44ª RAPv – REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO E 18º ENACOR – ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA ISSN 1807-5568 RAPv Foz do Iguaçu, PR – de 18 a 21 de Agosto de 2015 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA CAPACIDADE DA ABSORÇÃO DO RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA DETERMINAÇÃO DOS ÍNDICES VOLUMÉTRICOS DE MISTURAS ASFÁLTICAS Victor Manuel de Queiroz Lourenço¹; Erinaldo Hilário Cavalcante². RESUMO Sabe-se que a construção civil é a principal fonte geradora de resíduos sólidos, superando a capacidade dos aterros receptores e outros espaços permitidos para a sua deposição. Nesse contexto, este estudo se insere nesta temática, partindo da caracterização do agregado de resíduo da construção e demolição (RCD) gerado em uma unidade recicladora localizada no Estado de Sergipe, afim de se analisar a viabilidade técnica do RCD em substituição ao agregado convencionalmente utilizado em misturas asfálticas usinadas a quente, com vistas à aplicação em camadas de rolamento de rodovias. Após a caracterização do agregado, verificou-se uma absorção elevada, de 10%, quando comparada ao agregado convencional, o que gerou a necessidade de uma análise mais específica. No processo de obtenção do teor de projeto da mistura asfáltica, a partir da metodologia Marshall, verificou-se que o mesmo seria de 13%, e não se enquadraria dentro das especificações estabelecidas para percentual de vazios (Vv) e relação betumem vazios (RBV) da mistura. Percebeu-se que, ao tentar moldar um corpo de prova com tal teor, o mesmo apresentava grande quantidade de ligante asfáltico em excesso, o que levou a conclusão de que o agregado, apesar de apresentar uma absorção de 10%, não estava absorvendo o ligante, e que desta forma, os parâmetros volumétricos obtidos eram incoerentes. Substitui-se, então, a densidade máxima teórica (DMT) pela densidade máxima medida (Gmm), determinada a partir do Método Rice, e chegou-se a um teor de projeto de 9,1%, e atendendo as especificações quanto a Vv e RBV. Dessa forma, concluiu-se que o asfalto não penetra os vazios do agregado por completo, e dessa forma, o uso da DMT não representa a realidade da mistura. O Método Rice aparece como uma alternativa interessante, já que leva em conta a absorção dos agregados e tem interferência muito grande nas determinações das relações volumétricas. PALAVRAS-CHAVE: resíduo da construção e demolição, absorção, Método Rice. ABSTRACT It is known that the construction is the principal source of solid waste, exceeding the capacity of landfills and other receptors space allowed for deposition. In this context, this study is part of this theme, based on the characterization of construction and demolition waste aggregate, generated at a recycling plant located in the State of Sergipe, in order to analyze the technical feasibility of the aggregate to replace conventionally used aggregate machined in asphalt mixtures hot, in order to apply on highways bearing layers. After characterizing the aggregate, there was a high absorption of 10%, compared to conventional aggregate, which generated the need for more specific analysis. In the process of obtaining the project content of the asphalt mixture design from the Marshall methodology, it was found that the same would be 13%, and would not fit within the limits for voids percentage (Vv) and empty bitumen relation (RBV) of the mixture. It was noticed that in trying to shape a specimen with such content, it presented a great amount of asphalt binder in excess, leading to the conclusion that the aggregate, despite having a 10% absorption was not absorbing binder, and thus the volumetric parameters obtained were inconsistent. Replaces up, then, the theoretical maximum density (DMT) by the maximum density measured (Gmm), determined from the Rice Method, and it reached a 9.1% project content, and meeting the specifications as Vv and RBV. Thus, it was concluded that the asphalt does not penetrate the gaps of the ¹ Engº Civil, Me, UFS, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 - São Cristóvão/SE, email: [email protected]. ² Engº Civil, Dsc., UFS, Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze - CEP 49100-000 - São Cristóvão/SE, email: [email protected]. aggregate completely, and thus, the use of DMT does not represent the reality of the mixture. The Rice Method appears as an interesting alternative, since it takes into account the absorption of aggregates and has very large interference in the determination of the volumetric ratios. ABSTRATCT: construction and demolition waste, absorption, Rice Method. Introdução A quantidade crescente de resíduos sólidos gerados na atualidade e as consequências do seu acúmulo inadequado apontam para a necessidade de desenvolvimento e aplicação de alternativas de gerenciamento desse passivo ambiental. Muitas pesquisas vêm sendo realizadas em todo o mundo a fim de resolver os problemas decorrentes deste processo em busca da sustentabilidade do setor construtivo. Uma das principais responsáveis pela problemática dos resíduos em cidades de grande e médio porte é a construção civil, causando um problema crônico que envolve questões de ordem ambiental, social e financeira, principalmente porque grande parte do material normalmente é disposta de forma irregular em locais como vias, rios, córregos, terrenos baldios e áreas de mananciais. Ainda que o descarte seja feito de forma adequada, dispostos em aterros sanitários ou áreas permitidas, o problema permanece, pois por corresponder a mais de 50% do total gerado, o Resíduo da Construção e Demolição (RCD) se torna o grande responsável pelo esgotamento dos mesmos (BERNUCCI, MOTTA e MOURA, 2004). Assim, é possível constatar que o volume de RCD afeta a qualidade de vida nas cidades. Pois, entre outras questões, como consequência do esgotamento dos aterros, criam-se novos locais para destinação dos mesmos pelos órgãos responsáveis pela limpeza urbana, o que aumenta as despesas públicas devido à necessidade de desapropriação de novas áreas e o transporte dos resíduos para locais cada vez mais distantes. Além disso, existem dificuldades de encontrar locais adequados para a construção dos aterros sanitários pelo fato destas áreas serem ambientalmente protegidas. Diante desse contexto, em 5 de julho de 2002 a resolução CONAMA nº 307 declarou os geradores como responsáveis pelo próprio resíduo, tendo como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização e a reciclagem (3 R’s). Segundo Motta (2005) apud Bodi et al. (1995), aproximadamente 80% de todo o resíduo de construção gerado é passivo de reciclagem. Comungando com a mesma opinião, ALT-MAT (1999) afirma que de todo o resíduo produzido, até 90% é constituído de materiais “duros”, que podem se tornar agregados. Quando reciclado, o RCD se torna aplicável em diversos setores da engenharia civil, entre elas as obras de pavimentação se destacam pela grande quantidade de material que consomem e porque nelas podem ser utilizados vários materiais componentes do entulho (concreto, argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras, etc.). Neste sentido, o uso de agregado reciclado da construção civil em pavimentação vem sendo abordados em muitos estudos e aplicado em alguns países como E.U.A, Brasil e diversos países europeus com sucesso, em virtude das diversas vantagens que essa aplicabilidade representa. Além disso, o uso de agregado reciclado na pavimentação gera uma redução de custos por ser mais barato do que o agregado convencional, o que o torna uma solução interessante para viabilizar investimentos que revertam a atual situação brasileira, pois, segundo dados da Confederação Nacional de Transporte (CNT, 2014), mais de 87% da malha rodoviária nacional ainda não é pavimentada. Portanto, diante destes numerosos trabalhos acerca do tema e da relevância desta alternativa no contexto brasileiro e, mais especificamente, na indústria da construção civil na cidade de Aracaju e área metropolitana, verifica-se a necessidade de avaliar o agregado de RCD que vêm sendo produzido no Estado para demostrar a viabilidade do uso do material e promover a sua utilização. Objetivo geral Este trabalho visa uma análise da influência da capacidade da absorção do resíduo da construção e demolição na determinação dos índices volumétricos de misturas asfálticas, em substituição ao agregado convencionalmente utilizado em misturas asfálticas usinadas a quente (CAUQ), com vistas à aplicação em camadas de rolamento de rodovias. Revisão bibliográfica Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA (2011), com a exceção do transporte do minério de ferro que ocorre por ferrovias, as rodovias respondem por mais de 70% das cargas nacionais, dado que se comparado ao de outros países, de mesma dimensão continental, indicam excessiva dependência do Brasil a esse modal de transporte. Dessa forma, especialmente no setor agrícola, que utiliza as rodovias tanto para o recebimento dos insumos quanto para o escoamento da produção para os mercados interno e externo, é possível observar a necessidade de extensão e melhoria da qualidade da malha rodoviária pavimentada no país. Neste mesmo contexto, o IPEA (2011) realizou um mapeamento das obras rodoviárias brasileiras, composto por um amplo levantamento das obras identificadas como necessárias por órgãos competentes e tais necessidades foram confrontadas com as projeções de investimentos apresentadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os dados desta comparação sugerem que é grande a carência do Brasil neste âmbito e que as propostas do principal programa de investimentos públicos da atualidade ainda são insuficientes para suprir toda a demanda. A Figura 1 abaixo ilustra tal discussão. Figura 1 – Demandas identificadas versus investimentos previstos no PAC em R$ bilhões. Além disso, em algumas regiões, cujas constituições geológicas são desprovidas de formações rochosas, estas condições se agravam, pois devido à ausência de material convencional suficiente para construção e manutenção dos pavimentos, os incentivos para investimento se tornam ainda menores. No Brasil, os casos mais críticos de escassez de jazidas de rochas estão localizados em municípios dos estados do Acre, Amazonas e Pará (Cabral, 2011). Desta forma, o uso de materiais não convencionais em obras de engenharia representa, no atual contexto de desenvolvimento mundial, um importante objeto de estudo. São inúmeras as pesquisas que descrevem experiências com materiais como fibra de bambu, borracha de pneu, resíduos da construção e demolição (RCD), dentre outros. Esses trabalhos têm relevância não só pela possibilidade de gerenciamento sustentável de resíduos, mas por tal aplicação muitas vezes ser capaz de melhorar a qualidade das obras e aumentar investimentos na área. No âmbito nacional, diversos estudos discutem a restrição das obras apenas aos materiais convencionalmente empregados e desenvolvem análises empíricas que sustentam a possibilidade do uso de outros materiais. Na área de pavimentação, têm-se resultados muito interessantes nesse sentido, pois aceita diversos tipos de materiais e em grandes volumes. Como alternativa a substituição dos agregados convencionalmente utilizado em misturas asfálticas do tipo concreto asfáltico usinado a quente (CAUQ), aparecem os agregados provenientes da reciclagem do resíduo da construção e demolição (RCD). Porém, baseado em trabalhos realizados com a mesma temática, observa-se uma característica marcante, e preocupante, que é a absorção desse agregado. O Quadro 1 apresenta os resultados referente a tal característica, obtido em outros estudos. ENSAIO DE CARACTERIZAÇÃO (agregados) Absorção (%) ESPECIFICAÇÃO Brita convencional → 0,5 - 2% Frota et al (2005) Motta (2005) Silva (2009) Oliveira et al Oliveira et al (2009) (2010) 11% 7,80% 8 a 10% 3,5 a 12,5% 7,12 a 7,12% Sinisterra (2014) 7,43% Quadro 1 – Resultado dos ensaios de absorção do agregado de RCD obtidos na literatura. Silva (2009) e Sinisterra (2014) realizaram dosagem de misturas asfálticas utilizando o agregado de RCD, e observaram que tal absorção influencia na análise das propriedades volumétricas das mesmas, culminando em teores de projeto de ligante asfáltico incoerentes. Tal fato ocorre devido aos valores de densidade máxima teórica (DMT) não levarem em consideração tal absorção, e fornecer densidades com valores que não representam a realidade, superiores aos valores reais. Como sugestão, tais autores avaliaram a substituição da DMT pela densidade máxima medida (DMM ou Gmm), obtida pelo Método Rice, desenvolvido por James Rice. Segundo Bernucci et al (2006), a massa específica máxima medida é dada pela razão entre a massa do agregado mais ligante asfáltico e a soma dos volumes dos agregados, vazios impermeáveis, vazios permeáveis não preenchidos com asfalto e total de asfalto. A Figura 2 ilustra o volume utilizado no cálculo da DMM e da GMM. Figura 2 – Ilustração dos volumes considerados na determinação da DMT e Gmm (Bernucci et al, 2006). A Figura 3 ilustra algumas etapas do ensaio. Figura 3 – Exemplo de procedimento para determinação da Gmm em (Bernucci et al, 2006). Materiais, métodos, apresentação e análise dos resultados O agregado de RCD utilizado nessa pesquisa foi coletado em uma obra de infraestrutura localizada no bairro Novo Horizonte no município de Nossa Senhora do Socorro – SE, executada pela empresa Torre Empreendimentos Rural e Construção Ltda., a mesma responsável pela reciclagem do RCD. O Quadro 2 apresenta as características do agregado. Ensaios de caracterização Metodologia RCD (miúdo) RCD (intermediário) RCD (graúdo) Massa especifica real (g/cm³) DNER – ME 194/98 - NBR 6458 (1984) 2,48 2,56 2,5 - 2,04 2,06 53,37 10,07 - 8,69 41,29 2,4 Satisfatória - Massa especifica aparente NBR 6458 (1984) (g/cm³) Absorção (%) NBR NM 53 (2003) Abrasão Los Angeles (%) NBR 6465 (1984) Índice de forma NBR 7809 (2005) Adesividade ao ligante asfáltico NBR 12583 (1992) Equivalente de areia DNER - ME 054/97 Quadro 2 – Características do agregado de RCD. O ligante utilizado no presente estudo trata-se do CAP 50/70, fornecido pela Brasquímica Candeias/BA, utilizado na obra de adequação e restauração da pista existente da BR 101/SE, gentilmente cedido pelo 4º Batalhão de Engenharia de Construção para esta pesquisa. Foram analisadas cinco propriedades do ligante, penetração, ponto de amolecimento, ponto de fulgor, ponto de combustão, conforme descrito no Quadro 3. Ensaios de caracterização Métodos de ensaios Resultados Penetração DNER - ME 155/2010 65,67*0,1mm Ponto de amolecimento DNER - ME 247/94 40°C Ponto de fulgor NBR 11341 (2008) 330°C Ponto de combustão NBR 11341 (2008) 340°C Quadro 3 – Caracterização do ligante asfáltico. As misturas asfálticas preparadas são do tipo concreto asfáltico usinado a quente (CAUQ), sendo empregado o método de dosagem Marshall, norteado pela norma DNER-ME 043/95, e utilizando-se a faixa C do DNIT. O principal objetivo da dosagem é encontrar um teor, chamado de teor de projeto, que fornece algumas propriedades, como estabilidade Marshall, fluência Marshall, massa específica, percentual de vazios (Vv), relação betume vazios (RBV). Para início do processo é necessário adotar um teor de ligante inicial, e a partir desse teor acrescentar e diminuir 0,5% e 1,0%, chegando a um total de 5 teores de ligante asfáltico. Baseado em teores de ligante encontrados na literatura, para misturas utilizando o agregado de RCD, adotou-se o teor de 8% como valor médio inicial, chegando aos teores de 7%, 7,5%, 8%, 8,5% e 9%. As propriedades dos corpos de prova obtidas para os 5 teores de ligante asfáltico são apresentadas no Quadro 4. Teor de CAP = 7,0% DMT (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,285 2,016 11,764 13,403 25,167 53,256 Teor de CAP = 7,5% DMT (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,271 2,052 9,642 14,616 24,258 60,251 Teor de CAP = 8,0% DMT (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,257 2,033 9,927 15,445 25,372 60,873 Teor de CAP = 8,5% DMT (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,243 2,021 9,917 16,310 26,227 62,189 Teor de CAP = 9,0% DMT (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,229 2,020 9,396 17,261 26,657 64,753 Quadro 4 – Massa específica, aparente e relações volumétricas de cada teor de ligante. Observa-se que as misturas ultrapassaram o Vv máximo (5%) e não atingiram o RBV mínimo (72%). Baseado nos resultados do Quadro 4, realizou-se uma estimativa do possível teor de projeto para a mistura contendo o agregado de RCD, chegando-se a um valor em torno de 13%. Realizou-se, então, a dosagem de 3 corpos de prova nesse teor, e verificou-se que parte do ligante não era absorvido pelos agregados, apresentando-se em excesso. O Quadro 5 apresenta as propriedades volumétricas para 13%. Teor de CAP = 13,0% DMT (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,125 1,997 6,022 24,655 30,676 80,371 Quadro 5 - Massa específica, aparente e relações volumétricas de um corpo de prova com teor de ligante igual a 13%. Nota-se que embora o RBV esteja dentro da especificação, o Vv ainda continua acima do máximo permitido. Dessa forma, chegou-se à conclusão que esse não é o teor de projeto, e que os parâmetros volumétricos obtidos para os teores de 7% a 9% não representam a realidade. A Figura 4 ilustra o corpo de prova com 13% de ligante asfáltico. Figura 4 – Teor de asfalto versus Vv e RBV da Mistura I. Baseado nos resultados acima, verificou-se novamente a dosagem para os mesmos teores, porém, utilizando os valores da Gmm obtidos pelo ensaio do Método Rice, em substituição aos valores calculados de DMT. O Quadro 6 apresenta os novos resultados. Teor de CAP = 7,0% Gmm (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,248 2,016 10,311 13,403 23,715 56,518 Teor de CAP = 7,5% Gmm (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,237 2,052 8,269 14,616 22,884 63,867 Teor de CAP = 8,0% Gmm (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,218 2,033 8,343 15,445 23,788 64,926 Teor de CAP = 8,5% Gmm (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,135 2,021 5,360 16,310 21,670 75,266 Teor de CAP = 9,0% Gmm (g/cm³) Gmb médio (g/cm³) Vv (%) VCB (%) VAM (%) RBV (%) 2,128 2,020 5,095 17,261 22,357 77,208 Tabela X – Massa específica, aparente e relações volumétricas de cada teor de ligante das misturas (Método Rice). A partir dos dados acima, criou-se o seguinte gráfico presente na Figura 5. Figura 5 – Teor de asfalto versus Vv e RBV (Método Rice). De acordo com a Figura X: X1 = 8,59% X2 = 8,93% X3 = 9,20% X4 = 9,68% Teor de projeto = 8,93 9,20 = 9,07 2 Com esse teor de projeto, a mistura teria o Vv igual a 4,62% e o RBV igual a 78,86%, atendendo as especificações do DNIT. Considerações finais Concluiu-se, então, que devido à alta absorção desse agregado, não seria adequado o uso da DMT nos cálculos da dosagem, pois a mesma considera que os vazios são preenchidos totalmente pelo ligante, o que não ocorre. Optou-se por obter a massa específica das misturas asfálticas a partir do método Rice, que leva em conta a absorção dos agregados, e concluiu-se que esse método é mais adequado para o agregado de RCD, pois a partir desse método chegou-se a um teor de projeto de 9,1%, com os parâmetros volumétricos (Vv e RBV) se enquadrando dentro das especificações. Embora a especificação do DNIT 031/2006 estabeleça que para camadas de rolamento utilizando a faixa C seja aceito teores de ligante asfáltico variando de 4,5% a 9,0%, é evidente que quando comparado com os agregados convencionalmente utilizados, 9,1% é um teor elevado de ligante. Esse teor é consequência da composição do agregado de RCD que, consequentemente, confere ao agregado elevada absorção. Em suma, é possível concluir com este trabalho que o agregado reciclado de RCD é de uso promissor na pavimentação, e que quando analisados materiais não convencionais, deve-se atentar para escolha dos métodos adequados, pois as metodologias convencionais podem fornecer resultados incoerentes, tornando o material impróprio para tal aplicação. REFERÊNCIAS Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. ABNT. 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