ID: 52485740 21-02-2014 Tiragem: 35772 Pág: 6 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,28 x 30,68 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 4 AVALIAÇÃO DA TROIKA ENRIC VIVES-RUBIO Corte permanente nos salários da função pública ainda este ano Em cima da mesa está a revisão dos suplementos e da tabela salarial única. Medidas deverão substituir cortes salariais em vigor na função pública. Comissão Europeia diz que os salários médios em Portugal têm de cair mais 5% Sérgio Aníbal e Raquel Martins A saída da troika de Portugal não significa que a pressão sobre os salários dos funcionários públicos será aliviada. Ao longo deste ano, o Governo vai preparar um conjunto de medidas que têm como objectivo tornar permanentes os cortes salariais na função pública e substituir as actuais reduções. Até Junho, o executivo vai reduzir e eventualmente eliminar alguns dos suplementos pagos aos trabalhadores do Estado e integrá-los numa tabela única. Até Dezembro, compromete-se a mexer na tabela salarial única. As intenções constam do relatório da Comissão Europeia (CE) divulgado ontem, a propósito da décima avaliação do programa português. O Governo nunca foi muito claro sobre a forma como iria substituir os cortes salariais em vigor desde 2011 e que no início do ano foram agravados. Por um lado, tem de conseguir uma redução permanente que assegure um nível de poupança semelhante ao conseguido com as reduções em vigor. Por outro, tem de encontrar uma solução que seja aceite pelo Tribunal Constitucional (TC), que tem viabilizado o corte salarial na função pública por ser temporário e estar associado à situação de excepção do país. No relatório da Comissão Europeia (CE) fica claro que a solução vai passar pelo corte dos suplementos e pela revisão da tabela remuneratória, mas não se diz exactamente como. “O aumento progressivo dos cortes salariais no sector público, que substitui os cortes que estavam em vigor desde 2011, foi incluído no Orçamento do Estado (OE) para 2014, que entrou em vigor a 1 de Janeiro”, refere o relatório. Este corte será “complementado por uma tabela única de suplementos e uma tabela remuneratória única que serão implementadas em Junho e Dezembro, respectivamente”, acrescenta Bruxelas. A formulação deixa uma dúvida: as novas medidas acumulam ou substituem os cortes em vigor? A resposta surge mais à frente: “O OE 2014 inclui uma revisão dos salários, que, após uma análise mais aprofundada, será substituída por uma tabela salarial única.” Ou seja, a revisão dos suplementos ainda poderá entrar em vigor este ano e os seus efeitos acumularem com os cortes salariais de 2,5% a 12%. No caso das empresas públicas, esta revisão vai começar pelo sector dos transportes e das infraestruturas. As primeiras análises, a concluir até ao final de Março, vão incidir sobre “as empresas de transportes, a Refer e a Estradas de Portugal”. Para as restantes empresas do Estado, o objectivo é terminar os estudos até ao início da décima segunda e última revisão do actual programa de ajustamento. Já a nova tabela salarial só deverá avançar em 2015 para substituir os cortes em vigor no corrente ano. “Uma tabela salarial única, visando racionalizar e dar coerência à política remuneratória de todas as carreiras, será desenvolvida na primeira metade do ano e será concluída até ao final de 2014”, refere Bruxelas, pelo que só entrará em vigor no início do próximo ano, quando as medidas do actual OE expirarem. Na preparação do OE para 2014 chegou a estar em cima da mesa uma revisão da tabela remuneratória única para entrar em vigor já este ano e que acomodasse os ID: 52485740 21-02-2014 Tiragem: 35772 Pág: 7 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 10,92 x 30,61 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 4 Maria Luís Albuquerque: Bruxelas é menos crítica que o FMI mas insiste na necessidade de “mais reformas” cortes em vigor. A ideia acabou por ser posta de lado devido aos riscos constitucionais e, em alternativa, o Governo alargou os cortes aos funcionários públicos com remunerações brutas acima dos 675 euros (até então apenas afectavam salários acima de 1500 euros). Porém, também esta medida foi parar ao TC, pela mão da oposição, aguardando-se ainda o veredicto. Cortar salários no privado O ajustamento salarial deverá ser transversal a toda a economia. No relatório ontem divulgado, Bruxelas lembra que, para colocar a taxa de desemprego e o endividamento externo a um nível mais sustentável, os salários médios em Portugal ainda deveriam registar uma descida adicional próxima de 5%. A CE começa por assinalar que, “desde 2010, Portugal registou um ajustamento significativo nos custos unitários de trabalho nominais”. Segundo os cálculos de Bruxelas, entre o primeiro trimestre de 2010 e o terceiro trimestre de 2013, estes custos caíram 5,3%. Analisando apenas o sector privado, a queda foi de 6%, uma vez que em 2013, no sector público, sentiu-se o efeito da reposição dos subsídios de férias e de Natal. Apesar desta correcção salarial acentuada desde a chegada da troika, a Comissão chega à conclusão de que é preciso ir mais longe. Por duas razões: o elevado nível de endividamento externo da economia e a taxa de desemprego. Bruxelas parte do princípio que uma redução do nível salarial ajuda a melhorar a situação nesses dois indicadores. Assim, calcula que, “para atingir um patamar alternativo de redução do endividamento a metade até 2023, os salários ainda estão entre 2% e 5% sobreavaliados”, consoante o crescimento do PIB nominal que é considerado. Nestas contas, a Comissão assume que a produtividade — outro factor que pode influenciar o saldo com o exterior — cresce de acordo com as previsões actuais. A lógica seguida nestes cálculos é a de que uma redução do nível salarial de uma economia acaba por gerar um aumento da competitividade das suas empresas face ao exterior, resultando numa melhoria do saldo comercial, com mais exportações e menos importações. Esta recomendação da Comissão Europeia sai no mesmo dia em que o Banco de Portugal revela que a balança portuguesa com o exterior registou em 2013 um excedente de 2,6% do PIB, uma melhoria face aos 0,3% registados em 2012. Além do desequilíbrio externo, a CE diz também que “Portugal precisa de garantir uma moderação salarial suficiente para absorver o desemprego”. Neste caso, o relatório estima o impacto que o nível salarial tem na procura de emprego por parte das empresas e a conclusão é que “uma redução de um ponto percentual na taxa de desemprego requer uma redução dos salários reais de cerca de 2,4%”. Como o objectivo, neste caso, é colocar a taxa de desemprego ao nível da taxa de desemprego estrutural, a redução salarial pedida é de cerca de 5%. O Governo português tem insistido que o ajustamento salarial, nomeadamente no sector privado, já foi feito, mas um dos temas a abordar na 11.ª avaliação, que ontem começou, é a flexibilidade dos salários. Todos os sinais vão no sentido de que a moderação é para manter. O salário mínimo deverá continuar congelado nos 485 euros e mantêm-se as restrições à extensão dos efeitos dos contratos colectivos (incluindo os aumentos salariais) às empresas e trabalhadores não filiados nas associações que os assinaram. Além disso, o Governo comprometeu-se a apresentar até ao final de Fevereiro uma “análise independente para saber se é desejável reduzir a sobrevivência dos contratos colectivos que caducaram e não foram renovados”. Em causa estão as cláusulas que prevêem que os contratos só cessam se forem substituídos por outro. A cláusula caduca passados cinco anos e a intenção poderá ser reduzir este prazo, para que as empresas possam negociar novas condições de trabalho e de salários. A CE apresenta uma análise bastante menos crítica do que o FMI sobre os dados da recuperação da economia nos últimos trimestres, mas afirma que “mais reformas serão necessárias”, nomeadamente ao nível da flexibilidade dos mercados de produto e laboral. E alerta que ainda é cedo” para avaliar o impacto das reformas conduzidas pelo Governo nos últimos anos no mercado de trabalho. Para Bruxelas, a evolução do desemprego a partir da segunda metade de 2013 deve-se mais à moderação das taxas de destruição de emprego do que às reformas laborais e à alteração do modelo económico do país. com Raquel Almeida Correia ID: 52485740 21-02-2014 AVALIAÇÃO DA TROIKA Tiragem: 35772 Pág: 8 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,35 x 30,41 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 4 Governo vai vigiar contratos de arrendamento clandestinos Comissão diz que reforma de IRC custa 250 milhões de euros ao ano PEDRO CUNHA Rosa Soares Sérgio Aníbal Comissão Europeia está descontente com resultados da aplicação da lei das rendas s cortes na taxa de IRC realizados esta ano pelo Governo e programados para os próximos anos vão ter um impacto anual negativo no orçamento de cerca de 250 milhões de euros ao ano, calcula a Comissão Europeia. Este número é muito superior às estimativas apresentadas até agora pelo Governo. No relatório da décima avaliação do programa de assistência económica e financeira a Portugal publicado ontem pela Comissão Europeia, é feito um cálculo dos resultados económicos e orçamentais da reforma do IRC lançada pelo Governo a partir deste ano. O executivo baixou a taxa de IRC de 25% para 23% em 2014 e promete mais descidas nos próximos anos. Segundo a Comissão Europeia, apesar de se projectar que a medida terá um efeito positivo na economia nacional e na actividade empresarial, isso não será suficiente para compensar, pelo menos nos primeiros três anos, a perda directa de receita provocada pela redução das taxas do IRC. O O Governo comprometeuse com a troika a fazer um levantamento dos contratos de arrendamento paralelo ou clandestino. A informação consta do relatório da Comissão Europeia à décima avaliação do programa de ajustamento financeiro, divulgado ontem. No relatório, em que Bruxelas faz uma avaliação crítica da aplicação da reforma do arrendamento, é referido expressamente que o Governo se comprometeu a realizar um levantamento do mercado paralelo de arrendamento, ou seja, os arrendamentos que não são declarados para efeitos fiscais. Este assunto já tinha sido abordado numa reunião entre representantes da troika e vários membros da Comissão de Monitorização da Reforma do Arrendamento Urbano, realizada recentemente. O estudo, a realizar pelas Finanças, deverá estar concluído até a 12.ª avaliação, a última a realizar no âmbito do programa de ajustamento, e visa definir um conjunto de medidas de carácter fiscal que permitam aumentar a transparência e a eficiência do mercado de arrendamento. Ainda sobre o mercado de arrendamento, o relatório mostra-se muito crítico quanto aos resultados alcançados com a lei das rendas, bem como em relação à falta de informação sobre a aplicação do regime, a cargo da Comissão de Monitorização da Reforma do Arrendamento Urbano. Bruxelas considera que os dados que constam do primeiro relatório da comissão da monitorização deveriam ser “mais precisos e relevantes” em várias áreas, como a evolução das rendas, a duração média Bruxelas exige dados “mais precisos e relevantes” sobre rendas dos novos contratos e o número de contratos dissolvidos, sugerindo, para isso, o cruzamento de várias fontes de informação. No que se refere às actualizações dos contratos anteriores a 1990, que ascenderão a 255 mil, a Comissão Europeia destaca os números fornecidos pelo Ministério das Finanças de pedidos de certi- Mesmo que haja já 44 mil pedidos de actualização, o número está muito longe do universo de 225 mil que se pretendia abranger dões do Rendimento Anual Bruto Corrigido (RABC), que ascenderam a 44 mil, em 2013, concluindo que o processo está a ser “muito lento” e o impacto “reduzido”. Os pedidos de RABC por parte dos inquilinos servem para limitar os aumentos. As associações de proprietários, que se mostraram desde o início muito críticas da criação de um período de transição de cinco anos em que a actualização das rendas está condicionada ao rendimento das famílias, adiantam que 85 a 90% dos inquilinos pediram o RABC. Ou seja, mesmo que o universo de actualização de rendas habitacionais esteja acima dos 44 mil, está muito longe dos 255 mil que se propunha abranger. O relatório destaca ainda que os resultados do Balcão do Arrendamento são fracos. No ano passado, o balcão recebeu 3142 pedidos de despejo, dos quais foram rejeitados 1382, e em 196 casos foi dado seguimento judicial. Em declarações ao PÚBLICO, Menezes Leitão, presidente da Associação Nacional de Proprietários, disse que as conclusões da Comissão Europeia não surpreendem e estão de acordo com os alertas que sempre fez sobre as limitações da reforma. Para este responsável, só quando terminar o período de transição de cinco anos, em que os inquilinos podem alegar carência económica, é que a reforma terá efeitos mais profundos. O presidente da Associação Nacional de Proprietários, António Frias Marques, defende que a reforma é um flop. Este responsável destaca que, de acordo com os seus números, cerca de 90% dos inquilinos pediram RABC. Acrescenta ainda que o valor das rendas médias actualizadas passou, na região do Porto, para 110 euros, um valor que considera baixo. Secretário de Estado tinha previsto impacto de 70 milhões “Efeitos multiplicadores resultantes de um aumento da produção e do consumo limitam a perda inicial de receita fiscal, mas a reforma não se autofinanciará no curto a médio prazo, implicando custos de cerca de 0,15% do PIB ao ano durante os primeiros três anos”. Ao actual valor do PIB, isto representa cerca de 250 milhões de euros ao ano. A Comissão Europeia faz estes cálculos assumindo o cenário-base do Governo de corte de dois pontos percentuais da taxa do IRC em cada ano e estimando que o PIB será, por causa da reforma, 0,3% mais alto ao fim de três anos e o investimento cerca de 3% mais alto. Valores divergentes O Governo tem referido, desde que apresentou a reforma do IRC – aprovada com os votos favoráveis do PS e dos partidos que apoiam o Governo – estimativas bastante mais optimistas. Em entrevista ao PÚBLICO dada na fase em que a proposta ainda estava a ser discutida no Parlamento, em meados de Novembro passado, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, previu que, “para 2014, o impacto [no orçamento] é de cerca de 70 milhões de euros”. E mostrou ainda a confiança que “no médio prazo estes impactos serão compensados pelos feitos positivos na economia”. O problema de divergência de valores pode estar precisamente naquilo que o Governo espera de impacto na economia e aquilo que a Comissão Europeia calcula, usando um modelo macroeconómico denominado Quest. Paulo Núncio dizia, na mesma entrevista ao PÚBLICO, que “pode haver um ganho na ordem dos 30% no IDE [Investimento Directo Estrangeiro] num prazo de três a cinco anos”, estimando que, “em resultado da reforma do IRC, o PIB possa crescer entre 2% e 3% em termos acumulados” no mesmo período, valores quase dez vezes superiores aos agora apresentados pela Comissão Europeia. ID: 52485740 21-02-2014 Tiragem: 35772 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 27,01 x 5,53 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 4 de 4 Governo prepara corte permanente dos salários na função pública Medidas visando tornar permanentes os cortes salariais deverão ser aplicadas até ao fim do ano, refere o relatório da Comissão Europeia sobre a décima avaliação ao programa de ajustamento Destaque, 6 a 8