Huda Andrade Silva de Lima DO ACESSO CLÁSSICO À COMERCIALIZAÇÃO: ESPECIFICIDADES DO MERCADO IMOBILIÁRIO INFORMAL NA ÁREA ESPECIAL DE INTERESSE SOCIAL DE MÃE LUIZA, NATAL/ RN. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de mestre em Arquitetura e Urbanismo. Área de Concentração I: Forma Urbana e Habitação Orientadora: Maria Bentes Sobrinha Natal, RN Verão, 2012. Dulce Picanço Catalogação da Publicação na Fonte / Bibliotecária Alexsandra Santana dos Santos CRB-15/530 Lima, Huda Andrade Silva de. Do Acesso Clássico à Comercialização: especificidades do mercado imobiliário informal na Área Especial de Interesse Social de Mãe Luiza, Natal/RN / Huda Andrade Silva de Lima. – Natal, RN, 2012. 187 f.: il.. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Dulce Picanço Bentes Sobrinho. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. 1. Solo urbano – Dissertação. 2. Área Especial de Interesse Social – Dissertação. 3. Mercado Imobiliário Informal – Dissertação. I. Bentes Sobrinho, Maria Dulce Picanço. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN CDU 711.4 DO ACESSO CLÁSSICO À COMERCIALIZAÇÃO: Especificidades do mercado imobiliário informal na Área Especial de Interesse Social de Mãe Luiza, Natal/ RN. Huda Andrade Silva de Lima ESTA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO FOI JULGADA ADEQUADA E APROVADA EM SUA FORMA FINAL Profª. Dra. Maria Dulce Picanço Bentes Sobrinha Orientadora Profª. Dra. Gleice Virginia Medeiros de Azambuja Elali Coordenadora do PPGAU BANCA DE DEFESA Prof. Dr. Alexsandro Ferreira Cardoso da Silva Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais/ UFRN Profª. Dra. Amadja Henrique Borges Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/ UFRN Profª. Dra. Norma Lacerda Gonçalves Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano/ UFPE Fevereiro/ 2012. Dedico este trabalho, aos meus pais, Jorge e Edna, e irmãos, Hugo e Huto, eternos encorajadores do conhecimento. AGRADECIMENTOS Agradeço, Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio financeiro imprescindível para elaboração e finalização da dissertação. A orientadora e amiga professora Dulce Bentes, por compartilhar seus conhecimentos e experiências acadêmicas. Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) e aos seus professores integrantes, que aprimoraram meus conhecimentos não só na área de Arquitetura e Urbanismo, como também, de Sociologia, de Economia, etc. Aos receptivos e compreensivos moradores de Mãe Luiza, por abrirem as portas dos seus lares e compartilharem fatos pessoais de sua vida. Ao afável Heriberto Santos, por ter sido guia-desbravador das estreitas travessas, das escadarias inexploradas, dos becos nebulosos, das dunas habitadas do bairro de Mãe Luiza. A professora Norma Lacerda, pela permanente disponibilidade em compartilhar seus conhecimentos sobre a pesquisa de campo, bem como, o referencial teórico. Ao professor Flávio Freire, por contribuir e por fortalecer aspectos relacionados à metodologia de campo. Ao prestativo professor Alexsandro Ferreira, pelas ricas sugestões e pelos questionamentos imprescindíveis para consolidação da pesquisa. A Amanda Medeiros, a Silvana Mamede e a Pascal Machado, amigos de sala do PPGAU e demais momentos, pela sensibilidade e pela compreensão dos meus anseios, por tanta generosidade e carinho. Aos pesquisadores do Grupo de Estudos Habitação, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (GEHAU/ UFRN), por ponderar todas as minhas buscas existenciais e teóricas relacionadas à organização dos dados da pesquisa de campo, bem como, aqueles que colhi e exauri os saberes referentes a temática da dissertação. Aos pesquisadores do Observatório das Metrópoles Núcleo RMNatal, novos companheiros de trabalho, por constatar e reconhecer os limites de prazo, estimulando sempre a seguir em frente. Aos familiares e aos amigos, cúmplices dessa travessia, pela compreensão quanto ao afastamento e ausência em momentos especiais. Janela da Favela (Graciano Campos) Abre a janela! Abre a janela da favela Você vai ver a beleza que tem por dentro dela Abre a janela moço! Abre a janela da favela Você vai ver a beleza que tem por dentro dela Não quero dizer que lá não existe tristeza Não quero dizer que lá não existe pobreza Porque favela sem miséria não é favela Porque favela sem miséria não é favela Abre! Abre a janela da favela Você vai ver a beleza que tem por dentro dela Abre a janela moço! Abre a janela da favela Você vai ver a beleza que tem por dentro dela Vai, no silêncio quando a noite cede a vez à madrugada Para romper um novo dia Puxe a cortina da mesma lentamente E você vai ver o samba em pessoa falando com a gente Puxe a cortina da mesma lentamente E você vai ver o samba em pessoa falando com a gente. Abre a janela! Abre a janela da favela Você vai ver a beleza que tem por dentro dela Abre a janela! Abre a janela da favela Você vai ver a beleza que tem por dentro dela. Você vai ver a beleza que tem por dentro dela. Você vai ver a beleza que tem por dentro dela. Você vai ver a beleza que tem por dentro dela. Você vai ver a beleza que tem! RESUMO O presente trabalho apresenta estudos referentes à habitação social e seus efeitos sobre a reconfiguração espacial de Natal/RN, visando identificar as especificidades da informalidade do solo urbano. Busca compreender como o mercado imobiliário informal opera a provisão habitacional para a população situada em assentamentos populares informais, por meio do mercado de compra e venda e locação de imóveis residências irregulares/ ilegais. Esse entendimento ocorreu a partir do bairro de Mãe Luiza, Área Especial de Interesse Social (AEIS) situada entre bairros com população de elevado poder aquisitivo e inserido no eixo turístico de orla marítima da cidade. A caracterização do mercado imobiliário informal em Mãe Luiza, tomando como base os compradores, os vendedores e os locatários, contribuirá para compreender como essas transações informais operam a provisão habitacional em AEIS e para a elaboração de políticas públicas e implantação de programas habitacionais e de regularização fundiária a população de baixa renda, adequadas à dinâmica e realidade da moradia das áreas informais. Palavras-chave: solo urbano, área especial de interesse social, mercado imobiliário informal. ABSTRACT This study presents research regarding affordable housing and their effects on the spatial reconfiguration of Natal/ RN, aiming to identify the specificities of the informality of urban land. This study aims to understand how informal housing market operates housing provision for the population located in popular informal settlements, through buying and selling market and rental market of residential properties irregular / illegal. This understanding will be through the neighborhood of Mãe Luisa, Special Area of Social Interest (SASI), located between neighborhoods with a population of high purchasing power and inserted into the tourist shaft of seaside of town. The characterization of informal housing market in Mãe Luiza, from buyers, sellers and renters, will help to understand how these informal transactions operate on SASI and housing provision for public policy development and implementation of housing programs and land regularization for low-income population, adequate to dynamic and reality of housing of informal areas. Keywords: urban land, special area of social interest, informal housing market. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mancha da expansão urbana de Natal, entre as décadas de 1920 e 1990, com identificação parcial de alguns bairros da atualidade. .................................................... 64 Figura 2: Passo da Pátria, assentamento em precária condição habitabilidade (década de 1940)..................... .......................................................................................................... 67 Figura 3: Conjunto Cidade da Esperança, década de 1960. ........................................... 68 Figura 4: Mapa Social da população em Natal/RN com rendade até três salários mínimos......... ................................................................................................................. 74 Figura 5: Identificação das Zonas Administrativas de Natal e das Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) situadas no entorno do bairro de Mãe Luiza. .................................... 82 Figura 6: Morro de Mãe Luiza visto do farol, década de 1950. ..................................... 83 Figura 7: Ocupação de Mãe Luiza, década de 1960. ...................................................... 84 Figura 8: Ocupação de Mãe Luiza, década de 1960. ...................................................... 84 Figura 9: Mãe Luiza em meadas da década de 1960. ..................................................... 85 Figura 10: Terreno do Paradise Mare Flat, ano de 1992. ............................................... 87 Figura 11: Vista parcial de Mãe Luiza (2010). ............................................................... 89 Figura 12: Uso do Solo predominante. ........................................................................... 90 Figura 13: Infraestrutura básica de Mãe de Luiza. ......................................................... 92 Figura 14: Áreas Subnormais da AEIS de Mãe Luiza, segundo a Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal (a esquerda) e áreas de ponderação dos aglomerados subnormais, conforme Censo Demográfico de 2010 (a direita). .............. 93 Figura 15: Identificação das Localidades do bairro de Mãe Luiza. .............................. 100 Figura 16: Áreas sem aplicação de questionários. ........................................................ 102 Figura 17: Localização dos imóveis da pesquisa de campo..........................................126 Figura 18: Identificação dos tipos de domicílios pesquisados.......................................129 Figura 19: Tipos de domicílios. .................................................................................... 130 Figura 20: Topografia do lote. ...................................................................................... 131 Figura 21: Edificações com mais de dois pavimentos. ................................................. 132 Figura 22: Identificação dos imóveis em relação ao número de pavimentos. .............. 133 Figura 23: Imóveis com respectivos dimensionamentos. ............................................. 136 Figura 24: Nível de ocupação da edificação no lote. .................................................... 137 Figura 25: Estado de Conservação dos imóveis. .......................................................... 139 Figura 26: Imóveis com anúncios de comercialização. ................................................ 142 Figura 27: Identificação dos imóveis em relação ao valor do aluguel. .................... ....144 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Maiores populações faveladas por país. ......................................................... 51 Tabela 2: Tipo de submercado residencial predominante nos assentamentos populares informais, ano 2006. ....................................................................................................... 53 Tabela 3: Número de aglomerados subnormais segundo as regiões brasileiras de 1991, 2000 e 2010... ................................................................................................................. 59 Tabela 4: Número de domicílios e população residente em aglomerados subnormais segundo as regiões brasileiras de 2010. .......................................................................... 60 Tabela 5: Distribuição por tipo de transações do mercado residencial. ......................... 61 Tabela 6: Assentamentos subnormais em Natal. ............................................................ 73 Tabela 7: Aglomerados Subnormais, por Zona Administrativa de Natal, Censo Demográfico 2010. ......................................................................................................... 77 Tabela 8: Rendimento mensal domiciliar dos moradores de Mãe Luiza e dos bairros do entorno (2010). .............................................................................................................. 88 Tabela 9: Dimensionamento, número de domicílios, população residente, e densidade demográfica e rendimento médio mensal das pessoas dos bairros da Zona Leste de Natal, ano 2010. .............................................................................................................. 89 Tabela 10: Características das áreas subnormais da AEIS de Mãe Luíza. ..................... 94 Tabela 11: Sexo do geral e dos vendedores, dos compradores, dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. ............................................................................................. 107 Tabela 12: Faixa etária geral dos vendedores, dos compradores, dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. ............................................................................................. 108 Tabela 13: Estado civil geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. .... 109 Tabela 14: Número de filhos do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários.............. ......................................................................................................... 109 Tabela 15: Grau de instrução geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários......... .............................................................................................................. 110 Tabela 16: Ocupação profissional do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários.............. ......................................................................................................... 111 Tabela 17: Fonte de Renda Principal do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários............... ........................................................................................................ 112 Tabela 18: Rendimento Pessoal Mensal do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. ............................................................. 113 Tabela 19: Fonte de Renda Auxiliar do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários........... ............................................................................................................ 114 Tabela 20: Rendimento familiar mensal do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. ............................................................. 115 Tabela 21: Tempo de moradia em Mãe Luiza dos vendedores, compradores e locatários............ ........................................................................................................... 116 Tabela 22: Trajetória residencial antes de residir no imóvel da pesquisados vendedores, compradores e locatários. ............................................................................................. 118 Tabela 23: Local de compras diárias, roupa, eletrodoméstico e material de construção dos vendedores, compradores e locatários. .................................................................. 122 Tabela 24: Principal meio de transporte utilizado pelos vendedores, compradores e locatários................ ....................................................................................................... 125 Tabela 25: Número questionários aplicados por localidade e submercados. ............... 127 Tabela 26: Tipo de domicílio. ....................................................................................... 128 Tabela 27: Número de cômodos dos imóveis vendidos, comprados e locados. ........... 134 Tabela 28: Número de quartos por domicílio. .............................................................. 135 Tabela 29: Dimensionamento da edificação. ................................................................ 135 Tabela 30: Tipo de material das paredes ...................................................................... 137 Tabela 31: Tipo de material da cobertura. .................................................................... 138 Tabela 32: Estado de conservação dos imóveis. ........................................................... 139 Tabela 33: Valor do aluguel. ........................................................................................ 143 Tabela 34: Valor do aluguel por m² versus localidades do bairro. ............................... 145 Tabela 35: Valor do aluguel por m² versus tipo do imóvel. ......................................... 146 Tabela 36: Comprometimento do rendimento familiar com aluguel............................ 147 Tabela 37: Valor da Compra......................................................................................... 148 Tabela 38: Valor da compra por m² versus localidades do bairro (dados qualitativos)................. ................................................................................................. 148 Tabela 39: Valor da Venda. .......................................................................................... 149 Tabela 40: Valor da venda por m² versus localidades do bairro (dados qualitativos)................... ............................................................................................... 150 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Classificação da lógica interna de funcionamento do mercado imobiliário informal......... ................................................................................................................. 35 Quadro 2: Valor do metro quadrado de lote ilegal em localidades da América da Latina............ .................................................................................................................. 43 Quadro 3: Entidades comunitárias e equipamentos urbanos e particulares. .............. 90 LISTA DE GRÁFICO Gráfico 1: Número de questionários aplicados. ....................................................... 103 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AEIS - Áreas Especiais de Interesse Social API - Assentamentos Populares Informais BNH – Banco Nacional de Habitação CEF – Caixa Econômica Federal CF – Constituição Federal Darq - Departamento de Arquitetura FCP – Fundação da Casa Popular FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço GEHAU/ UFRN - Grupo de Estudos Habitação, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte IAP – Instituto de Aposentadoria e Pensão IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPLANAT – Instituto de Planejamento Urbano de Natal MII – Mercado Imobiliário Informal NR – Não respondeu NS – Não sabe PDDLI - Plano Diretor de Desenvolvimento Local Integrado PHIS - Política de Habitação de Interesse Social PRODETUR - Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste RMNatal - Região Metropolitana de Natal RN – Rio Grande do Norte S.M. - Salário Mínimo SEAC – Secretaria Especial de Ação Comunitária SIG - Sistema de Informação Georreferenciado UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social ZERU - Zonas Especiais de Recuperação Urbana SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16 PARTE 01.......................................................................................................................22 1. PRODUÇÃO E CONSUMO DO ESPAÇO URBANO ............................................. 23 2. RECONHECIMENTO DOS ASSENTAMENTOS POPULARES INFORMAIS.... 28 3. MERCADO IMOBILIÁRIO INFORMAL ................................................................ 34 3.1. Funcionamento do Mercado Imobiliário Informal .............................................. 34 3.2. Mecanismos de transações imobiliárias nos assentamentos populares informais. .................................................................................................................................... 38 3.3. Elementos determinantes do preço de imóveis no mercado imobiliário informal ................................................................................................................................... .42 4. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 01 ...................................................... 45 PARTE 02.......................................................................................................................49 5. INFORMALIDADE/ILEGALIDADE NA AMÉRICA LATINA ............................. 50 6. INFORMALIDADE/ILEGALIDADE NO BRASIL ................................................. 55 7. MUNICÍPIO DE NATAL E RECONHECIMENTO DA INFORMALIDADE HABITACIONAL .......................................................................................................... 63 8. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 02 ...................................................... 77 PARTE 03.......................................................................................................................81 9. A PESQUISA ............................................................................................................. 81 9.1. Processo de Formação da AEIS de Mãe Luiza .................................................... 81 9.2. Referências e Procedimentos Metodológicos ...................................................... 94 10. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 03 .................................................. 103 PARTE 04.....................................................................................................................156 11. ESPECIFICIDADES DA DINÂMICA DO MERCADO IMOBILIÁRIO INFORMAL EM MÃE LUIZA ................................................................................... 106 11.1. Perfil socioeconômico...................................................................................... 106 11.1.1 Composição Etária e por Gênero ............................................................... 107 11.1.2 Estado Civil e Número de Filhos ............................................................... 108 11.1.3. Grau de Instrução ...................................................................................... 109 11.1. 4. Ocupação profissional e Rendimentos ..................................................... 110 11.2. Mobilidade Espacial ........................................................................................ 115 11.2.1. Tempo de permanência em Mãe Luiza ..................................................... 116 11.2.2. Motivos de mudança do domicílio ............................................................ 118 11.2.3. Origem-destino escola e trabalho .............................................................. 120 11.2.4. Local de realização das compras diárias, vestuários, eletrodomésticos e materiais de construção. ........................................................................................ 121 11.2.5. Deslocamento para prática do lazer e participação de grupos culturais e religiosos ............................................................................................................... 123 11.2.6. Principal meio de transporte utilizado ....................................................... 124 11.3. Funcionamento do mercado imobiliário informal em Mãe Luiza ................... 125 11.3.1 Tipo de domicílio ....................................................................................... 128 11.3.2 Topografia do lote ...................................................................................... 131 11.3.3 Número de pavimentos............................................................................... 131 11.3.4 Número de cômodos................................................................................... 134 11.3.5 Dimensionamento das edificações ............................................................. 135 11.3.6 Tipo de material construtivo (piso, parede e teto) ...................................... 137 11.3.7 Estado de conservação ............................................................................... 138 11.3.8 Aspectos legais das negociações imobiliárias ............................................ 140 11.3.9 Agentes do mercado e suas características informacionais ........................ 141 11.3.10 Mecanismos de fixação dos preços .......................................................... 143 11.3.11 Estimativa para fixação dos preços .......................................................... 150 12. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 04 .................................................. 151 PARTE 05.....................................................................................................................152 13. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 155 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 159 APÊNDICE INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO As cidades latino-americanas, no decorrer do século XX, passaram por grandes e rápidas transformações econômicas, sociais, tecnológicas, culturais e ambientais, tornando-se um espaço de poder e de concentração de riqueza, capaz de oferecer maior demanda de emprego. Por causa da introdução de novas relações de produção no campo, sua população desloca-se para os centros urbanos à procura de melhores condições de vida, acelerando o crescimento populacional das cidades e aumentando os problemas de “déficit habitacional”, pois os baixos salários e as instabilidades de emprego da grande parte da população impossibilitaram que esta conseguisse solver o valor do terreno/edificação adquirido por meio de compra ou aluguel. Na tentativa de atender a demanda desse grupo social, o Estado realiza políticas habitacionais - séculos XX e XXI - direcionadas a construção e financiamento de edificações/lotes para os habitantes de baixa renda. Entretanto, a histórica dificuldade de implantar e criar programas adequados à moradia continuou excluindo do mercado imobiliário formal certas camadas populares, devido à produção capitalista de habitação impor um elevado preço da terra, limitando o direito de residir na cidade. A fim de solucionar o problema da “casa própria” para população vulnerável, a menores custos possíveis, surgem nos espaços construídos das cidades imensos aglomerados precários, deficientes de infraestrutura, “densos, destituídos de conforto ambiental e coletivo” (GORDILHO-SOUZA, 2000, p. 14) através dos assentamentos populares informais, ou seja, as favelas, os cortiços, as vilas e as ocupações ilegais e clandestinas que ocupam nas cidades as áreas periféricas ou centrais desprovidas de infraestrutura urbana adequada. No âmbito do Brasil, o crescimento da informalidade habitacional é um fenômeno que se observa em quase todas as cidades de médio e grande porte, sendo mais evidentes nos problemas da moradia para população de baixa renda. O crescimento das ocupações informais e a disputa pelas terras urbanas aumentaram significativamente ao longo das décadas de 1980 e 1990, período estes marcados pelo esgotamento da intervenção do Estado no setor de habitação popular e por crises econômicas que determinaram um período de forte recessão, desemprego, aumento da exclusão, da pobreza, da informalidade e da segregação socioespacial (SMOLKA, 2003). 16 INTRODUÇÃO Nesse contexto, o aumento e o surgimento dos assentamentos populares informais nos principais centros urbanos passaram por mudanças tanto no tipo de infraestrutura da moradia quanto ao acesso à casa favelada; a morfologia urbana do assentamento; ao tempo de moradia das pessoas; etc. Inicialmente, a ocupação ocorria de maneira individual e/ou coletiva de uma gleba ou lote; passando para uma rápida autoconstrução de edificações precárias com materiais de madeira ou “pau a pique”. Em certo momento, a família começa a investir nas moradias, desmembrando a edificação/ o lote a partir da reforma ou da ampliação da unidade habitacional transformando-a em unidades multifamiliares para acolher amigos/ parentes (pais, filhos, netos, tios, etc.), ou até mesmo para ampliar a renda familiar, por meio da construção de vilas, cortiços, condomínios verticais e/ou horizontais, etc. para serem comercializados. A transformação da unidade residencial em “frações” familiares ocorre também pela ausência de novas áreas a serem ocupadas na desejada localização. A ausência de novas áreas para ocupar/ autoconstruir, principalmente nos assentamentos consolidados, define o mercado imobiliário informal1 – a compra e venda e aluguel de imóveis precários – como sendo a nova estratégia de acesso das famílias de baixa renda aos centros urbanos. Essas modificações demonstram que o acesso aos assentamentos se alterou de forma substantiva, passando da forma clássica para do mercado de compra e venda e locação de lotes, lajes e imóveis (ABRAMO, 2003, p. 209). Estudos recentes desenvolvidos por Abramo (2009), Lacerda (2010) e Baltrusis (2005) indicam que o mercado imobiliário informal é um dos principais meios de acesso à terra e a moradia nas áreas informais das principais cidades do país. Em assentamentos informais consolidados, onde a oferta de terras é escassa ou já inexistente, as alternativas de compra e aluguel vêm se sobrepondo à possibilidade de ocupação ou invasão de um terreno, sobretudo naqueles localizados nas áreas centrais das cidades. Resultados apresentados pela Rede Infosolo/ Infomercado2 sobre transações imobiliárias constataram que o mercado imobiliário informal é ativo, sendo que, em algumas cidades brasileiras o mercado de aluguel se destaca em relação ao de 1 Segundo Suzana Pasternak (2008, p. 113), o termo mercado informal é aplicado para “caracterizar o universo de produção e distribuição da casa autoconstruída, em oposição ao ‘mercado formal’, responsável pela produção e comercialização dos imóveis edificados pela indústria da construção civil”, vindo a refletir “uma separação artificial entre o moderno e o atrasado, a ordem e o caos”. 2 A Rede Infosolo /Infomercado constitui uma rede de pesquisadores em âmbito nacional (Infosolo) e internacional (Informercado) que identifica, sistematiza e analisa os mercados de solo informais nas principais metrópoles latino-americanas (ABRAMO, 2008, p. 08-09). 17 INTRODUÇÃO compra e venda, como Recife, São Paulo, Florianópolis e Brasília. Já, nos países latinoamericanos, predomina o mercado de aluguel na Colômbia, Venezuela e Argentina (ABRAMO, 2009, p. 35). Essa mudança na forma de acesso à terra urbana por meio da informalidade fundiária e/ou urbanística é constatada, também, no âmbito da cidade do Natal, capital do Rio Grande do Norte. Sendo assim, verificadas especificidades na informalidade do solo urbano que se expressam principalmente através da diversidade, tanto das formas de acesso às terras urbanas quanto ao perfil social das populações ocupantes, principalmente, aquelas de natureza pública (Município, Estado e União) para fins de moradia, com destaque para as ocupações situadas em eixos turísticos da orla marítima. Na tentativa de conter o crescimento da informalidade ocorreram diversas ações de regularização fundiária efetivadas pelo Estado, desde o surgimento dos primeiros assentamentos populares informais. Essas ações conferiram uma expressiva heterogeneidade nos vínculos formal/informal jurídicos existentes nas localidades, como: as doações de cartas de aforamento conferidas pelo município à moradores de favelas situadas na orla marítima nos anos de 1960 e os programas de regularização fundiária desenvolvidos na década de 1980, também pela Prefeitura do Natal, que resultaram na concessão de títulos de terras em algum nível. Ressalta-se que até a década de 1980, a orla marítima não se configurava como área estratégica do mercado imobiliário. É a partir do final dos anos 80, com a construção da Via Costeira e com o processo de implantação do parque turístico hoteleiro, que se intensifica a procura e a valorização de terras na faixa litorânea do município. O projeto Parque das Dunas/ Via Costeira tornou-se um marco na relação entre habitação de interesse social e grandes empreendimentos de infraestrutura urbana ligados ao desenvolvimento do turismo em Natal. Essa dinâmica se intensificou a partir de 2000, com o Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste (PRODETUR), facilitador da integração da orla marítima do Estado, agravando a pressão sobre os territórios da informalidade, elevando-se também o grau de vulnerabilidade social das populações em seus direitos de moradia historicamente constituídos. Segundo Moraes (et al, 2008, p. 17), nos dias atuais a especulação do solo urbano tem pressionado moradores de assentamentos precários, principalmente, aqueles inseridos em áreas da expansão imobiliária e do turismo imobiliário, como é o caso do bairro de Mãe Luiza, Área Especial de Interesse Social (AEIS), situada entre populações de elevado poder aquisitivo e inserido no eixo turístico de orla marítima (Via Costeira) 18 INTRODUÇÃO da cidade do Natal. O bairro é tema constante de discussões no contexto urbano local pela luta dos seus moradores para garantir o direito de permanecer na área e pelo enfrentamento da pressão do poder público e dos especuladores imobiliários. À vista disso, a pesquisa tem como objetivo compreender como o mercado imobiliário informal opera a provisão habitacional para a população situada em assentamentos populares informais, por meio do mercado de compra e venda e locação de imóveis residências irregulares/ ilegais, a partir da caracterização do mercado imobiliário informal, através da AEIS de Mãe Luiza. A caracterização do mercado imobiliário informal em Mãe Luiza a partir desses mercados contribuirá para compreensão de como essas transações informais opera a provisão habitacional em AEIS, uma vez que seu entendimento é útil para elaboração de novas políticas públicas e implantação de programas habitacionais e de regularização fundiária para a população de baixa renda. Esse estudo constitui-se numa importante ferramenta para o entendimento das formas de acesso à moradia em assentamentos precários, podendo ainda contribuir sobremaneira para o entendimento do processo atual de produção e reprodução das áreas de informalidade e de pobreza dos centros urbanos. A pesquisa questiona sobre: 1) quais os motivos do comprador adquirir imóvel irregular/ilegal em assentamentos populares informais, como também, do locatário alugar nessas referidas áreas? E ainda, 2) quais os motivos de um proprietário de residência em área informal vender o imóvel? 3) Quais as especificidades da comercialização dos imóveis informais em áreas estratégicas do mercado formal, a partir dos compradores/ vendedores e inquilinos? 4) Quanto custa comprar, vender ou locar imóveis residências em assentamentos populares informais situados em área estratégica do mercado formal? 5) Quais as tipologias e as características edilícias do mercado imobiliário informal? 6) Qual o perfil social dos ocupantes, principalmente referente à renda e ocupação? A partir das pesquisas desenvolvidas pela Rede Infosolo e Baltrusis (2005), definimos como procedimento de campo aplicar questionários, com: i) os proprietários de imóveis residenciais comprados no último ano, considerando o dia da aplicação de cada questionário; ii) os proprietários de imóveis residenciais que possuíam placas de vende-se; e, iii) os inquilinos dos imóveis residenciais alugados. Sobre os locadores, não aplicamos questionário, pois tivemos dificuldade de identificá-los. 19 INTRODUÇÃO Para compreender como o mercado imobiliário informal opera a provisão habitacional para a população situada em Mãe Luiza, estruturamos o presente trabalho em cinco partes. A primeira parte apresenta reflexões teóricas sobre as especificidades do mercado imobiliário informal, fazendo analogias ao mercado formal referente à produção e consumo do espaço urbano. Em seguida, discute conceituações gerais para diferenciar o núcleo precário informal/ ilegal dos demais tipos de moradia, isto é, definir assentamentos populares informais e suas mudanças quanto ao acesso à moradia informal. Conceitua o mercado imobiliário informal para identificar as semelhanças e divergências entre ambos os mercados imobiliários (formal e informal), com foco na lógica interna de funcionamento do MII, nos mecanismos de transações e nas descrições de elementos determinantes do preço de imóveis por meio da informalidade. A segunda parte descreve a cidade informal a partir dos grandes centros urbanos latino-americanos, relatando, em seguida, sobre o crescimento da informalidade/ ilegalidade fundiária das principais cidades brasileiras num contexto das políticas habitacionais direcionadas a população de baixa renda do início do século XX até os dias atuais. Por último, descreve o processo de reconhecimento da informalidade habitacional em Natal/ RN por parte dos planos urbanísticos e das políticas habitacionais, uma vez que há uma escassez de estudos referentes ao mercado imobiliário informal na cidade3. O foco principal dessas análises visa identificar a evolução e o reconhecimento das favelas em três âmbitos - latino-americano, nacional e local - relacionando sempre que possível com as políticas habitacionais e o processo de mercantilização dos assentamentos populares informais. A terceira parte explicita as metodologias utilizadas na pesquisa de campo, descrevendo primeiramente o processo de formação do universo de estudo, a Área Especial de Interesse Social de Mãe Luiza. A respeito da contextualização histórica do bairro, há uma imensa escassez de registros impossibilitando a construção e a precisão de informações sobre sua formação (FERNANDES, 2000, p. 25). Para construção dos procedimentos metodológicos descrevemos e analisamos as pesquisas realizadas em âmbito nacional pela Rede Infosolo. Em paralelo, consideramos a metodologia aplicada por Baltrusis (2005) para compreender o mercado imobiliário informal em favelas da 3 A partir das pesquisas realizadas sobre mercado imobiliário informal, registramos o estudo desenvolvido por Carmem do Amaral, cujo título é Mercado imobiliário informal e dinâmica urbana: o caso do bairro de Mãe Luiza – Natal/RN (2011). O referido trabalho tem por objetivo principal analisar a dinâmica imobiliária informal em Mãe Luiza, no contexto da valorização imobiliária da cidade de Natal/RN. 20 INTRODUÇÃO Região Metropolitana de São Paulo. O objetivo de rever as metodologias contribuiu para construirmos a nossa pesquisa de campo. A quarta parte aborda as questões da dinâmica imobiliária em Mãe Luiza, através dos estudos de caso desenvolvidos, visando analisar: i) o perfil sociodemográfico dos inquilinos e dos “proprietários” (compradores e vendedores); ii) a mobilidade espacial do inquilino e dos proprietários e as suas relações comunitárias; iii) as peculiaridades dos produtos; iv) os aspectos legais das negociações imobiliárias; v) os agentes do mercado e suas características informacionais; e, vi) os mecanismos de fixação dos preços. A quinta e última parte retoma-se às questões centrais apresentadas no trabalho através das considerações finais, com vistas à elaboração de posicionamentos conclusivos e reflexões sobre a problemática em estudo, visando interpretar o fenômeno e contribuir para realidade apresentada. Nessa parte estão presentes, também, as referências bibliográficas e o apêndice com o modelo dos questionários utilizados na pesquisa de campo para investigar aspectos peculiares dos compradores, vendedores e locatários. Apesar dos obstáculos encontrados na pesquisa de campo e da carência de informações sobre o mercado imobiliário informal em AEIS e especificamente sobre o bairro de Mãe Luiza, acredita-se que este trabalho contribuirá para compreensão do processo de mercantilização da terra em assentamentos populares informais. Tal pesquisa faz refletir sobre até que nível o mercado imobiliário informal “substitui” o Estado da sua função de prover moradia para população de baixa renda, uma vez que este mercado tem como proeza “atender” a uma demanda desprovida de habitações, não solucionando os problemas relacionados ao déficit habitacional. 21 22 PARTE 01 1. PRODUÇÃO E CONSUMO DO ESPAÇO URBANO No decorrer dos anos, o mercado de terras tornou-se o principal mecanismo gerador dos problemas urbanos, caracterizando as cidades latino-americanas pela dispersão/ hiperconcentração de habitantes/ moradias; pelo déficit habitacional; pelo crescimento periférico, como também, pela proliferação de formas de ilegalidade com pessoas descumprindo a lei para ter acesso ao solo, vivendo sem segurança jurídica da posse, em condições precárias ou mesmo insalubres e perigosas, geralmente em áreas periféricas ou centrais desprovidas de infraestrutura urbana adequada (FERNANDES, 2003, p. 173). No caso do Brasil, a paisagem urbana dos principais centros esteve marcada em meadas do século XX, primeiramente pelo capital mercantil, com uma produção rentista que utilizava os mecanismos aplicados ao comércio para formação de cortiços, casas de cômodos e estalagens nos centros das cidades. Segundo, pelo capital imobiliário através da disseminação das vilas construídas especialmente para aluguel, ou seja, a produção rentista pequeno-burguesa. Em terceiro, pelas empresas imobiliárias que contribuíram para produção de uma paisagem urbana marcada pela periferia com casas autoconstruídas e vazios urbanos. Em quarto, e por último, pela criação do incorporador que articula o proprietário original do terreno aos futuros compradores do imóvel, construtores e financiadores (RIBEIRO, 1997, p. 21). Dentre outros fatores, as diversas utilizações do centro urbano e a sua procura atribuem preços à propriedade privada que são estabelecidos pelos vários produtores do espaço, pela apropriação de fenômenos econômicos criados e pelas intervenções governamentais. Essa apropriação do espaço configura áreas urbanas com variações, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, nas atividades de consumo dos indivíduos e nas situações de cada um como produtor e como consumidor. De certa modo, há formação de áreas nos centros urbanos que possibilitam o desenvolvimento de fenômenos econômicos direcionados a produção e o consumo de moradias e infraestrutura do local, a partir de grande investimento de capital, com preços fixados da compra, da venda e da locação de imóveis para população de elevado poder aquisitivo. Em contrapartida, fenômenos com uma dinâmica imobiliária própria, que se desenvolve a partir de relações entre cliente e vendedor/ locatário, com produção de imóveis específicos em número reduzido e a custo inferior de produção e circulação, 23 PARTE 01 na maioria das vezes, de capital próprio e de baixo volume, com o intuito de responder às condições da população de baixa renda (SANTOS, 1979). A existência de uma massa de pessoas com salários muito baixos ou vivendo de atividades ocasionais, ao lado de uma minoria com renda mais elevada, cria na sociedade urbana uma divisão entre aqueles que podem ter acesso de maneira permanente aos bens e serviços oferecidos e aqueles que, tendo as mesmas necessidades, não têm condições de satisfazê-las. Isso cria ao mesmo tempo diferenças quantitativas e qualitativas no consumo (SANTOS, 1979, p. 29). As diferenciações de consumo e produção dos espaços, e a relação entre mercado de terras e o processo de estruturação das cidades, articulados aos investimentos em infraestrutura e em equipamentos urbanos favorece para formação de cidades com a presença de camadas de alta renda residindo nas áreas mais centrais e as camadas de menor renda, em direção à periferia e/ou em áreas centrais precárias. A estruturação do espaço residencial a partir dos consumidores leva em conta, sobretudo, as localizações relativas dos diversos tipos de famílias, segmentando a cidade a partir da divisão econômico-social, com uma configuração que reagrupa pessoas com diferentes recursos financeiros em bairros relativamente homogêneos (ABRAMO, 2007, p. 54). Para Villaça (2001, p. 328), quando as famílias resolvem consumir (comprar/ alugar) bem residência, raciocinam mais por uma lógica de localização do que pelo produto em si, apropriando-se de maneira diferenciada do espaço urbano conforme as vantagens e os recursos da localidade. As escolhas da localização propõem a noção de incerteza urbana, em que uma microdecisão individual poderá resultar em uma macrotransformação da ordem urbana, influenciando na configuração da ordem residencial. Segundo Abramo (2007, p. 60), (...) chega-se naturalmente à conclusão de que cada decisão dos diversos tipos de famílias terá o poder virtual de subverter a ordem-imagem precedente. Bastará um leve movimento não previsto pela teoria científica do mercado residencial (uma decisão oportunista) para abalar as incertezas probabilizadas propagadas pela teoria frequentista e deflagrar uma dinâmica de configuração espacial que estará sob o signo da incerteza urbana radical. Teremos, daí em diante, uma cidade-mercado residencial caleidoscópica, cujo ordenamento espacial já não poderá ser conhecido de antemão: cada decisão de localização trará consigo o poder de fazer a história (...). 24 PARTE 01 As grandezas urbanas relacionadas às localizações (os espaços), os preços, a verticalidade e a densidade populacional são valores frequentes estabelecidos pelas “convenções urbanas” que constituem cidades residenciais compostas pelas escolhas de localização (o espaço) formuladas com base numa aglomeração (proximidade) de famílias do mesmo tipo e voltadas para “externalidades de vizinhança”. A localização intraurbana dos diversos tipos de famílias e as possíveis ações no espaço (antecipações especulativas), com preços variados do espaço urbanizado, impossibilita a população de menor poder aquisitivo acessar ao solo urbano através do mercado imobiliário formal, obrigando-a a aderir ao mercado imobiliário informal. Na maioria das grandes cidades latino-americanas, o mercado imobiliário informal de residências supre a falta no mercado formal, remediando a situação pelas formas de ilegalidade o acesso à terra urbana e a moradia por meio da informalidade fundiária e/ou urbanística através das favelas, loteamentos clandestinos, autoconstrução, etc., em regiões tanto com inexistência de infraestrutura e transporte quanto nas proximidades dos centros urbanos (ABRAMO, 2003, p. 7-8). Cabe notar que a informalidade encontra-se numa “zona de penumbra” com extensa fronteira ao mundo legal onde as pessoas se refugiam quando existem imposições do Estado, com suas leis e mais ônus que benefícios para cumpri-las. Contudo, o baixo poder aquisitivo de uma significativa parcela da população não pode explicar o processo de informalidade, apesar de a pobreza ser responsável por uma parte significativa dos arranjos informais existentes. O estado de necessidade em certos casos pode ser uma mera satisfação material a busca de lucros ilícitos, em que o agente apenas assume o risco de auferir lucros não visando normalmente à atividade marginal, ou seja, apenas assume o risco de auferir lucros à margem do mercado regular (PRADO, 1991, p. 27). A informalidade não é só efeito, mas também causa da pobreza, na medida em que a população residente em áreas informais é capturada por muitos “círculos viciosos” que reiteram sua condição (SMOLKA, 2003, p. 122). A correlação encontrada entre pobreza urbana e os consumidores do mercado imobiliário informal nem sempre classifica que todos os ocupantes são pobres. Contrariamente à crença popular, a aquisição a lote/ edificação informal tende, em geral, a ser cara. Os custos da informalidade são tanto mais oneroso que pela 25 PARTE 01 formalidade, Prado (1991, p. 54) afirma que os custos econômicos, por certo, são inicialmente menores, a médio e longo prazo, mas podem inviabilizar uma negociação. Paradoxalmente, os custos da vida cotidiana nos assentamentos informais são mais elevados do que nas áreas formais: os custos de construção são muitas vezes mais elevados, os alimentos são mais caros; em geral, os transportes são precários e caros; mesmo as regras dos “contratos de aluguel” (informais) são mais desfavoráveis ao inquilino do que seriam nos contratos formais (SMOLKA, 2003, p. 123). O custo da mão-de-obra para construir nas favelas do Rio de Janeiro é pelo menos 10% superior ao do mercado formal. Ao longo do tempo alterações tanto na qualidade dos assentamentos quanto na localização relativa deles no mapa de externalidades transforma a residência precária em um “capital locacional” que se valoriza/desvaloriza no tempo, tal qual aos ativos imobiliários da cidade formal (ABRAMO, 1999, apud SMOLKA, 2003, p. 267). Para Soto (2001), os ativos da informalidade se encontram, em via de regra, fora do circuito formal, que se constituem numa fonte de riqueza e renda para grande parte da população dos países pobres, porém não existem os registros formais, não são tributados e, como consequência, não podem acessar os mecanismos legais de crédito. Para o autor, esses ativos imobiliários informais se constituem em um “capital morto” (ativos não regularizados), uma vez que ativos de imóveis ilegais “não podem se transformar de pronto em capital, não podem ser trocados fora dos estreitos círculos locais, onde as pessoas se conhecem e confiam umas nas outras, nem servir como garantia a empréstimos e participação em investimentos” (Ibid, p. 20). O que os pobres não têm é o fácil acesso aos mecanismos que poderiam fixar legalmente o potencial econômico de seus ativos de um modo que pudessem ser usados para produzir, assegurar ou garantir um valor maior no mercado expandido (SOTO, 2001, p. 61). De acordo com o referido autor, a transformação de “capital morto” em “capital vivo” (ativos legalizados) através da regularização das moradias informais, permitirá a concessão de créditos para os informais, e consequentemente, um maior investimento nas atividades empreendedoras. Contudo, vale ressaltar que, o mercado imobiliário informal possui atividades desenvolvidas por capital próprio, que possibilita gerar ativos, conforme destacaremos adiante, capazes de criar atividades e proporcionar 26 PARTE 01 situações para população de menor poder aquisitivo, com variáveis que se alteram no tempo e no espaço vinculado, de certo modo, a uma situação de pobreza, como possibilidades da população consumir moradias através de financiamentos; de obter rendimento por meio da locação e venda de imóveis informais; etc. No meio acadêmico, em setores da opinião pública e até entre agentes governamentais há comprovadas evidências que a informalidade pode trazer benefícios e vantagens para sociedade dependendo das condições de tempo e de espaço. Ney Prado (1991, p. 60) menciona o caso de Milton Friedman (In: Dan Bawly, p. 481) que admite que a informalidade possa ser uma verdadeira tábua da salvação, eximindo a população das restrições impostas pelos governos à iniciativa individual, tornando-se parte significativa de uma solução, apesar de não haver registros oficias dificultando sua contabilização. Então, como visualizar o invisível? Já que os ativos imobiliários informais são insuscetíveis de ser mensurados. Como é possível obter informações do mercado imobiliário informal na economia total de um país? No caso do Brasil, o assunto torna-se mais complexo face à escassez de dados e da confiabilidade das estatísticas existentes, como também pelas variadas maneiras de definir, identificar e classificar as áreas informais/ ilegais. Em regra, para determinar os elementos estruturantes do mercado imobiliário informal é imprescindível averiguar: a) as características da oferta e da demanda do solo; b) o poder de mercado dos agentes econômicos (oferta e demanda); c) as características informacionais do mercado (assimetrias e transparências de informações); d) as características dos produtos (homogêneos ou heterogêneos); e) as externalidades (endógenas e exógenas), etc.(ABRAMO, 2005, p.11). Para tal caso, primeiramente, conceituaremos o que venha a ser áreas informais, ou como será aqui denominado “assentamento popular informal” para buscar a compreensão da ilegalidade urbana não apenas em termos da dinâmica entre sistemas políticos e mercado de terras, como também em relação à produção do espaço urbano da cidade informal em função da propriedade fundiária. 27 PARTE 01 2. RECONHECIMENTO DOS ASSENTAMENTOS POPULARES INFORMAIS De acordo com Duhau (2003, p. 01), a cidade informal distingue-se dos arranjos formais da cidade, com produções contrárias a ordem particular destinada a regular a produção, a organização, os modos de apropriação e de usos do espaço, como também, ao conjunto variado de normas jurídicas como: i) as relacionadas ao direito de propriedade; ii) as voltadas para regulação da propriedade do solo, uso e produção da cidade enquanto conjunto de edificações, infraestrutura e espaços públicos (normas de planejamento, de construção, de infraestrutura e de equipamentos); iii) as regras destinadas a regular as práticas urbanas, como as direcionadas ao trânsito, ao transporte público, aos usos, aos equipamentos, as atividades comercias e serviços que ocorrem em espaços públicos, etc. A virtual impossibilidade de grande parcela da população de seguir as ordens da cidade formal contribui para formação nos principais centros urbanos de construções fora das exigências legais urbanísticas, tanto referentes ao uso ilegal do solo e a ilegalidade das edificações, como: a) favelas em áreas públicas; b) favelas em áreas privadas; c) cortiços; d) loteamentos clandestinos e irregulares; e) conjuntos habitacionais ocupados e sob ameaça de despejo; e, f) casas sem habite-se. Ao produzir a sua própria moradia, a população das construções fora das exigências legais urbanísticas infringe normas jurídicas consagradas pelo Estado do Direito, criando tensões sociais que fazem emergir normas jurídicas mediadas por lutas, negociações e ajustes entre múltiplos interesses, contribuindo para formação de novas ordenações urbanas. É no espaço urbano que se percebe com maior clareza a desordem que a ordem estabelecida causa. Ao reconhecer a existência das favelas e de espaços irregulares na cidade e propondo sua urbanização ou revitalização, transformando-as gradualmente em bairros, Estado e sociedade estão reconhecendo a cidade real e criando condições de convivência entre aquilo que é tido como irregular – o espaço real – e a cidade legal. (BALTRUSIS, 2003, p. 215). Esse reconhecimento das formas de moradias ilegais no espaço urbano aplica-se de maneira parcial, devido apresentar problemas relativos aos conceitos que distinguem outros tipos de moradia. (...) único critério uniforme que distingue as áreas invadidas dos outros tipos de moradia na cidade é o fato de constituírem uma 28 PARTE 01 ocupação ‘ilegal’ da terra, já que sua ocupação não se baseia nem na propriedade da terra nem no seu lugar aos proprietários legais (LEEDS & LEEDS, apud PASTERNAK, 2003, p. 26). As favelas, por exemplo, foram percebidas como fenômenos tipicamente urbanos apenas durante a primeira metade do século XX. Segundo Valladares (2008, p. 22-26), na década de 1920 a palavra favela tornou-se um substantivo genérico para designar um habitat pobre, de ocupação ilegal e irregular, sem respeito às normas, não mais referido, exclusivamente, ao Morro da Providência4, situado no Rio de Janeiro. Este, posteriormente denominado Morro da Favella5, entra para a história através da sua ligação com a guerra de Canudos, cujos antigos combatentes ali se instalaram com a finalidade de pressionar o Ministério da Guerra a pagar seus soldos atrasados. Pouco a pouco, o termo favela passou a estender a qualquer conjunto de barracos aglomerados sem traçado de ruas nem acesso aos serviços públicos, sobre terrenos públicos ou privados invadidos, conjuntos estes que se multiplicaram na cidade do Rio de Janeiro e demais centros urbanos. Essas ocupações construídas por migrantes recémchegados aos arredores das áreas urbanas passam a integrar diretamente as cidades, apesar de não possuírem algumas características físicas de seu entorno, como infraestrutura urbana básica; e o que parecia num primeiro momento transitório, configura-se em espaço permanente. (...) antes, supunha-se que a favela era local de passagem, um trampolim para a cidade; agora, já se percebeu que o favelado fica no assentamento por longo tempo e que a favela é parte integrante e mesmo estruturante da cidade brasileira (PASTERNAK, 2003, p. 40-41). Em 1950, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decidiu pela primeira vez incluir a favela na contagem de população e considerou favelas e setores assemelhados como um tipo de setor especial de aglomerado urbano constituído por um mínimo de 51 domicílios - com predominância de casebres ou barracões de aspecto 4 Para Valladares (2008, p. 26), o mito de origem do termo favela resulta de textos escritos ao longo do século que se associam ao Morro da Providência, no Rio de Janeiro, ao povoado de Canudos, no sertão baiano. Antigos combatentes da guerra de Canudos se estabeleceram no Morro da Providência, a partir daí denominado Morro da Favella, sendo duas razões para alteração do nome: 1º) a planta favela, encontrada na vegetação que recobria o Morro da Providência; e, 2º) a resistência dos combatentes no morro baiano da Favella, durante a Guerra de Canudos. De acordo com Perlman (1977, p. 41), o primeiro registro referente ao Morro da Providência documentou uma aglomeração de 839 casas. 5 Conforme Valladares (2008, p. 23), a ortografia inicial da palavra favela era favella, tendo apenas atualmente um único “l” por ocasião da Reforma Ortográfica Brasileira de 1942. 29 PARTE 01 rústico, construídos principalmente com folha-de-flandres, chapas zincadas ou materiais similares - ocupando, ou tendo ocupado até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular), dispostos, em geral, de forma desordenada e densa, e carente, no todo ou em parte, de serviços públicos essenciais (PASTERNAK, 2003, p. 27). Conforme o IBGE, as características primordiais para definir as favelas parte da ocupação desordenada, sem que tenha havido posse da terra ou título de propriedade, do tamanho do assentamento, do tipo de habitação e das melhorias públicas e de urbanização. Ou seja: • • • • • Proporções mínimas – agrupamentos prediais ou residenciais formados com número geralmente superior a cinqüenta; Tipo de habitação – predominância de casebres ou barracões de aspecto rústico, construídos principalmente com folha de flandres, chapas zincadas ou materiais similares; Condição jurídica da ocupação – construções sem licenciamento e sem fiscalização, em terrenos de terceiros ou de propriedade desconhecida; Melhoramentos públicos – ausência, no todo ou emparte, de rede sanitária, luz, telefone e água encanada; Urbanização – área não urbanizada, com falta de arruamento, numeração ou emplacamento (PASTERNAK, 2003, p. 27). Entretanto, os dados censitários do IBGE referentes às favelas são objetos de controvérsia, devido à contagem considerar apenas as áreas com mais de 50 domicílios contabilização esta subestimada da população favelada. Como também, em relação ao tipo de habitação que no decorrer dos anos, deixa de predominar edificações precárias com materiais de madeira ou “pau a pique” e sem serviços, passando a ser cada vez mais em alvenaria, com serviços públicos essenciais. Esses dados estáticos utilizados como indicadores de precarização das condições de vida nos centros urbanos brasileiros revelam problemáticas que se pronunciam com maior gravidade em informações de estimativas do déficit habitacional. Ao final da década de 1970, retomaram-se as discussões conceituais referentes às favelas, aos assentamentos precários, aos loteamentos irregulares/ ilegais, a habitação de interesse social, etc., por causa das regulamentações urbanísticas específicas para habitação de interesse social. Já, nos anos 1980, criaram-se legislações municipais com dispositivos particulares referentes às áreas especiais de interesse social com foco 30 PARTE 01 principal nas ações de regularização da situação de domínio sobre as terras urbanas ocupadas ilegalmente pela população de baixo poder aquisitivo (PINHO, 2003, p. 246). No contexto político da Constituição Federal de 1988 com a inclusão dos artigos 182 e 183, quanto à aprovação, mais de 10 anos depois, do Estatuto da Cidade que consagrou as Zonas ou Áreas Especiais de Interesse Social (ZEIS ou AEIS), retomaramse os debates para reconhecer as habitações e ocupações precárias. Para Whitaker & Motisuke (2007, p. 47), as AEIS/ ZEIS marcaram “uma perspectiva inovadora, no sentido de reconhecer uma grande parcela da população urbana como cidadãos, e seus locais de moradias – mesmo que informais – como parte da cidade”. Nos anos 1990, o Censo Demográfico (IBGE, 2010, p. 26) utiliza pela primeira vez o conceito de aglomerado subnormal, que permanece até os dias atuais, para abarcar a diversidade de assentamentos irregulares existentes no país, conhecidos como: favela, invasão, grota, baixada, comunidade, vila, ressaca, mocambo, palafita, dentre outros. Os limites para definir a área permanecem o mesmo dos anos 1950, isto é, um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificação dos Aglomerados Subnormais deve ser feita com base nos seguintes critérios: a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); e b) Possuírem pelo menos uma das seguintes características: urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos; e precariedade de serviços públicos essenciais. Os Aglomerados Subnormais podem se enquadrar, observados os critérios de padrões de urbanização e/ou de precariedade de serviços públicos essenciais, nas seguintes categorias: a) invasão; b) loteamento irregular ou clandestino; e c) áreas invadidas e loteamentos irregulares e clandestinos regularizados em período recente (IBGE, 2010, p. 27). Outros critérios, frequentemente utilizados para distinguir as ocupações precárias dos diferentes tipos de moradia, articularam-se com a questão da vulnerabilidade e se aplicaram apenas parcialmente, como: a) o elevado grau de carências, tanto em relação à oferta de serviços públicos quanto em relação a padrões 31 PARTE 01 urbanísticos e de moradia; b) a irregularidade das construções das edificações; c) a ausência de arruamentos e planos urbanísticos; d) a falta de água e luz. Contudo, diversos estudiosos sobre ocupações da terra afirmam que a ilegalidade fundiária é a variável mais adequada para distinguir a favela das demais ocupações pobres. Segundo Perlman (1977, p. 40), (...) existem favelas de todo tipo; algumas são antes esparsa que densamente povoadas; outras têm ruas bem traçadas e espaços abertos (...); e muitas, com o correr do tempo, melhoraram enormemente em termos de materiais de construção e serviços urbanos. O que, afinal, distingue a favela de muitas outras comunidades pobres que lhes são semelhantes é a ocupação ilegal da terra. Da mesma forma Pasternak (2008, p.79), atribui ao estatuto jurídico da terra como sendo a variável mais adequada à definição da favela, isto é, a forma como legalmente se encontra disciplinado o uso, a ocupação e as relações fundiárias. Para Abramo (2003, p. 209), tanto a irregularidade fundiária quanto a irregularidade urbanística dizem respeito às características da moradia em favela. A irregularidade fundiária é a manifestação da impossibilidade das famílias pobres disporem dos recursos necessários para adquirir um terreno para edificar sua moradia. Essa carência de recursos monetários impede o acesso a terra pela via tradicional do mercado fundiário e define uma estratégia popular conhecida como “ocupação” voluntária dos terrenos públicos e privados. A irregularidade urbanística que caracteriza o processo de construção das edificações na favela também é uma manifestação da pobreza urbana na medida em que os padrões de construtibilidade das moradias da favela não obedecem aos preceitos definidos dos códigos urbanísticos (ABRAMO, 2003, p. 209). De acordo com Magalhães (2009, p. 55), os moradores das favelas sobre a vigência do Estado Democrático de Direito inserem-se em regiões denominadas de "zonas cinzentas", em que não vigoram, ou são relativizadas, as instituições do Estado do Direito. (...) na medida em que, sobretudo no Brasil e nos países cujo modelo de crescimento urbano e econômico é semelhante ao brasileiro, a ilegalidade não é mais exceção: é a regra. Devemos, para entender isso, mudar um pouco a atitude de pensar que ilegal é a coisa que escapou, que ficou de fora de uma ordem (FERNANDES, 2008, p. 22-23). 32 PARTE 01 Deve-se entender que o processo de produção da lei tem sido um fator determinante para o processo de produção da ilegalidade, já que as práticas estabelecidas fora da forma da regulação institucional do Estado de Direito e dos sistemas de controle definem-se como práticas ilegais. Segundo Fernandes (2008, p. 23) o ilegal é à maneira de organização da sociedade nos dias atuais, estando tanto à margem da lei ou mesmo contra ela, como a economia informal. Temos, ao pensar sobre o processo de produção da ilegalidade, de entender como o mesmo processo de produção da lei tem sido um fator determinante da ilegalidade. O não-jurista tende a atribuir a ilegalidade à combinação entre sistemas políticos e mercado de terras. Eu acho que se deve acrescentar um terceiro elemento a essa equação: o próprio sistema jurídico, sobretudo no que toca à visão individualista e excludente do direito de propriedade fundiária e à forma elitista de organização do sistema (FERNANDES, 2008, p. 23). No âmbito brasileiro, favelas ou outras adjetivações para determinar ocupações que tiveram como marco de fundação processos de autoconstrução e de autourbanização são denominadas como assentamentos populares informais (API), sendo definidos pela “lógica da necessidade”, isto é, pela lógica social de acesso ao solo urbano (ocupações populares) que não respeita os preceitos do direito de propriedade e/ou urbanístico (ABRAMO, 2009, p. 6-7). As conceituações submeteram-se a diferentes momentos históricos do processo de urbanização brasileiro, estando relacionadas com as discussões do déficit habitacional e as constantes tentativas de reconhecer as habitações de interesse social como uma necessidade social, com suas atribuições interligadas a problema urbanístico, econômico, jurídico, mas também ao problema de natureza social. De certo modo, as várias definições limitam-se a legalidade fundiária e a questão da habitabilidade. Cumpre aqui colocar que a partir do reconhecimento dessas localidades utilizaremos o termo assentamento popular informal para determinar as AEIS ou ZEIS, ou seja, as favelas, os cortiços, as vilas, as ocupações ilegais e clandestinas. Sendo esse tipo de assentamento, núcleos com problemas associados à propriedade da terra e outros tipos de irregularidade/ ilegalidade, quanto à legislação edilícia, ao uso do solo, ao parcelamento do solo, a qualidade da unidade habitacional, isto é, as ocupações populares precárias que se consolidam mediante processos de autoconstrução e de autourbanização. 33 PARTE 01 Nesse contexto, o item seguinte visa compreender o acesso ao mercado imobiliário informal com base no seu funcionamento, nos mecanismos de transações imobiliários e nos elementos determinantes do preço. 3. MERCADO IMOBILIÁRIO INFORMAL O termo informalidade não é um conceito, tal como exploração, marginalidade, espoliação, etc. que são utilizados para descrição dos fenômenos urbanos. Em seu sentido descritivo e polifônico, expõe fenômenos em várias disciplinas (economia, sociologia, linguística, antropologia, direito, entre outras áreas) e situações concretas da vida social (ABRAMO, 2009, p. 54-55). Em termos específicos parte do desvio da normalidade, referindo aos aspectos peculiares das atividades econômicas que estão à margem oculta da economia oficial e ostensiva das sociedades (PRADO, 1991, p. 22). Na dimensão urbana, a informalidade interliga-se a uma definição minimalista da economia informal urbana, na qual seria um ato mercantil de compra, venda e/ou locação do solo (edificado), à margem do direito urbanístico, do direito econômico e comercial, do direito de propriedade e de outros direitos civis que regulariam o uso e a propriedade do solo urbano. Ou seja, à margem do marco regulatório da esfera jurídicopolítica do Estado de Direito moderno, remetendo-se a um conjunto de irregularidades em relação aos direitos: a) irregularidade urbanística; b) irregularidade construtiva; c) irregularidade em relação ao direito de propriedade da terra; d) outras irregularidades relativas aos contratos de mercado que regulam as transações mercantis. Apresentando o mercado imobiliário informal (MII) um funcionamento específico, mas com certas características do mercado imobiliário formal, identificamos a seguir as semelhanças e divergências entre ambos os mercados, com foco na lógica interna de funcionamento do mercado imobiliário informal. 3.1. Funcionamento do Mercado Imobiliário Informal De acordo com Abramo (2009, p. 26-27), em analogia ao mercado imobiliário formal identifica-se no MII de solo um mercado de imóveis novos (recém-produzidos ou na planta), que configuram o mercado primário, e um mercado de imóveis do estoque existente (“usados”), o mercado secundário. 34 PARTE 01 No mercado imobiliário formal existe uma articulação entre os mercados primários e secundários, pois, praticamente, as transações realizadas no mercado primário ocorrem pela troca de domicílios do estoque por imóveis novos, dependendo na grande maioria da venda do antigo imóvel. Nos casos que a nova demanda independe da venda de um imóvel anterior, condicionam-se aos créditos imobiliários. E ainda, compreende-se que nas transações imobiliárias formais está vinculada a liquidez e a demanda solvável do mercado primário com a liquidez do secundário. Em contrapartida, no mercado imobiliário informal as formas de articulação entre mercado primário e secundário são distintas (Quadro 1). A oferta imobiliária habitacional no mercado informal é quase sempre um bem do estoque construído por seus residentes para uso familiar, sendo em sua grande maioria de “imóveis usados” ou de fracionamentos desse imóvel original, seja verticalizando, seja ocupando parte do lote e/ou casa (produção de quartos), mantendo a residência (ou parte) da unidade familiar original. Sendo assim, composto por um mercado capaz de oferecer lotes informais (irregulares e/ou clandestinos) a partir do fracionamento e/ou ocupação de glebas urbanas ou periurbanas. Quadro 1: Classificação da lógica interna de funcionamento do mercado imobiliário informal. Mercado Primário Mercado Secundário Submercado de loteamentos (urbanizações piratas) Submercado nos assentamentos populares informais consolidados Clandestinos Irregulares Residencial Comercial Compra e Venda Aluguel Compra e Venda Aluguel Fonte: ABRAMO, 2009, p. 60, adaptado pela autora. A definição dos submercados informais envolve a identificação dos agentes, produtos e demais características do mercado. Nesses submercados o seu funcionamento apresenta aspectos diferenciados ao mercado formal, como: a) a ausência de promotores imobiliários atuantes na produção de imóveis novos informais para a comercialização em mercado; e, b) a produção de números reduzidos de imóveis novos informais. No caso do submercado de loteamentos ocorre, sobretudo, o fracionamento de glebas na periferia das cidades, com produtos relativamente homogêneos, tendo como principais fatores de diferenciação as dimensões físicas e topográficas e a posição do 35 PARTE 01 loteamento na hierarquia de acessibilidades e de infraestrutura urbana. E ainda, possui uma situação de mercado em que poucos agentes detêm o controle da maior parcela comercializada, isto é, define-se por uma estrutura oligopolista na formação dos preços. Nesse submercado, os loteadores têm como estratégia buscar glebas com o intuito de fracioná-las, minimizando os custos de fracionamento e maximizando os fatores que proporcionam lucratividade, como é o caso da busca de glebas baratas e sem infraestrutura nas áreas periférica das cidades, através da produção de uma forma difusa do território informal (ABRAMO, 2009, p. 30-31). Com características distintas ao submercado de loteamento, o submercado das áreas populares consolidadas apresenta diferentes produtores/ vendedores que atuam de forma independente face aos compradores/ inquilinos para alcançar os objetivos das transações imobiliárias, possuindo assim uma estrutura concorrencial e racionada. De tal modo, nada indica que a liquidez do submercado de loteamento depende do submercado imobiliário nos assentamentos, existindo em certos casos uma relação de concorrência entre os submercados. Nos assentamentos populares informais a aquisição de um lote, uma laje ou um lote com alguma benfeitoria é realizado quase sempre por um trabalho de autoconstrução, pela produção por encomenda através da contratação de mão de obra para edificar a moradia ou pela combinação dos dois procedimentos, ocorrendo à construção de maneira individualizada e por uma família que habita ou habitou a edificação. Já no mercado de locação residencial informal, as transações se constituem em relações contratuais informais de aluguéis. E, o submercado comercial depende em grande medida do grau de consolidação do assentamento e de sua magnitude em termos populacionais (Ibid, p. 30). Abramo (2009, p. 36) afirma/ identifica que o mercado de locação residencial informal após 1990 cresceu de maneira significativa, a ponto de se tornar uma das formas de acesso ao universo habitacional informal. Assim sendo, constata que esse crescimento vincula-se a dois fatores estruturais da sociedade. O primeiro fator conectase a precarização do mercado de trabalho. O segundo fator relaciona-se à mudança do perfil demográfico da população residente em assentamentos informais, principalmente nas áreas consolidadas e com maiores acessibilidades locacionais. Percebe-se que a identificação do submercado de áreas consolidadas é importante para o reconhecimento do processo de formação dos preços no mercado imobiliário informal e que os gradientes dos preços nesse mercado são modelados a 36 PARTE 01 partir de um conjunto de “externalidades de liberdades urbanísticas e construtivas” e “externalidades comunitárias” (Ibid, p. 23-24). A primeira externalidade, “liberdades urbanísticas e construtivas”, permite ao comprador de um imóvel informal exercer um direito de uso do solo (fracionamento e/ou solo criado) que não se regula pelos direitos urbanísticos e de propriedade da legalidade do sistema jurídico-político do Estado. Essa liberdade urbanística e construtiva promove uma compactação nos assentamentos populares informais - a partir do fracionamento dos lotes, do aumento da densificação predial e familiar - e a tendência à verticalização, sendo bastante vantajosa em relação ao mercado formal de solo (ABRAMO, 2009, p. 66). No âmbito do Brasil, outro fator que incide no processo de compactação é o crescimento dos custos de transporte no orçamento familiar dos setores populares nas décadas de 1990 e 2000. Logo, o uso intenso do solo nos assentamentos consolidados contribui de certo modo para precarização do habitat popular com o aumento da densidade (predial e domiciliar) e verticalização, comprometendo os indicadores de habitabilidade (problemas de aeração, insolação, acústica, etc.). A segunda externalidade, “as comunitárias”, resulta de uma economia de reciprocidade em que as famílias têm acesso a bens e serviços a partir de relações de dom e contradom, como das seguintes relações de troca com amigos e/ou parentes residentes na comunidade: a) tomar conta de crianças; b) pequenos trabalhos; c) empréstimos de utensílios e alimentos; etc. Essas relações de troca de bens materiais e de favores entre os moradores sustentam-se por redes sociais que permitem interações interfamiliares, nas quais não desembolsam valores monetários para aceder a certos bens e serviços (relações de reciprocidade). E ainda, estabelecem dinâmicas de trocas baseadas em relações de confiança e lealdade (CAILLÉ, 2000, RALLET & TORRE, 2007, PELLIGIA, 2007, apud ABRAMO, 2009, p. 65). Essas relações comunitárias tendem a ser capitalizadas nos preços do solo e capturadas pelos vendedores e locadores nos submercados consolidados, valorizando na hora da compra e venda ou aluguel de um imóvel. Nesse contexto, relataremos, a seguir, as possibilidades da existência de um conjunto de instituições e de normas informais produzidas historicamente nos assentamentos populares pela via das práticas sociais. Ou seja, a formação de instituições informais que possibilitam o funcionamento do mercado e garantem em 37 PARTE 01 termos intertemporais e intergeracionais os contratos realizados de compra/ venda e aluguel nas transações informais do mercado. 3.2. Mecanismos de transações imobiliárias nos assentamentos populares informais A prática cotidiana de compra/ venda e aluguel de imóveis em assentamentos populares informais ratifica o processo de mercantilização dos espaços informais, com critérios semelhantes e/ou diferenciados para cada caso do mercado imobiliário informal, como: a) regras; b) instituições; c) procedimentos; e, d) obrigações vigentes dentro e/ou fora dos API, e vice-versa. Esses critérios relacionam-se a uma espécie de necessidade lógica e/ou necessidade operacional e as regras/consensos decorrentes do bom senso dos negócios imobiliários da localidade. Com o funcionamento do mercado produzido pela via das práticas sociais específicas de cada assentamento, a compra e a venda de imóveis em certas regiões intermediam-se por instituições reguladoras (“autoridades locais”) situadas na própria localidade, como é o caso de Associações de Moradores em algumas favelas do Rio de Janeiro. A prática perante representantes das intuições são válidas e reconhecidas publicamente, oferecendo segurança na legitimação do adquirente em face dos moradores de cada favela, e por um lado, revelam a sensibilidade jurídica dos moradores e a ordem jurídico-urbanística interna ao assentamento, que se constitui pelo conjunto das relações sociais configuradas. A intermediação da instituição na compra e venda dos imóveis consiste na cobrança de emolumentos por parte da instituição semelhante aos dos cartórios e dos tributos incidentes sobre a venda de imóveis. O vendedor arca com percentual sobre o valor de venda, em favor da instituição, a título de doação. Segundo Magalhães (2009, p. 61), o percentual cobrado varia de 2% a 5% e se deve a diversas circunstâncias tais como: a) o valor do imóvel; b) o dimensionamento da edificação; e, c) até mesmo o poder de barganha das partes. À luz da legislação em vigor, tal interveniência, conquanto não seja vedada ou vista como ilícita não investida em qualquer função pública, muito embora, de fato, opere como uma espécie de “governo da favela”, face às funções que o próprio Estado a ela delega, o que constitui uma das múltiplas ambiguidades que marcam esses territórios. (...) num caso concreto relatado nas 38 PARTE 01 entrevistas, o Presidente da Associação teria afirmado categoricamente à entrevistada que, sem a sua assinatura, o documento de compra do imóvel não teria nenhum valor, o que, usando as categorias jurídicas, equivaleria a afirmar a nulidade do título aquisitivo do comprador (MAGALHÃES, 2009, p. 58). Nesse caso, a imagem das favelas difunde-se socialmente como áreas essencialmente sem lei nem ordem, porém há distinções rígidas entre normas válidas dentro e fora dela, com moradores que não realizam a venda do imóvel perante a Associação havendo informalidade no interior do sistema informal. Os variados tipos de transações imobiliárias tratam-se de formalidades não estabelecidas pelo Estado, mas sim pelos usos e costumes do próprio espaço, porém quando necessárias são burladas pelos próprios moradores (MAGALHÃES, 2009, p. 63). De acordo Magalhães (2009, p. 57), o que se pode indagar é se o Direito Costumeiro está presente nas relações de compra/venda e aluguel do mercado imobiliário informal, ou seja, se o conjunto de regras estabelecidas pelo costume ou pela tradição, introduzidas pelo uso, a partir do consentimento tácito de todas as pessoas admitem a sua força como norma a seguir na prática de determinados atos. No caso específico do mercado imobiliário informal, situação não cogitada na lei, o costume trata-se como praeterlegem, isto é, o costume não abrangido pela lei, mas que completa o sistema legislativo na falta de um dispositivo legal aplicável. O laço de confiança-lealdade é um costume, que assume as feições de convenção essencial para o funcionamento do mercado imobiliário informal, pelo fato de não estar submetido a regras legalmente instituídas. No caso do mercado de aluguel quase sempre no momento das negociações não há documentos amparados por lei que permita recorrer a instrumentos regulatórios legais, sendo a convenção de confiança e lealdade responsável pela ordem coletiva para garantir o funcionamento do mercado (LACERDA, 2010, p. 05). A convenção assume características bem peculiares. Ela não tem sentido senão no interior de um coletivo, ou seja, de uma comunidade, com suas crenças e valores. Quando surge, assume um caráter arbitrário, no sentido de que existem outras possibilidades, além dela, para que as ações coordenadas aconteçam. Ademais, não precisa de aparelhos de coerção, visto que é socialmente aceita. No entanto, é portadora de ameaças: violar uma convenção pode provocar uma desaprovação social, capaz de ser duramente ressentida pelo indivíduo (LACERDA, 2010, p. 05). 39 PARTE 01 Ao contrário da ordem sustentada pelo direito, que necessita de mecanismos de coação, assegurados por pessoas responsáveis a impor o seu cumprimento, um ato discordante frente às convenções dentro de um determinado círculo de pessoas, acarretará em reprovação, devido à convenção (ou norma) resultar de um acordo (ou acerto), explícito ou implicitamente firmado por indivíduos em interação (como por exemplo, locadores e locatários de um imóvel) (Ibid, p. 21). Lacerda (2010, p. 38) comenta que, para David Lewis, (...) a convenção é o resultado de uma visão, em que a estratégia é agir como os outros agem, opondo-se ao fenômeno convencional estudado por outros economistas, que defendem a necessidade de uma abordagem interpretativa das interações, porquanto a convenção não é apenas uma regra de funcionamento, mas sim um modelo de avaliação, que permite interpretar as regras. Como mencionado, segundo essa autora, o mercado imobiliário em áreas pobres caracteriza-se pela existência da troca mercantil informal com relações mútuas de confiança-lealdade, questão também colocada por Abramo (2009, p. 58). Embora este autor fundamente que, relações de confiança e lealdade nos contratos mercantis do mercado informal possa ser uma ameaça, sendo necessária “autoridade local de mediação contratual”, como uma “espécie de fiadora” para manter e garantir a condição intertemporal e intergeracional dos contratos. Todavia, Lacerda (2010, p. 17) inicia seus questionamentos, indagando sobre a formação da base institucional (confiança-lealdade) para coordenação dos indivíduos, no mercado de locação. A quem cabe confiar e a quem cabe ser leal? A confiança deve referir-se ao locador que, no ato de fechar a negociação, mesmo verbal, confia (ou tem por moralmente certo) que o inquilino cumprirá o estabelecido, em relação ao pagamento mensal do aluguel, à manutenção do imóvel, aos pagamentos de energia elétrica, etc.? Lealdade cabe ao inquilino, diante dos compromissos assumidos? (...) Ora, se os comportamentos dos indivíduos se fundamentam em relações de confiança-lealdade, por que é preciso haver uma “autoridade local”? (LACERDA, 2010, p. 17). No caso específico da Região Metropolitana do Recife, em nenhuma das localidades pesquisadas por Lacerda (2010, p. 17), constatou-se a figura de um mediador, com função de “fiador”. De maneira semelhante, como abordado na Parte 04, 40 PARTE 01 não identificamos nenhuma instituição mediadora responsável pelo funcionamento do mercado imobiliário informal na AEIS de Mãe Luiza. Então, como funciona a coordenação do mercado imobiliário informal, principalmente, no caso específico do mercado de aluguel, em que as relações diretas entre locadores e locatários persistem durante toda vigência da locação? Por meio da convenção confiança-lealdade que coordena e minimiza eventuais conflitos e maximiza os benefícios desejados entre locadores e locatários de um imóvel, como citado anteriormente, através de condutas (ou normas) que resultam de um acordo (ou acerto), firmado implícito ou explicitamente entre eles. A convenção confiança-lealdade permite que os agentes tomem decisões sem razões aparentes. Os locadores à conta dos baixos rendimentos dos inquilinos não teriam, em princípio, razão para confiar que eles farão face aos compromissos assumidos. Os inquilinos, por sua vez, por conta dos seus baixos rendimentos não teriam condições reais de serem leais. Por exemplo, no caso de inadimplência, foi constado no bairro de Brasília Teimosa (Recife/PE) por Lacerda (2010, p. 47), relações de confiança e lealdade entre locadores e locatários, cuja conduta predominante do locador perante o locatário é de entrar em comum acordo e/ ou esperar que saia por conta própria. Essas atitudes demonstram que parte dos locadores confia, de alguma forma, que irá receber os aluguéis e que os inquilinos serão tão leais, frente à dificuldade de efetuar o pagamento, desocuparão o imóvel alugado. A dupla confiança e lealdade podem ser retroalimentadas e fortalecidas pela proximidade física quando locadores residem na mesma localidade dos inquilinos e/ou são vizinhos e, em certos casos, quando chegam a habitar o mesmo imóvel. Essas relações de vizinhança adquirem maior importância, quando comparadas ao funcionamento das transações formais, na maioria das vezes totalmente impessoal. Além disso, os inquilinos quase sempre possuem parentes e/ou amigos residindo na localidade, assim, o descumprimento das convenções (por exemplo, a inadimplência) pode ser um fator que abala a reputação, criando constrangimentos familiares (Ibid, 2010, p. 47-49). Dentre outras maneiras, a convenção confiança-lealdade pode orientar e ajustar as ações dos indivíduos no mercado de aluguel, sem que haja necessidade de uma “autoridade local”. A relação locador/ locatário não deixa de ser de dominação, o primeiro, embora não detenha a titularidade do terreno, é proprietário das benfeitorias, o 41 PARTE 01 que lhe confere poder, inclusive, de botar para fora, existindo o risco de desacordo e, portanto, de conflito (Ibid, p. 46-50). Segundo Lacerda (2010, p. 46), “(...) confiança e lealdade devem ser entendidas, pois, menos como expressões de solidariedade e mais como características desse mercado específico”, diante das incertezas do mercado imobiliário informal, a convenção confiança e lealdade faculta uma sensação de certeza (ou segurança), que facilita as transações econômicas, garantindo, no geral, não apenas a existência do mercado de aluguel, mas também sua reprodução. 3.3. Elementos determinantes do preço de imóveis no mercado imobiliário informal A moradia é uma mercadoria imóvel e durável, não homogênea, com uniformizações/ padronizações problemáticas e com funções econômicas e úteis relacionadas à produção/ circulação/ consumo num mesmo espaço e ao longo de certo período de tempo. Tanto no mercado imobiliário formal quanto no informal, a utilização da moradia não é definida apenas pelas caraterísticas internas enquanto objeto construído, estando seu valor de uso determinado pela articulação com o sistema espacial de objetos imobiliários que compõem o valor de uso complexo representado pelo espaço urbano (RIBEIRO, 1997, p. 80-81). Em ambos os mercados – compra e venda e locação - o valor de uso da moradia é determinado pela articulação dos elementos locacionais, que variam em termos objetivos em função das desigualdades quantitativas e qualitativas do sistema de objetos imobiliários; e em termos subjetivos, em razão dos diferentes conteúdos sociais e simbólicos das várias áreas do espaço urbano, cujos fundamentos são: a) fatores naturais de sítio, por exemplo microclimas, proximidade do mar ou de montanhas, etc. b) existência ou não de equipamentos coletivos em quantidade e qualidade necessários ao consumo: escolas, hospitais, estrutura viária, sistema de esgoto e de distribuição de água, etc; c) distância aos centros de emprego; d) divisão simbólica, que classifica socialmente as pessoas segundo sua ocupação no espaço (RIBEIRO, 1997, p. 115-116). 42 PARTE 01 Conforme as divisões econômicas e sociais do espaço, ocorre uma hierarquia mais ou menos acentuada dos preços de mercado das moradias. Ademais, os fatores relacionados à quantidade de peças como número de cômodos, metro quadrado do imóvel e lote, tipo de material utilizado para construção da edificação e pelo modo de efetuar o pagamento do imóvel (RIBEIRO, 1997, p. 118). Chama a atenção, também, as relações estabelecidas entre vendedor e comprador que fazem os valores da mercadoria variar num curto período de tempo, devido condições sazonais e/ou ajustamentos do preço entre cliente e vendedor, isto é, o pechinchar, o regatear são relações e regras que alteram os preços (SANTOS, 1979, p. 195). E ainda, os fatores microlocacionais tendem a influenciar na determinação dos preços das habitações, como intervenções urbanísticas do poder público e/ou ações comunitárias de automelhoria (pavimentação, saneamento, etc.) que intervém na estrutura física do assentamento promovendo melhorias localizadas, cujo resultado é uma diferenciação no ambiente construído da cidade. É importante esclarecer, que os gradientes dos preços no mercado informal são ainda modelados a partir do conjunto de “externalidades urbanísticas e construtivas” e “externalidades comunitárias”, sendo vantajosas em relação ao mercado formal. Devido às áreas permitirem exercer o desmembramento da edificação e/ou lote, como também, a verticalização transformando unidades habitacionais em multifamiliares, para acolher amigos/ parentes ou até mesmo para ampliar a renda familiar, por meio da construção de vilas, cortiços, condomínios verticais e/ou horizontais, etc. a serem comercializados. Nesse contexto, Smolka (2003, p. 264) argumenta que muitas famílias de baixa renda não escolhem os arranjos informais como melhor alternativa, visto que o metro quadrado de terreno em assentamentos populares informais não é acessível à população pobre (Quadro 2). Segundo estimativas obtidas de distintas cidades em dez países latino-americanos a mediana dos preços para lotes ilegais comercializados situam em torno US$ 27 por metro quadrado. Sendo apreciado este valor quando se compara ao da terra nua (de US$ 5 a US$ 10 o m²). Quadro 2: Valor do metro quadrado de lote ilegal em localidades da América da Latina. Localidade Guarulhos (Brasil) Bogotá (Colômbia) Lima (Peru) Cochabamba (Bolívia) Valor Médio do metro quadrado US$ 40,00 Entre US$ 15,78 e US$ 18,94 US$ 33,60 Entre US$ 25,00 e US$ 30,00 Fonte: SMOLKA, 2003, p. 264. 43 PARTE 01 Para compreender o processo de compra e locação de imóveis em assentamentos populares informais por famílias de baixo poder aquisitivo - apesar do elevado preço deve-se levar em consideração os indivíduos (famílias classificadas segundo sua renda) que decidem a localização do imóvel que desejam consumir, sendo assim considerados todos como agentes iguais e simples consumidores de residência-localização. Abramo (2003, p. 202) constata que os fatores locacionais da moradia permitem a entrada dos imóveis dos assentamentos populares informais no jogo especular de ganhos e perdas fundiário-imobiliário, promovidos pelas alterações da estrutura intraurbana, tendo certa relação aos conjuntos de fatores que determinam os valores no mercado imobiliário formal, como: a) Fatores de microlocalização, ligados diretamente às condições do meio-ambiente (natural ou construído) com o qual se articula diretamente o terreno, que expressariam a diferença do preço do terreno em relação ao preço médio da zona homogênea da qual fazem parte: fatores físicos, acessibilidade aos serviços locais, meio ambiente natural, vizinhança, elementos que são muito bem explorados na publicidade dos lançamentos imobiliários; b) Fatores de macrolocalização, que atuam ao nível do conjunto de zona homogênea (que pode ser o bairro) e são responsáveis pela formação de preços da terra diferenciados em cada zona: posição do “bairro” em relação aos vários centros, ligação do “bairro” em relação aos vários centros, ligação do bairro com o sistema de transporte, regulamentação urbanística determinando tipos e formas do uso do solo (atividades e gabaritos, por exemplo); c) Fatores gerais, que influenciam a formação dos preços fundiários no conjunto da cidade: ritmo de crescimento da população, conjuntura econômica, estrutura de propriedade privada da terra (maior ou menor concentração da propriedade), etc. (JEAN-JACQUES, IN: RIBEIRO, 1997, p. 117). Estudos recentes (Rede Infosolo) sobre a importância do mercado imobiliário informal como um dos principais mecanismos de acesso ao assentamento popular informal comprovaram que a relação de proximidade entre o local de moradia e o do trabalho (fixo ou eventual) define o local de compra de imóveis em assentamentos populares informais por reduzir em grande parte o custo de deslocamento. Essa preferência por acessibilidade e ainda à preferência por vizinhança e por “estilo de vida” são fatores locacionais importantes na decisão das famílias pobres. 44 PARTE 01 Podemos sugerir que atualmente nas metrópoles brasileiras vemos um duplo movimento de deslocamento. Os primeiros dos muitos pobres em direção a uma “super” periferia muito distante do centro. E um segundo movimento de retorno dos pobres as áreas mais centrais (no nosso caso favelas) em função da importância dos custos de transporte no orçamento familiar. O mercado imobiliário informal é um dos elementos que revela esse processo de densificação das favelas (ABRAMO, 2003, p. 220). Nessa perspectiva, Abramo (2003, p. 199) afirma que a partir de estudos desenvolvidos pela Rede, as duas últimas preferências (vizinhança e “estilo de vida”) são apenas indicativas e atribui que a localização residencial é um dos elementos mais importantes no universo familiar dos pobres, possibilitando acesso diferenciado a núcleos de emprego e renda, bolsões de serviços públicos, bem como outros fatores de acessibilidade relacionados com a posição do assentamento popular informal na hierarquia de localizações da cidade. 4. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 01 Nesta parte, tentamos esboçar variados aspectos do mercado de moradias que dependendo do momento histórico e das exigências do capital imobiliário, podem ter mecanismos de comercialização de imóveis articulados: a) a produção rentista e rentista pequeno-burguesa; b) a produção em áreas periféricas dos principais centros urbanos; c) a produção de casas autoconstruídas em áreas centrais e/ ou subúrbios; d) a produção com a colaboração de incorporadores; etc. Constatamos que as diversas apropriações e produções do espaço urbano favorecem a formação de cidades segmentadas, com presença de camadas de alta renda residindo nas áreas centrais e as de menor renda, em periferias e/ou áreas centrais precárias. Verificamos que a estruturação do espaço residencial, a partir dos consumidores ocorre segundo a lógica de localização, não pelo produto em si, influenciando na configuração da ordem residencial, ao estruturar o espaço em relação aos diversos tipos de famílias. O resultado é a segmentação da cidade com base na situação econômicosocial. Contudo, a impossibilidade da população de menor poder aquisitivo de cumprir o acesso ao solo urbano por questões de solver os elevados preços dos imóveis do mercado formal, obriga parcela significativa das pessoas a aderir ao mercado 45 PARTE 01 imobiliário informal. Mercado, este, que se encontra numa "zona de penumbra" por representar obstáculos ao capital, possuindo uma extensa fronteira as diretrizes legais. Na maioria dos grandes centros urbanos latino-americanos, o mercado imobiliário informal de edificações supre a falta no mercado formal. Porém, como afirma Prado (1991) e Smolka (2003), os custos da aquisição do lote/ da edificação informal tendem a ser em geral elevado, uma vez que a residência precária se transformou ao longo do tempo num “capital locacional” que se valoriza/ desvaloriza no tempo, como os ativos imobiliários da cidade formal. Soto (2001) defende que esses ativos não regularizados, como dos imóveis informais, se constituem em “capital morto”, por não garantir empréstimo e possibilitar participação em investimentos. Tendo como solução a regularização das moradias informais, para transformar os ativos não regularizados em ativos legalizados (“capital vivo”). Conforme Fernandes (2008, p. 25-28), as propostas de Soto (2001) não é mesma coisa que prover o direito de moradia e que a legalização formal por si só pode provocar efeitos inesperados e perversos, caso não seja pensada, em quadro mais amplo de obras de urbanização, políticas sociais, programas econômicos, de mecanismos de gestão. Para o autor, a legalização pode até dar segurança individual legal a uma pessoa, mas a dinâmica do mercado, a formalização, as taxações, as tributações, etc. em muitos casos os proprietários acabam vendendo as propriedades legalizadas e ocupando outras localidades. Há várias pesquisas indicando que, quando se tem um conjunto de fatores políticos, institucionais e sociais – por exemplo, a criação de ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), normas urbanísticas próprias, programas de gestão, enfim, uma série de medidas adequadas -, mesmo sem legalização, mesmo sem títulos, as pessoas se sentem seguras da sua posse o suficiente para investirem nas suas casas e nos seus negócios continuamente. Nos assentamentos consolidados, muitos obtêm crédito informal mesmo sem legalização e, em muitos casos, obtêm crédito formal (FERNANDES, 2008, p.27). As informações coletadas na AEIS de Mãe Luzia, conforme destacaremos adiante na Parte 04, demonstra que a informalidade imobiliária não impede a existência de mercado (produção de “ativos”), sobretudo, de mercado imobiliário secundário (imóveis existentes, “usados”). 46 PARTE 01 A respeito da informalidade/ ilegalidade de acesso ao solo urbano, constatamos que assume maior importância nas economias atrasadas, de organização rudimentar, não havendo contabilidade e mensuração das transações, rendimentos e quantificação dos imóveis tornando-se complexa a definição, a identificação e a classificação das áreas informais/ ilegais, como também, dos elementos estruturantes do mercado imobiliário informal. Nesse sentido, reconhecemos as áreas informais/ ilegais como as Áreas Especiais de Interesse Social, isto é, favelas, cortiços, vilas, ocupações ilegais e clandestinas. Sendo utilizado o termo assentamentos populares informais para caracterizar as referidas localidades, associadas aos núcleos com produções contrárias ao conjunto de normas jurídicas ao direito de propriedade da terra, as legislações urbanísticas quanto ao uso do solo e a qualidade da unidade habitacional, limitando-se a legalidade fundiária de áreas autourbanizadas e a questão da habitabilidade de residências autoconstruídas. Ademais, verificamos que o ato mercantil de compra e venda ou locação do solo edificado à margem do conjunto de irregularidades da esfera jurídico-política do Estado de Direito moderno, como das irregularidades relativas às transações mercantis imobiliárias, desenvolvidas espontaneamente pela sociedade, apresenta um funcionamento específico com aspectos semelhantes ao mercado imobiliário formal. E ainda, a lógica interna do mercado imobiliário informal aufere lucros tanto para os agentes que comercializam no mercado primário (“imóveis novos”) quanto no mercado secundário ("imóveis usados"), sendo quase sempre bens do estoque construído pelos proprietários/ residentes de "imóveis usados" ou "imóveis fracionados”. Constatamos que a dinâmica de funcionamento do MII apresenta critérios diferenciados como regras, instituições, procedimentos e obrigações vigentes dentro ou fora dos API, tendo certas regiões semelhanças e/ou diferenciações no processo de comercialização e locação de imóveis. Do pouco ainda que se saiba sobre o funcionamento do mercado imobiliário informal, este pode ocorrer em certas regiões, como no caso do Rio de Janeiro (MAGALHÃES, 2009), pela intermediação de instituições reguladoras localizadas nos assentamentos que elaboram regulamentos próprios nas transações imobiliárias, sem valor jurídico difundindo socialmente as áreas como local sem lei nem ordem. Em contrapartida, como identificado na Região Metropolitana de Recife (LACERDA, 2010) e na AEIS de Mãe Luiza (ver Parte 04), pela troca mercantil informal com laços de confiança-lealdade, com convenções capazes 47 PARTE 01 de guiar as negociações sem aparato legal, apesar de serem responsáveis pela ordem coletiva capaz de garantir o funcionamento do mercado por meio da aplicação de um referencial de conduta (ou norma) resultante de um acordo (ou acerto), explícito ou implicitamente. Essa identificação do funcionamento de submercados em API, principalmente em áreas consolidadas, contribui para o reconhecimento do processo de formação de preços que são modelados a partir das "externalidades de liberdades urbanísticas e construtivas" e "externalidades comunitárias". Como também, pelo valor de uso; pelas características internas enquanto objeto construído e, basicamente, pela articulação dos elementos locacionais, contribuindo para a hierarquização mais ou menos acentuada dos preços; por fatores relacionados à quantidade de peças como número de cômodos, dimensionamento do imóvel e lote, e pelo modo de efetuar o pagamento do imóvel, etc. O funcionamento do mercado imobiliário informal, aparentemente, apresenta similaridades com a dinâmica existente do mercado formal, produz e oferece uma diversidade de produtos apoiados numa hierarquização dos preços dos imóveis e baseados na qualidade, tipologia e localização. Porém, o MII expõe uma diversidade de situações socioeconômicas, dificultando o estabelecimento de relações diretas de preço entre as diversas AEIS por possuir cada assentamento um rol de características próprias. 48 PARTE 02 5. INFORMALIDADE/ILEGALIDADE NA AMÉRICA LATINA A cidade informal na América Latina é um fenômeno recente que pode ser identificado por processos de produção do solo urbano à margem das regras e das normas oficiais desde o tempo de colônia. No início do século XX, em praticamente todos os países latino-americanos a produção das cidades modernas resultou do funcionamento das lógicas de Estado e de mercado, mas também da lógica da necessidade que impulsionou o processo de ocupação popular de terras urbanas, transformando-se na principal forma de acesso dos pobres ao solo urbano a partir dos anos 1950 (ABRAMO, 2009, p. 51-52). (...) lógica de Estado, segundo a qual a sociedade civil e os indivíduos se submetem a uma decisão do poder público, que assume a responsabilidade de definir a escolha que garanta o maior grau de bem-estar social. Nesse caso, o Estado define a forma, a localização e o público-alvo que terá acesso e usufruirá a terra urbana. (...) (...) lógica de mercado, segundo a qual o mercado seria o mecanismo social que possibilita o encontro entre os que desejam consumir terra urbana e os que dispõem a abrir mão do direito de uso da terra urbana e a oferecê-la a eventuais consumidores fundiários (ou imobiliários). (...) podemos encontrar mercados cujo objeto está inscrito na normalidade jurídica e urbanística, que chamamos “mercado formais” e, mercados cujo objeto transacionado não se enquadra nos requisitos normativos e jurídicos, que chamamos “mercados informais de terra urbana”. (...) (...) lógica da necessidade, segundo a qual existe uma motivação condicionada pela condição de pobreza, isto é, pela incapacidade de suprir uma necessidade básica a partir dos recursos monetários que permitiriam o acesso ao mercado. À carência pecuniária, soma-se uma “carência institucional”, seja por um déficit de “capital institucional” (inscrição em um programa público), seja por déficit de “capital político” (produto de uma situação de conflito ou resultado de práticas populistas). Assim, desenvolvese um processo de “ação coletivo” conhecido por ocupações urbanas de terrenos e/ou imóveis (ABRAMO, 2003, p. 08-09). Essa lógica da necessidade destaca-se por mover um conjunto de ações individuais e coletivas capazes de promover a produção das “cidades populares” com o habitual ciclo ocupação/ autoconstrução/ autourbanização e consolidação dos assentamentos populares informais, formando cidades favelas (ABRAMO, 2009, p.50). 50 PARTE 02 Ao final da década de 1960, as favelas ou assentamentos semelhantes representavam cerca de um terço da população do Rio de Janeiro, 45% da Cidade do México, 35% de Caracas, 25% de Lima e de Santiago (PERLMAN, 1977, p. 39). Após 1970, ocorre o acelerado crescimento das favelas nos países pobres do hemisfério sul, devido às cidades terem ultrapassado o processo de urbanização. Nos anos 1980, a fragilidade dos sistemas de provisão habitacional público nos países latino-americanos e o crescimento da urbanização contribuíram para que fosse impulsionada a ocupação do solo urbano, sobretudo, em países que esse fenômeno não era tão presente, como Uruguai e Paraguai (Ibid, 2006, p. 27). A grande maioria dos países latino-americanos na década de 1990 reduziram de forma significativa os recursos de seus programas habitacionais, contribuindo para o crescimento da população urbana na favela. Dentre os vinte países com maiores populações residindo em favelas, quatro localizam-se na América Latina, como por exemplo, a Cidade do México (Tabela 1). Nesta, 60% do crescimento urbano resultou de pessoas que construíram suas próprias moradias em terrenos periféricos sem uso (DAVIS, 2006, p. 27). Tabela 1: Maiores populações faveladas por país. País China Índia Brasil Nigéria Paquistão Bangladesh Indonésia Irã Filipinas Turquia México Coréia do Sul Peru Estados Unidos Egito Argentina Tanzânia Etiópia Sudão Vietnã % da pop. urbana na favela 37,8 55,5 36,6 79,8 73,6 84,7 23,1 44,2 44,1 42,6 19,6 37,0 68,1 5,8 39,9 33,1 92,1 99,4 85,7 47,4 Número (milhões) 193,8 158,4 51,7 41,6 35,6 30,4 20,9 20,4 20,1 19,1 14,7 14,2 13,0 12,8 11,8 11,0 11,0 10,2 10,1 9,2 Fonte: UN-Habitat (2003), apud DAVIS, 2006, p. 34. 51 PARTE 02 No caso do Brasil, o déficit habitacional resulta tanto em termos quantitativos, pela falta de moradias para pessoas de baixa renda, quanto em termos qualitativos, devido às precárias condições de habitabilidade dos imóveis. Na região da Amazônia, 80% do crescimento das cidades tem-se dado nas favelas que passaram por processos de urbanização (DAVIS, 2006, p. 27). De acordo com Fernandes (2008, p. 21), no contexto dos países em desenvolvimento, entre 40% e 70%, chegando a alguns casos a 80% das pessoas vivem na ilegalidade tanto a respeito às formas de acesso ao solo e à produção de moradia, devido o crescimento urbano rápido no contexto do ajuste estrutural, da desvalorização da moeda e da redução do Estado. Mike Davis (2006, p. 27) comenta que, Um pesquisador da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que o mercado habitacional formal do Terceiro Mundo raramente oferece mais de 20% do estoque de residências e assim, por necessidade, as pessoas recorrem a barracos construídos por elas mesmas, a locações informais, a loteamentos clandestinos ou às calçadas. “O mercado imobiliário ilegal ou informal”, diz a ONU, “forneceu terrenos para a maioria dos acréscimos ao estoque de residências na maior parte das cidades do hemisfério sul nos últimos trinta ou quarenta anos” (DAVIS, 2006, p. 27). A única solução para os pobres que não tiveram recursos acumulados para entrar no mercado de comercialização formal e/ou nenhuma capacidade de endividamento familiar foi optar pela estratégia de ocupar áreas degradadas periféricas e/ou adquirir lotes/imóveis em áreas centrais por meio do mercado imobiliário informal, variável esta inserida na nova produção da cidade popular a partir da integração entre a lógica do mercado e a lógica da necessidade. Esse mercado informal popular existia em muitos países desde o início do século XX, fosse na forma do mercado de locação em cortiços ou outras formas precárias de moradia, fosse na mercantilização ilegal de terras periurbanas. A partir dos anos 50, encontramos alguns países latino-americanos onde a forma dominante de acesso à terra urbana é o mercado informal de solo. O caso mexicano é um exemplo concreto de predomínio do mercado informal a partir da privatização individualizada (venda de lotes individuais) das terras coletivas exidais rurais (AZUELA, 1989). Outro caso conhecido é o da cidade de Bogotá, onde praticamente toda a cidade popular tem na sua origem uma venda informal do solo urbano (“urbanização 52 PARTE 02 pirata”), isto é, o acesso dos setores populares a um lote urbano é operado pelo mecanismo da mão do mercado informal de solo (JARAMILLO, 2007; MALDONADO, 2003, apud ABRAMO, 2009, p. 52). Em alguns países, a principal forma de acesso aos assentamentos populares informais ocorreu através do mercado de compra e venda, enquanto em outros pelo mercado de locação (Tabela 2). Na Argentina 61,93% das transações são de aluguel, sendo 38,07% de compra e venda. Da mesma maneira, na Colômbia e Venezuela o mercado de locação (80,24% e 67,61%) é predominante em relação ao mercado de compra e venda (19,76% e 32,39%), permitindo levantar a hipótese de uma tendência de crescimento da locação informal nos territórios populares das áreas metropolitanas de Buenos Aires e Caracas (ABRAMO, 2007, p. 12). Tabela 2: Tipo de submercado residencial predominante nos assentamentos populares informais, ano 2006. País Argentina Brasil* Colômbia México Aluguel (%) 61,93 29,73 80,24 27,72 Peru ** Tipos de transações imobiliárias Compra Venda Compra + (%) (%) Venda (%) 21,66 16,42 38,08 16,81 54,46 71,27 11,65 8,11 19,76 68,73 3,55 72,28 ** ** ** Venezuela 67,61 13,60 18,79 32,39 *Rio de Janeiro sem as comunidades do Borel e Jacarezinho. ** Informação não fornecida. Predominância do submercado Aluguel Compra e Venda Aluguel Compra e Venda Aluguel/ Compra e Venda Aluguel Fonte: ABRAMO, 2007, p. 12 e ABRAMO, 2009, p. 67, adaptado pela autora. A partir desses dados, Abramo (2007, p. 12-13) elabora a hipótese de que no mercado de locação a população pobre e recém-chegada nas cidades latino-americanas não acumularam recursos suficientes para comprar lote ou imóvel informal, restando à estratégia de ocupar (invadir) terra urbana ou locar imóvel em assentamentos populares informais. Em termos de participação do mercado de locação, temos o Brasil (29,7% aluguel e 70,27% compra e venda) e o México (27,72% aluguel e 72,28% compra e venda) que apesar de significativo, estão abaixo dos demais países. Para o Brasil levanta-se a hipótese de mudanças na forma de acesso ao solo, passando do processo de ocupações/invasões populares de terras urbanas para um crescimento do mercado 53 PARTE 02 imobiliário informal nas últimas décadas, apesar do comportamento diferenciado dos demais países devido o peso do mercado ofertante (54,46%). Já, o Peru tem um equilíbrio na participação dos dois submercados, praticamente se dividindo no atendimento da demanda imobiliária dos assentamentos populares informais, não apresentando um submercado dominante tal como nos demais países (ABRAMO, 2007, p. 14). Os dados censais dos países latino-americanos indicam que a maioria dos pobres urbanos dos assentamentos populares informais é “proprietário informal”, ou seja, acederam ao solo urbano sob a forma de uma ocupação (invasão) ou compraram um lote ou imóvel informal. O termo “proprietários informais” ou “proprietários aformais” (CALDERON, 2005, apud ABRAMO, 2007, p. 12) ou “proprietários legítimos” (FERNANDES, 2004, apud ABRAMO, 2007, p. 12) define proprietários que desfrutam da posse efetiva sem, contudo terem o título de propriedade legalizada. Esse novo funcionamento do mercado de solo nas grandes cidades latinoamericanas contribui para a formação de cidades compacta e difusa, promovendo uma forma de cidade particular: a cidade COM-FUSA. Ademais a estrutura “híbrida” das cidades latino-americanas resulta-se de dois modelos tradicionais da cidade moderna. Sendo identificada a “cidade compacta”, com o modelo da “cidade mediterrânea” ou “cidade continental”, com um uso do solo intensivo, como nos assentamentos populares informais. E, o modelo da “cidade difusa”, que se manifesta espacialmente com o modelo anglo-saxão, com um uso do solo fortemente extensivo, de fraca intensidade e baixa densidade predial e residencial, ou seja, aquelas constituídas por edificações conforme as prescrições urbanísticas locais (ABRAMO, 2009, p. 50). Dessa maneira, o atual mercado de solo urbano se caracteriza por dois círculos de retroalimentação um de natureza formal e outro com características informais, constituindo a cidade COMFUSA, conduzindo, então, a produção de uma lógica interna de funcionamento do mercado imobiliário formal e do mercado imobiliário informal. As cidades latino-americanas são produzidas de forma compacta e difusa, a partir de processos de adensamento das áreas de pobreza, nas áreas centrais, e de expansão de loteamentos, nas periferias. O submercado de loteamentos produz a cidade dispersa a partir da repartição de glebas de terra em localidades periféricas longe das áreas centrais. Já, nas áreas centrais funciona o submercado de assentamentos consolidados, onde a demanda por moradias leva ao fracionamento de lotes, a 54 PARTE 02 construção de novas unidades, a divisão e a densificação das construções nas áreas de pobreza, processo que impulsiona a formação de cidade compacta. Percebemos que cada vez mais são significativas as formas de ilegalidade nas cidades, sendo o mercado informal na América Latina uma alternativa para obtenção de moradia e/ou renda nos países mais pobres, com taxas de desempregos elevadíssimas e o nível baixo de qualificação dos empregos. 6. INFORMALIDADE/ILEGALIDADE NO BRASIL Apesar do significativo desenvolvimento industrial ocorrido no Brasil, o mercado de trabalho formal e modernizado não foi suficiente para absorver o grande contingente populacional nas áreas urbanas. Ao avaliar as ações do Estado no processo de provisão habitacional, Silva (2008, p. 143) afirma que pós-1960 ocorre uma explosão urbana sem igual nas cidades brasileiras. O mercado de trabalho urbano mostra-se incapaz de absorver a demanda de força de trabalho. O Estado não consegue ter política habitacional apropriada para atender a tamanha procura por moradia. Em paralelo, a favelização acentuada nas cidades torna-se realidade, aumentando sensivelmente o déficit habitacional. Enquanto o Estado começa a cruzar os braços para a política habitacional, a política econômica, voltada para a industrialização, sem uma mudança estrutural no mundo rural, sem reforma agrária, vai gerar cada vez mais exclusão. Dessa forma, a urbanização não é fruto da industrialização, embora esta tenha peso significativo. A urbanização do país deu-se muito mais em função da ausência de condições de trabalho no campo, da dificuldade de acesso à terra (SILVA, 2008, p. 144). Até meadas do século XX, a habitação para população de baixa renda nos centros urbanos foi basicamente provida pelo setor privado ocorrendo entre as duas primeiras décadas uma larga difusão da habitação própria, devido: a) à predominância da produção rentista direcionada para as moradias de aluguéis; b) à falta de financiamento e de esquemas de venda a prestações, com as devidas garantias jurídicas; e, c) ao certo controle (ou receio de controle) do poder público sobre o processo de construção (BONDUKI, 1998, p. 284). Nos anos 1930, destacam-se as primeiras iniciativas relacionadas à produção de habitações sociais com a criação de programas de construção de habitações destinadas aos trabalhadores sindicalizados, por meio dos Institutos de Aposentadoria e Pensão 55 PARTE 02 (IAP). Para Gordilho-Souza (2000, p. 44), os IAPs não tinham como objetivo enfrentar a questão da moradia para população em geral, atendendo apenas os associados. Em paralelo, o Estado elaborou a Lei do Inquilinato (1942) que visava congelar os valores dos aluguéis, favorecendo os moradores, mas reduzindo a quase zero a construção de moradias para locações e aumentando o número de habitações próprias nas áreas periféricas das cidades. Bonduki (1998, p. 281) afirma que, na década de 1940, em consequência da crise habitacional, consolidou-se uma série de construções de casas à margem do mercado formal e do Estado denominado de autoempreendimento da moradia popular, baseado no trinômio loteamento periférico, casa própria e autoconstrução de moradias. Em 1946, é instituído o primeiro órgão no âmbito federal com atribuição exclusiva de solucionar o problema habitacional, a Fundação da Casa Popular (FCP) que atuou até 1964, quando foi extinta embora com produção pouco significativa (GORDILHO-SOUZA, 2000, p. 44). Segundo Veiga (2008, p. 19), as ações públicas voltadas para solucionar o problema habitacional da população de menor poder aquisitivo até 1964 permitiram que as populações carentes ocupassem cada vez mais onde e como pudessem no território urbano por meio da autoconstrução de moradias, em parcelamentos clandestinos, destituídos de serviços básicos. No início da década de 1940, os primeiros ensaios relacionados ao problema habitacional para população de baixa renda começaram a ser pensados em estudos sobre favelas, através de levantamentos estatísticos que permitiram estimar o número de indivíduos e suas famílias, assim como suas condições de moradia, caracterizando os diferentes tipos de problemas e situações. Entretanto, apenas no final da década 1960 que o assunto favela afirma-se como objeto específico de reflexão entre os estudiosos, apesar de ser um problema presente desde as primeiras décadas do século XX nas principais cidades brasileiras (VALLADARES, 2008, 22-26). Em 1964, o governo realiza ações para conter a expansão desordenada das metrópoles com a produção de habitação em grande escala que visava atender toda população através do programa de capacitação de recursos, com incentivo à poupança e implantação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Contudo, os financiamentos não atingiram as camadas da população com renda inferior a três salários mínimos. Nesse ano, o Banco Nacional de Habitação (BNH) foi criado pelo Governo Federal para responder a tensão urbana causada pelo crescimento desordenado das cidades. Segundo Veiga (2008, p. 20), 56 PARTE 02 O BNH financiava os promotores imobiliários para a construção de habitações, mas, como esse sistema era baseado na adimplência dos beneficiados e no retorno do investimento, não resolveu o problema da moradia das classes que não podiam pagar financiamento. De acordo com o IBGE (apud MARICATO, 1987, p. 65), o nordeste brasileiro, nos anos 1970, era constituído por 38,2% de casas erguidas em taipa e 54,6% tinham piso de terra. Pelo Censo Demográfico de 1980, 85% da população ativa recebia menos de dois salários mínimos, portanto, sem condições de endividamento. Para Ribeiro & Peachman (1985, p. 8-9), a explicação mais corriqueira para o déficit habitacional até os anos 1980, encontrada em qualquer documento oficial referente ao planejamento urbano, foi à defasagem entre o ritmo de crescimento da população urbana e o da construção de novas residências. Entretanto, tal argumentação para os autores é refutável, pois o déficit habitacional não pode ser explicado por acelerado ritmo de crescimento da população urbana e sim pela exclusão da população urbana brasileira do mercado de produção de moradias, ou seja: 1º) pela distribuição desigual da renda gerada na economia; e, 2º) pelas condições que regem a produção capitalista de moradias no Brasil, que impõem um elevado preço ao direito de habitar na cidade. Com a extinção do BNH, em 1986, e as suas funções incorporadas a Caixa Econômica Federal (CEF), novos programas habitacionais vincularam-se à Secretaria Especial de Ação Comunitária (SEAC) que adotou políticas alternativas e compensatórias, como os mutirões. Nos anos 1990, as ações públicas foram tímidas, apesar de serem implantadas e ampliarem recursos na produção, melhoria e qualificação do ambiente construído (VEIGA, 2008, p. 22). Segundo Gordilho-Souza (2000, p. 49), o déficit habitacional no país agravou-se diante do poder aquisitivo do salário mínimo que se depreciou no decorrer dos anos, como também, a questão da distribuição de renda, sendo constatado que 55,5% dos trabalhadores brasileiros (chefes de domicílio) ganhavam menos de 2 salários mínimos e, apenas 2,2% mais de 10 salários mínimos. Constatamos que no século XX sucederam-se diferentes programas e políticas no campo da habitação guiadas por interesses políticos divergentes e centralizadas, através de ações do poder público marcado por períodos de investimentos expressivos e outros de recursos escassos. O Estado, praticando sua função reguladora e estratégica dentro dos processos produtivos, afastou-se de uma solução habitacional para os mais pobres que fosse pautada em ações de caráter redistributivo, com minimização dos 57 PARTE 02 processos de acumulação do capital e redução das desigualdades. Essa ausência de políticas habitacionais direcionadas a população de baixa renda, contribuiu para o aumento de habitações precárias. A literatura e os diagnósticos acadêmicos e governamentais não deixam dúvidas sobre o crescimento da informalidade: a oferta de moradias para famílias com menos de 3 salários mínimos, seja ela de promoção privada, seja ela de promoção pública, nas últimas décadas é muito inferior a necessidade popular de habitações impulsionando essas famílias a usos do solo informal (MARICATO, 1996, apud ABRAMO, 2009, p. 37). Assim, a favela torna-se um dos “modelos” de alternativa habitacional que viabiliza a moradia para uma grande parte da população de baixa renda, sendo recorrente e expressivo seu crescimento em áreas urbanas brasileiras. Entre 1980 e 1991, o número de habitações totais do país cresceu a 3,08% ao ano, já os favelados a 8,18%. No período seguinte, entre 1991 e 2000, os domicílios totais cresceram 3,05% anuais, enquanto os favelados tiveram uma taxa de aumento anual de 4,18%. Em 1980, estimava-se cerca de 2,25 milhões de pessoas residindo nas favelas; a população de 1991 era mais de 5 milhões, a do ano 2000, cerca de 7,2 milhões; e, em 2010, 11,42 milhões (PASTERNAK, 2008, p. 83 e IBGE, 2010, p. 57). Conforme Pasternak (2003, p. 33), (...) em 1980, 79,16% das moradias faveladas estavam nas 9 regiões metropolitanas6. Em 1991, 2.392 favelas (74%), de um total de 3.211 e 817.603 (78%) dos domicílios favelados se alocavam nas metrópoles. (...) Em 1980, as 4 regiões metropolitanas do Norte e Nordeste concentravam toda a população favelada dos seus respectivos estados. Em 1991, já surgem favelas da Grande Fortaleza (poucas, apenas 4,12% da população favelada estadual). Em Pernambuco, 1991, 98,4% dos domicílios favelados estavam na Região Metropolitana do Recife. A taxa de crescimento anual dos residentes em favela (7,59%) supera a do crescimento populacional brasileiro (1,89%). Apesar, dos dados censitários do IBGE referentes às favelas ter sido objeto de controvérsia, pode-se afirmar que estão presentes em todas as regiões brasileiras, com distribuição variável pelo território. 6 As nove Regiões Metropolitanas da década de 1980 foram: i) Belém; ii) Fortaleza; iii) Recife; iv) Salvador; v) Belo Horizonte; vi) Rio de Janeiro; vii) São Paulo; viii) Curitiba; ix) Porto Alegre. 58 PARTE 02 Pasternak (2003, p. 31) informa que a partir de um levantamento realizado em 1999, destinado a traçar o perfil administrativo dos municípios brasileiros, observou relações entre favelização e tamanho da cidade. Inicialmente, os municípios com mais de 500 mil habitantes notificaram a presença de favelas e cortiços, percentual que cai para 12% nos menores, com até 5 mil moradores. Embora a maioria da população favelada (quase 80%, em 1991) se concentre em regiões metropolitanas, 40 entre os 126 municípios com favela tinham população urbana inferior a 50 mil pessoas, sobretudo, nos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Segundo o Censo Demográfico (apud PASTERNAK, 2008, p. 83), no ano de 1991 os aglomerados favelados no Brasil eram 3.187; pela Contagem de População de 1996, passou para 3.348; em 2000, atingiram 3.906 assentamentos; e, no ano de 2010, 6.329 assentamentos (Tabela 3). Tabela 3: Número de aglomerados subnormais segundo as regiões brasileiras de 1991, 2000 e 2010. Região 1991 59 517 2.225 327 59 3.187 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Ano 2000 185 674 2.621 392 34 3.906 2010 467 1.349 3.954 489 70 6.329 Diferenças entre 1991 e 2000 2000 e 2010 126 282 157 675 396 1.333 65 97 -25 36 719 2.423 Fonte: Censo Demográfico de 1991; Sinopse Preliminar do Censo de 2000, apud PASTERNAK, 2008, p.83 e IBGE, 2010. A comparação com levantamento realizado há vinte anos indica que quase dobrou no período o número de aglomerados subnormais. Contudo, o IBGE (2010) ressalva que, apesar do conceito de aglomerado subnormal ter permanecido o mesmo desde 1991, foram adotadas inovações metodológicas e operacionais no Censo Demográfico de 2010 e que, por isso, a comparação dos dados "não é recomendada". O objetivo da mudança, segundo o instituto, foi aprimorar a identificação de favelas. Entre as inovações adotadas em 2010, houve o uso de imagens de satélite de alta resolução e a realização de uma pesquisa específica para melhorar a informação territorial (LEAL & WERNECK, 2011). De acordo com os dados estatísticos do ano de 2010 (Tabela 4), 6% (11,42 milhões) da população do país (190,07 milhões de habitantes) morava em aglomerados subnormais, distribuída em 3.224.529 domicílios particulares ocupados (5,6% do total 59 PARTE 02 do país). O número de domicílios subnormais se concentra na Região Sudeste (49,85%), com destaque para o Estado de São Paulo, que congrega 23,2% dos domicílios do país, e o Estado do Rio de Janeiro, com 19,1%. Os Estados da Região Nordeste têm 28,73% do total (9,4% na Bahia, 7,9% em Pernambuco e, em proporção significativa, 0,74% no Rio Grande do Norte). A Região Norte reúne 14,47%, sendo 10,1% no Estado do Pará. Nas Regiões Sul (5,27%) e Centro-Oeste (1,78%), a ocorrência é menor (IBGE, 2010, p. 38). Tabela 4: Número de domicílios e população residente em aglomerados subnormais segundo as regiões brasileiras de 2010. População residente em domicílios particulares ocupados Domicílios particulares ocupados Regiões Total Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil 3.988.832 14.957.608 25.227.877 8.904.120 4.349.562 57.427.999 Em aglomerados subnormais Abs. % 463.444 14,37 926.370 28,73 1.607.375 49,85 170.054 5,27 57.286 1,78 3.224.529 100 Total 15.820.347 52.986.438 79.990.551 27.274.441 14.001.126 190.072.903 Em aglomerados subnormais Abs. % 1.849.604 16,19 3.198.061 27,99 5.580.869 48,85 590.500 5,17 206.610 1,81 11.425.644 100 Fonte: IBGE, 2010. Foram identificados 6.329 aglomerados subnormais em 323 municípios. Na Região Norte, os aglomerados concentram-se em 48 municípios, sendo a grande maioria no interior dos Estados do Amazonas, do Pará e do Amapá. Nesta região, os aglomerados subnormais formaram-se, predominantemente, em áreas ribeirinhas sujeitas a inundações periódicas. Na Região Nordeste, os 70 municípios com aglomerados subnormais se concentram nas Regiões Metropolitanas (52 municípios). A Região Sudeste agrupa quase a metade dos municípios do País com aglomerados (145 municípios), sendo um pouco mais da metade nas Regiões Metropolitanas (75 municípios) e o restante em municípios do interior dos estados. Em menor escala, a Região Sul apresenta padrões semelhantes à Região Sudeste (51 municípios com aglomerados subnormais, dos quais 38 em Regiões Metropolitanas). Na Região CentroOeste, há somente nove municípios com aglomerados subnormais – oito em Regiões Metropolitanas ou na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (IBGE, 2010, p. 39). 60 PARTE 02 Para Ribeiro & Peachman (1985), o aumento do número de favelas nas regiões brasileiras demonstra que grande parte da população de baixa renda está excluída do mercado da produção de moradias. Estando o fato articulado a uma gama de variáveis capaz de influenciar o processo de favelização, como: a) a distribuição desigual da renda gerada na economia; b) os estágios de desenvolvimento do país, maior ou menor dinamismo econômico; c) as devidas condições estabelecidas pela produção capitalista de moradias no Brasil, que determinam um elevado preço ao direito de habitar na cidade; d) a ausência de ações do poder público local para reduzir o déficit habitacional, etc. Na medida em que não existem políticas habitacionais que promovam ou financiem número de habitações suficientes para atender à demanda de baixa renda, o mercado imobiliário informal cresce, substituindo o Estado na função de prover moradia. Em síntese, podemos dizer que o mercado imobiliário informal acaba por “substituir” o Estado na sua função de prover moradia para a população de baixa renda, ocultando a falta de políticas para o setor. Pois o mercado imobiliário informal faz a proeza de atender a uma demanda carente por moradias, não a atendendo (BALTRUSIS, 2000, apud BALTRUSIS, 2003, p. 227). Resultados apresentados por Abramo (2009, p. 34) sobre a condição de acesso ao solo através do mercado imobiliário informal constatam a existência de um mercado regulador, com a instalação de moradores no assentamento por meio da condição de locatários (informais) ou de compradores de um bem imobiliário informal (não legalizado). Estudos sobre as transações imobiliárias em seis cidades brasileiras certificam que o peso do mercado de compra e venda predomina em certas áreas, enquanto em outras é o mercado de locação a principal forma de acesso aos assentamentos (Tabela 5). Tabela 5: Cidade Belém Brasília Porto Alegre Recife Rio de Janeiro Salvador Florianópolis São Paulo Distribuição por tipo de transações do mercado residencial. Aluguel (%) 21,26 39,19 3,21 57,92 27,27 21,14 42,20 40,05 Compra (%) 17,87 28,38 38,46 15,32 13,90 14,21 27,47 18,21 Venda (%) 60,87 32,43 58,33 26,75 58,82 64,64 30,33 41,74 Compra + Venda (%) 78,74 60,81 96,79 42,08 72,73 78,86 57,80 59,95 Fonte: ABRAMO, 2009, p. 35. Adaptado pela autora (set./ 2011) 61 PARTE 02 A respeito do mercado informal de comercialização, o percentual de imóveis ofertados (venda) é superior aos efetivamente transacionados (compra), podendo ser classificado numa primeira aproximação como mercado ofertante. Este mercado revela uma composição particular composto de um lado por um fluxo de oferta e, do outro, um estoque de vendas realizadas. No caso específico do Rio de Janeiro, existe o fenômeno da sazonalidade que influencia no comportamento desse mercado, sendo justificado o aumento da oferta imobiliária, em certos momentos, pelo grau da violência. O mercado informal de locação é expressivo em cidades como Brasília, Recife, Florianópolis e São Paulo, revelando uma nova forma de acesso ao solo nos assentamentos populares informais. Abramo (2009, p. 36) acredita que, a partir dos anos 1990, o mercado de locação informal cresceu de forma significativa, a ponto de constituir uma das formas de acesso ao universo habitacional informal, a ser esclarecido por dois fatores. O primeiro vincula-se à precarização do mercado de trabalho que produz uma redução dos ganhos familiares, induzindo as famílias a redefinir a composição dos rendimentos familiares através da locação informal. O segundo fator justifica-se pela mudança do perfil demográfico da população residente, nos assentamentos consolidados. Nesses assentamentos temos uma transição demográfica com o envelhecimento da população original e a constituição de novas unidades familiares a partir das segundas e terceiras gerações. Esse processo explica o processo de desenficação desses APIs, em geral por verticalização. Assim, a saída de filhos e de netos da unidade domiciliar original, ainda que utilizando o mesmo lote, abre a possibilidade de uma reutilização de quartos e/ou outras áreas do lote para fins locacionais. Essa possibilidade locacional representa a oportunidade de receitas familiares adicionais e vai se constituindo em uma nova estratégia familiar de reprodução da vida popular nos APIs (ABRAMO, 2009, p. 36). Outros fatores, também, influenciam a forma de acesso do mercado imobiliário informal das cidades brasileiras, como a centralidade do bairro. Em cidades com forte centralidade, os mercados informais podem ser fortes concorrentes do mercado formal por reproduzirem em suas áreas relações comunitárias e por possibilitarem a liberdade urbanística. Compreendemos que o mercado imobiliário informal deixou de ser a exceção passando a ser a regra, tornando-se estrutural e estruturante dos processos de produção da cidade. Ademais, o setor imobiliário informal contribui para ocultar o verdadeiro 62 PARTE 02 déficit habitacional, dificultando a implementação de políticas de provisão habitacional capaz de atender a população de baixo poder aquisitivo. Logo, o enfrentamento desse mercado requer a formulação de diretrizes e estratégias específicas no contexto do planejamento urbano e da gestão urbana, e não apenas por meio de políticas sociais e/ou urbanísticas isoladas. 7. MUNICÍPIO DE NATAL E RECONHECIMENTO DA INFORMALIDADE HABITACIONAL O crescimento da cidade do Natal/ RN ocorreu lentamente até meados do século XIX, com modestos casarios organizados ao redor da atual Praça André de Albuquerque, prolongando-se no sentido da atual Junqueira Aires e na direção do riacho do Baldo, não existindo, praticamente, uma divisão do espaço por classes sociais. Os pobres ocupavam espaços contíguos aos ricos ou habitavam suas residências, como escravos e como agregados e empregados. Nesse período, predominava casas construídas em taipa e palha espalhadas pela região e nas vias e logradouros públicos precários, em relação às condições sanitárias e ambientais (CASCUDO, 1980, apud LIMA, 2006, p. 104). Na passagem do século XIX para o século XX, Natal era uma cidade pequena, com os bairros da Ribeira e da Cidade Alta e com povoações de pescadores em localidades afastadas – atuais áreas dos bairros de Ponta Negra, Rocas e Areia Preta (Figura 1). A população da Ribeira era constituída por negociantes, funcionários, trabalhadores do porto e dos armazéns, e agricultores. Já, na Cidade Alta morava a população mais abastada e parte da população pobre. Porém, a partir de meadas do século XIX, a Câmara Municipal proibiu a construção de casas cobertas de palha, capim ou junco nas principais ruas da cidade, impedindo a população de menor poder aquisitivo de residir nos bairros (LIMA, 2006, p. 105). 63 PARTE 02 Figura 1: Mancha da expansão urbana de Natal, entre as décadas de 1920 e 1990, com identificação parcial de alguns bairros da atualidade. Fonte: LIMA, 2006, p. 114, adaptado pela autora. Em 1900, é promulgado o Código de Postura para Natal que expulsou, de certo modo, a população pobre dos espaços da Cidade Alta e Ribeira através de diretrizes que restringiam à construção de habitações precárias erguidas com materiais baratos e 64 PARTE 02 perecíveis nas áreas centrais da cidade, priorizando a construção de edificações com materiais mais resistentes. A maior parte da população pobre residia, então, na localidade que corresponde atualmente ao bairro das Rocas, em aldeias de pescadores e demais áreas do município (LIMA, 2006, p. 105). No ano seguinte, em 1901, é proposta a primeira intervenção sistematizada no espaço urbano de Natal que criava o terceiro bairro, denominado Cidade Nova (atual bairros de Petrópolis e Tirol), a ser implantado no prolongamento do bairro Cidade Alta (Figura 1), configurando-se o processo de expansão da cidade em direção à praia e à região sul (VIDAL, 1998, p. 34). O projeto de modernização expressava o pensamento higienista predominante na Europa do século XVIII, concretizando parte do ideal urbano da oligarquia dominante de construir uma cidade em oposição à herdada do período colonial. A delimitação dos dois bairros foi concluída em 1904, representando um espaço criado e projetado para atender os anseios da elite potiguar e solucionar as questões relacionadas à salubridade, a higiene e aos aspectos de estética urbana. Segundo Ferreira (2008, p. 61-63), a Cidade Nova contribui para formação dos primeiros traços de segregação e elitização espacial da cidade. O Jornal A REPÚBLICA (14/01/1905, p.1) registrou que, nos primeiros anos da construção da Cidade Nova, grande parte das residências pré-existentes no local foram removidas, pois eram consideradas como cabanas em desordem. Cerca de trezentos residências e ranchos foram indenizados e removidos somente nos trajetos das vias (In: OLIVEIRA, 1997) (LIMA, 2006, p.109). Nesse período ocorreram, também, as primeiras ocupações na atual área do bairro do Alecrim (Figura 1) por parcela significativa de imigrantes que vieram do interior do Estado, ocupando a localidade com vilas operárias e comércio local, sendo reconhecido como bairro popular. E, ao final da primeira década do século XX, a atual localidade de Areia Preta que era constituída por pescadores passa aos poucos a ser substituída pela população nobre que construíram casas de veraneio (CASCUDO, 1947, apud VIDAL, 1998, p. 35). Na década de 1920, os apelos para a adequação das residências às normas de higiene, principalmente, relativas à iluminação e ventilação das habitações eram recorrentes nos periódicos locais. Assemelhando-se a momentos anteriores, os melhoramentos propostos para Natal nesse período resultaram no deslocamento e 65 PARTE 02 desapropriação da moradia original de diversas famílias. A demolição de casas concebidas com material ilegal também se tornou uma prática comum. Ao final dos anos 1920, em concordância com o contexto nacional, a população natalense passou a exigir do Estado ações mais concreta no tocante à concepção de habitações mais dignas aos desfavorecidos e para por fim aos “mocambos” e “cortiços” que “enfeiavam” e comprometiam a salubridade da cidade, primando pelo modelo higiênico das “casas operárias”. No campo da habitação, merece destaque a elaboração do Código de Obras de Natal, em 02 de setembro de 1929, por intermédio da Lei Nº 04. Por meio desse código, a administração detinha o controle sobre o processo de urbanização, como também da estética urbana, necessária ao “correto crescimento da cidade”. (LEAL, 2005, p. 91-92). Até a década de 1940, a cidade do Natal não se destacava no contexto das cidades brasileiras, uma vez que, do ponto de vista produtivo apresentava uma economia inexpressiva, limitando-se a função administrativa (FURTADO, 1993, p. 57). Contudo, a cidade ganhou impulso a partir da Segunda Guerra Mundial, com a construção da maior base americana fora dos Estados Unidos. Segundo Vidal (1998, p. 24), a mobilização militar na cidade resultou em desdobramentos sobre sua economia, sua população e sua estrutura urbana, várias pessoas foram atraídas pelas oportunidades de emprego e trabalho e pela intensa circulação de dinheiro. Neste momento ampliaramse os investimentos em obras de infraestrutura e em melhorias do sistema de transporte, outrossim, intensificaram as construções de moradias, principalmente para aluguel por ser negócio lucrativo. Como consequência de tantas novas construções e do aumento da demanda por moradias, o setor imobiliário parece ter sido, junto com o dos taxistas, um dos que mais lucraram com a economia da guerra. Os preços dos aluguéis eram tão compensadores, que algumas famílias desocupavam suas próprias residências para poderem alugá-las a bom preço aos oficiais norte-americanos e a outros forasteiros. Durante o ano de 1942, o aluguel mensal das melhores casas da cidade, geralmente mobiliadas, saltou de 20 dólares (quatrocentos mil-réis) para duzentos dólares (SMITH JR, 1993, apud LIMA, 2006, p. 141). Conforme Ferreira (1996, apud SILVA, 2003, p. 02), a guerra contribuiu para constituição de um mercado imobiliário em Natal, devido às inéditas oportunidades de negócios e a rápida valorização de mercadorias e de imóveis, e ainda, favoreceu para criação do primeiro loteamento no ano de 1946. Ferreira (1989, apud LIMA, 2006, p. 115) menciona que o mercado de terras progrediu, sendo verificado na cidade a 66 PARTE 02 distribuição de loteamentos tanto nas áreas ricas (nos atuais bairros de Lagoa Nova: 3; Tirol: 3 unid.; e Petrópolis: 3) quanto nas áreas pobres com construções de moradias financiadas pelo Governo Federal (nos atuais bairros do Alecrim: 2; Quintas: 1; e Lagoa Seca: 3). A população de baixa renda acomodou-se em novos loteamentos que cada vez mais surgiam na periferia da cidade tradicional ou nos assentamentos populares informais, formando uma cidade com padrões tipológicos e morfológicos diferenciado, isto é, por uma região centro-sul rica e outra oeste-norte pobre. Segundo Moraes (et al, 2008, p. 37), na década de 1940 já se encontravam em formação assentamentos populares informais nas margens do Rio Potengi - atuais localidades do Passo da Pátria (Figura 2), Canto do Mangue, Igapó e Redinha - para abrigar, sobretudo, os pescadores e as populações que chegavam à cidade. Figura 2: Passo da Pátria, assentamento em precária condição habitabilidade, (década de 1940). Fonte: ALMEIDA, 2005, IN: LEAL, 2005, p. 44. Entre as décadas de 1950 e 1960, a expansão da cidade ocorreu, principalmente, sobre a atuação do capital privado, com consolidação do mercado fundiário. A interligação viária entre Natal e Parnamirim7 construída no período da Segunda Guerra condicionou a expansão do mercado de terras, com loteamentos nos bairros de Lagoa Nova, Dix-Sept Rosado, Quintas, Cidade da Esperança (Figura 3), Tirol, Lagoa Seca e Alecrim. A especulação sobre o solo urbano ocorreu sem que houvesse uma lei de abrangência local com regulações para implantação de tais loteamentos, bairros como 7 Atuais Avenidas Hermes da Fonseca e Salgado Filho. 67 PARTE 02 do Alecrim e suas imediações adensaram-se, lotes foram desmembrados e surgiram os primeiros núcleos favelados na cidade, como Brasília Teimosa e Mãe Luiza. (VIDAL, 1998, p. 40-42). Figura 3: Conjunto Cidade da Esperança, década de 1960. Fonte: ALMEIDA, 2005, p. 60, IN: LEAL, 2005, p. 78. Nessa época, vigoravam leis de uso do solo relacionadas à estruturação física espacial do município que previam a definição de quadras, traçados das vias, dimensionamentos dos lotes, como também, diretrizes que reconheciam as diferenças espaciais e socioeconômicas existentes na cidade. Seguindo-se da elaboração do Plano Serete (década de 1960) que elaborou as primeiras proposições para urbanização da favela de Mãe Luiza. Contudo, certos objetivos e diretrizes do Plano Serete não foram implementados em sua totalidade, como é o caso dos projetos especiais para Mãe Luiza (MEDEIROS, 2007, p. 25). Essa orientação, entretanto, estava muito mais vinculada as possibilidades de adequação físico-espaciais da área onde estava assentada a favela de Mãe Luiza, aos padrões ideais de ocupação do solo definidos pelo Plano, do que às necessidades e práticas concretas e cotidianas do lugar (ATAÍDE, 1997, p. 113). Nesse contexto de zoneamento com predominância de formação de espaços excludentes e fragmentados, desenvolve-se paralelamente em ritmo acelerado à produção de habitação de interesse social associada às políticas habitacionais de âmbito local quanto nacional. A expansão habitacional, nos anos 1980, seguiu um modelo de urbanização periférica, com construção de conjuntos habitacionais e abertura de 68 PARTE 02 loteamentos, na maioria ilegais, consolidando extensas áreas residenciais caracterizadas por: a) pouca diferenciação de rendas familiares (a maioria de baixa renda); b) baixo padrão construtivo; c) precariedade da titularidade jurídica fundiária e habitacional; d) desequilíbrio entre áreas com alta densidade e outras com terrenos vazios (especulação imobiliária); etc. (SILVA, 2005, apud MORAES, et al, 2008, p. 39). Já, nas áreas consolidadas da cidade observa-se a valorização cada vez maior do solo através do processo de verticalização, basicamente nos bairros de Petrópolis, Lagoa Nova, Morro Branco (VIDAL, 1998, p. 54). Já, a concentração de renda e o número de desigualdades sociais na capital, em 1980, eram evidentes, apenas 15,7% das famílias mais ricas detinham 50% da renda total, 43% das famílias da cidade possuíam rendimento de até três salários mínimos e detinham 12,3% da renda total. Estando a cidade fragmentada por classes sociais, distribuídas em bairros com rendas médias diferenciadas (RIO GRANDE DO NORTE, 1987, p. 34, apud, SILVA, 2003, p. 81-83). Nessa época, existiam cerca de 36 (trinta e seis) favelas com quase 7.000 (sete mil) moradias e abrigando uma população de mais ou menos 33.000 (trinta e três mil) habitantes, correspondendo a quase 8% da população residente no município em 1980. Em termos espaciais, esses assentamentos estavam principalmente localizados nas regiões Leste (13 favelas), Oeste (12 favelas) e Sul (09 favelas) (ATAÍDE, 1997, p. 119-122). Ademais, Furtado (1993, p. 58-59) afirma que na expansão da malha urbana de Natal surgiram núcleos favelados, que abrigava em 1980 cerca de 10% da população e em 1990 ultrapassava 15% (um total de 45 favelas), estando a grande maioria distribuídos em bairros mais distantes do centro principal e áreas de risco, como: a) áreas dunares; b) áreas de vales fluviais; c) corredores inter-dunares; d) superfícies de aplainamento; e) leito de rua, etc. As populações de baixa renda acabaram por se estabelecer nas áreas periféricas ainda não ocupadas da cidade que se constituíam em sua grande maioria por áreas livres, públicas ou particulares, próximas as encostas de dunas, de mangues, da linha férrea, do rio Potengi, etc. Tais ocupações passaram a caracterizar a configuração urbana da cidade, com população de alta renda localizando-se no sentido leste-sul e por espaços de pobreza no sentido oeste-norte. Segundo Pemas (2002, apud SILVA, 2003, p. 06), a situação das Zonas Norte e Oeste de Natal apresentam-se como geradoras em 69 PARTE 02 potencial de espaços de pobreza por concentrar mais de 50% da população e 60% do total de favelas do município. O re (direcionamento) da população pobre para a região Norte que (...) foi aquela que mais cresceu na década de 80 (sua taxa de crescimento foi próxima de 13% ao ano, ou seja, três vezes maior que o crescimento populacional da cidade, próximo a 4% ao ano), (...). O processo de acumulação de riqueza foi acompanhado também pela expansão da pobreza, que foi direcionada para a região Norte (VIDAL, 1998, p. 84). A partir do final da década de 80, e sobretudo 90, as favelas consolidaram e expandiram no espaço urbano de Natal, tornando-se uma opção de moradia para as camadas mais pobres, ao lado dos conjuntos habitacionais e das vilas. Esse período foi marcado pelo crescimento interno, ou seja, maior adensamento das favelas com a construção de mais habitações nos espaços existentes nos seus limites. Nesse contexto, foi elaborado o Plano Diretor de Organização Físico-Territorial do Município de Natal (Lei nº 3175/ 1984), com dispositivos que simulavam a ocorrência de ações articuladas às intervenções setoriais relacionadas à produção de novas moradias para população de baixa renda. Contudo, os conceitos utilizados na Lei para reconhecer a habitação de interesse social eram contraditórios e, por vezes, excludentes, não identificando claramente a produção informal na cidade. Em primeiro lugar, embora o documento não explicite o significado do conceito de sub-normal, nos estudos realizados sobre a cidade por ocasião da elaboração do Plano, este conceito, sintonizado com a postura teórico-ideológica dos PDDLIs8, era aplicado aos assentamentos irregulares e precários, envolvendo as favelas, vilas e similares. Nos PDDLIs, a denominação subnormal era atribuída a um tipo de moradia que apresentasse características disfuncionais no contexto da cidade ideal, ou seja, a moradia não compatível com o ideal do planejamento racional e harmônico que a orientava (ATAÍDE, 1997, p. 132). Trataram de maneira implícita no Plano de 1984, o conceito de “aglomerado sub-normal” como sendo espaços de moradia ocupados pela população de baixa renda, não incorporando as favelas e as vilas, ainda que fizessem parte do cenário da cidade no período de sua elaboração e aprovação. E ainda, o conceito de interesse social baseado no princípio do mérito, através da associação de programas habitacionais com os 8 PDDLI: Plano Diretor de Desenvolvimento Local Integrado. 70 PARTE 02 beneficiários que pudessem comprovar uma renda mínima, orientando, assim, a implantação de políticas (programas e projetos habitacionais) de natureza contributiva. Essa associação do conceito de interesse social com programas habitacionais (camadas de renda de até dez salários mínimos) significou o reconhecimento, no caso específico do Natal, de quase toda a população como beneficiária dos programas, pois apenas 10% da população possuía renda superior a 10 salários mínimos (IBGE, 1991; IN: ATAÍDE, 1997, p. 143). De fato, a abrangência do interesse social sugeria a ocorrência de uma maior inclusão social. Entretanto, essa inclusão não se refletiu na produção habitacional do município, se mantendo excludente e incapaz de conter o crescimento da produção informal. Se considerarmos apenas as favelas, estas aumentaram em quase 90% desde os primeiros anos da década de 80 até 1992. A população favela aumentou em aproximadamente 80% nesse mesmo período, enquanto que a população do município aumentou em aproximadamente 45%. (...). Em 1980, eram apenas 36 (trinta e seis) e hoje são 69 (sessenta e nove), abrigando quase 60.000 (sessenta mil) habitantes. As vilas, por sua vez, a sua maioria, em condições habitacionais igualmente precárias abrigam uma população de mais de 40.000 (quarenta mil) habitantes (ATAÍDE, 1997, p. 147). Ainda, do ponto de vista conceitual, o Plano de 1984 reconheceu e identificou assentamentos precários no município, denominando as áreas de Zonas Especiais de Recuperação Urbana (ZERUs). Apesar das Zonas terem sido espacializadas (os bairros de Bom Pastor, Mãe Luiza, Rocas e Santos Reis), o Plano de 1984 nunca as definiu e nem regulamentou. Ações pontuais foram comprovadamente insuficientes para diminuir ou solucionar as questões urbanas mais agudas. No contexto histórico em âmbito nacional, ocorreram constantes reinvindicações populares quanto ao direito de todos os cidadãos à cidade, principalmente, vinculados ao movimento pela reforma urbana. Essas reinvindicações contribuíram para frisar, pela primeira vez na Constituição Federal (CF) o direito a cidade. A inclusão dos artigos 182 e 183 na CF de 1988, “compondo o Capítulo da Política Urbana foi uma vitória da ativa participação de entidades civis e de movimentos sociais em defesa ao direito à cidade, à habitação, ao acesso a melhores serviços públicos e, por decorrência, a oportunidades de vida urbana digna para todos” (OLIVEIRA, 2001, p. 03). 71 PARTE 02 O Plano Diretor, no Art. 182 (CF 1988), foi assegurado como instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, responsável pelo estabelecimento da política urbana na esfera municipal e pelo desenvolvimento social das funções sociais da cidade e da propriedade urbana (OLIVEIRA, 2001, p. 03- 05). Cabe ao Plano Diretor verificar se a propriedade urbana cumpre sua função social, com vista a adotar mecanismos que: a) democratizem o uso, ocupação e posse do solo urbano; b) recuperem para a coletividade a valorização imobiliária decorrente da ação do poder público; c) promovam o aproveitamento dos vazios urbanos ou terrenos subutilizado ou ociosos, coibindo o uso especulativo da terra como reserva de valor, etc. (SAULE, 2009, p. 109). Logo, na esfera municipal, foi elaborada a mencionada Lei nº 007/1994 que instituiu o Plano Diretor de Natal com disposições acerca das condições gerais de acesso à moradia, incluindo a noção de interesse social, reconhecendo como parte da cidade real as diferentes formas de produção de moradias, tanto as formais quanto as informais legalizadas ou não (favelas, vilas, ocupações e loteamentos irregulares). Antecedendo o Estatuto da Cidade, o Plano de 1994 definiu Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS) como porções do território municipal que requerem tratamento específico e “destinam-se primordialmente à produção, manutenção e recuperação de habitações de interesse social” (Art. 25º, p. 08). Essas áreas compreendem: I - os terrenos públicos ou particulares ocupados por favelas, vilas ou loteamentos irregulares, (...), em relação aos quais haja interesse público em se promover a urbanização e a regularização jurídica; II – glebas ou lotes urbanos, isolados ou contíguos, não edificados, subutilizados ou não utilizados, com área superior a 400 metros quadrados necessários para implantação de programas habitacionais, destinados a grupos sociais de renda familiar de até 3 (três) salários mínimos ou seu sucedâneo legal (Art. 25º, p. 08). Do ponto de vista conceitual, o Plano de 1994 estabelece como habitação de interesse social a moradia “destinada à família que vive em favelas, vilas ou loteamentos irregulares ou a que aufere renda inferior a (dez) salários mínimos” (Art. 6º, inc. XIV, p. 03). Segundo Bentes & Trindade (2008, p. 148), os recursos metodológicos utilizados para definir as áreas possibilitaram avanços importantes para caracterização das AEIS, como a categorização das situações de riscos. 72 PARTE 02 A partir desse momento, as ocupações irregulares (favelas, vilas e loteamentos irregulares) passaram a integrar o principal instrumento da política de desenvolvimento do município, modificando o sentido do social que orientava as ações de planejamento até então. Entretanto, decorridos dez anos de elaboração do Plano Diretor, os estudos desenvolvidos para a formulação da Política de Habitação de Interesse Social para o Município de Natal - PHIS/ Natal (NATAL, 2005), evidenciaram fragilidades no conceito de AEIS vigente. Certos assentamentos do município foram identificados em situações de irregularidades e informalidades, possuíam renda predominante até três salários mínimos, contudo não foram enquadradas na categoria de favela, vila ou loteamento irregular. Nesse sentido, a PHIS propôs a identificação dos assentamentos de interesse social a partir do relacionamento entre a dimensão social e a dimensão urbanística. Assim, foram consideradas características socioespaciais dos assentamentos, a partir do cruzamento do nível da renda, do padrão morfológico e da situação de risco. A PHIS/ Natal (NATAL, 2005, p. 65-66) constatou que no período de 1993 a 2004, os dados de identificação do número de favelas, vilas e loteamentos irregulares não foram atualizados. De acordo com o IBGE (2000, IN: NATAL, 2005, p.65-66), ocorreu no ano de 1998 a última atualização do cadastro dos assentamentos sub-normais (Tabela 6). Tabela 6: Assentamentos subnormais em Natal. Assentamentos Subnormais Favelas Vilas Loteamentos Irregulares Famílias com renda até 3 salários mínimos Domicílios População Quantidade 70 2.217 118 15.233 14.458 65.122 Fontes: Plano de Ação 93/96; PEMAS, 2001. (IN: NATAL, 2005, p. 66). Segundo Bentes & Trindade (2008, p. 148), a PHIS/ Natal identificou, num universo de 177.783 domicílios ocupados, um quadro de necessidades habitacionais de 94.224 (53%), sendo 23.941 (13%) por demanda a novas moradias e 70.482 (40%) por demanda a melhorias habitacionais. Do quadro de necessidades, 15.335 (9%) referem-se à inadequação por adensamento populacional e 55.127 (31%) por infraestrutura. Conforme o IBGE (2000) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), número significativo da população natalense (mais de 40%) encontra-se abaixo da linha de pobreza (MORAES & DAYRELL, 2007, p.05) (Figura 4). 73 PARTE 02 Figura 4: Mapa Social da população em Natal/RN com rendade até três salários mínimos. Fonte: IBGE (2000), IN: GEHAU (2011), adaptado pela autora. A partir da identificação da população predominante com renda de até três salários mínimos, verificamos que a valorização do espaço urbano do município relaciona-se tanto com a localização do solo urbano no sítio geográfico quanto pela construção histórica e social. As áreas de interesse ambiental, especialmente de dunas, 74 PARTE 02 são disputadas pela população de menor poder aquisitivo e pelos mais ricos, como nos trechos situados próximos a orla marítima dos bairros de Mãe Luiza e Areia Preta. No primeiro, predomina favelas com população com renda inferior a três salários mínimo, já no segundo, edifícios residenciais com população com renda superior a dez salários mínimos. Segundo Silva (2003, p. 68-69), enquanto em Mãe Luiza os moradores resistem para permanecerem no seu local de origem vivenciando relações não-mercantis (voltadas para o valor de uso), a classe dos produtores de Areia Preta tenta expulsá-los e transformar o sítio em valor de troca (relações mercantis) para classes de alta renda que buscam o privilégio da paisagem à beira mar. Contudo, existem movimentos expressivos de resistências por parte de lideranças e moradores de Mãe Luiza, visando à permanência no território historicamente constituído e consolidado no eixo turístico da cidade. É importante destacar que a segregação espacial existente em Natal não é tão evidente como em demais cidades, porque as edificações da classe de maior poder aquisitivo, salvo exceções, não convivem lado a lado com os assentamentos populares informais. Desde a sua origem, a população de menor poder aquisitivo ocupou, basicamente, áreas de dunas e mangues, formando um cordão de habitações precárias ao longo das margens do Rio Potengi e das áreas dunares, impossibilitando sua visão do centro da cidade. Percebe-se, assim, que os assentamentos precários existem e fazem parte do espaço urbano de Natal. Logo, os avanços no sentido de reconhecer as habitações de interesse social resultaram na regulamentação de quatro AEIS, sendo Mãe Luiza a primeira (1995), seguida do Passo da Pátria (2002), do Jardim Progresso (2004) e de Nova Descoberta (2006). O processo de revisão do Plano Diretor de Natal (Lei nº 082/2007) incorporou as indicações conceituais sobre AEIS definidas pela PHIS de Natal, por meio da inserção de novos critérios de identificação de áreas de interesse social (características socioespaciais dos assentamentos, com o cruzamento do nível da renda, do padrão morfológico e da situação de risco), como se pode depreender a partir da reprodução do artigo a seguir. Art. 22 - Áreas Especiais de Interesse Social, (...), definidas na Mancha de Interesse Social e pelos seus atributos morfológicos, são aquelas situadas em terrenos públicos ou particulares destinadas à produção, manutenção e recuperação de habitações e/ou regularização do solo urbano e à produção de alimentos com vistas a segurança alimentar e nutricional, tudo em consonância 75 PARTE 02 com a política de habitação de interesse social para o Município de Natal, e compreende: I - terrenos ocupados por favelas, e/ou vilas, loteamentos irregulares e assentamentos que, não possuindo as características das tipologias citadas, evidenciam fragilidades quanto aos níveis de habitabilidade, destinando-se à implantação de programas de urbanização e/ou regularização fundiária; II - terrenos ocupados por assentamentos com famílias de renda predominante de até 3 (três) salários mínimos, que se encontram em área de implantação ou de influência de empreendimentos de impacto econômico e submetidos a processos de valorização imobiliária incompatíveis com as condições sócio-econômicas e culturais da população residente; III - terrenos com área mínima de 1.000 m² (mil metros quadrados) destinados à produção de alimentos de primeira necessidade voltada à população com renda familiar predominante de até 3 (três) salários mínimos, com objetivo de garantir o abastecimento destinado ao suprimento da cesta básica e ou da complementação nutricional diária; IV - glebas ou lotes urbanos, isolados ou contíguos, não edificados, subutilizados ou não utilizados, com área superior a 400m² (quatrocentos metros quadrados), necessários para a implantação de programas de habitação de interesse social. V - os prédios desocupados ou subutilizados ou aqueles que possam causar risco ao entorno pela sua condição de degradação, localizados em áreas centrais da cidade, cujos projetos terão tratamento diferenciado, resguardando as características próprias de cada imóvel e sua importância histórica. Desde o reconhecimento dos assentamentos populares informais até o último Plano Diretor de Natal (2007), verificamos um aprofundamento conceitual crescente sobre habitação de interesse social no município, tanto no nível da pesquisa acadêmica quanto das experiências de planejamento urbano. Apesar desse reconhecimento, ainda são frágeis os conceitos para definir os assentamentos populares informais, não sendo praticamente identificáveis as suas diversas características e formas, vindo a dificultar mensuração do déficit habitacional. Como é caso dos dados estáticos divulgados pelo Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010), que considera assentamentos reurbanizados como aglomerados subnormais. O Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010) registrou em Natal 41 aglomerados subnormais (Tabela 7), que abrigam 80.774 moradores ou 10% da população da cidade (803.739 habitantes), estando concentrados, basicamente, na região norte-oeste (58,53%). A respeito dos domicílios, possui 22.561 unidades distribuídas nas áreas dos aglomerados subnormais, representando 9,56% (235.762 unidades) dos domicílios da capital. 76 PARTE 02 Tabela 7: Zona Norte Aglomerados Subnormais, por Zona Administrativa de Natal, Censo Demográfico 2010. Quantidade Unidade % 7 17,07 População Unidade % 30.883 38,23 Domicílios Unidade % 8.746 38,77 Oeste 17 41,46 24.884 30,81 6.982 30,95 Sul 5 12,20 3.574 4,42 991 4,39 Leste 12 29,27 21.433 26,53 5.842 25,89 41 100 80.774 100 22.561 100 Total Fonte: Censo Demográfico 2010, IBGE (2010). Percebemos que a histórica formação dos assentamentos populares informais, de um modo geral, ocorreu na chamada periferia da cidade (região oeste-norte), correspondendo à franja que delimita o espaço urbano no momento da expansão. Em 1950 ou 1960, o que era periferia, com o crescimento urbano, incorporou-se à área edificada, o que faz com que, no momento atual, existam assentamentos no meio da malha urbana resistindo à especulação imobiliária. Como mencionado anterior, nos dias atuais a expansão imobiliária e do turismo imobiliário tem agravado os problemas de expulsão de moradores de assentamentos precários em áreas com concentração de população de média e alta renda, principalmente, aqueles que se encontram nos eixos de interesse turístico da cidade (MORAES, et al, 2008, p. 17). De tal modo, podemos afirmar que há um desafio maior à implementação dos instrumentos de inclusão socioespacial de assentamentos populares informais em Natal, em face a pressão marcante dos segmentos ligados ao mercado imobiliário formal – principalmente no eixo da orla marítima, como é o da AEIS de Mãe Luiza – , sobretudo no sentido de desconstrução de AEIS instituídas, do reconhecimento e da instituição de novas Áreas Especiais. 8. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 02 A cidade informal transformou-se na principal forma de acesso aos pobres ao solo urbano através da lógica da necessidade, isto é, para aqueles que não tiveram a chance de adquirir moradia pela lógica de Estado ou pela lógica de mercado. O resultado foi um ciclo constituído por ocupação/ autoconstrução/ autourbanização, consolidação e integração da lógica de mercado com a lógica da necessidade, ou seja, do mercado imobiliário informal. Este existente nas grandes cidades latino-americanas 77 PARTE 02 desde o início do século XX, tanto na forma de locação ou na de compra/ venda ilegal de terras periurbanas. No caso do Brasil, as constantes políticas habitacionais foram direcionadas para conter a expansão desordenada das metrópoles. No decorrer do século XX, sucederamse diferentes programas e políticas habitacionais guiados por interesses políticos divergentes e centralizados, por períodos de investimentos expressivos e outros de recursos escassos. Contudo, grande parte da população ativa não tinha condições de solver os financiamentos habitacionais devido a depreciação do salário mínimo, agravando a questão da distribuição de renda, excluindo a população urbana do mercado de produção de moradias. Dessa forma, as soluções habitacionais afastaram-se do caráter redistributivo, com minimização dos processos de acumulação do capital e redução das desigualdades, contribuindo para o aumento de habitações precárias deficientes de infraestrutura – excluída da cidade formal – e para consolidação do mercado imobiliário informal em assentamentos populares informais. A partir dos anos 1990, constatamos que cresce de forma significativa o mercado imobiliário informal brasileiro de locação, sobretudo, devido à mudança do perfil demográfico da população residente dos assentamentos, a centralidade dessas áreas, às possibilidades de liberdade urbanística, à produção de relações comunitárias, etc. No MII de compra e venda, à oferta é superior aos imóveis transacionados, sendo composto por um fluxo de oferta e de estoque de vendas realizadas. No caso da cidade do Natal, a ausência de estudos específicos sobre dinâmica do mercado imobiliário informal levou-nos, inicialmente, a análise sobre o reconhecimento da informalidade habitacional por parte dos planos urbanísticos e políticas habitacionais. Verificamos que a cidade entre a transição do século XIX e XX teve um crescimento lento, atomizado e de baixa de densidade demográfica, tendo um acelerado crescimento na segunda metade do século XX, com o impacto da Segunda Guerra Mundial formando bairros de elite e bairros com população de baixo poder aquisitivo. Nesse período vigoravam leis de uso do solo, com indicações quanto à permissividade dos usos e proposições para urbanização de diversas áreas da cidade, como é caso da AEIS de Mãe Luiza. Em paralelo, as políticas habitacionais nacionais desenvolveram-se a produção de habitação de interesse social em Natal, fazendo parte do cenário da cidade ações para reduzir o déficit habitacional. Nos 1980, foram criados instrumentos urbanísticos que reconheciam a habitação de interesse social, mas não identificavam claramente a 78 PARTE 02 produção informal da cidade. Estes tratavam de maneira implícita os conceitos de “aglomerado sub-normal”, de interesse social e identificavam os assentamentos populares informais. A orientação era de políticas e programas habitacionais de natureza contributiva. Porém, a identificação significou o reconhecimento de quase toda população beneficiária aos programas habitacionais, mas a inclusão social dessa população não se refletiu na produção habitacional, isto é, não conteve o crescimento da produção informal. Somente nos anos 1990, as áreas especiais de interesse social foram reconhecidas como parte da cidade real. Os recursos metodológicos para definir essas áreas possibilitaram avanços importantes para sua categorização. Contudo, estudos desenvolvidos nos anos de 2000 evidenciaram fragilidades no conceito dificultando a identificação e mensuração das favelas, vilas, loteamentos irregulares, etc.. A parir de então, foram inseridos novos critérios nas legislações urbanísticas de identificações das habitações de interesse social, por meio do cruzamento do nível da renda, do padrão morfológico e da situação de risco. Portanto, o processo de reconhecimento das áreas informais tanto em âmbito nacional quanto municipal ainda é frágil para regulamentar Áreas Especiais de Interesse Social, assinalando desafios para implementação de instrumentos de inclusão socioespacial de assentamentos populares informais. 79 PARTE 03 9. A PESQUISA Parte-se da afirmação de Suzana Pasternak (2008, p. 77) de que “é possível estudar as favelas do ponto de vista dos investimentos materiais daquele espaço, levando-se em conta as restrições e os limites amplos sofridos no processo, a partir do ponto de vista dos que investem e negociam suas transformações no cotidiano”. Como o espaço dos assentamentos populares informais, em Natal/ RN, mercantilizou-se, com unidades habitacionais transformadas em “mercadorias” que atendem preferencialmente aos pobres, percebemos a necessidade de estudos referentes ao mercado imobiliário informal que esclareçam as modalidades de comercialização; as tipologias e as características edilícias; e, os perfis sociais dos ocupantes, com ênfase nos indicadores de renda e ocupação. Como mencionado anteriormente na Introdução, o objetivo principal da pesquisa é compreender como o mercado imobiliário informal opera a provisão habitacional para a população situada em Áreas Especial de Interesse Social (AEIS) ou vulneráveis, por meio da compra e venda e aluguel de residências irregulares/ ilegais. O entendimento desse processo ocorreu através de estudos de caso no bairro de Mãe Luiza, AEIS situada entre bairros com população de elevado poder aquisitivo e no eixo turístico de orla marítima da cidade do Natal/ RN. Todavia, tomamos conhecimento do contexto histórico cultural e social dos moradores da AEIS para adaptar os procedimentos metodológicos relacionados à compreensão do mercado imobiliário informal. 9.1. Processo de Formação da AEIS de Mãe Luiza O bairro de Mãe Luiza, assentamento popular de topografia acentuada do município de Natal (RN), situa-se sobre um cordão dunar e encontra-se de frente para o mar e de costas para o centro de comércio/ serviço da cidade. Localizado a menos de cinco quilômetros do centro principal (bairro de Cidade Alta), Mãe Luiza faz parte da Zona Administrativa Leste do Município e do Sistema Dunar Parque das Dunas, unidade de preservação/ conservação ambiental. Com área territorial de 95,69 hectares, limita-se com os bairros de Tirol, Petrópolis e Areia Preta, localidades estas com população de elevado poder aquisitivo (Figura 5). 81 PARTE 03 Figura 5: Identificação das Zonas Administrativas de Natal e das Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) situadas no entorno do bairro de Mãe Luiza. Fonte: Plano Diretor de Natal (2007), CAERN (2006), adaptado pela autora. A respeito da origem de Mãe Luiza, constatamos que as primeiras ocupações datam do início dos anos 1930, quando o mito “Mãe Luiza”9 fazia parte do imaginário popular. Durante os anos 1940, a localidade passou a ser ocupada por migrantes que vieram, basicamente, do interior do Rio Grande do Norte, motivados pela esperança de arranjar meios de vida na cidade (FERNANDES, 2000, p. 10). Os primeiros moradores dedicavam-se à pesca ou à criação de cabras e jumentos, usados para comercializar água de poço, na época inexistente no morro. 9 Para antigos moradores “Mãe Luiza” teria sido a parteira Joana Luíza Pirangi que atendia pessoas de outras localidades da cidade natalense; para outros moradores, uma lavadeira prestadora de serviços aos soldados do quartel do Exército; e ainda, rezadeira, costureira, mulher de pescador, xangozeira e, talvez, uma invenção dos mais velhos (ARAÚJO, 2005, p. 20). 82 PARTE 03 O povoamento teve dois momentos de crescimento, o primeiro na década de 1940 e o segundo nos anos 1960. O primeiro, com a construção de um quartel norteamericano próximo à praia, durante a Segunda Guerra Mundial (MIRANDA, 2002, p. 269-270). Nessa década, a localidade passou por melhorias urbanas e ao final do período, apresentava a configuração espacial de hoje. E ainda, inicia-se a construção do Farol de Natal, conhecido como Farol de Mãe Luiza. Este inaugurado em 1951 possibilita, atualmente, a contemplação de parte da cidade do Natal (Figura 6), isto é, do Forte dos Reis Magos (1598), da foz do Rio Potengi e das praias do entorno. Não sem razão, o Farol é reconhecido como um dos pontos dignos de interesse histórico-cultural situado no litoral da cidade (IBAM, 2010, p. 14). Figura 6: Morro de Mãe Luiza visto do farol, década de 1950. Fonte: GEHAU/UFRN. No ano de 1958, uma grande seca fez com que Mãe Luiza abrigasse muitos dos migrantes que vieram para Natal, assumindo a função de polo de atração das camadas de baixa renda (FERNANDES, 2011, p. 40). Nesse mesmo ano, a municipalidade reconheceu, oficialmente, a localidade de Mãe Luiza como bairro, mediante a Lei Municipal nº 794 de 23 de janeiro de 1958. Posteriormente, aprovou para área um Plano de Loteamento que permitiu a concessão de Cartas de Aforamento para os moradores ou para aqueles que lá quisessem habitar (ARAÚJO, 2005, p. 19; IBAM, 2010, p.14). O segundo momento de incremento populacional do bairro ocorreu nos anos 1960 pelo incentivo, pela própria administração municipal, ao processo de ocupação por retirantes que, fugindo da seca, demandavam a capital (Figuras 7, 8 e 9). Nesse momento, ocorreram as primeiras ações de consolidação do bairro, passando por várias 83 PARTE 03 intervenções urbanísticas que propiciaram a melhoria das condições de vida dos moradores (MIRANDA, 2002, p. 270). Figura 7: Ocupação de Mãe Luiza, década de 1960. Fonte: Acervo Centro Sócio Pastoral – Mãe Luiza, IN: LIMA, 2009, p. 56. Figura 8: Ocupação de Mãe Luiza, década de 1960. Fonte: GEHAU/UFRN. 84 PARTE 03 Figura 9: Mãe Luiza em meadas da década de 1960. Fonte: GEHAU/UFRN. Nos anos 1970, através do Projeto Parque das Dunas-Via Costeira, adveio à proposta do Governo do Estado para construção de aproximadamente 8,5 quilômetros de via na área do cordão dunar que margeia as praias de Ponta Negra, Mãe Luiza e Areia Preta. Para Fernandes (2000, p. 43), o Projeto Parque das Dunas - Via Costeira fez o poder público atuar cada vez mais em Mãe Luiza a fim de urbanizá-la e conter novas ocupações, levando os moradores a exigir a Carta Data para garantir o direito de permanecer no local. Tanto as obras de urbanização da cidade quanto às ocorridas no interior do bairro – como: calçamento, drenagem, construção de escadarias, muros de arrimo nas áreas visíveis – diminuíram as distâncias entre Mãe Luiza e o centro principal e mesmo entre os espaços dentro do próprio bairro. Contudo, a nova dinâmica da orla da cidade, na década de 1980, que impulsionou o turismo com a construção da infraestrutura hoteleira após a implantação da Via Costeira e do Parque das Dunas, tornou Mãe Luiza mais aberta e mais propícia à especulação imobiliária. Nas referidas décadas (1970 e 1980), as ocupações ocorreram constantemente no bairro, sendo diversas vezes controladas pelo poder público através da presença de agentes florestais da Prefeitura. Em 1970, surge o Barro Duro; em 1980 erguem-se as ruas Nova e Projetada, o Alto da Colina, além de ocupações isoladas em pedaços de terrenos encontrados vazios (FERNANDES, 2000, p. 101). Leitão (apud AMARAL, 2011, p. 60) cita que na década de 1970 existia nos arredores de Natal cerca de 10.000 85 PARTE 03 casebres espalhados por mais de 30 favelas, sendo que pelo menos 2.500 domicílios estavam em Mãe Luiza com aproximadamente 12.000 habitantes. As mutações no espaço de Mãe Luiza, no decorrer do processo de ocupação levaram a comunidade ao conflito, pela tensão que se instalava devido ao medo de perder sua casa. O lugar que antes era de todos que se chegassem para dele compartilhar, era agora disputado, evidenciando valores que, construídos pela necessidade de sobrevivência, apontavam para ações caracterizadas pela individuação. Sobre isso, o Pe. Sabino Gentili, 54 anos, vigário de Mãe Luiza desde 1980, relembra que, entre os anos 80-82, no processo de ocupação das ruas Nova e Projetada, havia brigas internas, quando alguns, por exemplo, limpavam o terreno e outros vinham e ocupavam. Era como se dissesse “você está entrando no que é meu” (FERNANDES, 2000, p. 106-107). Mãe Luiza passa a ser tema de discussões no contexto urbano local a partir de 1970 e 1980, devido ser conhecido pelas lutas dos seus moradores para garantir o direito de permanecer no bairro, por assegurar a regularização dos terrenos e por enfrentar a pressão do poder público e dos especuladores imobiliários, através da colaboração efetiva da Igreja Católica na figura do Pe. Sabino. Tudo isso resultou numa histórica resistência que constitui parte da identidade dos seus moradores (LOPES JÚNIOR, 2000, p. 58). (...) em termos de casa, por exemplo, teve outra coisa engraçadíssima, que as pessoas me procuravam: - Padre, me arrume um terreno. – Eu não tenho, mas se você achar, faça! – E eu posso fazer? – Pode, claro que você pode. E realmente aconteceu de muitas pessoas começarem a fazer casas assim. Em achando pedaços de terreno. O fato de procura, quem sabe, um apoio com uma autoridade – padre é uma autoridade, né? – esse apoio era como se dissesse ‘eu não tô fazendo nenhuma coisa ilegal, então vou fazer, quem sabe isso me dá coragem pra fazer’; ou quem sabe, até: se a polícia aparecer, foi o padre que mandou’. (Pe. Sabino, apud FERNANDES, 2000, p. 110). Segundo Fernandes (2000, p. 115), com o processo de urbanização desencadeado, os moradores aos poucos substituíram as casas de taipa/ barro por casas de alvenaria. Em 1985, a favela situada no Parque das Dunas, construída em regime de mutirão abrigou as famílias da localidade, desencadeando o conjunto Promorar. Já em 1989, a comunidade mobiliza-se num ato público contra a construção do flat - Paradise Mare Flat Service - na vizinhança do Farol, voltando a discutir na comunidade a especulação imobiliária (Figura 10). Nos anos 1990, ocorreu a construção de motéis na 86 PARTE 03 entrada do bairro pela Via Costeira, bem como de hotéis em toda essa Via (FERNANDES, 2011, p. 53). Figura 10: Terreno do Paradise Mare Flat, ano de 1992. Fonte: GEHAU/ UFRN. Em função do bairro não possuir regulamentação quanto ao uso e ocupação do solo, a comunidade passa por obstáculos para fazer frente aos processos de especulação imobiliária e a crescente valorização do solo. As constantes ações comunitárias favoreceram para a elaboração do Projeto de Lei nº 4.663 em 31 de julho de 1995 que regulamentou o bairro como Área Especial de Interesse Social (AEIS), dispondo sobre o uso e ocupação do solo, limites e prescrições urbanísticas, limitando o tamanho dos lotes em até 200m² e o gabarito máximo de 7,50m, em qualquer cota original do terreno. Os moradores iniciam, em processo de mutirão, no ano de 1996, a construção de unidades habitacionais na área da favela do Sopapo, contando com a participação de vinte famílias que, através de ações da Igreja Católica do bairro, se organizaram para construir sessenta casas em dois pavimentos, com dois quartos, sala, banheiro e cozinha. Em março de 1999, vinte e cinco famílias residiam nos imóveis e continuaram trabalhando na construção das casas da segunda etapa. Em dezembro do mesmo ano, já contavam com a instalação das redes elétrica e hidráulica (Fala Mãe Luiza, 27/12/1998, p. 01, apud FERNANDES, 2000, p. 137). No decorrer das décadas houve alterações de uso e ocupação do entorno do bairro e, em paralelo, modificações do perfil social dos moradores. Nos dias atuais, diferentemente dos moradores de Mãe Luiza, cuja renda domiciliar predominante 87 PARTE 03 (Tabela 8) é entre um e cinco salários mínimos10 (62,13%), a população do entorno possui uma renda média atual superior a dez salários mínimos (bairros de Areia Preta, Petrópolis e Tirol). Tabela 8: Rendimento mensal domiciliar dos moradores de Mãe Luiza e dos bairros do entorno (2010). Domicílios Classes de rendimento mensal domiciliar Mãe Luiza Unid. % Até 1/2 S.M. Mais de 1/2 a 1 S.M. Mais de 1 a 2 S.M. Mais de 2 a 5 S.M. Mais de 5 a 10 S.M. Mais de 10 a 20 S.M. Mais de 20 S.M. Sem rendimento Total 168 883 1.246 1.283 224 56 40 170 4.070 4,13 21,70 30,61 31,52 5,50 1,38 0,98 4,18 100 Areia Preta Unid. % 18 76 187 133 76 100 5 595 3,03 12,77 31,43 22,35 12,77 16,81 0,84 100 Petrópolis Unid. % Tirol Unid. % 4 49 87 217 375 466 499 35 1.733 9 97 203 692 1.058 1.477 1.640 60 5.236 0,23 2,83 5,02 12,52 21,64 26,89 28,79 2,02 0,06 0,17 1,85 3,88 13,22 20,21 28,21 31,32 1,15 100 FONTE: IBGE - Censo Demográfico, 2010. De acordo com o Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2010), o bairro de Mãe Luiza ocupa o 28º lugar em termos de rendimento médio mensal entre os 36 bairros da cidade (Tabela 9). Já, os moradores têm em média rendimento pessoal entre ½ salário mínimo a 1 salário mínimo (R$ 442,21), aquém da população do município de Natal (R$ 905,73) e menos que a dos bairros do entorno (Tirol, R$ 3.294,72; Areia Preta, R$ 2.327,96; e Petrópolis, R$ 3.439,69). Atualmente, Mãe Luiza representa 1,73% (4.070 unidades) do total de domicílios permanentes da cidade (234.759 domicílios). Com densidade populacional estimada de 156,33 hab./ ha (Tabela 9), estando expressiva ao compararmos com os demais bairros da Região Leste (IBGE, 2010). Apesar da significativa densidade populacional, a localidade apresenta áreas não edificáveis ou com baixo adensamento, representadas basicamente pelo cordão dunar situada na encosta da Via Costeira, da Capitania dos Portos – área do Farol de Mãe Luiza – e por áreas adjacentes ainda não edificadas, todas circunscritas aos limites das Zonas de Proteção Ambiental. 10 No segundo semestre do ano de 2010, o valor do salário mínimo correspondia a R$ 510,00. 88 PARTE 03 Tabela 9: Dimensionamento, número de domicílios, população residente, e densidade demográfica e rendimento médio mensal das pessoas dos bairros da Zona Leste de Natal, ano 2010. Bairros da Zona Leste Área (ha) Santos Reis Rocas Ribeira Praia do Meio Cidade Alta Petrópolis Areia Preta Mãe Luiza Alecrim Barro Vermelho Tirol Lagoa Seca 222,09 66,01 94,39 48,92 116,41 78,43 32,17 95,69 344,73 94,79 360,04 61,09 Domicílios particulares permanentes 1.531 3.067 764 1.620 2.259 1.733 595 4.070 8.646 2.883 5.236 1.731 População residente 5.641 10.452 2.222 4.770 7.123 4.871 1.956 14.959 28.705 10.087 16.148 5.791 Densidade demográfica (hab/ ha) 25,40 158,34 23,54 97,51 61,19 62,11 60,80 156,33 83,27 106,41 44,85 94,79 Rendimento Médio Mensal das Pessoas 600,80 610,31 2.026,61 1.094,28 1.023,65 3.439,69 2.327,96 442,21 735,53 2.198,05 3.294,72 1.128,74 FONTE: IBGE - Censo Demográfico, 2010. A respeito da tipologia das edificações, o bairro se apresenta urbanizado com predominância de casas de alvenaria e concreto com dois pavimentos (Figura 11), identificando-se o surgimento de imóveis com três pavimentos. Quanto à situação e condição de ocupação dos domicílios, predomina no bairro imóveis próprios (73,94%), seguido dos alugados (14,13%), em menor proporção os cedidos (9,60%) e outras formas de ocupação (2,31%) (IBGE, 2000)11. Figura 11: Vista parcial de Mãe Luiza (2010). Fonte: Acervo próprio, 2010. 11 Até o presente momento, o IBGE divulgou apenas informações do ano 2000 referentes às variáveis da situação e ocupação dos domicílios. 89 PARTE 03 Em relação à ocupação atual do bairro, prevalece uma configuração urbana marcada por ruas sem saída, becos, travessas, vielas, ladeiras e escadarias, resultado das primeiras ocupações. O uso do solo predominante (Figura 12) é residencial, mas domina atividades de comércio/ serviço/ institucional na Avenida João XXIII, além de equipamentos urbanos e sociais básicos. Figura 12: Uso do Solo predominante. Fonte: Acervo próprio, imagem (IDEMA, 2006). De acordo com o IBAM (2010, p. 15), o bairro está integrado à malha urbana equipada da cidade e possui, de certa forma, um nível razoável de equipamentos urbanos (Quadro 3), mas estes não são suficientes para o atendimento da demanda dos moradores, sendo necessários investimentos para implantação de equipamentos sociais e comunitários direcionados a grupos sociais vulneráveis, como também de lazer e de atividades culturais. Quadro 3: Entidades comunitárias e equipamentos urbanos e particulares. 90 PARTE 03 Equipamentos Escola Creches Desportivo Segurança Pública Organizações Comunitárias Demais Equipamentos Municipal Estadual Particular Municipal Particular Quadra Campo de futebol Delegacia Distrital Polícia Militar e Unidades Subordinadas Associações e Centros Conselho Comunitário Grupo de Idosos Unidade Básica de Saúde Praça Feira livre Unidade 01 04 03 01 02 01 01 01 01 11 01 02 01 01 01 Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2009. De acordo com o Anuário de Natal 2009, Mãe Luiza possui 98% das ruas pavimentadas e 95% de drenagem. Tem ainda, como infraestrutura básica, rede de telefonia, rede de energia elétrica, rede de abastecimento de água, coleta regular de resíduos sólidos domiciliares e rede de esgotamento sanitário em processo de implantação. A rede de abastecimento de água é questionada pelos moradores das áreas íngremes do bairro por não ocorrer constante fornecimento (Figura 13). Na pesquisa de campo presenciamos pessoas coletando água da vizinhança. Outro fato presenciado foi a utilização, por parte dos moradores, de terrenos baldios ou espaços públicos para colocar o próprio lixo e/ou entulho, embora a coleta de resíduos aconteça regularmente. 91 PARTE 03 Figura 13: Infraestrutura básica de Mãe de Luiza. Fonte: Acervo próprio, 2010. Apesar da homogeneidade de Mãe Luiza, a Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal (Produto 01, Anexo 03, jul. 2004) identificou quatro assentamentos subnormais no bairro: i) Sopapo; ii) Barro Duro; iii) Guanabara ou Aparecida; e, iv) Alto da Colina (Figura 14). O IBGE divulgou, recentemente, o Censo Demográfico 2010 com limites dos aglomerados subnormais, porém estes não coincidem com o indicado pela Política Habitacional (2004), impossibilitando uma análise comparativa (Figura 14). Outro ponto divergente, é que a “área de ponderação”12 analisada pelo Censo 2010 (IBGE, 2010) considera 100% do bairro como aglomerado subnormal, inserindo as localidades que concentram a rede de hotelaria (Via Costeira) e as Zonas de Proteção Ambiental, dificultando neste presente momento, cotejar similaridades ou disparidades entre os dados coletados (Tabela 10) com os divulgados pelo IBGE (2010). Portanto, utilizamos as informações e os limites da Política Habitacional (2004), referentes aos assentamentos subnormais do bairro, para o desenvolvimento da pesquisa. 12 Área de ponderação é a menor área geográfica para a qual são calculadas estimativas baseadas nas informações do questionário da amostra. Uma área de ponderação é sempre um conjunto de setores e cada setor pertence a uma única área de ponderação (IBGE, 2011, p. 38-40). Até o presente momento, o IBGE (2010) divulgou apenas informações referentes às áreas de ponderação e não dos setores censitários, que possibilitariam comparar os dados. 92 PARTE 03 Figura 14: Áreas Subnormais da AEIS de Mãe Luiza, segundo a Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal (a esquerda) e áreas de ponderação dos aglomerados subnormais, conforme Censo Demográfico de 2010 (a direita). Fonte: Acervo próprio, imagem (IDEMA, 2006) e limites das localidades (Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal, Produto 01, Anexo 03, jul. 2004, e IBGE, 2010). Segundo a Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal (2004) e a Prefeitura Municipal de Natal (2008), as áreas subnormais possuem elevada densidade demográfica (Tabela 10), sobretudo a do Alto da Colina e da Aparecida ou Guanabara por serem ocupações mais antigas e consolidadas. E em menor proporção, as áreas do Sopapo e do Barro Duro, provavelmente, devido às ocupações serem mais recentes com construções que preservam maior distância entre si. Conforme o Plano Municipal de Redução de Riscos do Município de Natal (2008), os assentamentos inserem-se em áreas de risco socioambientais por estarem próximas e/ou sobre as encostas de dunas, estando sujeitas a deslizamentos, processos erosivos, inundações e alagamentos. 93 PARTE 03 Densidade demográfica (hab/ ha) Nº de domicílios Tipo de Habitação Água Energia Esgoto Pavimento (%) Equipamentos Sopapo 696 Barro Duro 476 Aparecida ou 4.283 Guanabara Alto da Colina 4.388 Infraestrutura existente Área (ha) Áreas Subnormais População Tabela 10: Características das áreas subnormais da AEIS de Mãe Luíza. 4,21 2,43 165,32 195,88 174 119 Alvenaria Alvenaria Sim Sim Sim Sim Não Não 60 90 Não Não 15,11 283,45 733 Alvenaria Sim Sim Não 100 Sim 16,98 258,42 1.097 Alvenaria Sim Sim Não 50 Sim Fonte: Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal, Produto 01, jul. 2004 e Prefeitura Municipal do Natal, 2010. Apesar de Mãe Luiza possuir evidentes fragilidades quanto aos níveis de habitabilidade, da condição de baixa renda dos moradores e de restrições construtivas da AEIS - que de certa forma, controla os investidores que desejam construir empreendimentos de maior porte -, o bairro nos últimos anos sofre pressão do mercado imobiliário formal, principalmente, na Rua Guanabara limite do bairro com Areia Preta. O mercado imobiliário formal tenta convencer a opinião pública que a área precisa ser valorizada e ocupada por novos empreendimentos para garantir o desenvolvimento urbano, reduzir a criminalidade do bairro e do entorno. Entretanto, há diversos interesses em jogo, uma vez que o bairro localiza-se próximo ao centro comercial da cidade e encontra-se no eixo turístico de orla marítima de Natal, de maneira que os seus vários atributos favorecem para o aproveitamento e benefício da indústria da construção civil e empresas imobiliárias. Percebe-se, também, que o bairro de Mãe Luiza tem uma dinâmica imobiliária própria, relacionada aos seus aspectos naturais, às suas relações comunitárias, às questões fundiárias e de ordenamento urbano. Nesse sentido, é fundamental compreender a lógica de produção do bairro por meio do mercado imobiliário informal. 9.2. Referências e Procedimentos Metodológicos A dinâmica do mercado imobiliário em áreas pobres – compra e venda e locação de imóveis residenciais - responsabiliza-se pelo adensamento e ampliação das principais 94 PARTE 03 favelas e loteamentos irregulares (Revista Habitare, jun./jul. 2009)13. Apesar da importância real e simbólica desses assentamentos, Abramo (2009, p. 07) afirma que estudos sobre a produção e regulação territorial da cidade informal se restringem a estudos monográficos e qualitativos. Sendo constatado que, no início dos anos 1990, através da linha de pesquisa sobre favelas no Brasil, Lícia Valladares e Lídia Medeiros consolidaram projetos de monitoramento do mercado imobiliário informal no Rio de Janeiro. Posteriormente, no ano de 2004, ocorreu à formação do Grupo Habitare composto por uma rede de pesquisadores nacionais (Rede Infosolo14) para levantar, sistematizar e analisar os mercados de solo informais nas principais metrópoles brasileiras (ABRAMO, 2009, p. 08-09). Então, para a construção dos procedimentos metodológicos, primeiramente, revisamos as pesquisas realizadas em âmbito nacional pela Rede Infosolo e o estudo qualitativo desenvolvido por Nelson Baltrusis (2003 e 2005) sobre o mercado imobiliário informal. Assim, a respeito da Rede Infosolo, verificamos que, incialmente, os pesquisadores elaboraram uma metodologia para estudar a dinâmica do mercado imobiliária informal das favelas na cidade do Rio de Janeiro e, em seguida, os mesmos critérios foram utilizados para outras cidades inseridas na rede, como: São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Recife, Belém, Brasília e Florianópolis. Tendo sua metodologia definida pela aplicação de questionários direcionados para o conjunto de domicílios disponíveis à venda no momento da investigação e aqueles comprados ou alugados nos últimos seis meses. As variáveis dos questionários foram: a) rendimento familiar; b) nível de escolaridade; c) gênero; d) função socioprofissional; e) especificidades da dinâmica do mercado imobiliário informal; f) mobilidade urbana intrafavela; g) tipologia e características edilícias. E ainda, as variáveis para definição das comunidades investigadas foram: a) características topológicas (nível de centralidade) e topográficas (plana ou em declive); b) posição dos bairros do entorno na hierarquia socioespacial da cidade; c) posição nos vetores de estruturação intraurbana 13 Fonte: www.habitare.org.br/ConteudoGet.aspx?CD_CONTEUDO=526. Acesso disponível, 20 de junho de 2011. 14 Fonte: www.habitare.org.br/DetalheProjeto.aspx#rel. Acesso disponível: 17 de setembro 2011. 95 PARTE 03 socioespacial da cidade (áreas de expansão, consolidadas ou em deterioração); d) população e tamanho dos assentamentos15. Como regra geral, a Rede Infosolo informa que o acesso no interior das comunidades deve ocorrer com guia-morador recomendado pelas associações dos moradores que se integra ao trabalho e indica os limites da favela aos pesquisadores. Os percursos no interior das comunidades iniciam com visitas aos domicílios colocados à venda. Outra sugestão, é a busca dos imóveis à venda e posteriormente ir localizando os compradores e locatários, através das informações coletadas ao penetrar no universo da comunidade. Entretanto, informam que essa metodologia deve ser empregada apenas quando os dados forem precisos e quando o guia possui total domínio do território e dos novos moradores, sendo aplicada, basicamente, nas comunidades menores. Com esse método de trabalho de campo tem-se a certeza de passar por todas as áreas das comunidades investigadas, isto é, suas ruas e becos conseguindo entrevistar praticamente a totalidade absoluta de nosso universo de pesquisa - os proprietários que estão com seus imóveis colocados à venda e proprietários e locatários instalados no domicílio no último semestre16. Como também, convém ressaltar, a pesquisa da Rede Infosolo desenvolvida por Recife (Pernambuco)17 do período de agosto de 2004 a dezembro de 2006, a partir do título Funcionamento do Mercado Informal de Habitação na Região Metropolitana do Recife sob a coordenação da Profª. Norma Lacerda (MDU/ UFPE), cujo objetivo geral visou identificar os mecanismos de funcionamento do mercado imobiliário nas suas áreas pobres. Nesta pesquisa, foram aplicados três tipos de questionários, de acordo com a modalidade da transação: aluguel (inquilinos), compra (adquirentes) e venda (vendedores), dos últimos seis meses, considerando o dia da aplicação de cada questionário. Foram adaptadas 60 perguntas à realidade da Região Metropolitana do Recife, em relação ao questionário geral da Rede Infosolo. Os pesquisadores e estagiários tiveram o apoio das Associações dos Moradores das localidades objeto de 15 Fonte: www.habitare.org.br/DetalheProjeto.aspx#rel. Acesso disponível: 15 de novembro de 2011. Relatório Final do Rio de Janeiro da Pesquisa Mercado informais de solo nas cidades brasileiras e acesso dos pobres ao solo urbano, sob a coordenação de Pedro Abramo. 16 Ibid, p. 30. 17 LACERDA, Norma. Funcionamento do Mercado Informal de Habitação na Região Metropolitana do Recife: Relatório Técnico. Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica. UFPE: março/ 2009. 96 PARTE 03 estudo para aplicação dos questionários, além de guias indicados pelos respectivos presidentes. O segundo momento da pesquisa de Recife refere-se ao período de janeiro de 2007 a maio de 2008. Nessa ocasião, realizaram uma nova pesquisa de campo na área de Brasília Teimosa por apresentar o submercado mais dinâmico em relação aos demais objetos de estudo, no que diz respeito ao mercado de aluguel. Com o tema Mercado imobiliário de aluguel em áreas pobres: normas e convenções na área de Brasília Teimosa, a pesquisa teve como alvo os locadores dos imóveis. Segundo Lacerda (2009), para se apreender o mercado de locação nas áreas pobres é necessário levantar informações sobre os locadores, devido existir relações e decisões específicas entre locadores e locatários que irão influenciar na formação dos preços. Em contrapartida, a metodologia da Rede Infosolo que não considera os locadores. O terceiro momento, junho 2008 a fevereiro de 2009, os pesquisadores de Recife focaram na montagem do Sistema de Informação Georreferenciado (SIG) para área de Brasília Teimosa. Nessa fase, a equipe verificou que é imprescindível identificar categorias tipológicas para auxiliar na construção do SIG e propor escalas de representação socioespacial do mercado imobiliário de aluguel em áreas pobres. Em paralelo as pesquisas desenvolvidas pela Rede Infosolo, Nelson Baltrusis (2005) defende sua tese de doutorado cujo objetivo foi compreender como o mercado informal opera a provisão habitacional para a população de baixa renda, através do processo de produção, compra/ venda e locação de lotes e residências irregulares em favelas da Região Metropolitana de São Paulo. Os procedimentos metodológicos para o desenvolvimento da pesquisa de campo ocorreram através de visitas técnicas em várias favelas, com acompanhamento de lideranças e estagiários para obter dados referentes à estrutura da favela, como: a) os principais agentes; b) os estabelecimentos comerciais, culturais, públicos e religiosos; c) as relações sociais e territoriais intrafavela e entre o bairro vizinho. A respeito da pesquisa quantitativa, Baltrusis (2005, p. 143) aplicou um questionário para três tipos de situação nas favelas selecionadas: compra, venda e aluguel. Posteriormente, entrevistou todos os proprietários de imóveis à venda na favela identificada através de placas de venda e de indicações de outros moradores. E ainda, os moradores que adquiriram imóveis na favela através de compra no último ano e os que residem em imóveis alugados, sem restrição de tempo de locação. Para identificar os compradores e locatários, consultou todas as residências inquirindo se o morador 97 PARTE 03 adquiriu o imóvel no último ano. Para a escolha das favelas considerou: a) o tamanho e a população; b) a caracterização da tipologia, regularizada/ não-regularizada e urbanizada/ não-urbanizada; c) o grau de integração da favela com o bairro; d) a ocupação do proprietário; e) a situação fundiária, levando em consideração a existência ou não, de títulos de concessão; entre outros fatores. O objetivo de rever pesquisas realizadas em âmbito nacional sobre o mercado imobiliário informal contribuiu para elaboração dos procedimentos metodológicos da pesquisa no universo da AEIS de Mãe Luiza. Logo, a nossa primeira etapa consistiu em levantar as fontes primárias e secundárias referentes ao município de Natal/RN sobre a questão das favelas e das áreas com predominância de população com renda de zero a três salários mínimos, para caracterizar o processo de estruturação do espaço e identificar as tipologias de assentamentos precários existentes na cidade. A partir dos dados coletados pelo relatório da Política Habitacional de Interesse Social (NATAL, 2005) e dos estudos realizados sobre assentamentos situados em áreas de risco, identificados no Plano Municipal de Redução de Risco do Município de Natal (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2008), espacializamos as comunidades e realizamos leituras de assentamentos situados na orla marítima de Natal/ RN, considerando as diferenças morfológicas e tipológicas das localidades existentes. Assim, elegemos a comunidade de Mãe Luiza como universo de estudo. Como também, levamos em consideração: i) o tamanho e a população; ii) a situação fundiária, considerando o grau de urbanização e de regularização, bairro esse regulamentado como Área Especial de Interesse Social; iii) a consolidação do bairro; iv) a localização na cidade do Natal/RN, por estar inserido no eixo turístico de orla marítima e apresentar pressão da dinâmica imobiliária; e, iv) as pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos Habitação, Arquitetura e Urbanismo (GEHAU) do Departamento de Arquitetura (Darq) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na comunidade, ao qual somos integrantes, facilitando o acesso à área e aos dados. Posteriormente, a partir da metodologia aplicada pela Rede Infosolo e por Baltrusis (2005), definimos como procedimento de campo a pesquisa quantitativa que consistiu em aplicar um tipo de questionário para três tipos de situação: a) compra; b) venda; e, c) aluguel. Com o intuito de entrevistar: a) os proprietários de imóveis residenciais comprados no último ano, considerando o dia da aplicação de cada questionário; b) os proprietários de imóveis residenciais que possuíam placas de vende98 PARTE 03 se; e, c) os inquilinos dos imóveis residenciais alugados. De acordo com Abramo (2007, p. 09), denominamos “venda” como a oferta de imóveis no submercado de comercialização e “compra” as transações efetivamente realizadas. No caso dos aluguéis informais não quantificamos a oferta. Portanto, os dados são dos imóveis, cujos responsáveis estavam presentes no momento da pesquisa. Sobre os locadores não aplicamos questionário, embora os resultados da pesquisa de campo constatar que 62,38% residem no bairro. Porém, teríamos dificuldade para identificá-los, pois número significativo dos inquilinos tem conhecimento somente do nome do “proprietário”. Como também, constatamos um número reduzido de unidades habitacionais (27 do total de 226 questionários) que habita locador/ locatário no mesmo lote. Então, conforme Flávio Freire18, caso aplicássemos questionários com esses 27 locadores para a amostra do mercado de aluguel, teríamos uma margem de erro elevada (superior a 15%) para o resultado da pesquisa, isto é, alta inconfiabilidade dos resultados apresentados. Assim, elaboramos questionários para locatário, vendedores e compradores a partir do cedido pela Rede Infosolo de Pernambuco e das inquirições de Baltrusis (2005) referentes ao mercado imobiliário informal. As questões foram agrupadas (ver apêndice) da seguinte maneira: i) dados sociodemográficos do inquilino e dos proprietários; ii) mobilidade espacial do inquilino e dos proprietários e as relações comunitárias; iii) características do imóvel; iv) funcionamento do mercado imobiliário informal. E ainda, elaboramos variáveis semelhantes entre os questionários para possibilitar o cruzamento de informações que permitam identificar as diferenças e analogias entre proprietários vendedores, proprietários compradores e locatários. A primeira parte do questionário (ver apêndice), referida aos dados sociodemográficos do proprietário ou locatário, tem questões pertinentes: a) ao estado civil; b) à faixa etária; c) ao grau de instrução; d) à quantidade de moradores no imóvel; e) ao número de filhos e de estudantes residentes no imóvel, etc. Em seguida, questões relacionadas aos aspectos de trabalho e renda dos “proprietários” e inquilinos, como: a) ocupação profissional; b) fonte de renda principal e auxiliar; c) número de participantes na composição da renda domiciliar, etc. A segunda parte diz respeito às perguntas relativas aos aspectos de mobilidade espacial e relações comunitárias, como: a) os 18 O professor Dr. Flávio Henrique Miranda de Araújo Freire, do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, contribuiu para construção dos procedimentos metodológicos. 99 PARTE 03 motivos para entrar ou querer deixar a comunidade; b) meio de transporte utilizado; c) locais das compras diárias, roupas, eletrodomésticos e materiais de construção; d) presença de familiares no bairro; etc. A terceira parte contempla as características do imóvel, como: a) o tipo; b) o número de pavimentos; c) a topologia do lote; d) o padrão construtivo; e) o estado de conservação; f) o número de cômodos; g) o dimensionamento do imóvel; etc. A quarta e última sessão dos questionários é sobre o funcionamento do mercado imobiliário informal com perguntas referentes: a) a preço; b) aos critérios de escolha do imóvel; c) a procura; d) a forma de acesso ou oferta; e) as relações contratuais, etc. Para viabilizar a operacionalização da pesquisa de campo, subdividimos o bairro a partir dos quatro assentamentos precários (Figura 15) definidos pela Política Habitacional de Interesse Social para o Município de Natal (NATAL, 2004): i) Aparecida ou Guanabara; ii) Alto da Colina; iii) Barro Duro; e, iv) Sopapo. Além dessas localidades, acrescentamos a área da Caixa d' Água e a João XXIII. Determinamos estes limites a partir da sistematização dos relatórios elaborados pela administração municipal, referentes às atividades de monitoramento e planejamento do bairro. Figura 15: Identificação das Localidades do bairro de Mãe Luiza. Fonte: Acervo próprio, imagem (IDEMA, 2006) e limite das localidades (NATAL, 2004, SEMURB, 2008, LIMA, 2009). 100 PARTE 03 Cabe ressaltar que para a pesquisa de campo, entramos em contato com o Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição de Mãe Luiza que se responsabilizou de informar a comunidade sobre a pesquisa a ser realizada e indicou o guia-morador. Como desde sempre senti atraída pelo trabalho de campo, então resolvi aplicar os questionários somente com a ajuda do guia Heriberto Santos, sem colaboradores, por constatar que a única maneira válida de compreender a realidade do mercado imobiliário informal e as relações existentes entre os residentes do assentamento seria dialogando com os entrevistados e visualizando a infraestrutura dos imóveis e do entorno a serem comercializados, ou seja, circulando no bairro. Apesar da insegurança constante, o fato de ser universitária constituiu uma grande vantagem em minha pesquisa no assentamento. Identificada como estudante/ pesquisadora foi relativamente fácil visitar os imóveis e fazer perguntas delicadas, e ser considerada inofensiva e mesmo inconsequente. Contudo, poucas recusas ocorreram por parte dos moradores em receber a pesquisadora, havendo certa desconfiança quanto às boas intenções em coletar informações sobre composição da família, rendimentos (pessoais e domiciliares), ocupação e nível educacional etc.. Logo, aprendi que era necessário deixar claro para os entrevistados o que me levara até ali. E ainda, por não conhecer a área, compreendi e tive a sensibilidade de atender as decisões do guia sobre a circulação no bairro, as pessoas a serem indagadas e os imóveis a serem visitados. Com a colaboração do guia, percorremos ruas sequenciais a partir da localidade do Alto da Colina, inquirindo os transeuntes/ moradores sobre imóveis alugados, comprados ou vendidos. A identificação dos imóveis à venda ocorreu, também, a partir de tabuletas ou anúncios fixados na própria edificação. Entretanto, os imóveis alugados com placas de venda, aplicamos o questionário de aluguel. Ao adentrarmos no bairro, observamos a necessidade de não seguirmos as ruas de maneira sequencial por medidas de segurança. Então, passamos a ir para campo em localidades distintas e em turnos diferenciados de segunda a sexta. Realizamos o campo entre às 9:00 e 12:00 e às 14:00 e 16:30 por haver presença representativa de moradores nesses horários. Apenas, no entorno da localidade da Caixa d’ Água e da Rua Camaragibe, realizamos o campo entre às 9:00 e 11:00 devido, após este horário, a presença constante de usuários/ vendedores de drogas ilícitas. Todavia, não aplicamos questionários no interior da localidade Caixa d’ Água e Sopapo e trecho da Rua Camaragibe (Figura 16). 101 PARTE 03 Figura 16: Áreas sem aplicação de questionários. Fonte: Acervo próprio, imagem (IDEMA, 2006). O campo aconteceu entre os meses de junho e dezembro de 2010. Além dos levantamentos realizados, demarcamos, fotografamos e espacializamos os imóveis em Sistemas de Informação Geográfica (SIG). O resultado da aplicação dessa metodologia foram 248 questionários, dos quais 07 corresponderam aos casos de compra de imóveis no último ano, 15 aos casos de venda no momento da pesquisa e 226 aos casos de aluguel (Gráfico 1). Como é difícil quantificar os aluguéis informais, devido à rotatividade, às informações se referem aos locatários e/ou responsáveis pelo imóvel no momento da pesquisa de campo. Devido ao número reduzido de compra e venda, a análise desse mercado ocorreu apenas de maneira qualitativa, ao contrário do aluguel que apresenta um número significativo de imóveis possibilitando quantificar as informações. 102 PARTE 03 Gráfico 1: Número de questionários aplicados. 3% 6% 91% Aluguel Compra Venda Fonte: Acervo próprio, 2010. Aplicamos questionários em aproximadamente 6,09% do total de imóveis existentes no bairro (4.070 domicílios19), significando que no período definido no mínimo 6% dos imóveis havia sido objeto de alguma transação imobiliária – compra ou aluguel – ou pretendiam ser – no caso dos imóveis que estavam à venda. Comprova-se, portanto, a expressividade dos casos de aluguel no bairro, representando 91% do total das edificações levantadas. Isto serve de base para afirmar que o mercado rentista - a moradia de aluguel - predomina no espaço analisado. 10. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 03 A mercantilização dos assentamentos populares informais incentivou a investigar e compreender quais as especificidades relacionadas ao funcionamento do mercado imobiliário informal, tendo como escopo apreender como este mercado opera a provisão habitacional para a população situada em Áreas Especial de Interesse Social (AEIS). Para tanto, constatamos, primeiramente, o quanto é imprescindível entender os procedimentos metodológicos desenvolvidos para monitorar o MII, uma vez que a produção de estudos semelhantes possibilita comparar as pesquisas relacionadas aos assentamentos populares informais. Deste modo, o objetivo de rever trabalhos realizados em âmbito nacional favoreceu para construção da metodologia, podendo incentivar demais análises a serem realizadas na cidade do Natal/ RN. Como também, constatamos que é de suma importância tomar conhecimento do contexto histórico cultural e social dos moradores e das áreas a serem analisadas para 19 Fonte: IBGE, 2010. 103 PARTE 03 adaptar os procedimentos metodológicos, de acordo com as especificidades de cada localidade, como: i) formação do assentamento; ii) localização no espaço urbano da cidade; iii) tipologia dos imóveis; iv) mobilidade interna e externa dos moradores; v) perfil social dos compradores/ vendedores/ locatários; vi) topologia do assentamento; vii) urbanização da área, infraestrutura, serviços, etc. Para tanto, como mencionado anteriormente, selecionamos Mãe Luiza por ser um bairro popular consolidado, inserido numa área de expressiva pressão do mercado imobiliário formal e que sofre impactos sociais e físico-ambientais em função da dinâmica imobiliária formal e dos investimentos turísticos em seu entorno. E ainda, por ser consolidado como AEIS e por apresentar uma dinâmica imobiliária própria, isto é, associada às relações comunitárias, às questões fundiárias, à pressão da especulação imobiliária e ao ordenamento urbano. Em síntese, percebemos o quanto é imprescindível compreender o mercado imobiliário informal do bairro de Mãe Luiza, devido este substituir - conforme demais assentamentos populares informais - a tarefa do Estado, na sua função de prover habitação para camadas de baixo poder aquisitivo. 104 PARTE 04 11. ESPECIFICIDADES DA DINÂMICA DO MERCADO IMOBILIÁRIO INFORMAL EM MÃE LUIZA Tendo por objetivo analisar as especificidades da dinâmica do mercado imobiliário informal em Mãe Luiza, o presente capítulo traça primeiramente o perfil socioeconômico da amostra (248 questionários), visando caracterizar os diferentes compradores (07 questionários), vendedores (15 questionários) e inquilinos (226 questionários) do mercado de imóveis do estoque existente (mercado secundário). Posteriormente, revela a mobilidade espacial dos inquilinos e dos proprietários (compradores e vendedores) e as suas relações com a comunidade, considerando a importância do fator localização da AEIS. Por fim, apresenta as peculiaridades dos produtos, os aspectos legais das negociações imobiliárias, os mecanismos de fixação dos preços, os agentes do mercado (locatários, vendedores e compradores) e as características informacionais. A leitura dos dados ocorrerá a partir de variáveis elaboradas pela Rede Infosolo, Baltrusis (2005) e Lacerda & Melo (2009). Essa base contribui para refletir sobre como o mercado imobiliário informal atua na expansão e reprodução dos assentamentos populares informais. 11.1. Perfil socioeconômico A compreensão do perfil socioeconômico possibilita realizar uma conexão entre a teoria e a realidade dos problemas urbanos e comprovar que a prática do mercado imobiliário informal não é restrita apenas a população de baixo poder aquisitivo. Deste modo, analisamos em relação aos inquilinos, compradores e vendedores: i) a composição etária e por gênero; ii) o estado civil e o número de filhos; iii) o grau de instrução; e, iv) a ocupação profissional e os rendimentos pessoais, auxiliares e familiares mensais. Vale destacar que os dados se referem aos compradores, vendedores e locatários dos imóveis pesquisados, não refletindo o perfil socioeconômico do total dos moradores do bairro. 106 PARTE 04 11.1.1 Composição Etária e por Gênero O bairro de Mãe Luiza (Tabela 11) é constituindo, predominantemente, por pessoas do sexo feminino (51,73%). A população geral dos compradores, vendedores e locatários é formada igualmente por pessoas do sexo feminino (50%) e masculino (50%), sendo quase semelhante à proporção no mercado de aluguel, com 50,44% do sexo masculino e 49,56% do sexo feminino. O número de mulheres vendendo (53,33%) e comprando (57,14%) é superior ao sexo masculino 46,67% e 42,86%, respectivamente. Tabela 11: Sexo do geral e dos vendedores, dos compradores, dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. Geral Vendedores Compradores Sexo Feminino Masculino Total V. abs. % V. abs. % V. abs. % 124 124 248 50,00 50,00 100 8 7 15 53,33 46,67 100 4 3 7 57,14 42,86 100 Total Mãe Luiza V. % V. abs. % abs. 112 49,56 7.738 51,73 114 50,44 7.221 48,27 226 100 14.959 100 Locatários Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Em relação a variável faixa etária (Tabela 12), podemos perceber que a média dos entrevistados se concentra na faixa de 20 a 29 anos (32,26%) e, em segundo lugar, 30 a 39 anos (25,40%), totalizando (57,66%) e estando condizente com a faixa etária predominante do bairro (46,31%, com até 29 anos). É importante ressaltar um número significativo de responsáveis por domicílios na faixa de até 19 anos (2,82%), concentrando estes proprietários apenas no mercado de aluguel (3,10%). A média dos locatários de imóveis é semelhante ao de todos entrevistados, com concentração na faixa de 20 a 29 anos (33,63%), em seguida entre 30 a 39 anos (26,99%). Entretanto, entre os vendedores predomina a faixa etária acima de 50 anos (86,67%), tendo uma mudança significativa do número dos compradores que concentram entre 20 a 29 anos (42,86%) e 30 a 39 anos (28,57%). Já, os inquilinos são mais jovens em relação aos “proprietários” da compra e venda, provavelmente, não tiveram condições de acumular o suficiente para adquirir imóvel; em contradição, percebe-se um “envelhecimento” dos vendedores se comparado aos compradores e locatários. 107 PARTE 04 Tabela 12: Faixa etária geral dos vendedores, dos compradores, dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. Geral Faixa Etária Vendedores Compradores Locatários Total Mãe Luiza V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % até 19 anos 7 2,82 0 0 0 0 7 3,1 5.322 35,58 20 a 29 anos 80 32,26 1 6,67 3 42,86 76 33,63 2.975 19,89 30 a 39 anos 63 25,4 0 0 2 28,57 61 26,99 2.213 14,79 40 a 49 anos 37 14,92 0 0 0 0 37 16,37 1.915 12,80 50 a 59 anos 28 11,29 6 40 2 28,57 20 8,85 1.100 7,35 60 a 69 anos 13 5,24 0 0 0 0 13 5,75 793 5,30 70 a 79 anos 15 6,05 7 46,67 0 0 8 3,54 453 3,03 80 a 89 anos 2 0,81 0 0 0 0 2 0,88 165 1,10 90 em diante 1 0,4 0 0 0 0 1 0,44 23 0,15 NS/ NR 2 0,81 1 6,67 0 0 1 0,44 - - 100 15 100 7 100 226 100 14.959 100 Total 248 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010, e IBGE (2010). 11.1.2 Estado Civil e Número de Filhos Em relação ao estado civil, 37,50% do geral (248 questionários) encontra-se em união estável e 28,63% é casado oficialmente (Tabela 13), sendo estatisticamente semelhante às informações obtidas para os inquilinos. Dentre eles, 38,94% estabeleceram união estável com o parceiro, 28,76% é casado e 23,45% encontram-se solteiro. O número significativo de inquilinos solteiros pode ser, talvez, pela garantia da mobilidade, antes de se estabilizar a partir do casamento ou união estável. Dentre os compradores, sobressaem apenas às pessoas casadas (57,14%) e com união estável (42,86). Em oposição, a maioria dos vendedores são viúvos (26,67%) e separados (26,67%), em certos casos o estado civil é uma das motivações para venda do imóvel pela necessidade da divisão do bem com o ex-cônjuge e/ou filhos. 108 PARTE 04 Tabela 13: Estado civil geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. Geral V. abs. % 28,63 Casado (a) 71 22,18 Solteiro (a) 55 4,44 Viúvo (a) 11 6,45 Separado (a) 16 37,50 União estável (a) 93 0,81 NR/NS 2 Total 248 100 Estado Civil Vendedores V. abs. % 13,33 2 13,33 2 26,67 4 26,67 4 13,33 2 6,67 1 15 100 Compradores V. abs. % 57,14 4 0,00 0 0,00 0 0,00 0 42,86 3 0,00 0 7 100 Locatários V. abs. % 28,76 65 23,45 53 3,10 7 5,31 12 38,94 88 0,44 1 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Parte significativa dos entrevistados possui filhos (82,66% ou 205 dos questionários aplicados), sendo constatado em 100% (7 entrevistados) dos compradores, 86,67% (13 entrevistados) dos vendedores e 81,86% (185 entrevistados) dos inquilinos (Tabela 14). Entre os vendedores com filhos, uma parcela relevante (61,54%) possui mais de seis filhos. Ao contrário, os compradores têm no máximo três filhos (85,71%). De maneira menos significativa, há semelhança no grupo dos inquilinos que, do total, 77,30% possui no máximo três filhos. Tal situação, provavelmente, ocorre devido os compradores e inquilinos concentrarem numa faixa etária mais jovem. Tabela 14: Número de filhos do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. Locatários Geral Vendedores Compradores V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % 54 26,341 0 28,57 28,11 1 filho (a) 0 2 52 55 26,829 0 42,86 28,11 2 filhos (as) 0 3 52 42 20,488 15,4 14,29 21,08 3 filhos (as) 2 1 39 20 9,7561 15,4 0 9,73 4 filhos (as) 2 0 18 13 6,3415 7,69 14,29 5,95 5 filhos (as) 1 1 11 21 10,244 61,5 0 7,03 6 filhos (as) em diante 8 0 13 Total 205 100 13 100 7 100 185 100 Número de Filhos Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.1.3. Grau de Instrução No que diz respeito ao grau instrução, percebe-se que 29,84% do geral não concluíram o ensino fundamental e 24,60% cursaram o ensino médio completo (Tabela 15). Da mesma maneira ao geral, o grau de instrução dos inquilinos é de 28,76% com 109 PARTE 04 ensino fundamental incompleto e 26,11% com ensino médio completo, sendo significativo os sem instrução ou somente alfabetizado (9%). Já, os compradores concentram-se apenas entre o ensino fundamental completo (57,14%) e incompleto (42,86%). Os vendedores predominam no ensino fundamental incompleto (40%) e completo (20%), mas apresentam 13,33% somente alfabetizado ou com ensino médio completo. Provavelmente, o fato dos vendedores serem de uma faixa etária mais elevada (86,67% com idade superior a 50 anos), significa que não tiveram as mesmas oportunidades de educação das demais gerações. Tabela 15: Grau de instrução geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. Grau de Instrução Sem instrução Somente alfabetizado Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Superior Incompleto Superior Completo Pós-Graduação Outro NS/NR Total Geral V. abs. % Vendedores V. abs. % Compradores V. abs. % Locatários V. abs. % 18 6 7,26 2,42 1 2 6,67 13,33 0 0 0,00 0,00 17 4 7,52 1,77 74 29,84 6 40,00 3 42,86 65 28,76 43 17,34 3 20,00 4 57,14 36 15,93 28 11,29 0 0,00 0 0,00 28 12,39 61 24,60 2 13,33 0 0,00 59 26,11 2 2 2 2 10 248 0,81 0,81 0,81 0,81 4,03 100 0 0 0 0 1 15 0,00 0,00 0,00 0,00 6,67 100 0 0 0 0 0 7 0 0,00 0,00 0,00 0,00 100 2 2 2 2 9 226 0,88 0,88 0,88 0,88 3,98 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.1. 4. Ocupação profissional e Rendimentos Parte significativa dos inquilinos, compradores e vendedores (72,98%) tem ocupação profissional, encontrando-se empregado ou trabalhando por conta própria (Tabela 16). Os demais estão desempregados a procura de trabalho (9,27%) ou não trabalham (4,44%) e 12,10% são aposentados. No grupo dos vendedores, os dados revelam um número expressivo de aposentados (53,33%), em seguida 33,33% com alguma ocupação profissional e 6,67% que não trabalha, condizendo com a faixa etária predominante. Em contrapartida, é expressiva entre os compradores (71,43% do total) a 110 PARTE 04 quantidade de trabalhadores por conta própria (42,86%) e empregados (28,57%). Entre os inquilinos uma parcela relevante está empregada (58,85%), revelando certa estabilidade no que diz respeito aos rendimentos mensais e ao nível de comprometimento da renda familiar com o aluguel (Tabela 36). Tabela 16: Ocupação profissional do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. Ocupação Profissional Aposentado Empregado Trabalho por conta própria Desempregado/ procura de trabalho Não trabalha NR Total Geral V. abs. % 30 12,10 140 56,45 41 16,53 23 9,27 11 3 248 4,44 1,21 100 Vendedores Compradores Locatários V. abs. % V. abs. % V. abs. % 53,33 14,29 9,73 8 1 22 20,00 28,57 58,85 3 2 133 13,33 42,86 16,37 2 3 37 0 1 1 15 0,00 6,67 6,67 100 1 0 0 7 14,29 0,00 0,00 100 22 11 1 226 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. A fonte de renda principal de modo geral (Tabela 17) é do tipo trabalho com carteira assinada (41,13%), seguido do trabalho por conta própria (22,18%). Semelhante ao geral, 42,92% dos inquilinos obtém sua renda principal por meio do trabalho com carteira assinada. Entretanto, parte relevante trabalha por conta própria (23,01%), tendo certa instabilidade no que diz respeito aos rendimentos mensais e, em extensão, ao comprometimento da renda familiar com o aluguel. E em menor proporção, mas não desprezível, por meio da aposentadoria (10,62%). Dentre os compradores, o rendimento principal é adquirido por meio do trabalho com carteira assinada (28,57%) e sem carteira assinada (28,57%). Levanta-se a hipótese de que o trabalho com carteira assinada e aposentadoria (14,29%) possibilita maior estabilidade para poupar ou financiar a compra de imóveis. Em contrapartida, 53,33% dos vendedores tem como rendimento principal a aposentadoria, estando condizente com a faixa etária predominante. 111 9,73 4,87 0,44 100 PARTE 04 Tabela 17: Fonte de Renda Principal do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. Geral Vendedores Compradores Locatários Fonte de Renda Principal V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % Trabalho com carteira 102 41,13 3 20,00 2 28,57 97 42,92 assinada Trabalho sem carteira 18 7,26 0 0,00 2 28,57 16 7,08 assinada Trabalho por conta 2 13,33 1 14,29 52 23,01 55 22,18 própria (autônomo) 33 13,31 8 53,33 1 14,29 24 10,62 Aposentadoria 4 1,61 0 0,00 0 0,00 4 1,77 Bolsa Família 25 10,08 0 0,00 0 0,00 25 11,06 Outro benefício 8 3,23 6,67 14,29 2,65 Nenhuma 1 1 6 3 1,21 6,67 0,00 0,88 NS/ NR 1 0 2 Total 248 100 15 100 7 100 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Com relação aos rendimentos pessoais do geral (248 questionários) nos submercados (Tabela 18) há certa concentração entre meio salário mínimo (S.M.) e um salário mínimo (47,37%). Ao somarmos a média geral de até dois S.M. temos porcentagem considerável de 83,81%, equivalendo ao rendimento pessoal dos moradores de Mãe Luiza (91,06% recebem até dois salários mínimos). Em relação aos rendimentos mensais dos inquilinos, a maior concentração, praticamente a metade, está na faixa de meio S.M. a um S.M. (49,12%), seguido do intervalo de um a dois salários mínimos (29,20%). Considerando os referidos intervalos, podemos afirmar que 85,84% dos inquilinos recebem até dois S.M.. Ao compararmos com a ocupação, percebemos que os desempregados e os que não trabalham informaram o seu rendimento, em virtude do momento da pesquisa está recebendo seguro desemprego. Em menor proporção, 71,43% dos compradores recebem em média até dois salários mínimos. No caso dos vendedores, apenas um não possui rendimento mensal, sendo contabilizados na análise catorze vendedores. Dentre estes, 28,57% recebem entre meio a um salário mínimo, se diferenciando o seguinte (21,43%) por receber em torno de três a quatro S.M.. Entretanto, 57,14% tem um rendimento mensal de até dois salários mínimos. 112 PARTE 04 Tabela 18: Rendimento Pessoal Mensal do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. Rendimento Mensal Renda ≤1/2 S.M 1/2 S.M. ˂ Renda ≤ 1 S.M. 1 S.M. ˂ Renda ≤ 2 S.M. 2 S.M. ˂ Renda ≤ 3 S.M. 3 S.M. ˂ Renda ≤ 4 S.M. 4 S.M. ˂ Renda ≤ 5 S.M. Renda > 5 S.M. NR/ NS Sem Rendimento Total Geral V. abs. 21 Vendedores Compradores Locatários % V. abs. % V. abs. % V. abs. 8,50 14,29 2 2 28,57 17 117 47,37 69 27,94 13 5,26 10 4,05 2 0,81 5 10 0 247 2,02 4,05 0 100 4 2 0 3 0 2 1 0 14 28,57 14,29 0,00 21,43 0,00 14,29 7,14 0 100 % 7,52 2 28,57 111 49,12 1 14,29 66 29,20 0 0,00 13 5,75 1 14,29 6 2,65 0 1 0 0 7 0,00 14,29 0,00 0 100 2 2 9 0 226 0,88 0,88 3,98 0 100 Total Mãe Luiza V. abs. % 1.730 42,47 1.446 35,50 533 13,09 90 2,21 42 1,03 62 170 4.073 1,52 4,17 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010, e IBGE (2010). A respeito de obter algum tipo de renda auxiliar (Tabela 19), 57,14% (4 dos entrevistados) dos compradores informaram complementar o rendimento através do Programa Bolsa Família (75%) e aluguel de imóveis (25%). Em contrapartida, dentre os vendedores - apenas 40%, 6 dos entrevistados - tem como renda auxiliar o aluguel de imóveis (33,33%), o recebimento de pensão (33,33%) e através da venda de alimentos (33,33%). Dentre os inquilinos, 37,17% (84 dos entrevistados) complementam a renda por meio do Programa Bolsa Família (58,33%). Nota-se, também, através do aluguel de imóveis (7,14%), os locatários informaram que possuem imóvel no próprio bairro, mas preferem morar de aluguel devido o seu imóvel não atender as necessidades pessoais, como: a) problemas relacionados à infraestrutura da edificação; b) o dimensionamento; e/ou, c) a questão da localização do imóvel. 113 PARTE 04 Tabela 19: Fonte de Renda Auxiliar do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários. Geral Vendedores Compradores Locatários V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % 9 9,38 2 33,33 7,14 1 25,00 Aluguel de imóveis 6 52 54,17 0 0,00 3 75,00 58,33 Bolsa Família 49 11 11,46 2 33,33 0 0,00 10,71 Pensão 9 22 22,92 2 33,33 0 0,00 23,81 Outros 20 2 2,08 0 0,00 0 0,00 0,00 NR/NS 0 Total 96 100 6 100 4 100 84 100 Fonte de Renda Auxiliar Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Sobre o rendimento familiar, um número representativo dos familiares dos inquilinos (57,08%) colabora financeiramente. Como também, dos compradores (85,71%) e dos vendedores (46,67%). Dentre estes, predomina apenas uma única pessoa que ajuda no rendimento familiar - 78,29% dos inquilinos; 57,14% dos vendedores; e, 83,33% dos compradores. Deste modo, o rendimento familiar dos locatários (Tabela 20) concentra entre um a dois salários mínimos (35,85%), seguido do intervalo de dois a três S.M. (23,01%) e até um S.M. (24,78%). Chama atenção a predominância de 3,54% das famílias com rendimento superior a cinco salários mínimos. Considerando a faixa de até dois S.M., pode-se afirmar que 60,62% das famílias dos locatários estão neste intervalo. Entre os vendedores, a renda familiar prevalece entre três a quatro salários mínimos e maior de cinco S.M., correspondendo 40% dos vendedores. Em contrapartida, entre os compradores 28,57% possui rendimento familiar entre dois a três S.M. e maior de cinco salários mínimos. Esses dados revelam maiores rendimentos por parte das famílias dos compradores. Como era de se esperar, os rendimentos dos vendedores são superiores aos dos compradores e dos locatários. Por sua vez, o rendimento familiar desses últimos são inferiores aos dos compradores. Tal realidade aponta para a dificuldade dos inquilinos adquirirem as suas moradias. No geral, o rendimento familiar predomina entre 1 a 2 S.M. (33,87%), tendo um número significativo com renda inferior a meio salário mínimo (2,42%), estando condizente com o rendimento familiar do bairro, de acordo com o IBGE (2010) (Tabela 8). 114 PARTE 04 Tabela 20: Rendimento familiar mensal do geral e dos vendedores, dos compradores e dos locatários e dos moradores de Mãe Luiza. Rendimento Familiar Renda ≤1/2 S.M 1/2 S.M. ˂ Renda ≤ 1 S.M. 1 S.M. ˂ Renda ≤ 2 S.M. 2 S.M. ˂ Renda ≤ 3 S.M. 3 S.M. ˂ Renda ≤ 4 S.M. 4 S.M. ˂ Renda ≤ 5 S.M. Renda > 5 S.M. NR/ NS Sem Rendimento Total Geral Vendedores Compradores Locatários V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % 6 2,42 0 0,00 0 0,00 6 2,65 54 21,77 3 20,00 1 14,29 50 22,12 84 33,87 2 13,33 1 14,29 81 35,84 56 22,58 2 13,33 2 28,57 52 23,01 21 8,47 3 20,00 0 0,00 18 7,96 3 1,21 0 0,00 1 14,29 2 0,88 13 5,24 3 20,00 2 28,57 8 3,54 11 4,44 2 13,33 0 0,00 9 3,98 0 0 0 0 0 0 0 248 100 15 100 7 100 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.2. Mobilidade Espacial Segundo Abramo & Faria (1998, p. 431), as decisões de deslocamento residencial intraurbano, ocorre a partir de determinadas condições individuais (ciclo de vida familiar, mobilidade social), e estruturais (relação de renda/ emprego e disponibilidade de crédito imobiliário), vindo a determinar a direção do fluxo que é definido pelo grau de satisfação/ insatisfação com o local de origem/ destino, interligado aos processos de valorização/ desvalorização do estoque, incidindo na estrutura social da vizinhança. Ademais, as taxas de mobilidade variam de acordo com faixa etária, renda e condição de ocupação do imóvel anterior/ atual, impondo diferenças nas exigências/ preferências por localização e/ou imóvel dos distintos segmentos do mercado, em diversas fases do ciclo de vida. A partir dessa constatação, avaliamos a mobilidade e as relações comunitárias dos inquilinos, dos vendedores e dos compradores20. Em relação aos vendedores foram considerados os residentes no bairro de Mãe Luiza ou no imóvel colocado à venda no momento da pesquisa, isto é, 86,66% ou treze questionários, do universo de quinze questionários. Para tanto, analisamos: i) o tempo de permanência em Mãe Luiza; ii) os motivos de mudança do domicílio; iii) o deslocamento para escola e para o trabalho (origem-destino); iv) o local de realização das compras diárias, vestuários, eletrodomésticos e materiais de construção; v) o deslocamento para prática do lazer e 20 Como mencionado anteriormente, os dados referentes aos compradores e vendedores são apenas qualitativos, devido ao número reduzido de questionários aplicados. 115 PARTE 04 participação de grupos culturais e religiosos; e, vi) o principal meio de transporte utilizado. 11.2.1. Tempo de permanência em Mãe Luiza No mercado de aluguel (Tabela 21), destaca em primeiro lugar os locatários com apenas 5 anos de moradia no bairro (23,45%). Em menor proporção os residentes entre 25 a 30 anos (14,60%), seguido dos moradores entre 20 a 25 anos (12,39%). A pesquisa revelou de maneira expressiva moradores residentes há mais de 40 anos no bairro (10,62%). Dentre os inquilinos, 80,53% mudam de domicílio a cada três anos, sendo que 71,42% transferem de residência num prazo de 12 meses. Dos 130 locatários que se mudam nesse prazo, 55,38% aluga outro imóvel em até quatro meses, seguido de 23,85% entre 9 a 12 meses e 20,77% entre 5 a 8 meses. E ainda, antes de residirem no imóvel atual, 82,30% dos inquilinos morava no próprio bairro, sendo representativa a rotatividade de imóveis. Em menor expressividade, vieram da Zona Leste (3,98%), Zona Norte (3,09%) e Zona Sul (1,32%). Tabela 21: Tempo de moradia em Mãe Luiza dos vendedores, compradores e locatários. Tempo de Moradia em Mãe Luiza Tempo ≤ 5 anos 5 anos ˂ Tempo ≤ 10 anos 10 anos ˂ Tempo ≤ 15 anos 15 anos ˂ Tempo ≤ 20 anos 20 anos ˂ Tempo ≤ 25 anos 25 anos ˂ Tempo ≤ 30 anos 30 anos ˂ Tempo ≤ 35 anos 35 anos ˂ Tempo ≤ 40 anos Tempo > 40 anos NR/ NS Total Vendedores V. abs. % 0,00 0 0,00 0 0,00 0 15,38 2 7,69 1 0,00 0 0,00 0 23,08 3 38,46 5 15,38 2 13 Compradores V. abs. % 2 28,57 2 28,57 0 0,00 0 0,00 0 0,00 2 28,57 0 0,00 0 0,00 1 14,29 0 0,00 7 100,00 100,00 Locatários V. abs. % 23,45 53 7,96 18 6,19 14 9,29 21 12,39 28 14,60 33 5,75 13 4,87 11 10,62 24 4,87 11 226 100,00 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. A permanência por parte dos inquilinos no próprio bairro é motivada significativamente por ter nascido em Mãe Luiza (25,71%), isto é, por ter adquirido no decorrer dos anos afinidade com o bairro e com a vizinhança. Seguido da proximidade dos familiares que residem na localidade (17,55%), com representativo número de 116 PARTE 04 parentes (85,40%) e amigos (72,57%) presentes na área. Em menor proporção por gostar do bairro (15,36%), a questão do casamento com moradores da localidade (8,78%) e a proximidade do trabalho (7,21%). Percebe-se que as relações familiares são representativas quando se trata da escolha do local de moradia. Dentre os vendedores, 38,46% residem na localidade há mais de quatro décadas. Em seguida, com 23,07%, entre 35 a 40 anos, e em menor intervalo de tempo, 15,38%, entre 15 a 20 anos. Dos vendedores residentes no imóvel colocado à venda, 45,45% residem na moradia há mais de 21 anos, estando o intervalo de tempo entre 3 a 6 décadas. Em seguida, com 27,27% com 16 a 21 anos e em menor intervalo de tempo 18,18% residindo no imóvel no máximo até cinco anos. Esses vendedores, antes de residirem no imóvel, 63,63% já moravam em Mãe Luiza e em menor proporção (9,09%) habitavam o entorno do bairro (Zona Leste). Esse tempo de moradia no bairro contribui para formação de laços de amizade, sendo verificado entre os entrevistados que 69,23% têm amigos no local. A relação de familiares morando no bairro (61,53%) também é representativa. Em geral, o motivo de residir em Mãe Luiza ocorreu pelo casamento com moradores da própria localidade e/ou por conta da proximidade do trabalho. Como a pesquisa de imóveis comprado teve como metodologia aplicar questionários apenas no conjunto de domicílios adquiridos nos últimos 12 meses, averiguamos que dentre os compradores, 42,85% residem no imóvel no intervalo de 6 meses, 28,57% entre 7 a 12 meses e 28,57% não residia no imóvel. Dos dois não residentes no imóvel, um informou que está reformando a edificação e atualmente mora de aluguel no próprio bairro. Do total, 57,14% moram no máximo 10 anos em Mãe Luiza, 28,57% entre 25 a 30 anos e 14,29% há mais de 40 anos. Apesar disso, dentre os entrevistados 14,28% não residiam no bairro, justificando a compra na localidade devido o valor do imóvel ser compatível com a renda familiar. Dos antigos moradores, a permanência no lugar é motivada por ter nascido na localidade (27,27%), tendo certa afinidade com a área e a vizinhança. Da mesma maneira, são representativos aqueles que se criaram em Mãe Luiza (18,18%) e os que residem devido à proximidade dos familiares (18,18%). Dentre os entrevistados, 85,71% possuem parentes e amigos (71,42%) morando no bairro. 117 PARTE 04 11.2.2. Motivos de mudança do domicílio Grande parte dos inquilinos (61,06%) antes de residir no imóvel atual morava de aluguel (Tabela 22). Tendo como principal justificativa para mudar de domicílio a necessidade de residir em imóvel com maior dimensionamento (17,07%) e com melhor infraestrutura (10,97%). Outros informaram que precisam residir próximo dos parentes (12,19%) e do próprio trabalho (5,48%). E demais, alegaram que o valor do aluguel é elevado em relação aos gastos familiares (7,31%), necessitando alugar imóvel compatível com a renda familiar, etc. Tabela 22: Trajetória residencial antes de residir no imóvel da pesquisados vendedores, compradores e locatários. Geral Vendedores Compradores V. abs. % V. abs. % V. abs. % 71 28,86 38,46 71,43 Próprio 5 5 143 58,13 23,08 28,57 Alugado 3 2 8 3,25 0,00 0,00 Cedido 0 0 1 0,41 0,00 0,00 Outro 0 0 23 9,35 5 38,46 0,00 NR 0 Total 246 100 13 100 7 100 Trajetória Residencial Locatários V. abs. % 26,99 61 61,06 138 3,54 8 0,44 1 7,96 18 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Em menor proporção, 26,99% residiam em casa própria. Convém ressaltar que 21,53% moravam com parentes e mudaram de imóvel em decorrência do casamento. Outro motivo de mudança mencionado foi à necessidade de residir em imóvel com maior dimensionamento (13,84%). Como também, por problemas familiares (13,84%) e a necessidade de adquirir independência familiar (10,76%). De maneira menos representativa, 3,07% informou que precisou vender o imóvel onde residia anteriormente. Destacam-se os inquilinos que moraram em imóveis cedidos (3,45%), dentre estes o principal motivo da mudança foi à necessidade de residir em imóvel com maior dimensionamento (33,33%). Outras causas representativas foram: separação; casamento; proximidade do trabalho; infraestrutura do imóvel; dentre outros. Antes de morar na residência da pesquisa, grande parte dos inquilinos não visitaram outros imóveis para alugar (68,58%). Apenas, 9,29% visitaram dois imóveis e em menor proporção apenas um único imóvel (7,52%). Dos que visitaram outros 118 PARTE 04 imóveis (31,41% do total dos inquilinos), a procura predominou no próprio bairro (69,01%). Somente 7,04% procuraram fora do bairro e 9,85% tanto em Mãe Luiza quanto em outras localidades. Dos que pesquisaram os imóveis (31,42%), mais da metade passou no máximo uma semana (53,09%) a procura da atual residência, seguido daqueles que pesquisaram entre uma a quatro semanas (19,02%). Os dados detectaram que 72,11% dos locatários passam no máximo um mês a procura de um novo imóvel para residir. Chama a atenção que 69,91% dos inquilinos permaneceriam no bairro caso tivesse condições de adquirir imóvel, devido os seguintes motivos: a) gostar do bairro (29,87%); b) proximidade dos familiares (15,15%); d) centralidade do bairro (12,98%); e) proximidade dos principais centros comerciais e de serviços (7,79%); dentre outros motivos. Contudo, registramos número representativo dos que não pretendem comprar imóvel em Mãe Luiza (29,64%): a) por ser proprietário de imóvel em outra localidade (18,30%); b) por não gostar do bairro (14,08%); c) porque pretende adquirir imóvel em outro município; d) por questões de insegurança/ violência (12,67%); e) por já ser proprietário de imóvel em Mãe Luiza (9,85%); etc. No caso dos vendedores, somente 38,46% residiam em imóvel próprio e 23,07% em imóvel alugado. Dos residentes no imóvel próprio, a metade não pretende continuar morando em Natal (50%). Já, 30% quer residir na Zona Oeste ou Norte do município, apenas 10% tem a intensão de permanecer no próprio bairro e outros 10% não definiu o novo local que irá residir. Ao analisarmos o motivo da venda do imóvel, constatamos que 23,52% deseja sair da edificação para morar próximo dos familiares. Como também, devido a problemas familiares (17,64%), a necessidade de mudar de bairro (11,76%), a questão da insegurança/ violência (11,76%) no bairro, a ausência de rendimento pessoal/ familiar para manutenção do imóvel (5,88%), etc. Convém ressaltar que 71,42% dos compradores já residiam em Mãe Luiza. Em menor proporção, em bairros do entorno - basicamente Zona Leste (14,28%) – e localidades da Zona Norte (14,28%). Em geral, 14,28% dos compradores moravam no próprio imóvel não chegando a visitar outros domicílios. Em contrapartida, 57,14% passou uma semana procurando pelo domicílio, chegando a visitar apenas o imóvel da compra (85,71%). Dos que visitaram mais de quatro imóveis (14,28%), a procura ocorreu somente no bairro de Mãe Luiza. Os principais motivos que levaram os novos proprietários adquirirem o imóvel se deu pela proximidade dos familiares e para não pagar mais aluguel. Como também, 119 PARTE 04 em menor proporção, a intensão de alugar o imóvel para aumentar a renda familiar, a proximidade dos amigos, à oportunidade/ facilidade de compra, etc. 11.2.3. Origem-destino escola e trabalho A pesquisa contabilizou uma média de três pessoas por domicílio do total de 757 moradores dos imóveis alugados (226 residências). Dentre estes, 266 são estudantes que frequentam as escolas do próprio bairro (66,54%) e em menor expressividade dos bairros vizinhos como Petrópolis (17,66%), Cidade Alta (6,01%) e Tirol (3,75%). A respeito dos inquilinos que possuem alguma ocupação profissional (75,22% dos empregados ou trabalhadores por conta própria), 61,99% trabalham fora do bairro, 28,07% no próprio bairro e 9,94% em locais indeterminados. Destacando entre os trabalhadores fora do bairro, um número expressivo (50%) com ocupação na própria zona administrativa de Mãe Luiza (Zona Leste), seguido da Zona Sul (30,19%). Em menor proporção no parque hoteleiro da Via Costeira (7,55%), localidade situada próxima a Mãe Luiza. Pelo número reduzido de imóveis à venda – 15 questionários aplicados, constatamos que há uma variação no número de moradores por domicílio, isto é, registramos edificações com única pessoa e, outras, com mais de sete moradores, tendo uma média de quatro pessoas por imóvel. Dentre os 51 residentes, 17 estudam nas escolas do próprio bairro (31,25%) e em menor proporção no bairro de Tirol (18,75%). Em contrapartida, a pesquisa contabilizou 12,5% de estudantes frequentando as escolas fora do município de Natal. Sobre a relação origem-destino (casa-trabalho) dos vendedores, que possuem alguma ocupação profissional (33,33%), 40% trabalham em Mãe Luiza e com a mesma porcentagem (20%) na Zona Sul de Natal, no município de Parnamirim – este pertencente à Região Metropolitana de Natal – e em locais indeterminados. Como mencionado anteriormente, dentre os sete imóveis comprados somente em cinco residem pessoas. Deste modo, a pesquisa contabilizou 28 moradores no total dos imóveis, tendo uma média de 3,6 pessoas por edificação, com destaque para um imóvel com seis residentes. Dentre os moradores, nove são estudantes, com 55,55% frequentando as escolas de Mãe Luiza e bairros vizinhos, como Cidade Alta (33,33%) e Petrópolis (11,11%). Sobre os compradores que possuem alguma ocupação profissional 120 PARTE 04 (71,43% correspondem aos empregados e aos trabalhadores por conta própria), 80% trabalham fora do bairro nas Zonas Leste e Sul e 20% em locais indeterminados. A proximidade de Mãe Luiza a centros de comércio/serviço possibilita acessos diferenciados a núcleos de emprego e renda, bolsões de serviços públicos (escolas, hospitais, supermercados, etc.) reduzindo o custo deslocamento. A maioria dos moradores que trabalham e/ou estudam no próprio bairro e/ou localidades vizinhas tiveram como um dos motivos para escolha da moradia à lógica da localização do que o produto em si, apropriando-se do bairro devido às vantagens e os recursos disponíveis na localidade/ entorno. 11.2.4. Local de realização das compras diárias, vestuários, eletrodomésticos e materiais de construção. Em relação ao descolamento dos inquilinos para adquirir os alimentos diários, 81,42% realizam as compras em mercearias e minimercado do bairro (Tabela 23), apesar dos preços das mercadorias, na maioria das vezes, serem elevados em relação aos principais supermercados da cidade, não compensando a despesa com deslocamento para adquirir produtos alimentícios nos bairros vizinhos. De modo representativo, 66,37% dos inquilinos que compram material de construção para manutenção dos imóveis adquirem a mercadoria no próprio bairro (70%), fora do bairro (27,33%) e em qualquer localidade (2,67%). A respeito das compras realizadas fora do bairro, certos locatários informaram comprar na Zona Norte, devido o preço ser mais acessível. Entretanto, parcela significativa dos inquilinos (28,32%) não compra material de construção, sendo o motivo justificado pela não restituição do valor gasto por parte dos locadores. 121 PARTE 04 Tabela 23: Local de compras diárias, roupa, eletrodoméstico e material de construção dos vendedores, compradores e locatários. Material de Construção Eletrodoméstico Roupa Diária Compras Localidades No próprio bairro Fora do bairro No próprio bairro/ Fora do bairro Doação NR Total No próprio bairro Fora do bairro No próprio bairro/ Fora do bairro Doação NR Total Geral V. abs. % 199 80,89 36 14,63 5 2,03 1 5 246 36 193 0,41 2,03 100 14,63 78,46 7 2,85 5 5 2,03 2,03 246 No próprio bairro Vendedores V. abs. % 61,54 8 23,08 3 0 0 2 13 2 9 0,00 0,00 15,38 100 15,38 69,23 0,00 Compradores V. abs. % 100,00 7 0,00 0 0 0 0 7 0 6 0,00 15,38 100 0 0 2 13 100 1 0 0 7 18 7,32 1 7,69 Fora do bairro No próprio bairro/ Fora do bairro 208 84,55 9 69,23 3 1,22 Doação NR 6 11 246 115 46 2,44 4,47 100 46,75 18,70 5 2,03 64 16 246 26,02 6,50 100 Total No próprio bairro Fora do bairro No próprio bairro/ Fora do bairro Não compra NR Total 0 0 3 13 5 4 1 0 3 13 0,00 0,00 23,08 100 38,46 30,77 7,69 0,00 23,08 100 0,00 0,00 0,00 100 0,00 85,71 14,29 Locatários V. abs. % 81,42 184 14,60 33 5 1 3 226 34 178 2,21 0,44 1,33 100 15,04 78,76 2,65 2,21 1,33 100 6 5 3 226 0 0,00 17 7,52 7 100,00 192 84,96 0 0 0 7 5 1 0 0 1 7 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100 71,43 14,29 0,00 0,00 14,29 100 100 1,33 3 6 8 226 105 41 4 64 12 226 2,65 3,54 100 46,46 18,14 1,77 28,32 5,31 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Sobre a compra de vestuário, dos 94,46% inquilinos que adquirem roupas, 81,65% decidem comprar fora do bairro, basicamente nos principais centros comerciais de Natal (Cidade Alta e Alecrim). Ambos os bairros estão situados na Zona Leste, distando o primeiro 3,2km de Mãe Luiza e o segundo 6,7km. Da mesma maneira, a obtenção de eletrodomésticos, dos 93,80% inquilinos que compram 90,56% resolvem adquirir fora do bairro, principalmente na Cidade Alta e no Alecrim. Em menor expressividade, a compra de eletrodomésticos no próprio bairro (8,01%) é obtida pelo 122 PARTE 04 comércio ambulante localizado no entorno do Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição. Já, os vendedores responderam que adquirem os alimentos diários no próprio bairro (61,53%). Sobre a compra de material de construção, estas ocorrem quase de maneira semelhante entre no próprio bairro (38,46%) e fora do bairro (30,76%). Contudo, as compras de vestuários são realizadas basicamente nos centros comerciais populares (69,23%) da Cidade Alta e do Alecrim. E ainda, nos mesmos centros comerciais realizam as compras de eletrodomésticos (69,23%) e em menor proporção (7,69%) no comércio ambulante de Mãe Luiza. Dentre os que compraram imóveis recentemente, 100% dos moradores, afirmaram obter alimentos diários no próprio bairro, pois não compensa a despesa com deslocamento para adquirir produtos alimentícios na vizinhança. Entretanto, 100% dos entrevistados compram eletrodomésticos fora de Mãe Luiza, particularmente na Cidade Alta e Alecrim. Sobre a compra de vestuário, 85,71% relata que compra fora do bairro e 14,28% tanto em Mãe Luiza quanto fora. E ainda, o material de construção é adquirido com maior frequência no próprio bairro (71,42%) e em menor proporção fora do bairro (14,28%), principalmente na Zona Norte de Natal, pois os preços dos produtos são mais acessíveis. 11.2.5. Deslocamento para prática do lazer e participação de grupos culturais e religiosos As decisões de deslocamento para o lazer entre os inquilinos predominam no próprio bairro (58,40%), seguido de 35,84% da necessidade de moverem-se para fora do bairro e numa proporção bem menor de realizar ambos os deslocamentos (2,21%). Dentre a soma dos dois últimos deslocamentos mencionados (total 38,05%), decorre sobretudo na Zona Leste (33,72%), isto é, no entorno de Mãe Luiza com a origemdestino para as praias do entorno e os bairros de Tirol, Alecrim, Rocas, etc. Posteriormente, para os bairros da Zona Norte (25,58%), municípios da Região Metropolitana de Natal (13,95%) e Zona Sul (11,62%). Estes últimos deslocamentos tem como destino a praia ou residências de parentes e/ou amigos. O pequeno número de inquilinos (18,58%) que participa de grupos religiosos frequenta as instituições religiosas de Mãe Luiza (61,90%) e as do entorno (Zona Leste) do próprio bairro (30,95%). E ainda, numa menor proporção os 4,86% dos locatários 123 PARTE 04 integram-se aos grupos culturais, tanto em Mãe Luiza (72,72%) quanto na Zona Leste (18,18%). Dentre os vendedores, os deslocamentos relacionados ao lazer prevalecem no próprio bairro (53,84%). Já, o realizado fora do bairro (30,76%) ocorre principalmente para as praias do entorno de Mãe Luiza e demais orla do município, para o bairro de Lagoa Nova e para localidades indeterminadas pelos entrevistados. Dentre os 13 entrevistados, apenas três participam de algum grupo religioso no próprio bairro de Mãe Luiza e um de algum grupo cultural na Zona Leste da cidade. A prática de atividades direcionadas ao lazer entre os compradores predomina fora do bairro 57,14%, com deslocamento as praias do entorno (Praia do Meio), Zona Norte e Oeste e municípios da Região Metropolitana de Natal (Parnamirim e Extremoz) por ter número significativo de amigos e/ou parentes nestas áreas, realizando deslocamentos constantes para visitá-los. De maneira menos representativa, a prática do lazer no próprio bairro (28,57%). Provavelmente, a procura das atividades de lazer fora de Mãe Luiza pode ocorrer devido os equipamentos de lazer e de atividades culturais da localidade não possuírem infraestrutura satisfatória para atender as necessidades dos moradores, acarretando no deslocamento por parte daqueles que possuem renda suficiente para usufruir do lazer de outras áreas da cidade. A respeito de atividades relacionadas a grupos religiosos, apenas 14,28% frequenta no próprio bairro. E, nenhum dos compradores participa de grupos culturais. 11.2.6. Principal meio de transporte utilizado Grande número dos inquilinos (73,89%) utiliza o coletivo/ônibus/alternativo como principal meio de transporte (Tabela 24), em menor proporção a moto (8,41%), o deslocamento a pé (5,75%) e a bicicleta (5,31%). De maneira semelhante, um número expressivo de vendedores (69,23%) utiliza o coletivo/ ônibus/ alternativo e numa menor escala o carro particular (7,69%) e a moto (7,69%). Sobre os compradores, 57,14% relata que utiliza frequentemente o coletivo/ ônibus/ alternativo. Em menor proporção, o deslocamento a pé (28,57%), seguido do uso do carro particular (14,28%). 124 PARTE 04 Tabela 24: Principal meio de transporte utilizado pelos vendedores, compradores e locatários. Geral Vendedores Compradores Locatários V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % 5,75 A pé 15 6,10 0,00 28,57 13 0 2 Bicicleta 12 4,88 0,00 0,00 5,31 0 0 12 Carro 9 3,66 7,69 14,29 3,10 1 1 7 Coletivo/ônibus/alternativo 180 73,17 69,23 57,14 167 73,89 9 4 Moto 20 8,13 7,69 0,00 8,41 1 0 19 Transporte de terceiros 4 1,63 0,00 0,00 1,77 0 0 4 Táxi 2 0,81 0,00 0,00 0,88 0 0 2 NR 4 1,63 15,38 0,00 0,88 2 0 2 Total 246 100 13 100 7 100 226 100 Meio de Transporte Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. A predominância do deslocamento por meio do transporte coletivo e não a pé, pode ser justificada por circular no interior do bairro de Mãe Luiza três linhas de ônibus, basicamente, nas vias João XXIII e Guanabara. Essas linhas permitem a circulação para as Zonas Leste, Sul e Oeste da cidade. Apesar de não possuir uma linha direta para Zona Norte, o sistema de transporte coletivo de Natal fornece aos usuários o Passe Livre, isto é, a possibilidade de trocar de coletivo em qualquer parada de ônibus pagando somente uma passagem, permitindo, assim, deslocamento para diversas áreas que circulam transporte público. 11.3. Funcionamento do mercado imobiliário informal em Mãe Luiza Ao analisarmos a composição do mercado secundário residencial em Mãe Luiza (Figura 17), constamos o predomínio de imóveis alugados (91%, valor absoluto 226), seguido dos imóveis à venda (6%, valor absoluto 15) e em terceiro imóveis comprados (3%, valor absoluto 7). Esse número inexpressivo do mercado de compra e venda (9%) no bairro justifica-se pelos seguintes aspectos: i) o estrutural, relacionado ao poder de compra dos pobres, que não conseguem adquirir imóveis no mercado imobiliário informal via compra e precisam alugar sua moradia; e, ii) o especulativo, referente à oportunidade dos proprietários de residências para fins de aluguel, sobretudo nas áreas próximas a infraestrutura e serviços urbanos. 125 PARTE 04 Ao observarmos a Figura 17, verificamos a concentração dos questionários, principalmente, nas localidades do Alto da Colina (35,48%) e João XXIII (30,24%), áreas que ocupam 32,64% da totalidade do bairro (Tabela 25). Como mencionado anteriormente, o resultado pode ser justificado por não termos aplicado questionários no interior da localidade Caixa d’ Água e Sopapo e trecho da Rua Camaragibe, devido à presença constante de usuários/ vendedores de drogas ilícitas (Figura 16). Sobre os imóveis colocados à venda (60%) e os comprados no último ano (42,86%) ocorreu a concentração na localidade João XXIII, área com intenso comércio e serviço. Já, o mercado rentista é mais representativo no Alto da Colina (37,17%), seguido da localidade João XXIII (27,88%). Tabela 25: Número questionários aplicados por localidade e submercados. Imóveis Localidades Alto da Colina Barro Duro Caixa d Água Guanabara ou Aparecida João XXIII Sopapo Total Geral À Venda Comprado V. abs. % V. abs. % V. abs. % 88 35,48 3 20,00 1 14,29 18 7,26 0 0,00 0 0,00 27 10,89 2 13,33 0 0,00 27 75 13 248 10,89 1 6,67 1 14,29 Comprado + À Venda V. abs. % Alugado 4 0 2 V. abs. % 84 37,17 18,18 18 7,96 0,00 25 11,06 9,09 2 9,09 25 11,06 54,55 9,09 100 63 11 226 27,88 4,87 100 30,24 9 60,00 3 42,86 12 5,24 0 0,00 2 28,57 2 100 15 100 7 100 22 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Tomando como base as variáveis sobre o mercado imobiliário informal da Região Metropolitana do Recife desenvolvida por Lacerda & Melo (2009, p.113 a 139), analisamos as peculiaridades dos produtos comprados, vendidos e alugados a partir dos seguintes elementos: i) tipo de domicílio (casa, apartamento, cômodo/ vila, cômodo/vila com uso misto, quitinete, casa com uso misto); ii) topografia do lote (inclinado/ alagável, plano em área de risco, inclinado em área de risco, plano/ seco, inclinado/ seco); iii) número de pavimentos; iv) número de cômodos; v) dimensionamento dos imóveis; vi) tipo de material construtivo do piso, da parede e do teto; e, vii) estado de conservação. Essas variáveis justificaram a análise dos subitens: i) aspectos legais das negociações imobiliárias; ii) agentes do mercado e suas características informacionais; iii) mecanismos de fixação dos preços; e, iv) estimativa para fixação dos preços. 127 PARTE 04 11.3.1 Tipo de domicílio A pesquisa contabilizou, como se pode depreender da Tabela 26 e Figura 18, a predominância tanto de domicílios do tipo casa (49,19%) e do tipo cômodo/vila (41,13%). Em menor proporção 4,03%, as residências com uso misto (serviço e/ou comércio) e os lotes com duas casas (3,23%). Tabela 26: Tipo de domicílio. Imóvel Tipo de domicílios Geral Apartamento Casa Casa + Casa Cômodo/vila Cômodo/vila + Serviço/Comércio Casa + Serviço/Comércio Quitinete Total À Venda V. abs. % V. abs. 4 1,61 0 122 49,19 9 8 3,23 3 102 41,13 1 % 0,00 60,00 20,00 6,67 Comprado + Alugado À Venda V. abs. % V. abs. % V. abs. % 0 0,00 4 1,77 0 0,00 5 71,43 47,79 14 63,64 108 2 28,57 3 1,33 5 22,73 0 0,00 101 44,69 1 4,55 Comprado 1 0,40 1 6,67 0 0,00 10 4,03 1 6,67 0 0,00 1 248 0,40 100 0 15 0,00 100 0 7 0,00 100 1 4,55 1 0 22 4,55 0,00 100 0 0,00 9 3,98 1 226 0,44 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Semelhante ao geral, no mercado de aluguel é significativo o número de imóveis do tipo casa (47,79%) e do tipo cômodo/vila (44,69%). Em contrapartida, predomina no mercado de compra e venda a comercialização de casas (63,64%) e em menor proporção lotes com dois imóveis (22,73%). Dentre os imóveis à venda, prevalece o tipo casa (60%), seguido de lotes com duas residências (20%). E ainda, na mesma proporção 6,67%, cômodo/ vila, casa com comércio/serviço e cômodo/vila com ambientes para uso misto (comércio/serviço). Já, as residências adquiridas no último ano à demanda são de casas (71,43%) e lotes com duas unidades residências (28,57%). 128 PARTE 04 Nota-se a presença acentuada do tipo cômodo/ vila, principalmente, no mercado de locação, a partir do desmembramento da edificação/ lote transformando a unidade habitacional em unidade multifamiliar para acolher amigos/ parentes ou até mesmo para aumentar a renda familiar. Isto se deve em grande parte, à ausência de novas áreas a serem ocupadas no bairro. Contudo, constatamos que um número significativo de compradores (25%), vendedores (33,33%) e locatários (7,14%) complementam o rendimento mensal através da locação de imóveis tanto no bairro quanto em outras localidades (Figura 19). Tipo:Casa (compra) Localidade: Caixa d’Água Tipo: Vila (aluguel) Localidade: Alto da Colina Tipo: Casa + Serviço/Comércio (aluguel) Localidade: Alto da Colina Tipo: Apartamento (aluguel) Localidade: João XXIII Figura 19: Tipos de domicílios. Fonte: Acervo próprio, 2010. 130 PARTE 04 11.3.2 Topografia do lote Apesar da topografia do bairro ter inclinações acentuadas, no geral, os imóveis pesquisados situam-se em áreas inclinadas e livres de alagamento (83,47% inclinado/seco). De maneira semelhante, sobressaem as residências do mercado de aluguel em áreas inclinadas e seca (87,61%). Contudo, no mercado de compra e venda destaca-se imóveis em localidades plano/seco (40,91%) e inclinado/ seco (36,36%), sendo representativo o número de imóveis em áreas que alaga (4,55%). Em menor proporção, mas de maneira significativa existem edificações em lotes inclinadas em área de risco (9,09%). Dentre os imóveis à venda quase metade estão em localidades inclinado/seco (40%) e plano/ seco (40%). Em menor proporção, existem edificações à venda em área inclinada de risco (13,33%). Como também, dentre os comprados prevalece na área inclinado/seco (42,86%) e plano/seco (42,86%) e de modo representativo em locais plano em área de risco (14,29%), Figura 20. Tipo: Plano em área de risco (aluguel) Localidade: Alto da Colina Tipo: Inclinado (compra) Localidade: Guanabara ou Aparecida Figura 20: Topografia do lote. Fonte: Acervo próprio, 2010. 11.3.3 Número de pavimentos Verifica-se que as unidades habitacionais (Figuras 21 e 22), em geral, são térreas (92,74%), com apenas 6,85% de imóveis com dois pavimentos. Identifica-se no bairro edificações com três pavimentos (0,40%), estando estas contrárias às prescrições urbanísticas da AEIS referentes ao gabarito máximo (7,5m). No caso dos imóveis alugados, 94,69% são térreos e apenas 5,31% com dois pavimentos. Já, no mercado de compra/ venda é representativo o processo de verticalização, tendo 22,72% de imóveis 131 PARTE 04 com dois pavimentos e, em menor proporção, registrou-se 4,54%% de edificações com três pavimentos, favorecendo para o adensamento construtivo. Edificação alugada com apenas pavimento térreo. Localidade: Guanabara ou Aparecida. Edificação alugada com dois pavimentos. Localidade: Caixa d’ Água Edificação a venda com três pavimentos. Localidade: João XXIII Figura 21: Edificações com mais de dois pavimentos. Fonte: Acervo próprio, 2010. 132 PARTE 04 11.3.4 Número de cômodos No que se refere ao número de cômodos (Tabela 27), é predominante em todas as unidades habitacionais pesquisadas a quantidade de quatro cômodos (24,19%), seguido de edificações com mais de sete cômodos (19,35%) e com seis cômodos (15,73%). Tendo no mercado de compra e venda um número representativo de residências com mais de sete cômodos (54,55%), dentre estes registramos imóveis com até dezoito cômodos. Em contrapartida, predomina imóveis com quatro cômodos no mercado de aluguel (24,78%) e imóveis com cinco cômodos (19,47%). Em menor proporção, mas de modo significativo existem imóveis com único cômodo (1,33%), dois cômodos (9,29%) e três cômodos (12,83%), principalmente nas edificações do tipo cômodo/ vila. Esses dados apontam para uma proporção maior de unidades menores no mercado de aluguel. Tabela 27: Número de cômodos dos imóveis vendidos, comprados e locados. Imóveis Nº. de Cômodos Geral V. abs. 1 3 2 21 3 29 4 60 5 47 6 39 mais de 7 48 NR 1 Total 248 À Venda % V. abs. 1,21 0 8,47 0 11,69 0 24,19 1 18,95 1 15,73 2 19,35 10 0,40 1 100 15 % 0 0 0 4 3 2 12 1 22 Comprado V. abs. 0,00 0,00 0,00 18,18 13,64 9,09 54,55 4,55 100 % 1,33 9,29 12,83 24,78 19,47 16,37 15,93 0,00 100 Comprado + À Alugado Venda V. abs. % V. abs. % 0 0,00 1,33 3 0 0,00 9,29 21 0 0,00 12,83 29 4 18,18 24,78 56 3 13,64 19,47 44 2 9,09 16,37 37 12 54,55 15,93 36 1 4,55 0,00 0 22 100 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Ao considerarmos apenas os números de quarto (Tabela 28), dentre os imóveis locados predominam aqueles com um único quarto (59,29%), sendo do tipo cômodo/ vila (59,70%), ou seja, imóveis destinados a pessoas individuais ou famílias que, por não possuir rendimento familiar suficiente para entrar no mercado de compra e venda, optam por alugar uma residência menor compatível com a renda, tendo a esperança de um dia conseguir capitalizar e adquirir imóvel de acordo com a necessidade familiar. Em relação aos imóveis do mercado de compra e venda, prevalecem edificações com 134 PARTE 04 dois quartos no (31,82%), seguido com quatro quartos (22,73%), sendo do tipo casa e lotes com duas unidades habitacionais (casa + casa). Tabela 28: Número de quartos por domicílio. Imóveis Nº. de Quartos Geral V. abs. 0 2 1 139 2 75 3 25 4 5 5 1 NR 1 Total 248 À Venda % V. abs. 0,81 0 56,05 2 30,24 3 10,08 3 2,02 5 0,40 1 0,40 1 100 15 Comprado % V. abs. 0,00 2 13,33 134 20,00 68 20,00 22 33,33 0 6,67 0 6,67 0 100 226 % 0,88 59,29 30,09 9,73 0,00 0,00 0,00 100 Comprado + Alugado À Venda V. abs. % V. abs. % 0 0 0,88 2 5 22,73 59,29 134 7 31,82 30,09 68 3 13,64 9,73 22 5 22,73 0,00 0 1 4,55 0,00 0 1 4,55 0,00 0 22 100 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.3.5 Dimensionamento das edificações Como mencionado na metodologia, por questões de segurança coletamos o dimensionamento (metro quadrado - m²) de apenas 74,19% das edificações. Dentre estas, no geral (Tabela 29) registramos imóveis com área entre 10 e 20 m² (34,24%), seguido daqueles entre 20 e 30m² (20,65%) e entre 30 a 40m² (14,67%). Tabela 29: Dimensionamento da edificação. Dimensiona mento da edificação Área ≤ 10m² 10m² ˂ Área ≤ 20m² 20m² ˂ Área ≤ 30m² 30m² ˂ Área ≤ 40m² 40m² ˂ Área ≤ 50m² 50m² ˂ Área ≤ 60m² 60m² ˂ Área ≤ 70m² Área > 70m² Não identificado Total Imóveis Geral À Venda Comprado Comprado + À Alugado Venda V. abs. % V. abs. % 0 0,00 9 5,29 V. abs. 9 % 4,89 V. abs. 0 % 0,00 V. abs. 0 % 0,00 63 34,24 1 12,50 2 33,33 3 13,64 60 35,29 38 20,65 0 0,00 0 0,00 0 0,00 38 22,35 27 14,67 1 12,50 3 50,00 4 18,18 23 13,53 17 9,24 1 12,50 0 0,00 1 4,55 16 9,41 10 5,43 0 0,00 0 0,00 0 0,00 10 5,88 3 1,63 0 0,00 0 0,00 0 0,00 3 1,76 17 9,24 5 62,5 1 16,67 6 27,27 11 6,47 64 ---- 7 ---- 1 ---- 8 36,36 56 ---- 248 100 15 100 7 100 22 100 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 135 PARTE 04 No geral, em menor quantidade há presença de unidades habitacionais com dimensionamento inferior a 10 m² (4,89%), estando 100% presente no mercado de aluguel. Em contrapartida, com dimensionamento superior a 70m² (9,24%), 64,71% concentra no mercado de aluguel, 35,29% no mercado de compra e venda (Figura 23). Sendo representativo, imóveis à venda com dimensionamento entre 80 a 227 m² (62,50%), entre os imóveis comprados sobressai edificações com área menor entre 30 a 40m² (50%). Já, no mercado de aluguel entre 10 e 20 m² (35,29%), seguida dos imóveis entre 20 a 30m² (22,35%). Imóvel à venda com área > 70m² Localidade: João XXIII Imóvel alugado com área ≤ 10m² Localidade: Alto da Colina Figura 23: Imóveis com respectivos dimensionamentos. Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. A respeito de área livre no terreno, 85,89% das edificações ocupam parcialmente o lote (Figura 24), isto é, dentre estes 47,58% possuem quintal. Devido ao processo de ocupação do bairro, é possível observar que os lotes são, particularmente, estreitos nas áreas com ligação aos logradouros públicos e extensos no comprimento. No mercado de compra e venda, 81,81% das edificações não ocupam todo o lote, tendo no mínimo, área livre na parte posterior (72,72%). Em contrapartida no mercado de aluguel, 86,28% da edificação não ocupam todo o lote, mas apenas 45,13% possuem quintal. Podendo ser justificada as áreas livres pelo predomínio de unidades habitacionais do tipo casa e cômodo/vila, sendo representativo no segundo tipo área comum de acesso aos imóveis, como também, área de serviço comum e em alguns casos banheiros, possibilitando assim espaços livres no interior dos lotes. 136 PARTE 04 Imóvel a venda com área livre. Localidade: João XXIII Imóvel alugado com 100% do lote edificado. Localidade: Sopapo Figura 24: Nível de ocupação da edificação no lote. Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.3.6 Tipo de material construtivo (piso, parede e teto) No que se refere ao material das paredes (Tabela 30), 100% dos imóveis comprados e colocados à venda foram edificados em tijolo com argamassa de cimento (alvenaria). No caso do aluguel, o estuque foi utilizado em uma única edificação. Quanto ao revestimento do piso, dentre todos os imóveis predomina o uso do ladrilho/ cerâmica (62,10%), acompanhado do cimento queimado (36,69%) e ainda se registrou em baixa proporção o uso do cimentado e ladrilho/ cerâmica ao mesmo tempo (0,40%) e contrapiso (0,40%). Estes últimos materiais encontramos apenas no mercado aluguel. Apesar do valor do m² do ladrilho/cerâmica ser superior em relação aos demais revestimentos, dominou este tipo de material tanto nos imóveis de aluguel (62,33%), quanto nos comprados (57,14%) e vendidos (60%). Tabela 30: Tipo de material das paredes Tipo de material (parede) Imóveis Geral V. abs. 247 Alvenaria 1 Estuque Total 248 Comprado + À Venda V. abs. % V. abs. % V. abs. % 15 100 7 100 22 100 0 0 0 0 0 0 15 100 7 100 22 100 À Venda % 99,60 0,40 100 Comprado Alugado V. abs. 225 1 226 % 99,56 0,44 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Considerando todos os imóveis pesquisados, prevalece o uso da telha cerâmica (81,85%) como material utilizado nas coberturas das edificações (Tabela 31), e em 137 PARTE 04 menor proporção, mas de maneira representativa o uso da laje com telha do tipo cerâmica (10,89%). Os usos desses materiais garantem maior conforto térmico e no caso da laje valorização do imóvel. Nos imóveis comprados, 100% das edificações são cobertas com telha cerâmica, já nos vendidos sobressai 80% de telha cerâmica e 20% de laje com a telha cerâmica, favorecendo o uso desses últimos materiais para valorização do imóvel. Registramos no mercado de aluguel, 81,42% de telha de cerâmica, 10,62% de laje com telhado e 7,96%, além de outros materiais, como amianto (2,65%), telha de barro e forro de gesso (2,21%), apenas a laje (1,77%). Tabela 31: Tipo de material da cobertura. Imóveis Tipo de material (cobertura) Telha de cerâmica Laje com telhado de cerâmica Comprado + À Alugado Venda V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % V. abs. % 203 81,85 12 80,00 7 100,00 19 86,36 184 81,42 Geral À Venda Comprado 27 10,89 3 20,00 0 0,00 3 13,64 24 10,62 Amianto 6 2,42 0 0,00 0 0,00 0 0 6 2,65 Telha de cerâmica + forro de gesso 5 2,02 0 0,00 0 0,00 0 0 5 2,21 Laje 4 1,61 0 0,00 0 0,00 0 0 4 1,77 Telha de cerâmica + forro de madeira 1 0,40 0 0,00 0 0,00 0 0 1 0,44 Telha de cerâmica + forro PVC 1 0,40 0 0,00 0 0,00 0 0 1 0,44 1 0,40 0 0,00 0 0,00 0 0 1 0,44 248 100 15 100 7 100 22 100 226 100 Telha de barro e amianto Total Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.3.7 Estado de conservação Em relação à variável sobre o estado de conservação (Figura 25), definimos como bom os imóveis em condições de habitabilidade e salubridade, com: a) materiais para piso do tipo cerâmica/ ladrilho; e, b) banheiro localizado no interior da residência e com as instalações - no mínimo - de chuveiro e de sanitário. Do tipo regular, foram enquadrados aqueles imóveis numa razoável condição de habitabilidade e salubridade, com: a) um número reduzido de aberturas para aeração e insolação; b) presença de cimento queimado no piso; e, c) banheiro situado na área externa e/ou interna da edificação, sem cerâmica e/ou sem algum equipamento hidráulico (chuveiro ou 138 PARTE 04 sanitário). E ainda, do tipo precário foram considerados os imóveis sem nenhuma condição de habitabilidade e salubridade. Estado de Conservação: Regular (venda). Localidade: Guanabara ou Aparecida Estado de Conservação: Bom (alugado). Localidade: João XXIII Figura 25: Estado de Conservação dos imóveis. Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Deste modo, constatamos a presença de imóveis em razoável condição de habitabilidade (Tabela 32), predominando 62,10% no estado de conservação regular, seguido do bom (35,48%) e daqueles em péssimo estado para residir (2,02%), sendo a proporção do estado de conservação regular praticamente o mesmo no mercado de aluguel (61,95%) e do mercado de compra/venda (63,64%). Dentre os imóveis à venda, é reduzido o número de casas com bom estado de conservação (26,67%), em relação aos demais, pois registramos edificações sem acabamento (Figura 25), estando estas enquadradas como regular. Tabela 32: Estado de conservação dos imóveis. Imóveis Estado de Conservação Bom Regular Precária NR/ NS Total Geral À Venda Comprado V. abs. % V. abs. % V. abs. % 88 154 5 1 248 35,48 62,10 2,02 0,40 100 4 10 0 1 15 26,67 66,67 0,00 6,67 100 3 4 0 0 7 42,86 57,14 0,00 0,00 100 Comprado + Alugado À Venda V. % V. abs. % abs. 81 35,84 7 31,82 140 61,95 14 63,64 5 2,21 0 0,00 0 0,00 1 4,54 22 100 226 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 139 PARTE 04 11.3.8 Aspectos legais das negociações imobiliárias Devido a cada mercado apresentar especificidades referentes aos aspectos legais das transações imobiliárias optamos por analisar separadamente o mercado de aluguel do mercado de compra e venda. No mercado de locação, os dados evidenciaram que dos 226 imóveis alugados no bairro, 81,42% foram negociados sem respaldo de um documento legal conforme os utilizados nas transações formais, sendo realizado apenas contrato verbal. Dos que concretizaram algum tipo de contrato (16,81%), 42,10% assinaram contrato em papel com firma reconhecida e registrado em cartório, seguido de contrato em papel sem firma reconhecida (23,68%). Dentre os contratos com algum tipo de acordo, a duração dos acordos de locação variou entre prazos de 12 meses (55,26%) e de 6 meses (34,21%). Já, os que possuem contrato em papel, apenas 7,89% precisaram de fiador para adquirir o imóvel. É importante relatar sobre aqueles que realizaram a negociação por meio de documento desprovido de validade jurídica (23,68%). Segundo Lacerda (2010, p. 37), dados como esses, apesar de serem expressivos, não possibilitam generalizações, em termos de não formalização. Porém, é imprescindível registrar que locadores encontraram uma maneira de representar, por escrito, a transação imobiliária, produzindo um documento de defesa dos seus direitos frente aos compromissos assumidos pelos inquilinos. No decorrer da pesquisa percebemos nas negociações, a falta de algum tipo de comprovante que garante o pagamento do aluguel. Então, a partir do septuagésimo nono questionário, indagamos aos inquilinos sobre o recebimento do boleto de quitação da transação. Dos 148 questionários (65,48%) que aplicamos tal pergunta apenas 25, 67% recebe algum comprovante capaz de garantir a efetivação do pagamento do aluguel. Deste modo, apreende-se que é insuscetível mensurar as transações imobiliárias do mercado rentista informal uma vez que há ausência de registros e predominância de laços de confiança-lealdade, não estando submetidos os acordos a regras legalmente instituídas. Sendo assim, são criadas convenções próprias com suas características peculiares e arbitrárias como referencial de conduta (ou norma), resultante de um acordo (ou acerto) entre locatário e locador, que garantem a ordem de funcionamento do mercado. 140 PARTE 04 Em contraposição, 63,63% dos imóveis comercializados no mercado de compra e venda possuem contratos em papel com firma reconhecida pelo cartório e/ ou registrado pelo cartório e 27,27% realizam as negociações apenas com contrato verbal. Dentre os imóveis comprados, 57,14% é adquirido sem nenhuma documentação, apenas por meio do contrato verbal. Dos 42,86%, os contratos ocorreram com firma reconhecida e registrada em cartório. Estando 71,42% dos imóveis registrados em cartório e 42,85% possuem escritura pública facilitando a compra do imóvel por meio do financiamento. Apesar dessa facilidade, 71,42% dos compradores efetuaram o pagamento à vista, 14,28% parcelaram em até seis vezes diretamente com o proprietário e 14,28% realizaram troca entre imóveis. Entretanto, os “proprietários” dos imóveis à venda no período da pesquisa informaram que possuem documento jurídico que comprovará a transação a ser realizada (66,66%), através de contratos em papel com firma reconhecida e registrada pelo cartório. Dentre estes, 20% avisaram não possuir nenhuma documentação com valor jurídico capaz de comprovar a negociação, mas a grande maioria dos imóveis é registrado em cartório (80%) e possui escritura pública (53,33%). E ainda, um dos entrevistados possui carta datada que poderá utilizar na negociação, passando as posses para o novo adquirente. Segundo Lacerda (2009, p. 125), os referidos documentos (contrato verbal ou não verbal) possuem valor jurídico, portanto legal, permitindo ao adquirente comprovar a negociação – a posse da habitação (benfeitorias do terreno), mas não permite comprovar, na maioria dos casos, o domínio do terreno (a propriedade). Assim, a presença de escritura pública é essencial para validar a transferência da propriedade do bem imóvel e possibilitar a aquisição de cartas de crédito para obter financiamento bancário habitacional, principalmente em instituições públicas. 11.3.9 Agentes do mercado e suas características informacionais No mercado imobiliário informal de Mãe Luiza não atuam promotores imobiliários semelhantes ao mercado imobiliário formal, uma vez que parte significativa das moradias foi sendo construída ao longo do tempo pelo processo de autoconstrução. Nesse sentido contatamos praticamente a inexistência de corretores imobiliários. Segundo Lacerda & Melo (2009, p. 126) a fraca atuação dos corretores, provavelmente, decorre por esse tipo de intermediação onerar o valor final da 141 PARTE 04 negociação, diferenciando do mercado imobiliário formal que possui empresas responsáveis por esse tipo de intermediação, remuneradas a partir de certo percentual sobre o valor da venda/ aluguel. Em geral, dados referentes à locação do imóvel ocorreram por meio de amigos e parentes (83,62%) e em menor proporção pelo proprietário do imóvel (7,52%), placa no próprio imóvel (4,42%) e mediante indagação porta a porta (3,09%). Destaca-se que praticamente não há intermediários para alugar os domicílios, 89,82% dos inquilinos alugaram o imóvel diretamente com o locador e de maneira representativa através de terceiros (9,73%). No que se refere aos imóveis comprados, 42,85% confirmaram que a principal fonte de informação sobre o imóvel aos adquirentes é os amigos e os parentes, seguido do proprietário do imóvel (28,57%) e mediante indagação porta a porta (14,28%). Os dados revelaram que 14,28% dos compradores já residiam no próprio imóvel (14,28%). Em contrapartida, 93,33% dos imóveis à venda são anunciados tanto por meio da fixação de placa no próprio imóvel (64,70%) como em imobiliárias (17,64%), jornais (11,76%) e internet (5,88%). Segundo Lacerda (2009, p. 129), resultados semelhantes a este num primeiro momento constata-se certa incoerência entre os dados, na medida em que nos imóveis comprados predomina como fontes de informação os amigos e parentes e, nesta última – imóveis à venda -, as placas. Entretanto, muitas das placas podem ter sido vistas por parentes e amigos (Figura 26). Localidade: Caixa d´Água Localidade: Alto da Colina Figura 26: Imóveis com anúncios de comercialização. Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 142 PARTE 04 11.3.10 Mecanismos de fixação dos preços A respeito dos mecanismos de fixação dos preços, Lacerda (2009, p. 131) informa que, (...) à formação dos preços realizados no mercado – aluguel e compra – e aqueles fixados pelos vendedores que pretendem comercializar os seus imóveis, se reconhece a extrema complexidade da análise, uma vez que os produtos, (...), apresentam diferenciações substanciais. Tais diferenciações, aliadas a outras, como localização interna na área, as condições das infraestruturas e dos serviços urbanos, o fato de ser ZEIS ou não, induzem, como acontece no mercado formal, os consumidores a escolher o produto de um vendedor, o que confere a este último um certo controle sobre o preço. Dessa forma, os diferentes vendedores e locadores obtêm preços diversos, sendo o julgamento e a capacidade financeira dos compradores e dos futuros inquilinos, em relação às qualidades comparativas dos produtos diferenciados. De acordo com os dados levantados (Tabela 33 e Figura 27), os preços tanto no mercado rentista quanto no mercado de compra e venda apresentam variações, permitindo concluir que no mercado de aluguel predomina os valores entre R$100,00 e R$150,00 (35,84%), como também entre R$ 150,00 e menor que R$ 200,00 (28,76%). Convém ressaltar a presença de imóveis alugados entre R$ 50,00 e R$ 100,00 (6,19%) e acima de R$ 300,00 (5,74%). Essas alterações de valores dos imóveis podem ser justificadas pela variação da renda familiar dos locadores e locatários, pelo material do piso do imóvel, pela a infraestrutura do bairro e pela segurança do entorno. Tabela 33: Valor do aluguel. Valor do Aluguel V. abs. R$50,00 ≤ Valor ≤ R$ 100,00 14 R$100,00 ˂ Valor ≤ R$ 150,00 81 R$ 150,00 ˂ Valor ≤ R$ 200,00 65 R$ 200,00 ˂ Valor ≤ R$ 250,00 37 R$ 250,00 ˂ Valor ≤ R$ 300,00 16 R$300,00 ˂ Valor ≤ R$ 350,00 9 Valor > R$ 350,00 4 Total 226 % 6,19 35,84 28,76 16,37 7,08 3,98 1,77 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 143 PARTE 04 Considerando as variações de preços (maior, menor e médio) por metro quadrado de área construída em cada localidade do bairro (Tabela 34), constatamos que os preços mais elevados do aluguel é na localidade próxima a orla marítima (Barro Duro), seguida das áreas com melhor infraestrutura (Alto da Colina e João XXIII). Em contrapartida, esses locais possuem os menores preços do aluguel no bairro, devido ao mercado concorrencial colocar em circulação variados imóveis para alugar, de acordo com o tipo da edificação (casa, cômodo/vila, etc.), o tipo de material empregado no piso, parede e cobertura, etc. Os preços do aluguel podem, também, estar relacionados com a própria situação financeiro dos inquilinos, fazendo com que os locadores diminuam o valor. Tabela 34: Valor do aluguel por m² versus localidades do bairro. Localidades Alto da Colina Barro Duro Caixa d' Água Guanabara ou Aparecida João XXIII Sopapo Maior (R$) 18,66 20,38 12,00 14,37 16,66 8,33 Aluguel (Preço do m²) Menor (R$) 1,00 1,78 3,00 2,50 2,00 2,50 Média (R$) 9,83 11,08 7,50 8,44 9,33 5,42 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Fora o valor do aluguel, número significativo dos inquilinos pagam o abastecimento de energia e de água (49,55%) e, apenas o fornecimento de energia (36,72%). Em contrapartida, somente 8,84% dos inquilinos não pagam energia e água, pois estão incluídos no valor do aluguel. No caso específico da tipologia do imóvel, o valor/m² do apartamento sobressai em relação aos demais tanto ao considerarmos o maior e menor preço, destacando principalmente no valor do preço médio (Tabela 35). Fato este, pode ser justificado pela garantia que o tipo do imóvel passa a respeito de segurança e pela presença de infraestrutura. Ademais, não podemos deixar de considerar a sua localização, uma vez que todos estão próximos à orla marítima. A diferença de valores/ m² máximos e mínimos entre a mesma tipologia é representativa, basicamente, nos imóveis do tipo casa, casa com comércio/ serviço e cômodo/ vila. Contudo, são praticamente semelhantes os valores máximos e mínimos nos lotes com duas unidades habitacionais (casa + casa). 145 PARTE 04 Tabela 35: Valor do aluguel por m² versus tipo do imóvel. Tipo do imóvel Apartamento Casa Casa + Casa Casa com comércio/serviço Cômodo/ vila Quitinete Maior (R$) 20,83 18,66 4,28 12,50 16,66 8,92 Aluguel (Preço do m²) Menor (R$) Média (R$) 18,74 16,66 9,83 1,00 3,80 3,33 8,33 4,16 9,58 2,50 8,92 8,92 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. O valor gasto com aluguel representa custos elevados no orçamento da renda familiar dos inquilinos. A análise revelou que 32,14% dos inquilinos com rendimento de até três salários mínimos comprometem entre 16% a 26% da sua rentabilidade mensal para efetuar o pagamento do aluguel (Tabela 36). Destacam-se também aqueles que utilizam entre 26% a 36% da renda familiar (23,47% do total com rendimento de até três salários mínimos). De maneira representativa, há um número significativo de inquilinos comprometidos com mais de 57% do rendimento familiar para efetuar o pagamento do aluguel (2,65%). Isso revela suas péssimas condições de sobrevivência, pois como uma família que compromete 57% da renda domiciliar pode ser “leal”? Essa foi uma das indagações de Lacerda (2010) para o caso do mercado imobiliário informal de aluguel de Recife, impulsionando-a a trazer o aporte da Teoria das Convenções para apreensão desse mercado. Para aqueles com renda familiar entre três a seis salários mínimos, os pagamentos de aluguel correspondem entre 7,5% a 25,5% da renda, predominando principalmente entre 6% a 16% o rendimento familiar (76% dos inquilinos inseridos nesta faixa de renda). E, apenas três inquilinos possuem renda familiar superior a seis salários mínimos com gastos para o aluguel entre 6% a 16% do orçamento. A cobrança de uma rentabilidade maior para os mais pobres, provavelmente, decorre do baixo rendimento familiar em relação ao limite mínimo para o valor cobrado de locação, onerando o orçamento familiar com a despesa de aluguel para aqueles com rendimentos de até três salários mínimos. 146 PARTE 04 Tabela 36: Comprometimento do rendimento familiar com aluguel. Aluguel X Renda 6% ˂ Aluguel/Renda ≤ 16% 16% ˂ Aluguel/Renda ≤ 26% 26% ˂ Aluguel/Renda ≤ 36% 36% ˂ Aluguel/Renda ≤ 46% 46% ˂ Aluguel/Renda ≤ 56% Aluguel/Renda > 56% NR Total Rendimento Familiar Até 3 S.M. Entre 3 a 6 S.M. 6 S.M. em diante % % % V. abs. V. abs. V. abs. 45 22,96 19 76 3 100 63 32,14 6 24 ----46 23,47 --------18 9,18 --------10 5,10 --------5 2,55 --------9 4,59 --------196 100 25 100 3 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Apesar do elevado comprometimento da renda familiar com a mensalidade do aluguel, apenas 23,45% dos inquilinos em algum momento foram inadimplentes. No que concerne à conduta dos locadores, 62,26% realizam a cobrança pessoalmente, mas um número de locatários informou que comunicam/ justificam o atraso (18,86%) antes de serem cobrados. Provavelmente, devido às relações de confiança e lealdade, 88,67% dos “proprietários” toleram o atraso (43,39%) ou realizam acordo (45,28%). A atitude confirma que uma parte dos locadores confia em que, de uma forma ou de outra, receberá os aluguéis. Embora, exista um número significa que ameaça inquilinos inadimplentes (7,54%). Conforme Lacerda (2010, p. 46), essas atitudes revelam que não somente as transações bem sucedidas, mas também, as punições fortalecem os vínculos criados entre locadores e inquilinos. Antes de analisarmos os mecanismos de fixação dos preços dos imóveis comprados e vendidos, convém ressaltarmos, outra vez, que os dados apresentados são apenas qualitativos, devido o número reduzido de questionários de compra e venda aplicados na área já que predomina o mercado rentista. Como mencionado anteriormente, em relação à compra de imóveis, a maioria dos adquirentes efetuou a transação diretamente com o proprietário, sendo praticamente à vista (71,42%), e em menor proporção parcelado em seis vezes sem juros (14,28%) ou adquiriram por meio da troca de outro imóvel (14,28%). Percebe-se que os compradores praticamente não realizam financiamento, podendo ser esclarecido pelo perfil dos rendimentos familiares e pelos preços realizados no mercado, dados revelados a seguir. Como o número de imóveis comprados nos últimos 12 meses não foi expressivo, dificultou a análise comparativa dos valores das edificações colocadas à venda. 147 PARTE 04 Contudo, constatamos de maneira qualitativa que concentra o valor de compra (Tabela 37) de imóveis entre R$5.000,00 e R$15.000,00 (57,14%), com quantidade significativa dos valores entre R$25.000,00 e R$ 30.000,00 (14,28%) e R$ 1.000,00 e R$ 5.000,00 (14,28%). Tabela 37: Valor da Compra. Valor da Compra V. abs. R$1.000,00 ≤ Valor ≤ R$ 5.000,00 R$5.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 10.000,00 R$ 10.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 15.000,00 R$ 15.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 20.000,00 R$ 20.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 25.000,00 R$ 25.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 30.000,00 Total 1 2 2 1 0 1 7 % 14,29 28,57 28,57 14,29 0,00 14,29 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. Convém ressaltar que os valores de compra variaram entre R$1.500,00 e R$ 28.000,00. Em relação o valor do metro quadrado das edificações (Tabela 38), identificamos apenas que na localidade Alto da Colina, o valor médio é de R$ 317,41, variando entre R$ 228,57 (menor valor) e R$ 406,25 (maior valor), diferenciando de modo significativo o valor da venda do mesmo período (valor médio de venda R$ 959,87). Assim, podemos constatar essa superestimação na área João XXIII (valor médio de compra R$ 638,89). Apesar disso, não é possível comparar o valor de compra com o de venda, por ser este último uma estimativa, em geral, sobrevalorizada pelo “proprietário”. Convém ressaltar que, na área do Sopapo, o valor médio de compra é de R$ 456,00 o m², variando entre R$ 212,00 (menor valor) e R$ 700,00 (maior valor). Tabela 38: Valor da compra por m² versus localidades do bairro (dados qualitativos). Localidades Alto da Colina Barro Duro* Caixa d' Água* Guanabara ou Aparecida* João XXIII** Sopapo* Compra (Preço do m²) Maior (R$) Menor (R$) Média (R$) 406,89 317,41 228,57 ------------------------------437,50 437,50 437,50 638,89 638,89 638,89 456,00 700,00 212,00 *Não identificamos imóveis comprados nos últimos meses da pesquisa nas localidades de Barro Duro, Caixa d’Água, Guanabara ou Aparecida e Sopapo. ** No caso da localidade João XXIII, coletamos informações de apenas um único imóvel. Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 148 PARTE 04 A localização é um fator preponderante para as famílias que resolvem consumir (comprar/ alugar) bem residência, sobrepondo-se ao produto em si e ao próprio valor do imóvel. E ainda, apropria-se cada vez mais do espaço urbano de maneira diferenciada, conforme as vantagens e os recursos das localidades, influenciando na configuração urbana. No caso dos imóveis à venda, os proprietários informaram vender através de pagamento à vista (80%), sendo 16,66% destes mediante financiamento pela Caixa Econômica Federal. E ainda, através de duas formas de pagamento: a) à vista e/ou parcelado (6,66%); e, b) à vista e/ou através de troca de outro imóvel, carro, etc. (6,66%). A respeito do valor dos imóveis colocados à venda (Tabela 39), mesmo estando os preços superestimados, superiores aos preços realizados, é importante registrá-los, pois predominam valores entre R$20.000,00 e R$ 40.0000,00 (26,66%) e R$ 80.000,00 a R$100.000,00 (26,66%) e superior a R$ 140.000,00 (20%). Do conjunto dos imóveis colocados à venda ocorreu uma variação de preço entre R$19.000,00 a R$270.000,00, sendo a diferença determinada pela localização no bairro, infraestrutura do entorno, questão da segurança, proximidade da praia e principalmente infraestrutura do imóvel (tipo de material, número de cômodos, dimensionamento da edificação e do lote, estado de conservação, etc.). Tabela 39: Valor da Venda. Valor da Venda V. abs. Valor ˂ R$ 20.000,00 1 R$ 20.000,00 ≤ Valor ≤ R$ 40.000,00 4 R$ 40.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 60.000,00 2 R$ 60.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 80.000,00 1 R$ 80.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 100.000,00 4 R$ 100.000,00 ˂ Valor ≤ R$ 120.000,00 0 R$ 120.000,00˂ Valor ≤ R$ 140.000,00 0 Valor > R$ 140.000,00 3 15 Total % 6,67 26,67 13,33 6,67 26,67 0,00 0,00 20,00 100 Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. No que se refere ao valor do metro quadrado em relação às localidades, a área João XXIII apresenta enorme variação no valor do imóvel, possivelmente por abranger tanto o trecho relacionado aos serviços de comércio, educação e saúde como a proximidade da praia, além disso, por apresentar áreas distantes da orla marítima e de 149 PARTE 04 alguns serviços mencionados (Tabela 40). Contudo, o Alto da Colina não há tanta variação nos valores, provavelmente, devido à uniformidade dos serviços oferecidos na localidade. Ademais, em algumas áreas a análise foi impossibilitada, por não apresentar número significativo de imóveis. Tabela 40: Valor da venda por m² versus localidades do bairro (dados qualitativos). Localidades Alto da Colina Barro Duro* Caixa d' Água** Guanabara ou Aparecida** João XXIII Sopapo* Maior (R$) 1.055,55 -----500,00 437,50 1.700,00 ------ Venda (Preço do m²) Menor (R$) 864,19 -----500,00 437,50 384,61 ------ Média (R$) 959,87 -----500,00 437,50 1.042,30 ------ *Não identificamos imóveis à venda nas localidades de Barro Duro e Sopapo. ** No caso das localidades da Caixa d’ Água e da Guanabara ou Aparecida, coletamos informações de dois imóveis, mas em apenas um foi possível dimensionar a área construída. Fonte: Pesquisa direta, junho a dezembro de 2010. 11.3.11Estimativa para fixação dos preços Apenas 23,45% dos inquilinos informaram que a base de cálculo para fixação dos preços dos imóveis no mercado de aluguel é determinada, principalmente, a partir da mudança de locatário (28,30%) e do reajuste do salário mínimo (26,41%). Em menor proporção, quando ocorre reforma/ ampliação do imóvel (18,86%), como é caso da mudança do tipo de material do piso (troca de cimento queimado por cerâmica), melhoria da infraestrutura do banheiro e/ou cozinha, etc. Em certos casos, o locador mora em imóvel alugada, baseando assim o valor a ser cobrado a partir do valor pago como inquilino. Em outros casos, o preço é fixado pelo tempo de moradia do inquilino (5,66%) e em relação ao valor do aluguel do entorno (3,77%). A respeito do reajuste do valor do aluguel, os entrevistados informaram que ocorre anualmente (41,89%). Todavia, alguns locadores não determinam o prazo (14,86%) ou apenas reavaliam o preço quando há mudança do inquilino (12,16%). Outros locadores fixam a cada dois anos (12,16%) e, em menor proporção, semestralmente (4,05%) ou quando realizam reforma/ ampliação do imóvel (2,70%), entre outras situações. No caso da venda de imóveis, número significativo de “proprietários” pediu a contribuição de corretores imobiliários (26,66%) para estimar o valor e 20% tiveram os 150 PARTE 04 preços baseados a partir de residências vendidas no entorno, seguido da avaliação fundamentada pelo dimensionamento da edificação (13,33%). No primeiro caso, os “proprietários” fixam os preços dos imóveis semelhantes ao mercado imobiliário formal, com a colaboração de promotores imobiliários. No segundo caso e terceiro caso, consideram os preços históricos praticados no entorno, detendo grau de informação suficiente para estabelecer os preços, mas desconhecem os praticados em outras áreas pobres de Natal. Dentre os adquirentes de imóveis no último ano, apenas 42,85% souberam responder qual a base de cálculo do antigo proprietário para determinar o valor imóvel. Cabe registrar que fixaram os valores, a partir da renda dos moradores do entorno, do valor do terreno e do valor de troca do imóvel com outra mercadoria, como automóveis, imóvel, etc. Isso leva a concluir que o mercado imobiliário informal em Mãe Luiza assume um caráter autorreferencial, a partir de submercados atomizados. 12. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS DA PARTE 04 De maneira geral, o funcionamento do mercado imobiliário informal na AEIS de Mãe Luiza apresenta semelhanças ao mercado imobiliário formal em relação à oferta imobiliária habitacional por configurar um mercado secundário, isto é, um mercado de imóveis do estoque existente, a partir de “imóveis usados” (casa) ou de fracionamentos do imóvel original (cômodo/ vila). Essa produção de imóveis novos informais ocorre a partir do fracionamento do lote original familiar, pela ocupação de parte do lote e/ou casa (produção de quartos) e em números reduzidos por meio da verticalização, mantendo a residência (ou parte) da unidade familiar original. E ainda, a predominância na área de imóveis alugados (91% da pesquisa de campo) caracteriza o bairro pela constante produção rentista. Em geral, os locadores (62,38%) habitam o próprio bairro, reforçando a ideia de submercados atomizados. Como constatado, os produtos são diversos tanto no mercado rentista quanto no mercado de compra e venda no que se refere ao tipo de domicílio (casa, cômodo/ vila, apartamento, outros), número de cômodos, tipo de piso e coberta, além do estado de conservação do imóvel e localização da edificação no lote, como também, do lote no interior do bairro (localidades) e a situação da AEIS em relação ao centro principal de Natal. Ademais a heterogeneidade dos produtos, em termos de localização, tamanho, material de acabamento, confere a esses mercados aspectos de monopólio, e por outro 151 PARTE 04 lado, aspetos de concorrência pela diversidade de “proprietários” e inquilinos. De fato, o MII de Mãe Luiza é estruturado num modelo de concorrência monopolista, uma vez que nele atuam muitos vendedores e locadores de um produto particular, sendo o produto de cada um diferenciado dos produtos dos demais. A respeito dos entrevistados, a grande maioria trabalha em Mãe Luiza ou no entorno do bairro, da mesma maneira os estudantes moradores dos domicílios transacionados, frequentam predominantemente as escolas do próprio bairro. Além disso, os entrevistados mencionaram que compram os alimentos diários/ eletrodoméstico/ vestuário e praticam atividades de lazer, cultural e religiosa em Mãe Luiza e/ou nos bairros do seu entorno. Percebe-se que as escolhas de localização (o espaço) tem certa prioridade por parte da demanda no sentido de consumir imóvel na área, já que esta se encontra próximo dos principais centros comerciais/ serviços, da orla marítima, do trabalho, dos familiares, transformando a residência precária em um “capital locacional” que se valoriza/ desvaloriza no tempo. Verificamos que o perfil social dos inquilinos e compradores estabelecem patamares máximo e mínimo dos preços dos imóveis, sendo encontrado preços médios diferenciados por metro quadrado de acordo com as localidades do bairro. Chama atenção o caso da localidade de Barro Duro, onde o preço médio foi superior ao das demais localidades, tendo uma relação direta entre um conjunto de fatores, como: proximidade da orla marítima, condição da infraestrutura urbana, segurança, salubridade das edificações, perfil social da demanda. Em contrapartida, a área do Sopapo apresentou os menores preços, área esta com um dos piores indicadores sociais do bairro. Logo, não se pode deixar de registrar que os valores são influenciados pelas externalidades das localidades. Acrescenta-se, ainda, que para fixar os preços dos seus imóveis, os locadores e vendedores levaram de certo modo em consideração os preços históricos praticados na mesma rua ou no entorno, detendo um grau de informação para estabelecer os preços, mas desconhecem os praticados em outros assentamentos populares informais. Tendo, portanto, um caráter autorreferencial. Ao contrário da fundamentação de Abramo (2009, p. 58), no que concerne a necessidade de instituições mediadoras, para manter e garantir a condição intertemporal e intergeracional dos contratos no mercado imobiliário informal, no caso de Mãe Luiza inexiste instituições informais nos termos colocados pelo autor. Existem, sim, normas, no sentido de convenção, uma delas a confiança-lealdade, principalmente no mercado 152 PARTE 04 de aluguel em que as relações diretas entre eles persistem durante toda vigência da locação. Confiança por parte do locador e lealdade por parte do locatário, através de condutas (ou normas) que resultam de um acordo (ou acerto), firmado implícito e/ ou explicitamente entre eles. Tais questões são consideradas, por exemplo, nas modalidades contratuais do mercado de aluguel, em que 81,42% foram negociados mediante acordos verbais, existindo certa confiança por parte do locador que o inquilino efetuará o pagamento do aluguel, apesar da não-formalização, e lealdade por parte do locatário no compromisso de assumir o aluguel. De tal modo, percebemos que o mercado imobiliário informal apresenta particularidades importantes em relação ao seu funcionamento quando comparado ao mercado imobiliário formal. O MII caracteriza de maneira significativa a demanda popular por habitação. 153 PARTE 05 13. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a finalização da pesquisa de campo na Área Especial de Interesse Social de Mãe Luiza (Natal/ RN), de modo geral, percebemos que a sistemática metodológica definida previamente contribuiu plenamente para os objetivos da pesquisa, ressaltandose, entretanto, algumas questões e particularidades. Assim, tivemos dificuldades de contabilizar e mensurar transações imobiliárias, rendimentos e quantificar os imóveis, principalmente, os alugados. A pesquisa possibilitou a criação de um banco de dados sobre o mercado imobiliário informal do bairro, abrindo caminhos para outros estudos a serem desenvolvidos nesta temática na cidade do Natal, já que ainda é pouco conhecido, o que permitirá um melhor aprofundamento do conhecimento sobre o funcionamento do mercado imobiliário informal de domicílios em áreas informais. Ademais, a possibilidade de ampliação dessa pesquisa para demais assentamentos do município e da Região Metropolitana de Natal, utilizando-se da mesma metodologia, possibilita uma análise comparativa sobre as especificidades e diferenciações dos mercados de compra e venda e locação via mercado imobiliário informal, além de expandir o universo empírico das pesquisas desenvolvidas em âmbito nacional. A análise relacionada à estruturação, funcionamento e reconhecimento quantitativo e qualitativo do mercado imobiliário informal dos assentamentos populares informais, nos oferece elementos para investigar o processo de reprodução do uso do solo urbano. As informações obtidas nos garante e potencializa para estudar o déficit habitacional não apenas a partir das ausências e das carências das ações de políticas habitacionais, como normalmente, é investigado, mas pelo reconhecimento do déficit atendido por esse mercado, sobretudo o de locação. Apoiando-se nos trabalhos de Abramo (2009), Lacerda (2009) e Baltrusis (2005) sobre o mercado imobiliário informal em cidades, sequencialmente, do Rio de Janeiro, Recife e São Paulo, foi adaptado um conjunto instrumental com o intuito de dar conta de amenizar as imperfeições que a coleta de dados poderia conter. Em outras palavras, procuramos conciliar a utilização de uma metodologia quantitativa e qualitativa de levantamento de dados através da aplicação de questionários com compradores, vendedores e locatários. Infelizmente, surgiram dificuldades para identificar os locadores por parte dos inquilinos, impossibilitando ampliar a abordagem sobre as 155 PARTE 05 relações e decisões específicas entre locadores e locatários que influenciam na formação dos preços. Deste modo, a pesquisa permitiu conhecer as características do mercado imobiliário informal em Mãe Luiza, sobretudo, as características construtivas das moradias, dos fatores de atração e repulsão da AEIS e seu entorno, a mobilidade intraurbana, a acessibilidade, e também, o custo do aluguel ou do imóvel, entre outros aspectos. E ainda, comprovar que o bairro tem uma dinâmica imobiliária própria, relacionada aos seus aspectos naturais, às suas relações comunitárias, às questões fundiárias e ao ordenamento urbano. Verificamos que a intensa dinâmica do mercado imobiliário informal na AEIS de Mãe Luiza evidencia as mudanças na forma de acesso à moradia informal, isto é, da forma clássica com certo valor de uso para a forma mercantil através da compra, da venda e da locação. A oferta imobiliária habitacional tanto para compra quanto para locação no bairro é, predominantemente, de “imóveis usados” ou de fracionamentos do imóvel original, por divisão de lote e/ou casa, transformando unidades habitacionais em unidades multifamiliares. Assim, o desconhecimento da existência do mercado imobiliário informal, de sua abrangência e de seu funcionamento surpreende por envolver número representativo de pessoas – as transações de aluguel, compra e venda na AEIS de Mãe Luiza representou, no momento da pesquisa de campo, mais de 6% dos domicílios do bairro – e de valores (ativos) que o mercado movimenta mensalmente. A pesquisa de campo constata um gradiente de preços de imóveis comprados que variam de R$ 1.500,00 a R$ 28.000,00 ou de imóveis para locar de R$ 50,00 até R$ 600,00 e uma diversidade de tipologias, como: casas térreas, cômodo-vila, apartamentos; com acabamento, sem acabamento em diversas localidades do bairro. Além disso, os preços são influenciados pelo valor de uso, pelas características internas e externas da edificação, pelas articulações dos elementos locacionais pela quantidade de peças como número de cômodos, dimensionamento do imóvel e lote, contribuindo para hierarquização mais ou menos acentuada dos preços. Logo, o mercado é estruturado num modelo de concorrência monopolista, pela diversidade de “proprietários” e inquilinos de um produto particular, sendo o produto de cada um diferenciado dos demais. Cabe notar também que a maior parte das transações de compra é realizada à vista, quase não existindo formas de financiamento, quando ocorrem são de curto prazo, 156 PARTE 05 parceladas em seis vezes no máximo, e que as transações, no geral, se desenvolveram, predominantemente, à margem da lei, se caracterizando pela inexistência de um título de propriedade legalmente registrado. A respeito do mercado de locação de imóveis informais no bairro, este tem se consolidado como um importante segmento para proporcionar o acesso à moradia (91% dos domicílios pesquisados), estando muitas vezes à porta de entrada para novas famílias a AEIS. Os levantamentos realizados para pesquisa demonstraram uma diversidade de produtos e preços, formados a partir das vantagens locacionais e qualidade do imóvel. Já, os valores cobrados pelos aluguéis comprometem em média 26% do rendimento familiar, sendo em alguns casos esta relação é superior a 50%, afetando outras necessidades básicas de sobrevivência das famílias cujos rendimentos são reduzidos. Para poucos, o aluguel se trata de estágio temporário, enquanto a casa própria está sendo construída, ou até que possam arrecadar economias para compra de um imóvel. Entretanto para a grande maioria, o aluguel elimina as possibilidades de adquirir moradia própria, visto que, absorve os recursos que poderiam permitir a compra de um terreno e a construção de um imóvel. Para os inquilinos verificamos que a única oportunidade de residir em imóveis compatíveis com suas necessidades é através da mobilidade residencial, isto é, através de detalhes determinantes para troca do imóvel, seja no que se refere à edificação – qualidade construtiva, tamanho, preços – ou à sua localização – melhor oferta de infraestrutura, proximidade de serviços, transporte coletivo, vizinhança, proximidade de familiares, segurança, entre outros. Constatamos, também, que a própria natureza dos contratos - predominantes verbais - facilita a mudança de imóvel. Entretanto, a escolha por uma edificação melhor significa quase sempre o pagamento de prestações maiores de aluguel, reproduzindo um circuito que impossibilita cada vez mais para estas famílias deixar a moradia de aluguel. Sobre os consumidores (compra e locação), estes são guiados muito mais pela lógica de localização do que pelo produto em si, influenciando na configuração da ordem residencial e, assim, contribuindo para estruturar o espaço da cidade em relação aos diversos tipos de famílias e segmentá-la em termos socioespaciais. A relação entre a localização da moradia e o local de trabalho pode ser apontada como um dos principais elementos para a escolha de um imóvel no bairro, sendo significativo o número de pessoas trabalhando em bairros vizinhos da AEIS, o que resulta numa economia de 157 PARTE 05 recursos destinados ao deslocamento e ao tempo para realizar outras atividades, como por exemplo, o lazer. Além disso, a pesquisa indicou que no contexto da informalidade sobrepõem-se valores relacionados aos laços de confiança-lealdade capazes de produzir benefícios para locadores e locatários, vendedores e compradores. Logo, confirma que essa convenção é mais uma característica específica das transações imobiliárias diante das incertezas do MII, através de laços de confiança-lealdade que facilitam as transações econômicas e garantem a existência e reprodução dos mercados de locação e compra/ venda. Tomamos conhecimento que a dinâmica de funcionamento do MII apresenta particularidades (regras, procedimentos e obrigações) vigentes dentro do API, que se relacionam a necessidade lógica e/ou operacional e as regras/consensos decorrentes do bom senso dos negócios imobiliários da área. Portanto, certos assentamentos apresentam semelhanças e/ou diferenciações no processo de compra e venda e locação de imóveis, dificultando o estabelecimento de relações diretas de preço entre eles por cada uma possuir um rol de características próprias. Em síntese, percebemos o quanto é imprescindível compreender o mercado imobiliário informal, devido este substituir a tarefa do Estado na sua função de prover habitação para camadas de baixo poder aquisitivo, uma vez que oculta o verdadeiro déficit habitacional e dificulta a implementação de políticas de provisão habitacional. 158 PARTE 05 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMO, Pedro. A cidade caleidoscópica: coordenação espacial e convenção urbana: uma perspectiva heterodoxa para a economia urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. ABRAMO, Pedro. A cidade informal COM-FUSA: mercado informal em favelas e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latino-americanas. IN: ABRAMO, Pedro (org.). Favela e mercado informal: a nova porta de entrada dos pobres nas cidades brasileiras. Porto Alegre: ANTAC, 2009 (Coleção Habitare, Vol. 10), p. 49-79. ABRAMO, Pedro. 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Se sim, quantos?____________ Local (bairro) pessoa 3. Quantas pessoas casa?_______ moram parentesco na 9. Quantas pessoas estudam?_______ 2. TRABALHO/ RENDA (5) bolsa família 1. Exerce algum trabalho remunerado? (6) outro benefício/especifique: (1) sim (2) não (3) NS (4) NR _______________________________ (7) NS (8) NR 2. Qual a sua ocupação profissional? ________________________________ ________________________________ 6. Possui outra fonte de renda auxiliar? (1) sim/especifique (ex. bolsa família): _______________________________ 3. Onde trabalha? _______________________________ (1) no próprio bairro (2) não (3) NS (4) NR (2) fora do bairro, onde? _____________________________ (3) NS (4) NR 4. Quantos dias na semana você trabalha?_____________ 5. Qual sua fonte de renda principal? (1) trabalho com carteira assinada (2) trabalho sem carteira assinada (3) trabalho por conta própria (autônomo) (4) aposentadoria 7. Outras pessoas colaboram com a renda familiar? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 8. Se sim, quantas pessoas contribuem para a renda familiar? _________________ 9. Qual a renda domiciliar mensal? R$ _________________ (reais) 10. Qual sua renda pessoal mensal? R$ _________________ (reais) 3. MOBILIDADE ESPACIAL 4. Qual a sua trajetória residencial em 1. Onde nasceu? Natal? Cidade:________________________ Estado: ________________________ Mês/Ano Comunidade/Bairro OC 2. Sempre morou em Natal? ( ) sim ( ) não, onde?__________________ 3. Se não, em que ano ( ) chegou/ ( ) retornou a Natal?_______________ Ocupação do domicílio (OC): P-próprio; A alugado; C – cedido; O – outro 3. MOBILIDADE ESPACIAL (continuação) 5. Há quanto tempo mora em Mãe Luiza? ______________ (meses) 6. Por que veio morar em Mãe Luiza? ______________________________ ______________________________ 7. Qual o meio de transporte que mais utiliza? (1) carro (2) moto (3) bicicleta (4) trem (5) oletivo/ônibus/alternativo (6) transporte de terceiros (7) táxi (8) outros, quais?________________ ______________________________ 11. Têm familiares no bairro? (1) sim, onde?___________________ ______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 12. Onde mora a maioria dos seus amigos? (1) no próprio bairro (2) fora do bairro, onde? ____________________________ (3) NS (4) NR 13. Participa de algum grupo religioso? (1) sim, onde?___________________ ______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 8. Onde faz compras diárias? (1) no bairro (2) outro bairro, onde? ______________________________ 14. Participa de algum grupo cultural (3) NS (4) NR (Escola de samba, grupo de funk, grupo afro, etc.)? 9. E as compras maiores? (1) sim, qual e onde?______________ a. Roupas _______________________________ (1) no próprio bairro (2) não (3) NS (4) NR (2) fora do bairro (3) NS (4) NR b. Eletrodomésticos (1) no próprio bairro (2) fora do bairro (3) NS (4) NR c. Material de construção (1) no próprio bairro (2) fora do bairro (3) NS (4) NR 10. Onde costuma ir no tempo livre? (1) fica no próprio bairro (2) vai para outro bairro, onde? ______________________________ (3) NS (4) NR 15. Número de um a dez, qual o grau de união da comunidade?___________ 16. Você mantém algum tipo de relação de troca (guarda do filho, pequenos trabalhos, empréstimos de utensílios e alimentos, etc.) com seus vizinhos, amigos e/ou parentes que moram na comunidade? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 17. Com que regularidade? (1) diária (2)várias vezes por semana (3) semanal (4)quinzenal (5) mensal (6) trimestral (7) semestral 4. CARACTERÍSTICAS DO DOMICÍLIO c) Teto (1) Amianto (2) Zinco 1. Tipo do domicílio: (3) Telha de barro (4) Laje (1) Casa (2) Cômodo - Vila (5) Laje com telhado (3) Apartamento (6) Palha (7) Alumínio (4 ) Casa/Sobrado com uso misto, qual?__________________________ 5. Estado de conservação (5) Outros:_____________________ (1) Bom (2) Regular (3) Precária 2. Número de pavimentos: (1) 1 pavimento (térreo) (2) 2 pavimentos (3) 3 pavimentos (4) Mais de 3 pavimentos 3. Topologia do lote (1) Seco (2) Alagado (3) Alagável (4) Plano (5) Plano em área de risco (6) Inclinado (7) Inclinado em área de risco 4. Padrão construtivo: a) Piso (1) Terra (2) Tábua (3) Cimentado (4) Ladrilho/Cerâmica (5) Taco (6) Carpete (7) Outro:______________________ b) Parede (1) Estuque (2) Alvenaria (3) Madeira (4) Folha de zinco (5) Papelão (6) Plástico (7) Taipa 6. A edificação ocupa todo lote? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 7. Possui quintal? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 8. Existe mais de um domicílio no mesmo lote? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 9. Número de cômodos ______ Quarto ______Sala estar/jantar ______Banheiro ______Cozinha ______Varanda/ Terraço ______Garagem ______Outro:______________________ _________________________________ Total:___________ 10. Quantos m² o senhor(a) acha que tem o seu domicílio? _______________________________ 11. Quantos m² o senhor (a) acha que tem o seu lote? _________________ 5. CARACTERÍSTICAS DO ACORDO DE LOCAÇÃO DO IMÓVEL 3. Como soube que o imóvel estava para 1. Quanto tempo procurando pelo alugar? domicílio? ___________meses (1) Amigos e parentes (2) Imobiliária, 2. Quantos imóveis visitou antes de qual (colocar contato)?________ decidir por este?__________ __________________________ a) _______ em outro(s) bairro (s), (3) Corretor imobiliário, quais?__________________________ quem (colocar contato)? _______ _______________________________ ___________________________ b) _______ no próprio bairro, onde? (4) Placa _______________________________ (a) Próprio imóvel _______________________________ (b) Outra localidade, onde? (5) Porta a porta (6) Jornal 5. CARACTERÍSTICAS DO ACORDO DE LOCAÇÃO DO IMÓVEL (cont.) (7) Associação de moradores (8) Estabelecimento comercial na 7. Qual o valor pago pelo aluguel do região, onde?___________________ domicílio? R$_______________ ______________________________ (9) Outro meio, qual?____________ 8. Fora o aluguel, o que paga a mais? ______________________________ (1) energia (2) água (3) IPTU/taxas (4) nada (5) outro:________________ 1. Qual o motivo de sua mudança _______________________________ para este domicílio? (6)NS (7) NR ______________________________ ______________________________ 9. Como é reajustado o aluguel (base de ______________________________ cálculo R$)? _____________________________ 2. Como alugou o domicílio? _____________________________ (1) Imobiliária (2) Direto com o _____________________________ proprietário (2) Através de terceiro (1) NS (2) NR (3) Outro meio:__________________ ________________________________ 10. Quando é reajustado o aluguel? (4) NR (5) NS (1) mensalmente (2) semestralmente 6A. Possui recibo de pagamento? (3) anualmente (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (4) mudança de inquilino (5) renovação do contrato 3. Possui contrato de aluguel? (5) outra,qual?__________________ (1) sim (2) não, apenas contrato ______________________________ verbal/nenhuma documentação (6) NS (7) NR (3) NS (4) NR 11. Já houve atraso de pagamento? 4. Se sim, qual a situação do contrato? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (1) Contrato em papel sem firma reconhecida As questões 15 e 16 estão relacionadas com a (2) Contrato em papel com firma questão 14. reconhecida pelo cartório (3) Contrato em papel registrado em 12. Em caso de atraso do pagamento cartório como o proprietário faz a cobrança? (4) Outro, qual? _________________ (1) pessoalmente (2) telefone _______________________________ (3) carta (4) recado por terceiros (5) NR (6) NS (5) outro meio, qual?______________ _______________________________ As questões 8 e 9 estão relacionadas com a questão 7. 13. Em caso de atraso do pagamento, como o proprietário reage? 5. Qual a duração do contrato? (1) tolera (2) expulsa (3) ameaça _____________ meses (4) faz acordo (5) coloca na justiça (6) utiliza outro meio, qual?_______ 6. Possui fiador? ______________________________ (1) sim, quem é o fiador (grau de (7) NS (8) NR parentesco)? ____________________ (2) não 5. CARACTERÍSTICAS DO ACORDO DE LOCAÇÃO DO IMÓVEL (cont.) 1. O proprietário do domicílio mora: (1) na mesma edificação (2) no mesmo lote, em edificação à parte (3) no mesmo bairro (4) fora do bairro, onde? ______________________________ ______________________________ (5) NS (6) NR 2. 3. Qual o contato do locador? ______________________________ ______________________________ O locador é proprietário de outro(s) domicílio(s) no bairro? (1) sim, quantos? ________________ _______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 4. Pretende comprar domicílio no bairro? (1) sim, por quê? _________________ _____________________________ _____________________________ (2) não, por quê? ________________ 5. Na sua opinião, qual a melhor área do bairro para morar? (1) Alto da Colina (2) Barro Duro (3) Caixa d’Água (4) Guanabara ou Aparecida (5) João XXIII 1. DADOS DO PROPRIETÁRIO (continuação) 10. A respeito dos estudantes, qual o grau de parentesco e o local (bairro) de estudo? 1. Possui filhos? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR Nº da pessoa 2. Se sim, quantos?____________ 3. Quantas pessoas casa?_______ moram Grau de parentesco Local (bairro) na 9. Quantas pessoas estudam?_______ 2. TRABALHO/ RENDA (5) bolsa família 1. Exerce algum trabalho remunerado? (6) outro benefício/especifique: (1) sim (2) não (3) NS (4) NR _______________________________ (7) NS (8) NR 2. Qual a sua ocupação profissional? ________________________________ ________________________________ 6. Possui outra fonte de renda auxiliar? (1) sim/especifique (ex. bolsa família): _______________________________ 3. Onde trabalha? _______________________________ (1) no próprio bairro (2) não (3) NS (4) NR (2) fora do bairro, onde? _____________________________ (3) NS (4) NR 4. Quantos dias na semana você trabalha?_____________ 5. Qual sua fonte de renda principal? (1) trabalho com carteira assinada (2) trabalho sem carteira assinada (3) trabalho por conta própria (autônomo) (4) aposentadoria 7. Outras pessoas colaboram com a renda familiar? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 8. Se sim, quantas pessoas contribuem para a renda familiar? _________________ 9. Qual a renda domiciliar mensal? R$ _________________ (reais) 10. Qual sua renda pessoal mensal? R$ _________________ (reais) 3. MOBILIDADE ESPACIAL 1. Onde nasceu? 4. Qual a sua trajetória residencial em Cidade:________________________ Natal? Estado: ________________________ Mês/Ano Comunidade/Bairro OC 2. Sempre morou em Natal? ( ) sim ( ) não, onde?__________________ 3. Se não, em que ano ( ) chegou/ ( ) retornou a Natal?_______________ Ocupação do domicílio (OC): P-próprio; A alugado; C – cedido; O – outro 3. MOBILIDADE ESPACIAL (continuação) 5. Há quanto tempo mora em Mãe Luiza? ______________ (meses) 6. Por que veio morar em Mãe Luiza? ______________________________ ______________________________ 7. Qual o meio de transporte que mais utiliza? (1) carro (2) moto (3) bicicleta (4) trem (5) oletivo/ônibus/alternativo (6) transporte de terceiros (7) táxi (8) outros, quais?________________ ______________________________ 11. Têm familiares no bairro? (1) sim, onde?___________________ ______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 12. Onde mora a maioria dos seus amigos? (1) no próprio bairro (2) fora do bairro, onde? ____________________________ (3) NS (4) NR 13. Participa de algum grupo religioso? (1) sim, onde?___________________ ______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 8. Onde faz compras diárias? (1) no bairro (2) outro bairro, onde? ______________________________ 14. Participa de algum grupo cultural (3) NS (4) NR (Escola de samba, grupo de funk, grupo afro, etc.)? 9. E as compras maiores? (1) sim, qual e onde?______________ a. Roupas _______________________________ (1) no próprio bairro (2) não (3) NS (4) NR (2) fora do bairro (3) NS (4) NR b. Eletrodomésticos (1) no próprio bairro (2) fora do bairro (3) NS (4) NR c. Material de construção (1) no próprio bairro (2) fora do bairro (3) NS (4) NR 10. Onde costuma ir no tempo livre? (1) fica no próprio bairro (2) vai para outro bairro, onde? ______________________________ (3) NS (4) NR 15. Número de um a dez, qual o grau de união da comunidade?___________ 16. Você mantém algum tipo de relação de troca (guarda do filho, pequenos trabalhos, empréstimos de utensílios e alimentos, etc.) com seus vizinhos, amigos e/ou parentes que moram na comunidade? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 17. Com que regularidade? (1) diária (2)várias vezes por semana (3) semanal (4)quinzenal (5) mensal (6) trimestral (7) semestral 4. CARACTERÍSTICAS DO DOMICÍLIO c) Teto (1) Amianto (2) Zinco 1. Tipo do domicílio: (3) Telha de barro (4) Laje (1) Casa (2) Cômodo - Vila (5) Laje com telhado (3) Apartamento (6) Palha (7) Alumínio (4 ) Casa/Sobrado com uso misto, qual?__________________________ 5. Estado de conservação (5) Outros:_____________________ (1) Bom (2) Regular (3) Precária 2. Número de pavimentos: (1) 1 pavimento (térreo) (2) 2 pavimentos (3) 3 pavimentos (4) Mais de 3 pavimentos 3. Topologia do lote (1) Seco (2) Alagado (3) Alagável (4) Plano (5) Plano em área de risco (6) Inclinado (7) Inclinado em área de risco 4. Padrão construtivo: a) Piso (1) Terra (2) Tábua (3) Cimentado (4) Ladrilho/Cerâmica (5) Taco (6) Carpete (7) Outro:______________________ b) Parede (1) Estuque (2) Alvenaria (3) Madeira (4) Folha de zinco (5) Papelão (6) Plástico (7) Taipa 6. A edificação ocupa todo lote? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 7. Possui quintal? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 8. Existe mais de um domicílio no mesmo lote? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 9. Número de cômodos ______ Quarto ______Sala estar/jantar ______Banheiro ______Cozinha ______Varanda/ Terraço ______Garagem ______Outro:______________________ _________________________________ Total:___________ 10. Quantos m² o senhor(a) acha que tem o seu domicílio? _______________________________ 11. Quantos m² o senhor (a) acha que tem o seu lote? _________________ 5. CARACTERÍSTICAS DO ACORDO COMPRA DO IMÓVEL 3. 1. Quanto tempo levou procurando pelo domicílio? ___________meses 2. Quantos imóveis visitou antes de decidir por este?__________ a) _______ em outro(s) bairro (s), quais?__________________________ _______________________________ b) _______ no próprio bairro, onde? _______________________________ _______________________________ Como soube que o imóvel estava para vender? (1) Amigos e parentes (2) Imobiliária, qual (colocar contato)?________ __________________________ (3) Corretor imobiliário, quem (colocar contato)? _______ ___________________________ (4) Placa (a) Próprio imóvel (b) Outra localidade, onde? (5) Porta a porta (6) Jornal 5. CARACTERÍSTICAS DO ACORDO COMPRA DO IMÓVEL (cont.) (7) Associação de moradores (8) Estabelecimento comercial na região, onde?___________________ ______________________________ (9) Outro meio, qual?____________ ______________________________ 1. Como comprou o domicílio? (1) Imobiliária, qual? ______________ ________________________________ (2) Direto com o proprietário (3) Através de terceiro (4) Outro meio:____________________ ________________________________ (5) NR (6) NS 2. Qual o contato do vendedor? ______________________________ ______________________________ 3. O imóvel é registrado em cartório? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 4. O imóvel possui escritura pública? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 8. Qual o valor (R$) da compra do imóvel? R$ ____________________ 9. Sabe informar como determinaram o valor do imóvel (base de cálculo R$)? (1) sim (2) não (3) NR 10. Se sim, explique. _______________________________ _______________________________ _______________________________ 11. Como efetuou(a) o pagamento do imóvel? (1) à vista (2) a partir de empréstimo, de onde? _______________________________ (3) financiamento, qual?___________ ______________________________ (4) parcelado, quantas parcelas?_____ (5) troca de outro imóvel, carro, etc. (6) outro meio:__________________ Caso a compra do imóvel tenha ocorrido por meio de parcelas, responder as questões 15 a 18. 5. Possui contrato de compra? (1) sim (2) não, apenas contrato 12. Em caso de atraso no pagamento verbal/nenhuma documentação como o ex-proprietário faz a (3) NS (4) NR cobrança? (1) pessoalmente (2) telefone (3) carta (3) recado por terceiros 6. Se sim, qual a situação do contrato? (1) Contrato em papel sem firma (4) outro meio, qual?_____________ reconhecida ______________________________ (2) Contrato em papel com firma (5) NS (6) NR reconhecida pelo cartório (3) Contrato em papel registrado em 13. Em caso de atraso do pagamento, cartório como o ex-proprietário reage? (4) Outro, qual?__________________ (1) tolera (2) expulsa (3) ameaça ________________________________ (4) faz acordo (5) coloca na justiça (5) NR (6) NS (6) utiliza outro meio, qual?_______ ______________________________ (7) NS (8) NR 7. Em caso de não, qual o documento que garante a negociação do imóvel? _______________________________ _______________________________ 5. CARACTERÍSTICAS DO ACORDO COMPRA DO IMÓVEL (cont.) 1. Há cobrança de juros em caso de atraso do pagamento? (1) sim, quanto?_________________ _______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 2. Possui fiador? (1) sim, quem é o fiador (grau de parentesco)? _________________ (2) não (3) NS (4) NR 3. 4. 5. Sabe informar, se o ex-proprietário é dono de outros imóveis? (1) sim, quantos e onde?___________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ (2) não (3) NS (4) NR 6. Na sua opinião, qual a melhor área do bairro para morar? (1) Alto da Colina (2) Barro Duro (3) Caixa d’Água (4) Guanabara ou Aparecida (5) João XXIII Paga IPTU e outras taxas? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR O ex-proprietário do domicílio mora: (1) na mesma edificação 7. (2) no mesmo lote, em edificação à parte (3) na mesma localidade (4) fora da localidade , onde? ____________________________ (5) NS (5) NR Qual o motivo de sua mudança para este domicílio? ______________________________ ______________________________ ______________________________ 1. DADOS DO PROPRIETÁRIO (continuação) 10. Possui filhos? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 11. Se sim, quantos?____________ 22. A respeito dos estudantes, qual o grau de parentesco e o local (bairro) de estudo? Nº da pessoa Grau de parentesco Local (bairro) 12. Quantas pessoas moram na casa?_______ 21. Quantas pessoas estudam?_______ 2. TRABALHO/ RENDA (5) bolsa família 23. Exerce algum trabalho (6) outro benefício/especifique: remunerado? _______________________________ (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (7) NS (8) NR 24. Qual a sua ocupação profissional? 25. Onde trabalha? (1) no próprio bairro (2) fora do bairro, onde? _____________________________ (3) NS (4) NR 26. Quantos dias na semana você trabalha?_____________ 27. Qual sua fonte de renda principal? (1) trabalho com carteira assinada (2) trabalho sem carteira assinada (3) trabalho por conta própria (autônomo) (4) aposentadoria 28. Possui outra fonte de renda auxiliar? (1) sim/especifique (ex. bolsa família): _______________________________ _______________________________ (2) não (3) NS (4) NR 29. Outras pessoas colaboram com a renda familiar? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 30. Se sim, quantas pessoas contribuem para a renda familiar? _________________ 31. Qual a renda domiciliar mensal? R$ _________________ (reais) 32. Qual sua renda pessoal mensal? R$ _________________ (reais) 3. MOBILIDADE ESPACIAL Somente deverá responder as questões de mobilidade espacial, o(a) dono(a) do imóvel que residi no próprio domicílio colocado à venda ou aquele que mora no bairro do imóvel. 33. Onde nasceu? Cidade:________________________ Estado: ________________________ 34. ( ( Sempre morou em Natal? ) sim ) não, onde?__________________ 35. Se não, em que ano ( ) chegou/ ( ) retornou a Natal?_______________ 36. Qual a sua trajetória residencial em Natal? Mês/Ano Comunidade/Bairro OC Ocupação do domicílio (OC): P-próprio; A alugado; C – cedido; O – outro 3. MOBILIDADE ESPACIAL (continuação) 23. Há quanto tempo mora em Mãe Luiza? ______________ (meses) 24. Por que veio morar em Mãe 29. Têm familiares no bairro? (1) sim, onde?___________________ Luiza? ______________________________ ______________________________ (2) não (3) NS (4) NR ______________________________ 25. Qual o meio de transporte que mais utiliza? (1) carro (2) moto (3) bicicleta (4) trem (5) oletivo/ônibus/alternativo (6) transporte de terceiros (7) táxi (8) outros, quais?________________ ______________________________ 26. 30. Onde mora a maioria dos seus amigos? (1) no próprio bairro (2) fora do bairro, onde? ____________________________ (3) NS (4) NR 31. Participa de algum grupo religioso? (1) sim, onde?___________________ ______________________________ (2) não (3) NS (4) NR Onde faz compras diárias? (1) no bairro (2) outro bairro, onde? ______________________________ 32. Participa de algum grupo cultural (3) NS (4) NR (Escola de samba, grupo de funk, grupo afro, etc.)? 27. E as compras maiores? (1) sim, qual e onde?______________ a. Roupas _______________________________ (1) no próprio bairro (2) não (3) NS (4) NR (2) fora do bairro (3) NS (4) NR 33. Número de um a dez, qual o grau de união da comunidade?___________ b. Eletrodomésticos (1) no próprio bairro 34. Você mantém algum tipo de relação de (2) fora do bairro troca (guarda do filho, pequenos (3) NS (4) NR trabalhos, empréstimos de utensílios e alimentos, etc.) com seus vizinhos, c. Material de construção amigos e/ou parentes que moram na (1) no próprio bairro comunidade? (2) fora do bairro (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (3) NS (4) NR 35. Com que regularidade? 28. Onde costuma ir no tempo livre? (1) diária (2)várias vezes por semana (1) fica no próprio bairro (3) semanal (4)quinzenal (5) mensal (2) vai para outro bairro, onde? (6) trimestral (7) semestral ______________________________ (3) NS (4) NR 4. CARACTERÍSTICAS DO DOMICÍLIO c) Teto (1) Amianto (2) Zinco 23. Tipo do domicílio: (3) Telha de barro (4) Laje (1) Casa (2) Cômodo - Vila (5) Laje com telhado (3) Apartamento (6) Palha (7) Alumínio (4 ) Casa/Sobrado com uso misto, qual?__________________________ 27. Estado de conservação (5) Outros:_____________________ (1) Bom (2) Regular (3) Precária 24. Número de pavimentos: (1) 1 pavimento (térreo) (2) 2 pavimentos (3) 3 pavimentos (4) Mais de 3 pavimentos 25. 26. Topologia do lote (1) Seco (2) Alagado (3) Alagável (4) Plano (5) Plano em área de risco (6) Inclinado (7) Inclinado em área de risco Padrão construtivo: a) Piso (1) Terra (2) Tábua (3) Cimentado (4) Ladrilho/Cerâmica (5) Taco (6) Carpete (7) Outro:______________________ b) Parede (1) Estuque (2) Alvenaria (3) Madeira (4) Folha de zinco (5) Papelão (6) Plástico (7) Taipa 28. A edificação ocupa todo lote? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 29. Possui quintal? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 30. Existe mais de um domicílio no mesmo lote? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR 31. Número de cômodos ______ Quarto ______Sala estar/jantar ______Banheiro ______Cozinha ______Varanda/ Terraço ______Garagem ______Outro:______________________ _________________________________ Total:___________ 32. Quantos m² o senhor(a) acha que tem o seu domicílio? _______________________________ 60. Quantos m² o senhor (a) acha que tem o seu lote? _________________ 5. CARACTERÍSTICAS DA VENDA DO IMÓVEL (3) Placa 61. Quanto tempo o imóvel está à venda ?___________ meses (a) Próprio imóvel (b) Outra localidade, onde? ___________________________ 62. Possui anúncio de venda? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (4) Porta a porta (5) Jornal (6) Associação de moradores 63. Se sim, onde? (1) Imobiliária, (7) Estabelecimento comercial na região, qual (colocar contato)?________ onde?___________________ __________________________ ______________________________ 2) Corretor imobiliário, quem (colocar (8) Outro meio, qual?____________ ______________________________ contato)? _______________________ 5. CARACTERÍSTICAS DA VENDA DO IMÓVEL (continuação) 61. O proprietário do imóvel reside: (1) na edificação a venda (2) no mesmo lote, em edificação a parte (3) no bairro (4) fora do bairro , onde? ____________________________ (5) NS (5) NR 68. Em caso de não, qual o documento que garante a negociação do imóvel? _______________________________ _______________________________ _______________________________ 62. Caso resida no imóvel, para onde 69. Paga IPTU e outras taxas? pretende ir após a venda? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (1) Próprio bairro (2) Outra bairro, qual?_____________ 70. Qual o valor (R$) da venda do imóvel? _______________________________ R$ ____________________ (3) Outra cidade, qual?_____________ ________________________________ 71. Como é baseado o valor da venda (base de cálculo R$)? 63. Qual o motivo da venda do _______________________________ imóvel? _______________________________ __________________________________ _______________________________ __________________________________ __________________________________ 72. Como o comprador deverá efetuar o pagamento? 64. O imóvel é registrado em (1) à vista cartório? (2) a partir de empréstimo, de onde? (1) sim (2) não (3) NS (4) NR _______________________________ (3) financiamento, qual?___________ 65. O imóvel possui escritura pública? (4) parcelado, quantas parcelas?_____ (1) sim (2) não (3) NS (4) NR (5) troca de outro imóvel, carro, etc. (6) outro meio:__________________ 66. Possui contrato de venda? (1) sim (2) não, apenas contrato verbal/nenhuma documentação 73. É proprietário de outros imóveis? (3) NS (4) NR (1) sim, quantos e onde?___________ ________________________________ As questões 10 e 11 estão relacionadas ________________________________ com a questão 9. ________________________________ (2) não (3) NS (4) NR 67. Se sim, qual a situação do contrato? 74. Na sua opinião, qual a melhor área do (1) Contrato em papel sem firma bairro para morar? reconhecida (1) Alto da Colina (2) Contrato em papel com firma (2) Barro Duro reconhecida pelo cartório (3) Caixa d’Água (3) Contrato em papel registrado em (4) Guanabara ou Aparecida cartório (5) João XXIII (4) Outro, qual? (5) NR (6) NS