos oficiais-alunos visitas a outras Organizações Militares. Estas visitas contribuem para a vivência profissional do aluno, dando-lhes mais experiência e conhecimento nas suas áreas específicas. O ponto forte desta técnica são as trocas de experiências entre militares de outras Organizações da Força. Este método, normalmente, vem acompanhado de outros como, palestras e demonstrações. No Exército Brasileiro esta técnica é utilizada tanto em organizações militares com características genéricas (quando o oficialaluno está de serviço de observador do oficial-de-dia no 19º Batalhão de Caçadores (19º BC), isto é, explorando uma atividade tipicamente militar), quanto com características específicas (quando o oficial-aluno de administração visita o 1º Depósito de Suprimento (1º DSup), isto é, explorando uma atividade específica de administração); e 4) fixação do dramatização: alguns instrutores utilizam a dramatização como ferramenta de conhecimento. Na dramatização os oficiais-alunos assumem papeis, proporcionando-lhes oportunidade de defrontar-se com prováveis problemas que são comuns na vida cotidiana militar, instigando-lhes a solucionar os problemas através do estudo e da observação. O instrutor atua como interventor, auxiliando na busca de soluções e no dinamismo da tarefa. Esta técnica desenvolve a desinibição, a comunicabilidade e a criatividade do oficial-aluno, colaborando desta forma para a formação do oficial. Esta técnica, que é altamente difundida na Força, é pouco utilizada em organizações privadas, no entanto, sua aplicação é extremamente importante para o desenvolvimento do profissional, como foi mencionado acima. 35 3 CONCLUSÃO É necessário que a instituição militar adote em sua estrutura organizacional uma cultura que facilite a gestão de seu pessoal, com o intuito de aproveitar o máximo de sua capacidade intelectual, reduzindo o grau de incertezas e deficiências por parte de seus recursos humanos, direcionando-os ao desenvolvimento de atividades e/ou processos, sejam de cunho administrativo ou de cunho operacional. Para isso, a organização deve conhecer seu capital humano, saber onde ele está inserido e buscar desenvolvê-lo. Morgan (1996) comenta que, as organizações também podem ser vistas como um organismo inteligente, que tem todas as suas vulnerabilidades, mas se agir com presteza e sabedoria se manterá sempre muito competitiva. Embora a ideia de valorizar o funcionário pela sua capacidade intelectual seja vista como forma de oportunidade para alguns Comandantes, outros já não tem esse mesmo ponto de vista, justamente pela incapacidade de quantificar o quanto o valor intelectual de seus militares representa, de forma significativa, à instituição. Todavia, de forma concreta, o Exército Brasileiro não só valoriza como também investe na capacitação de seus militares, através das diretrizes do Comando da Força e do Departamento de Educação e Cultura do Exército. Com base na revisão bibliográfica, na metodologia realizada, no objeto referido neste estudo e nos objetivos a serem alcançados, a conclusão da pesquisa demonstrou: a existência de várias técnicas de desenvolvimento de pessoas, tanto em organizações privadas quanto no Exército Brasileiro; que a Força possui uma forte estrutura de ensino, coordenada pelo DECEx, e que está plenamente comprometida – demonstrada nas suas Diretrizes – com a capacitação e o desenvolvimento de seus militares; que, segundo este estudo, foi demonstrado que as técnicas utilizadas do Exército Brasileiro são tão consistentes, atuais e bem aplicadas quanto às de empresas privadas; e por último, que as técnicas desenvolvidas na formação de oficiais do Quadro Complementar são voltadas para o desenvolvimento profissional tanto na área tipicamente militar quanto na área administrativa, atendendo desta maneira as peculiaridades da profissão do oficial do QCO. O resultado desta pesquisa identificou o Exército Brasileiro como uma instituição que valoriza o desenvolvimento intelectual de seus profissionais, diversificando as formas de aprendizado através de normas e manuais já estabelecidos em suas Escolas de Formação. Observa-se, que mesmo apresentando uma estrutura organizacional verticalizada e rígida, e 36 tendo a hierarquia e a disciplina como pilares fundamentais, a Força torna possível a criação de uma cultura que propaga o conhecimento, a criatividade e a inovação. Esta cultura, que preserva atitudes e gestos do passado é a mesma que busca se modernizar e atender aos anseios da nação brasileira através do preparo e emprego de seus homens. Outro aspecto importante neste trabalho, é que as técnicas de instrução adotadas, tanto na Escola de Administração do Exército, quanto na Organização como um todo, estão em consonância com as técnicas de desenvolvimento de pessoas mais utilizadas em todo mundo. Isso demonstra a constante atualização nos procedimentos utilizados na formação e aperfeiçoamento dos militares do Exército Brasileiro. Estes procedimentos e técnicas mencionadas são vistos como instrumentos padronizados e facilitadores do ensino, tornandose fundamental no resultado final da formação profissional do militar. O presente estudo, também expõe a importância das técnicas de desenvolvimento e aperfeiçoamento de pessoas no preparo e emprego das tropas militares, desde sua formação até seu contínuo aprimoramento. É importante salientar que somente as técnicas não darão resultados, é imperioso que os instrutores tenham a consciência de sua importância no resultado final das instruções, pois, o método a ser utilizado e a forma como isto será exposto ao instruendo tornam-se essencial no aprendizado e, consequentemente, na formação do profissional do QCO. Com isso, este trabalho fortalece a necessidade das organizações militares utilizarem todo o seu potencial criativo para se manterem úteis ao desenvolvimento do seu país, porém recomenda-se também a terem consciência que a criatividade não procede apenas daqueles que estão posição estratégica, mas também daqueles que estão em posições táticas e operacionais na Instituição. 37 REFERÊNCIAS BEAUD, Michael. Arte da Tese: Como redigir uma Tese de Mestrado ou de Doutorado, uma Monografia ou qualquer ou Trabalho Universitário. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. CAPITAL intelectual. Apresentação de André Corrêa. Argumento de Paulo Jacobson. Rio de Janeiro: Link Quality, 1998. 1 fita de vídeo (50min), VHS, som, color. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 2000. Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. BRASIL. EXÉRCITO BRASILEIRO. Chefe do Estado-Maior do Exército - EME. Manual do Instrutor. 3. Ed. 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