capa RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 1 2 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Relatório dos Investimentos 2013 Sistemas de Reciclagem no RS e em SC RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 3 4 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 EXPEDIENTE INSTITUTO VONPAR Presidente: Rodrigo Vontobel Consultor: Léo Voigt Administrativo: Eberton dos Santos Silva EQUIPE TÉCNICA Jacqueline Salvadori Virti FOTOS Jacqueline Salvadori Virti REVISÃO TEXTUAL Caren Capaverde DIAGRAMAÇÃO Beto Fagundes | Agência de Arte RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 5 6 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 í n d i c e Apresentação RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA – Rodrigo Vontobel9 A Experiência 2008/2013 Metodologia de Trabalho com Unidades Populares de Triagem13 Cooperação Técnica e Financeira para Unidades Populares de Triagem de Resíduos – Aprendizados e Precauções25 Relatório dos Investimentos 2013 Nova Hartz – Cooperlar – Cooperativa de Trabalho e Habitação Nosso Lar42 Piratini – Coopiratini – Cooperativa de Trabalho e Renda Reciclagem Solidária44 Esteio – Cootre – Cooperativa de Trabalhadores e Recicladores de Esteio46 São Leopoldo – Associação de Catadores e Recicladores Mãos Dadas48 São Leopoldo – Cooperativa de Recicladores do Loteamento Santo Antônio50 São Leopoldo – UNICICLAR – Cooperativa de Catadores e Recicladores do Município de São Leopoldo 52 Morro Reuter – Cooperagem – Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente54 Porto Alegre – CTVP – Centro de Triagem da Vila Pinto56 Porto Alegre – Coopertinga – Cooperativa de Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos58 Porto Alegre – Organização de Catadores da Vila Santa Teresinha60 Novo Hamburgo – Coolabore – Cooperativa de Construção Civil e Limpeza Urbana62 Taquari – Organização de Catadores de Taquari64 Joinville – RECICLA – Coop. de Reciclagem, Beneficiamento e Arborização de Joinville66 Chapecó – Cooper São Francisco – Associação de Catadores de Materiais Recicláveis São Francisco 68 Blumenau – Recinave Transbordo70 Navegantes – RECINAVE – Associação dos Agentes da Reciclagem de Navegantes72 Araranguá – COOPERAR – Cooperativa de Trabalho e Produção de Recicladores de Araranguá74 Gestão Administrativa e Financeira da Carteira Vonpar77 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 7 8 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 a p r e s e n t a ç ã o RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA O Brasil sempre foi um país de grandes contrastes sociais, que geram inquietação em diversos segmentos. À medida que se desenvolvem e crescem, as empresas privadas se sentem motivadas a participar da agenda pública da nação, aspirando compartilhar com os segmentos menos desenvolvidos os benefícios do crescimento. Talvez por isso muitas empresas contam com um setor especiali- zado para realizar seus investimentos em projetos comunitários. No caso da Vonpar, o engajamento comunitário da empresa ganhou significado estratégico perante a apresentação dos Objetivos do Milênio, divulgados pela ONU. Na primeira década deste século, os objetivos faziam muito sentido para todos nós. Os Oito Objetivos até 2015 são: Declaração do Milênio – ONU – setembro de 2000. Compromisso assinado por 191 países pela sustentabilidade do planeta. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 9 10 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 a p r e s e Perante os desafios lançados, decidimos contribuir com algumas das metas em nossa região de atuação empresarial, notadamente a três delas. Na ocasião, fizemos a escolha estratégica de contribuir com os Objetivos aperfeiçoando nosso trabalho social referente à cadeia de produção de refrigerantes e seus impactos. O desejo de fazer a diferença em alguma das diversas demandas sociais deu origem ao Instituto Vonpar, entidade vocacionada à inclusão produtiva de catadores. Iniciamos o planejamento em 2007 e já em 2008 realizamos a primeira rodada de investimentos em unidades populares de triagem. Em 2010, foi aprovada a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, dando total legitimidade e antecedência para a política de investimentos do Instituto Vonpar, que vinha operando e estava em perfeita consonância com a nova lei. O conceito de responsabilidade compartilhada que fundamenta a Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, transforma os envolvidos com a produção, distribuição, comercialização e o consumo em corresponsáveis pela destinação final dos descartes. O objetivo original da inclusão produtiva de catadores e o fomento ao empreendedorismo popular passaram a ser mais bem complementados pela n t a ç ã o dimensão do resgate de resíduos e redestinação a novos processos industriais. O tema ambiental em nossa agenda findou fortalecido pelos fatos que se sucederam, após as escolhas estratégicas e metodológicas feitas em passado recente. O certo é que o Brasil alcançou, com antecedência, os oito Objetivos do Milênio. A Vonpar, por seu turno, muito mais contribuiu, quero crer, ao desenvolver métodos e processos de inclusão das populações com maiores dificuldades de proteção, inclusão e adesão a políticas públicas. Neste Relatório Anual referente ao exercício de 2013, buscamos consolidar muitos desses aprendizados. Disponibilizamos o que aprendemos nessa trajetória, conhecimento este que compartilhamos com especialistas, militantes, entidades e todo o sistema de reciclagem, catadores, lideranças e fóruns de representação do setor. A isso buscamos consolidar nos capítulos que vêm a seguir. Boa leitura! Rodrigo Vontobel Presidente do Instituto Vonpar RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 11 12 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 A Experiência 2008/2013 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 13 14 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Metodologia de Trabalho com Unidades Populares de Triagem A empresa Vonpar atua há 65 anos no setor de bebidas e, recentemente, incorporou as empresas Mumu e Neugebauer. Assim, a tradicional fábrica de refrigerantes do Sul do Brasil se converteu, desde 2010, numa indústria alimentícia mais ampla, incluindo em seu portfólio de produtos chocolates, bombons, balas, pirulitos e doce de leite. pós-consumo. A empresa já havia se aproximado de alguns galpões de triagem de lixo para ajudá-los a melhorar suas condições de trabalho. A Vonpar iniciou esse trabalho em 1996, quando participou da formação da Cooperativa Ecos do Verde, na cidade de Santo Ângelo/RS. Desde essa época, o tema passou a ter grande importância, por ajudar a sociedade a dar destinação correta a embalagens Nessa trajetória empreendedora, o grupo se en- descartadas após o consumo de produtos, em geral. volveu em projetos sociais, culturais e comunitáMuito embora o apoio a projetos não se resurios de todos os tipos. Isso fez com que o patamar misse a essa dimensão da reciclagem, tendo sido de participação nessas ações se ampliasse bastante ampliado também a outros temas sociais, ambienao longo da década passada. Uma das mais impor- tais e culturais, o fato é que a agenda da reciclatantes frentes em que a empresa se lançou foi a de gem foi ganhando dimensão de responsabilidade. apoiar sistemas de coleta e reciclagem de resíduos Soma-se também a esse fato a aprovação da Lei descartáveis. Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305, de O investimento social da Vonpar ganhou força no ano de 2007, com a constituição do Instituto Vonpar, que visa aperfeiçoar e melhor desenvolver seu investimento comunitário, sobretudo aquele destinado a unidades de triagem de resíduos do 02 de agosto de 2010. Com a importante legislação entrando em vigor – na realidade uma conquista da sociedade e do patrimônio natural –, nasceu o conceito de responsabilidade compartilhada, a qual a Vonpar vinha, antecipadamente, praticando. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 15 O Instituto Vonpar foi instituído para desenvolver métodos e conhecimentos no fomento a sistemas de reciclagem, tendo as seguintes convicções: i. a triagem de resíduos deve decorrer da coleta pública seletiva, feita em larga escala; ii. os descartes do pós-consumo precisam ser entregues pela municipalidade, a domicílio e gratuitamente para as unidades populares associativas ou cooperativadas de separação; iii. a triagem deve ser operada por equipes, que trabalham em mesas de quatro a seis pessoas, separando os materiais por tipo (especialidade na triagem); iv. as unidades de triagem recebem os materiais em escala e separam manualmente; quando isso estiver funcionando em linha de trabalho, pode-se investir em processos mecanizados, como esteiras e sistemas de beneficiamento, elevando os volumes de materiais triados e a qualidade no trabalho; v. sempre que possível, as unidades de triagem devem ser estimuladas a formar fóruns municipais ou regionais de catadores, com vistas a constituírem redes de produção, beneficiamento e comercialização de materiais recicláveis. Ao realizar essa ação de fomento econômico, de forma simples e objetiva, converte-se o “lixo” em matéria-prima reindustrializável e se oportuniza aos trabalhadores, aglomerados em galpões de trabalho artesanal, a transição para um empreendimento econômico autônomo, operando com escalas e resultados desejáveis. Isso significa abandonar as formas artesanais e empobrecedoras de sobrevivência. Pretendendo fazer uma diferença nesse ambiente de trabalho antigo e marginalizado, a Vonpar estabeleceu como método a construção de um ambiente participativo e, sobretudo, colaborativo, identificando os caminhos para transformar essa realidade conjuntamente com os ativos locais. Pela participação especializada e regular, compartilhando conhecimento, desenvolveu uma metodologia que ajuda a sociedade a construir soluções para esse tema, que todos consideram um dos principais problemas da atualidade. A partir de um longo planejamento e da formação de uma linha de trabalho deu-se origem a uma pequena agência regional de cooperação técnica e financeira, com especialidade e boa capacidade para intervir sobre essa realidade em sua zona de abrangência comercial. Por consequência, o Instituto formou-se operando nos moldes das agências de cooperação internacional, dedicado ao fomento do desenvolvimento econômico e social de unidades populares de triagem de resíduos, com redução do impacto ambiental por redestinação produtiva de materiais originalmente candidatos aos aterros sanitários urbanos. 16 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Sob essa orientação, o Instituto Vonpar operou seis rodadas anuais de cooperação técnica, com financiamento não reembolsável, a galpões de triagem de resíduos das periferias urbanas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. QUADRO-RESUMO DOS INVESTIMENTOS DO INSTITUTO VONPAR EM SISTEMAS POPULARES DE RECICLAGEM 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total 734.000, 817.000, 861.000, 264.700, 260.771, 356.030, 3.293.500, Unidade de Triagem 17 42 62 22 25 17 185 Trabalhadores 582 846 1.538 385 374 274 3.999 Cidades 15 31 41 18 25 13 143 Média por Galpão 43 mil 19.452, 13.894, 12.031, 10.430, 14.519, Per capita R$ 1.261, 965, 559, 687, 697, 901, Investimento R$ 18.887, 845 Para dar maior efetividade aos recursos financeiros aplicados na Unidade de Triagem e elevar o impacto do apoio na vida dos catadores beneficiados, o Instituto desenvolveu um conjunto de procedimentos e regras que foram dando origem a um método de fomento, seguindo os seguintes passos: 1. Fixação de um orçamento anual a ser disponibilizado para unidades de triagem nos dois estados, por meio de um edital, apresentando a oportunidade de acesso a financiamento não reembolsável e regras claras e simples de como se candidatar. 2. Construção de um roteiro de projeto simplificado; na realidade, um formulário para preenchimento que identifica a associação, as necessidades da unidade e o pedido que apresentavam, com orçamento previsto. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 17 3. Total disponibilidade do Instituto para orientar qualquer pessoa ou instituição na compreensão das poucas regras fixadas e para preencher o roteiro de projeto, dando apoio por meio de contato telefônico, e-mail ou mesmo em visita presencial a unidade em dúvida. 4. Contato direto com a Unidade de Triagem candidata que atendeu aos critérios de enquadramento do edital, a saber: a. Ser uma unidade popular de triagem de resíduos; b.Ter caráter associativo ou cooperativado; c. Ter um abrigo institucional formal, com CNPJ e conta bancária, seja a própria associação, seja uma ONG parceira que abrigue o projeto; ou ainda a incubadora da universidade local; d.Estar localizada nos estados Rio Grande do Sul ou Santa Catarina. 5. Identificação e reunião de parcerias, visando incentivar diversas formas de apoio e formar redes de apoiadores. 6. Enquadramento final do projeto a partir de um diálogo e aprovação conjunta, entre financiador e financiado; isso torna o catador coautor e corresponsável pelo projeto final contratado. 7. Combinação do orçamento, usos, prazos e estabelecimento conjunto de metas a serem perseguidas ao longo do investimento. 8. Busca obstinada por: a. melhores condições de trabalho e dignificação da vida; b.aumento da produtividade; c. elevação imediata da renda mensal (partilha). 9. Contratação dos itens citados em um termo de cooperação, assinado por todos. Objetiva-se capacitar os envolvidos para as relações contratuais. 10. Depósito do recurso financeiro, por parcelas, em conta bancária exclusiva para o projeto. 11. Prestação de contas de cada parcela de investimento como instrumento disparador da parcela subsequente. 12. Acompanhamento da execução por meio documental – notas fiscais, recibos, cópia de cheques e extrato bancário – e visita in loco de técnico do Instituto Vonpar. 13. Orientação técnica durante o desenvolvimento do projeto com visitas regulares à UT e desloca18 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 mento de equipe especializada nos casos de crise. 14. Monitoramento do diálogo da UT com a política pública municipal de saneamento e com as autoridades locais. 15. Formação sobre reciclagem, produção, gestão e resultados. 16. Trabalho com aproximação, conhecimento recíproco, confiança, foco no resultado e impacto na política pública da localidade. 17. Registro sistemático e documentado de todas as etapas; celebrar junto os resultados e divulgar amplamente o que foi realizado. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 19 20 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Esses procedimentos, reunidos em um sistema lógico e aplicados de forma criteriosa, como uma ferramenta pedagógica, foram modificando catadores e associações em diversos aspectos. Em muitos casos, representaram a primeira experiência de método na vida e no trabalho. Ter a vivência de que vale a pena mover-se segundo objetivos e cumprir combinações traz resultados concretos. O empenho na produção, seguindo orientação técnica, eleva volumes de triagem, o que traz ganho financeiro imediato. A cooperação técnica, valendo-se do argumento financeiro, introduziu elementos de método, processo, foco, especialização e linha de trabalho onde tradicionalmente prevaleciam a fragmentação, a dispersão, o caos e os resultados pobres. Ainda que haja muito por fazer em todas as unidades apoiadas pelo Instituto Vonpar, em seis rodadas foi possível elevar o empreendedorismo dos trabalhadores. Em todos os estabelecimentos financiados – unidades populares marginalmente estabelecidas nas cidades – foi possível estabelecer ou aperfeiçoar as relações de diálogo com a comunidade para além da vila ou do bairro onde se situam. Foi possível reapresentá-los fortalecidos perante parceiros privados, entidades do terceiro setor, órgãos públicos e autoridades municipais. Além disso, foi feito contato com muitos centros universitários e incubadoras tecnológicas. volvimento. Em seis anos, e quase 200 Unidades financiadas, houve um único caso de rejeição. A experiência demonstrou ainda que o dinheiro ofertado era um elemento convocante entre as partes e, frequentemente, deixou de ser o insumo catalizador para se converter em um dos ativos desejados, semelhante à cooperação técnica, à rede de parcerias e à chancela que a aproximação da Vonpar passou a representar. Tradicionalmente, os catadores são vistos como população periférica e sua atividade é indesejada na cidade, porém foi frequente a aproximação da municipalidade após a aprovação do projeto no Instituto Vonpar. Cabe ainda destacar que a iniciativa repercutiu e impactou a política pública do setor. Em Santa Catarina, o fomento a galpões populares de triagem tornou-se uma política pública estadual, com elevados investimentos. A ação é liderada por profissionais que integraram o sistema Vonpar de cooperação. No Rio Grande do Sul, o Instituto integrou a Rede de Parceria Social do Governo Estadual e liderou a carteira Vonpar de investimento em sistemas de triagem no estado. O trabalho ainda preparou as associações ou cooperativas de reciclagem, seus líderes e assessores, para participar de outros processos de financiamento, seletivos ou não, governamentais ou A aproximação da Vonpar sempre foi acolhi- privados, ampliando a captação de recursos para o da e repercutida pelas UTs e pelos parceiros que sistema popular de triagem. No entanto, tudo indica que não apenas catadose aglutinaram no entorno da proposta de desenRELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 21 res e associações tiveram mudanças decorrentes dessa cooperação. Além das inovações nas políticas governamentais, conforme referido, mudaram os parceiros privados envolvidos com a carteira. Ao aproximar os líderes das unidades de triagem e suas entidades de apoio da organização – empresa e empresário, se estabelece um diálogo inusitado de cooperação e camaradagem. No lugar de trabalhadores informais malsucedidos e operando em sistema marginal, eles passam a ser vistos por muitos como líderes populares obstinados; empreendedores que, mesmo perante as piores condições de trabalho e sobrevivência, mesmo em meio ao lixo, lançam mão de estratégia social de sobrevivência para muitos, com resultados, ainda que notoriamente insuficientes. Em alguns casos, os empreendedores populares geraram soluções, colhendo bons resultados. A visão da cultura em- 22 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 presarial tende hoje a identificar o empreendedorismo alternativo e resiliência desses agrupamentos populares em vez dos desgastados e conhecidos preconceitos. Nas organizações que se aproximaram da carteira Vonpar de investimentos, formou-se uma aliança tácita em torno da causa, que já produz impactos muito além dos elementos originais pretendidos, além de haver consenso sobre a metodologia aqui recomendada. Os resultados colhidos na experiência do Sul do país estão sendo repercutidos pela política institucional e comunitária do sistema Coca-Cola. Adaptando essa metodologia aos objetivos da empresa, em 2014, o Instituto Coca-Cola torna nacional a estratégia de fomento ao desenvolvimento econômico e social de unidades populares de reciclagem em todo o território brasileiro. QUADRO-RESUMO DOS INVESTIMENTOS EM 2014 S a nta Cata rina Araranguá Chapecó Imbituba Joinville Navegantes Navegantes COOPERAR AMARLUZ COOPERZIMBA ASSECREJO / UNIPOL RECINAVE – UNIDADE DE TRANSBORDO RECINAVE Total SC R$ 15.000,00 R$ 14.950,00 R$ 15.000,00 R$ 14.000,00 R$ 15.000,00 R$ 15.000,00 R$ 73.950,00 Total RS R$ 16.500,00 R$ 14.980,00 R$ 15.000,00 R$ 20.000,00 R$ 15.000,00 R$ 12.050,00 R$ 15.000,00 R$ 6.319,00 R$ 14.994,00 R$ 11.693,00 R$ 6.340,00 R$ 25.000,00 R$ 172.876,00 Valor Total R$ 246.826,00 R i o Gra nde do Sul Esteio Morro Reuter Nova Hartz Novo Hamburgo Piratini Porto Alegre Porto Alegre Porto Alegre São Leopoldo São Leopoldo São Leopoldo Taquari COOTRE-ARCA COOPERAGEM COOPERLAR COOLABORE – UNIDADE VILA ODETE COOPIRATINI – ASSOCIAÇÃO DE MULHERES COOPERTINGA SANTA TEREZINHA / AVESOL CTVP COOPERATIVA SANTO ANTÔNIO UNICICLAR MÃOS DADAS PARÓQUIA SÃO JOSÉ RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 23 24 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 24 2013 Cooperação Técnica e Financeira para Unidades Populares de Triagem de Resíduos Aprendizados e Precauções RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 25 26 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 O Instituto Vonpar completa neste Relatório Anual seis rodadas de investimento em galpões de triagem de resíduos nas periferias urbanas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, consolidando um conjunto de conhecimentos e práticas sobre o modo de cooperar com as Unidades de Triagem. Desde as primeiras rodadas de cooperação técnica e financeira, iniciadas em 2008, surpreendeu a complexidade dos temas relacionados ao universo do “lixo” e dos catadores. Havia muitos desafios a enfrentar e muito que aprender, além da ausência de soluções viáveis e da presença de “soluções” presumidas. O ambiente da reciclagem popular estava caracterizado, salvo poucas exceções, pela ausência de método, processo, gestão e sistemática de apoio. Além disso, era paupérrimo em tecnologia. Em sentido contrário, o que caracterizava esses ambientes periféricos e oficiosos era a bricolagem das diferentes formas de trabalhar, reunindo fragmentos utilitaristas de modo um tanto anárquico no fazer e, disso tudo, tentar obter alguma renda. Os catadores sempre foram pessoas pobres dedicadas à catação diária, separação e comercialização de resíduos. Como ocorre ainda hoje, milhares de toneladas de materiais recicláveis, com baixa atratividade comercial, eram dispensados nos logradouros públicos ou em aterros sanitários. Muito embora o tema continue sendo um complexo desafio para as sociedades atuais – não há soluções com segurança nem exemplos consolidados que possam ser replicados – a verdade é que se aprendeu muito nesses anos de acompanhamento a galpões de triagem. Se ainda não foi possível escrever a receita da triagem, do tipo manual de procedimentos, já é possível apontar quais os erros que não podem ser reproduzidos. Portanto, propõe-se aqui um conjunto de Precauções Metodológicas – elenco de convicções acerca dos procedimentos que permitem melhorar as práticas de gestão e inclusão econômica – capazes de gerar ganhos de produtividade e de qualidade no interior das unidades de triagem. Essas precauções decorrem da prática sistemática, avaliada por um grande número de pessoas e organizações que o Instituto Vonpar foi congregando nessa caminhada. É Seguro afirmar que sempre será possível acrescentar novas considerações e artigos, quanto mais rico for o debate sobre a matéria e mais consistente e continuado for o apoio a UTs e aos catadores. Este é uma reflexão; um texto de partida, e não de chegada. Deve ser instrumentalmente útil para aqueles que trabalham com Reciclagem. Uma vez que o ambiente da coleta e triagem de materiais é efetivamente popular, periférico e alternativo na sociedade formal, esse ambiente não pode mais ser vítima dos descaminhos da política pública nem da filantropia privada. A fragilidade em que se encontra a maior parte das cooperativas e associações de triagem no Brasil está exigindo medidas de fomento efetivas e políticas RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 27 28 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 protetivas, sem que sejam novamente usadas como cobaia de experimentos e ideias que parecem boas quando apresentadas numa reunião, pois isso na vida dos catadores pode representar mais uma etapa penosa a ser tolerada, reiterando a desesperança que compõe sua rotina. Lição I – Fim do Conceito Lixo Ao longo do desenvolvimento dos diferentes modos de produção, todas as formas de descartes de resíduos foram sendo construídas socialmente como lixo. Ou seja, lixo é uma categoria histórica e significa resíduo descartado após o consumo, considerado matéria sem valor e inútil para uso humano. No entanto, na sociedade industrial, à medida que ela avançou tecnologicamente, os resíduos são cada vez mais considerados materiais com valor comercial e passíveis de reutilização. Atualmente, não há descarte no pós-consumo que seja totalmente inútil. Tanto os materiais orgânicos são ricos em potencialidades de reaplicação quanto os materiais secos ou descartáveis, que contêm matérias-primas úteis para a reaplicação industrial. Hoje, há tecnologia e meios para reciclar todos os tipos de materiais. Mesmo os rejeitos da triagem (desprezados na recuperação dos materiais), que formam percentual relevante no volume total do “lixo” doméstico, podem ser aplicados como fonte geradora de materiais novos ou gerar energia. Por essa razão, os resíduos do processo industrial e do consumo têm valor comercial, encaminhando-nos para a futura extinção do conceito de lixo como o conhecemos. Quase já não há mais descartes inúteis, que devam ser depositados em aterros sanitários. Isso nem é mais desejável, uma vez que deixa para as gerações futuras um passivo ambiental relevante e potencialmente de risco. Logo, temos que transformar a cultura do “lixo” em oportunidade para a geração de novos materiais e novas aplicações. Lição II – Diferenciar Reciclagem e Reaproveitamento Durante a realização de seminários de estudos com presença de especialistas em plásticos do antigo CEFET de Sapucaia do Sul (hoje IFSul), consolidou-se a orientação de que só há reciclagem quando o material pós-consumo é destruído na sua forma original e volta a ser matéria-prima para a reaplicação industrial. Por isso, o reaproveitamento que é próprio das oficinas artesanais não configura reciclagem e, na maior parte dos casos, deve ser evitado. O artesanato requer retrabalho sobre os materiais pós-consumo, como pintura, costura, cola e aplicação de outras matérias, elementos que para a reciclagem são considerados contaminadores, retirando o valor comercial. Além disso, todo o material do artesanato RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 29 um dia voltará para o “lixo” e, necessariamente, deverá ser encaminhado ao aterro sanitário porque foi inutilizado para o processo industrial. Logo, projetos artesanais com materiais descartados são úteis e importantes como forma alternativa de trabalho terapêutico, ocupacional ou lúdico. Porém, são preponderantemente de baixo retorno econômico e comercialmente inviáveis. Lição III – Fortalecer a Unidade Produtiva O sistema de triagem não tem viabilidade econômico-financeira se estiver baseado na figura do catador nas ruas, andando com carrinhos de tração humana ou carroças de tração animal, que coletam o resíduo comercial ou doméstico e entrega a um galpão ou atravessador para a triagem e comercialização. Isso acrescenta mais um intermediário numa cadeia de baixíssimo retorno. Historicamente, esse caminho representa pequenos volumes e baixo retorno, que tem funcionado como uma estratégia pobre de sobrevivência, feita por pessoas pobres, com métodos e resultados pobres, mantendo todos eternamente pobres. Fica evidenciado que a dedicação exclusiva à triagem, feita em equipes com funções individuais especializadas, proporciona maior retorno aos recicladores no interior dos galpões, pois elimina um item na cadeia, faz aumentar os volumes triados e melhora as condições de comercialização. Seja pela comprovação empírica nas unidades financiadas, seja no diálogo com trabalhadores e especialistas no tema, desde o princípio o Instituto Vonpar investe na ideia de abandonar as ruas e a catação individual e fragmentária. Em sentido contrário, a reunião dos antigos catadores de rua em centros de triagem, sob o controle dos associados ali agrupados, que recebam materiais da coleta seletiva pública gratuitamente no galpão (a domicílio) e cujo método de produção esteja baseado no trinômio mesa de triagem / equipe especializada / escala de volumes, gera impacto imediato na remuneração média mensal. • Mesa: a primeira etapa do trabalho de triagem deve abandonar o trabalho sobre lixões ou amontoados acumulados no interior do galpão. Ao contrário, é necessário dispor os materiais oriundos da coleta seletiva pública em cestos que drenam os materiais por gravidade sobre mesas padronizadas. Nelas trabalham duas ou três duplas dispostas de cada lado da mesa, fazendo com que os materiais se movam em sentido longitudinal, tendo um tonel ao final da mesa para recolher o rejeito da triagem. • Prensa: materiais corretamente separados e prensados agregam valor comercial, impactando a 30 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 renda. Além disso, aperfeiçoam a organização produtiva, reduzindo espaços necessários na UT e em todo o transporte a seguir. • Equipe: o trabalho deve ser realizado com especialização das tarefas. Cada pessoa retira da coleta sobre a mesa um ou dois tipos de materiais focadamente, elevando a qualidade e o volume do que foi triado. • Escala: cada galpão deve ter entre quatro e oito mesas, de 20 a 40 trabalhadores, nas grandes cidades, para gerar volumes com escala de material que justifique o deslocamento dos transportes da coleta pública e dos compradores de materiais até o galpão e o retorno econômico mínimo aos associados que permita, pelo menos, salário mínimo mensal e recolhimento de INSS. Lição IV – Desenvolvimento e Aprendizagem por Etapas Sempre que possível, iniciar o processo de formação empreendedora e busca de resultados sustentáveis por associações pequenas e médias (entre 20 e 40 trabalhadores). É preciso aprender a operar conjuntamente nas equipes de trabalho e associativismo nas decisões e na partilha dos resultados. Evita-se RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 31 implantar sistema de esteira elétrica e demais tecnologias acessíveis, como o beneficiamento de materiais, antes de colher bons resultados nessa primeira etapa. Ao iniciar com tecnologias de ponta e em agrupamentos maiores, todas as experiências até aqui conhecidas redundaram em fracasso. Apesar do desejo de fazer o que é certo e buscar sempre o desejável, há que reconhecer a humana condição de conhecimento crescente, ideia de processo e etapas evolutivas. Isso não é diferente em se tratando de pessoas excluídas. Lição V – Fim da Operação nas Ruas No passado, o menino pobre e de rua recebia da sociedade esmola e dos governos e instituições sociais caixa para engraxar sapatos, vender pipoca ou picolé. Entendia-se que era filho de uma família muito pobre e deveria ser ajudado a fim de elevar sua renda familiar. O resultado desse olhar foi o trabalho infantil, a exclusão da escola, o afastamento do convívio familiar e comunitário e a manutenção das crianças nas ruas, ali se “desenvolvendo”. Algo semelhante faz-se ainda hoje com os catadores. A sociedade gerou o catador de rua. Há muitos projetos e muitas políticas públicas reformando os meios e instrumentos de mantê-los na rua, no trabalho penoso, indigno, desprotegido, fragmentado, ao relento, ao desabrigo da lei e sem previdência. Aprendeu-se rapidamente que o incontornável erro do passado, que produziu uma geração de brasileiros adultos iníquos, será repetido ao dar acesso a um carrinho de catação novo, com identificação e placa, mantendo-os na tração humana. Ou mesmo um carrinho elétrico, perpetuando-os nas ruas e em circunstância de baixa escala na catação manipulada, sem empreendedorismo nem especialização, sem acesso a tecnologias de triagem e agregação de valor aos materiais, impedindo-os de serem donos do seu próprio negócio, com autonomia. Não se deve reformar as pobres condições de trabalho dos pobres, mantendo-os na pobreza. Lição VI – Coleta Seletiva, em Escala e Entregue a Domicílio A coleta pública, domiciliar e comercial, é uma atribuição da municipalidade. Ela arrecada impostos para realizar profissional e sistematicamente essa tarefa e deve fazê-la, por lei, de forma seletiva e universal. Reunir os descartes que o consumo dispersou é a tarefa mais complexa e o instante mais caro da reciclagem. Deve ser realizado diariamente e em larga escala, por empresas públicas ou privadas que reúnam 32 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 33 34 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 especialidade para esse fim e recebam remuneração pública para fazê-lo. Existem experiências em que a Unidade de Triagem popular é a organização contratada para prestar esse serviço. Em contraposição, há muitos casos em que governantes bem-intencionados experimentaram colocar essa tarefa de coleta domiciliar na mão dos catadores da cidade, tornando-os, da noite para o dia, operadores de complexos sistemas de logística circulando em todo o território urbano e movimentando volumes e custos superlativos. Findaram gerando uma crise para todos. Os catadores tiveram que administrar custos fixos, operações e processos para os quais nunca foram preparados. A municipalidade sofreu com o estrangulamento do sistema urbano de limpeza e saneamento, que já opera normalmente nos limites de suas possibilidades. Logo, é uma demasia pedir aos catadores desempenho satisfatório como operador de sistemas rotineiros de logística, com escala, e dar destino para milhares de toneladas de lixo por dia. Nessa fase de implantação de sistemas integrados de reciclagem, aos catadores cabe, antes de tudo, a geração de suas próprias condições de sobrevivência e desenvolvimento, com autonomia. O desafio da coleta domiciliar eficiente e da destinação deve prosseguir como uma tarefa pública, estatal ou terceirizada, conectada com as unidades de triagem no que tange à coleta seletiva. Lição VII – De Catador para Empreendedor da Triagem A figura e o conceito de Catador que se popularizaram e foram incorporados pela legislação brasileira nasceram a partir das pessoas que tinham por estratégia de sobrevivência catar, nos grandes lixões urbanos a céu aberto, os materiais com algum valor comercial que eram despejados pelos caminhões da prefeitura. Essa imagem se ampliou com o catador das ruas, aquele que vai na “fonte” – residências, condomínios ou empresas – catar os materiais atraentes para venda, abreviando o trajeto que fariam por meio da coleta pública. Atualmente, passa-se a diferenciar a velha figura do catador das ruas, também confundido como mendigo, para investir na nova imagem de um trabalhador protegido e especializado, dono do seu próprio negócio – a reciclagem, de forma associativa. Esses catadores, a partir da triagem, tornam-se empreendedores e recebem a coleta seletiva em grandes volumes de materiais descartados, fazendo a triagem submetida a uma linha de produção e com aplicação crescente de tecnologia. O avanço ambicioso que se busca no presente é alcançar a separação com consequente beneficiamento, introduzindo lavagem e picotagem dos materiais, enfardamento e comercialização final, diretamente com a indústria. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 35 Lição VIII – Uma População Especialmente Excluída Em grande parte, as unidades de triagem reúnem uma população com perfil especialmente desafiador. Muitos dessa população, com baixa escolaridade, não deram certo em outras atividades e tornaram-se catadores em decorrência da não inserção no mundo do trabalho. Geralmente, inadaptados a condições regulares do trabalho formal ou com histórias de desordens pessoal, familiar e social. Nesse ambiente, há maior incidência de riscos e conflitos, pelo menos mais do que na média da população, além da maior recorrência de transtornos e sofrimento psíquico e problemas com álcool e outras drogas. As lideranças das unidades de triagem precisam ter especial talento para manter o grupo unido e focado em resultado – certamente mais do que na empresa privada regular. Além dessas características que elevam os indicadores de não adesão e absenteísmo, a elevada rotatividade da mão de obra no setor eleva as dificuldades de aprendizado, acumulação e conquistas de longo prazo. Mudanças e usufruto são conquistas que se obtêm no tempo. O fomento ao desenvolvimento econômico e a inclusão social são altamente civilizatórios nas populações vulneráveis e excluídas da cidade. A reunião e o fortalecimento da atividade dos recicladores em Unidades de Triagem são, antes de tudo, um meio para vincular trabalhadoras e trabalhadores na busca conjunta por mudanças em suas vidas. 36 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Lição IX – A Centralidade da Liderança Existe quase que uma ligação direta entre o perfil da liderança e os resultados de uma unidade de triagem popular. Sempre que um agrupamento tem um líder saudável, empreendedor e agregador, o grupo cresce com ele e obtém maior produtividade, maior renda e percorre um caminho mais longo de conquistas, desafios e sucesso. O oposto disso só faz confirmar essa regra. Lição X – A Conquista pelo Resultado Catadores são trabalhadores que fazem da venda de materiais coletados sua estratégia de sobrevivência, uma vez que, na maior parte dos casos, outras formas não se revelaram atraentes ou viáveis. Esse trabalho tem baixa sistematicidade e baixa expectativa de resultados. Tanto catadores de rua como uma parcela dos associados em cooperativas de triagem não têm motivação para fazer sua tarefa de forma diferente do que fazem. Eles tendem a buscar resultados para o dia, pois não carregam consigo a experiência da acumulação. O futuro é uma categoria abstrata. O trabalho de fomento a essa economia informal deve demonstrar, pelo exemplo e pelo resultado no curto prazo, que dedicação e produtividade impactam imediatamente em benefícios, gerando uma inovação na experiência cotidiana desses trabalhadores. Além de perceberem, no bolso, a melhora de renda já no primeiro mês dos investimentos, todos os recicladores reunidos em unidades de triagem devem visitar outras unidades iguais, porém com resultados melhores que os seus. A visita a UTs melhor sucedidas gera um impacto inovador no olhar dos catadores a partir daquela experiência. O apoio financeiro e técnico, investindo na melhoria das condições de trabalho e em novos comportamentos na produção, geram resultados reconhecidos por todos, instaurando a reversão num ciclo que era depressivo. Antes, poucos materiais vendidos a atravessadores, baixa adesão à produtividade e resultados econômicos desestimulantes retroalimentavam a desmotivação, o absenteísmo, a desorganização interna e os resultados pobres. Lição XI – Transitar da Manufatura para a Tecnologia Muito embora projetos complexos e com prazos longos sejam insustentáveis no campo popular, o fato é que, reordenado o galpão em UT, estabilizadas e motivadas as equipes, alcançada renda mínima digna e previdência, torna-se possível iniciar o investimento em tecnologia. A triagem manual, feita por equipes e em mesas, é uma etapa necessária para a formação e organização de uma Unidade de Triagem, mas não é suficiente. A triagem manual e popular não dá conta dos volumes de materiais diariamente descartados RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 37 pela sociedade. Mesmo nas localidades com UTs exemplares, um percentual relevante do resíduo é destinado aos aterros sanitários. Logo, ir introduzindo esteiras elétricas, sistemas tecnológicos para separação de materiais e captura diferenciada em meio ao resíduo, assim como sistemas de beneficiamento com lavagem, secagem e picotagem são desejáveis e devem ser o futuro tão imediato quanto possível. Claro que essa é uma história que não deve começar pelo fim. Isso já foi tentado. Lição XII – Diversidade de Soluções e Acomodações não Legitimam Qualquer Experiência Nas cidades brasileiras foram sendo produzidas e acomodadas soluções que melhoraram as condições de saneamento urbano e dignificação dos resultados para os trabalhadores envolvidos. Disso não se conclui que muitas das soluções acomodadas sejam aconselháveis. Há municípios em que o resultado econômico da triagem é bem elevado, mesmo não havendo coleta seletiva. Em outros, a distribuição de carrinhos elétricos representou um salto na higienização urbana. Numa outra experiência, a cooperativa realiza a coleta urbana, triagem e comercialização da cidade e, por isso, recebe benefícios abundantes como creche, alimentação, cesta básica, subsídio financeiro etc., configurando trabalho condicionado, uma vez que substituem a coleta pública contratada, dispensando o poder público desse encargo. Ainda assim, diferentes experiências com visíveis melhorias na cidade em relação à etapa anterior podem não legitimar as “soluções” arranjadas e que se tornam questionáveis. Ou seja, ainda que não haja soluções garantidas, nem um modelo testado e replicável, há aprendizados que não podem ser negligenciados e há erros e acomodações que não são sustentáveis nem desejáveis. Como na estratégia que o Brasil aplicou para a proteção da infância e juventude em risco desde os anos 1990, aqui também não há que buscar-se qualquer resultado. É necessário perseguir os resultados sustentáveis, legais e que promovam a condição humana do trabalhador. Dito de outra forma: não há um só caminho; porém, os descaminhos são conhecidos. Lição XIII – A Singularidade de Cada Unidade de Triagem Apesar das muitas semelhanças e de algumas recorrências, sabe-se que cada grupo tem suas peculiaridades, sua cultura própria, seus meios e suas formas de fazer, solucionar e decidir. A singularidade de cada unidade de triagem chega a um ponto em que o mesmo investimento, nos mesmos moldes e rubricas, feito em duas UTs com condições semelhantes na mesma cidade, irá gerar resultados bastante 38 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 distintos. Logo, o trabalho tem que ser personalizado em todos os sentidos: valor financiado e insumos adquiridos, cronograma de implantação, assessoria técnica e capacitação específicos geram impactos que quase nunca se repetem. Lição XIV – Solução Total As alternativas propostas para o tema da reciclagem geram soluções parciais, com mais ou menos custos. No entanto, não solucionam tudo. Em qualquer alternativa atende-se uma parte do problema, o que permite afirmar que não existe uma solução total. Deve-se tolerar que mesmo as boas medidas exigem uma complementação; e em todas, gera-se algum novo resíduo. Quanto mais competente for a solução tecnológica buscada, mais cara é sua viabilização. As unidades populares de triagem, que operam com materiais entregues pela coleta seletiva, ainda são a forma mais barata e viável de recuperar resíduos descartados, além de proporcionarem a inclusão social do segmento. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 39 40 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Relatório dos Investimentos 2013 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 41 pro j etos Nova Hartz Investimento: C ooperlar – Cooper at i va d e Tr abal ho e Habi t ação Nosso L a r R$ 15.000,00 Atividades: aquisição de equipamentos e retomada dos trabalhos do galpão que estava desativado: bombonas, bags, computador, uniforme e carrinhos de carga. O grupo ainda resgatou uma prensa de materiais financiada pela Vonpar em anos anteriores. Resultados: • Reinício das atividades e geração de trabalho e renda para 18 associados. • No primeiro mês, comercializou 31 toneladas, gerando renda média de R$ 1.546,00. • Na sequência, houve aumento da produtividade de 1,9 mil kg para 2,1 Kg per capita. • Incremento da renda média para R$ 1.712,00 e comercialização de 38,5 toneladas. • A implantação do sistema de informática permitiu a emissão de notas fiscais, controles de produção, gestão do negócio e pesquisa de editais públicos para novos financiamentos. • A aquisição dos uniformes promoveu qualidade no trabalho e autoestima aos associados. 42 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O galpão estava parado e a gente não sabia o que fazer. Precisava tudo! O Projeto foi um achado, um ganho. Garantiu a estrutura mínima e necessária para a retomada do trabalho. Estamos vendo grandes desafios e temos esperança de crescimento!” Regina de Fátima Moura de Oliveira Coordenadora da CooperlaR RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 43 pro j etos Piratini Investimento: C oopiratini – Co o p e ra t iva d e Trab a lh o e Re n d a Re c iclag e m So lid ária R$ 15.000,00 Atividades: aquisição de um contêiner que serve de unidade de higiene, contendo chuveiros, pias, armários individuais, vasos sanitários, com adaptação para cadeirantes. A Cooperativa conta com uma rede ampla de parceiros locais que viabilizam as operações de triagem. Resultados: • Saneamento e higiene aos associados e visitantes. • Salubridade no ambiente de trabalho e restauração da dignidade das trabalhadoras. • Estímulo à produção, retenção de quadros e ampliação de associados, proporcionando trabalho e renda. 44 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O Instituto Vonpar foi fundamental para que nós, cooperados, tivéssemos o mínimo de dignidade na área de higiene, possibilitando a compra de um contêiner no qual foi feita a instalação de banheiros e chuveiros.” Simone Valadão da Silva Presidente da Coopiratini RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 45 pro j etos Esteio Investimento: C ootre – Cooperativa de Trabalhadores e Recicladores de Esteio R$ 16.500,00 Atividades: contratação de educador social para assessorar a Cooperativa na organização de documentos e dos espaços de trabalho, cotação e controle de vendas, confecção dos relatórios financeiros, constituição de fundo de reserva e provimento de receitas, plano de ação e definição de metas com o grupo; trabalho em equipe e transparência na prestação de contas. Resultados: • Incremento da renda per capita/mês de R$ 1.100,00 para R$ 1.380,00. • Aumento de postos de trabalho de 20 para 26 associados. • Aumento da produtividade de 1,8 mil para 2,0 mil Kg por trabalhador. • Aumento do material comercializado de 36 para 52 T/mês. • Aumento do material coletado de 30 para 84 T/mês. 46 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “Significa muito! Com o recurso Vonpar mantemos um assessor que nos ajuda na organização. Transformamos a associação em Cooperativa. Ele nos ajudou para isto e hoje o grupo pensa o galpão como um negócio. Evoluíram e pensam como empreendedores. O assessor nos passa confiança e segurança. Os gestores públicos têm muito respeito por ele e por nós e sabem que o negócio vai dar certo e vale a pena investir. Com o assessor, conseguimos até acessar mais recursos. É tudo de bom!.” Rita Cássia de Souza Presidente da Cootre RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 47 pro j etos São Leopoldo Investimento: A ssoci ação de Cat ador es e R eci cl ador es M ãos Dadas R$ 6.340,00 Atividades: aquisição de balança digital, bombonas, material elétrico e realização de capacitação em gestão de UT e produtividade. A contrapartida da Associação foi mão de obra para as novas instalações elétricas da Unidade. Resultados: • Com a capacitação, os associados compreenderam a classificação e composição dos materiais recicláveis. • A balança possibilitou controle na pesagem para a comercialização. • Melhoria substancial na operação com o uso de bombonas para triagem. • A instalação elétrica viabilizou a prensagem dos materiais e a iluminação. • Houve elevação dos preços na venda dos materiais. • A produtividade cresceu de 912 Kg para 1.475 Kg /trabalhador. • Incremento de 135% na renda média mensal dos associados. 48 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O Projeto significou tudo, tudo! No primeiro mês, já vimos a diferença vendendo nosso material enfardado. Antes, os compradores pesavam lá nas empresas e botavam o peso que eles queriam. Agora, a gente sabe o que tá mandando para a rua. A gente percebeu o ganho no bolso!” Gilmar Schlusen Presidente da Mãos Dadas RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 49 pro j etos São Leopoldo Investimento: C ooper at i va de Reci cl ador es d o L ot eam ent o Sant o Ant ôni o R$ 14.994,00 Atividades: aquisição de madeiramento e telhas para a construção do novo galpão com 600 m²; a Prefeitura Municipal destinou área de 3.500 m² e realizou terraplenagem. Na construção, a mão de obra foi da Cooperativa. Resultados: • Construção da primeira etapa do novo galpão. • Mobilização local e poder público em torno dessa obra. • Futura melhoria da segurança e das condições de trabalho. • Potencial duplicação do quadro de associados, gerando mais postos de trabalho. 50 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “Já coloquei nas reuniões com a Prefeitura: a Vonpar está ajudando e vocês também devem dar uma forcinha. Valeu! Este apoio foi o empurrão que precisávamos para construir nosso novo galpão!” Antônio Carlos da Silva Presidente da Cooper Santo Antônio RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 51 pro j etos São Leopoldo U NI CI CLAR – Cooperativa de Catadores e Recicladores do Município de São Leopoldo Investimento:R$ 11.693,00 Atividades: aquisição de elevador de fardos, construção de muro para cercamento da área da Cooperativa e portão de ferro. Resultados: • Eliminação do esforço físico na movimentação dos fardos. • Facilidades e maior capacidade de armazenamento dos materiais. • Melhor aproveitamento do trabalhador na atividade de triagem, elevando a produtividade e a renda. • Aumento no quadro de 13 para 17 associados. • Aumento da produtividade de 20 para 28 t/mês. • Redução dos frequentes furtos de materiais. • Melhoria no layout da produção e segurança da Cooperativa. 52 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “Para nós, o projeto e o recurso chegaram em boa hora. Tínhamos muitas perdas de material por furtos durante a noite; além dos finais de semana, animais e crianças espalharem material e resíduos orgânicos no pátio. O investimento está ajudando a aumentar a renda dos cooperados e a segurança!” Pedro Cézar Dutra dos Santos Presidente da Uniciclar RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 53 pro j etos Morro Reuter Investimento: Cooperagem – Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente R$ 14.980,00 Atividades: aquisição e instalação de esteira de triagem e contratação pública, com a municipalidade, para a realização da coleta seletiva urbana. Resultados • Incremento da produtividade de 1 t para 5,7 t /trabalhador/mês. • Redução do volume e manejo de rejeitos. • Melhoria da qualidade do material coletado e separado. • Aumento da comercialização de 8 t para 34 t de materiais/mês; ou seja, 300%. • Incremento da renda per capita de R$ 776,00 para R$ 2.356,00 (dez. 2013). • Fortalecimento da cooperativa perante o poder público e a comunidade. 54 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O projeto significou muito! Nós esperamos muito tempo por isso. Agora, com esteira, vai menos material fora; é mais rápido e a organização melhorou. Valeu! Estamos muito agradecidos!” Claudiomir Wegner Presidente da Cooperagem RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 55 pro j etos Porto Alegre Investimento: CTVP – Cent ro de Tr i ag em da Vi l a Pi nt o R$ 6.329,00 Atividades: aquisição de cinco ventiladores industriais e material elétrico para instalação na área de produção; aquisição de portão para fechamento da área do galpão. A parceria com a Prefeitura permitiu a aquisição e colocação de novo telhado e mão de obra para instalação do portão. Resultados • Qualificação das condições de trabalho no interior do galpão. • Cuidado e respeito pelos catadores, com impacto na autoestima. • Mais segurança na guarda dos materiais triados e do patrimônio da UT. • Atualização das condições físicas do galpão e mutirão bem-sucedido em torno de uma unidade modelo na cidade. 56 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O apoio da Vonpar é uma valorização forte de nosso trabalho. A gente se sente gratificada porque o trabalho é duro; o pouco que entra é partilhado e não sobra para investimentos. O investimento feito pela Vonpar é um estímulo, uma valorização do ser humano!” Marli Medeiros Presidente do CTVP RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 57 pro j etos Porto Alegre Investimento: Coopertinga – Coop. de Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos R$ 12.050,00 Atividades: aquisição de elevador de fardos. Unidade ainda em fase de auto-organização e aquisição de balança eletrônica. Resultados: • Eliminação do esforço físico na movimentação dos fardos. • Facilidades e maior capacidade de armazenamento dos materiais. • Melhor aproveitamento do trabalhador na atividade de triagem, elevando a produtividade e a renda. • Rapidez e praticidade na pesagem do material comercializado. 58 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O projeto é essencial porque nós não temos nada. É a alma do negócio. Como não temos convênio com a Prefeitura, pagamos tudo com a venda do pouco material que temos. Como iríamos ter equipamentos sem este tipo de projeto? Ajuda muito!” Gerno Dias Prado Presidente da Coopertinga RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 59 pro j etos Porto Alegre Investimento: Organi z ação de Cat ador es d a Vi l a Sant a Ter esi nha R$ 15.000,00 Atividades: aquisição da prensa do novo galpão. Tratam-se de 40 catadores fragmentados do centro de Porto Alegre em processo de formação de uma nova associação. A entidade Avesol promoveu capacitação em formação de grupo, administração e triagem de materiais. Na formação, os carrinheiros receberam bolsa remunerada da municipalidade. O poder público está comprometido no acesso do grupo a um galpão na região. Resultados: • Organização em grupo dos catadores ambulantes individuais. • Preparação para formação de mais uma unidade de triagem na cidade. • Transformação profunda na vida dos associados; das ruas para o trabalho abrigado. • Compreensão sobre união, produção e classificação dos materiais recicláveis. • Comprometimento da Prefeitura ao integrar o grupo na política pública. • Aquisição de equipamento fundamental para o início da atividade produtiva. • Consolidação de parceria entre os setores público, privado e ONG. 60 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O apoio muda muito! Eu trabalho sozinha no sol e vendo o material sem prensar. No galpão, vai melhorar bastante. Dá para aproveitar e melhorar o material e sair do sol, da chuva e do frio. Estou feliz e acreditando!” Nina Mara Soares da Rosa Líder da Organização RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 61 pro j etos Novo Hamburgo Investimento: Coolabore – Cooperativa de Construção Civil e Limpeza Urbana R$ 20.000,00 Atividades: aquisição e instalação de prensa. Resultados: • Redução do tempo no processo de produção e prensagem. • Redução na ocupação dos espaços e agilização das atividades. • Incremento da produtividade de 2,1 t para 3 T trabalhador/mês. • Aumento da comercialização de 52 t para 76 T de material/mês. • Incremento da renda per capita de R$ 850,00 para R$ 1.200,00. 62 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “Este tipo de financiamento é fundamental para a Cooperativa. Só vem a gerar mais postos de trabalho, renda e contribuir com o meio ambiente. O Meio Ambiente agradece muito!” Claudir Frederico Coordenador da Coolabore RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 63 pro j etos Taquari Investimento: Organi z ação de C at ador es de Taquar i R$ 25.000,00 Atividades: em parceria com a Diocese de Montenegro e a Paróquia Franciscana de Taquari, o projeto disponibilizou uma educadora social para assessorar os catadores ambulantes na constituição de um grupo associativo, visando formar uma cooperativa, além de ministrar cursos de capacitação. O projeto ainda contemplou material de construção civil para organizar um galpão provisório. A Prefeitura já destinou a área para a construção da unidade definitiva e realizou a terraplenagem do terreno. Em 2014, devem iniciar as obras civis. Resultados: • Reunião dos catadores dispersos e individualizados em agrupamento. • Cooperativa formalmente constituída, aguardando apenas registro na Junta Comercial. • Participação efetiva dos novos associados, com elevada expectativa. • Descoberta dos benefícios do trabalho associativo e especializado. • Comprometimento da Prefeitura integrando o grupo à política pública de coleta e reciclagem. • Formulação de um novo projeto apresentado à FUNASA, pela municipalidade. • Mobilização da Igreja para orientar a separação doméstica e o fortalecimento do sistema de reciclagem. 64 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “Vejo neste projeto a possibilidade de trabalho digno, com renda justa e satisfatória, crescimento pessoal e profissional para os cooperados!” Brenda Galvon da Silva Líder do grupo RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 65 pro j etos Joinville Investimento: RECICLA – Coop. de Reciclagem, Beneficiamento e Arborização de Joinville R$ 14.000,00 Atividades: aquisição e instalação de esteira elétrica. A Unisol assessora a cooperativa, que está focada em gestão empreendedora. A Prefeitura destinou um galpão maior para ampliar as atividades. Resultados: • Profissionalização dos catadores na triagem. • Aumento da qualidade dos materiais separados. • Aumento da produtividade de 3,5t para 5t/mês por trabalhador. • Aumento da renda per capita de R$ 1.400,00 para R$ 1.840,00. • Fortalecimento e credibilidade da Cooperativa perante o poder público e a comunidade. • Estabelecimento de meta para duplicar a produção da triagem em 1 ano. 66 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O Projeto da Vonpar significa a gente existir para alguém. Alguém está vendo e reconhecendo nosso trabalho! Até então parece que a Prefeitura está fazendo favor para nós; mas pelo contrário, os catadores que estão fazendo um favor para a cidade, dando destino ao material.” Ricardo Schelbauer Presidente da Recicla RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 67 pro j etos Chapec ó Investimento: Cooper São Francisco – Associação de Catadores de Materiais Recicláveis São Francisco R$ 14.950,00 Atividades: aquisição e instalação de esteira elétrica; aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs); realização de visitas benchmarking. A Incubadora Tecnológica da UNOCHAPECÓ realizou capacitação dos associados e, principalmente, das lideranças. A Prefeitura está destinando amplo galpão para a Associação. As atividades ainda estão em fase de implantação. Resultados: • Segurança no trabalho e maior motivação do grupo. • Melhorias na linha de produção, funcionalidade e qualidade da separação. • Fortalecimento das lideranças com conhecimento e informação sobre reciclagem. • Aumento da produtividade de 580 Kg para 1.100 Kg/trabalhador/mês. • Duplicação da renda per capita. • Meta para ampliação de vagas de trabalho. 68 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O Projeto é um primeiro passo para retomar a produção. Estamos reiniciando. Este investimento deixa a gente mais aliviado porque vai gerar mais renda para os associados. Os associados estão felizes!” Claudiomiro Cordeiro da Silva Presidente da Cooper São Francisco RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 69 pro j etos Blumenau Investimento: Recinave Tra n s b o rd o R$ 14.950,00 Atividades: aquisição de prensa e esteira de triagem. A Incubadora Tecnológica da Universidade Regional de Blumenau está assessorando a formalização do grupo na constituição de uma Cooperativa. A Prefeitura está apoiando, entregando os resíduos da coleta seletiva com a locação de um novo espaço, mais próximo da região central. Resultados: • Aumento da qualidade do material. • Incremento dos volumes comercializados. • Aumento da renda mensal que já alcança R$ 1.080,00 por trabalhador. • Aumento da produção de 11t para 20t/mês. 70 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O Projeto da Vonpar significa tudo. Na hora da maior dificuldade, a Vonpar ajudou e muito. Sou muito agradecida, do fundo do coração por aquilo que a Vonpar fez por nós. Veio na hora certa e na medida certa. Há quem critique o baixo valor financiado, mas o pouco se torna bastante na mão do necessitado!” Gessi Fidelis Souza Presidente do Transbordo RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 71 pro j etos Navegantes Investimento: RECINAVE – As s o c ia ç ã o d o s Ag entes d a Re c iclag e m d e Nav e g a n t e s R$ 15.000,00 Atividades: aquisição de uma prensa e troca dos pneus do caminhão da coleta de descartes e busca de ampliação de parceiros para o projeto. A Incubadora Tecnológica da Universidade Regional de Blumenau presta assessoria técnica sistemática e capacitação em administração, gestão e produção de UTs. Resultados: • Restauração do caminhão fora de operação. • Garantia da obtenção dos resíduos seletivos de grandes empresas locais conveniadas com a Associação. • Redução do dispêndio de tempo na prensagem. • Conquista da autonomia para comercialização, acessando valores de mercado para os materiais triados. • Incremento da autoestima e motivação dos associados. 72 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “O Projeto significa uma qualidade de vida melhor. Até então a gente tinha que trabalhar como dava, e com a ajuda da Vonpar a gente passou a ter mais esperança de poder ajudar as pessoas para todos crescerem. A Vonpar está dando esta oportunidade para nós!” Nilceia Calistro (Índia) Presidente da Recinave RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 73 pro j etos Ararangu á Investimento: COOPERAR – Cooperativa de Trabalho e Produção de Recicladores de Araranguá R$ 15.000,00 Atividades: construção de espaço para armazenamento de materiais separados e reforma do caminhão (motor e assoalho) utilizado na busca dos materiais seletivos. Resultados: • Melhor conservação dos materiais que aguardam a prensagem. • Aumento da vida útil de equipamentos como bags e do material triado. • Melhorias na organização do espaço produtivo. • Manutenção da coleta realizada pela Cooperativa, que assegura matéria-prima para separação. 74 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 “A gente tem que ter amor por aquilo que faz, para dar resultado; se não, não adianta! O Projeto da Vonpar significa muito porque foi um empurrão para nos incentivar a continuar. Só nós não dá porque temos pouco material. Valeu, estamos satisfeitos!” Adriana de Almeida Souza Neto Pedro Presidente da Cooperar RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 75 76 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Gestão Administrativa e Financeira da Carteira Vonpar RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 77 “Chega-se à conclusão de que a disponibilização de recursos financeiros aplicados de forma flexível e transparente fortalece a captação de mais investimentos, além de contribuir para a melhoria das condições de vida de um empreendimento popular.” 78 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 A pós seis rodadas de investimentos sistemáticos em galpões de reciclagem de resíduos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, através da cooperação técnica e financeira, o Instituto Vonpar logra consolidar a inovadora experiência que, pela primeira vez, financiou galpões de reciclagem com depósito financeiro realizado diretamente na conta bancária de cada unidade (associação ou cooperativa). Os recursos foram operados na modalidade financiamento não reembolsável, com prestação de contas a cada etapa de desembolso. Financiar diretamente projetos para catadores e exigir destes a prestação de contas, num primeiro momento, pareceu demasiado complexo. Elaborar uma prestação de contas padrão, com planilhas e documentação não é algo simples e muitas vezes pode ser assustador, especialmente para essa população. Alguns desafios precisaram ser enfrentados, entre eles, a capacitação dos líderes ou administradores da reciclagem em sistemática de transparência e prestação de contas, que demonstra a importância desse instrumento para a gestão e correta utilização e para a aplicação dos recursos, além da oportunidade perante outras fontes de financiamento. Para capacitar os gestores, o Instituto utilizou as seguintes estratégias: a)A cada novo edital lançado e após a seleção dos projetos com enquadramento realizou-se seminário de capacitação contábil e financeira. b) Um manual de prestação de contas foi elaborado em parceria com a Secretaria da Justiça e Desenvolvimento Social que serviu para a Rede de Parceria Social. c) Acompanhamento especializado direto nas UTs nas dificuldades referentes à matéria. A prestação de contas tem como base o orçamento aprovado conjuntamente na contratação do Projeto, desdobrado em cronograma físico-financeiro. A aplicação dos recursos é acompanhada mensalmente, através do instrumento de prestação de contas, de acordo com o planejado no cronograma. Valores Investidos A carteira Vonpar investiu, durante as seis rodadas de financiamento, o total de R$ 3.293.000,00 (três milhões, duzentos e noventa e três mil reais), diretamente em galpões de reciclagem. Conforme previsto no cronograma físico-financeiro do conjunto dos projetos aprovados nas seis rodadas de financiamento Vonpar, os maiores investimentos foram realizados nas rubricas material de construção, serviços de terceiros e material permanente. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 79 Aprendizados e Desafios Embora algumas organizações tenham apresentado dificuldades na prestação de contas desde as primeiras rodadas, o fato é que o assessoramento técnico personalizado para o preenchimento de planilhas financeiras acabou já na terceira rodada da carteira Vonpar, facilitando o processo e reduzindo, em muito, as dificuldades no andamento dos contratos. Ao final da sexta rodada de investimentos, algumas convicções foram se consolidando: • Financiar projetos na área da reciclagem diretamente, de acordo com as necessidades definidas pelos próprios recicladores, fortalece o sistema e capacita as pessoas. • O processo de prestação de contas orientado pelo Instituto demonstrou, de forma transparente e documental, como foram gastos os recursos investidos. • Os recicladores sabem gerir recursos, pois, durante os seis anos de financiamento, os recursos previstos foram plenamente realizados. Todos os valores liberados foram utilizados com transparência e assertividade, e a utilização foi comprovada através de prestações de contas mensais. • Esse instrumento fortaleceu a relação de parceria entre os galpões financiados e o Instituto, pois contribuiu para o desenvolvimento dos projetos por meio do controle da execução financeira. • Não houve projetos cancelados, nem interrompidos; tão pouco houve qualquer despesa glosada. 80 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 • A experiência Vonpar preparou as UTs e suas lideranças para movimentarem-se em direção a financiamentos maiores, perante parcerias mais complexas, além de colocar a muitas dessas em condições de operar projetos com os poderes públicos, em condições de contratar. Além disso, os registros das receitas e das despesas para apuração do resultado econômico e financeiro foram garantidos por contadores, uma vez que era obrigatória a assinatura destes na prestação de contas. Ao final de mais essa rodada de financiamento, chega-se à conclusão de que a disponibilização de recursos financeiros aplicados de forma flexível e transparente, a capacitação para gestão, o controle e o monitoramento de recursos fortalecem a captação de mais investimentos e novos parceiros, além de contribuir para a melhoria das condições de vida de um empreendimento popular. Isso posto, a gestão administrativa e financeira do Instituto Vonpar alcançou bons resultados, com aprendizado constante para a carteira Vonpar, para seus parceiros estratégicos e para os galpões financiados. Foram acumulados conhecimentos na área de gestão financeira de Projetos que auxiliarão financiadores e catadores na busca da viabilidade econômica e financeira de projetos, para garantir a sustentabilidade de galpões de reciclagem no longo prazo. RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 81 82 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 Av. Assis Brasil, 11.200 | Sarandi | CEP 91140-000 Porto Alegre - RS | Fone: (51) 3349.8672 www.vonpar.com.br Porto Alegre 2014 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013 83 84 RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS 2013