CAPÍTULO VII – ESTUDO DE CASO DOS TRABALHADORES EXPOSTOS AO BENZENO EM UMA REFINARIA DE PETRÓLEO VII.1. A EXPOSIÇÃO DOS TRABALHADORES AO BENZENO NOS PROCESSOS INDUSTRIAIS VII.1.1. O Benzeno e Suas Principais Fontes de Emissão O benzeno é um hidrocarboneto aromático naturalmente encontrado no petróleo bruto, variando de 1-4% em volume, podendo também ser encontrado na água do mar, em concentrações de até 0,8 ug/l, nas proximidades de depósitos naturais de petróleo e de gás natural (IARC/1989). A sua alta volatilidade em função de sua pressão de vapor de 95,2 mmHg a 25oC., e o seu relativamente baixo ponto de ebulição (80,1oC.) são as principais características físico-químicas responsáveis pôr sua rápida evaporação para a atmosfera (ver Quadro VII.1). Na atualidade, as principais fontes ambientais de benzeno produzidas pelo homem incluem a exaustão e as operações de abastecimento de veículos automotores, e, em menor escala, as emissões industriais, sendo que os gases da exaustão de automóveis contribuem com cerca de 80 a 85% das emissões para a atmosfera (Burroughs et al.,1995). Os gases emitidos pelos veículos que utilizam combustíveis derivados do petróleo podem conter até 100 diferentes tipos de hidrocarbonetos (Mendes,1987). Vários trabalhos e pesquisas, a nível mundial, têm atualmente se direcionado para os estudos de avaliação da poluição ambiental, onde o benzeno se destaca nas diversas linhas de pesquisa, devido as evidências epidemiológicas de suas propriedades carcinogênicas. O monitoramento ambiental dos contaminantes atmosféricos tem adquirido cada vez mais importância na avaliação das condições ambientais (Barbosa, 1997). As concentrações atmosféricas de hidrocarbonetos aromáticos podem refletir o nível de poluição do ar, sendo o benzeno atualmente considerado como um indicador de poluição urbana, com suas concentrações ambientais variando de acordo com as condições climáticas e diretamente com os picos de maior ou menor tráfego de veículos automotores, que, pôr sua vez, confirma a influência da exaustão de gases provenientes da queima de combustíveis na origem da poluição urbana (Fustinoni et al.,1995). A presença do benzeno na gasolina, seja pelo seu emprego como anti-detonante ou pela sua própria formação no motor pôr desalquilação de outros hidrocarbonetos aromáticos e pela sua ampla utilização na indústria petroquímica, podem resultar em emissões significativas para o meio ambiente. A exposição humana ocorre principalmente através da inalação deste ar contaminado, particularmente, em áreas de intenso tráfego automotivo, nos postos de abastecimento de combustíveis e outros locais de armazenamento e distribuição de petróleo e seus derivados, incluindo também, a exposição à fumaça de cigarros (ATSDR,1991). As concentrações atmosféricas podem variar de 0,2 ug/m3 em áreas rurais, até 349 ug/m3 em grandes centros urbanos industriais, podendo chegar a níveis de 10 mg/m3 durante o reabastecimento de automóveis (CONCAWE,1994a). Brugnone et al.(1992), comparando a exposição ao benzeno entre populações rural e urbana, demonstraram que a média das concentrações sangüíneas do benzeno, em populações de áreas rurais, era de aproximadamente 200 ng/l, e apresentava-se bem inferior em relação aos níveis de 296 ng/l. encontrados em populações urbanas. Em relação a população em geral, uma das fontes de exposição não ocupacional ao benzeno é, provavelmente, a fumaça dos cigarros. Em ambientes fechados, como os residenciais, as concentrações de benzeno podem alcançar os níveis de 500 ug/m3. Os fumantes inalam, em média, aproximadamente 1.800 ug de benzeno pôr dia, comparados com 50 ug pôr dia dos não fumantes. Os níveis sangüíneos de benzeno entre os fumantes apresentam-se 90% superiores aos de não fumantes, e são diretamente proporcionais ao número de cigarros fumados (Brugnone et al.,1992). VII.1.2. O Benzeno nos Processos Industriais O benzeno foi isolado pela primeira vez pôr Faraday, em 1825, na fração leve do gás resultante da degradação térmica do carvão mineral (hulha). O início da produção industrial do benzeno se deu a partir de 1849, como subproduto da destilação seca do carvão mineral, nas coquerias das usinas siderúrgicas. O coque metalúrgico, quando utilizado e aquecido em altas temperaturas, emana um vapor composto pôr mais de 100 tipos diferentes de hidrocarbonetos, sendo o benzeno um dos principais. Nas coquerias o benzeno é separado na fração de óleos leves de alcatrão, denominado BTX siderúrgico, constituído pôr misturas de benzeno, tolueno e xileno, da qual o benzeno é o componente em maior proporção (Barbosa, 1997). O processo carboquímico nas usinas siderúrgicas teve grande importância industrial, e representou a principal fonte de produção de benzeno pôr mais de um século, onde seu principal destino eram as indústrias de artefatos de borracha e pneus, couro e calçados, cola e adesivos, ceras e resinas, tintas e vernizes, solventes e diluentes, além das indústrias gráficas e de móveis, e de vários outros ramos industriais. A forma de produção e a utilização difusa do benzeno até então, acabariam pôr determinar a exposição acentuada e os sérios riscos para a saúde de um grande número de pessoas, incluindo trabalhadores e a população em geral (Kasahara et al.,1987; Inoue et al.,1983; Kumai et al.,1983). A obtenção de gasolinas, óleos combustíveis e lubrificantes, cada vez mais aprimorados e de melhor qualidade, tornou-se essencial na indústria após o advento do automóvel e de outros motores a combustão. O rápido crescimento da indústria automotiva, após a I Guerra Mundial, passou a gerar uma demanda sempre crescente no mercado consumidor, impulsionando a indústria de refino com a introdução de modificações no seu processo, a fim de possibilitar o craqueamento de frações mais pesadas do óleo cru e a produção de misturas mais leves (Barbosa, 1997). A partir da II Guerra Mundial, o benzeno e outros hidrocarbonetos aromáticos passaram a ser obtidos a partir de matérias-primas originárias do petróleo, através de processos industriais que envolvem reformas catalíticas e sínteses químicas nas refinarias e indústrias petroquímicas, possibilitando, assim, a produção dessas substâncias de forma mais econômica e com maior grau de pureza e qualidade (Barbosa, 1997). Os processos industriais existentes até a década de 40 foram, a partir de então, radicalmente modificados com a introdução do petróleo nos diversos modelos de produção. As indústrias petroquímicas passaram a gerar novas matérias-primas e novos produtos, o que diminuiu a necessidade do uso do benzeno de origem carboquímica. Ao passo que, paralelamente, crescia a demanda de produção de benzeno para a utilização em sínteses químicas nas indústrias de transformação. Portanto, dos anos 40 aos anos 70, verifica-se uma modificação no perfil de produção e consumo do benzeno, onde o benzeno de origem carboquímica obtido nas siderúrgicas foi perdendo sua importância industrial e econômica, a ponto de representar, em 1987, menos de 10% do benzeno produzido mundialmente. (FUNDACENTRO,1993). No Brasil, as principais fontes de produção do benzeno encontram-se, atualmente, concentradas nos parques de produção petroquímica e de refino de petróleo: CamaçariBA, Triunfo-RS, Capuava-SP e Cubatão-SP, que são responsáveis pôr aproximadamente 95% da produção nacional (ver Quadro VII.2). O restante provem da destilação fracionada de óleos leves do alcatrão (BTX siderúrgico) obtida a partir do carvão mineral, através dos processos de destilação seca nas principais companhias siderúrgicas nacionais: Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), AÇOMINAS e USIMINAS (Barbosa, 1997). Aproximadamente 95% do total do benzeno consumido no Brasil, é utilizado como matéria-prima para síntese de produtos petroquímicos básicos como etilbenzeno, cumeno, caprolactama, alquilbenzeno linear e anidrido maléfico. Esses produtos, pôr sua vez, tornam-se intermediários de novas sínteses químicas para a produção de plásticos, resinas, elastômeros, tintas, pesticidas, e muitas outras substâncias industrializadas. E, menos de 5% dessa produção é destinado ao mercado produtor de álcool anidro, sendo adicionado à gasolina como combustível, a nível nacional, além de, uma outra pequena parcela restante, ser consumida como solvente em processos industriais específicos e em laboratórios de ensino e pesquisa (ABIQUIM,1990). VII.1.3. O Refino do Petróleo O petróleo, em estado natural, é uma mistura de hidrocarbonetos, além de, em proporções bem menores, compostos oxigenados, nitrogenados, sulfurados e metais pesados, considerados como contaminantes. O processo industrial de refino do petróleo passa pôr uma série de operações de beneficiamento para a obtenção dos mais variados produtos de ampla utilização na indústria em geral. A primeira etapa deste processo é a destilaçao primária, onde são extraídas as suas principais frações que dão origem à gasolina e ao óleo diesel, à nafta, aos solventes e querosenes (de iluminação e aviação), além de parte do GLP (gás de cozinha). Numa segunda etapa, o resíduo da destilação primária é processado na destilação a vácuo, na qual é extraída do petróleo mais uma parcela de diesel, além de frações de um produto pesado chamado gasóleo, destinado à produção de lubrificantes ou a processos mais sofisticados, como o craqueamento catalítico, onde o gasóleo é transformado em GLP, gasolina e óleo diesel. O resíduo da destilação a vácuo pode ser usado como asfalto ou na produção de óleo combustível. Uma série de outras unidades de processo transformam frações pesadas do petróleo em produtos mais leves e colocam as frações destiladas nas especificações para o consumo (Barbosa, 1997. Conhecer a qualidade do petróleo a destilar é fundamental para as operações de refinação, pois sua composição e aspecto variam em larga faixa, segundo a formação geológica do terreno de onde o petróleo foi extraído e a natureza da matéria orgânica que lhe deu origem (Barbosa, 1997). Atualmente, a indústria mundial de refino de petróleo produz mais de 2.500 produtos, incluindo gás liquefeito (GLP), gasolina, querosene, óleo diesel, combustível de aviação, e uma variedade de outros óleos combustíveis e lubrificantes, além de diversos insumos para a indústria petroquímica. No Brasil, pôr exemplo, só a Petrobrás produz, atualmente, em suas 11 refinarias mais de 80 produtos diferentes, como gás natural, naftas, gasolinas, querosenes, óleos diesel e combustíveis, asfaltos, solventes de borracha, lubrificantes, e, inclusive, o próprio benzeno, como uma importante matériaprima para a indústria de transformação química e petroquímica (Barbosa, 1997). Os produtos originários da indústria de refino de petróleo podem ser utilizados nas mais diversas indústrias nacionais e internacionais, que vão desde a produção de propelentes e detergentes biodegradáveis até a produção de alumínio. Exemplo disto é o aproveitamento pelas refinarias da Petrobrás de cada barril de petróleo, o que corresponde, atualmente, em média a (Barbosa, 1997): • 9,6% de Gases Liquefeitos (GLP); • 19,3% de Gasolinas Automotivas e de Aviação; • 9,1% de Naftas e Solventes; • 4,5% de Querosenes de Iluminação e Aviação; • 35,4% de Óleo Diesel; • 16,6% de Óleos Combustíveis; • 5,4% de Derivados diversos. VII.4. A Exposição dos Trabalhadores ao Benzeno Em relação a exposição de trabalhadores ao benzeno na indústria do petróleo, dois importantes trabalhos foram realizados pela CONCAWE ( European Organization Oil Companies for Environmental and Health Protection) e pôr associações da indústria petrolífera européia (European National Petroleum Industry Associations), nos períodos de 1977-1985 e 1986-1992, em diferentes linhas de trabalho na indústria e comércio do petróleo na Europa. Essas avaliações concluíram que mais de 90% dos trabalhadores das áreas de refino, distribuição, e comércio do petróleo estariam expostos a concentrações ambientais de benzeno inferiores a 1 ppm (CONCAWE,1994c). Considerando especificamente os trabalhadores das indústrias de refino de petróleo, foi verificado que 96% dos operadores de Unidades de Reforma Catalítica, 94% dos técnicos de Laboratórios de Controle de Qualidade e 90% dos operadores de Plantas de Aromáticos encontravam-se expostos a níveis inferiores a 1 ppm nesses respectivos postos de trabalho (ver Quadro VII.3) (Barbosa, 1997). Kawai et al.(1990) ao monitorarem, individualmente, 83 trabalhadores de uma refinaria de petróleo japonesa, observaram que somente três desses trabalhadores encontravam-se expostos a concentrações de benzeno superiores a 1 ppm, e que as médias entre os grupos avaliados variaram de 0,07 a 0,71 ppm. De acordo com o “National Institute for Occupatinal Safety and Health” (NIOSH), em 1983, os Estados Unidos possuíam 285 refinarias que empregavam 70 mil trabalhadores, e, pôr estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do “American Petroleum Institute” (API), a indústria mundial de refino de petróleo empregava, entre os anos de 1986 a 1987, aproximadamente 500 mil trabalhadores distribuídos em 700 refinarias. Esses trabalhadores estariam sujeitos a uma série de riscos potencialmente graves para a saúde nos seus ambientes de trabalho, devido a exposição, principalmente, a hidrocarbonetos presentes no óleo cru ou formados durante os processos de refino, através do contato direto com a pele e pela inalação dos seus gases e vapores. Normalmente, as concentrações desses contaminantes ambientais variam na ordem de Partes Pôr Bilhão (ppb) a frações de Partes Pôr Milhão (ppm), sendo que o principal risco de exposição ocorre durante as operações de rotina de coleta de amostras, diretamente na planta de processo (Barbosa, 1997). Nas últimas décadas, a indústria de refino tem alcançado um considerável nível de automação dos seus processos operacionais, juntamente com a introdução gradual de medidas de controle sobre as emissões fugitivas e uma maior atenção em relação a exposição ao benzeno. As unidades de processamento das refinarias são compostas pôr sistemas fechados e isolados, e altamente automatizados, onde praticamente todo o processo industrial é controlado e monitorado através de salas de controle (Barbosa, 1997). A exposição dos trabalhadores ao benzeno nas refinarias é atualmente considerada como uma das mais importantes sob o ponto de vista da prevenção e do controle. Ocorre principalmente durante a coleta e análise das amostras da nafta reformada pelos trabalhadores envolvidos nessas respectivas etapas operacionais (IARC, 1989; Burgess,1994) VII.1.5. A Exposição dos Trabalhadores ao Benzeno no Brasil No Brasil, desde a década de 40, as publicações científicas já alertavam para o risco da exposição ocupacional ao benzeno (Wakamatsu & Fernícola,1980). E, durante os anos 60 e 70, foram produzidos alguns trabalhos utilizando o fenol urinário como indicador biológico de exposição, além de estudos de casos de anemia aplástica, e de determinação da presença do benzeno em solventes (Timossi & Andrade,1971). Em 1983, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Santos-SP, denunciou a existência de diversos casos de leucopenia pôr exposição ocupacional ao benzeno entre os trabalhadores da COSIPA - Companhia Siderúrgica Paulista, em Cubatão-SP. Entre 1983 a 1987, centenas de trabalhadores foram afastados com diagnóstico de “benzenismo”, devido a exposição ao gás de coqueria resultante do processo siderúrgico. As concentrações de benzeno, tolueno, e xileno (BTX) neste gás, podiam alcançar níveis entre 30 e 40 ppm (Barbosa, 1997). Os relatórios das inspeções realizados na época, pôr órgãos governamentais de fiscalização das condições de trabalho e saúde, revelaram que havia contaminação ambiental, afetando não somente os trabalhadores das atividades de risco primário. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Santos-SP, em 1984, também relatou ocorrências similares entre trabalhadores de manutenção e montagem industrial (Barbosa, 1997). Em 1985, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas de Volta Redonda-RJ denunciou a existência de 50 casos de leucopenia em trabalhadores da CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, e, em 1986, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas de Santo André-SP confirmou outros 60 casos entre os trabalhadores da Fábrica de BHC das Indústrias Químicas Matarazzo, em São Caetano do Sul-SP (Barbosa, 1997). No ano de 1990, a Nitrocarbono S.A., uma importante indústria química do Polo Petroquímico de Camaçari-BA, foi interditada pela DRT-BA (Delegacia Regional do Trabalho), em decorrência de 2 óbitos pôr benzenismo, incluindo o de um médico do trabalho, desencadeando um processo de investigação epidemiológica e monitoramento ambiental e biológico nesta companhia e em outras empresas do polo (FUNDACENTRO,1993). VII.1.6. A Legislação Sobre o Benzeno no Brasil Em relação à exposição de trabalhadores ao benzeno, a legislação brasileira reconhece, desde 1932, qualitativamente a existência de riscos gerados pela utilização do benzeno em algumas atividades industriais, como a destilação do carvão mineral e os trabalhos que envolvem a manipulação de solventes, e outros produtos voláteis e inflamáveis. Em 1939, a Portaria Ministerial No SCM 51, de 13/04/39, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio relaciona o benzeno no quadro de atividades industriais consideradas perigosas e insalubres, para as quais se atribuía um adicional de insalubridade (Barbosa, 1997). Nos Estados Unidos, em 1934, o Departamento de Indústria e Trabalho de Massachusetts, determinou, a princípio, o limite de exposição ao benzeno de 75 ppm sendo imediatamente após reduzido para 35 ppm, níveis estes, que permaneceram até 1948, quando a “American Conference of Governmental Industrial Hygienists” (ACGIH) passou a regulamentar esses limites, mantendo ainda um LTMPT (Limite de Tolerância Média Ponderada pelo Tempo/8 horas) de 35 ppm (Barbosa, 1997). Em 1978, a legislação trabalhista brasileira, seguindo essa tendência internacional, definiu e regulamentou uma lista de aproximadamente 145 substâncias químicas cujas concentrações ambientais deverão obedecer parâmetros quantitativos, também chamados de Limites de Tolerância Ambientais, entre os quais encontra-se o benzeno. A Portaria 3.214, de 08 de junho de 1978, através da Norma Regulamentadora No 15 (NR-15), Anexo 11, define em termos legais Limite de Tolerância Ambiental como “concentração ou intensidade máxima ou mínima relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante sua vida laboral”, e determina um limite de 8 ppm para o benzeno (Vasconcelos,1995; Araújo et al.,1993; Arcuri et al.,1991). Nos últimos anos, várias organizações governamentais internacionais responsáveis pela fiscalização e legislações referentes à saúde do trabalhador passaram a recomendar novos limites (Rappaport,1995). Nesse processo, muitas conquistas têm sido obtidas no sentido de se reduzir cada vez mais esses limites, e, atualmente, importantes agências de reconhecimento internacional, como a “Occupational Safety and Health Administration” (OSHA) e o “National Institute for Occupacional Safety and Health” (NIOSH), adotam um LTMPT de 0,1 ppm, enquanto a própria ACGIH, apesar de recomendar oficialmente ainda 10 ppm, se propõe a reduzi-lo para 0,3 ppm (ACGIH,1995; Aldridge,1995; Aitio et al.,1995). A indústria brasileira, em 1993, segundo dados oficiais da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO, do Ministério do Trabalho, empregava cerca de 116 mil trabalhadores na produção e consumo do benzeno, dos quais, aproximadamente, 38 mil encontravam-se potencialmente expostos a essa substância (Quadro VII.4) (Barbosa, 1997). Atualmente, estima-se que esses números sejam bem mais expressivos, o que contribuiu para a regulamentação da Portaria No.14, de 20 de dezembro de 1995, da SSST-Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho, do Ministério do Trabalho, com a inclusão do Anexo 13-A e das Instruções Normativas No 001 (Avaliação das Concentrações do Benzeno em Ambientes de Trabalho) e No 002 (Vigilância da Saúde do Trabalhador na Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno) (Barbosa, 1997). Esta nova Portaria regulamenta as ações, atribuições e procedimentos da prevenção da exposição dos trabalhadores ao benzeno, e amplia a participação dos trabalhadores neste processo, através do compromisso firmado entre estes e algumas empresas das áreas petroquímica e metalúrgica, pela assinatura do denominado Acordo do Benzeno (Barbosa, 1997). O Acordo do Benzeno representa um importante avanço em relação ao controle das condições de segurança e saúde dos trabalhadores, quanto a exposição ocupacional ao benzeno, pois se aplica a todas as empresas e indústrias que produzem, transportam, armazenam, utilizam ou manipulam o benzeno ou suas misturas líquidas, contendo 1% ou mais em volume (Barbosa, 1997). Na assinatura deste Acordo, várias indústrias e entidades reconhecidas nacionalmente estavam representadas: • Confederação Nacional da Indústria-CNI; • Associação Brasileira da Indústria Química-ABIQUIM; • Instituto Brasileiro de Siderurgia-IBS; • Sindicato da Indústria de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo-SINPROQUIM; • Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria-CNTI; • Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos-CNTM; • Central Única dos Trabalhadores-CUT; • Força Sindical; • Ministério do Trabalho-MTb; • Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do TrabalhoFUNDACENTRO; • Ministério da Saúde • Ministério da Previdência e Assistência Social Em relação às concentrações ambientais do benzeno, essas empresas tinham prazo até 31/12/97 para se adequarem a um novo valor limite -Valor de Referência Tecnológico (VRT)-, que substitui o antigo Limite de Tolerância para o benzeno ouTLV (“Threshold Limit Value”). Este valor limite ficou estabelecido em 1 ppm, com exceção para as companhias siderúrgicas e produtoras de álcool anidro, cujo limite é de 2,5 ppm. Esse novo conceito do VRT provém do conhecido TRK alemão, que vem a ser um limite adotado na Alemanha para substâncias carcinogênicas e mutagênicas (FUNDACENTRO,1996). O acordo estabelece ainda as competências do Ministério do Trabalho (SSST e Fundacentro), do Ministério da Saúde, das Empresas e dos Trabalhadores, com a criação de dois importantes organismos: a Comissão Nacional Permanente do Benzeno (CNPBenzeno), como órgão tripartite de discussão, negociação e acompanhamento do acordo; e o Grupo de Representantes dos Trabalhadores do Benzeno (GTB), destinado a acompanhar a elaboração, implantação e desenvolvimento do Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno - P.P.E.O.B., e os prazos de adequação das Empresas aos novos valores permissíveis nos ambientes de trabalho (Barbosa, 1997). VII.1.7 A Refinaria de Petróleo Inaugurada nos anos 60, a refinaria de petróleo que servirá de caso-referência tem capacidade para o processamento diário de 36,4 mil metros cúbicos de petróleo, que corresponde a, aproximadamente, 20% da capacidade de refino de toda a empresa, que possui diversas outras refinarias espalhadas pelo país. O petróleo processado nas unidades da refinaria em questão vem, principalmente, da Arábia Saudita e dos poços de produção marítima da região de exploração e produção da Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro (Barbosa, 1997). São produzidos pelas Unidades de Processamento da Refinaria 53 tipos de derivados, entre combustíveis, lubrificantes e insumos para a indústria petroquímica. Parte desta produção é exportada, onde a gasolina, o óleo diesel, e o óleo combustível vão principalmente para os Estados Unidos, Ásia, Uruguai e Argentina; enquanto os lubrificantes também para os Estados Unidos, Ásia, e Índia; e as parafinas para a América do Sul (Barbosa, 1997). As Unidades da Refinaria estão organizadas em 4 Plantas Operacionais, assim distribuídas: • Planta de Matérias Primas; • Planta de Combustíveis e Petroquímicos; • Planta de Lubrificantes e Parafinas; • Planta de Utilidades. A Planta de Matérias Primas é constituída pôr Unidades de Destilação Atmosférica e a Vácuo e Unidades de Desfaltação a Solvente e a Propano. A Planta de Lubrificantes e Parafinas pôr Unidades de Hidrogenação, Desaromatização, Desparafinação e Desoleificação. A Planta de Utilidades pôr casas de bombas, caldeiras, separadores de água e óleo, torres de refrigeração, central termoelétrica e estação de tratamento de água, efluentes hídricos e esgoto. Pôr fim, a Planta de Combustíveis e Petroquímicos, onde se localiza a Unidade de Reforma Catalítica, uma das mais importantes desta refinaria, em termos de exposição dos trabalhadores ao benzeno. A Unidade de Reforma Catalítica é responsável pela produção de gasolina de alta octanagem, através da transformação dos hidrocarbonetos parafínicos e naftênicos da nafta pesada em aromáticos (Barbosa, 1997). VII.2 - IDENTIFICAÇÃO DO PERIGO DO BENZENO VII.2.1. Antecedentes do Benzeno O benzeno é um hidrocarboneto aromático, cuja fórmula química é C6H6 e o peso molecular 78,11g/mol. É um líquido incolor estável em temperatura ambiente e pressão atmosférica normal. Possui um odor aromático característico, um ponto de ebulição (80.1 ºC) relativamente baixo e uma alta pressão de vapor que causa uma rápida evaporação em temperatura ambiente. É uma substância altamente inflamável e muito solúvel em água, se misturando facilmente com outros solventes orgânicos (IPCS, 1993). O benzeno está presente como constituinte em óleos combustíveis sendo usado como solvente de gorduras, ceras, resinas óleos, tintas, plásticos e borracha. Ele também é utilizado na produção de detergentes, explosivos, drogas farmacêuticas e na extração de óleos de sementes (IPCS, 1993). VII.2.2. Avaliação do Perigo do Benzeno A.II.2.2.1. Alguns Princípios Para a Avaliação do Perigo do Benzeno 1) O objetivo da avaliação do perigo é identificar os tipos de efeitos adversos que podem estar associados com a exposição ao benzeno e caracterizar a qualidade e a solidez das evidências que apoiam esta identificação. 2) O perigo específico que nos preocupa nesta revisão é o câncer, ainda que também deva-se considerar os efeitos tóxicos sistêmicos. 3) Os estudos epidemiológicos são, geralmente, considerados a melhor fonte de informação para identificar o perigo para humanos. Entretanto, para a maioria das substâncias químicas estes estudos não existem. Além do mais, é muito difícil se estabelecer nexos causais sólidos entre a exposição e as doenças crônicas. 4) Os estudos experimentais em animais também fornecem uma informação útil para a identificação do perigo. São estudos controlados e podem, mais facilmente, estabelecer nexos causais. Entretanto, os resultados destes estudos tem a limitação óbvia de os animais utilizados em experimentos não pertencerem a mesma espécie que nos interessa: o homem. 5) Com a possível exceção do arsênico, todas as substâncias conhecidas como carcinogênicas em seres humanos são também em uma ou mais espécies de animais. Entretanto, na maioria das substâncias carcinogênicas em animais não se tem verificado o mesmo efeito em seres humanos. 6) As informações disponíveis sobre mecanismos biológicos confirmam o enunciado de que as respostas biológicas obtidas com animais utilizados em experimentos são similares em seres humanos. Entretanto, sem dúvida, as respostas biológicas à algumas substâncias podem diferir consideravelmente entre espécies diferentes. 7) Os locais de formação de tumores em seres humanos podem em algumas situações específicas diferir dos observados em animais experimentais. 8) As informações obtidas a partir da administração em animais de uma substância pela mesma via de exposição que é vivenciada pelos seres humanos é considerada com valor mais preditivo do que a informação obtida pela administração pôr vias diferentes de exposição. Entretanto, deve se considerar que, sem dúvida, se os tumores se formam no interior do organismo, a via de exposição não é tão importante. 9) Em geral, uma resposta múltipla em animais experimentais - formação de tumores ou efeitos sistêmicos em várias espécies e em ambos os sexos, resultante de níveis de exposições diferentes, com intensidade/freqüência de respostas diretamente relacionadas com a magnitude da exposição, e em vários locais do corpo - fornece evidências mais convincentes sobre o potencial carcinogênico ou o dano sistêmico para o ser humano do que uma resposta limitada a uma só espécie, a um só sexo, a locais do corpo onde freqüentemente não ocorrem tumores ou a efeitos sistêmicos em animais que não estão submetidos à exposição (pôr exemplo, tumores de fígado em ratos machos do grupo controle). VII.2.2.2. Dados sobre os Danos à Saúde Causados pelo Benzeno Efeitos Agudos 1) A exposição simultânea ao benzeno e ao etanol pode aumentar a toxicidade do mesmo (ATSDR, 1991); 2) Os sintomas neurológicos em seres humanos associados à exposição ao benzeno incluem tonteira, dor de cabeça e perda de consciência. A ingestão de grandes quantidades de benzeno pode resultar em vômito, tonteira, convulsão e óbito em seres humanos (ATSDR, 1991); 3) A exposição ao benzeno em seu estado de vapor ou líquido pode irritar a pele, olhos e o trato respiratório superior. A exposição dérmica ao benzeno pode resultar em irritação e formação de bolhas (ATSDR, 1991; Sittig, 1985); 4) Estudos com animais mostraram efeitos neurológicos, imunológicos e hematológicos a partir de exposições orais e via inalação ao benzeno (ATSDR, 1991); 5) Testes sobre exposição aguda em animais, como testes de CL50 e DL50 em ratos, camundongos, coelhos e cobaias, têm demonstrado que o benzeno apresenta baixa toxicidade aguda pôr inalação, toxicidade aguda moderada pôr ingestão e toxicidade aguda moderada ou baixa pôr exposição dérmica (RTECS, 1993). Efeitos Crônicos 1) A inalação prolongada de benzeno causa alterações hematológicas em seres humanos. O benzeno afeta especificamente a medula óssea (o tecido que produz as células sangüíneas). Podem ser desenvolvidas anemias plásticas, hemorragia excessiva e danos no sistema imune (através de alterações nos níveis sangüíneos de anticorpos e perda de células brancas do sangue) (ATSDR, 1991); 2) Em animais, a exposição crônica ao benzeno via oral e via inalação crônica ao benzeno produz os mesmos efeitos vistos em seres humanos (ATSDR, 1991); 3) O benzeno causa aberrações cromossômicas, tanto numéricas quanto estruturais, em seres humanos (ATSDR, 1991); 4) A CRf e a DRf para o benzeno estão sendo revistos pela EPA (IRIS, 1993). Efeitos Reprodutivos e de Desenvolvimento, Embriotoxicidade e Teratogenicidade 1) Foram observadas alterações menstruais e diminuição do tamanho dos ovários em mulheres expostas ocupacionalmente a altos níveis de benzeno (ATSDR, 1991); 2) Vários estudos epidemiológicos de mulheres expostas ocupacionalmente sugerem que o benzeno pode reduzir a fertilidade em mulheres expostas a altos níveis. Entretanto, estes estudos são limitados devido à falta da história da exposição, exposição simultânea a outras substâncias e falta de seguimento (ATSDR, 1991); 3) Os dados disponíveis sobre os efeitos de desenvolvimento em seres humanos são inconclusivos, devido à exposição concomitante a outras substâncias químicas, tamanho de amostragem inadequado e falta de dados quantitativos de exposição (ATSDR, 1991); 4) Quando da exposição ao benzeno, via inalação, de animais grávidas, foram observados efeitos adversos no feto, incluindo baixo peso ao nascer, atraso na formação dos ossos e danos na medula óssea (ATSDR, 1991). Risco de Câncer 1) Em seres humanos expostos ao benzeno, tem sido observado o aumento na incidência de leucemia (câncer no tecido que forma as células brancas do sangue) (ATSDR, 1991; IRIS, 1993); 2) A EPA e o IARC tem classificado o benzeno como integrante do Grupo A, reconhecido como carcinógeno em seres humanos (IRIS, 1993); Mecanismo de Ação Tóxica Os mecanismos de ação tóxica do benzeno não estão ainda totalmente esclarecidos, mas existem fortes evidências que sugerem que esses efeitos dependem diretamente do metabolismo, isto é, da ativação metabólica desta substância nos organismos vivos. Os principais produtos do metabolismo do benzeno são o fenol, o catecol, a hidroquinona, e os derivados de anel aromático aberto, como o ácido trans,trans-mucônico (Barbosa, 1997). A toxicidade do benzeno pode se dar pôr sua ação direta ou através de seus metabólitos, podendo ainda agir de forma sinérgica. Na medula óssea as “stem cells” e as células do estroma são consideradas órgãos-alvo em potencial para a ação tóxica do benzeno. A toxicidade medular do benzeno deve-se à capacidade de ligação de um ou de mais de seus metabólitos, formados a partir da biotransformação, com macromoléculas como o DNA e proteínas (Barbosa, 1997). A ação do benzeno sobre a medula óssea determina uma lesão central que é responsável pelas alterações hematológicas periféricas que se instalam e que podem ser tardias e inespecíficas. Pelo fato da medula óssea ser parte integrante dos sistemas imune e hematopoiético, suas alterações podem resultar em distúrbios em ambos aparelhos. Um dos clássicos modelos de indução de atrofia da medula óssea é através da administração do benzeno, onde a medula é ocupada pôr tecido adiposo permeada pôr focos isolados de células hematopoiéticas e linfopoiéticas (Barbosa, 1997). VII.2.2.3 Transporte, Distribuição e Transformação do Benzeno no Meio Ambiente O benzeno apresenta-se no ar predominatemente na forma de vapor, e o tempo de persistência no ambiente pode variar de horas a dias, de acordo com o clima, e em função da concentração de radicais de hidroxila, dióxido de enxofre e nitrogênio. O benzeno presente no ar é carreado com a chuva contaminando as águas superficiais e subterrâneas, sendo solúvel na razão de aproximadamente 1.000 mg/litro. Devido, fundamentalmente, a sua volatização, o tempo de persistência do benzeno em água é de poucas horas, e sua adsorção pelos sedimentos é praticamente nula (IPCS, 1993). O benzeno presente no solo pode passar para o ar pôr volatização, e para as águas superficiais pela correnteza. Se enterrado ou liberado em camadas inferiores à superfície, será transportado pelas águas subterrâneas (IPCS, 1993). Em condições aeróbicas o benzeno presente na água e no solo é rapidamente degradado, pela ação bacteriana, a lactato e piruvato, através da formação de produtos intermediários como fenol e catecol. Entretanto, em condições anaeróbicas (pôr exemplo em águas subterrâneas) a degradação bacteriana requer semanas ou meses. Não havendo degradação bacteriana o benzeno pode acumular. Não existem provas de uma bioconcentração1 ou bioacomulação2 do benzeno em organismos aquáticos ou terrestres (IPCS, 1993). VII.2.2.4 - Dados Experimentais sobre a Toxicidade do Benzeno Estudos com Animais A exposição de roedores ao benzeno, tanto pôr entubação, quanto pôr inalação, resultou no desenvolvimento de neoplasias. Estudos nos quais o benzeno foi administrado, através de entubação (nos níveis de dose 0, 50, 250 e 500 mg/kg de peso corpóreo), a grupos de 30 a 40 ratos machos e fêmeas, da linhagem Sprague-Dawley, durante toda a vida demonstraram um aumento da incidência de tumores mamários, dose-dependente, em fêmeas e carcinomas de glândula Zimbal, carcinomas da cavidade oral e leucemias/linfomas em ambos os sexos (Barbosa, 1997). Em outro estudo (NTP, 1986), onde o benzeno também foi administrado pôr entubação (nos níveis de dose 0, 50, 100 e 200 mg/kg de peso corpóreo), a grupos de 50 ratos da linhagem F344/N de ambos os sexos, e grupos de 50 camundongos da linhagem B6C3F1 de ambos os sexos (nos níveis de dose 0, 25, 50 e 100 mg/kg de peso corpóreo), os animais foram tratados 5 vezes pôr semana em um total de 103 semanas. Os resultados deste estudo revelaram um aumento significativo (p<0,05) da incidência de vários crescimentos neoplásicos em ambos os sexos e em ambas as espécies. Tanto em ratos como em camundongos, machos e fêmeas, aumentou a incidência de carcinomas da glândula Zimbal. Ratos machos e fêmeas apresentaram tumores na cavidade oral e os machos mostraram aumento na incidência de tumores na pele. Os camundongos de ambos os sexos tiveram aumento na incidência de linfomas e tumores no pulmão, observou-se nos machos tumores nas glândulas harderiana e prepucial, enquanto nas fêmeas foram observados tumores nas glândulas mamárias e nos ovários. Em geral o aumento da incidência foi dose-dependente. Pequenos aumentos na incidência de neoplasia hematopoiética foram relatados em camundongos machos C57Bl expostos pôr inalação a 300 ppm de benzeno durante 6 horas pôr dia, 5 dias na semana, pôr 488 dias. Não houve aumento na incidência de tumor em camundongos machos AKR ou CD-1 similarmente expostos a 100 ppm ou 100 a 300 ppm de benzeno, respectivamente. Da mesma forma, ratos machos Sprague- 1 Refere-se ao aumento da concentração de uma substância química no organismo (EPA, 1989) Refere-se ao crescimento progressivo de uma quantidade de uma substância química no organismo ou parte do organismo que ocorre pôr conta da taxa de ingresso que excede a habilidade do organismo de remover a substância do corpo (EPA, 1989) 2 Dawley expostos pôr inalação a 300 ppm de benzeno não apresentaram aumento na incidência de neoplasias (Snyder et al., 1981). Em outro estudo utilizando ratos machos e fêmeas Sprague-Dawley (com 13 semanas de idade) expostos: a 200 ppm de benzeno 4 horas pôr dia, 5 dias pôr semana (durante 7 semanas); 200 ppm 7 horas pôr dia, 5 dias pôr semana (durante 12 semanas); 300 ppm 7 horas pôr dia, 5 dias pôr semana (durante 85 semanas), foi observado um aumento significativo de carcinomas da glândula Zimbal e hepatomas. Com base neste estudo calculou-se o TWA3 igual a 241 ppm, considerando 8 horas pôr dia em 5 dias pôr semana (Maltoni et al., 1983). Em diversos estudos, nos quais roedores (ratos e camundongos) foram expostos via inalação a níveis de benzeno que variavam de 3,2 a 15 600 mg/m3 ( 0,99 e 4 836 ppm), em um período de tempo de no mínimo 3 e máximo 32 semanas, com um regime de exposição equivalente, de uma forma geral, a 7 horas/dia, cinco dias pôr semana , puderam ser observados efeitos tóxicos sistêmicos como leucemia, alterações tanto numéricas quanto morfológicas das células sangüíneas, aumento no peso de órgãos como o baço e rins, aparecimento de várias células pluripotentes e lesões nodulares no baço, entre outros (Quadro VII.5). O benzeno também tem demostrado ser carcinogênico após exposições via oral. Os experimentos sumarizados no Quadros VII.6 e VII.7, que demonstram tanto os desenhos experimentais em animais como os principais efeitos observados, permitem-nos concluir que a administração do benzeno via oral ou via inalação provoca vários tipos de neoplasias em ratos e/ou em camundongos. Entre os diversos tipos de neoplasias epitelial, pôr exemplo, foram observados os da glândula Zimbal, fígado, tecido mamário e cavidades nasais, além de alguns linfomas e leucemias. Estudos com Humanos Os efeitos em seres humanos após a exposição ao benzeno são qualitativamente os mesmos para a população em geral e os trabalhadores expostos nos locais de trabalho. No que se refere especificamente ao câncer, o fato do benzeno ser um leucemiógeno tem sido bem estabelecido pôr estudos de caso e estudos epidemiológicos, referindo-se na maioria das vezes, aos trabalhadores expostos no processo industrial. Alguns estudos de casos são apresentados no Quadro VII.8. e estudos epidemiológicos que possuem dados quantitativos suficientes sobre exposições e efeitos para permitir 3 Time-Weighted Average - constitui uma abordagem para calcular a média de exposição em um determinado período de tempo. referências para o estabelecimento da relação dose-resposta são apresentados no Quadro VII.9. Aksoy et al. (1974) relatou os efeitos da exposição ao benzeno em trabalhadores turcos de uma indústria de sapato. A duração média do período empregatício foi de 9,7 anos (faixa de variação 1-15 anos) e a idade média de 34,2 anos. Os níveis máximos de benzeno durante o período de exposição foram de 210-650 ppm. Foram observados 34 casos de leucemias ou pré-leucemias, correspondendo a uma incidência de 13/100.000 (em comparação com a incidência de 6/100.000 na população em geral). Através do acompanhamento deste grupo, relatou-se posteriormente 8 casos adicionais de leucemia, bem como, evidências que sugerem o aumento de outras malignidades (Aksoy, 1980). Em um estudo de mortalidade do tipo coorte retrospectivo (Infante et al., 1977 a,b) foram examinados os efeitos leucemiogênicos da exposição ao benzeno em 748 homens brancos expostos durante o período que foram empregados de uma fábrica de produtos de borracha. A exposição ocorreu de 1940-1949, sendo o estudo realizado em 1975. Um aumento estatisticamente significativo (p ≤ 0,002) de leucemias foi observado quando comparado com a população em geral dos EUA. Não existiu evidência de exposição a outro solvente. As concentrações do benzeno observadas no ar, geralmente estavam abaixo do limite recomendado na época do estudo (1940-49). Em outro estudo de mortalidade do tipo coorte retrospectivo (Rinsky et al., 1981) foram observadas 7 mortes pôr leucemia entre os 748 trabalhadores expostos ao benzeno e acompanhados pôr pelo menos 24 anos (17.020 pessoas-ano). Este aumento na incidência foi estatisticamente significativo; a taxa de mortalidade padrão (SMR) foi de 560. Para as 5 mortes pôr leucemia que ocorreram entre os trabalhadores com mais de 5 anos de exposição, a SMR foi de 2.100. As exposições, as quais variaram de 10 a 100 ppm, considerando um TWA de 8 horas, foram descritas como menores que os padrões recomendados para o período de tempo de 1941-1969. Na seqüência deste estudo, os autores acompanharam o mesmo coorte até 31/12/81 (Rinsky et al., 1987). No estudo anterior, a exposição cumulativa foi derivada dos dados históricos de amostragem de ar ou baseados em estimativas de interpolação dos dados existentes. As taxas padronizadas de mortalidade foram de 109 nas exposições cumulativas ao benzeno abaixo de 40 ppm/ano e aumentaram monotonicamente para 6.637 (6 casos) acima de 400 ppm/ano. Os autores encontraram um risco significativamente elevado para leucemia nos casos de exposições cumulativas menores que o padrão corrente para exposição ocupacional igual a 10 ppm pôr um período de 40 anos de trabalho. Otto et al. (1978) observaram 3 mortes pôr leucemia entre 594 trabalhadores acompanhados pôr pelo menos 23 anos em um estudo de mortalidade do tipo coorte retrospectivo, mas o aumento não foi estatisticamente significativo. As exposições variaram de < 2 a > 25 ppm considerando TWA de 8 horas. Wong et al. (1983) relataram a mortalidade de homens empregados em uma indústria química, que haviam sido expostos ao benzeno pôr pelo menos 6 meses durante os anos de 1946-1975. A população de estudo (4062 pessoas) foi retirada de sete indústrias químicas sendo os trabalhadores categorizados em relação à exposição máxima. Aqueles com pelo menos 3 dias pôr semana de exposição (3036 indivíduos) foram posteriormente categorizados com base na TWA de 8 horas. Os indivíduos do grupo controle desenvolviam o trabalho nas mesmas indústrias, pôr pelo menos 6 meses, porém nunca estiveram expostos ao benzeno. Foi observado um aumento, dosedependente, no número de leucemias, câncer linfático e câncer hematopoiético. A incidência de leucemia foi a maior responsável pôr este aumento. Observou-se que a significância deste aumento se deveu ao fato da incidência de neoplasias nos indivíduos não expostos ser menor do que a esperada. Os resultados das evidências em seres humanos indicam ser o benzeno reconhecidamente causador de vários efeitos prejudiciais a saúde. Entre os quais se destacam, pela sua freqüência, a depressão da medula óssea, o que leva a anemia aplástica. Na exposição a altas concentrações é provável uma alta incidência destas doenças. Está demostrado que o benzeno tem um efeito carcinogênico nos seres humanos. Os estudos epidemiológicos realizados sobre os trabalhadores expostos ao benzeno têm demostrado a existência de uma relação causal entre a exposição ao benzeno e a incidência de leucemia mieleogênica. A relação entre a exposição ao benzeno e a produção de linfoma e múltiplo mieloma ainda precisa ser esclarecido (IARC, 1982). VII.2.2.5 - Avaliação dos Dados Experimentais Vários investigadores têm observado significativos aumentos de aberrações cromossômicas em células da medula óssea e em linfócitos periféricos de trabalhadores expostos ao benzeno (IARC, 1982). O benzeno também foi capaz de induzir aberrações cromossômicas em células de medula óssea de coelhos, camundongos e ratos. Alguns pesquisadores têm relatado resultados positivos para ensaios com micronúcleos de camundongo e benzeno. O benzeno não foi mutagênico em alguns sistemas bacterianos ou de leveduras e no ensaio relacionado ao sexo de mutação letal recessiva com Drosophila melanogaster (IRIS, 1993). VII.2.2.6 - Considerações sobre as Evidências dos Efeitos Carcinogênicos do Benzeno em Animais e no Homem Evidências em Animais 1) As informações a partir de estudos experimentais em animais estão de acordo com os princípios do item VII.2.1 (Alguns Princípios da Avaliação do Perigo), particularmente com o princípio nº 9? 2) Considerando os princípios do item VII.2.1, existem razões para concluir que o benzeno não é carcinogênico em animais experimentais? 3) Deve-se considerar que os tumores causados em animais submetidos a exposição ao benzeno possuem alguma relação com risco de tumores causados em seres humanos submetidos à baixas exposições? 4) As informações obtidas pela exposição de animais pôr via oral devem ser consideradas pertinentes do que diz respeito à exposição de seres humanos pôr via inalatória? 5) Existem razões para considerar que a exposição de seres humanos ao benzeno representam riscos de se desenvolverem diversos tumores? 6) Diante das informações disponíveis existe algum modo de determinar se as respostas em seres humanos seriam similares às obtidas em ratos e camundongos? 7) As informações obtidas em experimentos animais fornecem evidências suficientes para demonstrar que o benzeno é carcinogênico em animais? Esta informação é limitada ou inadequada? Evidências em Humanos 1) As informações obtidas a partir de estudos de casos e estudos epidemiológicos alteram as conclusões obtidas a partir das informações provenientes de estudos experimentais em animais? Se sim, como? Se não, porque? 2) As informações obtidas a partir de estudos de casos e estudos epidemiológicos fornecem evidencias suficientes para provar que o benzeno é realmente causador de câncer em seres humanos? limitadas ou inadequadas? As informações disponíveis são VII.2.2.7 - Considerações sobre os Riscos de Câncer pôr Substâncias Tóxicas Relembrando o item II.4.7 do capítulo II, de um modo geral, para ações regulamentadoras, categorizaram-se diferentes classes de substâncias de acordo com a força das evidências a partir de estudos em animais e em seres humanos encontradas em relação as mesmas. Conforme pode se observar a seguir a categorização é a seguinte (Quadro II.16) (EPA, 1996): ⇒ A - Carcinogênico humano comprovado: evidências suficientes em seres humanos. ⇒ B1 - Provável carcinogênico humano: dados em seres humanos limitados e dados suficientes em animais. ⇒ B2 - Provável carcinogênico humano: dados de seres humanos inadequados e dados em suficientes em animais. ⇒ C - Possível carcinogênico humano: dados em seres humanos inadequados e dados limitados em animais. ⇒ D - Não classificado como carcinogênico em humanos: dados inadequados tanto em seres humanos quanto em experimentos com animais. ⇒ E - Evidências positivas de que não é carcinogênico para humanos: evidências negativas em animais e sem informação em seres humanos Deve-se observar no Quadro II.16, que a categoria “sem informação” significa apenas que não existe informação disponível que indique que a substância seja carcinogênica. A categoria “negativa” significa, para seres humanos, que não se encontrou nenhuma associação entre a exposição e um aumento do risco de canceres em estudos epidemiológicos analíticos bem feitos e desenhados. Quando se revisa as informações obtidas a partir de estudos em animais, “negativa” significa que não se encontrou um aumento na incidência de neoplasias em pelo menos dois estudos em animais (com potências e doses adequadas e em diferentes espécies) bem desenhados e bem feitos. VII.2.2.8. Algumas Conclusões Possíveis Sobre a Carcinogenicidade do Benzeno 1) O benzeno é um carcinogêno humano (Grupo A), pois existem evidências epidemiológicas suficientes para dar suporte a associação causal entre a exposição ao benzeno e o câncer. 2) O benzeno é um provável carcinógeno humano (Grupo B2), pois existem evidências de carcinogenicidade em animais, demonstrada pelo aumento da incidência de tumores em vários órgãos em múltiplas espécies (ratos e camundongos), em experimentos múltiplos que incluem diferentes vias de administração (inalação e oral), e em níveis de doses diferentes. As evidências sobre carcinogenicidade em estudos epidemiológicos são inadequadas. 3) O benzeno é um possível carcinogêno humano (Grupo C), pois as evidências existentes acerca de carcinogenicidade em animais são limitadas. 4) O benzeno não pode ser classificado quanto a carcinogenicidade humana (Grupo D), pois consideradas as condições extremas sobre as quais se produziram tumores nos experimentos animais, não há razão para crer que o benzeno seja um possível carcinógeno humano. As evidências sobre carcinogenicidade são inadequadas em estudos epidemiológicos. 5) Outra alternativa (formule sua própria conclusão). VII.3 - AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA PARA O BENZENO VII.3.1. Considerações Iniciais Normalmente esta informação não seria revisada pôr aquele que está realizando a avaliação de risco, uma vez que, geralmente, está disponível através de bases de dados já revisadas. Entretanto, como discutido anteriormente, deve-se ter juízo crítico quanto a qualidade das informações disponíveis. Concentrando-se em pontos chave que serão apresentados a seguir, pode-se usar melhor as informações sobre a relação doseresposta. Inicialmente será descrito o método que a EPA utiliza para avaliar as relações dose-resposta. Em seguida serão apresentados os métodos alternativos para que se conheça como outros grupos científicos tratam este assunto. • O que se pode dizer sobre os riscos para as margens de exposição humana? Ao menos três propostas gerais para abordar esta pergunta tem sido feitas pôr especialistas. Proposta 1: Baseando-se nas teorias gerais de como os carcinogênicos atuam para produzir câncer (derivadas principalmente de estudos experimentais e dados epidemiológicos), qualquer nível finito de exposição produzirá um risco finito. A magnitude do risco diminuirá ao diminuir a magnitude da exposição (incluindo os dados sobre animais).4 Se a relação quantitativa entre exposição e risco é conhecida para todas as exposições, os riscos para roedores expostos à níveis muito baixos poderiam ser previstos a partir dos dados resultantes das medições de exposição-risco medidos. Os riscos para seres humanos poderiam ser previstos a estes níveis muito baixos, se fosse conhecida a relação entre a susceptibilidade humana e a susceptibilidade dos roedores. Mesmo que não se possa conhecer estas relações com exatidão, pode ser previsto um limite superior de risco para seres humanos com exatidão suficiente para usá-lo como guia para tomar decisões sobre risco. O risco humano real, provavelmente, não excederá o limite superior, podendo ser menor. Este é o método geralmente adotado pela 4 Estas duas frases são expressões apropriadas ao conceito de “sem limiar”. Não significa que todas as exposições finitas causarão câncer, mas significa que todas as exposições finitas aumentarão a probabilidade (risco) de que o câncer ocorra. EPA para avaliar o risco associado com a exposição a baixos níveis de carcinogênicos. Proposta 2: As relações quantitativas entre os riscos pôr alta e pôr baixa exposição em roedores e as relações quantitativas entre riscos em roedores e em seres humanos, não são suficientemente conhecidas para que possam ser utilizadas na avaliação do risco. Além do que, não existe uma teoria confiável a partir da qual se pode concluir, com segurança, que a exposição humana a baixo nível (pôr exemplo, abaixo da margem que produz riscos detectáveis) não representa risco. Como no caso de outros efeitos tóxicos, a carcinogenicidade se iniciará em um indivíduo quando um nível crítico de exposição (limiar) for ultrapassado. Em tais circunstâncias, o único caminho razoável é informar a magnitude da margem de exposição (MdE) na qual os seres humanos estão protegidos. A MdE é a quantidade máxima de exposição que não produz uma resposta de tumor mensurável em animais (NOAEL), dividida pela quantidade de exposição humana real. A MdE dá informação adequada ao gerenciador de risco para decidir se as exposições devem ser reduzidas ou eliminadas para proteger o ser humano. Uma MdE relativamente grande é desejável, porque é provável que o limiar de toda a população seja mais baixo do que o observado nos pequenos grupos de animais usados em experimentação. Este enfoque geralmente se aplica quando se avalia o risco da maioria dos efeitos que não são carcinogênicos Proposta 3: Mesmo que exista uma teoria adequada e alguma evidência para concluir que os seres humanos estão sob risco finito em todos os níveis de exposição finitos, o conhecimento é insuficiente para permitir a estimativa de risco em termos quantitativos. O avaliador deve simplesmente procurar fazer a descrição qualitativa do risco, talvez ligando esta descrição com alguma informação sobre a potência do composto e sobre a magnitude da exposição humana. Este tipo de apresentação é adequada para o gerenciador de risco, que não deve preocupar-se unicamente com a magnitude quantitativa do risco. Cada uma destas perspectivas, bem como outras, possuem seus méritos. A primeira proposta é usada pela maioria das agências federais de saúde pública e agências federais normativas americanas, incluindo a EPA. Estas agências acentuam o fato de que os riscos numéricos estimados não são conhecidos com precisão, mas pela natureza dos modelos que são utilizados para calcula-los, constituem-se provavelmente nos limites superiores de risco humano. Um limite superior é aquele que provavelmente apresenta um risco inferior ao risco verdadeiro, possivelmente excedendo o mesmo (o qual pode ser zero). Para este exercício, serão calculados os riscos em baixa exposição utilizando-se o modelo que a EPA emprega atualmente. Um modelo é uma fórmula matemática que descreve as relações entre várias medidas e uma variável que se deseja estimar. São necessários dois modelos para predizer os riscos sob baixa exposição. • Modelo de extrapolação de alta para baixa exposição: é utilizado para estimar os riscos em baixos níveis de exposição em roedores a partir dos dados resultantes de medições em exposições à doses altas. Atualmente, a EPA usa um “modelo linear de etapas múltiplas” para este propósito. Este modelo se baseia em teorias gerais (que não são específicas para cada substância) sobre os processos biológicos fundamentais da carcinogênese de ampla aceitação. Ao aplicar o modelo nos dados de exposição de roedores, este produz um cálculo de risco para toda a vida, para cada unidade de exposição, na região de baixa exposição. Esta é a unidade de risco de câncer ou o risco unitário de câncer. O modelo linear de etapas múltiplas é utilizado para assegurar que o risco unitário de câncer seja um cálculo do limite superior do risco. • Modelo de extrapolação entre espécies: que é utilizado para extrapolar os riscos unitários de roedores para os riscos unitários dos seres humanos. A EPA supõe que roedores e seres humanos possuem o mesmo perigo a partir de uma mesma exposição, medida em miligramas do carcinógeno pôr metro quadrado da superfície corporal pôr dia. Os modelos de extrapolação entre espécies são freqüentemente chamados de “fatores de escala”, porque permitem o ajuste de doses entre diferentes espécies. A seleção destes modelos pela EPA, se baseia no entendimento que estes são os melhores para se calcular o limite superior de risco. Existem modelos alternativos para ambas as formas de extrapolação, sendo igualmente aceitáveis. Na maioria dos casos, o uso de modelos alternativos plausíveis produzirá cálculos de risco mais baixos que aqueles estimados pelos modelos mencionados. Em geral, estas diferenças são relativamente pequenas, quando considera-se que a baixas exposições as relações são lineares. Quando usamos relações do tipo não linear as diferenças entre os resultados dos diferentes modelos podem ser elevadas. VII.3.2. Estimativas Quantitativas de Risco a partir da Exposição Via Oral ou Via Inalação O risco quantitativo estimado do benzeno é apresentado de três formas: primeiro, o coeficiente de inclinação da reta, que exprime a relação entre dose-resposta, usando-se um modelo de extrapolação de altas para baixas doses; o coeficiente de inclinação é apresentado como o risco pôr mg/kg/dia; a segunda forma é a unidade de risco que é uma estimativa quantitativa em termos, tanto de risco pôr µg/L de água bebida quanto de risco pôr µg/m3 de ar respirado; a terceira forma na qual o risco é apresentado, são as concentrações no ar ou água que apresenta riscos de câncer na proporção 1 : 10.000; 1 : 100.000 e 1:1.000.000. VII.3.2.1. Coeficiente de Inclinação, a partir de Modelos de Extrapolação de Altas para Baixas Doses O coeficiente de inclinação foi derivado de dados provenientes de estudos em seres humanos para exposições ao benzeno via inalação. Foi considerada uma taxa respiratória humana igual a 20 m3/dia e o consumo de água como igual a 2 L/dia. As frações absorvidas das doses administradas via inalação e através da água de beber foram consideradas como sendo iguais (IRIS, 1994). • Coeficiente de Inclinação: 2,9 x 10-2 pôr (mg/kg/dia) obs1: isto significa, pôr exemplo, que uma população exposta pôr via inalatória a uma dose de 1 mg de benzeno/kg de peso corpóreo/dia, durante toda a vida, apresenta uma probabilidade de ocorrência de câncer de 3 em 100. VII.3.2.2. Unidade de Risco do Benzeno, a partir de Modelos de Extrapolação de Altas para Baixas Doses A unidade de risco estimada é a média geométrica de quatro pontos de concentração média (CM), estimados usando os dados agrupados dos estudos de Rinsky et al. (1981) e Ott et al. (1978), sendo posteriormente ajustada para os resultados do estudo de Wong at al. (1983). A unidade de risco não deve ser utilizada se a concentração de benzeno na água exceder 1 x 104 µg/L ou 100 µg/m3 no ar, uma vez que as extrapolações utilizadas para o cálculo da unidade de risco podem não ser apropriadas para concentrações maiores que estas. • Unidade de risco: 8,3 x 10-6 pôr (µg/m3) obs2: assim estima-se que, se um indivíduo respira ar contendo benzeno a 0,1 µg/m3 pôr todo o seu período de vida, esta pessoa não deveria ter, em teoria, uma chance maior que um em um milhão de desenvolver câncer como resultado desta exposição. De forma similar, estima-se que respirar ar contendo 1,0 µg/m3 pode resultar no aumento da chance de desenvolver câncer menor do que um em cem mil, e ar contendo 10,0 µg/m3, não deve resultar em um aumento na chance de desenvolver câncer maior que 1 em 10.000 pessoas. VII.3.2.3. Concentrações de Benzeno na Água e no Ar, que Causam Riscos de Câncer nas Proporções - 1 : 10.000, 1 : 100.000 e 1:1.000.000 Uma outra forma de expressar a unidade de risco, talvez até mais clara, é através das concentrações de benzeno no ar e na água capazes de induzir determinados níveis de risco específicos (vide obs3). Nível de Risco benzeno no ar (µg/m3) benzeno na água (µg/L) 1 : 10.000 10 100 1 : 100.000 1 10 1 : 1.000.000 0,1 1 obs3: deve-se notar que a unidade de risco está relacionada à concentrações ambientais do poluente, enquanto o coeficiente de inclinação está relacionado a dose que um indivíduo está exposto. Entretanto ambos os parâmetros consideram a exposição ao longo de toda a vida, quando utilizados para avaliar riscos de câncer. obs4: pôr fim cabe ressaltar que este risco calculado, refere-se ao risco adicional (expresso em termos de probabilidade), que um determinado indivíduo ou população adquire, devido a exposição a um poluente específico, não sendo considerado o risco que o indivíduo ou a população em geral já possui, devido a outros fatores aos quais também está exposta. VII.3.2.4. Discussão da Confiança Os estudos de coorte agrupados foram suficientemente grandes e seguidos pôr um período de tempo adequado. O aumento na incidência de leucemias foi estatisticamente significativo e dose-relacionado em um dos estudos. Wong et al. (1983) discordam que as exposições relatadas pôr Rinsky et al. (1981) estejam de acordo com os padrões recomendados. Considerando as cinco mortes pôr leucemia em pessoas expostas a cinco ou mais anos, o autor notou que os níveis médios de exposição (15-70 ppm) excediam o padrão recomendado de 25 ppm em 75 % dos locais de trabalho amostrados. Um total de 21 estimativas de unidades de risco foram calculadas usando 6 modelos e várias combinações de dados epidemiológicos. A faixa de variação foi de um pouco mais de uma ordem de magnitude. A média geométrica destas estimativas é 2,7 x 10-2. Modelos de regressão geraram estimativas similares a média geométrica. O coeficiente de inclinação estimado acima, baseado na reconsideração dos dados de Rinsky et al. (1981) e Ott et al. (1978), é muito próximo do citado pela EPA (1980) de 2,4 x 10-2, baseado nos dados de Infante et al. (1977 a e b), Ott et al. (1978) e Aksoy et al. (1974). Na opinião dos autores de EPA (1985) a avaliação da exposição realizada pôr Aksoy et al. (1974) foi muito imprecisa para sua utilização na avaliação de dose-resposta. Estimativas de risco utilizando os dados baseados nos estudos com animais expostos pôr entubação gástrica, geram riscos 5 vezes maiores que os obtidos através dos dados provenientes de estudos com seres humanos. Dados farmacocinéticos que podem contribuir para elucidar esta questão, estão sendo avaliados, podendo resultar na alteração da avaliação de risco do benzeno. VII.3.2.5. Avaliação da Relação Dose-Resposta para Substâncias Carcinogênicas sem Extrapolação Formal Outra abordagem já referida, baseia-se na premissa que os estudos de doseresposta possuem uma imprecisão que não permite uma extrapolação formal de seus resultados para o cálculo do risco. Assim uma alternativa é relatar, a partir dos estudos existentes na literatura, as doses nas quais não se observou o surgimento de câncer ou não se observou o surgimento de câncer significativamente diferente do controle (o nível de dose que poderia ser o NOAEL, caso este exista). Esta não é a abordagem que é utilizada pela EPA para substâncias carcinogênicas. A EPA considera que para substâncias carcinogênicas não existe um nível seguro de exposição e portanto o risco zero somente ocorre quando da exposição zero, não havendo NOAEL (sem limiar). VII.3.2.6. Considerações sobre a Avaliação de Dose-Resposta da Carcinogenicidade do Benzeno 1) Ao fazer os cálculos do coeficiente de inclinação: deveriam se usados somente os modelos atualmente preferidos pela EPA ou deveriam se apresentar também os resultados de outros modelos? 2) Que informação da literatura deve ser usada para calcular o coeficiente de inclinação? 3) Como pode-se descrever as incertezas associadas ao uso dos modelos? 4) São os NOAELs apresentados no Quadro VII.10 níveis reais de nenhum efeito ou estes NOAELs podem ser resultados de imperfeições dos desenhos experimentais utilizados? Como pode se descrever esta incerteza? 5) A EPA tem adotado a proposta 1, usando coeficiente de inclinação, para extrapolar os efeitos em doses baixas a partir de doses altas de exposição e/ou extrapolando resultados em animais para seres humanos. Como você poderia argumentar em favor desta abordagem em detrimento das outras (proposta 2 e VII.3.2.7. Algumas Conclusões Possíveis sobre a Avaliação de DoseResposta da Carcinogenicidade do Benzeno Qual das seguintes conclusões melhor caracteriza a informação que foi vista? 1) Os coeficientes de inclinação obtidos com os modelos alternativos são 10 a 100 vezes mais baixos que aqueles obtidos com o modelo atualmente utilizado pela EPA. 2) Deve-se oferecer informações sobre todos os coeficientes de inclinação para todos os modelos possíveis e todos os cálculos devem ser apresentados sem distorções. 3) Não é necessário calcular nem dar informações sobre o coeficiente de inclinação. A margem de exposição (MdE) é a informação crítica utilizada para entender a importância que a exposição a baixos níveis tem para a saúde pública. O cálculo da MdE é feito com base nos valores de NOAEL para efeitos carcinogênicos. 4) Nem o coeficiente de inclinação nem o NOAEL são indicadores confiáveis do risco humano; nenhum dos dois devem ser considerados para o cálculo de risco. As relações de dose-resposta para o benzeno não são conhecidas em uma população humana e, desta forma; o risco deve ser descrito somente em termos qualitativos. 5) Outra (formule sua própria conclusão). VII.4 - AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO HUMANA AO BENZENO VII.4.1. Alguns Princípios Utilizados para Avaliação da Exposição 1. O objetivo de avaliar a exposição dos trabalhadores ao benzeno é identificar a magnitude, a freqüência e a duração da mesma, bem como as vias pelas quais se encontram expostos. Outras informações úteis definidas nesta etapa dizem respeito ao número de pessoas expostas bem como suas características (exemplos: sexo, idade, peso, etc.). 2. O cálculo da exposição é feito através da determinação da quantidade do benzeno nos meios ambientais adequados (no caso em questão, se considera prioritariamente o benzeno ar) e conhecendo-se a taxa de consumo pelo homem pôr unidade de tempo (m3 ou l/dia), sob diferentes condições de atividade. 3. Alguns indivíduos podem estar expostos através de diferentes meios contaminados, neste caso deve-se considerar o consumo de todos os meios. 4. Considerando-se que a determinação dos níveis do contaminante no ambiente é feita a partir de um número limitado de amostras do mesmo, temos sempre uma incerteza associada à esta amostragem. Assim deve-se planejá-la cuidadosamente de modo a obter amostras representativas do meio estudado. 5. As vezes as concentrações dos contaminantes no ar e na água são estimadas utilizando modelos matemáticos. Mesmo quando estes modelos fornecem valores prognósticos, nem sempre são considerados confiáveis. 6. Geralmente se utilizam valores médios padrões ou faixas de variadas substâncias encontradas nos diferentes ambientes pelo homem. Entretanto, caso haja informações mais adequadas e precisas sobre estes valores, estas devem ser preferencialmente usadas. Neste exercício de avaliação do risco de trabalhadores expostos ao benzeno, utilizou-se os dados do estudo de Barbosa (1997) sobre os trabalhadores expostos ao benzeno no seu processo de trabalho. Em seu estudo, Barbosa (1997) realizou, entre outras coisas, o monitoramento ambiental de uma refinaria de petróleo situada no Estado do Rio de Janeiro, no período de outubro de 1996 a janeiro de 1997. O monitoramento ambiental da exposição ocupacional ao benzeno foi realizado através da utilização de monitores passivos individuais para compostos orgânicos voláteis, dispostos ao nível da zona respiratória dos trabalhadores amostrados, isto é, empregados como dosímetros de lapela. Além desta amostragem individual dos trabalhadores, foi realizada uma amostragem ambiental, nos prováveis pontos ou atividades específicas responsáveis pôr emissões de benzeno (Barbosa, 1997). Os monitores passivos para vapores orgânicos de todos os trabalhadores monitorados, de todos os grupos, foram recolhidos ao final de cada turno de trabalho dos trabalhadores amostrados e lacrados com uma tampa plástica de vedação e mantidos imediatamente sob refrigeração (-4oC) até o momento da análise laboratorial. O período de armazenamento dos monitores sob refrigeração variou de uma a nove semanas (Barbosa, 1997). VII.4.2. Descrição da Área de Estudo e do Processo de Trabalho A etapa de reconhecimento do processo de trabalho baseou-se na coleta de informações através de visitas aos setores e entrevistas com os próprios trabalhadores. A partir de “layouts” dos locais de trabalho, buscou-se uma descrição dos fluxos dos processos produtivos, procedimentos operacionais, e equipamentos considerados como prováveis fontes de emissão de benzeno (Barbosa, 1997). Foram também consideradas as informações sobre ventilação, temperatura e umidade relativa do ar, nos diferentes postos e ambientes de trabalho, caracterizando-se aqueles abastecidos pôr sistemas de ar condicionado, como ambientes fechados, e aqueles sob ventilação natural, como abertos (Barbosa, 1997). Com base nestas informações, selecionou-se para o monitoramento trabalhadores da Unidade de Reforma Catalítica (URC) e do Setor de Qualidade (QLD), devido a sua provável exposição ao benzeno, durante a execução de determinadas atividades operacionais nos seus respectivos postos de trabalho (Barbosa, 1997). VII.4.2.1. Unidade de Reforma Catalítica A Unidade de Reforma Catalítica tem como objetivo a produção de gasolina de alta octanagem através da reforma da nafta pesada com a conversão dos hidrocarbonetos parafínicos e naftênicos em aromáticos. Esta Unidade recebe como carga diária cerca de 1.900 m3 de nafta pesada, proveniente do processo de destilação atmosférica, para a produção final do chamado “reformado aromático”, que chega a apresentar em sua composição final, em termos proporcionais, cerca de 4% de benzeno (Barbosa, 1997).. Os procedimentos operacionais desta Unidade são executados e desenvolvidos, pôr seus trabalhadores, basicamente em dois principais ambientes de trabalho: Sala de Controle e Planta de Processo. A Sala de Controle está localizada praticamente ao lado da Planta de Processo, em uma construção de um pavimento de aproximadamente 150 m2, abastecida pôr um sistema próprio de ar condicionado, onde estão localizados também o vestiário, o banheiro e uma copa-cozinha para uso exclusivo dos seus operadores. Todo o processo operacional automatizado da Unidade é acompanhado e controlado pelos operadores, através de leituras periódicas dos painéis de controle localizados no interior desta sala (Barbosa, 1997).. A Planta de Processo da Unidade é dividida em três seções: ⇒ Tratamento; ⇒ Reformação Catalítica; ⇒ Estabilização. • Tratamento: Consiste no hidroacabamento da nafta pesada (carga) com hidrogênio a fim de remover os compostos nitrogenados, oxigenados, sulfurados, halogenados e os metais, que são prejudiciais ao catalisador da seção de Reforma. Esta remoção é realizada em leito catalítico, envolvendo o cobalto e o molibidênio, como catalizadores, a uma temperatura de 320oC e atmosfera rica em hidrogênio (25 Kgf/cm2). Os compostos são transformados, através de hidrogenação, em H2S, NH3 , H2O, e as olefinas são saturadas e os metais são adsorvidos no leito catalítico (Barbosa, 1997). • Reformação Catalítica: Consiste na transformação de hidrocarbonetos parafínicos e naftênicos em aromáticos, através de leitos catalíticos a uma temperatura de 515oC e atmosfera rica em hidrogênio (35 Kgf/cm2). Estas reações produzem Gases Liquefeitos do Petróleo (GLP) e Hidrogênio como sub-produtos desta unidade (Barbosa, 1997). • Estabilização: Consiste na remoção do GLP e do Gás Combustível, responsáveis pôr aproximadamente 30% da carga, agregados ao reformado aromático como resultado das reações catalíticas (Barbosa, 1997). VII.4.2.2. Setor de Qualidade O Setor de Qualidade da Refinaria é responsável pelo Controle de Qualidade de todos os seus produtos, através do gerenciamento e execução de serviços técnicos de laboratório em petróleo, derivados de petróleo, produtos intermediários de processo, produtos residuais, água, catalisadores, produtos químicos e despejos industriais, voltados ao controle da qualidade da produção, otimização dos processos e preservação do meio-ambiente. É responsável, também, pela emissão e fornecimento de certificados de ensaios dos produtos destinados à comercialização (Barbosa, 1997). Dentre os produtos intermediários de processo, podemos destacar aqueles provenientes da Unidade de Reforma Catalítica, como possíveis fontes de benzeno (Barbosa, 1997). De acordo com o regime de trabalho e as características das operações e atividades desenvolvidas pôr seus trabalhadores, este setor também pode ser dividido em dois ambientes de trabalho: um de atividades de rotina e outro de atividades de turno. Considerou-se, para fins do estudo, como atividades de rotina aquelas executadas pelos trabalhadores de regime de trabalho em horário administrativo e como de turno, as desenvolvidas pelos trabalhadores de turno propriamente ditos (Barbosa, 1997). As atividades consideradas de Rotina são aquelas desenvolvidas na sala de controle de qualidade laboratorial e nas três salas da área de química analítica: sala de controle ambiental, sala de absorção atômica e potenciometria, e sala de cromatografia (Barbosa, 1997). As atividades ou procedimentos operacionais desenvolvidos pelos trabalhadores de turno são aqueles executados na área de controle de qualidade de produtos (CQP), compreendida pelas demais salas do setor: sala de turno, sala do analista II, sala de fulgor, sala de descarte de material do turno, sala de octanagem e salas de ensaios físicos (Barbosa, 1997). As salas maiores e principais como as salas de turno, sala do analista II, sala de química ambiental e cromatografia são abastecidas pôr sistemas de refrigeração a base de aparelhos de ar condicionado próprios, com capacidade de renovação do ar insuficiente para as dimensões destas salas. As dimensões destas salas variam de 60 a 180 m2 e apresentam um pé direito de aproximadamente cinco metros. Deve-se ressaltar que a sala de turno é um dos principais ambientes de trabalho dos trabalhadores deste setor, onde são realizados cerca de 80 % dos ensaios e testes dos produtos provenientes das diversas unidades de processo da refinaria. Esta sala é a maior do setor, possuindo um sistema de ventilação e refrigeração de ar, com troca restrita de ar com o meio externo (Barbosa, 1997). VII.4.3. Caracterização dos Grupos Expostos Foram monitorados 78 trabalhadores divididos em 4 grupos, considerados homogêneos quanto as condições de exposição, de 2 setores da refinaria (Unidade de Reforma Catalítica e Setor de Qualidade). De forma a caracterizar melhor o excesso de risco resultante somente da exposição ao benzeno no processo de trabalho, considerouse também um outro grupo de 30 trabalhadores da mesma refinaria, não expostos ocupacionalmente, durante o mesmo período (Administrativo) (Barbosa, 1997).. Considerou-se a possibilidade dos trabalhadores amostrados estarem expostos a outras fontes não ocupacionais do benzeno, como o cigarro (Barbosa, 1997).. Os trabalhadores foram monitorados durante a execução de suas atividades e procedimentos operacionais da rotina diária de trabalho, isto é, durante toda a jornada ou turno de trabalho, que correspondeu a aproximadamente oito horas (Barbosa, 1997).. A caracterização dos grupos de trabalhadores, baseou-se no regime e na duração da jornada de trabalho, nos postos específicos de trabalho, na descrição das funções e atividades desenvolvidas, e na freqüência e tempo dispensado para cada uma das atividades ou procedimentos de trabalho, levando-se também em consideração a relação desses trabalhadores com as diferentes fontes de exposição identificadas (Barbosa, 1997). VII.4.3.1. Unidade de Reforma Catalítica As atividades de trabalho da Unidade de Reforma Catalítica são desenvolvidas pôr cinco turnos de trabalhadores, em três períodos do dia: das 8 às 16 h, das 16 às 0 h e das 0 às 8 horas. As principais atribuições dos trabalhadores desta Unidade, durante o turno de trabalho, são divididas em função do cargo de cada um destes (Barbosa, 1997).. No início de cada jornada, os trabalhadores deste setor dividem-se entre os dois grupos homogêneos de exposição (sala de controle e planta de processo), de acordo com os diferentes postos de trabalho, no dia da realização da amostragem (Barbosa, 1997). Nesta Unidade, somente três operadores foram identificados como fumantes e constatou-se também, que a quantidade de cigarros fumados pôr cada trabalhador não chegavam a 5 cigarros pôr turno. Foi verificada a existência, nesta Unidade, de um local específico para o ato de fumar, conhecido como “fumódromo”, localizado na área externa, isto é, fora da sala de controle, e não muito próximo da planta de processo (Barbosa, 1997). Foram avaliados 11 trabalhadores da planta de processo e 10 da sala de controle, durante as 8 horas de trabalho. Foram considerados os tempos de amostragem individualmente, para cada trabalhador, em minutos. Foram monitorados 3 grupos de turnos no período das 8 às 16 horas e mais 2 grupos no período das 16 às 24 horas (Barbosa, 1997). Quanto ao monitoramento ambiental do ar da Unidade de Reforma Catalítica foram monitoradas a sala de controle e os principais procedimentos e atividades específicas da planta de processo, considerando-se os períodos de cada amostragem e a temperatura e umidade do ar. Foram avaliados 6 pontos na planta de processo, sendo 2 na seção de tratamento, 3 na seção de reforma e 1 na seção de estabilização (Barbosa, 1997). A escolha desses locais como pontos específicos para a avaliação de emissões do benzeno, através do monitoramento ambiental, foi definida após a fase de reconhecimento dos postos e processos de trabalho, a partir de dados obtidos dos próprios operadores de processo desta Unidade, baseados no fluxograma de processo de cada seção (Barbosa, 1997). VII.4.3.2. Setor de Qualidade Os trabalhadores do setor de qualidade são divididos em um grupo de turno e outro de rotina (horário administrativo). Em função da divisão pôr regime de trabalho, os trabalhadores deste setor desenvolvem suas atividades nas três áreas distintas do setor: química analítica, controle de qualidade de produtos e controle de qualidade laboratorial (Barbosa, 1997). Os trabalhadores de turno executam suas atividades na área de controle de qualidade de produtos, que corresponde ao principal ambiente de trabalho dos técnicos do QLD. Os turnos também são realizados nos períodos de 8 às 16 h., de 16 às 0 h. e de 0 às 8 horas. Cada turno é composto pôr aproximadamente onze trabalhadores (Barbosa, 1997). Os trabalhadores de rotina, desenvolvem suas atividades nas áreas de química analítica e controle de qualidade laboratorial, diariamente, no período das 8 às 16 horas (Barbosa, 1997). Os trabalhadores do grupo de turno almoçam no próprio setor, em uma pequena copa, enquanto os do grupo de rotina almoçam no refeitório central, e, com isso, ausentam-se pôr, aproximadamente, uma hora dos seus postos de trabalho. Em relação ao fumo no ambiente de trabalho, constatou-se que os trabalhadores fumantes, apenas dois do turno e um da rotina, não podem fumar dentro das salas de laboratório do setor, e, para isso, eles se utilizam dos corredores ao lado destas salas (Barbosa, 1997). Foram monitorados 27 trabalhadores deste setor, 20 trabalhadores de turno, correspondendo a dois turnos, e 7 trabalhadores do grupo de rotina (Barbosa, 1997). Ainda no Setor de Qualidade, foram avaliados alguns postos de trabalho como a sala de turno, a sala de fulgor, a sala de descarte de material do turno, a sala de cromatografia e a sala de octanagem. Foram, também, monitorados alguns procedimentos de análise das amostras provenientes da URC (Barbosa, 1997). VII.4.3.3. Grupo não exposto ocupacionalmente Foi considerado como grupo de trabalhadores não ocupacionalmente expostos, um grupo composto pôr 20 trabalhadores do setor administrativo (ADM) e 10 trabalhadores do setor de contabilidade (CONT), totalizando 30 trabalhadores (Barbosa, 1997). Para a avaliação dos trabalhadores deste grupo também foram considerados alguns critérios utilizados para a identificação e reconhecimento dos postos de trabalho e caracterização dos grupos homogêneos de exposição. As principais características consideradas foram aquelas relacionadas ao posto de trabalho, como a distribuição dos trabalhadores pelo espaço físico e a quantificação dos cigarros fumados em cada um destes postos, para controle do provável confundimento gerado pelo hábito de fumar (Barbosa, 1997). O grupo de trabalhadores desses dois setores trabalham em regime de horário administrativo, perfazendo uma jornada diária de 8 horas de trabalho, em salas abastecidas pôr um sistema de ar condicionado central. Deste grupo 6 são fumantes, com diferentes níveis de consumo de cigarros, havendo ainda locais onde não há fumantes (Barbosa, 1997). Aproximadamente 70% desses trabalhadores almoçam no refeitório central da refinaria, e, para isso permanecem pôr cerca de uma hora ausentes dos seus postos de trabalho (Barbosa, 1997). Os trabalhadores deste grupo também foram monitorados através da utilização dos monitores passivos para vapores orgânicos, sendo que os 20 do setor administrativo utilizaram monitores individuais de lapela, durante toda a jornada de trabalho; enquanto a monitorização dos 10 trabalhadores do setor de contabilidade do setor foi realizada pôr somente dois dos mesmos monitores passivos, dispostos em dois pontos fixos, no principal posto de trabalho destes últimos trabalhadores (Barbosa, 1997). VII.4.4. Dados Sobre os Níveis de Benzeno no Ambiente O monitoramento do ambiente e postos de trabalho consistiu na determinação das concentrações médias do benzeno ponderadas pelo tempo, experimentadas pôr cada um destes trabalhadores, durante todo o período de suas jornadas de trabalho. Utilizou-se como método de agregação dos dados a média geométrica, que de acordo com a literatura é o procedimento matemático mais adequado para exprimir concentrações de poluentes atmosféricos dispersos em um dado ambiente. Nestes casos, os dados podem variar bastante, possuindo até diferentes ordens de grandeza (Barbosa, 1997). No cálculo da unidade de exposição, além da média geométrica, se utilizou também o limite superior de confiança dos dados. Isto porque na abordagem metodológica utilizada pela EPA, a avaliação da exposição pode ser feita de duas maneiras: primeira através da exposição média esperada na população estudada, calculada a partir da média ou mediana dos dados, dita de tendência central; a segunda através das exposições mais elevadas esperadas em certos indivíduos da população estudada, calculada a partir do limite superior de confiança dos dados, dita de tendência de extremo superior. Deve-se ressaltar que este último tipo de abordagem é bastante útil quando temos uma grande variação no grau de exposição entre grupos de uma população devido a variação das concentrações ambientais do poluente ou mesmo subgrupos em uma população que pôr algum motivo são mais susceptíveis a desenvolver um determinado efeito. Esta abordagem não é, entretanto, a análise do pior caso possível, que seria a avaliação através das concentrações máximas observadas num dado ambiente (Barbosa, 1997). Através do monitoramento ambiental (Quadro VII.11), verificou-se que todos os trabalhadores não expostos ocupacionalmente, da ADM e CONT, encontravam-se em ambientes com concentrações de benzeno, inferiores a 0,01 ppm. Assim considerou-se, conservadoramente, 0,01 ppm como a concentração ambiental do benzeno a qual este grupo de trabalhadores está exposto. Já os 48 trabalhadores da URC e QLD, expostos ocupacionalmente, estão submetidos a concentrações ambientais de benzeno em média de 0,07 ppm; portanto sete vezes maior que a média do grupo de trabalhadores não expostos ocupacionalmente (Barbosa, 1997). Considerando-se os valores obtidos, entre os trabalhadores dos dois setores onde existe a exposição ocupacional ao benzeno - URC e QLD - observa-se uma significativa diferença, em relação ao grau de exposição ao benzeno. Esta diferença significativa (Kruskal-Wallis = 18,9 ; p < 0,0001) é evidente através da comparação das médias das concentrações ambientais do benzeno neste dois setores (Quadro VII.12). Enquanto que os trabalhadores do QLD estão expostos a concentrações em média de 0,15 ppm, os trabalhadores da URC encontram-se expostos a concentrações em media de 0,02 ppm (Quadro VII.11) (Barbosa, 1997) O Quadro VII.13 apresenta a distribuição dos resultados das concentrações do benzeno, entre os trabalhadores desses dois Setores amostrados: URC e QLD. Cerca de 90% dos trabalhadores da URC estão expostos a concentrações ambientais do benzeno inferiores a 0,1 ppm, contra aproximadamente 26% dos trabalhadores da QLD. Em relação as concentrações ambientais de benzeno superiores a 0,5 ppm, nenhum dos trabalhadores da URC estão sujeitos a tais níveis de exposição, enquanto 15% dos trabalhadores da QLD encontram-se expostos a valores superiores a estes (Barbosa, 1997). Com base nestes resultados, conclui-se que os trabalhadores do Setor de Qualidade estão expostos, durante as suas jornadas de trabalho, a concentrações ambientais de benzeno superiores às observadas entre os trabalhadores da Unidade de Reforma Catalítica (Barbosa, 1997). Considerou-se também as diferenças de exposição dentro de cada um dos setores com exposição ocupacional ao benzeno (URC e QLD). Os resultados obtidos através do monitoramento ambiental dos quatro grupos de trabalhadores, já descritos, quanto à exposição ocupacional ao benzeno, são apresentados no Quadro VII.14 (Barbosa, 1997). • Unidade de Reforma Catalítica A partir destes resultados do monitoramento ambiental do benzeno, pode-se observar uma nítida diferença, em relação ao grau de exposição, dos trabalhadores da Planta de Processo em relação aos trabalhadores de Sala de Controle, ambos os grupos da Unidade de Reforma Catalítica (Barbosa, 1997). A média das concentrações do benzeno entre os operadores de Planta (0,04 ppm) foi quatro vezes maior que a média de exposição de 0,01 ppm, observada nos operadores de Sala de Controle (p < 0,001). As concentrações do benzeno entre os operadores de Planta variaram de 0,01 a 0,15 ppm, enquanto a variação encontrada entre os operadores de Sala de Controle foi de 0,01 a 0,06 ppm (Barbosa, 1997). Na Unidade de Reforma Catalítica, foram também avaliados alguns pontos do fluxograma de processo, considerados como prováveis fontes de emissão e de exposição ao benzeno, incluídos na rotina diária de trabalho dos operadores desta unidade. As atividades operacionais, principalmente a de coleta de amostras de nafta, executadas nesses respectivos pontos, foram acompanhadas e monitoradas, separadamente, durante a jornada de trabalho dos operadores (Barbosa, 1997). Os dois principais Postos de Trabalho desta unidade, Planta de Processo e Sala de Controle, foram monitorados durante, aproximadamente, seis das oito horas de turno de trabalho. Os resultados obtidos, através do monitoramento dessas atividades, são apresentados no Quadro VII.15 (Barbosa, 1997). Durante a amostragem ambiental de 360 minutos, realizada próxima a coleta de nafta reformada (Planta de Processo), a concentração média do benzeno foi de 0,11 ppm, sendo dez vezes maior do que a concentração média obtida, para o mesmo período de coleta (360 minutos), na Sala de Controle (0,01 ppm). Pode-se ainda notar que durante algumas atividades do processo produtivo, realizadas na Planta de Processo, detectouse, em pequenos períodos de amostragem, altos níveis de benzeno no ar (0,89 - 1,36). Portanto, nestas atividades os trabalhadores estão sujeitos a níveis de exposição mais altos (Barbosa, 1997). • Setor de Qualidade A partir dos dados do Quadro VII.14, pode-se observar que a média dos níveis de benzeno aos quais os trabalhadores de turno do QLD estão expostos (0,24 ppm), é seis vezes superior a média observada entre os técnicos da rotina (0,04 ppm). Assim pode-se concluir que o nível de exposição ao benzeno é significativamente (p < 0,004) maior para os trabalhadores de turno, que para os trabalhadores de rotina (Barbosa, 1997). A avaliação de algumas atividades e postos da rotina diária de trabalho, dos trabalhadores do Setor de Qualidade, considerados como prováveis fontes de emissão e de exposição em relação ao benzeno, é apresentada no Quadro VII.16. Os ensaios e testes de laboratório, especialmente aqueles realizados nas naftas tratada e reformada provenientes da URC, foram acompanhados e monitorados durante a jornada de trabalho desses trabalhadores (Barbosa, 1997). Os resultados do monitoramento dessas atividades e postos de trabalho são apresentados de acordo com as atividades específicas desenvolvidas nas principais salas do setor: sala de turno, sala de octanagem e sala de fulgor, para as atividades do turno; e, sala de cromatografia e sala de descarte para aquelas da rotina (Barbosa, 1997). Na amostragem ambiental, de aproximadamente seis horas, realizada durante as atividades e postos do Turno, a concentração média do benzeno foi de 0,22 ppm. Esta concentração foi vinte vezes maior que a concentração média obtida entre os postos de trabalho da Rotina, de 0,01 ppm. As concentrações variaram de 0,03 ppm a 1,08 ppm para o Turno e foram inferiores a 0,01 ppm para todos os postos amostrados dos trabalhadores de Rotina (Barbosa, 1997). Para alguns testes e ensaios específicos desenvolvidos pelos técnicos de Turno, como: destilação, pressão de vapor e dosagem de enxofre, de duração média aproximada de sessenta minutos; a concentração média do benzeno foi de 0,40 ppm. Dentre eles, a destilação da nafta reformada, proveniente da Unidade de Reforma Catalítica é a atividade na qual ocorre maior emissão de vapores de benzeno. A concentração medida de benzeno durante este teste foi de 1,24 ppm (Barbosa, 1997). Pôr fim, os dados deste estudo (Barbosa, 1997), não são conclusivos sobre os efeitos da exposição concomitante ao benzeno através de atividades laborais e do hábito de fumar. Isto é devido principalmente a dois fatores: primeiro ao pequeno número de fumantes nos grupos de trabalhadores estudados expostos ocupacionalmente ao benzeno e segundo a dificuldade na quantificação precisa da influência do benzeno proveniente apenas da fumaça do cigarro (Barbosa, 1997). VII.4.5. Quantificação da Exposição As concentrações ambientais, resumidas nos Quadro VII.14, VII.15 e VII.16 são o ponto de partida para calcular a exposição dos trabalhadores ao benzeno. O meio no qual o poluente está presente determinará a possível via de exposição. No caso o meio contaminado é o ar e via de exposição a sua inalação no ambiente de trabalho, fechado e aberto (indoor e outdoor). Para calcular a exposição através da concentração do poluente no meio contaminado, a qual uma dada população está exposta, são estabelecidas algumas suposições e utilizam-se informações sobre a freqüência e duração do contato com o meio contaminado e do grau de absorção do poluente para cada via de exposição, no presente caso quando o benzeno inalado é efetivamente absorvido nos pulmões. No método de cálculo da dose de exposição utilizam-se certos valores padrão de contato com meio contaminado de acordo com a via de exposição, no caso a inalação do ar contaminado (ex. 23 m3 dia-1). A seguir, apresentamos as suposições utilizadas para o cálculo da exposição dos 4 grupos de trabalhadores expostos ocupacionalmente ao benzeno, na refinaria avaliada, já definidos anteriormente. ⇒ Suposições: Peso médio dos trabalhadores: 70 kg Tempo de vida: 70 anos Período de exposição: 25 anos Freqüência da exposição: 201 eventos pôr ano Período de exposição em relação ao tempo de vida: 15 % Duração do evento: 8 horas pôr evento Cenários de exposição: inalação Taxa de inalação: 23 m3. dia-1 Taxa de absorção pulmonar do poluente: 50 % ⇒ Cálculo Unidade de Exposição = concentração do benzeno no ambiente em mg/m3 (ex. planta de processo, sala de controle, etc.) * taxa de inalação em m3/dia * porcentagem do período de exposição em relação ao tempo de vida * taxa de absorção do poluente / peso do trabalhador em kg. VII.4.6. Considerações sobre os Dados da Avaliação da exposição Humana 1. O estudo de Barbosa (1997) caracterizou, de forma adequada, a contaminação do benzeno no ar na refinaria estudada? Caso sua resposta seja negativa, que tipo de informações adicionais deveriam ser fornecidas e pôr quê? 2. O monitoramento realizado para a obtenção das concentrações de benzeno no ar, as quais os trabalhadores estão expostos foi adequado? Caso sua resposta seja negativa, como você realizaria este monitoramento? 3. O método de agregação utilizado é apropriado para a obtenção das concentrações médias de benzeno no ar e para caracterizar a exposição humana.? Caso você não concorde, qual método deveria ser utilizado? 4. É apropriado utilizar um resumo estatístico da concentração média encontrada nos vários setores monitorados para caracterizar a exposição dos trabalhadores? Deve-se usar, como alternativa conservadora, o limite superior de confiança dos dados para a avaliação da exposição? Você concorda com o procedimento conservador adotado no estudo de Barbosa (1997) de utilizar o limite de detecção (0,01 ppm) para as amostras nas quais as concentrações do benzeno estavam abaixo deste limite? 5. As suposições utilizadas para os cálculos de exposição, como a freqüência e duração do evento, taxa respiratória e o fator de absorção são aceitáveis? Alguma destas deveria ser substituída ou complementada com outras? 6. Deveriam ser consideradas outras vias de exposição ao benzeno? 7. A avaliação da exposição dos trabalhadores ocupacionalmente expostos ao benzeno, deve ser realizada dentro do mesmo contexto que os trabalhadores não expostos? VII.4.7. Algumas Conclusões Possíveis sobre a Exposição Humana ao Benzeno 1. O uso da estimativa de exposição não é adequado para a avaliação de riscos. As informações atualmente disponíveis somente fornecem subsídios para descrever a exposição em termos qualitativos. Desta forma, nenhuma avaliação quantitativa de risco deve ser desenvolvida até que informações mais adequadas sejam fornecidas. 2. As estimativas de exposição ao benzeno presente no ar são dignas de confiança e podem ser utilizadas para a avaliação de risco. 3. Todas as estimativas de exposição, baseadas em informações e suposições, são adequadas e suficientes para a avaliação de risco. O gerenciador de risco deve estar consciente das incertezas inerentes aos meios utilizados para a coleta dos níveis de benzeno no ar, bem como ao método de agregação. Entretanto, deve desenvolver uma avaliação quantitativa do risco. 4. Outra (formule sua própria conclusão). VII.5 - CARACTERIZAÇÃO DO RISCO VII.5.1.- Objetivo Nesta última etapa da avaliação de risco as informações obtidas e analisadas, durante as primeiras etapas, são integradas para caracterizar o excesso de risco para os seres humanos expostos. De acordo com os métodos alternativos para descrever as relações de dose-resposta, pelo menos quatro enfoques podem ser utilizados nesta etapa: 1. Fornecer um cálculo numérico do excesso de risco de câncer durante a vida para cada grupo exposto, ao multiplicar o coeficiente de inclinação pelo número de unidades de dose de exposição a que está submetido cada grupo: Excesso de risco durante toda a vida = coeficiente de inclinação x unidades de exposição. Nesta equação o excesso de risco não tem unidade, sendo uma probabilidade. 2. Para o risco de efeitos carcionogênicos comparar a exposição real de cada grupo com DRf (dose de referência). 3. Calcular a margem de exposição para cada grupo, dividindo o NOAEL (do estudo crítico usado para calcular a DRf) pela exposição real de cada grupo. 4. Descrever qualitativamente os riscos para cada grupo da população. A caracterização do risco, normalmente, inclui uma combinação destes quatro enfoques junto com a descrição das qualidades de cada um deles. É também essencial que, ao estimar a magnitude dos riscos sobre a saúde, se descrevam concomitantemente as incertezas inerentes ao processo, contidas na amostragem ambiental, descrição da população, extrapolações matemáticas, etc. VII.5.2. Quantificação do Risco O excesso de risco dos trabalhadores expostos ao benzeno é calculado através da multiplicação da dose de exposição pelo coeficiente de inclinação estimado para o benzeno (2,9 x 10-2)5, determinada através de estudos de dose-resposta pôr inalação, em humanos (IRIS, 1995). No Quadro VII.18 estão descritos os excessos de risco individuais estimados para os diferentes grupos de trabalhadores monitorados durante o estudo. ⇒ Cálculo 5 Também chamado Fator de Potência Carcinogênica (FPC). Excesso individual de risco = Dose de exposição x Coeficiente de inclinação da Relação Dose-Resposta Neste caso, calculou-se o excesso de risco do benzeno, utilizando o coeficiente de inclinação da relação dose-resposta em substituição a unidade de risco, mesmo sendo a exposição dos trabalhadores pôr via inalatória, devido as seguintes razões: - a taxa de absorção do benzeno inalado pelo homem é conhecida através da literatura. - o peso médio da população exposta é conhecido. Assim, a partir destas informações pode-se calcular a dose absorvida via inalação (mg/ kg pôr dia) e utilizar-se do coeficiente de inclinação da dose-resposta para o cálculo do excesso do risco. Entretanto pode-se também utilizar, como já citado anteriormente, o produto da unidade de risco pela concentração do benzeno no ar, para calcular o excesso individual de risco de substâncias tóxicas pôr inalação. Realizamos ambas abordagens e os resultados obtidos foram da mesma ordem de grandeza. O excesso de risco individual calculado neste estudo, baseado nas concentrações ambientais de benzeno medidas pôr Barbosa (1997), está de acordo com estimativas da EPA (IRIS, 1995) para o risco ao benzeno. Segundo a relação dose-resposta utilizada pela EPA para riscos de inalação do benzeno (unidade de risco 8,3 x 10-6), a chance de um indivíduo desenvolver câncer durante sua vida, devido a inalação contínua de ar contendo 0,1 µg/m3 de benzeno não se torna maior (risco em excesso) que um em um milhão (< 1:1.000.000). De forma análoga, a exposição ao benzeno através da inalação de ar contendo 1,0 µg/m3 de benzeno pôr toda a sua vida, resulta na probabilidade igual ou inferior a um em cem mil (< 1:100.000),de um indivíduo desenvolver câncer. Pode-se observar que os valores obtidos com a estimativa do excesso de risco individual estão acima do limite aceito pela EPA (1 x 10-6), como níveis razoáveis de risco e chegam mesmo a ultrapassar o limite de 1 x 10-4, considerado como o risco máximo admissível para substâncias cancerígenas. VII.5.3. Pontos a Considerar 1. São os resultados do Quadro VII.18 uma caracterização adequada do risco do benzeno na área estudada? O que mais se poderia adicionar? 2. É apropriado calcular o número de casos de câncer, multiplicando o risco individual pelo tamanho da população? Qual risco é mais importante, o risco individual ou o populacional? VII.5.4. Algumas Possíveis Conclusões Sobre os Riscos do Benzeno Qual das seguintes conclusões caracteriza melhor a informação descrita? 1. Os excessos de câncer nos trabalhadores expostos ao benzeno são aqueles que estão apresentados adequadamente no Quadro A.V.1.? 2. Deve-se informar o excesso de risco de câncer mostrados no Quadro A.V.1., assim como aqueles obtidos através de outras abordagens válidas. Este tipo de apresentação fornece ao gerenciador uma perspectiva das incertezas nos riscos calculados. 3. Os resultados apresentados no Quadro A.V.1. são suficientes para determinar o excesso de risco de câncer de forma conservadora para todos os grupos expostos. As incertezas são descritas de maneira correta nesta seção. 4. Outra? Alguma combinação das conclusões acima? VII.5.5. Incertezas do Processo de Avaliação de Risco do Benzeno Toda avaliação de risco possui uma série de incertezas que são intrínsecas ao processo. Isto porque, este método nada mais é que uma avaliação probabilística dos riscos que um determinado composto poluente acarreta em uma população de uma determinada área, a partir de condições de exposição específicas. Esta análise probabilística baseia-se sobretudo em dois grupos de informações: 1. caracterização do poluente, incluindo seu perigo para o homem, a relação entre sua dose e o seus efeitos. 2. caracterização da população e das condições de como se dá a exposição. Cada um destes itens pode se basear em dados primários, ou mais usualmente, em dados secundários e ainda podem ocorrer situações onde se utiliza premissas de acordo com o discernimento do avaliador - pode-se pôr exemplo adotar uma postura conservadora sempre que houver uma ausência de dados primários ou secundários. No primeiro caso, tem-se um maior controle sobre a qualidade dos dados e suas limitações, pôr exemplo até onde podemos extrapolar os dados da amostra coletada para o ambiente estudado. As imperfeições do seu levantamento de dados, que pode ser tanto no monitoramento das concentrações ambientais do poluente avaliado como nos estudos epidemiológicos da população exposta, são melhor conhecidas e mais facilmente consideradas e descritas. Já no segundo caso, é fundamental que se tenha juízo crítico quanto os dados obtidos pôr outros pesquisadores. Avaliar criteriosamente se estes dados se aplicam a situação estudada e se podem ser utilizados para a avaliação de risco. Muitas vezes é difícil saber até que ponto pode-se extrapolá-los, existindo sempre uma área de incerteza que deve ser descrita. No último caso, deve-se sempre deixar bem claro no processo, em que se basearam as suas premissas e justificar a abordagem utilizada. Se não existem dados, sobre um determinado ponto que se utiliza para os cálculos de risco, e o avaliador se utiliza de seu juízo crítico e experiência para atribuir-lhe um valor, isto deve ser explicitado na avaliação de risco para que as pessoas que se utilizem de seu trabalho para tomada de decisões tenha isso bem claro. Pôr fim, podem existir casos onde as incertezas existentes na avaliação de risco, são de tal magnitude, que justificam seu uso apenas qualitativamente ou mesmo para identificar, através de comparação, grupos ou áreas que possuem maior risco dentro do cenário de exposição avaliado. Baseado no que foi descrito, consideramos pontos de maior fragilidade deste estudo, as seguintes questões: 1. Utilizou-se neste trabalho apenas dados secundários, o que torna mais difícil avaliar a qualidade dos resultados. No caso da avaliação da exposição, os dados ambientais são provenientes apenas de uma indústria (Barbosa, 1997), o que não é o mais adequado do ponto de vista da representatividade de amostras ambientais, especialmente ao longo do tempo. 2. O monitoramento dos trabalhadores se restringiu a um período de apenas 2 meses, que podem não ser representativos do ano todo. O tempo de amostragem ambiental foi muito variado, desde 10 minutos a 360 minutos, onde se observou uma grande faixa de variação das concentrações. Não se correlacionou o monitoramento ambiental com o monitoramento feito na zona respiratória dos trabalhadores. A exposição ao cigarro é desconsiderada devido ao menor grau de importância a ela atribuído, porém sua quantificação precisa não foi feita. 3. Embora o estudo de Barbosa (1997) descreva o processo de trabalho de forma detalhada, na caracterização dos grupos expostos, algumas informações necessárias não são fornecidas, como: peso e tempo de vida médios dos trabalhadores expostos, adotou-se valores médios de trabalhadores adultos; a freqüência da exposição dos trabalhadores não é descrita, embora se saiba que esta é distinta para trabalhadores de horário de turno e horário administrativo adotou-se um valor único, médio para ambos os grupos, obtido a partir de comunicação pessoal com trabalhadores do setor; as taxas de inalação específica dos diferentes grupos de trabalhadores expostos não foi determinada, utilizou-se apenas um único valor padrão para todos os grupos com base na literatura internacional. 4. A metodologia da EPA, aplicada neste estudo, segue um encaminhamento lógico específico. Se utilizássemos outras abordagens, poderíamos obter diferentes resultados; o ideal seria utilizar diferentes abordagens e comparar os resultados obtidos. VII.6. - O PROCESSO DE GERENCIAMENTO E VIGILÂNCIA DOS RISCOS DO BENZENO NO BRASIL VII.6.1. Contextualização Histórica O controle sanitário do benzeno no Brasil se inicia em 1983 na Baixada Santista, São Paulo, com a identificação de casos de leucopenia, relacionados ao trabalho em siderurgia, mais especificamente, ao trabalho no setor de coqueria. Trata-se de um setor de produção de gás de coque, rico em benzeno, tolueno e xileno, que podem ser lavados em um sistema industrial, entretanto, dependendo de sua eficiência, pode haver contaminação ao longo de sistemas pôr onde passa, ou onde é utilizado o gás. Esse primeiro momento de identificação do problema, se caracteriza pôr uma fase de vigilância popular, em que o Sindicato de Metalúrgicos de Santos, age como elemento aglutinador das informações. Com a articulação do sindicato com os serviços de saúde pública do estado, é desenvolvida uma das primeiras experiências de programa de saúde do trabalhador no interior do sistema de saúde. Essa participação transforma o processo de vigilância, ao incorporar a notificação compulsória de casos de benzenismo na região, e ao organizar com a FUNDACENTRO investigações e debates da situação com a empresa, em uma fase do gerenciamento de riscos, que pode-se chamar de vigilância epidemiológica, em que há uma intervenção focalizada nos efeitos. Como fruto positivo desse momento, há a normatização dos critérios de diagnóstico e suspeição de benzenismo pelo escritório regional da Previdência Social e o afastamento da exposição a agentes mielotóxicos de cerca de 2.000 leucopênicos - trabalhadores que apresentaram de modo persistente uma leucometria de até 5.000 leucócitos. Paralelamente há uma amplificação da discussão no âmbito do movimento sindical e das instituições públicas relacionadas à previdência social, ao trabalho e a saúde nas regiões das grandes usinas siderúrgicas, em Volta Redonda no Rio de Janeiro, Vale do Aço em Minas Gerais e em Vitória no Espirito Santo. Na seqüência desse processo começa a haver a identificação de casos de benzenismo também em outros ramos de atividades, principalmente na indústria química, petroquímica e petroleira. A generalização das atividades envolvidas fazem com que a vigilância se concentre no gerenciamento do risco da exposição ao benzeno, caracterizando uma ação preventiva focalizando a contaminação no local de origem, que é o método mais prático e eficaz de redução do risco. Outra vez, acontece um salto qualitativo configurando um nível de complexidade compatível com a vigilância em saúde do trabalhador, integrando informação e intervenção, configurando um modelo matricial que se fundamenta na inter-relação entre a exposição e o efeito contextualizado em uma atividade e em um território, vértices da matriz representada na Figura VII.6.1 (Machado, 1996). Figura 1. Matriz de Gerenciamento de Risco em Saúde do Trabalhador Em termos técnicos, no processo de avaliação do risco, é evidenciada a diversidade intrínseca às atividades. As situações específicas estabelecem-se pelas características tecnológicas e pelas formas de organização do trabalho, que geram exposições múltiplas e de intensidade variáveis e que empregam contingentes distintos de trabalhadores, estabelecendo resistência biológica e quantidade de exposição distintas durante um dado período de tempo. Uma atividade pode estar associada a vários tipos de danos, quanto maior a gama de atividades causadoras de um tipo de agravo, maior a tendência de aumento de sua incidência e da necessidade de disseminação de estratégias múltiplas de controle de exposição. Nos casos de um tipo de agravo resultante de várias atividades e de atividade causadora de danos múltiplos é patente a necessidade da territorialização dos eventos, pois a delimitação espacial racionaliza a operação de vigilância, delimitando territorialmente sua intervenção nos efeitos ou nas situações de risco (Machado,1996). Então, tanto quanto um agravo pode ser causado pôr várias atividades, uma atividade pode causar vários tipos de agravos. Essa multiplicidade é mediada pela exposição, dado que várias atividades podem ter o mesmo tipo de exposição e uma atividade pode conter vários tipos de exposição, o território se constituindo no espaço de intervenção e configurando um quadrilátero de atuação, com dois pólos de intervenção, risco(exposição) e agravo(efeito), e dois pólos de delimitação, atividade(contexto) e território(organização). As ações de intervenção se deslocam do viés estritamente sanitário epidemiológico para um campo do controle da exposição, que esteve permanentemente posto enquanto pressuposto teórico, porém pela sua natureza diferenciada só entra em cena quando há um amadurecimento do processo pela sua generalização e pela ação interdisciplinar com ênfase crescente na discussão de alternativas tecnológicas e a consolidação de um processo negocial tripartite, que se corporifica no Acordo Nacional do Benzeno assinado em março de 1996 e no seu posterior acompanhamento pela Comissão Nacional Permanente de Acompanhamento do Acordo do Benzeno CNPBenzeno. VII.6.2. As Bases do Gerenciamento de Riscos - Contexto Setorial/Atividade Territorial As reflexões e propostas aqui apresentadas estão em debate principalmente pela bancada governamental do CNP-Benzeno. A matriz de vigilância construída a partir desse processo pode ser representada pela Figura VII.6.1, substituindo os pontos dos vértices pôr, benzeno no lugar de risco, benzenismo no lugar de agravo, regiões onde se concentram as atividades de risco no lugar de território e coqueria, transporte, carga e descarga de benzeno, operadores de processos químicos, petroquímicos e petroleiros que envolvem a exposição ao benzeno no lugar das atividades, configurando o início do processo de gerenciamento de risco em relação ao benzeno no país. Em termos de concentração territorial do risco podem ser selecionados os estados em que se concentram as atividades siderúrgicas, químicas, petroquímicas e petroleiras, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Espirito Santo, pois segundo Freitas e Arcuri (1996). “ No Brasil, a produção industrial do benzeno passa a ser significativa a partir do final da década de 50 e início dos anos 60, com o aumento da produção comercial de petróleo e a instalação do parque siderúrgico nacional, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no Rio de Janeiro, e a Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), em São Paulo. Há um incremento na capacidade produtiva nacional a partir dos anos 70, quando são instalados os Pólos Petroquímicos de Capuava-Mauá /SP, Camaçari/BA e Triunfo/RS, até atingir o volume aproximado de 600.000 toneladas em 1987, que aparentemente se mantém estabilizado (ABIQUIM, 1992). De país importador de benzeno, o Brasil passou a ser exportador a partir de 1981, segundo Novaes (1992). As principais fontes de produção de benzeno no Brasil, atualmente, são as centrais de matérias-primas dos pólos petroquímicos citados e a Refinaria Presidente Bernardes da Petrobrás em Cubatão, o que corresponde a cerca de 95% da produção nacional. O restante 5% da produção nacional, provém das plantas siderúrgicas existentes, ou seja, COSIPA, CSN, USIMINAS (Ipatinga/MG), AÇOMINAS (Ouro Branco/MG) onde é produzido a partir das coquerias e plantas carboquímicas. Na Companhia Siderúrgica Tubarão (CST), de Vitoria/ES, também é produzido benzeno, porém nessa siderúrgica ele é todo utilizado como combustível, sem ser separado do gás de coqueria.” Sendo portanto, essas regiões em que se concentram a exposição industrial ao benzeno. De acordo com dados de 1993, da FUNDACENTRO (1995), nas indústrias que empregam benzeno no país existiam cerca de 58.447 trabalhadores diretos e 116.635 trabalhadores de empreiteiras, sendo 35.634 diretamente expostos em seu processo de trabalho. Não há estimativa de populações vizinhas às indústrias diretamente expostas, devendo, pelos menos em casos onde existam disponibilidade de dados, ser estabelecido o potencial de riscos para as mesmas. Utilizando-se o índice de masculinidade da mortalidade pôr leucemia como indicador de efeito da exposição ao benzeno nas regiões de maior exposição industrial ao benzeno, tendo em vista a predominância do sexo masculino nas atividades de risco de exposição ao benzeno, parte-se do pressuposto que, um índice acima de 1, pode corresponder ao excesso de mortalidade relacionado a exposição ocupacional, na qual o benzeno seria o principal agente mielotóxico. Conforme dados da Tabela VII.6.1, observase índices significativamente maiores nas áreas que concentram as indústrias siderúrgica e petroquímica 2.50, siderúrgicas 2.00 e petroquímica 1.28, quando comparamos os dados de regiões com alta densidade populacional. Esses dados afirmam a necessidade de aprofundamento das informações, tendo em vista as incertezas decorrente da situação apresentada, que coloca como risco potencial relacionado ao benzeno de um aumento de 150% a 28% dos casos de leucemia nas áreas de concentração industrial em que o benzeno está presente, evidenciando a premissa de prioridade de saúde pública devido a gravidade do impacto da exposição ocupacional ao benzeno, nesse sentido, justificando o seu destaque dos vários objetivos institucionais. Os procedimentos de avaliação do risco, os requisitos legais, os impactos econômicos e os fatores sociais envolvidos são alguns dos elementos envolvidos para as decisões acerca das estratégias para um gerenciamento eficaz do risco, estando presentes no caso do benzeno e serão objeto de discussão a seguir. TABELA VII.6.1, - TAXA DE MASCULINIDADE POR LEUCEMIA CONSIDERANDO OS CASOS DE 1980 A 1995, NA FAIXA ETÁRIA DE 35 A 64 ANOS, EM REGIÕES DE ALTA EXPOSIÇÃO AO BENZENO E DAS CAPITAIS DOS ESTADOS DE MG,BA,SP,RJ, REGIÕES ONDE SE CONCENTRAM OS COMPLEXOS INDÚSTRIAIS MENCIONADOS. Base Territorial Índice de Masculinidade Complexo Siderúrgico 2,00 Complexo Petroquímico 1,28 Complexo Siderúrgico e Petroquímico 2,50 Rio de Janeiro 1,06 Salvador 0,75 Belo Horizonte 0,92 São Paulo 1,04 Fonte: Machado & Moreno (1997) Os dados de morbidade relacionada ao benzeno (Giraldo 1991; Costa,1996a) e do índice de masculinidade, acima exposto, revelam o impacto social potencial dos casos com alterações hematológicas afastados das atividades em situação de exposição a agentes mielotóxicos, e colocam a siderurgia como setor prioritário nas ações de gerenciamento. o que justifica o montante dos gastos em reformas das coquerias, visando a redução da exposição a níveis preconizados pelos instrumentos legais de 2,5 ppm para esta atividade da siderurgia e secundariamente os setores químico, petroquímico e petroleiro que tem como indicativo legal de exposição de 1ppm, que ainda representa um nível de risco inaceitável pela Environmental Protection Agency (EPA, 1991). A falta de informação do setor sucro-alcoleiro e contraditoriamente a disposição em realizar uma mudança tecnológica no sentido da eliminação do benzeno no processo de produção do álcool a partir da cana de açúcar, coloca esse setor em foco secundário de acompanhamento dessas alterações. Em relação ao setor de transportes de cargas destaca-se a sua importância, do ponto de vista de quantidade de empresas, entretanto, pela dificuldade de intervenção devido sua dispersão e a relativa pouca exposição ocupacional no seu processo de trabalho, pode ser secundarizado e atingido pela ação de gerenciamento no interior das empresas produtoras e consumidoras do benzeno. Portanto, até aqui foram traçadas duas diretrizes do gerenciamento do risco de exposição ao benzeno, delimitando os objetivos da intervenção regionalmente e setorialmente. Quando o foco das ações se direcionam aos efeitos, ou seja, no nosso caso, a morbimortalidade relacionada ao benzeno, como apresentado anteriormente, na discussão da matriz de gerenciamento de risco em saúde do trabalhador, um tipo de exposição tem um potencial de efeitos múltiplos e relacionados diretamente com a natureza do risco e com a sua contextualização em relação a atividade em que está presente. Os efeitos relacionados ao benzeno e a caracterização do risco foram abordados em outros capítulos anteriores, entretanto, deve ser destacado que a escolha do efeito e seu indicador também consiste em uma decisão de gerenciamento de risco. No nosso exemplo, a citopenia, anemia, leucopenia e outras alterações hematológicas, a anemia aplástica, leucemia mielóide aguda e crônica, leucemia linfocitária, mieloma múltiplo, linfoma não Hodgkin’s, alterações alérgicas e imunológicas, efeitos neuropsicológicos e associação com casos de surdez em efeito sinérgico com o ruído, fazem parte de uma síndrome de benzenismo, em que existem situações mais claramente associadas e outras em que permanecem as suspeitas, porém não podemos descartar as possibilidades de relação entre a exposição e o efeito mesmo quando não está devidamente comprovado epidemiologicamente (Checkoway, 1993), principalmente do ponto de vista preventivo. A metodologia aqui empregada concentra-se no risco de carcinogênese, o que corresponde ao risco associado às leucemias e linfomas, que consiste em um indicador relevante pela sua gravidade. VII.6.3. Indicativos do Método de Gerenciamento de Risco O princípio básico do gerenciamento do risco é de ser um processo desenhado para poder identificar e confrontar os riscos considerados piores, porém ao mesmo tempo, mais controláveis. O benzeno como observamos na identificação do perigo, pode ser considerado um risco de grande importância, pelo seu potencial impacto sanitário pôr ser uma substância tóxica carcinogênica e genotóxica, evidenciado primeiro no homem e posteriormente comprovado experimentalmente (Barale, 1995). A confluência de seu alto grau de toxicidade e de difusão coloca o controle da exposição e efeito do benzeno como uma questão incontestável para a saúde pública. Além da relevância epidemiológica, o combate ao benzeno no Brasil reveste-se de uma característica social, refletida nas lutas sindicais deflagradas pelos sindicatos de trabalhadores siderúrgicos, petroleiros e petroquímicos, que, a partir do Instituto Nacional de Saúde no Trabalho da Central Única dos Trabalhadores, lançaram a Campanha Nacional de Caça ao Benzeno e organizaram em abril de 1991 o Seminário Nacional Sobre o Benzeno (INST/CUT, 1991). Pode-se dizer que há pelo menos 14 anos trabalhadores e técnicos de saúde e higiene industrial realizam ações de vigilância em saúde do trabalhador relacionadas ao benzeno. Pôr sua vez, também é passível de controle, selecionando um curso de ação apropriado, tendo pôr base levar em consideração os seguintes critérios de avaliação de risco, dos impactos econômicos e dos fatores sociais. A partir de estratégias de redução de exposição conduzidas pela CNP-Benzeno, representando uma instância nacional de comando e controle. Aplicando medidas de suporte aos trabalhadores com alterações de saúde provenientes da exposição ocupacional ao benzeno, de correção, reduzindo a concentração Representação do benzeno dos em produtos Trabalhadores do acabados, Benzeno estabelecendo (GTB-Benzeno) Grupos nas de empresas responsáveis pelo acompanhamento das medidas de controle nos locais de trabalho, homologando o Certificado de Utilização Controlada do Benzeno (CUC-Benzeno) para as empresas que estejam adequadas aos parâmetros do Acordo e cadastrando as empresas que produzem, utilizam e transportam o benzeno, identificando o universo de exposição ocupacional, estabelecendo o Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno (PPEOB), onde está definido o instrumental técnico principal de prevenção (Costa,1996a). Estabelecendo a substituição do benzeno na produção de álcool anidro e em outra situação em que se apresente tecnologia substitutiva. Em termos técnicos, o acordo enquanto instância de comando e controle, apresenta ainda a consolidação da discussão de que não há padrões seguros de exposição para o benzeno e estabelece não mais limites de tolerância, e sim o conceito de Valor de Referência Tecnológico, específico para os setores de maior risco e com impossibilidade atual de substituição tecnológica. Ainda outro objetivo técnico é definir os Indicadores Biológicos de Exposição a serem aplicados em substituição ao fenol urinário em níveis de exposição ambiental entre 5 e 0.1 ppm de benzeno. As ações preventivas desencadeadas nesse processo se concentraram no redesenho de processos de produção, como no exemplo das siderúrgicas que estão introduzindo novas formas de enfornamento do coque, colocando um material mais flexível nas portas das coquerias e instalando sistemas de exaustão no topo das baterias de coque. E no exemplo das empresas produtoras de álcool anidro que estão investindo na troca e uso de insumos de menor toxicidade em relação ao benzeno. Como vantagens das ações preventivas temos a redução da exposição de trabalhadores e a redução no consumo de insumos perigosos. As bases legais tem sido desenvolvidas no âmbito do Acordo Nacional do Benzeno e acompanhadas pela CNP-Benzeno, se referem basicamente ao texto do acordo propriamente dito que se refere as atribuições dos atores envolvidos (governo, trabalhadores e empregadores) e coloca como necessidade técnica imediata, tendo em vista o referido acima, a redefinição dos Indicadores Biológicos de Exposição através da criação de um grupo temático específico para esse fim, em que a avaliação do ácido trans-trans-mucônico na urina (Barbosa,1997), como um desses indicadores se inseriu, sendo os seus resultados correlacionados positivamente com as avaliações ambientais apresentadas no Apêndice IV. Coloca ainda os prazos de cumprimento do cadastro, enquadramento nos valores técnicos de referência, da substituição do benzeno, as atribuições da CNP-Benzeno e estabelece penalidades. Nesse mesmo processo de negociação foram publicadas as Instruções Normativas, n°1 e n°2 de 20 de dezembro de 1995, que dispõem respectivamente, sobre a avaliação das concentrações de benzeno em ambientes de trabalho e sobre a vigilância da saúde dos trabalhadores na prevenção da exposição ocupacional ao benzeno. Os temas mais polêmicos dentre os que estão sendo discutidos na CNP-Benzeno são os direitos dos trabalhadores afastados do trabalho como casos de benzenismo e as formas de acompanhamento regional do acordo nas quais a comissão não quer se envolver, mas, localmente todos estão de fato envolvidos e mesmo há uma necessidade técnica de pelo menos os órgãos do governo e trabalhadores de avaliar in loco o cumprimento dos ítens do acordo que se realizam no âmbito das empresas, como a aplicação do PPEOB, a formação dos GTB, as realizações das medidas propostas nas instruções normativas nº1 e nº2. Entretanto, a experiência e a perspectiva de aprofundamento técnico, de difusão de informações, de estabelecimento de parcerias entre o público e o privado e o cumprimento dos textos legais é bastante positiva na avaliação desse processo costurado pelo acordo e estruturado na CNP-Benzeno. Com o objetivo de difundir informações e dinamizar a participação da bancada do governo nas ações de acompanhamento do acordo referido acima, em abril de 1997 foi organizada uma oficina de trabalho para discussão e avaliação das perspectivas de ação governamental em relação ao acordo e com vistas a regionalização das ações de acompanhamento nos estados que concentram as atividades de risco (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo) em que foram apresentados as bases necessárias para o acompanhamento técnico científico do acordo que sintetizam as estratégias de gerenciamento de risco da exposição ao benzeno no Brasil. Estas bases são: 1. Revisão e validação dos Indicadores Biológicos de Exposição em níveis de exposição que variam de 0,1 a 5 ppm, segundo documento do Grupo de Trabalho para protocolos de estudos para implantação do indicador biológico de exposição, oficina e seminário realizado em 1996. 2. Estudo de Caso Companhia Siderúrgica Paulista Cosipa, sob coordenação da FUNDACENTRO e da Delegacia Regional do Trabalho DRT-SP, com o Sindicato de Metalúrgicos da Baixada Santista e o Ministério Público, análise da série histórica dos hemogramas dos leucopênicos da Cosipa, a qual apresentou uma incidência de 46,95% de alterações hematológicas em 5 anos de acompanhamento de 328 trabalhadores, sendo 15,85 % persistentes, (alterações em três ou mais exames). Representa ainda, campo para avaliação do monitoramento de indicadores de efeito precoces e de avaliações ambientais, relatório apresentado na CNP-Benzeno (Costa,1996b). 3. Estimativa de risco, sob coordenação e execução do CESTEH/ENSP/FIOCRUZ, tendo início com o projeto financiado pela OPAS que resulta neste trabalho e que tem como objetivo realizar um exercício prático da metodologia de avaliação e gerenciamento de risco. O estudo da exposição, ou um tipo de risco, como o benzeno, abre uma alternativa de entendimento do processo de trabalho enquanto um determinante da situação de saúde, ou seja, abordagens mais sofisticadas de quantificação da exposição tendem a esclarecer situações de risco e suas variações A avaliação do risco em refinaria apresentada no Apêndice V estabelece um índice que varia de 1 x 10-3 a 5,22 x 10-5, entretanto, ao estabelecermos uma regulamentação que propõe valores de referência de 2,5 ppm para siderurgia e 1 ppm para indústrias de processo (químicas, petroquímicas e petroleiras), temos um impacto potencial da mudança nas bases legais de redução de 630 casos (720(30+60)), considerando que a antiga legislação estabelecia 8 ppm como limite de exposição e de 18 casos (48-30) na siderurgia, considerando 4 ppm como média observada pelas avaliações realizadas pela CSN em 1990 e a existência de 6 mil trabalhadores expostos diretamente na siderurgia e de 60 mil nas indústrias de processo. A Tabela VII.6.2 apresenta os riscos para cada concentração atmosférica e individual segundo os mesmos padrões de exposição apresentados no item VII.5 . TABELA A.VI.2 - CONCENTRAÇÃO INDIVIDUAL DE EXPOSIÇÃO E RISCO DE CANCER OCUPACIONAL SEGUNDO ÍNDICES DE EXPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA AO BENZENO (PPM). EXPOSIÇÃO 8 ATMOSFÉRICA em ppm CONC. INDIVIDUAL 25,60 em mg/m3 4 2,5 1 10,07 8,00 0,25 CASOS DE CANCER 720* 48** 30** 60*** RISCO 2X10-2 8X10-3 5X10-3 2X10-3 obs: 8ppm representa o índice permitido na legislação anterior ao acordo; 4 ppm representa a média observada na Companhia Siderúrgica Nacional em 1990, e 2,5 e 1 ppm são os novos índices propostos como VTR para siderurgia e indústrias de processo respectivamente. * Considerando 36000 trabalhadores diretamente expostos ** Considerando 6000 trabalhadores siderúrgicos expostos diretamente *** Considerando 30000 trabalhadores da indústria química, petroquímica e petroleira VII.6.4. Monitoramento de Morbi-mortalidade O Ministério da Saúde e o CESTEH/ENSP/FIOCRUZ, com apoio dos programas estaduais e municipais de saúde do trabalhador, tem como tarefa estabelecer o inicio de um processo de vigilância ao benzenismo através de um projeto de monitoramento da morbi-mortalidade pôr benzeno em sete estados brasileiros com alta exposição. Os objetivos são: • implantar o monitoramento da morbimortalidade dos trabalhadores expostos ao benzeno; • estabelecer a incidência de benzenismo e de casos suspeitos na população ocupacionalmente exposta. As etapas são: • realizar levantamento junto as empresas do cadastro de trabalhadores das empresas siderúrgicas, petroquímicas, petroleiras, químicas que estão ou estiveram expostos ao benzeno; • estabelecer fluxo de informações entre as empresas e os departamentos de dados vitais do SUS; • tornar factível a verificação anual junto ao sistema de mortalidade a possível morte e a causa mortis dos trabalhadores cadastrados. A área de abrangência e a seguinte: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espirito Santo e Bahia. Esses estados foram escolhidos, como vimos anteriormente, pôr reunirem a maior parte das indústrias siderúrgicas, petroleiras, petroquímicas e químicas, que produzem e utilizam o benzeno no Brasil. Os procedimentos são: • constituição da equipe; • treinamento da equipe; • visitas as empresas principais (mais de 100 trabalhadores expostos) • correspondência para todas empresas cadastradas junto a SSST/MTb da região; • levantamento inicial de casos de morbidade e de suspeição; • instituição da vigilância da mortalidade associada ao benzeno; • consolidação de informe anual. VII.6.5 Considerações Finais Sobre o Gerenciamento de Riscos do Benzeno A Universidade de São Paulo, a FUNDACENTRO e o CESTEH/ENSP/FIOCRUZ tem tido o papel de coordenar a realização de estudos exploratórios e indicarão procedimentos de vigilância à saúde estabelecendo critérios de uso e valor prognóstico desses indicadores. Para isto será realizado: • acompanhamento da diminuição do benzeno nos produtos acabados; • mapeamento do benzeno, tornando o cadastramento das empresas instrumento de vigilância • avaliação das alternativas tecnológicas de substituição do benzeno no setor alcoleiro e açucareiro. • treinamento dos GTBs • avaliação das alternativas tecnológicas para diminuição da exposição ao benzeno nos setores químico, petroleiro, petroquímico e siderúrgico. Como estratégia complementar está sendo previsto a criação de um sistema de informações, no sentido de estabelecer o manejo e a difusão das informações oriundas dessas avaliações técnicas. Em termos de relevância e contextualização dos critérios de gerenciamento adotados, destacamos que o universo dos locais de trabalho, inicialmente acompanhados, compreende as indústrias dos setores siderúrgico, petroquímico e de refino de petróleo, configurando um grupo de empresas com diferentes níveis de exposição ambiental ao benzeno, variando de 2.120 à 0,1 ppm (FUNDACENTRO, 1995), conforme informações iniciais das próprias empresas. Isto coloca os diferentes grupos homogêneos em contato com valores de exposição considerados críticos pôr um determinado grupo e seguros para outros, notoriamente a contradição dos valores de referência de exposição da OSHA e da CGIH (Klaassen, 1996). Sendo que os níveis de risco relacionados aos níveis de exposição previstos nos Valores de Referência Tecnológicos, são considerados inaceitáveis pela EPA que prevê um limite de aceitabilidade de 1 x 10-6 (EPA,1991; Konz et al, 1989) mesmo os níveis verificados no apêndice V na refinaria (Barbosa,1997), o que coloca um longo caminho a ser percorrido. Das opções de controle para o gerenciamento de riscos, os requisitos legais, as medidas científicas ou técnicas, o manejo e difusão de informações, a cooperação entre agencias governamentais e entre países, a relação público e privado e programas voluntários de eliminação de riscos estão dispostos a partir do acordo nacional do benzeno que é acompanhado pela CNP-Benzeno, estabelecendo todas as formas preconizadas no método geral apresentado no escopo desse trabalho, apenas não há o incentivo econômico direto visando a eliminação ou controle do benzeno. Inclusive o gerenciamento do risco de exposição ao benzeno se enquadra nos seguintes exemplos objetivos de medidas preventivas no método da OPS, evidenciando mais uma vez a relevância do caso. 1. Redução de riscos para a saúde pública 2. Redução dos riscos ecológicos 3. Redução dos riscos para o bem estar geral 4. Fomentar a participação pública 5. Fomentar o uso de tecnologias disponíveis 6. Penalização econômica do causador da contaminação 7. Proteger os locais de trabalho 8. Maximizar o uso eficaz dos recursos 9. Maximizar o custo/benefício das ações 10. Maximizar o custo efetivo das ações Essas ações estão na ordem do dia no gerenciamento coordenado pela CNPBenzeno no Brasil e significam um caso paradigmático de interação entre governo, empresas e trabalhadores no sentido comum de redução e eliminação de risco no Brasil.