Língua Materna ou dos sabores dos seus sentidos H e n riq u e B a rro s o (U n ive rsid a d e d o M in h o ) [email protected] V e m e s te títu lo a p ro p ó s ito d o D ia In te rn a c io n a l d a L ín g u a M a te rn a , q u e s e celeb ra a 2 1 d e F e ve re iro , e q u e e s te a n o a U n ive rs id a d e d o M in h o , a tra vé s d o In stitu to d e L etra s e C iên cia s H u m a n a s (m a is p ro p ria m en te, d o G ru p o M A V E ), n ã o q u is d e ixa r d e a ssin a la r. B e m p e lo co n trá rio : co n vid o u u m p a r d e E sco la s d o s E n sin o s B á sico e S ecu n d á rio d a reg iã o e p ro p ô s -lh es d u a s m esa s-re d o n d a s, m o d e ra d a s p o r M ica e la R a m o n (a re p re se n ta n te d o D e p a rta m e n to d e E stu d o s P o rtu g u e s e s n a q u e le G ru p o ), a s a b e r: «P e rc u rs o s P ro fis s io n a is d e L ic e n c ia d o s e m P o rtu g u ê s L ín g u a M a te rn a », d e m a n h ã , e «E n c o n tro c o m E s c rito re s », d e ta rd e (q u e a R U M g ra vo u e tra n s m itiu – co m co rtes – , re sp e ctiva m e n te , n o s d ia s 2 e 9 d e M a rç o , n o p ro gra m a “ U n iv ersid a d e s e m M u ro s ”, q u e te m lu ga r a o s d o m in go s en tre o m eiod ia e a s tre ze h o ra s). P o rq u e , e m 2 0 0 1 , p u b liq u e i u m livro d e p o e m a s ( Pondras de Pedras Soltas . B ra g a : C a lid u m ), fu i co n vid a d o p a ra p a rticip a r co m o o ra d o r n a seg u n d a m esa re d o n d a e – a o la d o d e S a ra C o s ta , A n a S a lo m é e Jo rg e P im e n ta , p o e ta s e a m ig o s – fa la r d a m in h a exp eriên cia n a rela ç ã o co m a E scrita , m a s ta m b ém L eitu ra , E n sin o e A p ren d iza g e m d a L ín gu a M a tern a . L o g o a p ó s u m a a p re s e n ta ç ã o b re ve d o s s e u s c o n vid a d o s , a m o d e ra d o ra d e u in ício ao d e b a te in te rp e la n d o -n o s d irec ta e/ o u in d irec ta m en te, sem d eixa r, n a tu ra lm e n te, d e d a r es p a ç o a o a u d itó rio p a ra c o lo c a r even tu a is q u es tõ es e/ o u fa zer o s s e u s p ró p rio s c o m e n tá rio s . A ssim , d a d o q u e n o s fo i p ro p o sto co m eça rm o s p o r n o s p ro n u n cia r so b re o m o m e n to p rim e iro d e e scrita lite rá ria (o u te n d e n cia lm e n te d e sta n a tu re za ), p e la m in h a p a rte , a d ia n te i q u e h a via e n ce ta d o e sta a ctivid a d e n a ju ve n tu d e e n ã o , c o m o h a b itu a l o u freq u en tem en te a co n tece, n a a d o lescên cia (a fa se etá ria d a q u a se to ta lid a d e d o a u d itó rio ). Q u e o fa zia / fa ç o d e m o d o irre g u la r, is to é , q u e n ã o e s c re vo to d o s o s d ia s o u , a té , q u e fic o à e s p e ra , s e n ta d o , q u e m e o c o rra u m a lin h a m e n to d e ve rso s a q u e se p o d e ch a m a r ‘p o em a ’. N ã o . N o rm a lm en te, q u a n d o e p o rq u e q u a lq u e r co isa m e xe co m ig o , a co n te ce m -m e m a is sin a p se s q u e d e se m b o ca m , n ã o 1 sem p re m a s q u a se, em p o em a s q u e sa em já p ra tica m en te co n stru íd o s d a m en te, lim ita n d o -m e , n a g e n e ra lid a d e d o s ca sos, a to m a r n o ta d essa s seq u ên cia s d e p a la vra s / id e ia s o u , in ve rs a m e n te , id e ia s / p a la vra s q u e , a n ã o re g is ta r, d ilu ir -se -ia m . P a ra a lé m d is s o , q u e n ã o m e c o n s id e ra va / c o n s id e ro u m p o e ta p ro p ria m e n te d ito , m a s m a is u m e scre ve n te d e a p o n ta m e n to s lite rá rio s. In te rp e la d o s, a se g u ir, so b re se tín h a m o s sid o b o n s a lu n o s a P o rtu g u ê s (a n o ssa L ín gu a M a tern a ) e se e ste a sp e c to tin h a , d e a lgu m m o d o (o u , m e s m o , d e cisiva m e n te ), c o n trib u íd o p a ra o d e s e n vo lvim e n to d a e s c rita lite rá ria , re fe ri q u e h a via sid o u m a lu n o ra zo á ve l n e ssa d isc ip lin a (b em c o m o n o u tra s) e u m p o u c o m e lh o r n a d e L ite ra tu ra P o rtu g u e sa , e q u e e sta fo rm a ç ã o in icia l co m b in a d a co m a in fo rm a çã o e fo rm a çã o , su b se q u en tes, em E stu d o s C lá s s ic o s e P o rtu g u e s e s co n trib u íra m / co n trib u em n e ce ss a ria m en te p a ra u m a p ro d u ç ã o (lite rá ria o u d e o u tra n a tu reza ) m a is rig o ro sa , m a is c rite rio sa , en fim , c o m m a io r m e s tria . F a lá m o s, d e p o is, d o m o d o co m o d a m o s a co n h e ce r o q u e e scre ve m o s. N o m e u ca so co n creto , rela tei q u e fu i b a ten d o , sem d esistir n u n ca , a vá ria s p o rta s, a té q u e u m a a c a b o u p o r s e a b rir – is to , e p a ra já , p a ra o p rim eiro e ú n ic o vo lu m e d e p o em a s p u b lic a d o (a q u e a trá s a lu d i). P a ra a lé m d e s te m e io (p a ra m im , o s u p o rte p o r e xc e lê n c ia ), M inho / B ra g a , o u tro s por poemas tê m e xe m p lo ), s id o d ivu lg a d o s em p erió d ico s na im p re n s a lite rá rio s ( Diário ( Poetas do & Trovadores / G u im a rã e s) e , u m a ve z (ca so ú n ico ), u m p o e m a fo i p u b lica d o n a seq u ên cia d e u m p rém io a trib u íd o n u m co n cu rso literá rio ( Concurso N acional de Poesia A go stin h o G o m es – A Escrita dos Outros . C â m a ra M u n ic ip a l d e O live ira d e A zem éis – P e lo u ro d a C u ltu ra , N o ve m b ro d e 2 0 0 4 ). R e fle c tim o s , n o u tro m o m e n to d o d e b a te , s o b re a im p o rtâ n c ia d a L e itu ra n o p ro c e s s o d e E n s in o / A p re n d iza g e m d a L ín g u a M a te rn a , o u s e ja , q u e le r, le r m u ito , le r te xto s va ria d o s (tip o ló g ic a e te m a tic a m e n te ) e ler “b o n s” a u to res rep resen ta u m a ca p ita liza çã o sem igu a l: é q u e, d esta fo rm a , co m p reen d e -se m elh o r o m u n d o , a co m eça r p elo q u e está à n o ssa vo lta , p elo q u e n o s é p ró xim o o u fa m ilia r. P o r o u tra s p a la vra s : a s ja n e la s d o s s e n tid o s (vis ã o , a u d iç ã o , e tc .) a b r e m -se p a ra o m u n d o te n ta n d o p e rc e b ê -lo , is to é , d a n d o -lh e lin gu is tic a m en te sen tid o (s). P o r fim , s o n d a d o s s e a lg u m a ve z h a vía m o s te n ta d o e s c re ve r n o u tra s lín g u a s , e u , a p e s a r d e o te r p o n tu a lm e n te fe ito (u m p o e m a e m a le m ã o e d o is e m fra n c ê s ), n o tei q u e é em P o rtu g u ê s q u e m a is e m e lh o r c o n s ig o d ize r o q u e s in to . A liá s , e s to u co n ven cid o d e q u e é a p en a s n a L ín gu a M a tern a q u e se é ca p a z d e a p o n ta r p a ra e/ o u 2 d ize r to d o s o s se n tid o s, ta n to o s expressivos q u a n to o s d e conteúdo (H je lm sle v, E co ), o u se ja , o s q u e tê m a ve r, p o r u m la d o , co m o a p ro ve ita m e n to d o m a te ria l sign ifica n te e, p o r o u tro , co m a exp lo sã o d e sen tid o s q u e em a n a m d esse m esm o sign ifica n te. A L ín gu a M a tern a é, p o is, o in stru m en to que m elh o r p en etra (im p licita n d o o u e xp licita n d o -o s ) n o s m e a n d ro s d a s d u a s tip o lo gia s d e sentido . E scre vo p o r n e c e s s id a d e s e / o u im p u ls o s vá rio s , s o b re tu d o p a ra p e rc e b e r a e xis tê n c ia , m a s ta m b é m (m u ito fre q u e n te m e n te ) p a ra a d is tra ir. P a ra c o n c lu ir, e c o n tin u a n d o a fa ze r ju s a o títu lo d e s te p e q u e n o a p o n ta m e n to e , a in d a , p o rq u e fo i vis io n a d o u m p e q u e n o film e e m q u e s e o u via V â n ia C o e lh o (a diseuse d e se rviç o ) a d e cla m á -lo s , tra n sc revo a q u i o s p o em a s, in c lu íd o s to d o s em Pondras de Pedras Soltas , e q u e , a o m e n os p a ra m im , rep resen ta m – p o is e m a n a m d e le s ta m b é m d ife re n te s e n e rg ia s – d istin to s p o d e re s, d e sig n a d a m e n te : (i) o p o d e r d a P o e sia (p a ra a lé m d o e sta tu to d o P o e ta ): ‘e m b a la m e n to ’, ‘e n le vo ’: Poeta e Poesia Saber escutar as notas Da interioridade É ser Poeta. Fazer com elas Uma partitura É Poesia. (ii) o p o d e r d o A m o r: ‘tra n sfo rm a ç ã o ’/ ‘tra n sm u ta ç ã o ’, ‘p a z’: Tu II Amar-Te Não é pecado. Amar-Te Não é perder tempo. Amar-Te É estar bem. (iii) o p o d e r, m á g ico , d a s C o isa s S im p le s, d a N a tu re za a o p e ra r n a tu ra lm e n te : ‘m is té rio ’, ‘e n c a n ta m e n to ’, ‘B e le za ’: 3 Perfeição Uma gaiola. Um pombo. Uma pomba. Dois pombos… Um dentro. Outro fora. Um trocho. Muitos trochos. Um ninho… Uma bicada. Outra bicada. Muitas bicadas. Um amor… Um ovo. Outro ovo. Dois ovos… Um choco alternado. Três semanas apenas e… Um borracho. Outro borracho. Dois borrachinhos… Uma ternura misteriosa!… B ra g a , 2 9 d e M a rç o d e 2 0 0 8 4