ANAIS IMPACTO DO GERENCIAMENTO DE RESULTADOS SOBRE A ESTRUTURA DE CAPITAL DOS PAÍSES DO G-20 CAMILA FREITAS SANT´ANA ( [email protected] ) FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau DANIEL FERNANDO PADILHA ( [email protected] ) FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau ROBERTO CARLOS KLANN ( [email protected] ) FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau RESUMO O objetivo do estudo foi verificar a influência da estrutura de capital sobre as práticas de gerenciamento de resultados (GR) nos países do G-20, no período de 2009 a 2013. A pesquisa caracterizou-se como descritiva, documental e quantitativa. A amostra final foi de 7.629 empresas dos países do G-20. Aplicou-se análise de regressão de dados em painel, tendo como variável dependente os accruals discricionários, e independentes a rentabilidade, tangibilidade, crescimento, tamanho e endividamento total. Os resultados indicaram de modo geral, que as variáveis relacionadas à estrutura de capital das empresas contribuem para a redução das práticas de gerenciamento de resultados. Palavras-chave: Países do G-20; Accruals discricionários; Gerenciamento de resultados; Estrutura de capital. 1 INTRODUÇÃO O gerenciamento de resultados (GR) caracteriza-se fundamentalmente como uma alteração proposital dos resultados contábeis por parte do gestor. Tal gerenciamento pode fazer com que os resultados não expressem a realidade do negócio. No entanto, não é praticada como uma modalidade de fraude, em virtude de que é operacionalizada dentro dos limites prescritos na legislação contábil. Há aspectos em que as normas contábeis facultam certa discricionariedade para o gestor, que pode a partir de suas escolhas baseada em incentivos, levá-lo a desejar reportar um resultado distinto do efetivamente registrado (MARTINEZ, 2001). Neste contexto, diversos estudos analisaram os determinantes e aspectos do gerenciamento de resultados, como os de Jones (1991); Dechow, Sloan, Sweeney (1995); Dechow, Kothari e Watss (1998); Martinez (2001); Leuz, Nanda e Wysocki (2003); Ball e Shivakumar (2005); Peek, Cuijpers e Buijink (2010); Farooque, Suyono e Rosita (2014), entre outros. Alguns pesquisadores têm estudado a relação entre a estrutura de capital e o gerenciamento de resultados em diferentes aspectos, como por exemplo, Gabrielsen, Jeffery e Thomas (2002), que analisaram a influência da propriedade dos gestores sobre o gerenciamento de resultados. Há também pesquisas voltadas ao estudo do gerenciamento de resultados na estrutura de capital, como Pietilä, Weich e Gårdängen (2008), que investigou no 1/16 ANAIS contexto das empresas de capital aberto da Suécia; Zhaoguo e Xiaoxia (2009), aplicado nas empresas chinesas; Tahir, Sabir e Shah (2011), nas empresas do Paquistão; Carter (2013) nas empresas americanas e canadenses e ainda a pesquisa de Rahmani e Akbari (2013) aplicada nas empresas do Irã. Assim, o presente estudo avança na discussão traçada na literatura referente ao gerenciamento de resultados e a estrutura de capital nas empresas do Grupo dos 20 (G-20), que representam as maiores economias mundiais compostas por países emergentes e desenvolvidos. Nesse sentido, emerge-se a seguinte questão problema dessa pesquisa: qual a influência da estrutura de capital sobre as práticas de gerenciamento de resultados de empresas localizadas nos países do G-20? Com o intuito de responder a esta questão, destacase que a pesquisa tem por objetivo verificar a influência da estrutura de capital sobre as práticas de gerenciamento de resultados (GR) nos países do G-20. A pesquisa se justifica devido à importância da temática problematizada, em virtude de que um aumento relativo no montante de dívida pode aumentar o risco de possibilidade de falência da empresa (CARTER, 2013), assim como o gerenciamento de resultados é essencial para medir o poder discricionário utilizado pelo gestor a respeito das decisões de report dos resultados da organização (RAHMANI; AKBARI, 2013). Outra contribuição do estudo consiste em analisar o impacto do gerenciamento de resultados na estrutura de capitais das empresas dos países do G-20, que reúne as maiores economias mundiais, responsáveis por mais de 50% da produção mundial e que envolve o relacionamento de países desenvolvidos com países emergentes (IPEA, 2013), proporcionando um enfoque sobre o tema em diferentes regiões econômicas. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Aborda-se nesta revisão de literatura as conceituações e discussões acerca do gerenciamento de resultados, seguida da estrutura de capital e estudos anteriores que discutem a interrelação esses dois temas. As bases de busca dos dados bibliográficos nesta pesquisa compreenderam a Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL), Document Search (Scopus), Science Direct, Jstor e Portal de Periódicos Capes. 2.1 Gerenciamento de Resultados O gerenciamento de resultados tem sido definido como uma forma de intervenção proposital no processo de elaboração das demonstrações contábeis, voltada para obtenção de benefícios particulares (SCHIPPER, 1989). Destaca-se que os executivos são incentivados a realizar o gerenciamento dos ganhos que serão reportados para o mercado e, em contrapartida, frequentemente são relatados casos na mídia sobre empresas que se deparam em questões que envolvem a manipulação de resultados (DEGEORGE, 1999). Para Healy e Whalen (1985), devido aos limites permitidos pela legislação contábil, os gestores percebem incentivos particulares em reportar resultados diferentes do que condiz com o real resultado econômico e financeiro da empresa. Dessa forma, para não inferir na manipulação de resultados, os pesquisadores Chritie e Zimmerman (1994) salientam que as escolhas dos gestores podem ser realizadas de modo eficiente, se for considerado a maximização do valor da empresa, que pode ser motivada por interesses particulares em relação aos dos investidores. Martinez (2001) discorre que há sempre a ideia de que os gestores sempre estabelecem o report dos resultados de acordo com seu objetivo específico conforme a necessidade do 2/16 ANAIS momento. No entanto, ressalta-se que a arbitrariedade segue parâmetros quanto à apuração e ajustamento dos lucros, uma vez que passaram por aprovação dos contadores e gestores da organização (COELHO; LIMA, 2007). Essa arbitrariedade dos resultados é tratada como apropriações contábeis, as quais são utilizadas para aplainar as informações a respeito dos lucros relacionados ao fluxo de caixa, promovendo para seus usuários informações mais eficientes em virtude de estaram mais aptas a ajustar-se em consonância às expectativas dos investidores e credores da organização (DECHOW; SKINNER, 2000). Assim, as escolhas de ajustes contábeis, de acordo com Coelho e Lima (2009), são realizadas para traçar um nivelamento dos lucros em relação aos fluxos de caixa, para desta forma, por meio do uso da discricionariedade, ter a faculdade de alterar possíveis decisões econômicas no que tange os gestores ou os sócios majoritários da organização. Neste contexto, na literatura são encontrados estudos que analisaram aspectos e o impacto do gerenciamento de resultados nas organizações. Jones (1991) investigou se as empresas que se beneficiam da isenção de importação tentam diminuir ganhos por meio de gerenciamento de resultados durante as investigações dos órgãos reguladores. Os testes empíricos realizados suportaram a hipótese de que o gerenciamento sugeria a diminuição de rendimentos por parte dos gestores durante as investigações. Na pesquisa desenvolvida por Dechow, Sloan e Sweeney (1995) utilizou-se várias técnicas para detecção de gerenciamento de resultados, verificando as mudanças dos procedimentos contábeis, a utilização de informações discricionárias do fluxo de caixa, os modos de aceleramento ou retardamento do recebimento de vendas e outros gastos discricionários, além dos ajustes contábeis discricionários relacionados ao regime de competência. Dechow, Kothari e Watss (1998) estabeleceram um modelo dos ganhos, fluxo de caixa e acréscimos voltado aos ganhos, como forma de prever melhor os fluxos de caixa operacionais futuros. Os resultados apontam que o modelo pode explicar como acréscimos compensam a correlação negativa em mudanças de fluxo de caixa para produzir ganhos. Além disso, destacam que os fluxos de caixa operacionais futuros podem ajudar a explicar por que os lucros, em vez do fluxo de caixa operacional atual, tendem a ser utilizados na avaliação e em medidas de desempenho. Na pesquisa de Martinez (2001), o objetivo principal foi evidenciar de forma empírica que as empresas brasileiras de capital aberto realizavam gerenciamento de resultados por meio das acumulações discricionárias. Os resultados mostraram que as empresas com resultados ruins modificam-os para que pareçam piores, objetivando melhores resultados futuros. Quanto ao desempenho do mercado, em um curto prazo as empresas conseguiram atrair investidores, porém, no longo prazo, o mercado detectou esse procedimento e suas ações sofreram penalização com os piores desempenhos acumulados. Ball e Shivakumar (2005) testaram a hipótese de que as informações financeiras das empresas privadas apresentam qualidade inferior, devido à demanda do mercado e a regulamentação. A hipótese foi testada no contexto das empresas do Reino Unido, cujos resultados permitiram aos autores concluir que consistentemente os lucros da empresa privada na verdade apresentam qualidade inferior, em média, apesar de serem preparados nos mesmos regulamentos que as empresas públicas. Esta hipótese, quanto ao gerenciamento de resultados e a qualidade das informações também foi testada no estudo de Farooque, Suyono e Rosita (2014), nas economias emergentes por meio da proxy dos accruals discricionários em 3/16 ANAIS resposta aos ganhos, do qual os resultados evidenciam que em alguns países as políticas e a adoção de medidas de governança, como no caso da Indonésia, auxiliam para restringir o gerenciamento de resultados e, consequentemente, melhorar a qualidade dos lucros. Além das questões envolvendo o gerenciamento de resultados discutidos nesta seção, alguns estudos procuram analisar a relação entre práticas de gerenciamento de resultados e a estrutura de capital das empresas, o que é tratado na próxima seção. 2.2 Estrutura de capital e gerenciamento de resultados A estrutura de capital aparece com maior ênfase na literatura de finanças após os pesquisadores Modigliani e Miller (1958) voltarem-se à discussão da hipótese de mercado eficiente, a qual prevê a não existência de uma estrutura ótima de capital. Essa hipótese para as empresas é fundamentada principalmente nos achados de Fama (1970), que investigou a hipótese de eficiência do mercado por meio dos estudos que observavam o comportamento dos preços e retornos do mercado de capitais, o qual levou o autor a classificar o nível de atenção do mercado sobre três perspectivas. A primeira é quanto ao nível de forma fraca, que indica que o mercado tomava decisões baseadas no custo histórico dos preços e retornos das ações. O segundo nível é dado como forma semi-forte, que destaca que já se percebia nos usuários da informação uma certa agilidade nos reajustes dos preços que proporcionavam aumento do conteúdo informacional refletido no mercado. O último nível foi classificado como forma forte, em que prevaleceu uma forte preocupação dos gestores em torno do gerenciamento das informações dos ganhos, a fim de reduzir a assimetria de informação quanto ao preço e retorno das ações no mercado. Diversas proposições foram levantadas com enfoque na estrutura de capital, mas neste contexto ganha respaldo a discussão traçada por Myers (1984), que propôs que fossem consideradas duas vertentes teóricas para a abordagem e estudo da estrutura de capital, sendo as teorias de Static Trade Off e a Pecking Order Theory. A teoria do Trade Off avança na perspectiva de que as organizações devem ter como meta o alcance da estrutura de capital ótima, que só pode ser desencadeada com a maximização dos benefícios e redução dos custos resultantes do endividamento. Enquanto isso, a teoria de Pecking Order está direcionada de acordo com um modelo hierárquico, que estabelece preferências por tipos de financiamento para a maximização dos benefícios. De acordo com Titman e Wessels (1988), as teorias do Trade Off e Pecking Order auxiliam na identificação da composição da estrutura utilizada pelas empresas, considerando as dívidas e o capital próprio que geram custos ou benefícios para a estrutura de capital utilizada pela organização, embora, de acordo com Myers e Brealey (1998), deve-se considerar que cada empresa possui a sua estrutura de capital, tendo em vista que diversos aspectos estão envolvidos no gerenciamento da estrutura de capital. Neste contexto, ressalta-se que a estrutura de capital pode sofrer influência relacionada aos benefícios fiscais, características tributárias como benefício da dívida (DAVID; NAKAMURA; BASTOS, 2009) e ainda a forma com o qual determina a sua composição da carteira, que remete-se aos títulos/ações emitidos e as fontes de capital que servem como fontes para financiamento da empresa (GRINBLATT; TITMAN, 2002; BREALEY; MYERS; ALLEN, 2008), a composição de capital de terceiros e de capital próprio (REGO; NESS JR, 2007); ou ainda, a teoria de Pecking Order e da teoria do Market Timing com a estrutura de capital (CHEN ET AL., 2013). 4/16 ANAIS Entretanto, no estudo de Bastos e Nakamura (2009) analisou-se as determinantes da estrutura de capital das empresas brasileiras, mexicanas e chilenas, com a finalidade de determinar a importância dos fatores específicos das organizações. Assim, estabeleceu seu modelo de análise de regressão linear múltipla a variável dependente do nível de endividamento (endividamento total, de curto prazo e de longo prazo) e as variáveis independentes liquidez corrente, rentabilidade, market to book value. Os resultados atrelados a teoria do Pecking Order demostrou explicar os resultados das empresas do Brasil e do México, enquanto que para o Chile encontrou-se evidências da teoria do Pecking Order e do Trade off sobre a estrutura de capital. A partir deste aporte literário sobre a estrutura de capital, pesquisas ao decorrer dos anos vem sendo realizadas relacionando a estrutura de capital a outros contextos ligados à área de finanças e contabilidade, como no caso do gerenciamento de resultados. O estudo desenvolvido por Pietilä, Weich e Gårdängen (2008), resultante da dissertação de mestrado de Pietilä (2008), teve por objetivo investigar a possível correlação entre a estrutura de capital e o gerenciamento de resultados nas empresas de capital aberto da Suécia. A amostra foi composta por 231 empresas observando o período de 2003 a 2007, que resultaram em 1.033 observações evidenciadas por meio da aplicação da técnica estatística de regressão de dados em painel, do qual foi designado como variável dependente os acrruals discricionários e como variáveis independentes o endividamento total, a necessidade de capital de giro, o tamanho da empresa, medido pelo logaritmo do total de ativos, e uma variável dummy representando o setor de atividade da empresa. Os resultados evidenciam que a correlação entre a estrutura de capital e o gerenciamento de resultados é negativa, embora não significativa, permitindo aos autores concluir que essa tendência negativa indica que a estrutura de capital das empresas afeta o uso do gerenciamento de resultados das empresas no mercado sueco. O estudo de Zhaoguo e Xiaoxia (2009) examinou a relação entre a estrutura de capital e o gerenciamento de resultados das empresas de capital aberto chinesas no período de 2003 a 2007. A análise fundamentou-se na observação dos impactos das variáveis que representaram as dívidas, o controle dos acionistas, a composição do capital, o retorno dos ativos, o crescimento e o tamanho em relação aos acrruals discricionários tratados como variável de gerenciamento de resultados. Os dados da amostra de 1.052 empresas totalizaram 5.260 observações, tratados por meio da estatística descritiva e da regressão linear múltipla. Os resultados demonstraram que a proporção de capital próprio apresenta um U invertido em relação ao gerenciamento de resultados. O endividamento está positivamente correlacionado ao gerenciamento de resultados, de modo que a proporção das ações dos acionistas externos apresentou-se negativamente correlacionada com o gerenciamento de resultados. No entanto, em relação à proporção de capital próprio dos executivos, essa relação é positiva. De toda forma, os autores constataram que a estrutura de capital tem se mostrado influente no gerenciamento de resultados. A pesquisa elaborada por Tahir, Sabir e Shah (2011) teve por objetivo identificar o impacto da estrutura de capital no gerenciamento de resultados das empresas de capital aberto do Paquistão. Para tal, os dados da amostra caracterizaram-se como não balanceados, contemplando o período de 2001 a 2005. Para análise dos dados foi aplicada a estatística descritiva e a regressão linear múltipla, para a qual foram utilizados como variável dependente os accruals discricionários e como variáveis independentes o endividamento total (ENDT), o retorno dos ativos (ROA), o retorno do patrimônio líquido (ROE) e o tamanho da 5/16 ANAIS empresa (TAM), medido pelo logaritmo do total dos ativos. Os resultados indicam que os accruals discricionários foram positivamente significativos em relação ao endividamento total e negativamente significativos em relação ao ROA, ROE e TAM. Dessa forma, estes resultados implicam que o gerenciamento de resultados aumenta o endividamento total da estrutura de capital, o que pode ocasionar um aumento no risco para a empresa e ainda futuramente gerar problemas de liquidez. Entretanto, um aumento do ROA, ROE e TAM implica na redução do gerenciamento de resultados, haja visto que o aumento nessas variáveis pode contribuir para o melhorar a credibilidade das empresas, fato que pode ser considerado um sinal positivo para a sustentabilidade das organizações. Carter (2013) examinou a estrutura de capital e o gerenciamento de resultados sob os efeitos da Lei Sarbanes-Oxley (SOX) nas empresas americanas e canadenses no período de 2000 a 2004. As observações das empresas da amostra consideraram dados trimestrais referentes às seguintes variáveis: endividamento de longo prazo e os acrruals discricionários como variável dependente; e alavancagem, capital próprio, fluxo de caixa, tamanho da empresa, rentabilidade do patrimônio líquido como variáveis independentes; e ainda variáveis de controle relacionadas ao período da Sox, proxy para a taxa de juros e país. Os resultados apontados pelo teste estatístico de regressão linear múltipla destacam que as empresas listadas nos EUA apresentam percentagens de dívida de longo prazo mais elevadas após a imposição legal da SOX, dado que sugere que os gerentes antecipam um custo mais elevado da dívida associado a SOX e procuram emprestar fundos, enquanto o custo é relativamente baixo. Já as empresas do Canadá sujeitas às disposições da SOX não realizaram ajustes em suas estruturas de capital, ainda que a SOX tenha promovido maior transparência financeira para detecção do gerenciamento de resultados e das decisões quanto à estrutura de capital. Na pesquisa de Rahmani e Akbari (2013) o objetivo foi analisar o papel do tamanho da empresa e da estrutura de capital no gerenciamento de resultados das empresas do Irã. A amostra do estudo foi composta por 90 empresas iranianas de capital aberto no período de 2008 a 2012. Os dados foram submetidos à análise de regressão multivariada, contando como variável dependente os acrruals discricionários utilizados como proxy do gerenciamento de resultados; e como variáveis independentes o tamanho da empresa, medido pelo logaritmo do total dos ativos, e o endividamento total como medida da estrutura de capital. Os resultados remetem que o tamanho da empresa e a estrutura de capital apresentam influência positiva e significativa no gerenciamento de resultados, revelando que as empresas com estrutura de capital voltada ao endividamento são muito mais cautelosas em suas práticas de gerenciamento de resultados, o que levou esses autores a concluírem que a estrutura de capital pode ser uma ferramenta para desencorajar práticas de gerenciamento de resultados. Assim, conforme os achados dos estudos de Pietilä, Weich e Gårdängen (2008); Zhaoguo e Xiaoxia (2009); David, Nakamura e Bastos (2009); Tahir, Sabir e Shah (2011); Rahmani e Akbari (2013) que estudaram a relação entre a estrutura de capital e o gerenciamento de resultados, determinou-se a seguinte hipótese de pesquisa: H1 –A estrutura de capital das empresas influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. Assim, propôs-se com base nos achados de Chen et al. (2013) que evidenciou que a rentabilidade medida por meio do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações, seguida da divisão pelo total de ativos, a variável de rentabilidade como uma determinante da 6/16 ANAIS estrutura de capital, do qual Tahir, Sabir e Shah (2011) discorrem que é aumentado pelo gerenciamento de resultados. Neste contexto, de acordo com os estudos de Pietilä, Weich e Gårdängen (2008); Zhaoguo e Xiaoxia (2009); Tahir, Sabir e Shah (2011); Rahmani e Akbari (2013) elaborou-se a seguinte hipótese: H1a – A rentabilidade da empresa influencia positivamente as práticas de gerenciamento de resultados. Estudos como os de Bastos e Nakamura (2009) e Chen et al. (2013) encontraram a tangibilidade como uma determinante da estrutura de capital, assim a fim de testar essa variável no contexto do gerenciamento de resultados, definiu-se a seguinte hipótese: H1b – O grau de tangibilidade influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. Conforme os achados de Zhaoguo e Xiaoxia (2009), David, Nakamura e Bastos (2009) e Chen et al. (2013), o crescimento medido pela variação porcentual do ativo total representa a expectativa de oportunidade de investimento, variável determinante da estrutura de capital. Assim, diante deste contexto foi elaborada a hipótese H1c que destaca que: H1c – O crescimento da empresa influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. Com base no estudo de Bastos e Nakamura (2009) a variável tamanho da firma, medido pelo logaritmo da receita operacional líquida é considerada uma determinante da estrutura de capital, neste sentido, com o intuito de verificar a influência da estrutura de capital no gerenciamento de resultados conforme os achados nos estudos de Pietilä, Weich e Gårdängen (2008), Tahir, Sabir e Shah (2011), Carter (2013) e Rahmani e Akbari (2013), determinou-se a seguinte hipótese: H1d – O tamanho da empresa influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados das empresas. O endividamento total é visto como componente da estrutura de capital das organizações, em virtude que representa a forma como a empresa se financiam (MODIGLIANI; MILLER, 1958). Com base nos estudos de Pietilä, Weich e Gårdängen (2008); Zhaoguo e Xiaoxia (2009); Bastos e Nakamura (2009); David, Nakamura e Bastos (2009); Tahir, Sabir e Shah (2011); Rahmani e Akbari (2013); Chen et al. (2013), do qual prevê-se que quanto maior o endividamento, menor o GR, assim determinou-se a hipótese: H1e – O endividamento total influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. Desta forma, dado as hipóteses a serem testadas na presente pesquisa, destaca-se no próximo tópico os aspectos metodológicos empregados na pesquisa. 7/16 ANAIS 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta seção apresenta dos procedimentos metodológicos do estudo, dividido em população e amostra e procedimentos de coleta e análise dos dados. 3.1 População e amostra A população do estudo compreendeu todas as empresas listadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo – BM&FBOVESPA, da New York Stock Exchange – NYSE, da Australian Securities Exchange – ASX, Shanghai Stock Exchange – SSE, Deutsche Börse Group – DBG, Euronext – France, London Stock Exchange, Korea Exchange – KRX, Tokyo Stock Exchange – JPX, Borsa Italiana, MICEX – RTS, Bolsa Mexicana de Valores – BMV, Istambul Stock Exchange – ISE, Johannesburg Stock Exchange – JSX, Mercado de Valores de Buenos Aires S. A. – MERVAL, Toronto Stock Exchange – TSE, National Stock Exchange of India – NSEI, Bursa Efek Indonesia – BEI e Saudi Stock Exchange – SSE. Para composição da amostra da pesquisa, foram excluídas as empresas financeiras e de seguros, além daquelas que não continham todas as informações necessárias para a análise dos dados. De acordo com Smeeding (2002) o G-20 é composto por 19 nações mais um grupo econômico que representa a União Européia, assim foram selecionadas somente os 19 países do G-20. Dessa forma, a amostra da pesquisa está representada na Tabela 1. Tabela 1 – Amostra da pesquisa. País África do Sul Alemanha Arábia Saudita Argentina Austrália Brasil Canadá China Coréia do Sul Estados Unidos França Índia Indonésia Itália Japão México Reino Unido Rússia Turquia Total Fonte: Dados da pesquisa. População 333 1.033 169 104 2.019 424 3.615 2.636 1.893 12.477 907 5.274 507 320 3.637 141 2.115 1.373 413 39.390 Amostra 132 241 35 26 220 144 223 657 684 1.152 281 1.027 144 130 1.965 50 320 107 91 7.629 A amostra final da pesquisa compreendeu a totalizando 7.629 empresas, perfazendo um total de 38.113 observações. Os dados foram coletados no período correspondente aos anos de 2009 a 2013, em virtude de que Assaf Neto (2012) destaca que este período encontra- 8/16 ANAIS se dentro do padrão de três a cinco anos para a realização de análise que possibilite a comparação temporal e o acompanhamento da evolução das variáveis utilizadas na pesquisa. 3.2 Coleta e análise dos dados A coleta dos dados foi realizada por meio do sítio eletrônico da Thomson ONE Banker, nas bases de dados Thomson Financial, Worldscope e Compustat no período compreendido de 2009 a 2013. Assim, foram coletadas informações anuais relacionadas às variáveis da pesquisa apresentadas no Quadro 1. Abordagem Dependente Quadro 1 – Variáveis analisadas Tipo Gerenciamento de resultados Independentes Estrutura de capital Variáveis Descrição Autores ACCR_TOT Acrruals Discricionários (Modelo de Jones Modificado, 1995) Pietilä, Weich e Gårdängen (2008); Zhaoguo e Xiaoxia (2009); Tahir, Sabir e Shah (2011); Carter (2013); Rahmani e Akbari (2013) Endividamento Total (PC + PNC / AT) Pietilä, Weich e Gårdängen (2008); Zhaoguo e Xiaoxia (2009); Bastos e Nakamura (2009); David, Nakamura e Bastos (2009); Tahir, Sabir e Shah (2011); Rahmani e Akbari (2013); Chen et al. (2013). END_TOT TAM RENT Determinantes da estrutura de capital Tamanho (Log Das Receitas Líquidas) Rentabilidade (Ebitda / AT) Bastos e Nakamura (2009) Chen et al. (2013). CRESC Crescimento (ATt – ATt-1 / ATt) Zhaoguo e Xiaoxia (2009); David, Nakamura e Bastos (2009), Chen et al. (2013). TANG Tangibilidade (Estoque + Imobil / AT) Bastos e Nakamura (2009) e Chen et al. (2013) Fonte: Dados da pesquisa. Para mensuração dos níveis de gerenciamento de resultados, medidos por meio de acrruals discricionários e accruals não discricionários, foi utilizado o Modelo Modificado de Jones (DECHOW; SLOAN; SWEENEY, 1995). Este modelo do Jones Modificado (1995) separa os componentes discricionários dos não discricionários no resultado contábil, assim estabelece-se o total de acrruals não discricionários, apresentado na fórmula a seguir: NDAt = α1(1/ At-1) + α2(∆REVt - ∆RECt) + α3(PPEt), Onde: NDAt = Acrruals discricionários no Ano t At-1 = Ativo Total no Ano t menos o Ativo Total no Ano t-1 ∆RECt = Contas a Receber no Ano t menos as Contas a Receber no Ano t-1 PPEt = Ativo Imobilizado no Ano t 9/16 ANAIS Estabelecido o modelo para medição dos níveis de gerenciamento, destaca-se que para a análise dos dados aplicou-se a técnica estatística de regressão de dados em painel, por meio do software STATA®. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste tópico apresentam-se os resultados obtidos a partir da pesquisa realizada, analisados por meio da aplicação de regressão de dados em painel a partir do software STATA®. Para determinar qual o modelo a ser empregado na análise, inicialmente foram aplicados aos dados os testes de homoscedasticidade, multicolinearidade, de ausência de autocorrelação dos resíduos e de normalidade. Na sequência, para estabelecimento da regressão em dados em painel foram aplicados o teste de Breusch-Pagan e de Hausman, que indicaram a utilização do modelo de Efeitos Fixos. Os resultados do teste de Breusch-Pagan e de Hausman indicaram efeitos fixos, entretanto para a China os resultados apontaram o modelo de POLS, enquanto que para a Arábia Saudita os resultados determinaram o modelo de efeitos aleatórios. Assim, no Quadro 2 encontram-se sintetizados os principais resultados a serem destacados pela pelos modelos distribuídos para cada país. Quadro 2 – Síntese dos principais resultados das regressões por país País CONST. Coef. Sig. RENT Coef. Sig. TANG Coef. Sig. CRESC Coef. Sig. TAM Coef. Sig. END_TOT Coef. ARG -0,02 0,881 0,27 0,002 -0,05 0,620 0,04 0,147 0,01 AUS 0,24 0,000 0,55 0,000 0,17 0,001 0,02 0,000 -0,06 0,000 0,01 BRA 0,12 0,074 0,47 0,000 0,00 0,980 -0,00 0,407 -0,01 0,087 -0,12 CAN 0,18 0,001 0,71 0,000 0,16 0,000 0,03 CHN 0,03 0,140 0,90 0,000 -0,04 0,000 0,00 0,157 -0,01 0,001 -0,01 0,057 -0,03 0,013 0,13 DEU -0,05 0,558 0,99 0,000 0,16 0,000 0,02 FRA 0,629 -0,11 0,000 -0,06 0,000 0,05 R² F Sig. 0,070 0,181 0,001 0,234 0,458 0,000 0,000 0,288 0,000 0,060 0,548 0,000 0,180 0,760 0,000 0,000 0,939 0,000 0,000 0,276 0,000 0,19 0,004 0,46 0,000 0,17 0,000 0,08 0,000 -0,03 0,001 -0,13 GBR 0,20 0,048 1,26 0,000 0,23 0,002 0,03 0,067 -0,06 0,000 0,00 IDN 0,08 0,394 0,58 0,000 0,06 0,273 -0,01 0,483 -0,04 0,008 0,01 IND -0,01 0,587 0,59 0,000 0,03 0,159 0,02 0,000 -0,00 0,109 -0,06 ITA 0,07 0,000 -0,00 0,936 0,06 0,000 -0,00 0,575 -0,14 JPN -0,06 0,102 0,03 0,000 0,08 0,000 0,03 0,000 0,02 0,101 0,88 0,000 0,07 0,000 0,01 0,000 -0,01 0,000 -0,06 MEX -0,43 0,002 0,63 0,000 0,15 0,031 0,03 RUS 0,17 0,000 -0,01 0,069 0,00 SAL -0,37 0,032 -0,08 0,623 0,26 TUR -0,14 0,291 0,67 0,000 -0,10 0,144 0,01 USA 0,26 0,000 0,74 0,000 0,09 0,002 0,02 0,643 0,407 0,000 0,493 -0,01 0,198 -0,197 0,000 0,595 0,000 0,000 0,02 0,216 0,08 0,442 0,143 0,000 0,609 0,02 0,286 -0,01 0,677 0,212 0,000 0,000 -0,05 0,000 -0,03 0,000 0,511 0,000 ZAF -0,26 0,030 0,66 0,000 0,31 0,000 -0,00 0,422 0,01 KOR 0,04 0,213 0,61 0,037 0,51 0,057 0,15 0,043 0,03 0,000 0,26 0,807 0,539 0,000 0,217 0,884 0,000 0,000 0,136 0,000 0,000 0,403 0,000 0,000 0,047 0,000 0,001 0,675 0,000 0,063 0,03 0,546 -0,09 0,068 0,366 0,000 Legenda: Argentina (ARG); Austrália (AUS); Brasil (BRA); Canadá (CAN); China (CHN); Alemanha (DEU); Reino Unido (GBR); Índia (IND); Itália (ITA); Japão (JPN); Córeia do Sul (KOR); Estados Unidos (USA); França (FRA); México (MEX); Rússia (RUS); Arábia Saudita (SAL); Turquia (TUR); África do Sul (ZAF); 10/16 ANAIS Indonédia (IDN). Fonte: dados da pesquisa. Conforme verificado no Quadro 2, foi possível observar que o impacto das variáveis de estrutura de capital sobre o gerenciamento de resultados foi significativo nos países do G20. Destaca-se que a Alemanha resultou no maior poder explicativo do modelo de regressão, de modo que o menor poder explicativo resultante foi identificado no Japão com 4% referente ao R² do modelo. Embora a média do R² médio foi de 38,21%, somados todos os resultados do R² dos modelos de cada país. Diante desses resultados, foi verificado que na Argentina, quanto maior a rentabilidade, menor é o gerenciamento de resultados, o mesmo pode-se dizer nos seguintes países: Alemanha, Índia, Japão, México, Turquia e África do Sul. Esta evidência corrobora com o estudo de Tahir, Sabir e Shah (2011), o que faz com que a hipótese H1a, que previa que a rentabilidade da empresa influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados seja aceita nesses países. Já na Austrália, Brasil, Estados Unidos, Rússia, Canadá, China, França, Reino Unido, Indonésia, Itália e Coréia do Sul os resultados foram inversos, a partir do qual se infere que quanto maior a rentabilidade, maior o gerenciamento de resultados. Dessa forma, a hipótese H1a foi rejeitada no contexto das empresas dos países supracitados. Para finalizar a análise quanto à variável RENT, verificou-se que para as empresas da Arábia Saudita esta variável não se mostrou significativa, não sendo possível confirmar sua influência sobre o gerenciamento de resultados, rejeitando-se também a hipótese H1a para esse grupo de empresas. Em se tratando da variável que representa a tangibilidade, os resultados indicaram que quanto maior a tangibilidade, menor o gerenciamento de resultados nas observações dos seguintes países: China, Alemanha, Japão, México e África do Sul. Neste contexto, a hipótese de pesquisa H1b, que prevê uma influência negativa do grau de tangibilidade sobre as práticas de GR foi aceita. Entretanto, na Austrália, Canadá, França, Reino Unido, Coréia do Sul e Estados Unidos os achados implicam que quanto maior a tangibilidade, maior é o gerenciamento de resultados. Assim, para as empresas desses países a hipótese H1b foi rejeitada. Destaca-se ainda que a tangibilidade não demonstrou influência significativa sobre o GR nas empresas do Brasil, Indonésia, Índia, Itália, Rússia, Arábia Saudita e Turquia, rejeitando-se a hipótese H1b para esses países. Outra observação oriunda da Tabela 1 é que quanto maior o crescimento, menor o gerenciamento de resultados nos seguintes países: Índia, Japão, México e Arábia Saudita. Assim, tais achados implicam na aceitação da hipótese H1c, que estabelece a existência de uma influência negativa do crescimento da empresa em relação às práticas de GR. Os dados corroboram o estudo de Zhaoguo e Xiaoxia (2009), que evidenciaram que empresas que apresentam maior crescimento, consequentemente, demonstram melhor desempenho no ambiente em que atuam, de modo que a gestão aplica práticas a fim de mitigar a manipulação dos dados reportados aos usuários das informações contábeis. Porém, em países como a Austrália, Canadá, França, Itália, Coréia do Sul e Estados Unidos identificou-se que quanto maior o crescimento, maior são as práticas de gerenciamento de resultados. Dessa forma, a hipótese H1c foi rejeitada no contexto das empresas destes países. 11/16 ANAIS Além disso, observou-se também que a variável crescimento não teve influência significativa no gerenciamento de resultados no contexto das empresas de países como a Argentina, Brasil, China, Alemanha, Reino Unido, Indonésia, Rússia, Turquia e África do Sul, resultando assim na rejeição da hipótese H1c nesses países. No que tange à variável tamanho da empresa, os resultados remetem que quanto maior o tamanho, menor o gerenciamento de resultados nos países da Austrália, Canadá, China, França, Reino Unido, Indonésia, Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos. Este achado implica que o tamanho da empresa tem influência significativa e negativa sobre o GR, aceitando-se dessa forma, a hipótese H1d. Conforme Zhaoguo e Xiaoxia (2009), as empresas que apresentam maior tamanho têm menores incentivos para manipular os dados divulgados no mercado de capitais em que atuam. Os achados ainda destacam que na Alemanha, quanto menor o tamanho, menor o gerenciamento de resultados, dado que implica na rejeição da hipótese H1d. Na Argentina, Brasil, Índia, Itália, México, Rússia, Arábia Saudita, Turquia e África do Sul, os resultados não demonstram influência significativa do tamanho sob o GR das empresas observadas, o que leva à rejeição da hipótese H1d nesses países. A respeito do endividamento total, os resultados evidenciaram que quanto maior o endividamento total, menor o gerenciamento de resultados no Brasil, Alemanha, França, Itália, Japão, Coréia do Sul, Rússia e Estados Unidos. Assim sendo, a hipótese H1e foi aceita, tendo em vista que a hipótese H1e prevê a existência de uma influência positiva do endividamento total sobre as práticas de GR. A hipótese H1e também foi rejeitada no contexto das empresas da Argentina, Austrália, Canadá, China, Reino Unido, Indonésia, México, Arábia Saudita, Turquia e África do Sul, pois o endividamento total não apresentou influência significativa sobre o GR. A Índia foi o único país em que foi observada influência positiva do endividamento total sobre o GR, pois os resultados apontam que quanto menor o endividamento total, menor o gerenciamento de resultados, o que leva à rejeição da hipótese H1e para as empresas indianas. De uma forma geral, percebe-se, de acordo com as hipóteses aceitas e rejeitadas, que cada país apresenta um contexto diferenciado, indicando que as práticas de gerenciamento de resultados ocorrem de acordo com suas singularidades e fatores. Assim, na Tabela 2 destacase os resultados evidenciados a partir das hipóteses de pesquisa. Tabela 2 – Resultados das hipóteses de pesquisa Grupo de Hipótese H1 –A estrutura de capital das empresas influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. Hipótese Relação esperada Aceita no País H1a – A rentabilidade da empresa influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. - Alemanha, Índia, Japão, México, Turquia e África do Sul H1b – O grau de tangibilidade influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. - China, Alemanha, Japão, México e África do Sul 12/16 Rejeitada no País Austrália, Brasil, Estados Unidos, Rússia, Canadá, China, França, Reino Unido, Indonésia, Itália, Coréia do Sul e Arábia Saudita Austrália, Canadá, França, Reino Unido, Coréia do Sul, Estados Unidos, Brasil, Indonésia, Índia, Itália, Rússia, Arábia Saudita e Turquia ANAIS H1c – O crescimento da empresa influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. - H1d – O tamanho da empresa influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultadas das empresas. - H1e – O endividamento total influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. - Índia, Japão, México e Arábia Saudita Austrália, Canadá, China, França, Reino Unido, Indonésia, Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos. Brasil, Alemanha, França, Itália, Japão, Coréia do Sul, Rússia, Estados Unidos, Argentina, Austrália, Canadá, China, Reino Unido, Indonésia, México, Arábia Saudita, Turquia e África do Sul. Austrália, Canadá, França, Itália, Coréia do Sul, Estados Unidos, Argentina, Brasil, China, Alemanha, Reino Unido, Indonésia, Rússia, Turquia e África do Sul Alemanha, Argentina, Brasil, Índia, Itália, México, Rússia, Arábia Saudita, Turquia e África do Sul. Índia. Fonte: Dados da pesquisa. Os dados das variáveis de estrutura de capital permitem destacar um resultado conclusivo para todos os países em relação à influência da estrutura de capital das empresas dos países do G-20 sobre as práticas de gerenciamento de resultados. 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O presente estudo teve como objetivo verificar a influência da estrutura de capital sobre as práticas de gerenciamento de resultados (GR) nos países do G-20. Para tal, desenvolveu-se um estudo em uma amostra de 7.629 empresas dos países que compõem o G20, no período de 2009 a 2013, perfazendo um total de 38.113 observações. Os resultados apontam que as empresas do Canadá, China, Alemanha, Reino Unido, Indonésia, Coréia do Sul, Rússia e Estados Unidos apresentam menos perturbações entre as observações do que outros países. Tal afirmativa está fundamentada na maior associação entre a estrutura de capital e as práticas de gerenciamento de resultados nesses países, representada por um elevado R² (maior que 50%). Assim, infere-se que as variáveis de estrutura de capital apresentam maior influência sobre as práticas de GR nesses países. No entanto, constatou-se que as variáveis de estrutura de capital não apresentaram resultados conclusivos em todos os países quanto a sua influência sobre o gerenciamento de resultados, pois foram encontrados resultados não significativos. A variável que influenciou o GR no maior número de países foi a rentabilidade, apresentando efeitos positivos e negativos, dependendo do país, embora a influência negativa esperada tenha se confirmado em um número menor de países. O tamanho foi a variável que apresentou maior aceitação da hipótese, que previa uma influência negativa deste para com o GR. De modo geral, conclui-se que as variáveis relacionadas à estrutura de capital das empresas contribuem para a redução das práticas de gerenciamento de resultados, conforme previsto por Rahmani e Akbari (2013), para os quais, empresas com estrutura de capital voltada ao endividamento são muito mais cautelosas em suas práticas de gerenciamento de 13/16 ANAIS resultados. Embora tal evidência não tenha sido confirmada em todos os países do G20 analisados, pode-se aceitar a hipótese geral do estudo (H1), de que a estrutura de capital das empresas influencia negativamente as práticas de gerenciamento de resultados. Como limitações da pesquisa, destaca-se que a análise focou a questão de forma generalizada, não destacando diferenças institucionais, legais, econômicas e culturais entre os países, que podem impactar os resultados. Também não foram analisados os diferentes setores de atividade por país, cujas características particulares podem afetar os achados. Assim, como sugestão para pesquisas futuras, recomenda-se o segregar a amostra por setores de atividade, incluir variáveis de controle que possam capturar o efeito das diferenças institucionais, legais, econômicas e culturais entre os países, bem como utilizar outras técnicas de análise estatística dos dados. REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BALL, R; SHIVAKUMAR, L. Earnings quality in UK private firms: comparative loss recognition timeliness. Journal of Accounting and Economics, v. 39, n. 1, p. 83-128, 2005. BASTOS, D. D.; NAKAMURA, W. T. 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