XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A INFLUÊNCIA DA CULTURA EMPREENDEDORA NO EMPREENDEDORISMO DOS PAÍSES DO BRICS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE AS DIMENSÕES CULTURAIS Pedro Henrique Drummond Pecly (UFF) [email protected] Priscilla Cristina Cabral Ribeiro (UFF) [email protected] Pode-se observar diversas similaridades entre os países do BRICS, principalmente relacionado ao desenvolvimento econômico e o estágio de mercado emergente de cada um deles. Devido à atual situação em que esse grupo se encontra, é possível questionar o quanto a cultura empreendedora de cada um dessas potências emergentes leva à criação de empreendimentos que gerem ganhos econômicos e sociais para os membros desse grupo. Assim, o objetivo geral contemplado por este artigo é analisar a cultura empreendedora dos BRICS por meio das dimensões culturais de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de Schwartz. O estudo foi realizado mediante uma pesquisa bibliográfica sobre o empreendedorismo em cada um dos BRICS a fim de definir as dimensões culturais e valores presentes em cada nação, para, então, justificar a cultura empreendedora nacional. Como resultado, percebeu-se que a orientação empreendedora de uma população é, de fato, influenciada pelos traços culturais dessa nação. Palavras-chave: Empreendedorismo, Cultura Empreendedora, BRICS, Dimensões Culturais XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução BRICS é o acrônimo que se refere aos cinco países com as maiores economias nacionais emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Além de grandes e crescentes economias, os BRICS possuem influência significativa em âmbito regional e global, dando aos cinco um posto no G-20 (BBVA EAGLEs Annual Report, 2012). A soma da população dos BRICS, em 2014, consistiu em, aproximadamente, três bilhões de indivíduos, representando cerca de 40% da população mundial. O PIB combinado desses países foi de US$16.039 trilhões, cerca de 18% da economia mundial (IMF WORLD ECONOMIC OUTLOOK, 2014). Devido ao rápido e grande crescimento econômico presenciado nos últimos anos por esses países, pode-se questionar até que ponto a cultura empreendedora dessas nações contribuiu para esse crescimento. Nesse caso, torna-se necessário analisar a cultura empreendedora de cada país para justificar a participação, criação e consolidação de empreendimentos no contexto vivido pelos BRICS. Assim, o principal objetivo deste estudo foi analisar a cultura empreendedora dos países do BRICS por meio das dimensões culturais de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de Schwartz. O artigo foi estruturado em seis partes, a primeira, essa introdução, apresentou o artigo, o problema e a justificativa do tema; a segunda parte, o método empregado; a terceira parte será constituída pela revisão teórica; e, por fim, as conclusões e referências bibliográficas. 2. Cultura Empreendedora e Dimensões culturais A cultura empreendedora de uma nação representa a essência do empreendedorismo e sua manifestação pode ocorrer de diversas maneiras, como, por exemplo, por meio do perfil empreendedor, do empreendedorismo coletivo, da gestão empreendedora, entre outras formas (SCHMIDT e DREHER, 2008). A existência e a combinação de algumas dessas e outras manifestações é o que, de fato, constroi uma cultura empreendedora (DREHER, 2004). Essa 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. cultura, por sua vez, possui um papel essencial no que diz respeito a tornar indivíduos de uma população mais ou menos propensos a identificar novas oportunidades de negócio e os meios necessários para capitalizá-las e elaborar uma estrutura que seja a mais próxima da ideal para aproveitar essas oportunidades identificadas (STEVENSON e GUMPERT, 1985). O efeito que a cultura empreendedora gera ao estimular as atividades desse segmento em diversas regiões e países pode ser explicado pelo fato de que, desde o momento em que o empreendedorismo surgiu, já era esperado que toda a conjuntura e contexto cultural em que um indivíduo se via presente causasse um impacto no desenvolvimento de atividades empreendedoras. Isso explica o porquê de as tendências e características do empreendedorismo variarem ao se analisarem locais com culturas distintas: cada uma influenciará a cultura empreendedora local a possuir determinados traços, que nem sempre convergirão (SAFFU, 2003). Nesse contexto, pode-se analisar as características culturais de uma determinada região por meio de dimensões culturais, que tentam explicar diversos traços e comportamentos da população que lá habita. Dos modelos de dimensões culturais existentes, quatro dos mais difundidos e citados até os dias de hoje serão utilizados neste artigo, que são: de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de Schwartz (NARDON e STEERS, 2009). 2.1 Dimensões culturais de Hofstede As pesquisas realizadas por Geert Hofstede tinham como finalidade levar à elaboração de um modelo de dimensões culturais e tinham como enfoque “desenvolver uma terminologia comumente aceitável, bem definida e empiricamente fundamentada para descrever culturas” (LACERDA, 2011, p. 1288). As suas dimensões culturais são apresentadas na Tabela 1: Tabela 1 – Dimensões culturais de Hofstede 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Adaptado de Lacerda (2011) Hayton et al. (2002) propõem que, ao relacionar o nível de empreendedorismo de uma nação com as dimensões culturais de Hofstede, percebe-se que culturas marcadas pela baixa distância do poder, pela baixa resistência à incerteza, pelo individualismo e pela masculinidade favorecem esse nível. Isso ocorre pelo fato de que uma alta resistência à incerteza e predominância de grande distância do poder tendem a gerar obstáculos à inovação. A predominância do individualismo e da masculinidade em uma cultura, por outro lado, fomentam atividades empreendedoras, sendo responsáveis por uma maior tendência à abertura de novos negócios. 2.2 Dimensões culturais de Trompenaars e Hampden-Turner Fons Trompenaars e Charles Hampden-Turner acreditavam que para compreender uma cultura, um indivíduo deveria compreender que o elemento principal que as difere é a maneira 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. única que cada uma delas busca soluções para solucionar problemas. Segundo os autores, existem três tipos de problemas: aqueles provenientes do relacionamento entre pessoas, os provenientes da passagem do tempo e aqueles oriundos da relação com o ambiente (LACERDA, 2011). Seguem as sete dimensões de Trompenaars e Hampden-Turner na Tabela 2: Tabela 2 – Dimensões Culturais de Trompenaars e Hampden-Turner Fonte: Adaptado de Dias (2012) Ao relacionar orientação empreendedora com as dimensões culturais de Trompenaars e Hampden-Turner, Lee e Peterson (2000) sugerem que aquela é fortalecida pelo individualismo, pela orientação à realização e pelo universalismo, que são responsáveis por gerar traços como competitividade, autonomia e propensão à tomada de riscos em uma 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. sociedade. 2.3 Dimensões culturais de Hall O modelo de dimensões culturais de Edward T. Hall foi proposto em 1959, com base em estudos feitos em países como Alemanha, Japão, Estados Unidos e França, analisando a comunicação interpessoal, o uso do espaço, a percepção do tempo e a velocidade com que mensagens são transmitidas em uma sociedade em cada um dos países observados (HALL e HALL, 1990). As dimensões culturais deste modelo estão na Tabela 3: Tabela 3 – Dimensões Culturais de Hall Fonte: Adaptado de Nardon e Steers (2009) De acordo com Steers (2005), os países mais empreendedores, logo, com uma cultura empreendedora mais concretamente estabelecida, são marcados pelo baixo contexto, noção territorial do espaço e abordagem monocromática do tempo, o que sugere que culturas com 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. dimensões mais próximas das indicadas tendem a ser mais empreendedoras do que as demais. 2.4 Dimensões culturais de Schwartz Por meio de uma abordagem tendendo para o lado psicológico dos valores sociais que permeiam uma cultura, Shalom Schwartz identificou valores humanos universais presentes em qualquer cultura, que representam as necessidades universais da existência humana (NARDON e STEERS, 2009), seu modelo está apresentado na Tabela 4: Tabela 4 – Dimensões Culturais de Schwartz Fonte: Adaptado de Schwartz (2012) Como sugerido por Godói-de-Sousa et al. (2014) e ao adaptar os argumentos de Lee e 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Peterson (2000) e Hayton et al. (2002) para o âmbito das dimensões de Schwartz, pode-se perceber que alguns fatores que fomentam o empreendedorismo em uma sociedade são o individualismo, marcado pela autonomia de agir e pensar dos indivíduos, e a baixa distância do poder, existente em sociedades igualitárias. No quesito Domínio-Harmonia, ambos podem colaborar para o empreendedorismo, porém enquanto um motiva a busca por inovações, o outro incentiva o uso de ideias já difundidas. 3. Metodologia Esse artigo tem uma pesquisa de caráter qualitativo, que foi o mais adequado para o artigo, pois os fenômenos estudados estão diretamente relacionados com elementos da cultura de um país, dificilmente analisado através de uma abordagem de análise puramente quantitativa. Segundo Vieira e Zouain (2006), uma pesquisa qualitativa apresenta confiabilidade em relação ao que foi analisado e às informações obtidas e geradas e, também, conclusões palpáveis e coerentes com os dados estudados. Quanto ao tipo de pesquisa, nesse artigo foi utilizada a pesquisa bibliográfica e a documental. Em relação à primeira, houve uma estruturação da revisão bibliográfica por meio do levantamento de informações teóricas já analisadas e publicadas em meios escritos ou eletrônicos e documental, pelo trabalho se valer de fontes mais diversificadas sem um tratamento analítico (SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009). Desse modo, como a pesquisa apresentada por este artigo, além de expressar conhecimento racional e científico, possui papel informativo, não houve interferência nas interpretações e conclusões por parte dos pesquisadores, nem utilização de expressões ambíguas (AMBONI, 1997). 4. Discussão e Análise dos Resultados: Empreendedorismo no BRICS A realização de análises e estudos acerca da atividade empreendedora de países pode ser, muitas vezes, imprecisa e subjetiva. Entretanto, a criação do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) tornou o acesso a dados precisos e atualizados sobre o empreendedorismo de 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. diversas nações mais simples e fácil. (FONTENELE et al., 2011). Quanto à análise do desempenho empreendedor dos países, o Global Entrepreneurship Index (GEI) apesar de possuir semelhanças com o GEM, possui a vantagem de organizar diversos fatores cruciais para a avaliação do empreendedorismo de uma nação em apenas um, fornecendo uma pontuação para cada país a partir do Desempenho Empreendedor. A Tabela 5, além de apresentar o desempenho dos países do BRICS em relação ao quesito explorado pelo GEI, indica, de maneira geral, o nível de empreendedorismo dessas nações: Tabela 5 – Empreendedorismo no BRICS 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Adaptado de Ács et al. (2015), Amorós e Bosma (2013), Herrington e Kew (2013), Matos (2013) e Nogami e Machado (2010) 5. Análise das culturas empreendedoras dos países dos BRICS 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. As Tabelas 6, 7, 8 e 9 reúnem as informações referentes à análise da cultura empreendedora dos BRICS, a partir das dimensões culturais de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de Schwartz, respectivamente: Tabela 6 – Dimensões culturais de Hofstede aplicadas aos BRICS Fonte: Adaptado de De Beer (1997), Hofstede (2015a, 2015b, 2015c, 2015d) e Smit et al. (2004) No Brasil, a grande discrepância na distribuição do poder pela população faz com que seja proporcional o poder do indivíduo e os benefícios que ele detém. Na resistência à incerteza, o Brasil assume um comportamento semelhante à maioria dos países latino-americanos, marcados por um alto grau de aversão às situações ambíguas. Quanto ao individualismo e coletivismo, no Brasil as pessoas tendem a estar integradas a grupos por fortes ligações desde o nascimento, principalmente à família, onde seus integrantes se protegem em troca de lealdade. Isso demonstra que a sociedade se encontra em uma posição intermediária no quesito masculinidade/feminilidade (HOFSTEDE, 2015a). A cultura brasileira é orientada ao longo prazo. Na Rússia a distribuição de poder na sociedade ocorre de forma bastante desigual. Em relação à aversão à incerteza, os russos tendem a se sentir ameaçados por situações ambíguas. Para evita-las, além de terem o costume de planejarem detalhadamente as ações, estabeleceram uma das burocracias mais complexas do mundo. Esse fato não impede que a sociedade russa esteja disposta a adaptar suas tradições a novas tendências, visando um futuro próspero. Apesar da importância do status para os russos, eles consideram família, amigos e até mesmo 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. vizinhos importantes para os desafios do dia-a-dia, por isso tendem a se apegar e fortalecer os grupos aos quais pertencem (coletivismo) (HOFSTEDE, 2015b). A sociedade indiana demonstra um apreço pela hierarquia, muitas vezes como consequência do regime de castas, que é uma realidade no país. A comunicação ocorre de cima para baixo e o verdadeiro poder é altamente centralizado. A aversão à incerteza é baixa em seus habitantes porque o país é marcado pela aceitação à imperfeição e as regras impostas são burladas via soluções criativas para contornar problemas. Um fator que intensifica ainda mais a busca por sucesso individual são alguns princípios do hinduísmo, religião predominante no país, que prega um ciclo de morte e renascimento, sendo este dependente de como o indivíduo viveu a vida anterior. O País é muito masculino, em termos de sucesso e poder. Como contraponto a esse fenômeno, os indianos dão grande valor à família, fazendo com que eles busquem aliar suas conquistas individuais com aquelas que levarão benefícios ao grupo como um todo (HOFSTEDE, 2015c). Contudo, devido ao conceito de “karma”, os indianos premeditam muitas de suas ações, temendo os impactos que seus atos podem causar, por isso o tempo não é linear e, portanto, não é tão importante quanto para sociedades ocidentais. A sociedade chinesa aceita as desigualdades entre as pessoas, tendo a relação entre subordinados e superiores polarizada e o abuso de poder é um fenômeno frequente. Quanto à aversão à incerteza, os chineses tendem a não se importar com situações ambíguas. Pode-se perceber que questões referentes ao bem comum dos que pertencem a ele são consideradas mais importantes do que o sucesso individual de um de seus membros, indicando que a cultura chinesa é altamente coletivista. Apesar disso, o sucesso individual, tanto no trabalho quanto nos estudos, ainda é de grande importância na sociedade e um dos principais motivadores dos indivíduos, indicando um caráter masculino dessa cultura. Isso se reflete na adaptação de tradições às novas condições, mostrando que a cultura está em constante mudança rumo ao futuro (HOFSTEDE, 2015d). O caso da África do Sul se mostra mais complexo do que os demais analisados, visto que os efeitos do Apartheid ainda contribuem para que o país possua uma cultura dividida: de um lado a afrocêntrica e, do outro, a eurocêntrica, como destacado por De Beer (1997) e Smit et al. (2004). A cultura afrocêntrica é marcada por uma aceitação das desigualdades, os 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. indivíduos são coletivistas, essa cultura de caracteriza como feminina e há uma maior orientação ao presente. A cultura eurocêntrica também aceita as desigualdades, mas, diferentemente do caso anterior, gera um caráter individualista na população cujo objetivo consiste em crescimento e sucesso pessoal, demonstrando o caráter masculino dessa cultura, os indivíduos agem no presente com foco em um futuro mais próspero. Além disso, há uma baixa aversão a situações ambíguas por parte da população. Tabela 7- Dimensões culturais de Trompenaars e Hampden-Turner aplicadas aos BRICS Fonte: Adaptado de De Beer (1997), Chan (1999), Gilbert (2001), Overgaard (2010), Smit et al. (2004) e Trompenaars e Hampden-Turner (1997) Há outras características que devem ser explicitadas relacionadas à cultura brasileira, segundo os autores apresentados na Tabela 7, como a aplicação de regras gerais somente para alguns, fazendo com que relações pessoais e particularidades de cada situação alterem as normas vigentes. A abertura para indivíduos expressarem seus sentimentos em público, a mistura frequente da relação profissional e pessoal no ambiente de trabalho e, finalmente, o sentimento de que não se deve tentar controlar o ambiente e a natureza, apenas se deixar levar por eles (TROMPENAARS e HAMPDEN-TURNER, 1997). 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Em relação à Rússia, há foco no particularismo (apesar de regras e normas rígidas), no comportamento afetivo em locais públicos, na mistura de relações pessoais e públicas em situações variadas, e em não tentar controlar a natureza e o ambiente. Além disso, a cultura russa é marcada pela atribuição, onde a condição financeira e família de origem de um indivíduo são fatores de grande importância (GILBERT, 2001). A cultura indiana é baseada fortemente em atribuição, devido ao regime de castas do país. As relações pessoais e profissionais se misturam em situações diversas do dia-a-dia dos indivíduos, regras e normas podem ser alteradas, dependendo de cada. A definição entre cultura afetiva e neutra, entretanto, é difícil de ser indicada nesse caso, visto que o comportamento dos indianos ocorre de uma maneira intermediária aos dois extremos (OVERGAARD, 2010). Na China há a separação entre relações pessoais e profissionais em locais de trabalho, pelo cumprimento das regras de forma igual, pela repressão dos sentimentos e emoções em locais públicos, pela maior importância dada a atribuição do que a conquistas e, finalmente, pela submissão em relação à natureza (CHAN, 1999). Na África do Sul, segundo De Beer (1997) e Smit et al. (2004), os indivíduos são particularistas, ou seja, normas e regras variam de caso a caso e têm seu foco no bem-estar, mostrando que essa cultura de caracteriza como feminina. Esse fator explica a maior abertura que essas pessoas têm para expressar seus sentimentos em locais públicos e também a mistura de relações pessoais e profissionais. Além disso, o status de uma pessoa é julgado pelas realizações desse indivíduo e não tenta controlar o ambiente e a natureza, sendo apenas guiada por eles. Tabela 8 - Dimensões culturais de Hall aplicadas aos BRICS Fonte: Adaptado de Fernandes (2008), Gelfand e Brett (2004), Iacob e Dumitrescu (2012), Lewis (1999), 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Nishimura et al. (2009) e Steers (2005) Enquanto as culturas brasileira, russa e indiana são marcadas pelo alto contexto de suas comunicações, pela noção comunal de espaço e pela abordagem policromática do tempo (FERNANDES, 2008; STEERS, 2005; GELFAND e BRETT, 2004; LEWIS, 1999 e NISHIMURA et al., 2009), a cultura chinesa é marcada pelo alto contexto de suas comunicações, pela noção territorial de espaço e pela abordagem monocromática do tempo (FERNANDES, 2008). A cultura sul-africana afrocêntrica é caracterizada pelo alto contexto, pela noção comunal de espaço e pela abordagem policromática do tempo, ao passo que a eurocêntrica é marcada pelo baixo contexto, pela noção territorial de espaço e pela abordagem monocromática do tempo (IACOB e DUMITRESCU, 2012). Tabela 9 - Dimensões culturais de Schwartz aplicadas aos BRICS Fonte Adaptado de De Beer (1997), Nardon e Steers (2009) e Smit et al. (2004) Ao analisar a Tabela 9, percebe-se que todas as culturas são caracterizadas pelo conservadorismo, por estruturas hierárquicas e por ser baseada na harmonia, com exceção da cultura eurocêntrica da África do Sul. 6. Conclusão Os BRICS vêm obtendo notoriedade global devido ao crescimento de suas economias locais e relevância geopolítica. Ao relacionar as dimensões culturais de cada um dos BRICS com as dimensões ideais para a prática empreendedora em um país, percebe-se que esses países possuem características culturais que os distanciam das ideais. Os elementos culturais de um país contribuem para justificar a cultura empreendedora de uma 15 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. nação, corroborando a ideia de que atitudes empreendedoras são afetadas por traços culturais de um local, que exercem influência sobre os indivíduos inseridos nesse ambiente. Tendo como base essa informação, deve-se ressaltar, mais uma vez, as baixas pontuações, levando a baixas colocações dos BRICS no ranking dos países mais empreendedores do GEI 2015, indicando uma cultura empreendedora ainda pouco desenvolvida nesses locais. Das nações aqui analisadas, a África do Sul foi a que obteve melhor posição no ranking, sendo ela, justamente, o país do BRICS com características culturais mais próximas do considerado ideal para a existência de uma orientação empreendedora em um país, mas com pontuação consideravelmente inferior aos primeiros colocados. Finalmente, constatou-se que os BRICS que possuíam dimensões culturais mais distantes das consideradas ideais tiveram pior desempenho no ranking dos países mais empreendedores do GEI, enquanto que a África do Sul, país com dimensões mais similares às ideais, obteve o melhor desempenho. Portanto, com base no estudo e na análise realizados, pôde-se perceber o importante papel que elementos culturais possuem na formação da cultura empreendedora de uma nação, indicando que atitudes empreendedoras em uma sociedade são afetadas pelos traços culturais que lá existem. Referências Bibliográficas ÁCS, Z. J.; SZERB, L.; AUTIO, E. Global Entrepreneurship Index 2015. 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